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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE TECNOLOGIA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA SANITÁRIA Cibele Gouveia Costa INCORPORAÇÃO DO RESÍDUO ORIUNDO DO BENEFICIAMENTO DE CAULIM EM CONCRETO ASFÁLTICO Natal 2006 Cibele Gouveia Costa INCORPORAÇÃO DO RESÍDUO ORIUNDO DO BENEFICIAMENTO DE CAULIM EM CONCRETO ASFÁLTICO Dissertação apresentada ao Programa de Pós-graduação em Engenharia Sanitária, da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, como requisito parcial à obtenção do título de Mestre em Engenharia Sanitária. Orientador: Prof. Dr. Olavo Francisco dos Santos Jr Co-orientador: Prof. Dr. Maria del Pilar Durante Ingunza Natal 2006 Divisão de Serviços Técnicos Catalogação da Publicação na Fonte. UFRN / Biblioteca Central Zila Mamede Costa, Cibele Gouveia. Incorporação do resíduo oriundo do beneficiamento de caulim em concreto asfáltico / Cibele Gouveia Costa. - Natal, RN, 2006. 106 f. Orientador: Olavo Francisco dos Santos Co-orientador: Maria del Pilar Durante Ingunza Dissertação (Mestrado) – Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Centro de Tecnologia. Programa de Pós-graduação em Engenharia sanitária. 1. Caulim – beneficiamento - Dissertação. 2. Resíduo – Dissertação 3. Concreto asfáltico - Dissertação. I. Santos, Olavo Francisco dos. II. Ingunza, Maria del Pilar Durante. III. Título. RN/UF/BCZM CDU 679.861 CIBELE GOUVEIA COSTA INCORPORAÇÃO DO RESÍDUO ORIUNDO DO BENEFICIAMENTO DE CAULIM EM CONCRETO ASFÁLTICO Dissertação apresentada ao Programa de Pós-graduação, em Engenharia Sanitária, da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, como requisito parcial à obtenção do título de Mestre em Engenharia Sanitária. BANCA EXAMINADORA ___________________________________________________________________ Prof. Dr. Olavo Francisco dos Santos Júnior – Orientador ___________________________________________________________________ Profa. Dra. Maria del Pilar Durante Ingunza – Co-orientadora ___________________________________________________________________ Prof. Dr. Raimundo Leidimar Bezerra – Examinador Externo (UFCG) ____________________________________________________________ Prof. Dr. John Kennedy Guedes Rodrigues – Examinador Externo (UFCG) Natal, 10 de novembro de 2006 INCORPORAÇÃO DO RESÍDUO ORIUNDO DO BENEFICIAMENTO DE CAULIM EM CONCRETO ASFÁLTICO Cibele Gouveia Costa Orientador: Prof. Dr. Olavo Francisco dos Santos Jr Co-orientador: Prof. Dr. Maria del Pilar Durante Ingunza RESUMO O município de Equador-RN está localizado numa região de grandes quantidades de minérios, sendo sua principal atividade econômica a extração e o beneficiamento de caulim. O principal problema ambiental proveniente dessa atividade é a quantidade de resíduo gerado, cerca de 70% do caulim extraído. Os resíduos são simplesmente amontoados em terrenos das empresas de beneficiamento, ocupando assim uma grande área e causando impacto na flora existente. Quando secos, os resíduos transformam-se em pó e pela ação do vento, se espalham, poluindo o ar. Sendo assim, o presente trabalho tem como objetivo avaliar a incorporação do resíduo grosso, oriundo do beneficiamento de caulim, em substituição parcial de todos os agregados empregados em uma mistura convencional de concreto asfáltico, a qual foi utilizada na pavimentação da BR101/RN061 – trecho entre Ponta Negra e Ares. Essa avaliação foi realizada em três etapas. A primeira refere-se à avaliação das características físicas, térmicas e mineralógicas do resíduo com o intuito de classificá-lo e definir sua aplicação como agregado (miúdo e graúdo). A segunda refere-se à caracterização física dos agregados e do material asfáltico utilizados na mistura convencional. E a terceira à avaliação das misturas contendo resíduo, as quais foram elaboradas a partir da mistura convencional com a incorporação gradativa do resíduo, de 5 a 40%, em substituição à parte dos agregados convencionais, de forma a obter curvas granulométricas similares a da mistura convencional. Essa avaliação foi realizada através da comparação entre a composição volumétrica, o comportamento mecânico e a suscetibilidade à umidade das misturas contendo resíduo com os da mistura convencional, e com os das especificações exigidas pelo DNIT. Os resultados mostram que o resíduo grosso oriundo do beneficiamento de caulim possui grãos dos mais variados diâmetros, sendo assim, pode substituir parte de todos os agregados convencionais e do filler em uma mistura asfáltica. Além disso, a sua composição mineralógica apresentou os mesmos minerais presentes na composição de agregados convencionais utilizados em pavimentação. Os resultados da avaliação da composição volumétrica das misturas contendo resíduo indicam que se pode empregar até 30% de resíduo em substituição aos agregados convencionais. A avaliação do comportamento mecânico dessas misturas indicam que o incremento de resíduo nas misturas estudadas ocasionou um aumento da estabilidade e uma redução da resistência à tração. Os valores obtidos na resistência à tração se encontram abaixo do valor mínimo especificado pelo DNIT, mas próximos ao valor obtido na mistura convencional. Ao levar em consideração a suscetibilidade das mesmas à umidade, os resultados indicam que se pode empregar até 25% de resíduo. Palavras-chave: Beneficiamento de caulim; resíduo; concreto asfáltico. INCORPORATION OF THE RESIDUE ORIGINATING FROM THE IMPROVEMENT OF KAOLIN IN ASPHALT CONCRETE Cibele Gouveia Costa Adviser: Prof. Dr. Olavo Francisco dos Santos Jr Co-adviser: Prof. Dr. Maria del Pilar Durante Ingunza ABSTRACT The municipal district of Equador-RN is located in an area of great amounts of ores, being your main economical activity the extraction and the kaolin improvement. The main originating from environmental problem that activity is the amount of generated residue, about 70% of the extracted kaolin. The residues are simply piled up in lands of the improvement companies, occupying like this a large area and causing impact in the existent flora. When dry, the residues transform powdered and for the action of the wind, they disperse, polluting the air. Being like this, the present work has as objective evaluates the incorporation of the great residue, originating from of the kaolin improvement, in partial substitution of all the employed aggregates in a conventional mixture of asphalt concrete, which was used in the paving of BR101/RN061 - passage between Ponta Negra and Ares. That evaluation was accomplished in three stages. The first refers to the evaluation of the physical, thermal and mineralogical characteristics of the residue with the intention of to classify it and to define your application as aggregate (small and great). The second refers to the physical characterization of the aggregates and of the asphalt material used in the conventional mixture. And the third, to the evaluation of the mixtures containing residue, which were elaborated starting from the conventional mixture with the gradual incorporation of the residue, from 5 to 40%, in substitution to the part of the conventional aggregates, in way to obtain similar particle size curves the one of the conventional mixture. That evaluation was accomplished through the comparison between the volumetric composition, the mechanical behavior and the susceptibility to the humidity of the mixtures containing residue with the one of the conventional mixture, and with the one of the DNITspecifications. The results show that the great residue originating from of the kaolin improvement has grains of the most varied size, being like this, it can substitute part of all the conventional aggregates and of the filler in an asphalt mixture. Besides, your mineralogical composition presented the same present minerals in the composition of conventional aggregates used in paving. The results evaluation of the volumetric composition of the mixtures containing residue indicates that it can use up to 30% of residue in substitution to the conventional aggregates. The evaluation of the mechanical behavior of those mixtures indicates that the residue increment in the studied mixtures caused an increase of the stability and a reduction of the resistance to the traction. The values obtained in the resistance to the traction meet below the minimum value specified by DNIT, but close to the value obtained in the conventional mixture. When taking in consideration the susceptibility of the same ones to the humidity, the results indicate that she can use up to 25% of residue. Key-words: Kaolin improvement; residue; asphalt concrete. Dedico este trabalho a minha mãe, amiga, companheira de todos os instantes, Claudia. Sou grata pela paciência incondicional e pelo apoio que me tem dado nos momentos decisivos da minha vida, encorajando-me e reforçando minha capacidade de ir além. À minha irmã, Cíntia, por sempre me mostrar que devo seguir meus sonhos. À minha avó, Enilza, por estar sempre presente em minha vida. AGRADECIMENTOS A Deus por estar sempre presente, mostrando-me o caminho a seguir. A minha mãe e irmã pela enorme paciência, dedicação e incentivo. Ao meu pai biológico, Geraldo, que mesmo não estando nesse plano, tenho certeza que está sempre por perto, me mostrando o caminho a seguir. Ao meu pai do coração, Marcelo, por ser eterno incentivador da busca pelo conhecimento. Aos meus avós maternos, Enilza e Inácio (in memorian), com os quais tive a oportunidade de conviver no mesmo lar e receber seu carinho e atenção. Aos meus orientadores, Olavo Santos Júnior e Pilar Inguza, pelo apoio, atenção, compreensão, incentivo e por confiarem em mim para realização deste trabalho. A todos os meus amigos, pelo incentivo, cumplicidade e por proporcionarem momentos de descontração. Em especial a Sayonara Medeiros, com quem convivi a maior parte do mestrado, pelo apoio e cooperação. Aos amigos de Campina Grande pela acolhida e apoio. Ao DNIT pelo fornecimento dos dados, materiais pétreos e Cimento Asfáltico de Petróleo à pesquisa. Em especial, agradeço ao Engenheiro Berilo pela atenção destinada. A Empresa Mineradora Caulim do Seridó LTDA – CAULISE pelo fornecimento do resíduo estudado. Aos técnicos e bolsistas dos Laboratórios de Materiais de Construção e Solos da UFRN, pelo apoio na realização dos ensaios. A Associação Técnico-Científica Ernesto Luiz de Oliveira Junior – ATECEL e toda a sua equipe pelo espaço, orientação e tempo que foram dedicados durante a realização deste trabalho. Aos funcionários do laboratório do DER/RN, pelo conhecimento transmitido. Ao professor Edgard Dantas, grande incentivador deste trabalho, pelo apoio e atenção destinada. Ao professor John Kennedy Rodrigues pela acolhida e orientações dadas. Ao professor Rubens Nascimento, pela ajuda no entendimento dos resultados de caracterização do resíduo. Aos professores do PPgES pelo conhecimento e apoio transmitidos. A Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior – CAPES, pelo apoio financeiro concedido através da bolsa de estudo. Enfim, a todos que de forma direta ou indireta tornaram possível o cumprimento de um sonho. SUMÁRIO LISTA DE FIGURAS LISTA DE TABELAS LISTA DE EQUAÇÕES LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS CAPÍTULO 1 ...............................................................................................................1 1.1 OBJETIVOS DA PESQUISA ............................................................................2 1.1.1 Objetivo Geral............................................................................................2 1.1.2 Objetivos Específicos ................................................................................3 CAPÍTULO 2 ...............................................................................................................4 2.1 O CAULIM ........................................................................................................4 2.1.1 Tipos de Caulim.........................................................................................4 2.1.2 Aplicações .................................................................................................5 2.1.3 Reservas e Produção ................................................................................5 2.2 O CAULIM DO MUNICÍPIO DE EQUADOR-RN...............................................5 2.2.1 O Município de Equador-RN .....................................................................5 2.2.2 Extração e Beneficiamento do Caulim.......................................................6 2.2.3 Resíduo Gerado no Beneficiamento de Caulim ......................................10 2.3 UTILIZAÇÃO DO RESÍDUO ORIUNDO DO BENEFICIAMENTO DE CAULIM NA CONSTRUÇÃO CIVIL.........................................................................................11 CAPÍTULO 3 .............................................................................................................14 3.1 PAVIMENTAÇÃO ...........................................................................................14 3.1.1 Classificação dos Pavimentos.................................................................15 3.1.2 Revestimento Asfáltico ............................................................................16 3.2 CONCRETO ASFÁTICO ................................................................................18 3.2.1 Cimento Asfáltico de Petróleo (CAP).......................................................18 3.2.2 Materiais Granulares ...............................................................................20 3.2.2.1 Agregados Graúdos.............................................................................22 3.2.2.2 Agregados Miúdos ...............................................................................23 3.2.2.3 Material de Enchimento (filler) .............................................................24 3.2.3 Composição Volumétrica.........................................................................26 3.2.3.1 Volume de Vazios (Vv) ........................................................................28 3.2.3.2 Vazios do Agregado Mineral (VAM).....................................................29 3.2.3.3 Relação Betume Vazios (RBV) ............................................................29 3.2.4 Comportamento Mecânico ......................................................................30 3.2.4.1 Estabilidade Marshall ...........................................................................31 3.2.4.2 Resistência à Tração por Compressão Diametral Estática..................31 3.3 SUSCETIBILIDADE DAS MISTURAS ASFÁLTICAS À UMIDADE ................31 3.4 UTILIZAÇÃO DE RESÍDUOS COMO AGREGADOS ALTERNATIVOS PARA O CONCRETO ASFÁLTICO .....................................................................................33 3.5 UTILIZAÇÃO DE RESÍDUOS ORIUNDOS DO BENEFICIAMENTO DE CAULIM EM PAVIMENTAÇÃO.................................................................................34 CAPÍTULO 4 .............................................................................................................36 4.1 CARACTERIZAÇÃO DO RESÍDUO...............................................................36 4.1.1 Caracterização Física..............................................................................374.1.1.1 Análise Granulométrica........................................................................37 4.1.1.2 Densidade Real ...................................................................................39 4.1.1.3 Limites de Atterberg.............................................................................39 4.1.2 Caracterização Mineralógica ...................................................................39 4.1.2.1 Difração de Raios-X.............................................................................40 4.1.2.2 Fluorescência de Raios-X....................................................................40 4.1.3 Caracterização Térmica ..........................................................................40 4.1.3.1 Análise Térmica Diferencial .................................................................40 4.1.3.2 Análise Térmica Gravimétrica ..............................................................41 4.1.4 Ensaios Específicos para Utilização do Resíduo em Pavimentação .......41 4.1.4.1 Adesividade .........................................................................................41 4.1.4.2 Índice de Forma...................................................................................42 4.1.4.3 Abrasão Los Angeles ...........................................................................42 4.1.4.4 Equivalente de Areia............................................................................43 4.2 CARACTERIZAÇÃO DOS AGREGADOS CONVENCIONAIS E MATERIAL ASFÁLTICO ..............................................................................................................43 4.2.1 Caracterização dos Agregados Graúdos e Miúdos .................................44 4.2.2 Caracterização do Filler...........................................................................45 4.2.3 Caracterização do Material Asfáltico .......................................................45 4.3 INCORPORAÇÃO DO RESÍDUO NO CONCRETO ASFÁLTICO..................45 4.3.1 Mistura Convencional ..............................................................................46 4.3.2 Preparação das Misturas com a Incorporação do Resíduo Grosso de Caulim ..................................................................................................................47 4.3.3 Avaliação de Desempenho das Misturas ................................................48 As misturas foram avaliadas com base na sua composição volumétrica, no seu comportamento mecânico e na sua suscetibilidade à umidade.............................48 4.3.3.1 Preparação dos Corpos de Prova........................................................48 4.3.3.2 Composição Volumétrica .....................................................................49 4.3.3.3 Comportamento Mecânico...................................................................49 4.3.3.4 Suscetibilidade das Misturas à Umidade .............................................51 CAPÍTULO 5 .............................................................................................................53 5.1 RESULTADOS DA CARACTERIZAÇÃO DO RESÍDUO................................53 5.1.1 Resultados da Caracterização Física ......................................................53 5.1.2 Resultados da Caracterização Mineralógica ...........................................55 5.1.3 Resultados da Caracterização Térmica...................................................55 5.1.4 Resultados dos Ensaios Específicos para Utilização do Resíduo em Pavimentação ........................................................................................................57 5.1.4.1 Resultados da Adesividade da Fração Graúda e Miúda do Resíduo...57 5.1.4.2 Resultado do Índice de Forma da Fração Graúda do Resíduo............58 5.1.4.3 Resultado do Ensaio de Abrasão Los Angeles no Resíduo.................58 5.1.4.4 Resultado do Equivalente de Areia do Resíduo ..................................58 5.2 RESULTADOS DA CARACTERIZAÇÃO DOS AGREGADOS CONVENCIONAIS ....................................................................................................59 5.2.1 Agregado Graúdo....................................................................................59 5.2.2 Agregado Miúdo ......................................................................................61 5.2.3 Filler.........................................................................................................62 5.3 RESULTADOS DA CARACTERIZAÇÃO DO CIMENTO ASFÁLTICO DE PETRÓLEO...............................................................................................................62 5.4 RESULTADOS DA CARACTERIZAÇÃO DA MISTURA CONVENCIONAL...63 5.5 RESULTADOS DA CARATERIZAÇÃO DAS MISTURAS CONTENDO RESÍDUO GROSSO ORIUNDO DO BENEFICIAMENTO DE CAULIM....................64 5.5.1 Resultados da Composição Volumétrica.................................................66 5.5.1.1 Resultado da Densidade Real da Mistura............................................66 5.5.1.2 Resultado da Densidade Aparente da Mistura.....................................66 5.5.1.3 Resultado do Volume de Vazios ..........................................................67 5.5.1.4 Resultado dos Vazios do Agregado Mineral ........................................69 5.5.1.5 Resultado da Relação Betume Vazios.................................................70 5.5.2 Resultados do Comportamento Mecânico...............................................72 5.5.2.1 Resultados da Estabilidade .................................................................72 5.5.2.2 Resultados da Resistência à Tração por Compressão Diametral........73 5.5.3 Resultados da Susceptibilidade das Misturas à Umidade .......................75 CAPÍTULO 6 .............................................................................................................77 6.1 CONCLUSÕES ..............................................................................................77 6.1.1 Resíduo ...................................................................................................77 6.1.2 Misturas Contendo Resíduo ....................................................................77 6.2 RECOMENDAÇÕES ......................................................................................78 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ..........................................................................79 ANEXO 1...................................................................................................................84 LISTA DE FIGURAS FIGURA 2.1 Mapa de localização do município de Equador................................. 6 FIGURA 2.2 Extração do caulim: (a) Equipamento utilizado para a descida de trabalhadores para as galerias; (b) Vista da galeria. (Sakamoto, 2003) ............... 7 FIGURA 2.3 Esquema dos processos realizados na indústria de beneficiamento de caulim em Equador .......................................................................................... 7 FIGURA 2.4 Beneficiamento do caulim: (a) Misturador utilizado na desagregação do caulim bruto; (b) Remoção do resíduo grosso ......................... 8 FIGURA 2.5 Peneiramento do Caulim: (a) Peneiramento; (b) Resíduo fino ......... 8 FIGURA 2.6 Tanques de decantação.................................................................... 9 FIGURA 2.7 Filtro Prensa...................................................................................... 9 FIGURA 2.8 Secagem das tortas: (a) Exposição das tortas ao sol; (b) Prateleiras utilizadas na exposição das tortas as correntes de ar e ao sol; (c) Forno à lenha......................................................................................................... 10 FIGURA 2.9 Aterro de resíduo grosso oriundo do beneficiamento de caulim: (a) Vista superior; (b) Vista frontal............................................................................... 10 FIGURA 3.1Tipos de pavimento: (a) Rígido; (b) Semi-rígido; (c) Flexível ........... 16 FIGURA 3.2 Classificação dos revestimentos asfálticos. (DNIT,2006a)................ 16 FIGURA 3.3 Classificação dos agregados de acordo com sua composição mineralógica e afinidade ao CAP........................................................................... 20 FIGURA 3.4 Distribuição granulométrica dos limites da faixa C, especificada pelo DNIT, para concretos asfálticos e curva central de distribuição granulométrica obtida a partir das curvas limites................................................... 22 FIGURA 4.1 Amostra do resíduo grosso oriundo do beneficiamento de caulim.... 36 FIGURA 4.2 Ensaios de caracterização do resíduo oriundo do beneficiamento de caulim................................................................................................................ 37 FIGURA 4.3 Agitador de peneiras utilizado no ensaio de granulometria por peneiramento......................................................................................................... 38 FIGURA 4.4 Ensaio de densidade real: (a) Amostra no picnômetro; (b) Retirada de vazios da amostra; (c) Pesagem do picnômetro .............................................. 39 FIGURA 4.5 Etapas da mistura do agregado miúdo com o ligante para ensaio de adesividade: (a) Amostra de agregado; (b) Amostra de agregado e ligante; (c) Mistura final....................................................................................................... 41 FIGURA 4.6 Ensaio de adesividade: (a) Preparação da amostra; (b) Fervura da amostra.................................................................................................................. 42 FIGURA 4.7 Amostra dos agregados graúdos: (a) Brita 5/8”; (b) Brita ½”............. 44 FIGURA 4.8 Amostra dos agregados miúdos: (a) Areia; (b) Pó de pedra............. 44 FIGURA 4.9 Ensaios utilizados na caracterização dos agregados da mistura...... 45 FIGURA 4.10 Esquema de atividades realizadas na etapa de incorporação do resíduo no CA........................................................................................................ 46 FIGURA 4.11 Curva granulométrica da mistura convencional............................... 47 FIGURA 4.12 Porcentagem dos materiais utilizados nas misturas realizadas ..... 48 FIGURA 4.13 Preparação do Corpo de Prova: (a) Aquecimento dos agregados; (b) Aquecimento do CAP; (c) Mistura de CAP e Agregados; (d) Colocação da mistura no molde; (e) Acomodação da mistura no molde para posterior compactação.......................................................................................................... 49 FIGURA 4.14 Ensaio Marshall: (a) Prensa Marshall; (b) Molde de Compressão Marshall.................................................................................................................. 50 FIGURA 4.15 Molde de tração por compressão diametral.................................... 51 FIGURA 5.1 Curva granulométrica do resíduo grosso por peneiramento............. 53 FIGURA 5.2 Curva granulométrica do resíduo grosso por difração a laser........... 54 FIGURA 5.3 Composição mineralógica do resíduo grosso.................................... 55 FIGURA 5.4 Análise térmica diferencial do resíduo grosso................................... 56 FIGURA 5.5 Análise termogravimétrica do resíduo grosso................................... 56 FIGURA 5.6 Amostra do resíduo após o ensaio de adesividade........................... 57 FIGURA 5.7 Curva granulométrica dos agregados graúdos por peneiramento......................................................................................................... 59 FIGURA 5.8 Amostra dos agregados graúdos após o ensaio de adesividade: (a) Brita ½”; (b) Brita 5/8.............................................................................................. 61 FIGURA 5.9 Curva granulométrica dos agregados miúdos por peneiramento......................................................................................................... 61 FIGURA 5.10 Curva granulométrica da mistura convencional............................... 63 FIGURA 5.11 Composição granulométrica das misturas....................................... 65 FIGURA 5.12 Variação da densidade aparente dos corpos de prova em função da porcentagem de resíduo da mistura.................................................................. 67 FIGURA 5.13 Variação do volume de vazios dos corpos de prova em função da porcentagem de resíduo da mistura....................................................................... 68 FIGURA 5.14 Variação dos vazios do agregado mineral dos corpos de prova em função da porcentagem de resíduo da mistura................................................ 70 FIGURA 5.15 Variação da relação betume vazios dos corpos de prova em função da porcentagem de resíduo da mistura...................................................... 71 FIGURA 5.16 Variação das estabilidades sem e com imersão em função da porcentagem de resíduo da mistura....................................................................... 73 FIGURA 5.17 Variação da resistência à tração por compressão diametral em função da porcentagem de resíduo da mistura...................................................... 74 FIGURA 5.18 Variação da relação de resistência à tração (RRT) em função da porcentagem de resíduo da mistura....................................................................... 75 LISTA DE TABELAS TABELA 3.1 Especificações do DNIT para composição granulométrica do concreto asfáltico.................................................................................................... 21 TABELA 3.2 Especificações do DNIT para o filler contido nas misturas asfálticas................................................................................................................. 24 TABELA 3.3 Composição volumétrica especificadas pelo DNIT para o Concreto Asfáltico.................................................................................................................. 27 TABELA 3.4 Mínimo de vazios do agregado mineral especificados pelo DNIT..... 27 TABELA 3.5 Comportamento mecânico especificado pelo DNIT para o Concreto Asfáltico.................................................................................................. 31 TABELA 5.1 Parâmetros característicos da curva granulométrica do resíduo grosso.................................................................................................................... 54 TABELA 5.2 Porcentagem dos óxidos presentes no resíduo grosso.................... 55 TABELA 5.3 Resultados do ensaio de Abrasão Los Angeles................................ 58 TABELA 5.4 Resultados do ensaio de equivalente de areia.................................. 58 TABELA 5.5 Parâmetros característicos da curva granulométrica do resíduo grosso.................................................................................................................... 60 TABELA 5.6 Resultados dos ensaios nos agregados graúdos.............................. 60 TABELA 5.7 Resultados dos ensaios nos agregados miúdos............................... 62 TABELA 5.8 Composição granulométrica do cimento Portland............................. 62 TABELA 5.9 Caracterização do CAP 50/70. (LUBNOR)........................................ 63 TABELA 5.10 Composição volumétrica e comportamento mecânico da mistura convencional........................................................................................................... 64 TABELA 5.11 Variação do filler da mistura, em função da porcentagem de resíduo adicionada................................................................................................. 65 TABELA 5.12 Densidade real das misturas avaliadas........................................... 66 TABELA 5.13 Valores médios, máximos, mínimos e os desvios padrões da densidade aparente das misturasavaliadas.......................................................... 66 TABELA 5.14 Valores médios, máximos, mínimos e os desvios padrões do volume de vazios das misturas avaliadas.............................................................. 68 TABELA 5.15 Valores médios, máximos, mínimos e os desvios padrões dos vazios do agregado mineral das misturas avaliadas.............................................. 69 TABELA 5.16 Valores médios, máximos, mínimos e os desvios padrões da relação betume vazios das misturas avaliadas...................................................... 70 TABELA 5.17 Valores médios, máximos, mínimos e os desvios padrões da estabilidade sem imersão das misturas avaliadas................................................. 72 TABELA 5.18 Valores médios, máximos, mínimos e os desvios padrões da estabilidade com imersão das misturas avaliadas................................................. 72 TABELA 5.19 Valores médios, máximos, mínimos e os desvios padrões da resistência a tração por compressão diametral das misturas avaliadas................ 74 LISTA DE EQUAÇÕES Equação 3.1........................................................................................................... 26 Equação 3.2........................................................................................................... 27 Equação 3.3........................................................................................................... 28 Equação 3.4........................................................................................................... 28 Equação 3.5........................................................................................................... 29 Equação 3.6........................................................................................................... 29 Equação 3.7........................................................................................................... 29 Equação 4.1........................................................................................................... 38 Equação 4.2........................................................................................................... 38 Equação 4.3........................................................................................................... 51 Equação 4.4........................................................................................................... 52 LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS %b – Percentagem de Betume na Amostra Total %f – Percentagem de Filler na Amostra Total % Mi – Porcentagem de cada Material Empregado na Mistura σR – Resistência à Tração AA – Absorção de Água AASHTO – American Association of State Highway and Transportation Officials ABNT – Associação Brasileira de Normas Técnicas ADP – Asfalto Diluído de Petróleo ASTM – American Standardization for Testing and Materials C – Concentração Volumétrica CAP – Cimento Asfáltico de Petróleo CAULISE – Empresa Mineradora Caulim do Seridó LTDA CBUQ – Concreto Betuminoso Usinado a Quente CBR – Califórnia Bearing Ratio Cc – Coeficiente de Curvatura CPRM – Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais Cs – Concentração Crítica CTGÁS – Centro de Tecnologias do Gás Cu – Coeficiente de não Uniformidade D – Diâmetro do Corpo de Prova D10 – Diâmetro Efetivo D30 – Diâmetro Equivalente à Porcentagem de 30% de Solo que Passa, D60 – Diâmetro Equivalente à Porcentagem de 60% de Solo que Passa Da – Densidade Aparente Db – Massa Específica Real do Asfalto De – Diâmetro Efetivo DER – Departamento Estadual de Estradas Df – Massa Específica Real do Filler DMT – Densidade Máxima Teórica DNIT – Departamento Nacional de Infra-estrutura de Transportes DNPM – Departamento Nacional de Produção Mineral DrTGA – Derivada da Análise Termogravimétrica DRX – Difração de Raios-X DTA – Análise Térmica Diferencial ES – Especificação de Serviço F – Carga de Ruptura FRX – Fluorescência de Raios-X Gb – Densidade Real do Asfalto Gi – Densidade Real da Massa dos Grãos H – Altura do Corpo de Prova hot – Umidade Ótima IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística ICDD – Internacional Centre for Difraction Data IF – Índice de Forma ISC – Índice de Suporte Califórnia LABEMAT – Laboratório de Ensaios de Materiais LL – Limite de Liquidez LP – Limite de Plasticidade LUBNOR – Unidade de Refino de Lubrificantes e Derivados de Petróleo do Nordeste ME – Método de Ensaio NBR – Norma Brasileira Pa – Peso do Corpo de Prova no Ar Pe – Peso do Corpo de Prova Imerso em Água RBV – Relação Betume Vazios RN – Rio Grande do Norte RRT – Relação de Resistência à Tração SUDENE – Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste TGA – Análise Termogravimétrica UFCG – Universidade Federal de Campina Grande UFRN – Universidade Federal do Rio Grande do Norte VAM – Vazios do Agregado Mineral Vb – Volume de Vazios Preenchido com Asfalto Vv – Volume de Vazios Total Ys máx – Massa Específica Seca Máxima 1 CAPÍTULO 1 INTRODUÇÃO Segundo o Departamento Nacional de Produção Mineral – DNPM (2005), o setor mineral tem grande importância para o Brasil, pois representa 4,2% do Produto Interno Bruto do País. Além disso, é grande empregador de mão de obra, consumidor de bens de capital, construtor de infra-estrutura, fornecedor de matéria- prima ao parque industrial e gerador de divisas ao exportar sua produção. Apesar de possuir impactos positivos relevantes, a mineração no Brasil gera diversos problemas ambientais, como: poluição da água, ar e solo, devido aos lançamentos de rejeitos em ambientes impróprios; poluição visual, devido a grande quantidade de volume de rochas e solos movimentados, com conseqüente modificação da paisagem; poluição sonora, causada pelos ruídos das máquinas de beneficiamento e pelos caminhões no transporte dos minerais; redução da flora e fauna; impactos sobre a saúde dos trabalhadores e população residente na área; conflitos de uso do solo; depreciação de imóveis circunvizinhos; e por fim, quando próximas de centros urbanos, transtornos ao tráfego. Com a legislação vigente e a conscientização da população e empresas, tem se buscado reduzir os impactos negativos gerados por essa atividade. Isso tem sido feito através de um desenvolvimento sustentável, ou seja, através de uma exploração planejada do solo, de modo a garantir as necessidades da população presente, sem comprometer as da geração futura. Para alcançar esse objetivo as empresas têm investido em pesquisas, buscando: desenvolver técnicas mais eficientes de extração e beneficiamento, de forma a reduzir o consumo de materiais e energia na etapa de beneficiamento; intensificar a reciclagem de materiais; minimizar a geração de resíduos; proporcionar 2 um tratamento e disposição adequados para o resíduo; e por fim, agregar valor ao resíduo, reutilizando-o. A principal atividade econômica do município de Equador-RN é a extração e o beneficiamento do caulim. Porém essa atividade acarreta uma série de impactos ambientais, sendo a principal delas a quantidade de resíduos gerados. Cerca de 70% do caulim extraído é desperdiçado, por não ser aproveitado pela indústria ou qualquer outro segmento. Os resíduos são simplesmente amontoados em terrenos das empresas de beneficiamento, ocupando assim uma grande área e causando impacto na flora existente. Quando secos, os resíduos transformam-se em pó e pela ação do vento, se espalham, poluindo o ar. Com o intuito de agregar valor a esses resíduos e reduzir os impactos ambientais gerados, várias pesquisas estão sendo desenvolvidas. Os resíduos gerados no beneficiamento de caulim têm mostrado desempenho satisfatório quando utilizados na composição de argamassas de alvenaria, em tijolos e blocos de cimento e concreto de cimento portland, e em pavimentação. A incorporação dos resíduos oriundos do beneficiamentode caulim em pavimentação possibilitará: uma redução dos recursos naturais utilizados nessa atividade; uma nova alternativa de disposição final desses resíduos, antes não removidos; uma agregação de valor ao mesmo, uma vez que substituirá parte dos agregados convencionais utilizados na pavimentação; e uma redução dos problemas ambientais. 1.1 OBJETIVOS DA PESQUISA 1.1.1 Objetivo Geral Avaliar o comportamento volumétrico e mecânico, em laboratório, de misturas asfálticas do tipo Concreto Asfáltico, empregando o resíduo grosso oriundo do beneficiamento de caulim em substituição parcial de todos os agregados empregados numa mistura convencional, a qual foi utilizada na pavimentação da BR101/RN061 – trecho entre Ponta Negra e Arês. 3 1.1.2 Objetivos Específicos Caracterizar física, térmica e mineralogicamente o resíduo grosso gerado no beneficiamento do caulim; Caracterizar fisicamente os materiais convencionais empregados na mistura asfáltica em estudo; Estimar e avaliar o comportamento volumétrico e mecânico das misturas que incorporaram o resíduo, tomando como parâmetro balizador o comportamento obtido na mistura convencional; Avaliar a suscetibilidade da mistura em presença de umidade. 4 CAPÍTULO 2 RESÍDUO ORIUNDO DO BENEFICIAMENTO DE CAULIM 2.1 O CAULIM O caulim é um material argiloso de cor branca, quando puro. É formado por silicatos de alumínio hidratado, cuja composição química aproxima-se de Al2O3.2SiO2.2H2O, sendo a caulinita e a haloisita seus minerais predominantes. Também podem ocorrer os minerais do grupo caulinita: diquita, nacrita, folerita, anauxita, colirita e tuesita. Segundo Silva (2001), o caulim pode conter outros elementos na forma de impurezas, os quais podem atingir de 40 a 50% em volume do material extraído. Esses são constituídos, de modo geral, por areia, quartzo, palhetas de mica, grãos de feldspato, óxidos de ferro, titânio e manganês. 2.1.1 Tipos de Caulim Segundo Bristow (1987a, 1987b) apud Luz e Chaves (2000) os caulins são produtos de alteração de silicatos de alumínio, principalmente dos feldspatos, e podem ocorrer em dois tipos de depósito: primário ou residual (eluvial) e secundário. O caulim primário é resultado da alteração de rochas in situ pela ação de intemperismo, hidrotermal ou solfatara. Já o caulim secundário resulta da deposição de materiais transportados por corrente de água doce. O autor ainda ressalta que os caulins secundários apresentam teores mais baixos de quartzo e mica, no entanto, ocorrem contaminados com óxidos de ferro e minerais de titânio, que podem alterar a sua cor branca original. Além disso, seus argilo-minerais possuem uma granulometria mais fina. 5 2.1.2 Aplicações Atualmente as principais aplicações do caulim são como material de enchimento (filler) no preparo de papel; como agente de cobertura (coating) para papel couché e na composição das pastas cerâmicas. Em menor escala, é usado na fabricação de materiais refratários, plásticos, borrachas, tintas, adesivos, cimentos, inseticidas, pesticidas, produtos alimentares e farmacêuticos, catalisadores, absorventes, dentifrícios, clarificantes, fertilizantes, gesso, auxiliares de filtração, cosméticos, produtos químicos, detergentes e abrasivos, além de cargas e enchimentos para diversas finalidades. 2.1.3 Reservas e Produção Segundo Silva (2001), as reservas mundiais de caulim são bastante abundantes e de ampla distribuição geográfica. Porém, apenas quatro países detêm cerca de 95,0% de um total estimado de aproximadamente 14,2 bilhões de toneladas: Estados Unidos (53,0%), Brasil (28,0%), Ucrânia (7,0%) e Índia (7,0%). No Brasil, os Estados do Amazonas, Pará e Amapá detêm a maior parte da reserva nacional de caulim, participando, respectivamente, com 63,4%, 18,9% e 8,9%. O Nordeste possui uma pequena parcela desse total (0,51%). Segundo o mesmo autor, em 2000, foram beneficiadas cerca de 1.735.000 toneladas de caulim no Brasil. A produção bruta, a qual foi destinada principalmente às usinas de beneficiamento, atingiu 3,7 milhões de toneladas. 2.2 O CAULIM DO MUNICÍPIO DE EQUADOR-RN 2.2.1 O Município de Equador-RN De acordo com a Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste – SUDENE (2000), o município de Equador (Figura 2.1) está localizado no estado do Rio Grande do Norte (RN), na mesorregião Central Potiguar e na microrregião Seridó Oriental, abrangendo uma área de 312 km2. Segundo o censo de 2000 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE (2005), a população total residente é de 5.664 habitantes, dos quais 4.324 6 vivem na área urbana (76,30%) e 1.340 na área rural (23,70%). A população atual estimada é de 5.772 habitantes. FIGURA 2.1 Mapa de localização do município de Equador. De acordo com a Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais – CPRM (2005), esta região apresenta condições desfavoráveis à agricultura por possuir baixa pluviometria, ter grande susceptibilidade à erosão e impedimentos de uso de máquinas agrícolas, em decorrência do relevo ondulado e montanhoso, pedregosidade, rochosidade e pequena profundidade do solo. Além desses fatores é uma região de elevada quantidade de minérios, favorecendo assim a implantação de atividades de extração e beneficiamento dos mesmos. 2.2.2 Extração e Beneficiamento do Caulim O caulim encontrado na região de Equador-RN é primário do tipo intemperizado, resultante da alteração de pegmatitos. Sua lavra é subterrânea e realizada de forma artesanal (Figura 2.2). Em média as minas chegam a 20 m de profundidade, mas há pontos de exploração, segundo Sakamoto (2003), em que os mesmos atingem 70 m. 7 (a) (b) FIGURA 2.2 Extração do caulim: (a) Equipamento utilizado para a descida de trabalhadores para as galerias; (b) Vista da galeria. (Sakamoto, 2003). O beneficiamento do caulim é realizado a úmido e é constituído pelas etapas apresentadas na Figura 2.3. FIGURA 2.3 Esquema dos processos realizados na indústria de beneficiamento de caulim em Equador-RN. O beneficiamento inicia-se com a adição de água ao caulim bruto e a desagregação do mesmo em um misturador (Figura 2.4 a). A seguir, a polpa é transportada por gravidade para a etapa de peneiramento. Nesse transporte ocorre o desareamento, no qual são sedimentados os materiais mais grosseiros, constituídos por mica, quartzo, feldspato, entre outros. Esse material é removido manualmente (figura 2.4 b), através de pás perfuradas, e depositados em terrenos da empresa. Trituração Ensacamento Comercialização Pilha de estocagem do caulim bruto Desagregação através de misturadores Desareamento Peneiramento através de peneiras no 200 e 325 Estocagem em tanques de decantação Filtragem em filtro prensa Resíduo fino Secagem das tortas ao ar livre Calcinação em fornos à lenha Água Resíduo grosso 8 (a) (b) FIGURA 2.4 Beneficiamento do caulim: (a) Misturador utilizado na desagregação do caulim bruto; (b) Remoção do resíduo grosso. Na etapa de peneiramento (Figura 2.5 a) ocorre a classificação das partículas da mistura. Essa etapa é formada por um conjunto de peneiras de malha número 200 (0,074 mm) e 325 (0,044 mm), que estão empilhadas em ordem crescente da abertura da malha. Todo o material é passado na peneira No 200. Caso seja necessário um melhor refinamento do minério, a polpa também deve ser submetida à peneira de No 325. O material retido nas peneiras de Nº 200 (Figura 2.5 b) é rejeitado e consiste no resíduo fino da cadeia produtiva do caulim. (a) (b) FIGURA 2.5 Peneiramento do caulim: (a) Peneiramento; (b) Resíduo fino. O material que passanas peneiras é transportado, por gravidade, através de calhas para um sistema de tanques (Figura 2.6) onde se inicia a fase de decantação e sedimentação. O primeiro tanque recebe a mistura e é preenchido completamente com água destilada. Nele ocorre à separação da fração de maior granulometria através da sedimentação. A fração mais fina, que se posiciona na região superficial, passa por transbordamento para um segundo tanque, que apresenta um desnível de 9 altura em relação ao primeiro. O processo se repete, ocorrendo o transbordamento para outros tanques, onde ficam depositadas as partículas de caulim. FIGURA 2.6 Tanques de decantação. A água superficial que não transborda é vazada para um outro tanque. Essa água é reutilizada na fase inicial de dispersão do minério bruto. O material sedimentado em cada tanque é escolhido, de acordo com a sua utilização final, de onde segue, por bombeamento, para etapa de filtração. Na etapa de filtração (Figura 2.7) retira-se a água do material proveniente dos tanques. Este processo é realizado através do método da prensagem, em que a mistura é recalcada para dentro de filtros prensa, obtendo-se assim uma torta com cerca de 65% de sólidos. FIGURA 2.7 Filtro prensa. Para a perda da umidade (Figura 2.8), as tortas são expostas ao sol e às correntes de ar, onde ficam parcialmente secas. Para completa secagem do material, elas são dispostas em fornos à lenha. 10 (a) (b) (c) FIGURA 2.8 Secagem das tortas: (a) Exposição das tortas ao sol; (b) Prateleiras utilizadas na exposição das tortas às correntes de ar e ao sol; (c) Forno à lenha. Depois da calcinação são trituradas, ensacadas e destinadas à comercialização. 2.2.3 Resíduo Gerado no Beneficiamento de Caulim No beneficiamento do caulim são gerados dois tipos de resíduo: um grosso, denominado localmente de “sarrabulho” e outro fino, denominado localmente de “siri”. Cerca de 70% do caulim extraído, no município de Equador, é desperdiçado, por não ser aproveitado pela indústria ou qualquer outro segmento. Os resíduos são depositados a céu aberto em terrenos das empresas de beneficiamento (Figura 2.9), ocupando assim uma grande área. Quando secos, suas partículas finas são espalhadas pela ação do vento, ocasionando poluição do ar. (a) (b) FIGURA 2.9 Aterro de resíduo grosso oriundo do beneficiamento de caulim: (a) Vista superior; (b) Vista frontal. 11 2.3 UTILIZAÇÃO DO RESÍDUO ORIUNDO DO BENEFICIAMENTO DE CAULIM NA CONSTRUÇÃO CIVIL Visando mitigar os impactos produzidos no beneficiamento de caulim, no que se refere à quantidade de resíduo, as empresas responsáveis por essa atividade têm investido em pesquisas que visam proporcionar a valorização e a redução dos impactos ambientais provocados pelos mesmos. Segundo Lima (2005), o resíduo de mineração de caulim na região da Paraíba e Rio Grande do Norte não é tóxico, pois durante o beneficiamento não ocorre adição química ao processo, restando um material formado por pedaços de rocha decomposta e britada durante a extração do caulim. Sendo assim esses rejeitos podem ser aplicados largamente na construção civil sem restrições ambientais. Várias pesquisas vêm sendo desenvolvidas nas regiões de mineração de caulim da Paraíba e do Rio Grande do Norte, com vista ao emprego do resíduo em argamassas, tijolos e blocos de concreto de cimento portland, tijolos cerâmicos e pavimentação. A seguir, são apresentados alguns resultados referentes às três primeiras aplicações. O uso em pavimentação é apresentado no item 3.5 do capítulo 3. Adição do resíduo em argamassas Pereira e Dantas (2005) utilizaram o resíduo fino na composição de argamassa de assentamento interno. Realizou-se a caracterização do material, conforme as normas da ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas), e ensaios de compressão axial, para avaliar o comportamento mecânico dos traços com a incorporação do resíduo. Os resultados permitiram classificar o resíduo como pouco plástico. O melhor traço obtido na pesquisa foi 1:2:8, de cimento, cal e resíduo, o qual apresentou uma resistência de 2,5 MPa. Rocha (2005) estudou a incorporação do resíduo fino do caulim nos traços de argamassa a serem empregadas em atividades de construção civil. O resíduo foi submetido a uma caracterização física e mineralógica. Foram realizados dois estudos. No primeiro foram incorporados 5%, 10%, 15% e 20% do resíduo nas 12 argamassas (chapisco, assentamento, emboço e reboco), em substituição a uma parte da cal, mantendo as mesmas proporções de cimento e areia. E no segundo, a areia foi completamente substituída pelo resíduo, mantendo a mesma proporção de cal nos traços de argamassas de assentamento, emboço e reboco. Seu comportamento mecânico foi determinado através da medida da resistência à compressão simples e resistência à tração indireta. Os resultados obtidos mostraram que os traços de argamassa contendo resíduo de caulim se encontram dentro das normas da ABNT, efetivando assim a viabilidade da utilização desse resíduo. O trabalho sugere inclusive que a proporção de resíduo, nos traços de argamassa estudados no primeiro estudo, poderá ser aumentada. Fabricação de tijolos e blocos de concreto de cimento portland Lima e Dantas (2005) utilizaram os dois rejeitos (grosso e fino) na produção de tijolos a serem utilizados na construção civil. Foram realizados ensaios de caracterização do material, conforme as normas da ABNT, e de resistência à compressão dos tijolos. O corpo de prova que alcançou o melhor resultado de resistência aliado à economia, foi confeccionado com o traço composto por cimento, cal, resíduo fino e resíduo grosso, na proporção de 1:1:3:7, respectivamente. O mesmo obteve a resistência à compressão de 4,58 MPa, aos 07 (sete) dias de teste, possuindo então uma resistência superior à exigida pela ABNT para tijolos de vedação. Lima (2005) estudou a potencialidade do resíduo de caulim para uso em blocos de concreto simples sem função estrutural. Fez-se a caracterização física e mineralógica do resíduo. Nos ensaios tecnológicos foram utilizados os traços convencionais 1:2:2, 1:3:3 e 1:4:4 (cimento, areia e brita 0), com a incorporação de resíduo de caulim nas proporções de 15% e 20%, em substituição a parte da areia. As propriedades físico-mecânicas foram determinadas através da resistência à compressão simples e absorção de água. Para os blocos moldados com o traço 1:2:2, contendo o resíduo de caulim, foi obtido uma menor resistência à compressão simples e uma maior absorção de água se comparados aos blocos convencionais de mesmo traço. Já os blocos moldados com os traços 1:3:3 e 1:4:4, contendo o resíduo de caulim, apresentaram melhores resultados de resistência à compressão simples, apesar de também possuírem uma maior absorção de água, se 13 comparados aos convencionais de mesmo traço. Os valores de resistência e absorção obtidos em todos os blocos moldados com o resíduo de caulim estão em conformidade com as normas da ABNT. Fabricação de tijolos cerâmicos Varela et al. (2005) estudaram a incorporação do resíduo do caulim e de descartes de tijolos, oriundos da construção civil, na fabricação de tijolos cerâmicos. Foi realizada uma caracterização mineralógica dos resíduos. As massas estudadas eram compostas somente pelos dois resíduos e foram sintetizadas em diferentes temperaturas. Foram realizados ensaios de absorção de água (AA), porosidade aparente, retração linear após queima, densidade aparente e resistência mecânica para determinação das propriedades tecnológicas dos tijolos. Os resultados obtidos mostraram que é possível gerar produtos com boas propriedades físicas e mecânicasa partir de resíduos de tijolos e de resíduos provenientes do beneficiamento de caulim. O resíduo de caulim se mostrou como uma matéria-prima mais indicada para a obtenção de revestimentos de base clara e melhores propriedades físicas e mecânicas, uma vez que, nas massas que possuíam acima de 50% do resíduo do caulim, foram obtidos valores de resistência mecânica referentes a revestimentos cerâmicos do tipo Semi-Grês e Grês-Porcelanato, atingindo valores entre 65 MPa e 75 MPa, e AA na faixa de 3,5% até 4,5%, quando sintetizadas a 1250 oC. 14 CAPÍTULO 3 UTILIZAÇÃO DE RESÍDUOS EM PAVIMENTAÇÃO 3.1 PAVIMENTAÇÃO O pavimento é uma estrutura em camadas, que recebe, em sua superfície, solicitações do tráfego de veículos, através das rodas pneumáticas, e se apóia diretamente sobre o subleito. Essa estrutura deve ser econômica e: resistir e distribuir, convenientemente, ao subleito os esforços verticais oriundos do tráfego; resistir aos esforços horizontais (desgaste), tornando mais durável a superfície de rolamento; resistir às ações de intemperismo; melhorar as condições de rolamento dos veículos quanto ao conforto, segurança e aderência. As camadas que constituem o pavimento são compostas de materiais granulares (solo, pedregulho, cascalho, pedra britada etc.) podendo ser acrescidos de um material estabilizante (cal, cimento, betumes etc.) para melhorar as propriedades físicas do material granular. Os pavimentos mais simples são constituídos por base e revestimento. Mas podem ainda constituir-se de outras camadas adicionais como regularização e reforço do subleito e a sub-base, conforme a sua necessidade. Essas camadas, a partir do subleito, vão ficando técnica e economicamente mais nobres à medida que elas se aproximam do revestimento. No dimensionamento das camadas do pavimento leva-se em consideração: a sua vida útil; a disponibilidade de recursos para a construção; as características do tráfego que irá circular sobre o mesmo, uma vez construído; a disponibilidade de materiais para sua construção, bem como suas características; e as características 15 da fundação do pavimento (subleito, no caso de pavimento novo, ou estrutura existente, no caso de reforço de pavimento). O pavimento geralmente possui uma vida útil curta, em torno de 10 a 20 anos. Por esse motivo a compreensão dos processos de deterioração e destruição do pavimento é de vital importância. Segundo Higgins (1987) apud Amaral (2000), alguns dos fatores que afetam a qualidade e a durabilidade dos pavimentos são: a má qualidade dos agregados e do material asfáltico; graduação inadequada; mau dimensionamento e execução; volume de tráfego e carga dos veículos pesados; variações térmicas diárias; temperaturas baixas; gelo e degelo; temperaturas altas; oxidação do asfalto e água. 3.1.1 Classificação dos Pavimentos Os pavimentos podem ser classificados em função do seu comportamento como: rígido, flexível e semi-rígido. Os pavimentos rígidos (Figura 3.1 a) são constituídos principalmente por concreto de cimento Portland. Eles apresentam deformações elásticas pequenas, trabalham à tração e seu dimensionamento é comandado pela resistência do próprio pavimento. Os pavimentos semi-rígidos (Figura 3.1 b) são caracterizados por possuir uma base cimentada quimicamente. Por exemplo, uma camada de solo cimento revestida por uma camada asfáltica. Os pavimentos flexíveis (Figura 3.1 c) são constituídos de revestimento asfáltico delgado sobre camadas puramente granulares. Suas camadas sofrem uma deformação elástica significativa a cada passagem de veículos e, portanto, a carga se distribui em parcelas compatíveis com a deformabilidade das camadas, sendo maior no subleito. 16 (a) (b) (c) FIGURA 3.1 Tipos de pavimento: (a) Rígido; (b) Semi-rígido; (c) Flexível. 3.1.2 Revestimento Asfáltico O revestimento é a camada que receberá diretamente os esforços normais, tangenciais e de sucção aplicados pelas rodas dos veículos. Consiste de uma mistura de agregados minerais e materiais asfálticos destinada a resistir os esforços devido ao tráfego, promover comodidade e resistência ao deslizamento da superfície de rolagem e impermeabilizar e proteger todo o pavimento e subleito dos efeitos prejudiciais da água. Segundo o Departamento Nacional de Infra-estrutura de Transporte – DNIT, os revestimentos asfálticos podem ser agrupados de acordo com o esquema apresentado na Figura 3.2. ⎪ ⎪ ⎪ ⎪ ⎩ ⎪ ⎪ ⎪ ⎪ ⎨ ⎧ ⎪ ⎪ ⎪ ⎩ ⎪⎪ ⎪ ⎨ ⎧ ⎩ ⎨ ⎧ asphalt"-sheet" asfáltico concreto betume areia densa tipo graduação de misturado-pré aberta tipo graduação de misturado-pré usina em mistura Por asfáltico Macadame asfálticos issuperficia Tratamento penetração Por AsfálticotoRevestimen FIGURA 3.2 Classificação dos revestimentos asfálticos. (DNIT, 2006a). Os revestimentos por penetração consistem em aplicações alternadas de ligante asfáltico e agregados minerais, em operações simples ou múltiplas. São classificados como direto ou invertido, em função da forma de penetração do ligante asfáltico. Revestimento Asfáltico Base Cimentada Subleito Sub-base granular h3 h2 h1 Subleito Revestimento Asfáltico Base granular Sub-base granular Reforço do Subleito h3 h2 h1 h4 Placa de Concreto Subleito Sub-base granular h1 h2 17 Os tratamentos superficiais podem ser ainda classificados como simples, duplo ou triplo, em função da quantidade de aplicações de agregado/ligante. O número de aplicações dependerá da utilização dada a esse revestimento. O macadame asfáltico é um revestimento por penetração direta contendo duas aplicações de agregado/ligante. Ele diferencia-se do tratamento superficial na faixa granulométrica utilizada (mais grossa) a qual proporciona uma maior espessura à camada. Nos revestimentos asfálticos por mistura, o agregado é pré-envolvido com o material asfáltico, antes da compressão. Dependendo da temperatura de espalhamento da mistura na pista podem ser classificados em pré-misturado a frio ou a quente. Nas misturas a frio os ligantes asfálticos utilizados são emulsões asfálticas ou os asfaltos diluídos de petróleo (ADP). Já nas misturas a quente, aplica-se o cimento asfáltico de petróleo (CAP). Esse tipo de revestimento pode ser ainda classificado conforme a graduação dos agregados com que são executados em: de graduação aberta ou densa. Segundo DNIT (2006a), o revestimento areia-betume é um pré-misturado formado por agregados com diâmetros menores que 2,0 mm. O sheet-asphalt é semelhante ao areia betume, no que se refere a granulometria, mas obedece a exigências rigorosas em sua dosagem e construção. O Concreto Asfáltico é um pré-misturado à quente de graduação densa, em que são feitas rigorosas exigências no que se diz respeito a equipamentos de construção e índices tecnológicos – como granulometria, teor de betume, estabilidade, vazios entre outros. Os revestimentos mais utilizados no RN, segundo o Departamento de Estradas do Estado (DER/RN), são: o Tratamento Superficial Simples, no acostamento, e o Tratamento Superficial Duplo e o Concreto Asfáltico, na superfície de rolamento. 18 3.2 CONCRETO ASFÁTICO Segundo DNIT (2006b), o Concreto Asfáltico (CA) é o mais nobre dos revestimentos flexíveis. Consiste em uma mistura asfáltica à quente executada em usina apropriada, com características específicas, compostas de agregado graduado, material de enchimento (filler) e cimento asfáltico, espalhada e compactada à quente. Conforme a posição relativa e a função na estrutura, o concreto asfáltico deve atender a características especiais em sua formulação, recebendo geralmente as seguintes designações (Pinto e Preussler, 2002): Camada de rolamento ou capa asfáltica – Camada superior da estruturaresponsável em receber diretamente a ação do tráfego. A mistura empregada deve apresentar estabilidade e flexibilidade compatíveis com o funcionamento elástico da estrutura e condições de rugosidade que proporcionem segurança ao tráfego, mesmo sob condições climáticas e geométricas adversas; Camada de ligação ou binder – Camada posicionada imediatamente abaixo da capa. Essa camada apresenta uma maior porcentagem de vazios e menor relação betume-vazios, se comparada à capa asfáltica. Além disso, possui agregados de maior diâmetro máximo. Camada de nivelamento ou regularização – Serviço executado com massa asfáltica de graduação fina, com a função de corrigir deformações ocorrentes na superfície de um antigo revestimento e, simultaneamente, promover selagem de fissuras existentes. 3.2.1 Cimento Asfáltico de Petróleo (CAP) Segundo Mourão (2003), o CAP é um material termoplástico adequado para aplicação em trabalhos de pavimentação, pois, além de suas propriedades aglutinantes e impermeabilizantes, possui características de flexibilidade, durabilidade e alta resistência à ação da maioria dos ácidos, sais e álcalis. No Brasil, os cimentos asfálticos são classificados pelo ensaio de penetração (25ºC) em 4 (quatro) tipos diferentes: 30/45; 50/70; 85/100; e 150/200, segundo o EM-095/2006 do DNIT. 19 Tanto o tipo quanto a quantidade de ligante influenciam nos parâmetros volumétricos e mecânicos da mistura asfáltica. De acordo com Coelho (1992), as propriedades plásticas de um concreto asfáltico são fortemente influenciadas pelo comportamento do CAP, diante das variações de temperatura e das ações do tráfego. Sendo assim, ligantes mais viscosos, ou de menor penetração, tendem a produzir misturas mais rígidas (ou menos plásticas), com maior estabilidade e menor fluência e são mais adequadas a regiões de clima mais quente e de tráfego elevado. O CAP 50/70 é convencionalmente utilizado para revestimentos de Concreto Asfáltico no Nordeste. Porém, estudos realizados por Soares et al. (1999), em uma pista experimental no Ceará, indicam a possibilidade de uso do CAP 30/45 nessas regiões. Foram comparadas pistas experimentais que empregaram CAP 30/45 e CAP 50/70. Os resultados indicaram que a pista contendo o CAP mais consistente apresentou inicialmente deflexões ligeiramente inferiores, mas com o passar do tempo apresentou o mesmo patamar da pista contendo o CAP menos consistente. Além disso, analisou-se a densidade aparente, a resistência à tração estática e o módulo de resiliência à compressão diametral da mistura utilizada em cada pista. Verificou-se uma diferença estatística no caso de resistência à tração estática, sendo mais resistente a mistura com o CAP 30/45. Esta diferença não se repetiu quando se considera o módulo de resiliência ou a densidade aparente das misturas. Segundo o Road Research Laboratory (1962) apud Coelho (1992), o bom desempenho mecânico e a durabilidade de uma mistura asfáltica depende da dosagem certa da quantidade de ligante. O excesso de ligante pode acarretar uma superlubrificação das partículas granulares, reduzindo drasticamente seu atrito interno e produzindo misturas com tendência à instabilidade e baixa resistência à deformação. Por outro lado, as misturas com ligante insuficiente, podem expor a camada asfáltica aos riscos de desagregação granular com diminuição da sua estabilidade, durabilidade e flexibilidade. Para concretos asfálticos, com função de camada de rolamento, o DNIT especifica a utilização de 4,5 a 9,0% de CAP, com uma tolerância de ± 0,3%. 20 3.2.2 Materiais Granulares A quantidade de agregado mineral em misturas asfálticas de pavimentação é geralmente de 90 a 95% em peso ou 75 a 85% em volume. Eles devem conferir resistência mecânica e flexibilidade à camada de rolamento. Para isso, é necessário que se tenha um concreto asfáltico com um esqueleto mineral estável e eficaz na transmissão dos esforços, uma boa resistência mecânica e aderência ao ligante asfáltico. Coelho (1992) relata, em seu artigo, que os materiais granulares exercem grande influência nos parâmetros volumétricos e mecânicos do Concreto Asfáltico. Para isso, deve-se levar em consideração: a composição mineralógica, a forma (geometria), a textura superficial, a porosidade e a granulometria dos agregados, bem como a proporção dos diversos materiais granulares na composição da mistura. A composição mineralógica da rocha matriz, que dá origem aos materiais granulares, influencia principalmente o desempenho de misturas asfálticas no que se refere à adesão e aos danos por umidade. Furlan et al. (2004) relata que os agregados podem ser classificados em ácidos e básicos (Figura 3.3), de acordo com a quantidade de sílica (SiO2) presente. O aumento do teor de sílica num agregado aumenta a sua afinidade com a água. Os agregados básicos, como basalto, devido a menor concentração de sílica em suas composições, tendem a desenvolver melhores ligações com o asfalto. ( ) ( ) ⎪ ⎪ ⎪ ⎪ ⎪ ⎩ ⎪ ⎪ ⎪ ⎪ ⎪ ⎨ ⎧ ⎪ ⎪ ⎩ ⎪ ⎪ ⎨ ⎧ ⎪ ⎪ ⎩ ⎪ ⎪ ⎨ ⎧ Quartzo Arenito Gnaisse Granito Calcário Gabro Diabásio Basalto CAP ao afinidade má Ácidos CAP ao afinidade boa Básicos Agregado FIGURA 3.3 Classificação dos agregados de acordo com sua composição mineralógica e afinidade ao CAP. 21 Os agregados de forma cúbica e angulosa e de textura rugosa ou áspera proporcionam um aumento do ângulo de atrito interno entre os grãos e uma melhor ligação asfalto-agregado, elevando assim a estabilidade da mistura. O agregado deve possuir um certo grau de porosidade, a qual deve proporcionar uma melhor adesão entre o agregado e o ligante. Porém se o agregado for muito poroso absorverá grandes quantidades de asfalto, diminuindo assim a espessura do ligante que o envolve. Essa diminuição torna a mistura frágil e mais suscetível às ações do clima, da água e do tráfego. Segundo Bonet (2002), a granulometria é responsável pela distribuição interna dos grãos, de maneira que acontece um contato mais íntimo entre as partículas de grãos maiores e as partículas de grãos menores. A função das partículas de grãos menores é preencher os vazios deixados pelos grãos maiores. Falhas na curva granulométrica (ausência de determinados tamanhos de partículas) podem gerar misturas com qualidade não-satisfatória. Segundo o DNIT (2006b), o concreto asfáltico deve satisfazer aos requisitos de granulometria e percentuais de ligante apresentados na Tabela 3.1. TABELA 3.1 Especificações do DNIT para composição granulométrica do concreto asfáltico. PENEIRA DE MALHA QUADRADA % EM MASSA, PASSANDO Série (ASTM) Abertura (mm) A B C Tolerâncias 2” 50,8 100 - - - 1 ½” 38,1 95 – 100 100 - ± 7% 1” 25,4 75 – 100 95 – 100 - ± 7% ¾” 19,1 80 – 90 80 – 100 100 ± 7% ½” 12,7 - - 80 – 100 ± 7% 3/8” 9,5 35 – 65 45 – 80 70 – 90 ± 7% No 4 4,8 25 – 50 28 – 60 44 – 72 ± 5% No 10 2,0 20 – 40 20 – 45 22 – 50 ± 5% No 40 0,42 10 – 30 10 – 32 8 – 26 ± 5% No 80 0,18 5 – 20 8 – 20 4 – 16 ± 3% No 200 0,075 1 – 8 3 – 8 2 – 10 ± 2% Asfalto solúvel no CS2(+) (%) 4,0 – 7,0 Camada de ligação (binder) 4,5 – 7,5 Cam. de ligação e rolamento 4,5 – 9,0 Camada de rolamento ± 0,3% 22 No Rio Grande do Norte geralmente utiliza-se a faixa C (Figura 3.4) do DNIT para composição de desse tipo de mistura asfáltica. 0,0% 10,0% 20,0% 30,0% 40,0% 50,0% 60,0% 70,0% 80,0% 90,0% 100,0% 0,01 0,10 1,00 10,00 100,00 Diâmetro dos Grãos (mm) Po rc en ta ge m q ue p as sa Máximo Mínimo Tendência Central da faixa C FIGURA 3.4 Distribuição granulométrica dos limites da faixa C, especificada pelo DNIT, para concretos asfálticos e curva central de distribuição granulométrica obtida a partir das curvas limites. Soares et al. (2000) estudaram a variação das propriedades mecânicas de misturas em função da variação das faixas granulométricas de Concreto BetuminosoUsinado a Quente – CBUQ, considerando três tipo de CAP. Os resultados mostraram que para os CAP 30/45 e 50/60, a mistura na Faixa A do DNIT obteve maior vida de fadiga do que a mistura na Faixa B, e esta maior do que a mistura na Faixa C, indicando que quanto mais grossa a faixa granulométrica, maior a vida de fadiga da mistura. 3.2.2.1 Agregados Graúdos Segundo o DNIT (2006a), é o material retido na peneira No 10 (2,0 mm), podendo ser: pedra britada, escória ou seixo rolado, preferencialmente britado. Segundo a norma ES 031/2006 do DNIT, esse material deve se constituir de fragmentos sãos, duráveis, livres de argilas e substâncias nocivas. Deve apresentar características de boa adesividade, desgaste Los Angeles igual ou inferior a 50%, índice de forma superior a 0,5 e quando submetido ao ensaio de durabilidade, com 23 sulfato de sódio, apresentar perda inferior a 12%, em 05 (cinco) ciclos. Essa norma ainda limita o diâmetro máximo desses agregados em 2/3 da espessura da camada de rolamento acabada. Brown et al. (1986) apud Barra (2005) citam um trabalho apresentado em um simpósio da American Standardization for Testing and Materials (ASTM), o qual indica as vantagens de se utilizar agregados graúdos em misturas asfálticas. Os resultados de testes mostraram que tanto a estabilidade quanto a resistência à tração diminuem com o aumento do teor de vazios do agregado mineral (VAM), o que é atribuído, geralmente, aos agregados de menores dimensões. Citam ainda benefícios de se utilizar agregados de maiores dimensões, como: melhora da resistência à derrapagem e a obtenção de baixos teores ótimos de ligante para as misturas asfálticas. Coelho (1992) cita pesquisas realizadas pelo Road Research Laboratory nas quais foram estudadas misturas betuminosas com porcentagens crescentes de agregado graúdo, em relação aos materiais granulares da mistura. Os resultados mostram que quando a porcentagem de agregados graúdos é da ordem de 40% a 50%, as partículas do mesmo começam a se tocar, formando um tipo de estrutura mecânica, cuja estabilidade Marshall e resistência às deformações permanentes tendem a crescer até um limite máximo, representado pela porcentagem de 60% de agregado graúdo. Ao mesmo tempo, a porcentagem ótima de ligante betuminoso, na mistura, tende a diminuir. 3.2.2.2 Agregados Miúdos Segundo o DNIT (2006a), é o material que passa na peneira No 10 (2,0 mm) e fica retido na peneira No 200 (0,075 mm), podendo ser: areia, pó-de-pedra ou mistura de ambos. Segundo a norma ES 031/2006 do DNIT, as partículas individuais desse material devem ser resistentes, apresentar moderada angulosidade, estando livres de torrões de argila e substâncias nocivas. Deve apresentar equivalente de areia igual ou superior a 55%. 24 O agregado miúdo possui a função de preencher os vazios deixados pela estrutura formada pelos agregados graúdos. A areia e o pó de pedra são os agregados miúdos mais utilizados nos Concretos Asfálticos produzidos no Rio Grande do Norte. Segundo Barra (2005), a aplicação de areia em arranjos estruturais das misturas asfálticas é bastante difundida no Brasil. Isso se deve à abundância de jazidas com grande potencial de exploração em grande parte do País (principalmente nas regiões Nordeste e Norte) e ao preço mais acessível em relação aos outros finos. Porém as areias são formadas por grãos arredondados e envolvidos por silicatos (SiO4) que quando misturados aos demais componentes das misturas asfálticas comprometem a estabilidade do arranjo dos grãos, por gerarem um ângulo de atrito deficiente entre as partículas, aumentando assim a possibilidade de aparecimento de deformações permanentes. O pó de pedra possui uma angulosidade mais favorável e um bom intertravamento das partículas nas misturas asfálticas, mas podem apresentar minerais que prejudiquem a qualidade e durabilidade das misturas asfálticas. 3.2.2.3 Material de Enchimento (filler) Segundo a norma EM 367/97 do DNIT, o filler é um material mineral inerte em relação aos demais componentes da mistura, finamente dividido, passando pelo menos 65% na peneira de 0,075 mm de abertura de malha quadrada. Ele deve ser homogêneo, seco e livre de grumos provenientes de agregações das partículas finas. A Tabela 3.2 apresenta as especificações do DNIT quanto a granulometria desse material. TABELA 3.2 Especificações do DNIT para o filler contido nas misturas asfálticas. PENEIRA % MÍNIMA PASSANDO No 40 100 No 80 95 No 200 65 25 O filler pode ser constituído de partículas minerais provenientes dos agregados graúdos e/ou miúdos empregados na mistura asfáltica (filler natural), ou de outras fontes (filler artificial) como é o caso, por exemplo, do pó calcário, cal hidratada, cimento Portland, entre outros. O filler é incorporado à mistura asfáltica para melhorar seu desempenho reológico, mecânico, térmico e de sensibilidade à água. Isso ocorre devido às mudanças, que o mesmo proporciona, nas propriedades químicas e físicas do ligante. Essas mudanças dependem, segundo Kavussi e Hicks (1997) apud Cavalcante e Soares (2001), do tipo de filler (graduação, forma dos grãos, etc.), da natureza do mesmo (sua atividade físico-química que afeta a afinidade com o asfalto) e de sua concentração na mistura. Quanto à granulometria, o filler exerce duas funções na mistura: preencher os vazios entre os agregados graúdos e miúdos, ajudando a formar o esqueleto mineral (filler agregado); e, aumentar a viscosidade do ligante e, portanto, sua resistência à deformação (filler ativo). Segundo Motta e Leite (2000) apud Mourão (2003), o filler agregado é formado por partículas de diâmetro maior que 40μm, as quais tendem a preencher os vazios do esqueleto mineral, aumentando a densidade – conseqüentemente decrescendo o índice de vazios – e a resistência da mistura quando compactada e alterando o teor ótimo de ligante. Já o filler ativo, o qual é formado por partículas de diâmetro menor que 20 μm, atuará muito mais no próprio ligante, incorporando-se ao cimento asfáltico formando assim o mastique. Esse tipo de filler proporciona um aumento na viscosidade e no ponto de amolecimento do CAP, uma redução na suscetibilidade térmica do mesmo e um aumento na rigidez da mistura. Quanto à concentração do filler na mistura, Motta e Leite (2000) apud Mourão (2003) citam que à medida que a porcentagem de material que passa na peneira N° 200 aumenta, reduzem-se os vazios no esqueleto mineral e incrementa-se a resistência aos esforços de cisalhamento (estabilidade), o módulo de rigidez e a resistência à tração das misturas asfálticas. Mas o uso excessivo de filler pode prejudicar a estabilidade do esqueleto mineral, diminuindo os contatos entre os 26 agregados, tornando o material asfáltico muito duro, levando-o a misturas rígidas, frágeis e quebradiças. Um mastique bem dosado é, segundo Ruiz (1943) apud Barra (2005), aquele em que todas as partículas do filler estão em suspensão no cimento asfáltico, portanto não se tocam, formando assim um mastique homogêneo. Sendo assim, ele propõe o cálculo da concentração volumétrica (C) (Equação 3.1) para a dosagem de uma mistura asfáltica. 1 % % 1 + = Db Df f b C (Equação 3.1) onde: C = concentração volumétrica; %b = percentagem de betume na amostra total; %f = percentagem de filler na amostra total; Df = massa específica real do filler; e, Db = massa específica real do asfalto. Existe uma concentração limite (concentração crítica – Cs) para quantidade de filler em uma mistura asfáltica, a partir da qual a mesma proporcionará características indesejáveis à mistura. Ruiz (1943) apud Barra (2005) recomenda utilizar concentrações de filler 10% a 20% menor que a concentração crítica. Segundo Mourão (2003), o uso da cal hidratada
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