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Determinacaosocialsaude-Carvalho-2019

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UUNNIIVVEERRSSIIDDAADDEE FFEEDDEERRAALL DDOO RRIIOO GGRRAANNDDEE DDOO NNOORRTTEE 
CCEENNTTRROO DDEE CCIIÊÊNNCCIIAASS SSOOCCIIAAIISS AAPPLLIICCAADDAASS 
PPRROOGGRRAAMMAA DDEE PPÓÓSS--GGRRAADDUUAAÇÇÃÃOO EEMM SSEERRVVIIÇÇOO SSOOCCIIAALL 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
DISSERTAÇÃO DE MESTRADO 
 
 
DETERMINAÇÃO SOCIAL DA SAÚDE E SERVIÇO SOCIAL: concepções que 
norteiam o trabalho do/a Assistente Social no atual contexto do SUS 
 
 
 
 
 
 
 
GILIANE ALVES DE CARVALHO 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
NATAL 
2019
 
 
 
 
 
 
GILIANE ALVES DE CARVALHO 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
DISSERTAÇÃO DE MESTRADO 
 
 
DETERMINAÇÃO SOCIAL DA SAÚDE E SERVIÇO SOCIAL: concepções que 
norteiam o trabalho do/a Assistente Social no atual contexto do SUS 
 
 
 
 
 
 
 
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação 
em Serviço Social da UFRN como requisito para 
obtenção do título de mestre em Serviço Social. 
 
Área de Concentração: Sociabilidade, Serviço Social e 
Política Social 
Linha de Pesquisa: Serviço Social, trabalho e questão 
social 
Orientadora: Prof.ª Dr.ª Maria Dalva Horácio da Costa 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
NATAL 
2019 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN 
Sistema de Bibliotecas - SISBI 
Catalogação de Publicação na Fonte. UFRN - Biblioteca Setorial do Centro Ciências Sociais Aplicadas - CCSA 
 Carvalho, Giliane Alves de. 
 Determinação social da saúde e Serviço Social : concepções que 
norteiam o trabalho do/a Assistente Social no atual contexto do 
SUS / Giliane Alves de Carvalho. - 2019. 
 131f.: il. 
 
 Dissertação (Mestrado em Serviço Social) - Universidade 
Federal do Rio Grande do Norte, Centro de Ciências Sociais 
Aplicadas, Programa de Pós-graduação em Serviço Social, Natal, 
RN, 2019. 
 Orientadora: Profa. Dra. Maria Dalva Horácio da Costa. 
 
 
 1. Serviço Social - Dissertação. 2. Atividade profissional - 
Dissertação. 3. Determinantes Sociais da Saúde - Dissertação. 4. 
Contrarreforma - Dissertação. 5. Racionalidade instrumental - 
Dissertação. I. Costa, Maria Dalva Horácio da. II. Título. 
 
RN/UF/CCSA CDU 364.4:614.21 
 
 
 
 
 
Elaborado por Shirley de Carvalho Guedes - CRB-15/404 
 
 
 
 
 
 
DETERMINAÇÃO SOCIAL DA SAÚDE E SERVIÇO SOCIAL: concepções que 
norteiam o trabalho do/a Assistente Social no atual contexto do SUS 
 
 
 
 
 
GILIANE ALVES DE CARVALHO 
 
 
 
 
 
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação 
em Serviço Social da UFRN como requisito para 
obtenção do título de mestre em Serviço Social. 
 
 
 
 
BANCA EXAMINADORA 
 
 
 
 
APROVADA EM: 30/08/2019. 
 
 
 
 
 
________________________________________________________________ 
Prof.ª Dr.ª Maria Dalva Horácio da Costa (Orientadora) 
Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN 
 
 
 
________________________________________________________________ 
Prof.ª Dr.ª Marcia Maria de Sá Rocha (Membro Titular Interno) 
Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN 
 
 
________________________________________________________________ 
Prof.ª Dr.ª Katllen Elane Leal Vasconcelos (Membro Titular Externo) 
Universidade Estadual da Paraíba – UEP 
 
 
 
 
 
 
AGRADECIMENTOS 
 
 
A conclusão deste processo formativo representa a materialização de um esforço que 
ultrapassa a dimensão estritamente acadêmica. Ao transitar às dimensões da nossa 
subjetividade, se articula também às condições objetivas, refletem nossas vivências, 
elaborações e reelaborações teóricas, e nossa própria construção enquanto ser social e 
vinculação ao humano-genérico. Assim, o mestrado significou um momento pleno de 
crescimento acadêmico-profissional e humano, permeado por desafios. 
Nesta trajetória, destaco minha condição de pesquisadora e trabalhadora, que por 
inúmeras vezes, em meio a 70, 80 horas semanais de trabalho e o cansaço a ele inerente, me 
fez questionar a minha capacidade de desenvolver um trabalho de qualidade, que de fato 
cumprisse um papel não meramente formal para obtenção de um título, mas que fosse 
expressão dos valores os quais me vinculo. Para superar as dificuldades impostas pelo cansaço 
físico e mental, e demarcar posição na construção do conhecimento crítico, contei com apoio 
de inúmeros sujeitos que me deram sustentação política e afetiva para concluir esse processo, 
firme em meu propósito, fazendo com que agradecer somente a Deus não fosse suficiente. 
Agradeço à todos os profissionais de Serviço Social, que ao longo da minha trajetória 
profissional tive o prazer de conviver e trocar ricas experiências, debates e lutas em defesa das 
políticas sociais e do PEP, em especial às profissionais do Hospital Universitário Onofre 
Lopes, e minhas companheiras Multi Rayanna, Tamaria e Cadydja, com as quais compartilhei 
às 5760h de experiências acadêmico-profissionais na Residência Multiprofissional em Saúde. 
Às minhas companheiras de profissão e toda a equipe do CRAS Passo da Pátria, que 
acompanharam de perto os desafios do meu processo de formação no mestrado, e com as quais 
compartilhei nos últimos 3 anos ricas experiências de trabalho no âmbito da Assistência 
Social, desafiando a precarização e desvalorização profissional. 
Às minhas companheiras de trabalho na Unidade de Pronto Atendimento da Cidade da 
Esperança, por estarem comigo, no cotidiano dos serviços de saúde, buscando efetivar nosso 
―projeto de intenção de ruptura‖, enfrentando relações de poder/saber em prol das 
necessidades dos nossos usuários. 
 
 
 
 
 
À equipe do meu mais novo espaço de atuação, na Coordenação de Políticas Estudantis 
da Escola Agrícola de Jundiaí (COPE/EAJ/UFRN), por toda a compreensão, sensibilidade e 
incentivo nesse meu processo de conclusão do mestrado. 
Às profissionais que compõem a Comissão de Orientação e Fiscalização do 
CRESS/RN, pelos ricos debates na construção de estratégias de enfrentamento em prol da 
defesa das prerrogativas profissionais na direção do fortalecimento do PEP. 
Agradeço imensamente aos mestres, em especial aos professores do Departamento de 
Serviço Social da UFRN, que ao longo do meu processo de formação nesta universidade, 
desde a graduação, se tornaram fonte de inspiração e referências para a minha busca de 
conhecimento em prol de uma atuação qualificada e comprometida com o PEP, e de maneira 
especial, às professoras Eliana Andrade e Edla Hoffmann pelas ricas contribuições e debates 
nas disciplinas do Eixo 3 durante o processo da residência, essenciais para os caminhos que 
trilhei até aqui. 
Agradeço à banca examinadora, Professora Marcia, com a qual também tive a 
oportunidade de conviver no Grupo de Estudos e Pesquisas em Serviço Social e Seguridade 
Social (GEPSSS) e por quem tenho grande respeito e admiração; a Professora Katlheen, pela 
sua disponibilidade, compreensão, e generosas contribuições a este debate. 
Agradeço às minhas companheiras de turma do Mestrado, que em suas particularidades 
e singularidades, foram fonte de apoio e inspiração imprescindíveis neste processo. De 
maneira muito especial e fraterna, agradeço a querida Rosangela, pela amizade construída, e 
pelas partilhas que deram leveza ao nosso percurso. 
À minha amiga e também companheira de mestrado Lívia, um dos maiores presentes 
do Serviço Social, que me acompanha pelos caminhos acadêmico-profissionais desde a 
graduação, dividindo comigo os momentos de angustias, questionamentos e reflexões críticas 
a qualquer hora e em qualquer lugar, agradeço imensamente pelas contribuições, com suas 
revisões, sugestões, alegrias e incentivos, pela companhia nas viagens, congressos, e para além 
da dimensão acadêmica, pelos momentos de cuidado, superação das ilusões otimistas e 
abstrações cotidianas. 
Aos amigos que participaramda minha trajetória e foram fonte de apoio, incentivo e 
cuidados inesgotáveis, essenciais à minha saúde mental, os quais agradeço em nome da minha 
amiga Layse, sempre presente. 
 
 
 
 
 
Aos familiares por toda a compreensão nos momentos em que tiveram que abdicar da 
minha presença, de maneira particular à minha mãe Ivanete, e minha irmã Gil, por terem sido 
meu suporte por toda a vida, e a minha vó Maria Alves (in memorian), minha principal 
incentivadora, que sempre fez questão de expor em sua sala cada uma das minhas conquistas, 
e a quem dedico este trabalho. 
Por fim, e de maneira imensurável, agradeço à vida e plena recuperação da minha 
orientadora, Dalva Horácio, a qual orgulhosamente tive ao meu lado como orientadora pela 
segunda vez. Uma docente que reúne todos os atributos capazes de favorecer o 
desenvolvimento do processo criativo para a construção do conhecimento, grande referência 
profissional e humana, cuja atuação profissional se confunde com sua trajetória de vida, 
dedicada às lutas sociais em prol da construção de uma política de saúde pautada em valores 
emancipatórios. Grata pela sensibilidade em meio às minhas particularidades, pelos momentos 
enriquecedores de partilha nas orientações, no grupo de pesquisa, nos espaços de mobilização, 
participação e controle social, por sua generosidade, e por ser essa grande referência 
profissional em defesa do SUS, sem a qual este estudo não teria se constituído. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
“Temos de começar a chamar as coisas por 
seus nomes e a olhar o caminho da reforma 
com outros olhos, mais abertos e críticos, mais 
atentos às arestas e aos contrapesos que nos 
foram impostos pelo pensamento hegemônico” 
(JAIME BREILH, 2006, p. 186) 
 
 
 
 
 
 
RESUMO 
 
Esta pesquisa busca refletir a incorporação da Perspectiva da Determinação Social da Saúde 
(PDSS) pelo Serviço Social (SSO), problematizando sua apropriação nas mediações teórico-
práticas, a partir de indícios de sua incorporação na ficha social, considerado o instrumento 
técnico-operativo mais utilizado no cotidiano profissional do/a Assistente Social. Resgata as 
questões que envolvem o processo de distanciamento ou de apropriação da PDSS no debate 
teórico do SSO e reflete acerca da perspectiva ideopolítica da política de saúde no Brasil, que 
hegemoniza e norteia o conteúdo da ficha social utilizada na rede de hospitais da UFRN, 
buscando analisar qual a capacidade deste instrumento de apreender as reais condições de vida 
da população usuária do SUS. Constitui uma pesquisa qualitativa combinando pesquisa 
bibliográfica e documental. Partimos da premissa de que a PDSS, expressa a luta pela saúde 
como direito no contexto da luta de classes, enquanto formulação do Projeto da Reforma 
Sanitária Brasileira (PRSB) e se vincula a um projeto de transformação social, que possui forte 
afinidade com a direção social do Projeto Ético Político (PEP) do SSO. A pesquisa 
bibliográfica revelou que a noção de Determinação Social vem sendo utilizada pelos 
profissionais de saúde e também por Assistentes Sociais como sinônimo do modelo teórico 
conceitual dos Determinantes Sociais da Saúde (DSS) nos termos disseminados pela 
Organização Mundial da Saúde (OMS), resultando em um distanciamento teórico-conceitual 
que rebate nas mediações teórico-práticas, sem alcançar efetiva compreensão sobre o conceito 
da Determinação Social, formulado pelo MRSB. Tal fato se expressa na produção acadêmica, 
que apresenta poucas iniciativas de aproximação com as tensões ideopolíticas da PDSS, o que 
no atual contexto de contrarreforma tende a refletir no campo da instrumentalidade, que por 
sua vez incide no instrumental técnico-operativo mais utilizado no cotidiano profissional. O 
conjunto da análise, e particularmente as questões formuladas na ficha social que constitui a 
base das entrevistas sociais realizadas por Assistentes Sociais na rede hospitalar da UFRN, 
revela fortes indícios da hegemonia do conceito de DSS em geral restrito a noção de 
intersetorialidade associada como atividade atribuída ao SSO nos marcos do modelo 
biomédico hegemônico. Do ponto de vista teórico identificamos a existência de vínculos 
orgânicos entre PDSS e o PEP, explicitado na centralidade da questão social para o exercício e 
formação profissional, presentes no Código de Ética Profissional, nos Parâmetros para atuação 
na Saúde, nos eixos norteadores da formação presentes nas Diretrizes curriculares de 1996. 
Apesar dessa estreita afinidade teórica, não tem se traduzido em real incorporação da profissão 
à PDSS, portanto, não utilizando o seu potencial técnico-político e legado teórico-crítico para 
dar visibilidade as ações que já desenvolve nesta direção, o que possibilitaria reconhecer a 
importância dos DSS, mas também formular críticas aos seus limites. Neste sentido, a 
pesquisa apontou a necessidade de ampliação de investimentos neste debate no campo da 
formação, para que o SSO possa dar sua contribuição ao enfrentamento dos desafios enquanto 
profissão que se inere no campo da Saúde Coletiva com condições teórico-metodológica de 
realizar leitura crítica acerca das reais necessidades sociais e de saúde da população usuária na 
perspectiva da emancipação humana, afirmando o PRSB e o projeto societário contra 
hegemônico com vistas à construção de uma democracia de massas. 
 
PALAVRAS-CHAVE: Serviço Social, Determinação Social da Saúde, Determinantes 
Sociais, Contrarreforma, Racionalidade Instrumental. 
 
 
 
 
 
 
ABSTRACT 
 
This research seeks to reflect the incorporation of the Perspective of Social Determination of 
Health (PDSS) by the Social Work (SSO), problematizing its appropriation in the theoretical-
practical mediations, based on evidence of its incorporation in the social record, considered 
the most used technical-operative instrument in the social worker‘s daily routine. Rescues the 
issues surrounding the process of distancing or appropriation of the PDSS in the theoretical 
debate of the SSO and reflects on the ideopolitical perspective of health policy in Brazil, 
which hegemonizes and guides the content of the social file used in the UFRN hospital 
network, seeking to analyze the capacity of this instrument to apprehend the real living 
conditions of the SUS user population. It is a qualitative research combining bibliographical 
and documentary research. We start from the premise that the PDSS expresses the struggle for 
health as a right in the context of the class struggle, as a formulation of the Brazilian Health 
Reform Project (PRSB) and is linked to a social transformation project, which has a strong 
affinity with the leadership of the SSO Political Ethical Project (PEP). The bibliographic 
research revealed that the notion of Social Determination has been used by health 
professionals and also by social workers as a synonym of the conceptual model of Social 
Determinants of Health (SDH) as disseminated by the World Health Organization (WHO), 
resulting in a theoretical-conceptual distancing that rebounds in the theoretical-practical 
mediations, without achieving effective understanding of the concept of Social Determination 
formulated by the MRSB. This fact is expressed in the academic production, which presents 
few initiatives of approximation with the ideopolitical tensions of the PDSS, which in the 
current context of counter-reform tends to reflect in the field of instrumentality, which in turn 
focuses on the most used technical-operative instrumental in daily life professional. The set of 
analysis, and particularly the questions formulated in the social file that forms the basis of the 
social interviews conducted by the social workers in theUFRN hospital network, reveals 
strong indications of the hegemony of the concept of SDH in general restricted to the notion of 
associated intersectorality as an attributed activity SSO within the framework of the 
hegemonic biomedical model. From the theoretical point of view we identified the existence 
of organic links between PDSS and PEP, explained in the centrality of the social issue for the 
professional exercise and training, present in the Code of Professional Ethics, in the 
Parameters for acting in Health, in the guiding axes of the present training 1996 Curriculum 
Guidelines. Despite this close theoretical affinity, it has not translated into a real incorporation 
of the profession into the PDSS, therefore not using its technical-political potential and 
theoretical-critical legacy to give visibility to the actions already taken in this direction, which 
would allow recognizing the importance of the SSO but also make criticisms of its limits. In 
this sense, the research pointed to the need to expand investments in this debate in the field of 
training, so that the OHS can make its contribution to facing the challenges as a profession 
that enters the field of Collective Health with theoretical and methodological conditions to 
perform critical reading about the real social and health needs of the user population from the 
perspective of human emancipation, affirming the PRSB and the societal project against 
hegemony with a view to building a mass democracy. 
 
KEYWORDS: Social Work, Social Determination of Health, Social Determinants, Counter-
Reform, Instrumental Rationality. 
 
 
 
 
 
 
LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS 
 
 
ABRASCO - ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE SAÚDE COLETIVA 
ALAMES - ASSOCIAÇÃO LATINO-AMERICANA DE MEDICINA SOCIAL 
BM- BANCO MUNDIAL 
CAPES - COORDENAÇÃO DE APERFEIÇOAMENTO DO PESSOAL DE NÍVEL 
SUPERIOR 
CCJ – COMISSÃO DE CONSTITUIÇÃO E JUSTIÇA 
CEBES - CENTRO BRASILEIRO DE ESTUDOS DE SAÚDE 
CDSS - COMISSÃO SOBRE DETERMINANTES SOCIAIS DA SAÚDE 
CFESS - CONSELHO FEDERAL DE SERVIÇO SOCIAL 
CNDSS - COMISSÃO NACIONAL SOBRE DETERMINANTES SOCIAIS DA SAÚDE 
CNS - CONFERÊNCIA NACIONAL DE SAÚDE 
CUS - COBERTURA UNIVERSAL DE SAÚDE 
DSS - DETERMINANTES SOCIAIS DA SAÚDE 
EBSERH - EMPRESA BRASILEIRA DE SERVIÇOS HOSPITALARES 
EC - EMENDA CONSTITUCIONAL 
FNCPS - FRENTE NACIONAL CONTRA A PRIVATIZAÇÃO DA SAÚDE 
FRSB - FÓRUM DA REFORMA SANITÁRIA BRASILEIRA 
FMI- FUNDO MONETÁRIO INTERNACIONAL 
HUAB - HOSPITAL UNIVERSITÁRIO ANA BEZERRA 
HUOL - HOSPITAL UNIVERSITÁRIO ONOFRE LOPES 
IBGE- INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA 
IFMSA - FEDERAÇÃO INTERNACIONAL DAS ASSOCIAÇÕES DE ESTUDANTES DE 
MEDICINA 
MEJC - MATERNIDADE ESCOLA JANUÁRIO CICCO 
MPC- MODO DE PRODUÇÃO CAPITALISTA 
MRSB- MOVIMENTO DA REFORMA SANITÁRIA BRASILEIRA 
MS - MEDICINA SOCIAL 
NASF AB - NÚCLEO DE AMPLIADO DE SAÚDE DA FAMÍLIA E ATENÇÃO BÁSICA 
 
 
 
 
 
NPS - NOVA PROMOÇÃO DA SAÚDE 
OCIPS - ORGANIZAÇÕES SOCIAIS DE INTERESSE PÚBLICO 
OMS - ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE 
OS - ORGANIZAÇÕES SOCIAIS 
PDSS - PERSPECTIVA DA DETERMINAÇÃO SOCIAL DA SAÚDE 
PEC - PROPOSTA DE EMENDA CONSTITUCIONAL 
PEP - PROJETO ÉTICO-POLÍTICO 
PHM - PEOPLE‘S HEALTH MOVEMENT 
PNAD - PESQUISA NACIONAL POR AMOSTRA DE DOMICÍLIOS 
PNPS - POLÍTICA NACIONAL DE PROMOÇÃO DA SAÚDE 
PPP – PARCERIA PÚBLICO-PRIVADO 
PRSB - PROJETO DE REFORMA SANITÁRIA BRASILEIRA 
SC - SAÚDE COLETIVA 
SSO - SERVIÇO SOCIAL 
SUS - SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE 
TCR – TRABALHO DE CONCLUSÃO DE RESIDÊNCIA 
UFRN - UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE 
UTI - UNIDADE DE TERAPIA INTENSIVA 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
LISTA DE FIGURAS 
 
 
Figura 1: Modelo teórico-conceitual de Determinantes Sociais de Dahlgren e Whitehead 
(1991)........................................................................................................................................ 50 
Figura 2: Modelo conceitual proposto pela CDSS .................................................................. 52 
Figura 3: Quadro de referência bibliográfica - produção acadêmica no Serviço Social ......... 84 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
SUMÁRIO 
 
1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................... 14 
2 A DIMENSÃO SOCIAL DO PROCESSO SAÚDE-DOENÇA E SUA 
INCORPORAÇÃO NO MOVIMENTO DA REFORMA SANITÁRIA BRASILEIRA 
(MRSB) .................................................................................................................................... 28 
3 AS AMARRAS DA CONTRARREFORMA DA SAÚDE NO ATUAL CONTEXTO 
DO SUS: reflexões sobre a hegemonia do modelo médico assistencial privatista e a 
negação da Perspectiva da Determinação Social da Saúde (PDSS) ................................... 39 
4. DESAFIOS HISTÓRICOS E POSSIBILIDADES CONTEMPORÂNEAS: refletindo 
as contribuições teórico-práticas do Serviço Social para o MRSB no atual contexto do 
SUS ........................................................................................................................................... 62 
4.1 Reflexões sobre a inserção do SSO nos processos de trabalho em saúde no atual contexto do 
SUS .................................................................................................................................................. 63 
4.2 A teoria que nos orienta: algumas considerações acerca das potencialidades do SSO para 
revigorar a PDSS no atual contexto do SUS ..................................................................................... 71 
4.3 A necessidade social não se esgota na demanda: considerações acerca da incorporação da 
PDSS pelo SSO e sua expressão na racionalidade instrumental ....................................................... 82 
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................................ 107 
REFERÊNCIAS.................................................................................................................... 116 
APÊNDICES ......................................................................................................................... 123 
APÊNDICE A – QUADRO SÍNTESE PARA ANÁLISE DA FICHA SOCIAL: categorização de 
blocos de informações .................................................................................................................... 124 
APÊNDICE B – QUADRO SÍNTESE PARA ANÁLISE DA FICHA SOCIAL: concepção que 
expressa .......................................................................................................................................... 125 
ANEXOS................................................................................................................................ 126 
ANEXO A - ROTEIRO DE ENTREVISTA SOCIAL PEDIATRIA HUOL ................................. 127 
ANEXO B - MODELO DE FICHA SOCIAL HUOL .................................................................... 128 
ANEXO C - MODELO DE FICHA SOCIAL MEJC ( ENFERMARIAS) ................................... 129 
ANEXO D - MODELO DE FICHA SOCIAL HUAB (NEONATAL) .......................................... 130 
ANEXO E - MODELO DE FICHA SOCIAL HUAB (PEDIATRIA) ........................................... 131 
 
14 
 
 
1 INTRODUÇÃO 
 
As atuais investidas do capital sobre o Sistema Único de Saúde (SUS), construção e 
conquista histórica do povo brasileiro em suas lutas sociais, favorecidas pela compatibilidade 
ideológica entre as prescrições do Banco Mundial (BM) e os governos vigentes, aprofundadas 
no país com o advento do golpe de 2016 e radicalizadas no âmbito do projeto político 
conservador e ultraliberal que ascendeu ao poder na última disputa presidencial, vem 
favorecendo a subordinação das necessidades do trabalho às necessidades do capital 
financeiro, visando à regressão do direito à saúde nãomercantilizada, integral e universal. 
Neste entorno, toma vulto discursos aparentemente progressistas utilizados em nome 
da defesa de um sistema eficiente e eficaz que funcione nos moldes do setor privado, 
prometendo melhorar o acesso, quando na verdade não correspondem as reais necessidades 
sociais da população e sim atende aos interesses do capital em serviços de saúde ávidos pelo 
fundo público para atravessar a onda longa de crise de acumulação que tem marcado o Modo 
de Produção Capitalista (MPC) nas últimas décadas. 
Como resultados desses processos, vivenciamos a implementação de uma agenda 
reformadora, que nega o direito humano fundamental à saúde e atinge frontalmente os 
princípios da integralidade e universalidade que o situa enquanto direito social nos marcos das 
conquistas democráticas do povo brasileiro, refletindo embates ideopolíticos na conformação 
dos modelos de atenção à saúde, na configuração das demandas, na secundarização das 
necessidades sociais dos usuários que vivenciam os rebatimentos do agravamento das diversas 
expressões da questão social, objetivados nas formas de intervenção do Estado frente à 
necessidade de garantia dos direitos da população usuária e, consequentemente no trabalho 
do/a Assistente Social. 
Ao considerarmos que as lutas sociais em torno da concepção de saúde e das propostas 
de práticas para dar conta do paradigma sanitário refletem os projetos societários em disputa, 
que intensificam sua diretiva de classe face à crise do capital, nossa análise se filia a 
concepção do processo saúde-doença que busca construir uma contra-hegemonia, na 
perspectiva gramsciana, que pauta um projeto emancipador para a humanidade e evidência a 
necessidade de enfrentamento dos desafios postos por uma realidade permeada de 
contradições e interesses destrutivos do capital, as quais determinam socialmente a situação 
de saúde da coletividade em uma dada sociedade. 
15 
 
 
Nesta pesquisa, recorremos às teses clássicas do Movimento da Reforma Sanitária 
Brasileira (MRSB)
1
, historicamente reconhecido como movimento contra hegemônico na área 
da saúde, para problematizar no âmbito do Serviço Social (SSO) a perspectiva em que se 
fundamentam os projetos sanitários e societários que disputam e que presidem a lógica da 
política de saúde e dos processos de trabalho na área, de modo a contextualizar em que 
medida respondem as reais necessidades sociais da população
2
 em contraposição às 
requisições impostas pelo capital, frente ao avanço do projeto ultraliberal de regressão dos 
direito sociais e trabalhistas em curso. Desta forma, elegemos como objeto problematizar a 
capacidade do instrumental utilizado pela equipe de Serviço Social, particularmente a ficha 
social, para apreender às reais necessidade sociais e de saúde da população usuária do SUS, 
alinhada ao objetivo de identificar, ou não, indícios da incorporação Perspectiva da 
Determinação Social da Saúde (PDSS) pelo SSO, e/ou que perspectivas influenciam 
majoritariamente a elaboração das questões constantes nas fichas sociais utilizadas como guia 
para a realização da entrevista social no cotidiano dos hospitais universitários da UFRN, 
atualmente sob gestão da EBSERH.. 
A incorporação deste conceito está vinculada a direção ideopolítica que, herdeira da 
Medicina Social (MS) Latino Americana e da Saúde Coletiva (SC) balizou a concepção de 
saúde que circundou o MRSB, cuja expressão no relatório da 8ª Conferência Nacional de 
Saúde (CNS) em 1986 concebe a saúde como direito e conquista social, que se materializa 
pela responsabilidade Estatal em garantir condições de vida e de trabalho com liberdade e 
participação política para atendimento às necessidades sociais, cujos obstáculos a sua 
efetivação são de natureza estrutural, ancorado na estrutura historicamente desigual na qual se 
funda a sociedade brasileira, marcado por um modelo econômico concentrador de renda, 
riquezas e poder que tem aprofundado as desigualdades sociais. 
 
1
 Busca no marxismo, e de modo fundamental em Gramsci, a perspectiva ideopolítica como chave para a 
construção da possibilidade revolucionária, pensando a direção intelectual e moral na agregação de um novo 
bloco histórico, que implica a conquista progressiva de posições para alterar a correlação de forças e ascender ao 
Estado (DÂMASO, 2011). Assim, mobiliza um projeto que insere o debate da construção conceitual em torno do 
processo saúde-doença em sua dimensão política para a análise das práticas em saúde, abarca um sentido 
revolucionário que aproxima a democratização da saúde dos anseios socialistas, ao problematizar o Estado 
capitalista, a democracia formal burguesa, e seus limites para a satisfação das necessidades sociais. 
2
 Em uma perspectiva histórico-ontológica, as reais necessidades sociais são as necessidades do ser humano 
enquanto gênero, sejam elas sociais, políticas, espirituais, materiais. Expressam a necessidade de superação da 
alienação das necessidades transfiguradas no contexto do capitalismo contemporâneo em demandas 
mercantilizadas, que recriam as próprias necessidades do capital. A satisfação das reais necessidades sociais está, 
portanto, atrelada, a exigência da práxis política para construção de um novo modo de vida, baseado na riqueza 
das necessidades qualitativas, onde os pressupostos econômicos são subordinados ao sistema de necessidades 
humanas. São, portanto, efetivação da riqueza humana, como produto histórico e social da objetivação do 
trabalho; é a elevação do indivíduo em gênero humano, constituído pelos conceitos de universalidade, 
consciência, objetivação e liberdade. (HELLER, 1978). 
16 
 
 
A PDSS consiste em compreender e considerar que as necessidades em saúde se 
vinculam a satisfação das necessidades sociais mais amplas da população
3
, onde a dimensão 
histórico-social implica na construção de necessidades coletivas, dadas pelo desenvolvimento 
das forças produtivas, que estruturam padrões de reprodução social, determinando a inserção 
social dos sujeitos nesta sociabilidade, suas formas de viver e adoecer. 
Trata-se de uma compreensão de saúde contra hegemônica que enfatiza a sua 
dimensão política, destacando que a saúde é historicamente determinada, e que só pode ser 
pensada a partir de uma dimensão estrutural para elucidar as condições necessárias ao 
processo de sua democratização, estando portando, situada no contexto de luta de classes. 
Ao pautar a defesa da democracia fundada no direito coletivo, enquanto conquista das 
lutas sociais, o projeto de cidadania proposto se respalda na defesa de uma democracia de 
massas
4
, que difere do projeto social-democrata
5
, por entender que tais conquistas não são o 
objetivo final do movimento, mas apenas constitui estratégia para direcionar a luta, no sentido 
de confrontar-se com os interesses fundamentais do capital, sobretudo a lógica do lucro, da 
mercantilização da saúde expressa na privatização. 
Nessa direção, Correia e Medeiros (2014) afirmam que os pressupostos ideopolíticos 
do Projeto de Reforma Sanitária Brasileira (PRSB)
6
 propiciaram uma leitura de totalidade 
para contestação da medicina hegemônica e construção de uma luta pela saúde que concebe a 
necessidade de problematizar as condições sócio históricas desiguais, através do resgate da 
MS para compreensão do processo saúde- doença enquanto determinação estrutural. 
Nesta perspectiva, o MRSB se evidencia como marco histórico da luta contra 
hegemônica no campo da saúde, e inserida no contexto da luta de classes, busca pautar as 
 
3
 Ainda na perspectiva desenvolvida por Agner Heller a partir de seus estudos da obra de Marx, corroboramos 
com o conceito de necessidades humanas abordado por Pereira (2006) e buscamos compreender o atendimento 
ás necessidades sociais em contraposição a noção de mínimosimposta pela ideologia neoliberal, possibilitando 
aos sujeitos o acesso à riqueza socialmente construída por meio de políticas públicas enquanto direitos de 
cidadania, que se constituem enquanto conquista democrática de sujeitos coletivos, por meio da 
problematização de necessidades em condições sociais e políticas determinadas, sendo ainda necessária a sua 
avaliação nos marcos deste padrão de acumulação, em uma perspectiva teórico-crítica, para identificar e 
problematizar as limitações impostas à satisfação das necessidades sociais sob a égide do capital na perspectiva 
de sua superação. 
4
 Os distintos projetos societários em disputa são expressão do projeto de Democracia de Massas, que preconiza 
a participação social, numa articulação entre democracia representativa e direta, no qual o Estado se constitui 
enquanto democrático de direito, responsável por respostas às expressões da questão social, enquanto o projeto 
de Democracia Restrita se articula a concepção de Estado Mínimo, com direitos restritos para a classe 
trabalhadora e enfraquecimento de suas lutas coletivas (NETTO 1990 apud CFESS, 2010). 
5
 Na análise de Gallo; Nascimento (2011), embora a social-democracia paute o enfrentamento ao projeto 
neoliberal, sua perspectiva teórica não almeja uma transformação social, não extrapolando, portanto, os limites 
da sociedade capitalista. 
6
 Fazemos referência ao PRSB quando destacamos as teses que fundamentaram a direção social do MRSB, 
enquantoe o movimento incorpora às lutas sociais e as conquistas. 
17 
 
 
necessidades de saúde da população, num percurso que requer a politização da saúde e a 
tomada de consciência das massas em torno de um projeto de transformação social. 
Entretanto, Bravo (2011) aponta que desde o processo de institucionalização do SUS, 
deslocamentos ideopolíticos tem favorecido a mudança no discurso dos protagonistas do 
MRSB construída nos anos 1980, com flexibilização de propostas voltadas para possibilidade 
de ação, resultando no abandono da grande bandeira do movimento sanitário, o horizonte de 
transição para o socialismo, que requer problematizar o conceito de Determinação Social. 
Tais deslocamentos tem favorecido a tendência de minimizar o enfrentamento PDSS 
aos Determinantes Sociais de Saúde (DSS), com proposições teóricas que ganharam fôlego no 
Brasil em 2006 com a criação da Comissão Nacional Sobre Determinantes Sociais de Saúde 
(CNDSS), cujo relatório publicado em 2008
7
, apresentou como objetivo divulgar 
conhecimentos, propor políticas e intervenções sobre os DSS. 
A despeito da relevância do debate em evidenciar a dimensão social em uma realidade 
sanitária sob hegemonia de políticas neoliberais, a coincidência entre os termos, com larga 
incorporação dos DSS enquanto sinônimo de enfrentamento da determinação social da saúde, 
e sua ampla penetração na comunidade acadêmica desde 2006 sob grande estímulo da OMS, 
nos alerta à necessária problematização de que o investimento nesta discussão não se deu sem 
interesses ideológicos, dado o próprio deslocamento ideopolítico da OMS, que sob forte 
influência do poder político e econômico do BM, que nas últimas décadas se vinculou ao 
projeto de contrarreforma na saúde, vem deixando seu legado de contrarreformas no SUS, por 
meio das diversas recomendações adotadas enquanto estratégias jurídico-normativas pelos 
sucessivos governos, aprofundadas no governo ilegítimo de Temer, cuja orientação ultra 
liberal para reformas na saúde se faz presente também nos mais recentes ataques do atual 
governo federal à política de saúde.
8
 
Precursor da PDSS no âmbito da MS, Breilh (2011), fundamentado na razão dialética, 
expressa preocupação com a adoção da postura aparentemente progressista conduzida 
mundialmente sob o paradigma dos DSS, posto que se embasam na epidemiologia tradicional, 
onde a dimensão social aparece meramente como fatores, sem tencionar para a reversão do 
modelo biomédico, com propostas de intervenção que não se propõem a enfrentar o cerne da 
 
7
 Relatório intitulado ―As Causas Sociais das Iniquidades em Saúde no Brasil‖ publicado em abril de 2008 pela 
CNDSS. Disponível na integra em: < http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/causas_sociais_iniquidades.pdf 
>. 
8
 Em 04/04/2019 o BM, em audiência pública, apresentou relatório na Câmara dos Deputados onde expressa 
justificativas e indicativos para mais uma Contrarreforma do sistema de saúde brasileiro, notadamente em favor 
de interesses do mercado. 
http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/causas_sociais_iniquidades.pdf
18 
 
 
questão: a sociabilidade do capital. 
Disto implica a necessidade de evidenciar o distanciamento entre o modelo teórico 
conceitual dos DSS defendida pela CNDSS, dos fundamentos teóricos que referenciam a 
concepção presente no MRSB da década de 1980, embasada na teoria social crítica presente 
na epidemiologia social latino americana, posto que suas referências ideopolíticas evidenciam 
vínculos com diferentes projetos societários e sanitários. 
Conforme nos alerta Breilh (2011), a distorção do conceito original expressa a 
preocupação de se atualizar a hegemonia do pensamento dominante sob novos nomes, num 
processo de adaptação a crise, avanço do tratamento superficial do processo saúde doença, 
que segue tratando os efeitos, enquanto a visão crítica é isolada das análises. 
Portanto, trata-se de um debate que prescinde de clareza teórica quanto aos seus 
fundamentos, especificamente quando refletimos acerca das implicações dessa apropriação 
para uma categoria profissional ainda de forte cunho interventivo, que atua diretamente nos 
rebatimentos das expressões da questão social sobre a vida dos sujeitos, e busca defender a 
hegemonia de um projeto profissional que se vincula a um projeto societário emancipador, em 
um contexto de avanço do pensamento conservador sobre as diversas esferas da vida social, 
inclusive nas políticas de saúde e seus modelos de atenção. 
No âmbito do SSO, a intrínseca articulação entre Projeto ético político (PEP) e as teses 
clássicas que fundamentaram o MRSB, balizados por um projeto societário emancipatório, 
constitui a base para adovogarmos a necessidade de aprofundar os debates acerca da 
incorporação da PDSS pelo SSO, considerando que o PEP coloca à profissão possibilidades 
de construção de um novo perfil profissional frente às exigências de enfrentamento da questão 
social, o que requer competência técnica, ética e política para reafirmar a necessidade social 
da profissão e sua identidade, posta em cheque pelas armadilhas da cotidianidade, face às 
condições objetivas da realidade, em um contexto de precarização do trabalho e regressão de 
direitos sociais (CFESS, 2012). 
Muito embora os conceitos sejam utilizados de forma recorrentes em publicações que 
discutem o trabalho do/a Assistente Social na Saúde, o pouco investimento em investigações 
no âmbito do SSO que problematizem seus fundamentos ideopolíticos, e sua relação com a 
direção social do projeto profissional, expressam a urgência de aprofundamento desta 
discussão, posto que se reveste em problemáticas de cunho teórico-prático para o exercício 
profissional, notadamente neste cenário de avanço da contrarreforma da saúde, com 
adensamento da ortodoxia neoliberal, carregando ameaças sem precedentes a nossa frágil 
19 
 
 
democracia participativa, e desqualificação de projetos emancipatórios, a exemplo do PRSB e 
do PEP. 
No campo da SC, pioneiro no debate da PDSS no Brasil, existem publicações em larga 
escala que denunciam a falta de investimento teórico deste debate na área, bem como um 
perceptível avanço da adoção do modelo teórico-conceitual dos Determinantes sob hegemonia 
das formulações apresentadas pela OMS na disseminação de suas teses, o qual, segundo 
Breilh (2008) diverge da MS em seu marco teórico para análise das iniquidades, e 
consequentemente,nas propostas políticas para enfrentar tal questão, recaindo no perigo de se 
confundir efeitos com causa, posto que ao privilegiar as possibilidades de ação no âmbito 
desta sociabilidade, não consegue apontar a saúde como processo social, o que requer 
estratégia política para construção de uma contra hegemonia que enfrente as opressões 
oriundas do capitalismo em busca de sua reprodução ampliada. 
Para Breilh (2006), muitos dos posicionamentos equivocados no âmbito da SC não se 
tratam de um retrocesso consciente, mas de um cerco de hegemonia montado pelo BM e suas 
instituições, que ao se apoiar em matrizes teóricas neoconservadoras, ampliam análises 
funcionalistas que relegam ao esquecimento as raízes estruturais dos problemas sociais, 
implicando no avanço de propostas liberais quanto à satisfação das necessidades sociais, 
situando-as no plano individual, o que é problemático para os rumos do MRSB, onde as 
limitações ao seu avanço se situam na armadilha do abandono do pensamento revolucionário. 
O cenário estarrecedor de avanço do projeto de mercantilização da saúde tem 
requisitado perspectivas teóricas que fundamentem propostas onde a organização social 
assentada na exploração do trabalho não seja questionada. Esse processo que transfigura o 
direito integral em mercadoria submetida às leis do mercado também tem logrado êxitos com 
as divergências de perspectivas no âmbito daqueles que se dizem defensores da reforma 
sanitária, posto que os significativos deslocamentos de uma perspectiva socialista para a 
social-democracia implicam no abandono do elemento basilar do PRSB: a perspectiva de 
transformação social. 
Avaliamos que a necessidade de investimentos neste debate é urgente para a defesa da 
saúde enquanto produção social, pois a realidade requisita capacidade crítica para construção 
da resistência, embasada em propostas que tenham como perspectiva a radicalização da 
democracia. Assim, a apropriação ideopolítica da PDSS pelo SSO apresenta como 
contribuição o potencial de articular o legado político e intelectual da profissão ancorado no 
marxismo, à construção de um grande campo de possibilidades de pesquisa e intervenção, 
20 
 
 
capazes de tensionar o modelo biomédico hegemônico, e contribuir para o revigoramento da 
centralidade deste debate na Saúde Coletiva. 
Neste cenário, desenvolver uma pesquisa que possibilite pautar a contribuição do SSO 
na alteração de valores e práticas hegemônicas na área da saúde, exige o reconhecimento de 
que na dinâmica da luta de classes, lidamos com demandas e interesses contraditórios, e, tal 
qual pressupõe Guerra (2017), nossa ação recai em um campo político, que tenhamos clareza 
ou não, nossa direção teórico-metodológica e ético-política irá implicar na consecução de 
respostas profissionais vinculadas a determinado projeto de sociedade, donde a apropriação 
dos princípios e valores do projeto societário que hegemonicamente orienta nosso projeto 
profissional potencializa a construção de mediações para uma práxis emancipatória. 
Assim, no presente estudo, fomos instigadas pela constatação de que a maior parte da 
equipe de Serviço Social do Hospital Universitário Onofre Lopes (HUOL) reconhece a 
Determinação Social como fundamental para seu exercício profissional alinhado ao PEP, 
expressando esse desejo, mas também o tratamento como sinônimo de Determianntes, 
conforme dados coletados nas entrevistas concedidas em nossa primeira pesquisa sobre essa 
temática, realizada no contexto de formação da Residência Multiprofissional em Saúde, no 
referido hospital, desencadeada a partir dos questionamentos à hegemonia do modelo 
biomédico, das demandas a ele inerentes, e das requisições impostas ao trabalho do/a 
Assistente Social, direcionando o conjunto de práticas em saúde para uma lógica de 
fragmentação da questão social e individualização das necessidades sociais. 
Tais inquietações nos fez refletir sobre a possibilidade de construção de práticas que 
tensionem esta lógica e apontem a saúde enquanto produção social, o que nos aproximou dos 
debates da MS e da SC, e nos motivou a refletir sobre as contribuições que tal concepção 
pode viabilizar nas práticas em saúde, vislumbrando também as contribuições que o SSO 
pode fomentar, enquanto parte do trabalho coletivo em saúde
9
, com sua perspectiva de análise 
crítica de totalidade, embasada no acúmulo teórico vinculado a tradição marxista, e que toma 
como objeto de trabalho a questão social. 
 
9
 O trabalho coletivo em saúde é explicitado por Costa (2009) como processo de cooperação, formado a partir 
das operações coletivas de trabalho, que irão determinar a organização e funcionamento dos serviços de saúde 
pública, compreendendo ―atividades especializadas, saberes e habilidades que mobilizam, articulam e põem em 
movimento, unidades de serviços tecnologias, equipamentos e procedimentos operacionais‖ (p. 307). A autora 
aponta a singularidade do processo de cooperação do trabalho em saúde, que pode se caracterizar como vertical 
(evidenciando uma hierarquia entre os trabalhadores), e horizontal (há uma integração entre as especialidades, 
saberes e habilidades na articulação e mobilização dos elementos que compõem o cuidado em saúde). Destaca, 
ainda, que cada nível de cooperação irá expressar relação com os serviços, os usuários, o Estado e a indústria que 
permeia o campo da saúde. 
21 
 
 
Considere-se que a referida pesquisa foi realizada com o objetivo de problematizar o 
trabalho do SSO no contexto da Unidade de Terapia Intensiva (UTI)
10
, e possibilitou não 
somente a apreensão crítica para a análise das polissemias que perpassam o debate da PDSS, 
como também expressou, entre outros resultados, a imprescindível necessidade de articulação 
entre teoria social crítica, PRSB e PEP do SSO nas mediações cotidianas para consecução dos 
objetivos profissionais, quando calcados em uma direção ontológica, colocando em evidência 
a urgência do aprofundamento deste debate articulado ao trabalho do/a Assistente Social em 
outros espaços no âmbito da política de saúde. 
O estudo realizado, que teve como objeto analisar o tratamento dado à PDSS no 
cotidiano de trabalho do/a Assistente Social na UTI do HUOL, partiu da premissa de que 
havia uma frágil incorporação da PDSS, na medida em que esta era compreendida como 
sinônimo de DSS. Na ocasião, os resultados obtidos, através de análise documental, 
bibliográfica e realização de entrevistas do tipo semi-estruturadas apontaram algumas 
inferências para problematizar o trabalho do/da Assistente Social, razão pela qual embora se 
trate de resultados acerca do trabalho em uma unidade no âmbito de um hospital geral, 
possuem elementos de fundo que perpassam a heterogeneidade das demandas cotidianas nos 
diversos espaços de atuação profissional, razão pela qual serão retomados em nossas análises 
no capítulo 4 deste trabalho. 
A partir dos dados apresentados acima, a pesquisa revelou que não havia na categoria 
profissional, considerando a amostra não probabilística utilizada, uma apropriação do 
conceito ideopolítico da Determinação Social, tal qual expresso nas teses que fundamentaram 
o MRSB da década de 1980, a partir das contribuições teórico-críticas produzidas pela SC e 
MS, e neste sentido, não se expressava enquanto referencial para as mediações teórico-
práticas desenvolvidas pelo SSO. Assim, embora o conceito Determinação aparecesse nas 
falas dos sujeitos, estava articulado as ações sobre os Determinantes. 
Por se tratar de uma pesquisa cujo lócus de análise se limitou a uma unidade no âmbito 
do HUOL, notadamente aquele mais exposto e propício a reafirmação de um modelo de saúde 
anátomo-patológico, procedimento centrado, curativo individual, médico-hegemônico, restrito 
à doença – a UTI, sentimos a necessidade de problematizar tais resultados em outros espaços 
de atuação, abrangendoa análise da incorporação na construção das mediações profissionais, 
transitando na incorporação do debate teórico à prática. 
 
10
 A pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa do Hospital Universitário Onofre Lopes (HUOL) 
sob número de CAAE 55861816.0.0000.5292 e parecer 1.556.909 em 23 de maio de 2016, com dados coletados 
entre os anos de 2016 e 2017. Parte desses dados foram resgatados e problematizados no capítulo 4. 
22 
 
 
Em nossa análise, consideramos que a prática é determinante para a legitimação e 
hegemonia da direção social da profissão, assim como o debate teórico crítico é mediação 
para tal, propiciando a nossa ação captar as possibilidades de intervenção contidas na 
realidade 
Desta forma, o objetivo central deste estudo é identificar indícios da incorporação da 
PDSS pelo SSO, elegendo como lócus de análise a rede de hospitais da Universidade Federal 
do Rio Grande do Norte (UFRN)
11
, considerando como objetivos específicos: 
►Problematizar a apropriação da PDSS no debate teórico do SSO; 
►Refletir acerca da perspectiva ideopolítica de saúde que hegemoniza e norteia o 
conteúdo da Ficha Social utilizada na rede de hospitais da UFRN; 
►Problematizar a capacidade da Ficha Social de apreender as reais condições de 
vida da população usuária do SUS. 
 
Partimos do pressuposto de que a ausência de incorporação das teses clássicas da 
Reforma Sanitária pelo SSO tem favorecido a apropriação de tais conceitos enquanto 
sinônimos, resultando em um distanciamento teórico-conceitual que rebate nas mediações 
teórico-práticas da categoria, que não abarcam o nível da PDSS, e limitam as respostas 
profissionais às requisições institucionais impostas pelo modelo de saúde hegemônico. 
A escolha do local de pesquisa se deu em função dos hospitais universitários, a rigor, 
apresentarem possibilidades de um maior envolvimento dos profissionais com as discussões 
acadêmicas, por constituir-se em lócus de ensino, pesquisa e extensão, particularmente para a 
realização de estágio curricular obrigatório e residência médica e multiprofissional. 
Acrescente-se a nossa concreta aproximação com esse lócus, em função da experiência 
profissional e acadêmica em uma das unidades hospitalares durante a realização da residência 
multiprofissional, cuja experiência resultou em um Trabalho de Conclusão de Residência 
(TCR) que expressa nossas primeiras aproximações com o objeto em debate, fomentando a 
análise acerca da apreensão dos profissionais sobre o tema. 
Desencadeamos um caminho metodológico que, ancorado no método histórico 
dialético para apreensão do objeto, a priori tinha a pretensão de realizar grupos focais 
associadas à análise documental no contexto institucional. Entretanto, as diversas dimensões 
da vida, sobretudo de sobrevivência, em face da nossa aprovação, convocação e nomeação em 
dois concursos públicos, consumiu parte significativa do tempo, incidindo decisivamente em 
 
11
 Hospital Universitário Onofre Lopes (HUOL), Maternidade Escola Januário Cicco (MEJC), e Hospital 
Universitário Ana Bezerra (HUAB). 
23 
 
 
nossas condições objetivas para a realização de uma pesquisa de campo, que poderia resultar 
em dados mais aprofundados para os objetivos desta investigação, que se somando aos prazos 
requeridos pelo Comitê de Ética, nos levaram a readequar os procedimentos metodológicos e 
nos restringir a pesquisa documental, utilizando informações disponíveis de livre acesso a 
qualquer profissional e/ou cidadão. Porém, a clareza da relevância do nosso objeto para o 
SSO fez com que não abríssemos mão dos nossos objetivos. Assim, buscamos construir 
estratégias que abarcassem nossa análise. 
Na perspectiva das formulações de Richardson (2008) a pesquisa social de cunho 
qualitativo, em seu status epistemológico, pautada no método crítico dialético, carrega em si 
potencialidades para a atividade emancipatória, posto que permite elucidar a construção social 
historicamente determinada dos fenômenos, para um agir consciente voltado a satisfação das 
nossas necessidades. Este processo, no plano da produção do conhecimento acerca da 
realidade, implica um movimento de sucessivas aproximações, para abstração do mundo 
material ao mundo teórico, para que possamos, a partir do conhecimento construído, e em 
permanente construção (dado o seu caráter histórico), fundamentar nossas práticas. 
Desta forma, a metodologia foi redefinida para um estudo analítico do tipo qualitativo, 
onde os dados e informações acerca do objeto foram coletados utilizando como técnicas a 
pesquisa bibliográfica e documental, buscando responder os seguintes questionamentos: 
1- Considerando que a dimensão ideopolítica que fundamentou o PRSB dos anos 1980, 
também fundamentou a construção do PEP hegemônico da profissão, de que forma o 
SSO vem se apropriando da PDSS? 
2- Esta apropriação é teórico-conceitual, ou se expressa nas mediações teórico-práticas? 
3- Quais as implicações e potencialidades desta apropriação para a profissão? 
 
O levantamento bibliográfico se deu a partir do banco de teses dissertações da CAPES, 
e levantou publicações entre os anos de 2005 a julho/2019, sem prejuízo de incorporação de 
trabalhos identificados em outros meios, sistematizados em um quadro que expressa as 
produções identificadas. Para análise documental, elegemos a ficha social que estava sendo 
adotada nas instituições pesquisadas no ano vigente da análise (2019), considerando que ele 
se constitui o instrumento de maior centralidade no trabalho do/a Assistente Social nas três 
instituições analisadas, e se encontram disponíveis em branco em diversos relatórios de 
estágio e monografias. 
24 
 
 
Ancorados em uma perspectiva marxista de trabalho enquanto ontologia do ser social, 
que implica na compreensão da potencialidade do homem em criar e recriar seus próprios 
instrumentos de trabalho, consideramos o instrumental do SSO, nos termos de Sarmento 
(2017), enquanto objetivos e concretos, conscientemente elaborados, permeados pela 
sociabilidade e subjetividade, componente da atividade humana e social, que, portanto, 
apresentam potencialidades e intencionalidades teórico-políticas do profissional para colocar 
em movimento propostas de ação. 
Desta forma, buscamos realizar uma análise de conteúdo, considerando as exigências e 
cuidados na utilização do método histórico-dialético elencados por Richardson (2008), ao 
enfatizar que o estudo do objeto em seus aspectos e conexões, em uma análise do particular ao 
universal, buscando compreender a unidade, revelando as tendências do desenvolvimento das 
forças que o determinam, elencando uma análise historicamente fundamentada. 
Os dados analisados foram organizados em 3 capítulos. No Capítulo 2 tecemos 
considerações gerais sobre ―A DIMENSÃO SOCIAL DO PROCESSO SAÚDE-DOENÇA E 
SUA INCORPORAÇÃO NO MOVIMENTO DA REFORMA SANITÁRIA BRASILEIRA 
(MRSB)‖, tendo como referência as principais conclusões produzidas por Vasconcelos 
(2013a), Moreira (2013), Rocha; David (2015) e Garbois; Sodré; Araujo (2017) buscando 
elucidar o processo de construção dos modelos de atenção à saúde face a sua relação com o 
processo de desenvolvimento das forças produtivas, expressando o debate da estruturação dos 
modelos de atenção atrelados aos avanços e recuos do processo de resistência política da luta 
de classes, donde se estruturam modelos hegemônicos e alternativos, cuja racionalidade se 
articula aos projetos societários. Assim, situamos neste capítulo o surgimento e 
revigoramento da PDSS, em torno da epidemiologia social latino- americana em oposição à 
epidemiologia de cunho funcionalista, e suas contribuições para o MRSB, atrelado aos 
debates desencadeados pela SC, que, ancorado no materialismo histórico dialético para a 
compreensão do caráter histórico e socialdo processo saúde-doença, amplia os objetivos das 
práticas sanitárias para a dimensão coletiva, enquanto parte da processualidade histórica, 
articulando as necessidades em saúde à satisfação das necessidades humanas, em função do 
qual situa o PRSB no campo da contra hegemonia, fundamentado na razão ontológica. 
As análises seguem no capítulo 3, no qual discutimos ―AS AMARRAS DA 
CONTRARREFORMA DA SAÚDE NO ATUAL CONTEXTO DO SUS: reflexões sobre a 
hegemonia do modelo médico assistencial privatista e a negação da Perspectiva da 
Determinação Social da Saúde (PDSS)‖, fundamentalmente apresentamos reflexões sobre o 
25 
 
 
processo de contrarreforma, seus nexos político e ideológico com os deslocamentos e a 
agenda reformadora da OMS, o avanço da ideologia privatista sobre o SUS, a negação do 
caráter ontológico das necessidades em saúde, o estabelecimento de um padrão focalizado de 
enfrentamento às expressões da questão social, o processo de adesão do Estado brasileiro a 
esta racionalidade, seu rebatimento sobre a articulação política do movimento sanitário e a 
relevância que o modelo teórico conceitual dos DSS toma neste contexto do debate sanitário, 
apontando seu distanciamento da direção social que pautou o PRSB. Neste Caminho de 
análise, o capítulo busca evidenciar a necessidade de clareza quanto aos conteúdos 
ideopolíticos contidos no debate para o enfrentamento do contexto de retrocesso generalizado 
que advoga pela ampliação da lógica privatista, e das práticas sanitárias adequadas às suas 
necessidades. 
A partir de tais fundamentos, no último e 4ª capítulo deste trabalho, intitulado: 
―DESAFIOS HISTÓRICOS E POSSIBILIDADES CONTEMPORÂNEAS: refletindo as 
contribuições teórico-práticas do Serviço Social para o MRSB no atual contexto do SUS‖ 
buscamos analisar as particularidades da inserção dos assistentes sociais na equipe de saúde e 
no processo de trabalho em saúde, buscando estabelecer relações entre o debate protagonizado 
no âmbito do PEP e da PDSS, contemplando-as nos itens 4.1 ―Reflexões sobre a inserção do 
SSO nos processos de trabalho em saúde no atual contexto do SUS‖ e 4.2 ―A teoria que nos 
orienta: algumas considerações acerca das potencialidades do SSO para revigorar a PDSS no 
atual contexto do SUS‖ e por fim no item 4.3 ―A necessidade social não se esgota na 
demanda: considerações acerca da incorporação da PDSS pelo SSO e sua expressão na 
racionalidade instrumental‖, que constitui a exposição e análise dos dados da pesquisa 
documental. 
Ao longo da análise, buscamos identificar a relação do SSO com as tensões 
ideopolíticas que tem incidido nas perspectivas de análise e disputas de projetos societários e 
sanitários no atual contexto do SUS, considerando a condição ainda majoritariamente 
interventiva da prática profissional dos integrantes das equipes de saúde, inclusive a equipe de 
Serviço Social, no atual contexto institucional, destacando as tensões que às requisições da 
contrarreforma tem imposto à redefinição das nossas possibilidades de inserção e de práticas, 
reafirmando análises de Moreira (2013) e Vasconcelos (2013), que apontam a apropriação 
sinonímia dos termos pelo SSO, ponderando suas implicações. Ao elucidar a centralidade da 
questão social para o exercício e formação profissional, inserimos o debate ideopolítico da 
PDSS, sua vinculação com o PEP, e com os objetivos das práticas da SC teoricamente 
26 
 
 
referenciada, conforme destaca Paim (2006). Evidenciar os elementos da nossa produção 
acadêmica e dimensão técnico-operativa que indicam a hegemonia dos DSS como referência 
teórico-conceitual e técnico-operativa, destacando a centralidade do modelo teórico conceitual 
na prática profissional, em função das suas possibilidades de atuação na direção da 
intersetorialidade, conforme análise de Costa (2010). 
Nas considerações finais, priorizamos destacar os principais pontos que inflexionam o 
saber/fazer profissional, reiterando e enfatizando a necessidade de maior investimento na 
PDSS no âmbito do exercício e formação profissional, frente ao legado teórico-crítico 
acumulado pela categoria, que aponta um grande potencial para ampliar os objetivos das duas 
práticas a partir do PEP, fortalecendo a auto-imagem da profissão, ancorada em uma 
racionalidade instrumental pautada na razão dialética, cujas contribuições apontam para o 
revigoramento da PDSS como fundamento do trabalho em saúde. 
Esta pesquisa, pensada no atual cenário de recrudescimento das ofensivas do capital 
sobre o trabalho, que revigorou o projeto político conservador ultraliberal no Brasil, reiteram 
a urgente necessidade de apreensão acerca da correlação de forças em disputa na sociedade, e 
os/as Assistentes Sociais, em sua inserção na política de saúde, na condição de intelectual 
orgânico da classe trabalhadora, tem o compromisso ético-político de pensar estratégias e 
táticas de ação que transcendam os limites institucionais do SUS, apreendendo e colocando 
em evidência a saúde enquanto processo de luta e resistência, a partir de um projeto social 
emancipatório. 
Este posicionamento reafirma a categoria enquanto protagonista intelectual para a 
construção de uma cultura de esquerda, conforme destaca Mota (2016), na qual o 
posicionamento hegemônico do SSO brasileiro, tão caro neste contexto de crise orgânica, 
expressa seu alindamento aos sujeitos coletivos que alimentam uma contra hegemonia ao 
projeto do capital. Assim, defendemos que problematizar a saúde a partir de uma referencial 
embasado na teoria social crítica, evidenciando os nexos ontológicos que expressam o 
processo saúde-doença enquanto questão social e política, é caminho necessário à construção 
de respostas profissionais voltadas a satisfação das reais necessidades sociais da população. 
Portanto, a apreensão da saúde imbricada nos processos de lutas sociais na construção 
de consensos ou de luta contra hegemônica frente aos impulsos destrutivos do capital, enfatiza 
a necessidade que o processo histórico evidência: o imprescindível papel das lutas sociais e de 
seus intelectuais pela ampliação dos direitos no atual contexto do SUS, sem perder de vista o 
27 
 
 
horizonte da razão ontológica em defesa da emancipação humana, que requer a plena 
satisfação das necessidades humanas. 
Assim, ainda que provisório e inacabado, posto que o conhecimento produzido acerca 
da realidade é atividade teórico-prática de caráter histórico-dialético, este trabalho se vincula a 
finalidade mais ampla de contribuir para o legado teórico-crítico da profissão, na busca de 
sobrepor a práxis ao saber instrumental, fortalecendo uma identidade profissional atrelada aos 
valores e princípios do PEP. 
 
28 
 
 
2 A DIMENSÃO SOCIAL DO PROCESSO SAÚDE-DOENÇA E SUA 
INCORPORAÇÃO NO MOVIMENTO DA REFORMA SANITÁRIA BRASILEIRA 
(MRSB) 
 
Partimos da compreensão de que, na sociedade capitalista, o processo de construção 
dos modelos de atenção à saúde reflete a relação dialética que o setor possui com a base das 
relações sociais de tal sociedade, expressando o seu estágio de desenvolvimento e sua 
inserção geopolítica nas relações e divisão internacional em tempos de mundialização e 
financeirização do capital, na acepção discutida por Meszáros (2002). 
Portanto, a saúde não se constitui área isolada, se estrutura e se desenvolve face a 
correlação de forças que permeiam a luta de classes, os projetos societários e sanitários em 
disputa, sendo fundamental superar a concepção evolucionista ao buscarmos estabelecer 
relações entre os avanços e recuos com o grau de resistência e organização das lutas sociais 
contra hegemônicas, na qual, segundo Vasconcelos (2013a) as classes populares tencionam 
para construção de uma nova hegemonia, viabilizando modelos alternativos que irão 
expressar interesses políticos diversos atrelados às classes sociais, estruturando-se em uma 
racionalidade que possui vinculaçãocom projetos societários. 
Nessa linha de interpretação, a incorporação da concepção ampliada de saúde 
formulada na Constituição Federal (CF) de 1988 resulta do avanço da luta contra hegemônica 
sob a direção do MRSB, que foi capaz de formular uma nova concepção de saúde alinhada a 
um projeto de democracia de massas, ao qual se vincula o PRSB. 
Assim, é fundamental compreender que ao longo da história da saúde pública, as 
diversas teorias desenvolvidas sobre o processo saúde-doença correspondem a visões de 
mundo, e se vinculam a projetos societários, que produzem projetos sanitários, por vezes 
antagônicos. 
Neste entendimento, os modelos de atenção à saúde encerram práticas com ideologias 
e intencionalidades com o potencial de ampliar ou restringir a relação existente entre saúde e 
sociedade, e, portanto, de efetivar respostas que privilegiem as necessidades do capital ou as 
reais necessidades da classe trabalhadora
12
. 
Considere-se que a articulação do processo saúde-doença com a produção da vida 
material e social, problematizada no âmbito do desenvolvimento das forças produtivas e suas 
 
12
 Análise pioneira sobre as condições de desgaste da saúde da classe trabalhadora atrelada às condições de vida 
e de trabalho dadas pelas formas de produção e reprodução social foi realizada por Engels em 1844 em ―As 
condições da classe trabalhadora na Inglaterra‖. 
29 
 
 
relações sociais de produção, é constituída como demanda de momentos históricos, e nasce 
atrelada aos interesses da classe trabalhadora no contexto de aprofundamento da 
industrialização e urbanização na Europa no século XVIII, produzindo impactos sobre as 
condições de vida e adoecimento da população. Tais reivindicações passam a ser incorporadas 
na tessitura de políticas sociais, num contexto de agudizamento das expressões da questão 
social (MOREIRA, 2013; VASCONCELOS, 2013a). 
No século XIX, em decorrência da latente questão social decorrente da revolução 
industrial na Europa, com piora das condições de vida da população e aumento de doenças e 
mortalidade, ganha proeminência os conceitos da MS e SC. Considerado o pai da Medicina 
Social e precursor das estratégias de Promoção da Saúde hoje utilizadas, Rudolf Virchow 
(patologista e sanitarista político) desencadeou estudos com resultados clássicos na saúde 
pública, pautado em um conceito amplo que abarcava o contexto social e cultural da época, e 
recomendações que relacionam saúde, democracia, autonomia, educação, liberdade para 
enfrentar as causas das enfermidades identificadas em seus estudos (WESTPHAL, 2006). 
Ressalte-se que é no cenário de luta pela incorporação da saúde à pauta política dos 
trabalhadores que surge na Europa a MS, enquanto movimento que compreende a crise 
sanitária no contexto dos processos sociais e políticos em curso, afirmando que a luta e 
participação política é a chave para transformação da realidade sanitária
13
 (MOREIRA, 2013). 
Entretanto, o referencial científico que toma por base uma perspectiva de emancipação da 
humanidade foi acuado pela ofensiva do capital, que se utilizando das descobertas científicas 
do século XIX, ampliando o estatuto científico da dimensão biológica, ainda embasado na 
teoria unicausal, base do modelo biomédico
14
 construiu as bases para a perda de espaço da 
dimensão social. Porém, a insuficiência deste modelo explicativo volta a ser questionado com 
o advento da transição epidemiológica e avanço das doenças crônico-degenerativas no pós II 
Guerra Mundial, tornando a concepção multicausal
15
 predominante (MOREIRA, 2013). 
 
13
 Diversas teorias explicativas foram desenvolvidas ao longo da história para determinar a concepção de saúde 
e direcionar a prática sanitária. Vasconcelos (2013a, p. 44) destaca ―a teoria miasmatica, a medicina social (e 
outras vertentes adjetivadas de ―social‖), e a teoria monocausal (depois redimensionada para a teoria da 
multicausalidade)‖, as quais são expressão da relação do setor saúde com as contradições presentes na totalidade 
da vida social, exprimindo racionalidades alicerçadas em sua relação com os projetos societários, demarcando o 
seu papel nas lutas de classes. 
14
 Nesta perspectiva o processo saúde-doença passa a se configurar enquanto dimensão biológico-individual, 
centrado no fisiopatológico para diagnóstico e terapêutica, constituindo práticas curativas centradas em 
procedimentos, que alimentam a produção de serviços e a formação de profissionais na área da saúde com essa 
racionalidade (VASCONCELOS, 2013a). 
15
 Conforme Moreira (2013), a concepção multicausal é o modelo proposto por Leavell e Clark, que aponta uma 
tríade ecológica: ambiente, agente e hospedeiro, que relacionam-se e condicionam-se mutuamente; As doenças 
são o desequilíbrio nestas autorregulações. Evidenciamos que tal modelo se funda na história natural da doença, 
30 
 
 
Para Westphal (2006), os avanços científicos que deslocaram as estratégias 
preventivas para o campo causal são demarcados no século XX, definindo a ―era 
bacteriológica‖ e a saúde como ausência de doenças; a descoberta de fármacos, nos anos 
1930, reforçou tal conceito de saúde, que se associou ao mecanismo da unicausalidade, o 
biologicismo, o individualismo (indivíduo como objeto de intervenção em saúde, excluindo o 
contexto sociohistórico) e a especialização. Acompanhou este processo o esforço acadêmico 
para o ensino de práticas médicas centradas em laboratório, na biologia, na especialização, 
consolidando o paradigma biomédico hegemônico, e construindo na sociedade um imaginário 
coletivo de saúde como doença e hospital como centro da assistência. Para a autora: 
 
Se considerarmos os modelos anteriores, que ancoravam a Prevenção em ações 
somente sobre a biologia humana, o modelo explicativo e as ações propostas por 
Leavell & Clark significaram um grande avanço. Esses autores chamaram a atenção 
dos profissionais de saúde sobre o potencial das ações no ambiente e sobre os estilos 
de vida na Prevenção de Doenças. Inovaram também na proposição de medidas 
preventivas incluindo ações educativas, comunicacionais e ambientais as já 
existentes — laboratoriais, clinicas e terapêuticas — como complementação e 
reforço da estratégia (WESTPHAL, 2006, p. 642). 
 
A tensão com este paradigma se refere às visões de saúde e sua causalidade, posto que 
a perspectiva desta proposta é evitar doenças e seu agravamento. Assim, outras críticas e 
outros modelos explicativos surgem com reflexões críticas vinculadas a vertente da MS e SC, 
questionando a tríade ecológica, que não consideravam as condições de vida e de trabalho 
atreladas a inserção social dos sujeitos e seu impacto nos níveis de vida da população, e com 
base em estudos que apontam a Determinação Social do processo saúde-doença, se voltam 
para uma perspectiva emancipatória de intervenção em saúde (ibdem). 
Embora inegável a relevância e contribuição empreendida pelas descobertas biológicas 
para os níveis de saúde, sozinhas, estas não dão conta do impacto das mudanças sociais, 
culturais, econômicas e políticas vem enfrentando a humanidade ao longo da sua história 
(WESTPHAL, 2006), como epidemias, violação de direitos humanos em países democráticos, 
instituição de regimes autoritários, aumento de violências e acidentes, doenças crônicas, 
epidemias reemergentes, pandemias facilitadas pela globalização, aumento da pobreza s 
desigualdades sociais. 
Assim, como parte das disputas entre concepções de saúde e de doença que orientam 
suas práticas, sustentadas em vertentes ideopolíticas distintas, as condições para a emergência 
 
e tem sido reconhecido nas análises contemporâneas da CNDSS, onde a crítica residenos riscos de numa nova 
biologização do processo saúde-doença pela adoção deste modelo de análise. 
31 
 
 
da MS, a partir dos anos 40 do século XIX, vão se dar as vésperas do movimento 
revolucionário de 1948 que se estende por toda a Europa, problematizando as relações entre a 
saúde, e as formas de viver e trabalhar no MPC, onde ao discurso dos sanitaristas se integra 
aos princípios de que: a saúde é interesse da sociedade, devendo ser protegida e assegurada; 
as condições sociais e econômicas que influenciam a saúde e doença precisam ser objeto de 
investigação científica; e as medidas para proteção da saúde devem ser tanto sociais quanto 
médicas (ROCHA; DAVID, 2015). 
Para esse autor, com a derrota do movimento revolucionário, as vozes dissonantes que 
defendiam a saúde como questão política e social foram silenciadas, limitando-se a um 
movimento de reforma sanitária, nos marcos da ordem burguesa, enquanto a epidemiologia 
tradicional com ênfase no biomédico ampliou seu domínio, a partir da revolução científica e 
mediante as descobertas bacteriológicas de Robert Koch (ibdem). 
A luta contra hegemônica reúne forças no final da década de 1960, com a 
configuração do contexto da onda longa de crise de acumulação traduzida em crise econômica 
e política do capitalismo mundial, no qual a emergência de movimentos políticos e 
fortalecimento do referencial teórico-crítico se amplia, formulando críticas, problematizando a 
crise da medicina curativista com seus altos e crescentes custos, bem como amplificam as 
críticas ao modelo da história natural da doença, cujos impactos na realidade brasileira abre 
espaço para a formulação da PDSS (MOREIRA, 2013). 
Expressão da luta mais ampla para enfrentar as contradições da própria sociedade 
capitalista, e problematizar a visão de mundo daqueles que detém o poder, o conceito 
Determinação Social do processo saúde-doença se pauta em oposição à epidemiologia 
hegemônica funcionalista, e se volta para a construção de uma práxis emancipatória. 
O conjunto da revisão produzida por Vasconcelos (2013a), Moreira (2013), Westphal 
(2006) e Rocha; David (2015), nos permite afirmar que não podemos especificar, em termos 
temporais, onde e quando a PDSS nasceu, considerando que as concepções acerca do 
processo saúde-doença se forjam ao longo da processualidade histórica, atravessada pela 
dinâmica societária de diferentes contextos e correlação de forças. 
Desta forma, destacamos a análise de Westphal (2006), que aponta o importante 
debate acerca da promoção da saúde desencadeado por Thomas McKeown, que no final do 
século XIX chamou atenção para fatores que contribuíam com a qualidade de vida da 
população inglesa, destacando menos intervenção de caráter médico e mais desenvolvimento 
econômico, nutrição e mudança nos níveis de vida, que de acordo com a autora, influenciou 
32 
 
 
os questionamentos críticos desenvolvidos na América Latina, pela MS e epidemiologia 
social entre 1960 e 1980. 
Este debate teve também importante influência do ministro canadense Lalonde, que 
pautou na década de 1970 a resolução dos problemas de saúde pautados na responsabilidade 
governamental, desencadeando um momento de interesse social e político pela saúde pública, 
muito embora ainda não correspondesse a vertente mais crítica (ibdem). 
Tamberllini; Shutz (2009) atribuiu ao Relatório Lalonde, apresentado em 1974 no 
Canadá, o primeiro registro em documento governamental do conceito de Determinação da 
Saúde, com grande repercussão, que reconheceu oficialmente a falência do paradigma 
biomédico em seu sistema de saúde, apontando a necessidade de ir além da atenção à doença. 
Ressalta que, tendo por objetivo defender reformas no sistema de saúde no contexto da crise 
do petróleo, Lalonde acabou por propiciar uma ruptura epistemológica com o paradigma 
biomédico, embora não tenha se aprofundado na questão da PDSS. 
Assim, o conjunto das análises gerais que articularam o pensamento social na saúde, 
no contexto da América Latina remetem ao surgimento da MS, que desde a década de 1970 
aborda a Determinação Social enquanto objeto de estudo, sob forte crítica à epidemiologia 
tradicional, compreendida como argumento científico para os interesses do capital. No Brasil, 
esse movimento crítico latino-americano teve expressão na conformação da Saúde Coletiva
16
 
(MOREIRA, 2013; ROCHA; DAVID, 2015). 
Em um contexto social marcado pela dificuldade da medicina em produzir 
conhecimento para compreender e explicar a realidade sanitária que se apresentava nos países 
industrializados na década de 1970, surge um profundo questionamento ao paradigma 
biomédico, que na América Latina, através da MS, trouxe como contribuições à inserção do 
pensamento social na área da saúde para pensar as condições de saúde da coletividade e 
demarcar uma nova leitura sobre o processo saúde-doença (GARBOIS; SODRÉ; ARAUJO, 
2017). 
Este pensamento social na saúde reconhece que sob a égide do capital, as relações 
sociais de produção e reprodução são permeadas por contradições que se vinculam a projetos 
sociais em disputa, resultando, sob a hegemonia do projeto do capital, em formas de viver, 
 
16
 O movimento de saúde coletiva é evidenciado por Mattos (2009) como campo de conhecimento que se 
constituiu a partir da crítica a saúde pública tradicional e à medicina preventiva proposta nos Estados Unidos. Ao 
incorporar contribuições da Medicina Social, considerou a saúde como pratica social, o que permitiu a 
construção de criticas ao reducionismo do conceito de integralidade a uma atitude médica desejável presente nos 
debates da Medicina Preventiva, com sua funcionalidade a medicalização da vida e expansão de bens e serviços 
que sustentam a ordem social, no qual Arouca (2003) denominou de ―Dilema Preventivista‖. 
33 
 
 
adoecer e morrer desiguais. Trata-se de uma epidemiologia social crítica que aprofunda 
análises para além de indicadores e fatores imediatos. 
A análise desenvolvida na América Latina pela MS na década de 1970 aponta críticas 
ao modelo hegemônico de saúde, fundado em uma ciência positivista que se assentava na 
história natural da doença, limitando a saúde a dimensão biológica. Ao evidenciar a relação 
dialética entre biológico e social, a corrente da MS ampliou a explicação da saúde para a 
dimensão coletiva, situando-a como parte do processualidade histórica da vida em sociedade. 
Assim, o movimento crítico latino americano se estrutura em torno de propostas para 
um novo método de investigação na saúde, ancorado no materialismo histórico dialético para 
a compreensão do caráter histórico e social do processo saúde-doença, em uma análise no 
nível coletivo, evidenciando a relação dos sujeitos com as formas de produção e reprodução 
social existente, visto que uma análise pautada na doença do indivíduo não revela o caráter 
social que constrói dialeticamente o processo (MOREIRA, 2013). 
A rigor, 
 
a reformulação da natureza da doença, que passou a ser vista como um processo da 
coletividade – no qual o que interessa é o estudo do modo como o processo 
biológico acontece socialmente –, trouxe, como consequência, a mudança do léxico: 
‗de fator para processo‘. Essa visão saúde-doença como resultante de um processo 
social traduziu-se na reinterpretação de suas causas: de entidades estáticas, passíveis 
de abstração formal, ao entendimento de seu caráter dinâmico, como parte integrante 
do ―movimento global da vida social‖ (BREILH, 1991, p. 200 apud GARBOIS; 
SODRÉ; ARAUJO, 2017, p. 65). 
 
Nessa abordagem, a saúde deixa de ser definida pelo conhecimento formal-abstrato, 
para integrar o movimento da vida em sociedade, cuja explicação está nos fundamentos do 
modo de produção e reprodução da vida em sociedade, e seus rebatimentos sobre as formas de 
adoecer. 
O debate teórico-conceitual que culminou na PDSS como categoria

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