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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS FARMACÊUTICAS CARACTERIZAÇÃO TÉRMICA (TG/DTG, DTA, DSC, DSC-fotovisual) DE HORMÔNIOS BIOIDÊNTICOS (ESTRIOL E ESTRADIOL) THEREZA MYLENE DE MOURA PEREIRA NATAL - RN 2013 THEREZA MYLENE DE MOURA PEREIRA CARACTERIZAÇÃO TÉRMICA (TG/DTG, DTA, DSC, DSC-fotovisual) DE HORMÔNIOS BIOIDÊNTICOS (ESTRIOL E ESTRADIOL) Dissertação apresentada ao Programa de Pós- Graduação em Ciências Farmacêuticas da UFRN, como requisito para obtenção do grau de Mestre em Ciências Farmacêuticas. ORIENTADOR: Prof. Dr. CÍCERO FLÁVIO SOARES ARAGÃO CO-ORIENTADORA: Profª. Drª. ANA PAULA BARRETO GOMES NATAL- RN 2013 3 5 A toda minha família, pelo incentivo, confiança e amor. 6 AGRADECIMENTOS A Deus pela benção da vida, por todas as oportunidades de estudo e trabalho e por renovar as minhas forças a cada dia. A minha família, especialmente a minha mãe e meu pai pela presença constante, me apoiando e aconselhando, pela educação que me deram e pelo amor incondicional. A minha Tia Adeilze (in memorian) pela contribuição na minha educação. Ao meu noivo, por me incentivar e torcer por mim, pela paciência, alegria e amor. Aos professores, Cícero Flávio Soares Aragão e Ana Paula Barreto Gomes por acreditarem em mim, pela compreensão, orientação e amizade. À Nilma, por todo apoio, cuidado, ajuda e carinho. À Cândida, Maria Girlene, Wanessa, Fátima, Regina, Fabiana e Liliam pela ajuda e incentivo desde o início e pela imensa amizade. A todos da família LCQMed, em especial a Geovana, Edilamar, Thays, Denise, Júlia, Luzia, Igor, Naiana, Daiane Porto por me ajudarem em muitos momentos. A Sílvia e Mariana pela ajuda inicial. Às colegas do LDM, Daiane dos Santos, Mara, Janaína e Edilene pela ajuda em vários momentos. À Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) pela oportunidade de realizar este mestrado. Ao Laboratório de Desenvolvimento de Medicamentos (LDM - UFRN) por utilizar os equipamentos para as análises TG/DTA e DSC. Ao Laboratório de Controle de Qualidade de Produtos Farmacêuticos (LCQPF) da Universidade Federal da Paraíba (UFPB) pelas análises do DSC-fotovisual. Ao professor Euzébio Guimarães Barbosa, pela ajuda no coeficiente de Pearson. Enfim, a todos que contribuíram, aos familiares e amigos que me ajudaram e comemoram comigo a conclusão deste trabalho. 7 “A vida te coloca onde você escolheu estar Nasceste no lar que precisavas, Vestiste o corpo físico que merecias, Moras onde melhor Deus te proporcionou, de acordo com teu adiantamento. Possuis os recursos financeiros coerentes com as tuas necessidades, nem mais, nem menos, mas o justo para as tuas lutas terrenas. Teu ambiente de trabalho é o que elegeste espontaneamente para a tua realização. Teus parentes, amigos são as almas que atraístes, com tua própria afinidade. Portanto, teu destino está constantemente sob teu controle. Tu escolhes, recolhes, eleges, atrais, buscas, expulsas, modificas tudo aquilo que te rodeia a existência. Teus pensamentos e vontades são a chave de teus atos e atitudes... São as fontes de atração e repulsão na tua jornada vivência. Não reclames nem te faças de vítima. Antes de tudo, analisa e observa. A mudança está em tuas mãos. Reprograme tua meta, busque o bem e viverás melhor” Francisco Cândido Xavier 8 RESUMO Hormônios bioidênticos são compostos que têm exatamente a mesma estrutura química e molecular dos hormônios endógenos humanos. Acredita-se que a utilização desses hormônios pode ser mais segura e eficaz que os hormônios não-bioidênticos, pois a ligação aos receptores no organismo se daria de forma semelhante aos hormônios endógenos. Estrogênios bioidênticos vêm sendo utilizado, em mulheres na menopausa, como uma alternativa à terapia de reposição hormonal tradicional. Dados térmicos desses hormônios são escassos na literatura. A análise térmica é um conjunto de técnicas que possibilita medir as propriedades físico-químicas de uma substância em função da temperatura. As técnicas térmicas vêm sendo utilizadas na área farmacêutica em diversas aplicações, como na caracterização de fármacos, determinação do grau de pureza, identificação de polimorfismo, estudos de estabilidade e compatibilidade. Este trabalho tem como objetivo a caracterização dos hormônios bioidênticos estradiol e estriol através das técnicas térmicas TG/DTG, DTA, DSC, DSC-fotovisual. A partir da análise das curvas TG, foi possível calcular os parâmetros cinéticos para as amostras. Os dados cinéticos mostraram boa correlação entre os diferentes modelos empregados. Tanto para o estradiol como para o estriol, foi encontrada ordem zero de reação, o que possibilitou a construção das curvas de pressão de vapor. Dados das curvas DSC e DTA sobre ponto de fusão e pureza são condizentes com a literatura, sendo possível correlacionar estes resultados com o DSC-fotovisual. As análises das curvas DTA mostraram o evento de fusão como o de melhor linearidade para os dois hormônios. Na avaliação dos possíveis produtos de degradação, a análise do infravermelho mostra que não houve produtos de degradação no estado sólido. Palavras-chave: Análise Térmica. TG-DSC. Hormônios Bioidênticos. Estradiol e Estriol. 9 ABSTRACT Bioidentical hormones are defined as compounds that have exactly the same chemical and molecular structure as hormones that are produced in the human body. It is believed that the use of hormones may be safer and more effective than the non-bioidentical hormones, because binding to receptors in the organism would be similar to the endogenous hormone. Bioidentical estrogens have been used in menopausal women, as an alternative to traditional hormone replacement therapy. Thermal data of these hormones are scarce in literature. Thermal analysis comprises a group of techniques that allows evaluating the physical-chemistry properties of a drug, while the drug is subjected to a controlled temperature programming. The thermal techniques are used in pharmaceutical studies for characterization of drugs, purity determination, polymorphism identification, compatibility and evaluation of stability. This study aims to characterize the bioidentical hormones estradiol and estriol through thermal techniques TG/DTG, DTA, DSC, DSC-photovisual. By the TG curves analysis was possible to calculated kinetic parameters for the samples. The kinetic data showed that there is good correlation in the different models used. For both estradiol and estriol, was found zero order reaction, which enabled the construction of the vapor pressure curves. Data from DTA and DSC curves of melting point and purity are the same of literature, showed relation with DSC-photovisual results. The analysis DTA curves showed the fusion event had the best linearity for both hormones. In the evaluation of possible degradation products, the analysis of the infrared shows no degradation products in the solid state. Keywords: Thermal analysis. TG-DSC. Bioidentical Hormone. Estriol and Estradiol 10 LISTA DE FIGURAS Figura 1 Estrutura química do estradiol (1) e estriol (2) 24 Figura 2 Representação das curvas TG dinâmica e TG isotérmica 32 Figura 3 Esquema de uma curva DTA típica 34 Figura 4 Compartimento do DSC, onde: (1) cadinho com amostra, (2) cadinho referência,(3) forno DSC, (4) aquecimento, (5) sensor; Curva DSC típica 35 Figura 5 Curvas TG/DTG e DTA do estradiol bioidêntico na razão de 20°C min-1 54 Figura 6 Curvas TG/DTG e DTA do estriol bioidêntico na razão de 20°C min-1 55 Figura 7 Sobreposição de curvas TG do estradiol bioidêntico em diferentes massas, na razão de 20°C min-1. No detalhe têm-se os valores Tonset e Tendset para as diferentes massas 56 Figura 8 Sobreposição de curvas TG do estriol bioidêntico em diferentes massas, na razão de 20°C min-1. No detalhe têm-se os valores Tonset e Tendset para as diferentes massas 57 Figura 9 Sobreposição de curvas TG do estradiol bioidêntico nas razões de aquecimento de 10, 20, 40, 60 e 80°C min-1. No detalhe têm-se os valores Tonset e Tendset para as diferentes razões de aquecimento 58 Figura 10 Pressão de vapor do estradiol bioidêntico em função da temperatura nas razões de aquecimento de 10, 20, 40, 60 e 80°C min-1 59 Figura 11 Pressão de vapor do estradiol bioidêntico em função das razões de aquecimento de 10, 20, 40, 60 e 80°C min-1 59 Figura 12 Sobreposição de curvas TG do estriol bioidêntico nas razões de aquecimento de 10, 20, 40, 60 e 80°C min-1. No detalhe têm-se os valores Tonset e Tendset para as diferentes razões de aquecimento 60 Figura 13 Pressão de vapor do estriol bioidêntico em função da temperatura nas razões de aquecimento de 10, 20, 40, 60 e 80°C min-1 61 Figura 14 Pressão do estriol bioidêntico em função das razões de aquecimento de 10, 20, 40, 60 e 80°C min-1 62 11 Figura 15 Curvas TG-isotérmicas (a); correlação ordem zero (b); correlação primeira ordem (c); correlação segunda ordem (d) do estradiol bioidêntico nas temperaturas de 190, 200, 210, 220, 230 e 240°C 63 Figura 16 Curvas Isotérmicas (a); correlação ordem zero (b); correlação primeira ordem (c); correlação segunda ordem (d) do estriol bioidêntico nas temperaturas de 230, 250, 260 e 270°C 64 Figura 17 Constantes de perda de massa do estradiol e estriol em função da temperatura 65 Figura 18 Ordem de reação versus massa, para o estradiol bioidêntico 66 Figura 19 Energia de ativação versus massa, para o estradiol bioidêntico 66 Figura 20 Ordem de reação versus a massa, para o estriol bioidêntico 67 Figura 21 Energia de ativação versus a massa, para o estriol bioidêntico 67 Figura 22 Curvas TG do estradiol bioidêntico obtidas nas razões de 10, 20, 40, 60 e 80°C min-1. No detalhe o cálculo de Ozawa contendo a função G(X) versus o tempo reduzido e o Log (razão de aquecimento) versus T-1 69 Figura 23 Curvas TG do estriol bioidêntico obtidas nas razões de 10, 20, 40, 60 e 80°C min-1. No detalhe o cálculo de Ozawa contendo a função G(X) versus o tempo reduzido e o Log (razão de aquecimento) versus T-1 70 Figura 24 Espectro de Infravermelho do estradiol bioidêntico sem aquecimento e em 170°C 72 Figura 25 Espectro de Infravermelho do estriol bioidêntico sem aquecimento e nas temperaturas de 170, 200, 270, 300°C 72 Figura 26 Diagrama de dispersão do Coeficiente de Pearson para o estriol 73 Figura 27 Sobreposição de curvas DTA do estradiol bioidêntico em diferentes massas (1, 2, 4, 6, 8 e 10 mg), na razão aquecimento de 20°C min-1 74 Figura 28 Sobreposição de curvas DTA (evento 1) do estradiol bioidêntico (a) em diferentes massas (1, 2, 4, 6, 8 e 10 mg); Energia em Joules (J) do evento 1 (b), versus a massa (1, 2, 4, 6, 8 e 10 mg), no detalhe o coeficiente de correlação linear 75 12 Figura 29 Sobreposição de curvas DTA (evento 2) do estradiol bioidêntico (a) em diferentes massas (1, 2, 4, 6, 8 e 10 mg); Energia em Joules (J) do evento 2 (b), versus a massa (1, 2, 4, 6, 8 e 10 mg), no detalhe o coeficiente de correlação linear 75 Figura 30 Sobreposição de curvas DTA (evento 3) do estradiol bioidêntico (a) em diferentes massas (1, 2, 4, 6, 8 e 10 mg); Energia em Joules (J) do evento 3 (b), versus a massa (1, 2, 4, 6, 8 e 10 mg), no detalhe o coeficiente de correlação linear 75 Figura 31 Sobreposição de curvas DTA do estriol bioidêntico em diferentes massas (1, 2, 4, 6, 8 e 10 mg), na razão aquecimento de 20°C min-1 76 Figura 32 Sobreposição de curvas DTA (evento 1) do estriol bioidêntico (a) em diferentes massas (1, 2, 4, 6, 8 e 10 mg); Energia em Joules (J) do evento 1 (b), versus a massa (1, 2, 4, 6, 8 e 10 mg), no detalhe o coeficiente de correlação linear 77 Figura 33 Sobreposição de curvas DTA (evento 2) do estriol bioidêntico (a) em diferentes massas (1, 2, 4, 6, 8 e 10 mg); Energia em Joules (J) do evento 2 (b), versus a massa (1, 2, 4, 6, 8 e 10 mg), no detalhe o coeficiente de correlação linear 77 Figura 34 Sobreposição de curvas DTA do estradiol bioidêntico nas razões de aquecimento de 10, 20, 40, 60 e 80°C min-1. No detalhe os eventos e sua atribuição, os valores de Tonset e da energia 78 Figura 35 Sobreposição de curvas DTA do estriol bioidêntico nas razões de aquecimento de 10, 20, 40, 60 e 80°C min-1. No detalhe os eventos e sua atribuição, os valores de Tonset e da energia 79 Figura 36 Curva DSC na Φ de 5°C min-1 (a); sobreposição das curvas DSC (evento 2) do estradiol bioidêntico (b) nas razões aquecimento de 5, 10, 20, 40, 60 e 80°C min-1; os eventos e sua atribuição e os valores de Tonset e da energia para cada Φ (c) 80 Figura 37 Curva DSC na Φ de 5°C min-1 (a); sobreposição das curvas DSC (evento 1) do estriol bioidêntico (b) nas razões aquecimento de 5, 10, 20, 40, 60 e 80°C min-1; os eventos e sua atribuição e os valores de Tonset e da energia para cada Φ (c) 81 13 Figura 38 Comparação do ∆T da etapa de fusão ou volatilização em função da razão de aquecimento para o estradiol bioidêntico 82 Figura 39 Comparação do ∆T da etapa de fusão ou volatilização em função da razão de aquecimento para o estriol bioidêntico 82 Figura 40 DSC-fotovisual do estradiol bioidêntico 84 Figura 41 Sobreposição de curvas DSC, DTA e TG do estradiol bioidêntico na razão de aquecimento de 10°C min-1 85 Figura 42 DSC-fotovisual do estriol bioidêntico 86 Figura 43 Sobreposição de curvas DSC, DTA e TG do estriol bioidêntico na razão de 10°C min-1 87 14 LISTA DE TABELAS Tabela 1 Condições Experimentais para obtenção das curvas dinâmicas TG/DTG/DTA do estradiol e estriol 48 Tabela 2 Programa de aquecimento para obtenção das curvas termogravimetricas Isotérmicas 50 Tabela 3 Condições experimentais para obtenção das curvas DSC do estradiol e estriol bioidênticos 51 Tabela 4 Valores do coeficiente de correlação linear (r) do estradiol nas diferentes Φ de aquecimento 58 Tabela 5 Valores do coeficiente de correlação linear (r) do estriol nas diferentes Φ de aquecimento 60 Tabela 6 Constante (k) de perda de massa dos hormônios bioidênticos (estradiol e estriol) 64 Tabela 7 Correlação entre os modelos matemáticos dos valores médios das energias de ativação (E) para o estradiol e estriol 70 Tabela 8 Equações lineares de correlação (Eventos 1, 2 e 3) entre a energia (J) nas curvas DTA dos três eventos observados no estradiol 76 Tabela 9 Equações lineares de correlação (Eventos 1 e 2) entre a energia (J) nas curvas DTA dos dois eventos observados no estriol 78 Tabela 10 Efeito da razão de aquecimento sobre a determinação da pureza das matérias-primas dos hormônios bioidênticos (estradiol e estriol) 83 15 LISTA DE ABREVIATURAS, SIGLAS E SÍMBOLOS α – fração decomposta A – Fator de frequência ANVISA – Agência Nacional de Vigilância Sanitária cal – caloria CFM – Conselho Federal de Medicina CR – Coats-Redfern DRX – Difração de Raios X DSC – Calorimetria Exploratória Diferencial DTA – AnáliseTérmica Diferencial DTG – Termogravimetria Derivada E – Energia de Ativação FDA – Food and Drug Administration FTIR – Espectroscopia de Infravermelho com Transformada de Forrier HM – Horowittz-Metzger J – Joules k – Constante de perda de massa K – Temperatura em Kelvin MD – Madhusudanam MIR – Infravermelho Médio n – Ordem da reação OZ – Ozawa R – constante dos gases RDC – Resolução da Diretoria Colegiada T – Temperatura T endset –Temperatura endset T onset – Temperatura onset T iso – Temperatura isotérmica TG – Termogravimetria TRH –Terapia de Reposição Hormonal Ts – temperatura do pico 16 VK – Van Krevelen Φ – razão de aquecimento 17 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO 19 2 REVISÃO DA LITERATURA 20 2.1 TERAPIA DE REPOSIÇÃO HORMONAL 20 2.2 TERAPIA DE MODULAÇÃO HORMONAL BIOIDÊNTICA 21 2.3 HORMÔNIOS BIOIDÊNTICOS 23 2.3.1 Principais Hormônios Estrogênios 23 2.4 PREPARAÇÕES FARMACÊUTICAS CONTENDO HORMÔNIOS BIOIDÊNTICOS 25 2.5 AS TÉCNICAS TÉRMICAS E SUAS APLICAÇÕES 28 2.5.1 Análise Termogravimétrica 31 2.5.2 Análise Térmica Diferencial 33 2.5.3 Calorimetria Exploratória Diferencial 34 2.6 CINÉTICA DE DEGRADAÇÃO FÁRMACOS 36 2.7 DETERMINAÇÃO DA PRESSÃO DE VAPOR POR TERMOGRAVIMETRIA 40 2.8 AVALIAÇÃO DA PUREZA POR DSC 43 2.9 ESPECTROSCOPIA DE ABSORÇÃO MOLECULAR NA REGIÃO DO INFRAVERMELHO COM TRANSFORMADA DE FOURIER (FTIR) 44 3 OBJETIVOS 46 3.1 OBJETIVOS ESPECÍFICOS 46 4 MATERIAL E MÉTODOS 47 4.1 FÁRMACOS 47 4.2 ANÁLISE TERMOGRAVIMÉTRICA E ANÁLISE TÉRMICA DIFERENCIAL(TG/DTA) 47 4.2.1 Termogravimetria Dinâmica 47 4.2.1.1 Variação das Massas da Amostra 48 4.2.1.2 Variação das Razões de Aquecimento 49 4.2.2 Termogravimetria Isotérmica 50 4.3 CALORIMETRIA EXPLORATÓRIA DIFERENCIAL 51 4.3.1 DSC-Convencional 51 18 4.3.2 DSC- Fotovisual 52 4.4 ESPECTROSCOPIA DE ABSORÇÃO MOLECULAR NA REGIÃO DO INFRAVERMELHO COM TRANSFORMADA DE FOURIER (FTIR) 52 4.4.1 Correlação de Pearson 53 5 RESULTADOS E DISCUSSÃO 54 5.1 ANÁLISE TERMOGRAVIMÉTRICA/ ANÁLISE TERMOGRAVIMÉTRICA DERIVADA (TG/DTG) 54 5.1.1 Caracterização por TG, DTA e DTG 54 5.1.2 Variação da massa da amostra nas curvas TG 56 5.1.3 Curvas de pressão de vapor 57 5.1.4 Curvas TG isotérmicas 63 5.1.5 Estudo Cinético através das curvas TG dinâmicas ou não-isotérmicas 65 5.2 ESPECTROSCOPIA DE ABSORÇÃO MOLECULAR NA REGIÃO DO INFRAVERMELHO COM TRANSFORMADA DE FOURIER (FTIR) 71 5.2.1 Correlação de Pearson 73 5.3 ANÁLISE TÉRMICA DIFERENCIAL (DTA) 74 5.3.1 Seleção dos eventos térmicos aplicável na quantificação do estradiol através do DTA 74 5.3.2 Variação da razão de aquecimento nas curvas DTA 78 5.4 CALORIMETRIA EXPLORATÓRIA DIFERENCIAL (DSC) 79 5.4.1 DSC-Convencional 79 5.4.2 DSC-Fotovisual 83 6 CONCLUSÕES 88 REFERÊNCIAS 89 APÊNDICES 97 APÊNDICE A – Gráficos do estradiol bioidêntico em diferentes massas 97 APÊNDICE B - Gráficos do estriol bioidêntico em diferentes massas 101 19 1 INTRODUÇÃO Hormônios bioidênticos são compostos químicos que têm exatamente a mesma estrutura molecular dos hormônios endógenos humanos (SOOD et al., 2011). Inúmeras formas de estrógenos e progesterona são utilizados para o tratamento da menopausa. Os defensores dos hormônios bioidênticos alegam que estes são mais seguros quando comparados com hormônios sintéticos e não-humanos (HOLTORF, 2008). A análise térmica compreende um conjunto de técnicas que permite avaliar as propriedades físicas de um fármaco enquanto ele é submetido a uma programação controlada de temperatura. A termogravimetria (TG) e a calorimetria exploratória diferencial (DSC) são utilizadas em estudos farmacêuticos para caracterização de fármacos, determinação do grau de pureza, identificação de polimorfismo, avaliação da estabilidade e na decomposição térmica de medicamentos (MENDONÇA et al., 2013). Segundo Souza (2011) estas técnicas são ferramentas amplamente empregadas para avaliar as propriedades físicas e químicas dos fármacos. Em meio ao debate sobre a eficácia e segurança dos hormônios bioidênticos, as farmácias estão manipulando esses produtos prescritos por médicos especialistas. Não há na literatura dados térmicos sobre o estradiol e estriol bioidênticos, embora seja crescente a utilização destes hormônios no Brasil. A caracterização térmica de matérias-primas, a fim de estabelecer parâmetros de qualidade, estabilidade ou compatibilidade está ligada às diversas etapas do desenvolvimento de um medicamento. Logo, a determinação de parâmetros térmicos e cinéticos, a partir das técnicas térmicas, que possam ser utilizados na manipulação ou industrialização nacional de produtos farmacêuticos contendo hormônios bioidênticos deve ser exaustivamente investigada. 20 2 REVISÃO DA LITERATURA 2.1 TERAPIA DE REPOSIÇÃO HORMONAL A menopausa é a cessação da menstruação que pode resultar da perda da função ovariana, de maneira natural ou cirúrgica ou ainda como resultado de intervenções médicas. Naturalmente, na mulher entre 40 e 50 anos, a progesterona deixa de ser sintetizada e o primeiro sintoma é a irregularidade menstrual. A essa fase inicial onde somente falta a progesterona, chama-se de climatério ou pré-menopausa. Com o passar do tempo, o estrogênio também passa a não ser mais sintetizado. Na ausência desses dois hormônios, o estrogênio e a progesterona, fica caracterizado o início da menopausa. Essas mudanças hormonais associadas à pré-menopausa e menopausa podem levar a uma variedade de sintomas que afetam negativamente a qualidade de vida das mulheres (FILES et al., 2011). Alguns desses sintomas são: os calores; alterações na pele; sintomas urinários; ressecamento vaginal; alterações de libido; insônia, irritabilidade, ansiedade, entre outros (CHERVENAK, 2009). A reposição de estrógeno e progesterona é um tratamento comum e eficaz para os sintomas associados com a menopausa, mas pode levar algum risco de efeitos colaterais potencialmente graves (THE ENDOCRINE SOCIETY, 2006). Os hormônios sintéticos são uma das ferramentas para o alívio dos sintomas da menopausa que se manifestam de maneira muito desigual e fazem parte de um contínuo processo de envelhecimento (ROZENFELD, 2007). As principais indicações da Terapia de Reposição Hormonal (TRH) são: conservação do trofismo vaginal; preservação do osso e da pele; melhora do bem-estar geral; e melhora da sexualidade (ATHAYDE, 2012). A TRH na menopausa ganhou realce em 2002, quando foram divulgados resultados parciais do estudo Women’s Health Iniciative Study Group (WHI). Este estudo, patrocinado pelo Instituto Nacional de Saúde Norte-Americano, com 16 mil mulheres, indicou que o uso dos hormônios sintéticos aumentava o risco de doenças cardiovasculares e de câncer de mama (ROZENFELD, 2007). Ele revelou um aumento no risco de câncer de mama, doenças cardiovasculares, infarto e eventos tromboembólicos 21 em mulheres que utilizavam estrógenos conjugados e acetato de medroxiprogesterona comparadas com o grupo placebo. Estes achados levaram a muitas mulheres a descontinuar a TRH tradicional, ou a buscar alternativas mais garantidas para o tratamento dos sintomas da menopausa (FILES et al., 2011). Isto criou um ambiente para a propagação nos meios de comunicação da idéia, cientificamente ainda não comprovada, de que hormônios bioidênticos são mais seguros e mais eficazes do que a terapia hormonal tradicional (THE ENDOCRINE SOCIETY, 2006). Os esquemas e as vias de administração para a TRH devem ser discutidos juntamente com as pacientes para que haja benefícios e adesão ao tratamento. Assim, em situações de falência de glândulas endócrinas,devem-se usar hormônios que sejam exatamente iguais aos produzidos pelo organismo (ATHAYDE, 2012). 2.2 TERAPIA DE MODULAÇÃO HORMONAL BIOIDÊNTICA A Anti-Aging Medicine que do inglês significa: Medicina Antienvelhecimento, nasceu há cerca de 21 anos nos Estados Unidos, porém ainda não foi reconhecida como especialidade médica no Brasil. A idéia é atuar nas causas básicas do envelhecimento, ao invés de minimizar as suas conseqüências. A proposta consiste em ajustar todos os parâmetros biológicos, metabólicos e hormonais aos mesmos níveis encontrados em um indivíduo de 25 a 30 anos, fase em que se atinge o apogeu de desempenho. Já que após essa idade começa o envelhecimento e as pausas hormonais (RACHID, 2010). O conceito prevalente é o de que a utilização de hormônios bioidênticos pode ser mais segura e eficaz do que a utilização de hormônios não-bioidênticos, uma vez que aqueles se conectam aos receptores químicos presentes na membrana das células de forma semelhante à ligação estabelecida pelos hormônios endógenos humanos (CBMAE, 2007). A medicina antienvelhecimento preconiza a Terapia de Modulação Hormonal Bioidêntica, recomendando o uso de hormônios em mulheres (a partir dos 30 anos) antes e após a menopausa, por tanto tempo quanto se fizer necessário, desde que as indicações e as necessidades clínicas justifiquem e que nenhum evento adverso ocorra que contra-indique o seu uso. Os supostos benefícios dessa nova terapia incluem: 22 manutenção da densidade mineral óssea; diminuição dos sintomas; prevenção das doenças cardiovasculares; diminuição do risco de câncer de mama; e tratamento de outras doenças e condições como insônia, obesidade, depressão, estresse, diminuição de memória e cognição (BOOTHBY; DOERING, 2008). Essa terapia tem gerado muita polêmica no Brasil o que motivou a Resolução 1999/2012 do Conselho Federal de Medicina, publicada no Diário Oficial da União de 19 de outubro de 2012. A Resolução, restringe o uso de hormônios, permitindo sua recomendação apenas para pacientes com deficiência comprovada (BRASIL, 2012). O artigo 1° estabelece: “A reposição de deficiências de hormônios e de outros elementos essenciais se fará somente em caso de deficiência específica comprovada, de acordo com a existência de nexo causal entre a deficiência e o quadro clínico, ou de deficiências diagnosticadas cuja reposição mostra evidências de benefícios cientificamente comprovados (BRASIL, 2012)”. De acordo com o artigo 2° da Resolução CFM 1999/2012 é vedada : “V. A prescrição de hormônios conhecidos como "bioidênticos" para o tratamento antienvelhecimento, com vistas a prevenir, retardar e/ou modular processo de envelhecimento, prevenir a perda funcional da velhice, prevenir doenças crônicas e promover o envelhecimento saudável (BRASIL, 2012)”. Como se pode observar a proibição é para a utilização dos hormônios bioidênticos apenas para o tratamento do envelhecimento. Assim, havendo a deficiência hormonal comprovada, os hormônios podem ser utilizados. E continuam sendo preparados nas farmácias de manipulação. O presidente da Academia Brasileira de Medicina Antienvelhecimento, acredita que a resolução é positiva para evitar exageros, mas com os avanços nos estudos, ela será revista. A proibição de medicamentos é uma tarefa do Ministério da Saúde, através da ANVISA. Portanto, seria ilegal o CFM tentar legislar e tomar para si incumbências jurídicas que não são dele. Os hormônios são legalizados no mundo inteiro, e o CFM não é o órgão competente para ditar essa regra (PERACCHI, 2012). Segundo Fugh-Berman et al. (2007), dados confiáveis não confirmam que os hormônios bioidênticos são mais seguros que outros hormônios, podendo ter os mesmos riscos das preparações comerciais. Revisões com bases científicas para o uso de terapia com hormônios bioidênticos são ainda limitados. Não há estudos com ensaios controlados 23 avaliando a farmacocinética e resultados clínicos para as preparações manipuladas de hormônios bioidênticos (IFTIKHAR et al., 2011). Ruiz et al. (2011) avaliaram em um estudo sobre preparações utilizadas na TRH bioidêntica a efetividade no tratamento dos sintomas da menopausa, os compostos mais efetivos e a segurança da terapia. Os resultados demonstraram que as preparações manipuladas na TRH bioidêntica melhoram os sintomas relacionados ao humor. Porém, estudos maiores são necessários para examinar o impacto sobre os sintomas vasomotores, infarto miocárdio e câncer de mama. 2.3 HORMÔNIOS BIOIDÊNTICOS A sociedade norte-americana de endocrinologia (THE ENDOCRINE SOCIETY, 2006) define hormônios bioidênticos como compostos que possuem exatamente a mesma estrutura química e molecular que os hormônios produzidos no corpo humano. Em contraste, os hormônios não bioidênticos, ou sintéticos, são hormônios estruturalmente diferentes dos hormônios endógenos (SOOD et al., 2011). Hormônios bioidênticos não contêm porções estruturais adicionais que podem alterar a ligação hormônio-receptor e a função no corpo humano (RUIZ et al., 2011). Os principais hormônios bioidênticos utilizados na prática médica são: estriol, estradiol, progesterona, testosterona, diidroepiandrosterona (DHEA), tiroxina, triiodotironina, hidrocortisona, pregnenolona, entre outros (CHERVENAK, 2009). O uso dos hormônios bioidênticos pode ser apropriado, pois são importantes para controlar os níveis hormonais no organismo, repondo o que falta no corpo. Mas devem ser utilizados com cautela, sendo os endocrinologistas os profissionais aptos para receitá-los de maneira correta, na dose ideal, evitando complicações futuras (CLAPAUCH, 2012). Independente da origem ou da estrutura do hormônio administrado terapeuticamente, todos os regimes de terapia hormonal, mesmo aqueles que são os chamados "personalizados", devem ser cuidadosamente controlados (THE ENDOCRINE SOCIETY, 2006). Os hormônios esteróides humanos são divididos em 5 classes principais: estrógenos, progestagênios, androgênios, mineralocorticóides e glicocorticóides. Para o 24 tratamento dos sintomas da menopausa, são utilizados mais comumente os estrógenos e progestagênios (FILES et al., 2011). 2.3.1 Principais Hormônios Estrogênios A estrutura química dos hormônios esteróides é semelhante à do colesterol, sendo na maior parte dos casos, sintetizados a partir do mesmo. São lipossolúveis e constituídos de 3 anéis ciclo-hexila e um ciclopentila, combinados em uma única estrutura (GUYTON et al., 2006), na Figura 1, tem-se a estrutura química dos hormônios bioidênticos estradiol e estriol. Os principais hormônios estrogênios (chamados de estrógenos ativos) presentes no plasma da mulher de maneira significativa são o estradiol, estriol e estrona. O principal estrogênio secretado pelo ovário é o estradiol, a estrona também é secretada (mas sua maior síntese ocorre nos tecidos periféricos). Já o estriol (menos potente) é um hormônio resultante do estradiol e estrona, sua conversão se da, principalmente, no fígado. A potência estrogênica do estradiol é 12 vezes a da estrona e 80 vezes a do estriol (GUYTON et al., 2006). Os hormônios bioidênticos são sintetizados por extração química da diosgenina presente em inhames e soja. A diosgenina é quimicamente modificada para produzir o precursor progesterona, a qual é utilizada para sintetizar estrógenos e andrógenos bioidênticos (PATTIMAKIEL et al., 2011). HO OH HO OH OH Figura 1 - Estrutura química do estradiol (1) e estriol (2). Fonte: autor O estradiol apresenta as seguintes características: pó cristalino branco ou branco creme; estável no ar; com ponto de fusão entre 173-179°C; praticamente insolúvel em 1 2 25 água e solúvel em álcool e acetona; a fórmula molecular é C18H24O2; e o peso molecular é de 272,38 g mol -1 (THE MERCK INDEX,2006). O estriol apresenta as seguintes características: pó cristalino branco ou quase branco; com o ponto de fusão 282°C, e entre 270 - 275°C, sofre um rearranjo da estrutura cristalina; praticamente insolúvel em água e solúvel em álcool e clorofórmio; a fórmula molecular é C18H24O3; e o peso molecular: 288,38 g mol -1 (THE MERCK INDEX, 2006). 2.4 PREPARAÇÕES FARMACÊUTICAS CONTENDO HORMÔNIOS BIOIDÊNTICOS O medicamento manipulado assumiu grande importância no Brasil, tanto pela oportunidade de obtenção de um produto personalizado quanto pela possibilidade de variados tipos de medicamentos a preços mais baixos que os disponibilizados pela indústria farmacêutica. E, por conseguinte, as farmácias magistrais se disseminaram por todas as cidades brasileiras (PINHEIRO, 2008). Antes do ano 2000, quando a ANVISA (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) colocou em vigor a RDC 33 (Resolução da Diretoria Colegiada n°33), o mercado magistral no Brasil apresentava-se de forma artesanal, não existiam parâmetros fixos para controlar a qualidade das preparações, causando dúvida quanto à eficácia do medicamento manipulado. Imediatamente após a sua promulgação, ocorreram dificuldades de aceitação por parte dos proprietários das farmácias, que pensavam ser um gasto desnecessário as exigências da legislação. Na realidade ocorreu uma evolução do setor, um modo legal para garantir a qualidade das preparações magistrais, fidelizar os pacientes ao uso do medicamento manipulado e garantir a saúde dos funcionários da área magistral (SZCZYPIOR, 2011). A RDC 33 deixava algumas perguntas dos farmacêuticos magistrais sem respostas, era necessário aperfeiçoar o controle de qualidade e destrinchar melhor os parâmetros que norteiam a qualidade. Assim, a partir de 2006 com a RDC 214, as farmácias magistrais passaram a obedecer às novas regras para garantir maior segurança, qualidade e eficácia das fórmulas manipuladas. O texto desta resolução traz exigências para armazenamento, avaliação farmacêutica da prescrição, fracionamento, conservação, transporte, dispensação das formulações e atenção farmacêutica aos 26 usuários. Em 8 de outubro de 2007 entra em vigor a RDC 67 e são revogadas as anteriores. A nova resolução modifica e/ou esclarece alguns pontos publicados na RDC 214 (SZCZYPIOR, 2011) e dispõe sobre Boas Práticas de Manipulação de Preparações Magistrais e Oficinais para Uso Humano em farmácias. A RDC 67 define as boas práticas de manipulação em farmácias (BPMF) como um conjunto de medidas que visam assegurar que os produtos sejam consistentemente manipulados e controlados, com padrões de qualidade apropriados para o uso pretendido e requerido na prescrição (BRASIL, 2007). No caso de fórmulas contendo hormônios, a RDC 67 determina que a manipulação deve ser realizada em sala específica, dotada de antecâmara com sistema de ar independente e eficiência comprovada. Deve possuir pressão negativa em relação às áreas adjacentes, sendo projetada de forma a impedir o lançamento de pós no laboratório ou no meio ambiente, evitando contaminação cruzada, protegendo o manipulador e o meio ambiente (BRASIL, 2007). Um aspecto muito importante a ser observado, é que se desconhecem todas as possíveis reações de incompatibilidades que podem ocorrer entre as substâncias. Nas farmácias preparam-se desde florais de Bach até anticonvulsivantes e hormônios. Além disso, o setor encontra uma grande dificuldade em determinar o prazo de validade real de uma preparação magistral, visto que os medicamentos manipulados, como não necessitam de registro, não passam por estudos de pré-formulação para avaliação da qualidade, da eficácia e da segurança (PINHEIRO, 2008). Ainda, segundo Pinheiro (2008), a maioria dos testes de controle de qualidade que são realizados rotineiramente nas indústrias farmacêuticas, lote a lote, não é viável de ser executado nas farmácias a cada preparação. Isto ocorre, pois alguns testes são destrutivos, o que implicaria em dobrar, ou até triplicar a quantidade da preparação prescrita, para possibilitar sua realização; estes demandariam tempo e implicariam em demora na entrega do medicamento ao paciente. Na farmácia, mais importante que o controle de qualidade do produto acabado, é o controle de processos, a validação e a padronização dos procedimentos, além da identificação das etapas que representam risco à qualidade final da preparação. A determinação do prazo de validade dos medicamentos deve ser baseada na avaliação físico-química dos fármacos e considerações sobre sua estabilidade. As fontes de informações sobre a estabilidade físico-química devem incluir referências de 27 compêndios oficiais, recomendações dos produtores das mesmas e publicações em revistas indexadas (BRASIL, 2007). A RDC 67 trouxe maior rigor para as diferentes etapas que envolvem o processo de manipulação, principalmente com relação ao monitoramento do processo magistral das formas farmacêuticas sólidas, cuja unidade farmacotécnica contenha fármacos em quantidade igual ou inferior a 25 mg (vinte e cinco miligramas) (PINHEIRO, 2008). São exigidas análises periódicas e programadas de teor e uniformidade de conteúdo, avaliando-se as formulações preparadas por diferentes manipuladores, diferentes fármacos e concentrações. As análises, devem ser realizadas em laboratório analítico próprio ou terceirizadas (preferencialmente da Rede Brasileira de Laboratórios em Saúde - REBLAS) (BRASIL, 2007). A terceirização é permitida para determinadas análises exigidas, pois segundo Pinheiro (2008), algumas análises necessitam de equipamentos sofisticados, profissionais capacitados, portanto, grandes investimentos, o que nem sempre condiz com a realidade de uma farmácia magistral. No Brasil, o termo hormônio bioidêntico vem gerando controvérsias, pois tem sido utilizado apenas para os hormônios manipulados, como se fossem novas opções de tratamento quando, na verdade, há hormônios bioidênticos produzidos em indústrias farmacêuticas e disponíveis nas farmácias (CLAPAUCH, 2012). Preparações manipuladas de hormônios bioidênticos oferecem benefícios quando se compara com preparações hormonais industrializadas, como: larga margem de variação nas dosagens; uso de veículos excipientes especiais; concentração e composição individualizadas. Essas vantagens permitem que se atinja o objetivo terapêutico de uma forma mais rápida, fisiológica e específica, respeitando as necessidades individuais de cada pessoa, elementos que, notoriamente, asseguram maior tolerabilidade, menor incidência de efeitos adversos e maior eficácia terapêutica (CBMAE, 2007). As preparações manipuladas permitem criação de formulações que não estão disponíveis comercialmente, como por exemplo, associação de princípios ativos em uma mesma cápsula ou fazer uma preparação tópica de um fármaco disponível somente na forma oral (FUGH-BERMAN et al., 2007). Os estrógenos comerciais para terapia são encontrados nas formas farmacêuticas orais, transvaginais (cremes, comprimidos e anéis), transdérmicos (géis, cremes e 28 patches) e implantes subcutâneos (PATTIMAKIEL et al., 2011). No Brasil, na forma de comprimidos isolados, tem-se o Estrofem® e Natifa® contendo estradiol, e Ovestrion®, contento estriol (ANVISA, 2013). A estrona não é comumente manipulada. As preparações manipuladas geralmente são cápsulas e géis transdérmicos. Algumas preparações manipuladas associam o estriol e estradiol em proporções de 8:1 ou 9:1 (PATTIMAKIEL et al., 2011). A produção de hormônios bioidênticos no Brasil já é feita, por algumas empresas bem específicas, que possuem know-how, base tecnológica, controles de segurança, garantia de pureza, estabilidade e procedência das matérias-primas (CBMAE, 2007). 2.5 AS TÉCNICAS TÉRMICAS E SUAS APLICAÇÕES A instrumentaçãodas técnicas térmicas evoluiu extraordinariamente em virtude de vários fatores, dentre os quais se destacam: os progressos globais da ciência e da tecnologia que permitiram o aperfeiçoamento contínuo da instrumentação básica; e a redescoberta das potencialidades de aplicação desses métodos nos mais variados setores científicos, tecnológicos e de produção de bens de consumo (IONASHIRO, 2004). As aplicações da análise térmica estendem-se às áreas de metais, cerâmica, materiais eletrônicos, polímeros, substâncias orgânicas e inorgânicas, produtos farmacêuticos, produtos alimentares e organismos biológicos (OZAWA, 2000a). A definição aceita de Análise Térmica, como dada por Mackenzie e a Confederação Internacional de Análise Térmica e Calorimetria (ICTAC) é: “Um grupo de técnicas nas quais uma propriedade física de uma substância e/ou seus produtos de reação é medida como função da temperatura, enquanto a substância é submetida a um programa controlado de temperatura”. Por esta definição, para que uma técnica térmica possa ser considerada como termoanalítica, três critérios devem ser satisfeitos: 1) Uma propriedade física tem que ser medida, 2) A medida deve ser expressa (direta ou indiretamente) como função da temperatura, 3) A medida tem que ser feita sob um programa controlado de temperatura (IONASHIRO, 2004). As técnicas térmicas mais difundidas e utilizadas são: Análise Termogravimétrica (TGA), Termogravimetria Derivada (DTG), Análise Térmica Diferencial (DTA), Calorimetria 29 Exploratória Diferencial (DSC), Detecção de gás desprendido (EGA), Análise termomecânica (TMA). Estas técnicas permitem obter informações com respeito à: variação de massa, estabilidade térmica; pureza, ponto de fusão, ponto de ebulição, calores de transição, calores específicos, diagramas de fase, cinética da reação, estudos de catalisadores, transições vítreas, entre outras (IONASHIRO, 2004). A termogravimetria, a análise térmica diferencial e a calorimetria exploratória diferencial são ferramentas amplamente empregadas para avaliar as propriedades físicas e químicas dos fármacos (SOUZA, 2011). A análise térmica pode ser utilizada tanto no controle da matéria-prima, quanto do produto acabado, possuindo potencial de emprego no desenvolvimento e na caracterização de novos produtos, avaliação dos processos produtivos, além da análise capilar e outras aplicações (SILVA et al., 2007). Hatakeyama (1999) descreve algumas das vantagens da análise térmica sobre outros métodos analíticos: a amostra pode ser estudada sobre uma grande faixa de temperatura usando vários programas de temperatura; quase todas as formas físicas da amostra (sólido, líquido ou gel) podem ser usadas; uma pequena quantidade de amostra (0,1 µg – 10 mg) é requerida; a atmosfera na vizinhança da amostra pode ser padronizada; o tempo requerido para completar o período de experimento é de alguns minutos a algumas horas; e os instrumentos de análise térmica têm preços razoáveis. A ocorrência de interações no estado sólido entre fármacos e excipientes em formas farmacêuticas sólidas pode ocasionar mudanças na estabilidade, solubilidade, dissolução e biodisponibilidade dos fármacos. A técnica de DSC associada às técnicas TG/DTG tem-se mostrado de muita utilidade nos estudos de pré-formulação na investigação e predição de incompatibilidades físico-químicas entre fármacos e excipientes (SOUZA, 2011). A utilização de dados térmicos em associação com outras técnicas, como as cromatográficas, bem como estudos microbiológicos e farmacológicos possibilitam a escolha de modelos analíticos mais eficientes e rápidos na validação de medicamentos alopáticos e fitoterápicos (ARAGÃO et al., 2006). As possíveis interações químicas existentes entre as matérias-primas e os adjuvantes técnicos e terapêuticos podem ser detectadas através das curvas termogravimétricas e do controle de qualidade farmacológico. Estudos de estabilidade 30 térmica podem ser utilizados na determinação do prazo de validade de matérias-primas e produtos acabados (ARAGÃO et al., 2006). A TGA, DTA e DSC para estudo de pré-formulação ou compatibilidade fármaco- excipiente vêm ganhando importância crescente no Brasil (ALVES, 2008). No âmbito farmacêutico, a relevância da análise térmica para o futuro da indústria farmacêutica é crescente, demonstrada através: da caracterização dos fármacos com seus eventos térmicos definidos; estudos de pureza de fármacos realizados por TGA e DSC; estudos de polimorfismo por DSC; estudos de compatibilidade por DSC. Esses estudos têm sido largamente utilizados nas últimas décadas como uma ferramenta para avaliação de pré-formulações e, definição da estabilidade dos fármacos e da formulação farmacêutica, acarretando até mesmo em definições sobre as condições de armazenamento do medicamento (OLIVEIRA et al., 2011). Vários trabalhos têm sido desenvolvidos envolvendo as técnicas térmicas tanto na área de fármacos como também em outras áreas, mostrando que a análise térmica é útil para o controle de qualidade, na quantificação de substâncias ativas e em estudos de estabilidade e compatibilidade. Souza et al. (2012), partir do uso da TGA, da DTA e da DSC, realizaram estudos termoanalíticos nos medicamentos utilizados para combater a osteoporose, e compararam os resultados obtidos em relação ao teor de cálcio, empre- gando termogravimetria e espectrometria de emissão óptica com plasma indutivamente acoplado. Lavor et al. (2012) avaliaram o comportamento térmico de tuberculostáticos por DSC, TGA/ DTG e DTA, a fim de prever a possibilidade de interações físicas e químicas entre os fármacos. Pereira et al. (2009) através da termogravimetria determinaram o teor de cálcio em cascas de ovos, comprovando a eficácia da TGA na quantificação de cálcio através de análises por fotometria de chama e titulação complexiométrica. Os métodos analíticos recomendados pelas farmacopéias são específicos para matéria-prima e princípios ativos isolados e puros. Dependendo da complexidade da formulação farmacêutica, os processos de separação do princípio ativo podem consumir um tempo relativamente longo e, por conseguinte, tornar mais oneroso os custos do controle dos processos de produção do medicamento, realizado pelo monitoramento da qualidade dos produtos intermediários (GIRON, 2000). 31 2.5.1 Análise Termogravimétrica Segundo Ionashiro (2004) foram muitos anos de pesquisa em tentativas para se chegar a um conhecimento detalhado sobre as alterações que o aquecimento pode provocar na massa das substâncias, a fim de se poder estabelecer a faixa de temperatura em que se começa a decompor, bem como para se seguir o andamento de reações de desidratação, oxidação, decomposição, entre outros. Surgindo assim a termogravimetria, que é a técnica de análise térmica em que a variação de massa da amostra é determinada como uma função da temperatura, ou tempo de aquecimento, utilizando um programa controlado de temperatura (FARMACOPÉIA BRASILEIRA, 2010). Os métodos termogravimétricos, Figura 2, podem ser classificados como: dinâmico (ou não-isotérmico) em que a perda de massa é registrada continuamente à medida que a temperatura aumenta a uma razão constante ou linear; Isotérmico, quando a variação de massa da amostra é registrada em função do tempo mantendo-se a temperatura constante; e quasi-isotérmico, no momento em que a amostra começa a perder massa a temperatura é mantida constante até que a massa se estabilize, quando isto ocorre, o aquecimento é retomado, este procedimento pode se repetir em cada etapa da decomposição térmica (LOPES, 2005). Alguns fatores podem influenciar o aspecto das curvas TG, estes podem ser instrumentais e/ou ligados às características da amostra. Dentre os fatores instrumentais, tem-se a razão de aquecimento do forno, atmosfera doforno, geometria do suporte de amostras e do forno. Já os fatores relacionados às características da amostra são: tamanho de partículas; quantidade de amostra; solubilidade dos gases liberados na própria amostra; calor de reação; compactação da amostra; natureza da amostra; e condutividade térmica da amostra. É muito importante o conhecimento detalhado, por parte do operador, da ação destes fatores, para que se possa tirar o máximo proveito das curvas obtidas (MATOS, 2009). Nas curvas TG, a perda de massa (expressa no eixo vertical em percentagem) é caracterizada por duas temperaturas (no eixo horizontal) Ti e Tf. De acordo com Giolito e Ionashiro (1980), Ti é a temperatura inicial de decomposição e Tf é a temperatura final. A temperatura inicial de decomposição é a temperatura na qual a variação de massa acumulada atinge o valor que a termobalança é capaz de detectar. A temperatura final é a 32 temperatura na qual a variação de massa acumulada atinge seu valor máximo de degradação, correspondendo ao término da reação. A diferença entre essas duas temperaturas (Tf-Ti) é chamada de intervalo de reação. Segundo Matos et al. (2009) a temperatura em que se inicia a perda de massa é a temperatura inicial do evento, ou seja, o ponto onde a amostra deixou de ser estável termicamente e iniciou a liberação de substâncias voláteis. A temperatura onset (T onset) corresponde ao início extrapolado do evento térmico, e na prática é utilizada nas análises das curvas, pois é mais fácil de ser determinada que a temperatura inicial. Já a temperatura de pico (ponto de inflexão da curva TG) é o momento em que a massa está variando mais rapidamente. A temperatura final, indica o final da etapa de perda de massa (liberação total das substâncias voláteis), e a temperatura endset (T endset) será o final do evento térmico extrapolado. Figura 2 - Representação das curvas TG dinâmica e TG isotérmica. Fonte: Adaptado de Aragão (2002) Nas curvas termogravimétricas, os degraus em relação ao eixo das ordenadas, representam às variações de massa sofridas pela amostra e permitem a obtenção de dados que podem ser utilizados com finalidades quantitativas (ALVES, 2007). A TG é uma técnica analítica quantitativa e qualitativa, capaz de produzir resultados rápidos e reprodutíveis. Ela pode ser usada no controle de qualidade de medicamentos e no melhoramento do produto final (ARAGÃO et al., 2006). Segundo Matos et al. (2009), outro dado importante obtido através da curva TG é a curva termogravimétrica derivada (DTG). A DTG expressa a derivada primeira da variação de massa (m) em relação ao tempo (dm/dt), sendo registrada em função do tempo ou temperatura. Na curva DTG são obtidos picos cujas áreas são proporcionais a variação 33 de massa da amostra, apresentando informações mais facilmente visualizadas (como eventos sobrepostos) que em uma curva TG. Para fins farmacêuticos, o uso da termogravimetria é descrito na caracterização, determinação de pureza e de umidade, identificação de pseudopolimorfismo, na avaliação da estabilidade de fármacos e medicamentos e em estudos de cinética de degradação (OLIVEIRA et al., 2011). Outro grande potencial da termogravimetria é na caracterização, na diferenciação e na detecção de traços de pseudopolimorfos em uma amostra (GIRON, 1995). Além de alterações nas propriedades físico-químicas, o polimorfismo pode ocasionar alterações na estabilidade química, principalmente para os compostos com predisposição à degradação no estado sólido (ARAÚJO, 2009). As formas polimórficas podem influenciar diretamente na liberação do fármaco, na estabilidade no estado sólido e na biodisponibilidade dos componentes farmacológicos. Para um efetivo uso clínico dos fármacos a determinação do polimorfismo é um recurso necessário (JEONG-SOOK et al., 2005). Trabalhos sobre a cristalização do estradiol em patches transdérmicos, mostram que o fármaco tende a se cristalizar em mais de uma forma polimórfica, quando armazenado por longos períodos de tempo (JEONG-SOOK et al., 2005). Araújo (2009) realizou a caracterização dos polimorfos da tibolona, um hormônio esteróide sintético, através de técnicas como TG, DSC, DRX, MEV, FTIR e microscopia de Raman. 2.5.2 Análise Térmica Diferencial A DTA é uma técnica onde a diferença de temperatura entre a substância de referência (termicamente estável) é medida em função da temperatura da referência (forno), enquanto a substância e o material de referência são submetidos a uma programação controlada de temperatura. O registro é a curva DTA, e as diferenças de temperatura devem ser colocadas em ordenadas, com as reações endotérmicas voltadas para baixo e o tempo ou temperatura em abscissas, com valores crescentes da esquerda para a direita (GIOLITO; IONASHIRO, 1980). A Figura 3 apresenta um esquema de uma curva DTA típica, onde se tem um evento endotérmico representado para baixo e um exotérmico, para cima, em função da temperatura. 34 Figura 3 - Esquema de uma curva DTA típica. Fonte: autor A TG e a DTA podem ser associadas em um mesmo equipamento, sendo chamadas de técnicas simultâneas. Segundo Giolito e Ionashiro (1980) técnicas simultâneas é um termo utilizado quando há aplicação de duas ou mais técnicas ao mesmo tempo sobre a mesma amostra. Através das técnicas DTA e DSC, podem-se acompanhar os efeitos de calor associados com alterações físicas ou químicas da amostra, tais como transições de fase (fusão, ebulição, sublimação, congelação, inversões de estruturas cristalinas) ou reações de desidratação, de dissociação, de decomposição, de óxido-redução, entre outras, capazes de causar variações de calor. Em geral transições de fase, desidratações, reduções e certas reações de decomposição produzem efeitos endotérmicos, enquanto que cristalizações, oxidações, algumas reações de decomposição produzem efeitos exotérmicos (IONASHIRO, 2004). 2.5.3 Calorimetria Exploratória Diferencial Calorimetria exploratória diferencial (DSC) é uma técnica na qual se mede a diferença de energia fornecida à substância e a um material de referência, termicamente inerte, em função da temperatura enquanto a substância e o material de referência são submetidos a uma programação controlada de temperatura (IONASHIRO, 2004). 35 Figura 4 - Compartimento do DSC, onde: (1) cadinho com amostra, (2) cadinho referência, (3) forno DSC, (4) aquecimento, (5) sensor; Curva DSC típica. Fonte: Adaptado de Aragão (2002) A DSC é uma técnica derivada da DTA, sendo consideradas complementares, já que permitem avaliar as variações entálpicas que ocorrem a uma dada substância durante um processo de aquecimento ou resfriamento (MATOS et al., 2009). De acordo com o método de medição utilizado, há duas modalidades: calorimetria exploratória diferencial com compensação de potência e calorimetria exploratória diferencial com fluxo de calor (IONASHIRO, 2004). Na DSC de fluxo de calor, a amostra e a referência são colocadas em cápsulas idênticas, que se alojam em um disco termoelétrico e são aquecidas por uma mesma fonte de calor. A transferência de calor que ocorre do disco para as cápsulas é controlada por meio de termopares conectados ao disco. A variação da temperatura, em um dado momento, é proporcional à variação da entalpia, à capacidade calorífica e à resistência térmica total ao fluxo calórico (JUNIOR, 2004). Na DSC de compensação de potência um calorímetro mede diretamente a energia envolvida nos eventos térmicos e a amostra e a referência sofre resfriamento ou aquecimento em fornos idênticos, mas separados, em condições sempre isotérmicas. Quando a amostra sofre alteração temperatura (evento endotérmico ou exotérmico) os termopares detectam esta diferença entre ela e a referência e o equipamento, automaticamente, modificaa potência de entrada de um dos fornos de modo a igualar a temperatura de ambos (JUNIOR, 2004). Quando uma amostra sofre algum tipo de mudança de estado físico ou químico, ocorre a liberação ou absorção de calor. A DSC mede as variações de energia térmica para manter em equilíbrio as temperaturas da amostra e do material de referência, durante o evento térmico (SOUZA, 2011). Na área farmacêutica a DSC é utilizada na caracterização térmica e determinação da pureza de fármacos, estudos de compatibilidade entre os constituintes da formulação e 36 identificação de polimorfismo com determinação das entalpias de cada forma cristalina (OLIVEIRA et al., 2011). 2.6 CINÉTICA DE DEGRADAÇÃO FÁRMACOS A crescente utilização das análises térmicas, tanto na área acadêmica quanto na industrial, tem sido um dos principais motivos de se tentar elucidar a cinética e o mecanismo dos processos de decomposição térmica de sólidos. Estes estudos vêm sendo realizados através da técnica termogravimétrica. Marian et al.(2013) mostram que as técnicas termoanalíticas vêm se tornando essenciais para a obtenção dos dados experimentais, principalmente pelo fato de fornecerem informações, muitas vezes ausentes nos métodos convencionais, através de quantidades mínimas de amostra. Inicialmente, com o auxílio da curva TG dinâmica, determina-se a faixa de temperatura de decomposição da substância, em seguida, são traçadas entre 5 a 10 curvas isotérmicas: estas são submetidas aos ajustes dos principais modelos cinéticos de decomposição térmica de sólidos utilizando-se o método de regressão linear. Após a escolha do melhor modelo cinético, são determinados os principais parâmetros cinéticos: constante de velocidade (k), energia de ativação (E) e fator pré-exponencial (A). Defini-se energia de ativação como sendo a energia necessária para que uma reação química ocorra, isto é a energia necessária para mover os reagentes através de uma “barreira energética” de forma que a reação possa iniciar (LEIVA, 2005). A determinação dos parâmetros cinéticos por termogravimetria pode ser feito pelos métodos isotérmicos e dinâmicos. No método isotérmico para acompanhar a cinética de reação de decomposição no estado sólido são traçados vários gráficos de fração decomposta (α) versus o tempo (t), mantendo-se constantes as temperaturas na região de interesse. Sendo necessário tempo relativamente longo para obtenção dos dados (SALVIO NETO, 2010). A determinação dos parâmetros cinéticos pelo método não- isotérmico apresenta uma série de vantagens quando comparada ao método isotérmico: uma única curva TG é suficiente para determinar parâmetros cinéticos; a cinética pode ser calculada de forma contínua sobre uma faixa de temperatura; a temperatura de início da 37 decomposição é determinada com bastante precisão; uma quantidade limitada de dados é suficiente para o estudo (LEIVA, 2005). Além da energia de ativação os outros parâmetros cinéticos são normalmente utilizados para se prever o comportamento térmico de um sistema reacional tais como o fator pré-exponencial que representa a freqüência das colisões efetivas entre as moléculas e, a constante da taxa a uma determinada temperatura. Todos estes parâmetros podem ser obtidos a partir de ensaios experimentais e a análise térmica apresenta-se como ferramenta útil possibilitando tais determinações (LEIVA, 2005). A ordem de reação pode ser definida como a variação da velocidade de reação com a concentração dos reagentes. A cinética de reações com decomposição de fármacos e medicamentos pode ser classificada da seguinte maneira: reações de ordem zero, reações de primeira ordem e de segunda ordem (SALVIO NETO, 2010). A reação de ordem zero ocorre quando a perda ou decomposição do fármaco independe da concentração do reagente e é constante em relação ao tempo. A cinética de primeira ordem pode ser observada quando a degradação do fármaco for diretamente proporcional à concentração remanescente com relação ao tempo. Já a cinética de segunda ordem é verificada quando a velocidade de reação for proporcional ao quadrado da concentração atual do produto (SALVIO NETO, 2010). Os métodos cinéticos podem contribuir para a elucidação de alguns mecanismos de reação, ajudando na investigação de novos métodos de análise ou até mesmo para descoberta de novas tecnologias (MARIAN et al., 2013). Na literatura encontram-se alguns trabalhos envolvendo análise térmica e estudos cinéticos. Leite et al. (2012) caracterizaram cristais de nifedipino através estudos de estabilidade térmica (por TG e DSC) e cálculo de parâmetros cinéticos (energia de ativação, ordem de reação e fator de freqüência), dissolução e utilização de técnicas espectroscópicas (FTIR e DRX). Campanella et al. (2011) analisaram a estabilidade térmica do ácido acetilsalicílico e de duas formulações contendo o fármaco, determinando os parâmetros cinéticos de energia de ativação, fator de freqüência e a constante cinética. Sovizi (2010) determinou os parâmetros cinéticos tais como energia de ativação e fator de frequência para o naproxeno e celecoxib, encontrando que o naproxeno é termicamente mais estável que o celecoxib. Aragão et al. (2006) determinaram os dados cinéticos de energia de ativação, ordem de reação e fator de frequência, através de métodos 38 termogravimétricos, para a Aloe barbadensis e da Conyza bonariensis. Rodrigues et al. (2005), através do método termogravimétrico isotérmico, calcularam o valor da energia de ativação e estabilidade térmica em dias para a zidovudina. O estudo cinético por TG não objetiva a substituição ou a isenção dos estudos de estabilidade comumente realizados, procura-se ressaltar as vantagens relacionadas à simplicidade e rapidez da técnica, em relação aos onerosos estudos de estabilidade. Desta forma a utilização da análise térmica traduz uma alternativa de incontestável interesse no campo farmacêutico (RODRIGUES et al., 2005). O tratamento matemático das equações não-isotérmicas é realizado de acordo com os três métodos propostos na literatura (WENDLANT, 1986): Diferencial; Aproximação e Integral. Além destes métodos se utiliza também o método proposto por Ozawa para determinação dos parâmetros cinéticos (LOPES, 2005). Os métodos integrais se originam das diferentes aproximações propostas para resolver a integral de p(x). Dentre estes métodos, o mais largamente aplicado e o mais simples é o de COATS e REDFERN (1964). O método é aplicado para dados TG/DTG assumindo diferentes ordens de reação. As equações 1 e 2 são as utilizadas: Para n = 1: ( ) RT E E AR T 303.2 log 1ln log 2 −= −− φ α (1) Para n ≠ 1: ( ) ( ) RT E E AR nT n 303.2 log 1 11 log 1 2 −= − −− − φ α (2) O outro método integral utilizado foi o proposto por MADHUSUDANAN et al. (1993) onde a energia de ativação pode ser calculada, utilizando-se as equações 3 e 4. Para n = 1: ( ) RT E R E R AR T 12040.0ln9206.102.0ln 1ln ln 9206.1 −−+= −− φ α (3) Para n ≠ 1: ( ) ( ) RT E R E R AR nT n 1204.0ln9206.17678.3ln 1 11 ln 9206.1 1 −−+= − −− − φ α (4) 39 O método de aproximação de VAN KREVELEN é baseado na integração aproximada da equação (5), resultando numa relação linear, a partir da qual a energia de ativação e o fator pré-exponencial podem ser facilmente determinados (VAN KREVELEN et al., 1951). As equações 6 e 7 usadas são as seguintes: ( ) ( ) →= − dTe A f d RT E φα α ( ) ( ) ( ) ∫∫ −= = == T RT E dTe A g f d 0 1 0 α α φ α α α. . Para n = 1: ( )[ ] ( ) TERT RT ET A s s RT E s s log1 1 1368.0 log1lnlog ++ + =−− φ α (6) Para n ≠ 1: ( ) ( ) TERT RT ET A n s s RT E s n s log1 1 1368,0 log 1 11 log 1 ++ + = − −− − φ α (7) Outro método de aproximação utilizado é o de Horowitz-Metzger. Neste método um gráfico de ln(1-α) é plotado em função da Φ, resultando numa reta cuja inclinação é dada por E/RTs (HOROWITZ e METZGER, 1963). As equações 8 e 9 utilizadas são: Para n = 1: ( )[ ] sRT Eθ α =−− 1lnln (8) Para n ≠ 1: ( ) s n RT E n θα = − −− − 1 11 ln 1 (9) No método de Ozawa (OZAWA, 1965), a equação utilizada é: RT E Rg AE 4567.0315.2 )( loglog −− = α φ (10) Onde: α = fração decomposta, T = Temperatura, A = fator de frequência, R = constante dos gases, E = energia de ativação, φ = razão de aquecimento, Ts = temperatura do pico. (5) 40 Na determinação do processo de decomposição dos fármacos, a análise cinética será baseada no “método ajustado”, onde se utiliza equações de ordem zero, primeira ordem e segunda ordem para determinar qual melhor se ajusta à equação de Arrhenius. Para a reação de ordem zero (Equação 11), relaciona-se a massa em função do tempo de acordo com a equação: ktmm −= 0 (11) Para a reação de primeira ordem, a equação 12, relaciona o logaritmo da massa em função do tempo: ktmm −= 0lnln (12) E para a reação de segunda ordem (equação 13), relaciona-se o inverso da massa em função do tempo: kt mm += 0 11 (13) 2.7 DETERMINAÇÃO DA PRESSÃO DE VAPOR POR TERMOGRAVIMETRIA Evaporação pode ser definida como uma transição da fase líquida para a fase de vapor, sem mudança na composição química. Fatores tais como a pressão de vapor de uma substância, peso molecular, quantidade de área de superfície exposta,entre outros, podem alterar o perfil de evaporação. O fator primário que influencia, entretanto, são as condições de aumento da temperatura na qual a amostra é submetida. Os parâmetros de evaporação podem ser determinados pela razão de perda de massa como uma substância sofre uma transição de fase de líquido para vapor. Isto pode ser alcançado com o programa de aumento da temperatura na análise termogravimétrica (HAINES, 1995). Alguns trabalhos mostram a utilização da termogravimetria na determinação da pressão de vapor. Portela et al. (2012), determinaram a pressão de vapor do ácido lipóico por termogravimetria e consideraram esta, uma técnica rápida e eficiente para determinação das características de vaporização da amostra estudada. Hazra et al. 41 (2004), utilizaram as técnicas térmicas na determinação da pressão de vapor e entalpia de vaporização de componente de fragrância, como o álcool e na caracterização de óleos essenciais e seus componentes chave. Chartejee et al. (2002), desenvolveram um método para avaliar as características de evaporação de um ingrediente na formulação através do método termogravimétrico, usando a equação de Antonie como ferramenta analítica. As curvas de pressão de vapor por termogravimetria foi utilizada como método conveniente e rápido na caracterização de outros sólidos farmacêuticos. Os compostos estudados por Chartejee et al. foram o orto-, meta- e para-derivados dos ácidos hidróxi- e amino- benzóico. Para Charterjee et al. (2001), as principais vantagens do método termogravimétrico usado para construir as curvas de pressão de vapor são: quantidades pequenas de amostras (geralmente entre 0,5 -10 mg); o tempo de experimento efetivo é relativamente curto; e a validação com os resultados experimentais atuais calculados através de métodos tradicionais é bastante preciso. O método para construção das curvas de pressão de vapor usando TG é somente válido para processos de ordem zero. Dessa forma, pode-se determinar a ordem para a cinética de reação de evaporação, para ordem zero, utilizando a equação de Arrhenius (HAZRA et al., 2004) seguinte: RTEvap vap Aek /−= (14) Em que Evap é a energia de vaporização, A é o fator pré-exponencial, R é a constante universal dos gases, T é a temperatura absoluta e kvap é o coeficiente de evaporação. A determinação dos valores da pressão de vapor para um sistema de componente simples é validada com o uso de duas equações, de Antoine e de Langmuir. A equação de Antoine (HAZRA et al., 2004) é apresentada como se segue: )(log CTBAP +−= (15) Em que P é a pressão de vapor (em PA), T é a temperatura absoluta (em Kelvin), e A, B e C são as constantes empíricas de Antoine, sob um dado intervalo de temperatura. Estas constantes são empíricas e nenhum significado físico pode ser atribuído aos dados dela, 42 mas podem ser utilizadas para definir a pressão de vapor em um intervalo de temperatura especificado (GOMES, 2006). Nem sempre se têm as constantes de Antonie para todos os compostos, desta forma é possível utilizar um composto cujas constantes já são bem definidas e utilizá-lo para calibração. Isto é feito construindo às curvas de pressão do composto utilizando as constantes de Antonie e determinando o valor de ‘k’ da equação de Langmuir que é apresentada a seguir: (HAZRA et al., 2004) )2/(/ RTMPdtdm πα= ............. ............... (16) Em que (dm/dt) é a velocidade de perda de massa por unidade de área, P é a pressão de vapor, α é a constante de vaporização e M é a massa molar da amostra de vaporização. A equação de Langmuir pode ser modificada para obter os valores de pressão de vapor de vários componentes simples. Podendo ser feita seguinte modificação (HAZRA et al., 2004): ( )[ ] ( ) ( )[ ] υπα .//.2 2/12/11 kdtdmMTRP == − (17) ( ) 2/11 2 Rk πα −= (18) ( ) ( )dtdmMT // 2/1=υ (19) O valor de k é considerado constante num determinado intervalo de temperatura pois π e R são constantes, bem como α que é uma constante e que define o comportamento de vaporização, independente do material utilizado. Já ט não é constante pois apresenta os valores de T que corresponde a um intervalo crescente de temperatura e M que corresponde a massa em mg a ser vaporizada no respectivo intervalo de temperatura, apesar de dm/dt definir a variação de perda de massa num intervalo específico que é considerado constante (GOMES, 2006). A partir desta conclusão é possível obter os dados para o padrão nas várias condições ambientais e utilizar os dados de perda de massa de um intervalo específico de temperatura, adicionar na equação modificada e construir os gráficos de P versus, cuja equação da reta dá o valor de k. O valor de k define um comportamento constante atribuído ao padrão num intervalo específico que apresenta uma característica de perda de massa relacionada ao processo de vaporização. Logo, é possível utilizar os valores de k do padrão para construção das curvas de pressão de vapor de qualquer amostra nas 43 mesmas condições e que apresentem perdade massa atribuída também ao processo de vaporização. Isto é confirmado quando se determina a ordem da reação que deve ser de ordem zero, parâmetro imprescindível para a vaporização (GOMES, 2006). 2.8 AVALIAÇÃO DA PUREZA POR DSC A avaliação da pureza por DSC pode ser realizada pelo acompanhamento da curva DSC, observando a presença dos eventos térmicos característicos do fármaco, ou utilizando uma determinação quantitativa pelo método da Equação de Van’t Hoff, que determina a pureza a partir do pico de fusão do analito (OLIVEIRA et al., 2011). Ainda segundo Oliveira et al., na avaliação de pureza absoluta pelo método da Equação de Van’t Hoff, sabe-se que quanto maior a concentração de impurezas na amostra, menor é o ponto de fusão e mais larga é a faixa de fusão. Os dados obtidos numa curva de DSC referem-se à faixa de fusão e o calor de fusão do analito (∆Hf) e a interpretação da pureza por DSC baseia-se em uma modificação da Equação de Van’t Hoff (20): F x H XRT TT f o os 11 2 ∆ −= (20) Onde: Ts = temperatura da amostra (K); To = temperatura de fusão teórica do analítico puro (K); R = constante universal dos gases (8,314 J mol-1 K-1); X1 = fração molar da impureza; ∆Hf = calor de fusão do componente principal puro (J mol -1) e F = fração da amostra que fundiu em Ts. Aplicando a Equação de Van’t Hoff, determinam-se alguns parâmetros de pureza, como a fração molar de impureza (X1) e o ponto de fusão teórico do analito puro (To), determinando a pureza absoluta ao final do processo (OLIVEIRA et al., 2011). A pureza da zidovudina com análise por DSC foi relatada por Rodrigues et al. (2005) com a utilização da Equação de Van’t Hoff . Macedo et al. (2000) compararam os métodos oficiais de determinação de pureza estipulados nas farmacopéias, para os 44 fármacos anti-hipertensivos captopril, propranolol e nifedipino, com a DSC utilizando a Equação de Van’t Hoff e demonstraram não haver diferenças estatísticas entre eles. 2.9 ESPECTROSCOPIA DE ABSORÇÃO MOLECULAR NA REGIÃO DO INFRAVERMELHO COM TRANSFORMADA DE FOURIER (FTIR) As técnicas espectrofotométricas estão fundamentadas na absorção da energia eletromagnética por moléculas que depende tanto da concentração quanto da estrutura das mesmas. De acordo com o intervalo de freqüência da energia eletromagnética aplicada, a espectrofotometria de absorção pode ser dividida em ultravioleta, visível e infravermelho. A identificação de diversas substâncias farmacêuticas pode ser feita utilizando as regiões ultravioleta, visível, infravermelho médio e infravermelho próximo (FARMACOPÉIA BRASILEIRA, 2010). A energia total da molécula envolve a energia derivada da vibração (energia vibracional, devido ao movimento relativo de átomos ou grupos de átomos constituintes da molécula); da rotação (energia rotacional, devido à rotação da molécula em torno de um eixo) e, normalmente, da energia eletrônica, gerada pela configuração de elétrons na molécula. No caso do Infravermelho médio (MIR), ocorrem somente transições de energia vibracional. As vibrações induzidas por radiação infravermelha compreendem estiramentos e tensionamentos de ligações inter-atômicas e modificações de ângulos de ligações (FARMACOPÉIA BRASILEIRA, 2010). O infravermelho é uma técnica bastante utilizada para identificação e quantificação de compostos orgânicos. Além disso, esse método é capaz de determinar a pureza de uma substância e observar os processos reacionais de separação (LOPES; FASCIO, 2004). Segundo Bugay (2001), o uso da espectroscopia de infravermelho começa após a Segunda Guerra Mundial, sendo aplicada na área farmacêutica para caracterização física da amostra. A espectroscopia na região do infravermelho é uma técnica de inestimável importância na análise orgânica qualitativa, sendo amplamente utilizadas nas áreas de química de produtos naturais, síntese e transformações orgânicas. A espectroscopia na região do infravermelho tem sido, também, amplamente utilizada em linhas de produção, 45 no controle de processos industriais (LOPES; FASCIO, 2004). Tita et al. (2011), realizaram estudos de compatibilidade entre ibuprofeno e excipientes através de técnicas térmicas, e utilizaram o FTIR e o DRX como técnicas complementares para análise dos resultados térmicos. Os espectrofotômetros utilizados para aquisição de espectros no infravermelho médio (MIR) e próximo (NIR) consistem de uma fonte de luz, monocromador ou interferômetro e detector, permitindo a obtenção de espectros na região compreendida entre 750 a 2500 nm (13300 a 400 cm-1). Atualmente, os espectrofotômetros no infravermelho médio (4000 a 400 cm-1) utilizam o interferômetro ao invés do monocromador e a radiação policromática incide sob a amostra e os espectros são obtidos no domínio da frequência com auxílio da transformada de Fourier. Células de transmissão, acessórios para reflexão difusa e reflexão total atenuada são os acessórios mais comuns para a aquisição dos espectros (FARMACOPÉIA BRASILEIRA, 2010). A espectrofotometria no MIR é um ensaio de identificação por excelência sendo capaz de diferenciar substâncias com diferenças estruturais. Das três regiões do infravermelho (próximo, médio e distante) a região compreendida entre 4000 a 400 cm-1 (infravermelho médio) é a mais empregada para fins de identificação (FARMACOPÉIA BRASILEIRA, 2010). Os espectros de transmissão de amostras sólidas são obtidos a partir da sua mediante a preparação de pastilhas de haletos de potássio e sódio. Para o preparo das pastilhas cerca de 1 mg da amostra é triturada com aproximadamente 300 mg de brometo de potássio de grau espectroscópico (FARMACOPÉIA BRASILEIRA, 2010). No estudo dos fármacos, o infravermelho, é a técnica indicada pela Farmacopéia para identificação das formas polimorfas e solvatas (AUER, 2003). 46 3 OBJETIVOS Este trabalho tem como objetivo a caracterização térmica (TG/DTG, DTA, DSC, DSC-fotovisual) de hormônios bioidênticos (estriol e estradiol). 3.1 OBJETIVOS ESPECÍFICOS • Análises Termogravimétricas � Realizar estudos por termogravimetria dinâmicas e isotérmicas dos hormônios bioidênticos; � Caracterizar por análise térmica os hormônios bioidênticos; � Determinar os parâmetros cinéticos: ordem de reação, fator de freqüência pré- exponencial, energia de ativação; � Determinar a estabilidade térmica � Determinar a Pressão de Vapor • Análises Calorimétricas (DSC-convencional, DSC-fotovisual) e Análises térmicas diferenciais (DTA) � Determinar os eventos exotérmicos e endotérmicos característicos dos hormônios bioidênticos; � Determinar a pureza das matérias-primas farmacêuticas. 47 4 MATERIAL E MÉTODOS 4.1 FÁRMACOS As amostras analisadas nos experimentos foram: � Estradiol (lote: 20081001) � Estriol (lote: 081104) 4.2 ANÁLISE TERMOGRAVIMÉTRICA E ANÁLISE TÉRMICA DIFERENCIAL (TG/DTA) As curvas TG/DTA dinâmicas e isotérmicas do estradiol e do estriol, foram obtidas em uma termobalança da marca Shimadzu, modelo DTG-60, com fluxo de nitrogênio 50 mL min-1, variando as razões de aquecimento, massa e tempo de acordo com a metodologia utilizada. Antes do início dos experimentos, foi realizada a limpeza do equipamento, a obtenção do branco e a verificação da normalidade do equipamento procedendo à corrida prévia do padrão de oxalato de cálcio monohidratado. Apresentando-se a termobalança em condições de operação, deu-se início às corridas com as amostras. 4.2.1 Termogravimetria Dinâmica Para obtenção das curvas na condição dinâmica de temperatura procedeu-se de duas maneiras diferentes: obtendo-se
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