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1 Fundação Escola de Comércio Álvares Penteado Macroeconomia IV - Curso de Economia – primeiro semestre de 2022 Prof. José Carlos Domingos da Silva 15 de fevereiro Tópicos de Política Monetária – parte II IV- Inconsistência dinâmica da política monetária discricionária e credibilidade a) O problema da inconsistência dinâmica na Política Monetária - Suponha uma curva de Phillips com expectativas: )( n e uu - A inflação corrente é função positiva da inflação esperada e função negativa da diferença entre o desemprego corrente e o desemprego natural (desemprego acima do natural implica inflação corrente menor que a esperada). Novamente, observe a presença do trade-off entre menor desemprego e maior inflação & vice-versa. Se: n e uu n e uu n e uu Pela curva de oferta de Lucas, temos: )(* ePPyy , logo, se: *yyPP e *yyPP e *yyPP e - Suponha que o Banco Central anuncie uma política monetária consistente com uma taxa de inflação zero. Caso tal anúncio seja crível, é natural esperar que e e sejam zero, o que faz com que a economia opere com uma taxa de desemprego exatamente igual ao desemprego natural: u = un 2 - Neste caso, o problema da inconsistência dinâmica surge quando os indivíduos (formadores de preços e de salários) internalizam tal anuncio em suas expectativas e tomam suas decisões com base neste anúncio. Uma vez este internalizado, os indivíduos estão “amarrados” em suas decisões e nesta situação, o Banco Central pode se sentir atraído a explorar o trade-off da curva de Phillips, expandindo a oferta monetária de modo a diminuir o desemprego abaixo do nível natural às custas de um crescimento da inflação. A literatura aponta como exemplo básico a existência de incentivos políticos para tal “fuga” da escolha feita anteriormente. Assim, o problema da inconsistência dinâmica surge quando há um incentivo para um “jogador” a desviar da decisão previamente anunciada uma vez que o outro “jogador” já tenha tomado sua decisão; - O problema da inflação passa a surgir a partir deste primeiro desvio, pois a partir de então, os indivíduos passam a esperar uma taxa de inflação maior que a inflação focada anteriormente pelo Banco Central (no nosso caso, 0%). Assim, a partir de então, o Banco Central consegue manter o desemprego abaixo do natural somente aceitando taxas de inflação esperada cada vez maiores, que por consequência gerarão maiores taxas de inflação corrente. Numa situação extrema em que a inflação corrente já internalize plenamente a inflação esperada, o resultado é uma inflação elevada com o desemprego igual ao natural, ou seja, não há ganho algum em termos de queda do desemprego, somente perdas associadas à inflação. Tal resultado é, em última instância, resultado da perda da credibilidade no Banco Central por parte dos indivíduos; b) Estabelecendo credibilidade: Que medidas podem ser tomadas para que uma política do Banco Central seja realmente levada a cabo, ou seja, que o Banco Central se comprometa a implementar integralmente uma política anunciada? i) Mecanismos institucionais (Regras): - A criação de leis ou regras que devem ser respeitadas na conduta da política monetária por parte dos gestores do Banco Central, com a respectiva punição em caso de violação destas regras; 3 ii) Banco Central independente: - A política monetária / Banco Central pode se tornar independente da esfera política, de modo que seus gestores sejam apontados para mandatos fixos, pré-determinados e com aparatos que dificultem sua demissão para que estes conduzam a política monetária sem influencia política; iii) Indivíduo avesso à inflação na gestão do Banco Central (“delegação”): - A gestão da política monetária pode ser delegada um indivíduo conservador e (bastante) avesso à inflação, dado que este indivíduo teria pouco incentivo a reduzir o desemprego via expansão monetária. V- Mecanismos de transmissão da política monetária A Autoridade Monetária, quando faz uma política monetária, tem basicamente como objetivo atingir duas variáveis: Produto e o nível de preço (Inflação). Como indicado na figura abaixo, a política monetária não atinge diretamente o Produto e a taxa de inflação de uma economia. Por conta da política monetária, atinge-se um alvo intermediário, a taxa de juros, a partir daí se observa a atuação dos chamados canais de transmissão da política monetária. Dada a atuação dos canais de transmissão, atinge-se o objetivo final: produto e nível de preços. Política Monetária Taxa de juros C a n a is d e T ra n s m is sã o d a P o lít ic a M o n e tá ri a Produto Inflação Política Monetária Taxa de juros C a n a is d e T ra n s m is sã o d a P o lít ic a M o n e tá ri a Produto Inflação 4 a- Visão Tradicional dos efeitos da taxa de juros YDA C I i imóveis) e duráveis( capital) do custo do redução a (dada A redução da taxa de juros reduz o custo do capital, o que faz o Investimento se elevar. O consumo de imóveis e bens de consumo duráveis se eleva (pois estes são, em grande medida, passíveis de financiamento). Tais acontecimentos elevam a demanda agregada que por sua vez eleva o produto da economia. b- Efeito sobre o preço dos ativos b.1- Câmbio Vamos supor que o objetivo do Bacen seja a redução do nível de preços da economia. Para tanto o Bacen faria uma política monetária contracionista elevando a taxa de juros. A elevação da taxa de juros, pode elevar o influxo de capital para a economia, esse elevação faz com que haja um excesso de divisas (dólares), dado que a taxa de câmbio nominal é flexível, observa- se uma apreciação da taxa de câmbio nominal. Essa apreciação da taxa de câmbio faz com que haja uma elevação das importações dos chamados bens comercializáveis (internacionalmente). Sendo que os bens importados são substitutos dos domésticos mais caros, dada esta concorrência (via barateamento das importações via apreciação cambial), os produtores domésticos tendem a baixar seus preços o que faz com que o nível de preço diminua. doméstico preço de Nível sImportaçõeE capitais de entrada i b.2- q de Tobin Vamos super que o objetivo da Autoridade monetária seja o de elevar a renda da economia. Uma política monetária expansionista elevaria a demanda por ações, que por sua vez elevaria o chamado q de Tobin (de tal forma a fazer com que o valor de mercado da firma fique acima do custo de reposição do capital) incentivando, assim as firmas emitirem ações e elevarem os seus investimentos (FBKF), que por sua vez eleva o produto (renda) da economia. Y ações das preço açõespor demanda ações IqMoeda Onde: capital do reposição de custo firma da mercado devalor Tobinq 5 b.3- Efeitos da riqueza Y riqueza ações das preço consumoMoeda A elevação da moeda no sistema aumenta a demanda por ações, que por sua vez eleva o preço das mesmas, que torna o agente mais rico, que faz com que este agente consuma mais. A elevação do consumo eleva a demanda agregada que eleva a renda da economia. c- Visão de Crédito c.1- Via Empréstimos Bancários Vamos supor que o objetivo do Bacen seja o de elevar a renda. Neste caso, uma política monetária expansionista elevaria a quantidade de moeda no sistema elevando, assim, os depósitos bancários. A elevação dos depósitos bancários faz com que os bancos, dado o poder de multiplicação dos meios de pagamentos pelos próprios bancos, elevam a quantidade disponível de recursos para empréstimos. Uma maior massa de recursos faz com que se elevem os empréstimos para o consumo de bens duráveis, novos imóveis e investimento (FBKF). Tais ocorrências elevam arenda da economia. Y toInvestimen imóveis duráveis sempréstimoisemprestáve recursos Moeda c.2- Efeito liquidez sobre as famílias Y imóveis duráveis financeiro apuros de prob.)financeiro (ativo PeMoeda Eleva o preço das ações, reduz a probabilidade de aperto financeiro, os agentes compram mais bens duráveis e imóveis (ativos ilíquidos). 6 c.3- Via balanço patrimonial Y semprestimo moral risco adversa seleção IPaM Aumento do preço das ações eleva o valor líquido das empresas no mercado, eleva o volume de empréstimos..... c.4- Fluxos de Caixa (outro via balanço patrimonial) Vamos supor que o objetivo do Bacen seja o de elevar a renda. Neste caso, uma política monetária expansionista faria com que a taxa de juros se reduza. Fato que melhoraria o Fluxo de Caixa Descontado (FCD) das empresas (que é a diferença entre o que a firma recebe o que ela paga). Tal fato eleva a liquidez das empresas (fato que eleva as garantias da empresa) o que acarretam na redução de dois problemas de informação assimétrica: seleção adversa e risco moral. Isso pela percepção dos ofertantes de empréstimos. O próximo ponto, diante do que foi exposto, é levar em conta que a redução tanto do risco moral quando da seleção adversa, fazem com que se eleve a oferta de empréstimos às empresas na economia fato que eleva o investimento das mesmas fazendo com que se eleve a renda da economia. Y semprestimo moral risco adversa seleção IFCDi Onde o fluxo de caixa descontado é dado por: n n i FCL i FCL i FCL i FCL FCLFCD 1 ... 111 3 3 2 21 Sendo FCL o Fluxo de Caixa Líquido do período. Sendo assim: FCDi 7 Anexo - Informação assimétrica os problemas de seleção adversa e risco moral Tanto o problema de seleção adversa quanto o de risco moral podem ocorrer por conta da assimetria de informação inerente ao mercado. Temos que uma das partes do mercado (um agente econômico) tem mais informações sobre um determinado bem que a outra parte (outro agente econômico). Neste caso o ofertante conhece mais o seu bem do que o comprador (contratante). O problema de seleção adversa aparece na literatura como um problema de agente oculto. Por exemplo, no mercado de trabalho temos um empregador na busca por um empregado com dadas características para uma dada função. No momento da escolha o empregador pode fazer uma seleção adversa (escolha incorreta), ou seja, contratar um trabalhador que não seja adequado àquela função. No momento da contratação, o empregado tem mais informações sobre o seu bem (trabalho) que o empregador. Por isso, temos o agente oculto, neste caso, o trabalhador. O problema do risco moral é um problema indicado na literatura como problema de ação oculta. Neste caso, temos que uma das partes do mercado (um agente econômico) não consegue monitorar perfeitamente a conduta da outra parte (outro agente econômico). Por exemplo, após um trabalhador ser contratado para executar dadas funções, o mesmo tem informação perfeita sobre o seu desempenho (execução adequada do trabalho ou não), porém, o contratante não tem como monitorar perfeitamente o que este empregado está fazendo. Neste caso a ação oculta fica por parte do trabalhador no momento de execução de suas tarefas. No mercado de trabalho há razões plausíveis para o empregador pagar um salário mais elevado ao trabalhador, o chamado salário eficiência, pois temos que um salário mais elevado tende a: Atrai, em média, um número maior de trabalhadores qualificados no processo de seleção, fato que reduz a possibilidade de uma seleção adversa. Em relação ao mercado de empréstimos: Os agentes que estão dispostos a pagar juros elevados são, em média, aqueles que têm projetos mais arriscados (retorno esperado versus risco). Projetos arriscados têm maior probabilidade de que os empréstimos não serem pagos (frente a projetos com menores riscos). A redução da taxa de juros atrairá mais agente, diminui, assim, a probabilidade de seleção adversa atraindo agentes com projetos menos arriscados. Elevando o número de agentes para tomar empréstimos há a redução do problema de risco moral, pois a base de possíveis tomadores de empréstimo fica maior diminuindo a probabilidade de escolha de um agente que gere problemas de seleção adversa e risco moral.
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