Buscar

LarissaAP-Monografia

Prévia do material em texto

1 
 
 
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE 
CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS 
CURSO DE DIREITO 
 
 
 
 
 
 
 
 
O REGIME DIFERENCIADO DE CONTRATAÇÕES PÚBLICAS: 
ANÁLISE DA CONSTITUCIONALIDADE DA LEI 12.462, DE 2011 
 
 
 
 
 
LARISSA ARAUJO PORTELA 
 
 
 
 
 
 
Natal/RN 
2012 
2 
 
LARISSA ARAUJO PORTELA 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
O REGIME DIFERENCIADO DE CONTRATAÇÕES PÚBLICAS: 
ANÁLISE DA CONSTITUCIONALIDADE DA LEI 12.462, de 2011 
 
 
 
 
 
Trabalho de Conclusão de Curso 
apresentado à Universidade Federal do Rio 
Grande do Norte, para colação de grau de 
Bacharel em Direito 
 
Orientador: Prof. Msc. Karoline Marinho 
 
 
 
 
 
 
Natal/ RN 
2012 
3 
 
 
 
 
 
 
 
O REGIME DIFERENCIADO DE CONTRATAÇÕES PÚBLICAS: 
ANÁLISE DA CONSTITUCIONALIDADE DA LEI 12.462, de 2011 
 
 
BANCA EXAMINADORA: 
 
 
________________________________________ 
Prof. Msc. Karoline Lins Câmara Marinho 
Orientador 
 
 
________________________________________ 
Prof. Msc Morton Luiz Faria de Medeiros 
Examinador 
 
 
________________________________________ 
Prof. Msc. Mariana de Siqueira 
Examinador 
 
 
 
 
Natal/RN 
 2012 
 
4 
 
O REGIME DIFERENCIADO DE CONTRATAÇÕES PÚBLICAS: ANÁLISE DA 
CONSTITUCIONALIDADE E DA LEI 12.462, DE 2011 
 
 
 
RESUMO: O presente trabalho faz uma análise sobre o Regime Diferenciado de 
Contratações Públicas – RDC, trazido pela Lei nº 12.462, de 2011, visando 
atender ao princípio da eficiência. A partir de pesquisa bibliográfica foi feita uma 
abordagem geral sobre a Lei Geral de Licitações (Lei nº 8.666, de 1993); análise 
do RDC, as inovações trazidas por esse regime, as suas principais 
características, as suas vantagens e desvantagens, e também foi feita uma 
avaliação acerca da discussão sobre a sua constitucionalidade, bem como, as 
consequências que um regime que foi criado para ter uma duração determinada e 
foi estendido para licitações e contratos de obras que não tem prazo determinado, 
como as do PAC e obras do ensino público. Por fim, foi feita uma crítica acerca 
das inovações trazidas pelo RDC perante os princípios da soberania do Estado, 
do desenvolvimento sustentável e da mitigação de direitos, e ainda, alguns 
comentários acerca da extensão do RDC para as obras do PAC e para a 
realização de obras e serviços de engenharia no âmbito dos sistemas públicos de 
ensino. 
 
Palavras-chave: Licitações, RDC, constitucionalidade, princípios, PAC, Copa do 
Mundo, Olimpíadas. Lei 12.462/2011. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
5 
 
DIFFERENTIATED CONTRACTING SCHEME FOR PUBLIC : CONSTITUTIONAL
ITY AND ANALYSIS OF LAW 12 462, OF 2011 
 
 
 ABSTRACT: The present study is an analysis 
of the Differential Procurement Regime - DRC, brought by Law No. 12,462, of 
2011, to meet the principle of efficiency. From literature search was made a 
general approach on Law General Procurement (Law No. 8666, 1993) Analysis of 
the DRC, the innovations brought by this regime, its main 
characteristics, advantages and disadvantages, and was also an 
assessment of discussion aboutits constitutionality, as well as the consequences 
of a system that was designed to have a specified duration and has been 
extended to tenders and contracts for works that has no fixed period, such as the 
PAC and the school works public. Finally, a review was made of the innovations 
brought about by the DRC against the principles of state sovereignty, sustainable 
development and mitigation of rights, and also some comments about the extent of 
the DRC to the PAC and to perform works and engineering services within 
the public school systems. 
 
Keywords: Bidding, DRC, constitutionality, principles, CAP, World 
Cup, Olympics. Law 12.462/2011. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
6 
 
SUMÁRIO 
 
1. INTRODUÇÃO ................................................................................... 08 
2. AS LICITAÇÕES E A LEI Nº 8.666, DE 1993 ................................... 11 
3. REGIME DIFERENCIADO DE CONTRATAÇÕES PÚBLICAS – 
LEI 12.462, DE 2011 ......................................................................... 
16 
3.1 COMPARATIVO ENTRE O PROCEDIMENTO LICITATÓRIO NAS 
DUAS LEIS E AS INOVAÇÕES TRAZIDAS PELO RDC .................. 
20 
3.1.1 Contratação Integrada ..................................................................... 20 
3.1.2 Nomes e Marcas ............................................................................... 21 
3.1.3 Remuneração variável .................................................................... 22 
3.1.4. Inversão de fases ............................................................................. 23 
3.1.5 Parcelamento e contratação simultânea ....................................... 25 
3.1.6 Fase única de recursos .................................................................. 27 
3.1.7 Pré-qualificação ............................................................................... 29 
3.1.8 Proposta vencedora e julgamento ................................................. 31 
3.1.9 Padronização de instrumentos convocatórios e minutas de 
contratos ........................................................................................... 
35 
3.1.10 Procedimento nos moldes da Lei 8.666, de 1993 e no Regime 
Diferenciado de Contratação .......................................................... 
36 
3.2 EXTENSÃO DO RDC: PARA OBRAS DO PAC E PARA A 
REALIZAÇÃO DE OBRAS E SERVIÇOS DE ENGENHARIA NO 
ÂMBITO DOS SISTEMAS PÚBLICOS DE ENSINO ......................... 
37 
4. O REGIME DIFERENCIADO DE CONTRATAÇÕES SOB O 
PRISMA DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL, DE 1988 ........................ 
43 
4.1 O REGIME DIFERENCIADO DE CONTRATAÇÕES E O 
PRINCÍPIO DO DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL .................. 
48 
4.2 O RDC E O PRINCÍPIO DA SOBERANIA – FIFA E COMITÊ 
OLÍMPICO INTERNACIONAL E A MITIGAÇÃO DE DIREITOS ...... 
51 
4.3 PRINCÍPIO FEDERATIVO NO REGIME DIFERENCIADO DE 
CONTRATAÇÕES E ESTE EM RELAÇÃO AO 
DESENVOLVIMENTO NACIONAL E REGIONAL ............................. 
56 
4.4 O RDC E O SIGILO DA LICITAÇÃO ................................................. 59 
7 
 
5 CONCLUSÃO .................................................................................... 64 
6 REFERÊNCIAS ................................................................................. 67 
 
8 
 
1. INTRODUÇÃO 
 
O presente estudo objetiva discutir o Regime Diferenciado de 
Contratações sob o prisma da Constituição Federal de 1988 por se tratar de um 
regime que regulamenta as contratações para a realização de obras e compras 
para eventos mundiais e essenciais para o desenvolvimento do país. O Brasil 
será a sede dos dois eventos esportivos mais grandiosos que acontecem na 
atualidade: Jogos Olímpicos e Copa do Mundo da FIFA. Durante esses eventos, 
todo o mundo estará com a atenção voltada para o Brasil, e não só nos jogos, 
como também na infraestrutura que estará preparada para receber os jogos, os 
atletas, os trabalhadores e, principalmente, os torcedores, nacionais e 
estrangeiros. É graças à importância desses eventos que é preciso fazer com que 
o país faça tudo certo. Todos querem que o mundo tenha uma boa impressão do 
Brasil, todos querem que o Brasil seja um exemplo de um país que sediou bem 
eventos grandiosos, e para isso é essencial que a Administração Pública saiba 
também como contratar as melhores empresas e serviços para a realização 
dessas ações. Afinal, não seria certo o país sede de eventos desse porte fazer 
tudo de qualquer jeito. 
A licitação é conceituada como um procedimento obrigatório que 
antecede a celebração de contratos pela Administração Pública. Até hoje, a lei 
mais usada para regular esse procedimento é a lei geral de licitações, Lei nº 
8.666, de 1993, no entanto, essa lei se encontra muito defasada, e devido ao seu 
excesso de procedimentos, para queo ente público possa finalmente chegar a 
fase de contratação com a empresa vencedora do certame licitatório, há longo 
decurso de tempo. Muitas críticas são feitas a essa lei, pois esta é muito 
burocrática, e os prazos são extensos, o que provoca um grande atraso na 
contratação, por parte do Poder Público. Com a vinda dos eventos da Copa do 
Mundo de 2014 no Brasil e dos Jogos Olímpicos de 2016 no Rio de Janeiro, além 
de outros eventos correlatos, surgiu a necessidade de criar um procedimento de 
contratação mais célere, com o objetivo de viabilizar as obras e contratações 
necessárias para criação e desenvolvimento da infraestrutura necessária para 
receber tais eventos, que resultou no chamado Regime Diferenciado de 
9 
 
Contratações Públicas - RDC – instituído pela Lei nº 12.462, de 4 de agosto de 
2011. 
Por se tratar de um Regime Diferenciado de Contratações, com a 
criação da lei, vieram também muitas críticas. Alguns defendem que pelo fato de 
haver no Congresso, o Projeto de Lei nº 7709/2007 para alterar a Lei nº 8.666, de 
1993, este projeto é que deveria ser desenvolvido e finalizado, para que pudesse 
ser utilizado nas contratações necessárias para a realização desses eventos, bem 
como, usado para todas as contratações e licitações da Administração Pública. 
No entanto, a maior parte das críticas negativas a esse novo regime 
de contratações é quanto a sua legalidade. Como será exposto, muitos 
julgamentos são feitos quanto a constitucionalidade da Lei nº 12.462, de 2011, 
que apesar de tornar o procedimento de contratação muito mais célere, vai de 
encontro a muitos princípios constitucionais. Outra grande crítica era o fato de a 
lei só poder ser aplicada nas cidades em que serão realizadas os eventos 
mundiais supracitados. No entanto, com as inovações do RDC, isto não mais se 
aplica, já que este agora abrange também todas as cidades que tenham obras do 
Programa de Aceleração do Crescimento - PAC, e obras e serviços de 
engenharia no âmbito dos sistemas públicos de ensino. Contudo, surge uma 
crítica maior, uma vez que o RDC foi criado para objetos específicos e por um 
período determinado e foi estendido para objetos diversos e período 
indeterminado. 
O procedimento metodológico para esse estudo foi uma pesquisa 
bibliográfica utilizando, principalmente, livros de direito administrativo, como os de 
Celso Antônio Bandeira de Mello e Marçal Justen Filho; livros de direito 
constitucional, como os de José Afonso da Silva e Paulo Bonavides; além de sites 
especializados na área jurídica. 
O tema está sendo muito discutido para que não haja contratações 
que contrariem o interesse público, para evitar o desvio de verbas, para não 
permitir que pessoas possam se beneficiar com contratações fraudulentas, e para 
que a Administração Pública, em parceria com as empresas privadas, realizem as 
licitações e as contratações que melhor atendam ao interesse público, atendendo 
a todas as expectativas e esperanças que esses eventos trazem. 
10 
 
 O presente trabalho foi dividido em quatro capítulos. Neste primeiro 
capítulo, introduzimos o assunto sobre licitações e o Regime Diferenciado de 
Contratações. 
 No segundo capítulo, foi feita uma abordagem geral sobre o tema 
das licitações, nos moldes da Lei nº 8.666/93, que é a chamada Lei Geral de 
Licitações, baseada na doutrina majoritária sobre o assunto. 
 No terceiro capítulo, o trabalho foi desenvolvido a partir do conceito 
do Regime Diferenciado de Contratações da Lei nº 12.462/2011, e um 
comparativo feito entre a lei nº 8.666/93 e o RDC. 
 No quarto capítulo foi realizada uma análise mais profunda acerca 
do tema RDC, com as suas particularidades, seus benefícios e suas críticas, 
principalmente quanto a questão controvertida acerca da sua constitucionalidade. 
E ainda, uma análise sobre a extensão do RDC às obras do Programa de 
Aceleração do Crescimento, que propaga o RDC para mais cidades, e por um 
período indeterminado. 
 Por fim, no quinto capítulo chegou-se a algumas considerações 
importantes a respeito do atual momento do Regime Diferenciado de 
Contratações e sua abrangência trazendo reflexões sobre as suas possíveis 
vantagens, se atende realmente ao princípio da celeridade e eficiência ou não, e 
quanto aos diversos pontos a serem aperfeiçoados. 
 
 
11 
 
2. AS LICITAÇÕES E A LEI Nº 8.666, DE 1993 
 
A Constituição Federal de 1988 estabelece que a Administração 
Pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do 
Distrito Federal e dos Municípios tem o dever constitucional de realizar o 
procedimento licitatório sempre que pretender adquirir, alienar, locar bens, 
contratar a execução de obras ou serviços, conforme artigo 37, XXI, da 
Constituição Federal, de 1988. Sendo essa exigência estendida também para as 
concessões e permissões de serviço público, no art. 175, da CF/88. 
 A licitação tem como finalidade buscar contratar uma empresa que 
apresente a melhor proposta para a Administração Pública, estimulando a 
competitividade entre os potenciais de contratações, com o objetivo de atingir o 
contrato mais vantajoso para o Poder Público, visando atender ao interesse 
público. Obedecendo ao princípio da isonomia, há possibilidade de qualquer 
interessado participar no processo licitatório, desde que preencham as condições 
previamente fixadas no instrumento convocatório. 
O mesmo dispositivo assegura ainda que esse procedimento 
licitatório deve assegurar a igualdade de condições a todos os concorrentes. 
Sendo assim, resta claro que a licitação é um dever constitucional do Poder 
Público, e esta deve sempre obedecer aos “princípios da legalidade, 
impessoalidade, moralidade, igualdade, publicidade, probidade administrativa, da 
vinculação ao instrumento convocatório, do julgamento objetivo e dos que lhe são 
correlatos”.1 
Sobre o assunto, Celso Antônio Bandeira de Mello2 diz que os 
princípios cardeais da licitação poderiam ser resumidos nos seguintes: 
competitividade, isonomia, publicidade, respeito às condições prefixadas no edital, 
possibilidade de o disputante fiscalizar o atendimento dos princípios anteriores. E 
afora o principio da competitividade, que é da essência da licitação, todos 
descendem do principio da isonomia, pois são requisitos necessários para 
garantir-lhe a existência. 
 
1
 Lei nº 8.666, de 21 de junho de 1993, Art. 3º. 
2
 MELLO, Celso Antônio Bandeira de. Curso de Direito Administrativo. 28 ed. São Paulo : 
Malheiros, 2010. 
12 
 
Sobre o princípio da legalidade, esclarece José Afonso da Silva3 que 
o regime de garantias constitucionais condiciona a atividade administrativa, 
prescrevendo uma série de normas que procuram dar efetiva consistência ao 
princípio da legalidade, desde sua expressa e específica previsão no art. 37 da 
Constituição em relação a toda e qualquer Administração Pública direta, indireta 
ou fundacional, correlacionada aos princípios da impessoalidade, moralidade e 
publicidade, que reforçam até a afirmação dos princípios do devido processo legal 
e do contraditório. 
É visando atender a esses princípios que a Lei nº 8.666, de 1993, 
em seu artigo 3º, disciplina que a licitação destina-se a garantir a observância do 
princípio constitucional da isonomia, a seleção da proposta mais vantajosa para a 
administração e a promoção do desenvolvimento nacional sustentável e será 
processada e julgada em estrita conformidade com os princípios básicos da 
legalidade, da impessoalidade, da moralidade, da igualdade, da publicidade, da 
probidade administrativa, da vinculação ao instrumento convocatório, do 
julgamento objetivo e dos que lhes são correlatos. 
Assim como a lei geral de licitações, o Regime Diferenciado de 
Constatações, trazido pela Lei nº 12.462, de 2011 prevê em seu artigo 1º, § 1º, 
que tem por objetivos: ampliar a eficiência nas contratações públicase a 
competitividade entre os licitantes; promover a troca de experiências e tecnologias 
em busca da melhor relação entre custos e benefícios para o setor público; 
incentivar a inovação tecnológica; e assegurar tratamento isonômico entre os 
licitantes e a seleção da proposta mais vantajosa para a administração pública. 
Este Regime Diferenciado de Contratações Pública de 2011 surgiu 
com a necessidade de criar um regime de procedimento licitatório mais célere e 
mais eficiente para que o Poder Público pudesse, de forma mais eficaz, realizar 
contratações para a realização dos eventos mundiais dos quais o Brasil será 
sede: A Copa das Confederações, de 2013, a Copa do Mundo, de 2014, e os 
Jogos Olímpicos e Paralímpicos, de 2016. 
 
3
 SILVA, José Afonso da. Curso de Direito Constitucional Positivo. 33 ed. São Paulo : 
Malheiros, 2011. 
13 
 
Para Odete Medauar4, o RDC, essencialmente, visa tornar mais 
ágeis e céleres as licitações e a obter mais eficácia e eficiência nos contratos 
públicos relativos a esses eventos, do que nas licitações e contratos comuns. 
Dentre os objetivos do RDC, que estão indicados no art. 1º, §1, da Lei nº 
12.462/2011, a autora destaca a importância de “ampliar a eficiência nas 
contratações públicas e a competitividade entre os licitantes; promover a troca de 
experiências e tecnologias em busca da melhor relação entre custos e benefícios 
para o setor público”. 
Ou seja, o RDC foi criado visando atingir o princípio da eficiência, 
tendo em vista que a Lei nº 8.666, de 1993, usada para a maior parte das 
licitações, causa muitos obstáculos para o Poder Público na hora de contratar, por 
exigir muitas etapas burocráticas, o que não permite a Administração contratar 
com celeridade. Sendo assim, para que o Poder Público pudesse realizar 
licitações mais simples, mais céleres e mais eficientes, foi criado o Regime 
Diferenciado de Contratações. 
Mas antes de falar sobre o RDC, cabe algumas observações sobre 
as licitações, nos moldes da Lei Geral de Licitações. 
A Lei nº 8.666, de 21 de junho de 1993, é a lei geral de licitações e 
institui normas e diretrizes para licitações e contratos da Administração Pública e 
dá outras providências. Logo em seu artigo 1º, afirma que estabelece normas 
gerais sobre licitações e contratos administrativos pertinentes a obras, serviços, 
inclusive de publicidade, compras, alienações e locações da Administração 
Pública. 
Essa lei foi criada para atender ao dispositivo constitucional exposto 
no art. 37, XXI, da Constituição Federal de 1988, o qual exige licitação para os 
contratos de obras, serviços, compras e alienações, bem como exige, no art. 175 
da CF/88, licitação para a concessão e permissão de serviços públicos. Enquanto 
a Lei nº 8666, de 1993, exige licitação para as obras, serviços, inclusive de 
publicidade, compras, alienações, concessões, permissões e locações da 
Administração Pública, quando contratadas com terceiros, ressalvadas as 
hipóteses previstas nesta Lei (Lei 8.666/93, Art. 2º). 
 
4
 MEDAUAR, Odete. Direito Administrativo Moderno. 16 ed. São Paulo : Revista dos Tribunais, 
2012. 
14 
 
Para Celso Antônio Bandeira de Mello5, licitação é um certame que 
as entidades governamentais devem promover e no qual abrem disputa entre os 
interessados em com elas devem travar determinadas relações de conteúdo 
patrimonial, para escolher a proposta mais vantajosa às conveniências públicas. 
Estriba-se na ideia de competição, a ser travada isonomicamente entre os que 
preencham os atributos e aptidões necessários ao bom cumprimento das 
obrigações que se propõem assumir. 
Ainda no conceito, completa o mesmo autor que o procedimento 
administrativo pelo qual uma pessoa governamental pretende alienar, adquirir ou 
locar bens, realizar obras ou serviços, outorgar concessões, permissões de obra, 
serviço ou de uso exclusivo de bem público, segundo condições por ela 
estipuladas previamente, convoca interessados na apresentação de propostas, a 
fim de selecionar a que se revele mais conveniente em função de parâmetros 
antecipadamente estabelecidos e divulgados, será um procedimento licitatório. 
Estão obrigados a licitar todos os órgãos da Administração Pública 
direta, os fundos especiais, as autarquias, as fundações públicas, as empresas 
públicas, as sociedades de economia mista e demais entidades controladas direta 
ou indiretamente pela União, Estados, Distrito Federal e Municípios. 
As entidades privadas, como é o caso das Organizações Sociais, 
das Organizações da Sociedade Civil de Interesse Público, das Fundações de 
Apoio e outras entidades do terceiro setor, se submetem à lei de licitações 
quando as aquisições, compras, serviços ou alienações envolvam recursos ou 
bens repassados voluntariamente pela União, em virtude do Decreto nº 5.504, de 
5 de agosto de 2005, que estabeleceu isso, e impôs ainda que, para a aquisição 
de bens e serviços comuns, seja utilizado o pregão, preferencialmente na forma 
eletrônica. 
A Constituição Federal, em seu art. 37, inciso XXI, ao exigir licitação 
para os contratos com a Administração Pública, fez uma ressalva para os casos 
previstos em lei. Sendo assim, a Lei nº 8.666, de 1993 disciplina também as 
hipóteses de dispensa (artigo 17, I e II, e no artigo 24) e inexigibilidade (artigo 25) 
da licitação. 
 
5
 MELLO, Celso Antônio Bandeira de. Curso de Direito Administrativo – 28 ed. São Paulo: 
Malheiros, 2011. 
15 
 
Para Maria Sylvia Zanella Di Pietro6, a diferença básica entre as 
duas hipóteses está no fato de que, na dispensa, há possibilidade de competição 
que justifique a licitação; de modo que a lei faculta a dispensa, que fica inserida 
na competência discricionária da Administração. Nos casos de inexigibilidade, não 
há possibilidade de competição, porque só existe um objeto ou uma pessoa que 
atenda às necessidades da Administração para aquela contratação especifica; a 
licitação é, portanto, inviável. Existem, ainda, casos de dispensa que escapam à 
discricionariedade administrativa, por já estarem determinados por lei, nos artigos 
supracitados. 
Ainda sobre o assunto, a autora divide as hipóteses de dispensa nas 
seguintes categorias: em razão do pequeno valor; de situações excepcionais; do 
objeto e da pessoa. 
Sendo assim, as licitações são procedimentos realizados pela 
Administração Pública para realizar contratações, que devem sempre atender aos 
princípios constitucionais, e a todos os princípios da licitação. Ressalta-se a 
importância desses pois sempre que a norma é utilizada, ela deve ser aplicada e 
interpretada sob a luz daqueles. 
 
 
6
 DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella. Direito Administrativo - 23. ed. - São Paulo: Atlas, 2010. p. 
365. 
16 
 
3. O REGIME DIFERENCIADO DE CONTRATAÇÕES PÚBLICAS – LEI N°. 
12.462, DE 2011 
 
Primeiramente, cabe falar um pouco dos princípios da Administração 
Pública, e em especial, o princípio da eficiência, o qual motivou a criação do 
Regime Diferenciado de Contratações. 
Sobre o princípio da eficiência, Gilmar Ferreira Mendes7 explica que 
o mesmo consubstancia a exigência de que os gestores da coisa pública não 
devem economizar esforços no desempenho dos seus encargos, de modo a 
otimizar o emprego dos recursos que a sociedade destina para a satisfação das 
suas múltiplas necessidades. 
Os princípios da Administração Pública estão explícitos no art. 37 da 
Constituição de 1988, quais sejam, “o da legalidade, impessoalidade, moralidade, 
publicidade e eficiência”. Entretanto, muitos outros princípios estão implícitos, 
como o princípio do interesse público (finalidade pública), que guia a atividade 
administrativa, e outros, explícitos na Constituição, e emtodo o ordenamento 
legal. 
A obrigatoriedade de licitar constitui princípio constitucional, e não 
podem a lei, o decreto, os atos regimentais ou instruções normativas, e muito 
menos o acordo firmado entre as partes, superpor-se a preceito constitucional, 
instituindo privilégios para uns em detrimento de outros. 
O Regime Diferenciado de Contratações Públicas deve obedecer 
aos princípios, tanto aos constitucionais, aqui citados, como também a todos os 
princípios que estão na Lei nº 12.462, de 2011, que estão estabelecidos no art. 3º, 
quais sejam: da legalidade, da impessoalidade, da moralidade, da igualdade, da 
publicidade, da eficiência, da probidade administrativa, da economicidade, do 
desenvolvimento nacional sustentável, da vinculação ao instrumento convocatório 
e do julgamento objetivo. 
 
 
7
 MENDES, Gilmar Ferreira; COELHO, Inocêncio Mártires; BRANCO, Paulo Gustavo Gonet. 
Curso de Direito Constitucional. 3ª Ed. – São Paulo : Saraiva, 2008. pag. 836. 
17 
 
Cabe esclarecer que os princípios têm força normativa e têm plena 
eficácia em nosso ordenamento jurídico. Afirma Paulo Bonavides8 que não há 
distinção entre princípios e normas, pois os princípios são dotados de 
normatividade, tem alcance de norma e se traduzem por uma dimensão 
valorativa, maior ou menor, que a doutrina reconhece e a experiência consagra. 
Sobre a mesma temática, Humberto Ávila9 defende que os 
princípios, por serem normas imediatamente finalísticas, estabelecem um estado 
ideal de coisas a ser buscado, que diz respeito a outras normas do mesmo 
sistema, notadamente das regras. 
O autor afirma ainda que os princípios exercem uma função 
interpretativa, na medida em que servem para interpretar normas construídas a 
partir de textos normativos expressos, restringindo ou ampliando seus sentidos. 
Assim, aplicando esse ensinamento ao Regime Diferenciado de Contratações, 
esse deve ser sempre interpretado e utilizado sob a luz dos princípios, seus 
dispositivos legais devem ser sempre utilizados sob a ótica dos princípios. 
Ou seja, resta claro que o Regime Diferenciado de Contratações 
deve, acima de tudo, obedecer aos princípios legais, e não pode mitigar a 
observância desses princípios, para atender interesses de outros, principalmente, 
de entidades internacionais. 
O Regime Diferenciado de Contratações foi criado para que a 
contratação fosse mais célere, e mais eficiente, como já foi dito, mas isso está 
implícito em um cenário mais amplo, a criação dessa lei, bem como de outras, 
reflete um Estado que visa atender a esses princípios, um Estado que busca a 
celeridade e a eficiência. 
Diogo de Figueiredo Moreira Neto10, quando fala que o novo 
referencial no direito administrativo é o controle da vontade e do resultado, afirma 
que o grande salto de qualidade da Política e do Direito Contemporâneo no que 
concerne à concreta satisfação dos interesses da sociedade cometidos ao 
Estado, entendida, esta contingência do princípio da eficiência, como uma 
 
8 BONAVIDES, Paulo. Curso de Direito Constitucional. 23 ed. – São Paulo: Malheiros, 2010. 
9
 AVILA, Humberto. Teoria dos Princípios da definição à aplicação dos princípios jurídicos. 7 
ed. – São Paulo: Malheiros, 2007. 
10
 MOREIRA NETO, Diogo Figueiredo. Mutações do direito administrativo. 3 ed. Rio de Janeiro: 
Renovar, 2007, pag.179. 
18 
 
necessária e inafastável implicação da transformação em curso do Estado 
moderno – o Estado de Direito – para o Estado pós-moderno – O Estado 
Democrático de Direito. 
E completa o raciocínio afirmando que na hermenêutica 
constitucional contemporânea, como implícito na vocação de bem servir, que é 
própria e indissociável da função administrativa do Estado, vem aparelhando as 
sociedades para terem acesso a um tipo ultimado de controle, que não se cinge à 
mera tutela dos valores contidos no conceito de legalidade tradicional, senão que, 
indo mais além, se estende aos valores que se compreendem no conceito de 
legitimidade democrática pós-positivista. 
Ou seja, é sob essa nova visão de Estado, que visa tornar a 
Administração Pública mais eficiente, que a Lei nº 12.462, de 2011, trouxe os 
mecanismos para tornar as licitações mais céleres. 
Concluso o entendimento acerca da importância da obediência aos 
princípios, e desse novo Estado, mais eficiente, cabe falar especificamente do 
Regime Diferenciado de Contratações Públicas – RDC, que teve início muito 
antes da promulgação da Lei nº 12.462, de 4 de agosto de 2011. 
O referido regime teve origem com a Medida Provisória nº 527, de 
2011, no entanto, cabe informar que esta medida provisória foi a quarta tentativa 
do Poder Executivo em ver aprovado o RDC. Dessa trajetória resultou uma lei 
casuística, e que vem sendo muito criticada, tanto em seu aspecto formal, quanto 
material. 
 Inicialmente, a lei foi criada permitindo, em seu Capítulo I, que fosse 
afastada a aplicação da Lei nº 8.666/93, aos certames necessários à realização 
da Copa das Confederações de 2013; da Copa do Mundo de 2014; dos Jogos 
Olímpicos e Paralimpicos de 2016; e das obras de infraestrutura e dos serviços 
para os aeroportos das capitais dos Estados distantes até 350 km das cidades 
sedes dos já citados eventos desportivos. 
 Ocorre que, a então Presidenta Dilma Rousseff, em 18 de julho de 
2012, promulgou a Lei nº 12.688, que é a conversão da Medida Provisória nº 
559/2012, a qual alterou o texto inicial da Lei 12.462/2012, e incluiu dentre as 
possibilidades de aplicação do RDC, as ações integrantes do Programa de 
Aceleração do Crescimento (PAC). 
19 
 
Posteriormente, a Presidenta promulgou a Lei nº 12.722, de 3 de 
outubro de 2012, que é a conversão da Medida Provisória nº 570/2012, a qual 
acrescentou o §3º no art. 1 da Lei nº 12.462/2012, o qual dispõe que além das 
hipóteses previstas no caput, o RDC também passa a ser aplicável às licitações e 
contratos necessários à realização de obras e serviços de engenharia no âmbito 
dos sistemas públicos de ensino. 
 Um estudo feito por Renato Monteiro Resende11, no Núcleo de 
Estudos e Pesquisas do Senado, critica a Lei nº 12.462/2011, e defende a 
infringência desta à Lei Complementar nº 45, de 1998, a qual dispõe sobre 
elaboração, a redação, a alteração e a consolidação das leis, conforme determina 
o parágrafo único do art. 59 da Constituição Federal. Defende que fere os incisos 
I e II do art. 7º, segundo os quais, excetuadas as codificações, cada lei tratará de 
um único objeto e não conterá matéria estranha a seu objeto ou a este não 
vinculada por afinidade, pertinência ou conexão. 
 Em seu estudo, afirma ainda que, in verbis: 
 
O que a Lei Complementar pretende é justamente evitar que matérias 
distintas sejam tratadas em um mesmo diploma legal, o que ocorre in 
casu, já que não há como estabelecer um vínculo material entre normas 
de licitações dirigidas a diversos entes da Federação e a alteração da 
estrutura administrativa do Poder Executivo Federal. 
 
 E sobre esse assunto ainda, o autor conclui que em caso especifico 
da inserção, em medidas provisórias, de matérias diversas das constantes em 
seu texto original, é possível se fazer críticas a tentativa de contornar os tramites 
legislativos ordinários, para possibilitar a aprovação, de afogadilho, de normas 
que não tenham sido objeto de exame pelas comissões temáticas das Casas do 
Congresso Nacional. Além disso, vale ressaltar que a razão de ser do regime 
expedido de tramitação das medidas provisórias vincula-se aos pressupostos 
constitucionais de relevância e urgência dessa condição normativa. 
 Nesse mesmo estudo, Renato Monteiro de Rezende aponta ainda os 
aspectos gerais do RDC e a inconstitucionalidade formal da lei. 
 Ademais, cabe ressaltar que embora haja diversas divergências 
entre as licitações regulamentadas pela Lei nº8.666, de 1993, e as licitações do 
 
11
 RESENDE, Renato Monteiro. O Regime Diferenciado de Contratações Públicas: 
comentários à Lei nº 12.462, de 2011. 
20 
 
Regime Diferenciado de Contratações Públicas previsto na Lei nº 12.462, de 
2011, há também algumas semelhanças. 
 Por exemplo, no capitulo que se refere às sanções administrativas, o 
RDC prevê que as sanções administrativas, criminais e demais regras previstas 
no Capítulo IV da Lei nº 8.666, de 21 de junho de 1993, aplicam-se às licitações e 
aos contratos regidos por esta Lei – art. 47, §2º, da Lei nº 12.462/2011. 
 O mesmo acontece com relação aos contratos administrativos, a Lei 
nº 12.462, de 2011, em seu art. 39, caput, determina que os contratos 
administrativos celebrados com base no RDC serão regidos pelas normas da Lei 
Geral de Licitações, a Lei nº 8.666, de 1993, com exceção das regras especificas 
previstas no RDC. Tanto que nos artigos seguintes, que disciplinam os contratos, 
na Lei do RDC, são idênticos aos dispositivos correspondentes na Lei Geral de 
Licitações. 
 
 
3.1. COMPARATIVO ENTRE O PROCEDIMENTO LICITATÓRIO NAS DUAS 
LEIS E AS INOVAÇÕES TRAZIDAS PELO RDC 
 
3.1.1. Contratação Integrada 
 
A contratação integrada é uma inovação trazida pelo Regime 
Diferenciado de Contratações Públicas, ela está prevista no art. 9 o, § 1o, da Lei 
12.462, de 2011, e poderá ser usada sempre que for justificada técnica e 
economicamente, preferencialmente para serviços e obras de engenharia. Essa 
contratação compreende a elaboração e o desenvolvimento dos projetos básico e 
executivo, na execução de obras e serviços de engenharia, na montagem, na 
realização de testes, na pré-operação e todas as demais operações necessárias e 
suficientes para a entrega final do objeto. 
Ou seja, no RDC, a contratação integrada permite que todas as 
etapas de uma obra sejam contratadas com uma única empresa, que fará os 
projetos básicos e executivos e realizará a obra, entregando-a pronta para a 
Administração Pública. 
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L8666cons.htm#capituloiv
21 
 
A Lei nº 8.666, de 1993 não prevê esse tipo de contratação. Os 
projetos básico e executivo devem ser feitos por empresas diferentes da que irá 
executar as obras e serviços de engenharia. 
No entanto, cabe ressaltar que no Regulamento do Procedimento 
Licitatório Simplificado da Petrobras (Decreto 2.745/98), já é permitida a 
contratação integrada. 
A instituição do regime de contratação integrada tem como objetivo 
buscar maior eficiência nas contratações administrativas bem como afastar um 
dos impasses que põem em causa a eficiência dos contratos celebrados: o 
planejamento e a elaboração dos projetos pela Administração Pública, a fim de 
evitar o desperdício de recursos e tempo do Poder Público. 
A contratação integrada deve ainda prescindir de um planejamento 
adequado, conforme a utilidade de transferir os encargos técnicos ao particular e 
a viabilidade de controlar a atividade do futuro contratado, preservando assim, a 
autonomia que lhe é conferida para justificar a adoção da contratação integrada. 
E para atingir esses objetivos, é necessário que a Administração Pública tenha 
parâmetros para orientar de forma suficiente a elaboração das propostas, para 
analisar estas de maneira objetiva e para controlar a sua execução. 
Na falta de parâmetros adequados para orientar a elaboração das 
propostas do objeto que será licitado, grandes são as chances de fraudar a 
licitação. Quanto mais subjetivos forem os parâmetros do planejamento, maior 
será a chance que a empresa contratada terá para fraudar o controle da sua 
atividade. Ou seja, é preciso que o Poder Público tenha critérios e parâmetros 
objetivos para o julgamento das propostas, para que possa controlar a empresa 
executora, e evitar, assim, o desvio de dinheiro público e aumentar a eficácia dos 
contratos. 
 
3.1.2. Nomes e Marcas 
 
O Regime Diferenciado de Contratações pôs fim à vedação irrestrita 
da indicação de marcas nas licitações. De acordo com a lei, é permitido que o 
edital indique as marcas nas licitações de bens, se houver necessidade de 
padronização do objeto, ou quando determinada marca ou modelo, 
22 
 
comercializado por mais de um fornecedor, for o único capaz de atender às 
necessidades da entidade contratante. 
Observa-se que a Lei nº 8.666, de 1993, proíbe a referência de 
marcas ou nomes, exceto quando isso for tecnicamente justificável ou quando o 
fornecimento desses materiais for feito sob o regime de administração contratada. 
O RDC, no art. 7º, I, da Lei nº 12.462, de 2011, prevê a possibilidade 
de indicação em edital, devidamente justificada, de marca ou modelo de 
mercadorias em situações bem mais presentes no cotidiano da Administração 
Pública, tais como: a) necessidade de padronização do objeto; b) quando apenas 
uma determinada marca, comercializada por mais de um fornecedor, for capaz de 
atender às necessidades; c) para facilitar a compreensão do objeto da licitação e 
servir de referência, devendo ser seguida da expressão “ou similar ou de melhor 
qualidade. 
Acrescenta, ainda, nos incisos seguintes do art. 7 da Lei nº 
12.462/2011, que será permitida, mediante justificação, a exigência de amostras 
no procedimento de pré-qualificação, no julgamento das propostas ou na fase de 
lances. 
E nos incisos III e IV fica patente a preocupação do legislador com a 
qualidade dos produtos a serem adquiridos. É possível exigir do fornecedor 
certificado de qualidade dos produtos ou do seu processo de fabricação, bem 
como, solicitar que o licitante apresente carta de solidariedade do fabricante, em 
que este se comprometa com a execução do contrato pelo licitante vencedor. 
Tais normas descritas no art. 7º da Lei 12.462/2011 parecem ser 
uma espécie de garantia adicional de que falhando o vencedor, a Administração 
Pública fica resguardada na obtenção efetiva dos bens de que necessita. 
 
3.1.3. Remuneração variável 
 
O RDC prevê que na contratação de obras e serviços, inclusive de 
engenharia, a empresa contratada poderá receber uma remuneração variável 
vinculada ao seu desempenho. De acordo com a lei, esse bônus será definido 
com base em metas, padrões de qualidade, critérios de sustentabilidade 
23 
 
ambiental e prazo de entrega definidos pelo Poder Público no edital da licitação e 
no contrato. 
A remuneração variável pode estar vinculada à obtenção de uma 
vantagem adicional à Administração Pública, ou seja, vinculada ao bom 
desempenho do contratado. Pode haver a previsão de determinados padrões de 
qualidade, sendo que, se forem atingidos padrões superiores e estes 
efetivamente gerarem benefícios adicionais, poderá ser vinculada a eles uma 
remuneração adicional. 
A Lei nº 8.666/93 não prevê esse bônus. No entanto, cabe 
acrescentar que a Petrobras, que utiliza o Decreto nº 2745/98 para regulamentar 
as suas licitações, que é chamado de Procedimento Licitatório Simplificado da 
Petrobras, já utiliza o mecanismo de remuneração variável para os contratos que 
envolvem várias empresas, e também quando a licitação é impossível por falta de 
competitividade. No sistema da Petrobras, também são previstas multas por 
atrasos. 
A expectativa é que com a utilização desse mecanismo nos 
contratos regidos pelo RDC haja uma melhor identificação das potencialidades 
dos contratados. Caso bem executados, os contratos de eficiência e as avenças 
que contemplam a remuneração variável poderão proporcionar economias 
relevantes ao Poder Público, na medida em que os contratados, visando a 
remuneração variável que poderão receber, terão um estimulo maior para realizar 
o objeto do contrato com maior qualidade, maior eficiência, e melhores metas 
para concretizar o objeto final, em virtude da remuneração variável. 
 
3.1.4. Inversão de fases 
 
O regime prevê a inversão de fasesno processo de licitação. Assim 
como ocorre no pregão, no RDC a fase de habilitação (exigência de documentos 
e outras obrigações legais) ocorre depois do julgamento das propostas e somente 
será cobrada do licitante vencedor. 
A inversão de fases é exceção, e só pode ocorrer mediante ato 
devidamente motivado. O RDC difere da Lei atual de licitações, a Lei nº 8.666/93, 
24 
 
fundamentalmente, por estar alinhada a flexibilização e maior agilidade no 
procedimento licitatório. 
A inversão das fases (proposta/habilitação) bem como a 
possibilidade de ofertas de lances de preços ou desconto, está prevista no art. 12, 
da Lei nº 12.462/2011, o qual estabelece que o procedimento de licitação observe 
as seguintes fases, nesta ordem: preparatória, depois a publicação do 
instrumento convocatório; aí a apresentação de propostas ou lances; depois o 
julgamento; a habilitação; a fase recursal, que será única, e por fim, o 
encerramento. 
E conforme esclarecido acima, prevê no parágrafo único do referido 
artigo, que a fase de habilitação poderá, mediante ato motivado, anteceder as 
fases de apresentação de propostas e de julgamento, desde que expressamente 
previsto no instrumento convocatório. 
Diferente do que acontece na Lei nº 8.666/93, na qual a habilitação 
ocorre antes do julgamento das propostas e é feita para todos os concorrentes. 
Distintamente ocorre também no procedimento simplificado de licitação da 
Petrobras, no qual segundo seu regulamento específico, a empresa pode 
dispensar os documentos da habilitação se o licitante possuir um certificado de 
registro em seu cadastro, pulando assim, essa fase no procedimento licitatório. 
Ademais, há na Lei a previsão de no caso de inversão de fases, só 
serão recebidas as propostas dos licitantes previamente habilitados, o que 
comprova a importância que o RDC oferece a essa fase de habilitação das 
empresas. 
A vantagem quanto a inversão de fases trazida no RDC é que ela 
simplifica o procedimento licitatório, que é um dos principais objetivos desse 
regime. No entanto, uma crítica feita quanto a inversão de fases é que ao ser 
conhecido de antemão o vencedor da licitação, é possível que este sofra 
achaques para decidir pela sua inabilitação. Cabe ainda lembrar que no pregão 
(Lei nº 10.520, de 2002), onde também está prevista a inversão de fases, por 
vezes é possível se deparar com situações de inabilitação injustas, decididas sem 
qualquer fundamento legal, somente para atender a vontade de determinados 
licitantes e prejudicar os outros. 
25 
 
A inversão de fases é uma inovação do RDC, quando comparada à 
Lei nº 8.666, de 1993, no entanto, já era prevista na Lei do Pregão (Lei nº 10.520, 
de 2002), e na Lei de Parcerias Público-Privadas (Lei nº 10.079, de 2004). A 
novidade, é que no RDC a inversão de fases não é uma escolha da 
Administração, e sim, é uma regra no procedimento licitatório. Só podendo essa 
possibilidade ser afastada, se devidamente fundamentada pelo Poder Público, 
como dispõe o art. 12, parágrafo único, da Lei nº 12.462, de 2011. 
A inversão de fases da licitação, na medida em que dispensa a 
análise da documentação de todos os particulares interessados em contratar com 
a Administração, possibilitando o exame apenas dos documentos do licitante 
declarado vencedor, certamente confere maior celeridade ao procedimento12. 
Ou seja, a inversão de fases tem a finalidade de tornar o 
procedimento licitatório mais célere, mas principalmente, torná-lo mais eficiente. 
Todas as normas do RDC devem ser utilizadas sob esse prisma da celeridade e 
da eficiência. 
O principio da eficiência, que é o principal objetivo do RDC, como já 
foi dito, na visão de J.J. Gomes Canotilho13 é também chamado de princípio da 
interpretação efetiva, e pode ser formulado assim: a uma norma constitucional 
deve ser atribuído o sentido que maior eficácia lhe dê. É um princípio operativo 
em relação a todas e quaisquer normas constitucionais, e embora sua origem 
esteja ligada à tese da atualidade das normas progmáticas, é hoje, sobretudo 
invocado no âmbito dos direitos fundamentais. 
 
3.1.5. Parcelamento e contratação simultânea 
 
De acordo com a lei que regulamenta o RDC é permitido o 
parcelamento do objeto que será licitado, inclusive em serviços de engenharia; 
assim como a contratação de mais de uma empresa para executar o mesmo 
serviço (exceto de engenharia). 
 
12
 LEFÈVRE, Mônica Bandeira de Mello. A inversão de fases e as alterações na fase de 
habilitação do RDC. Informativo Justen,Pereira, Oliveira e Talamini, Curitiba, nº 54, setembro de 
2011, disponível em http://www.justen.com.br/informativo, acesso em 06.12.2012. 
13
 CANOTILHO, J.J. Gomes. Direito Constitucional e Teoria da Constituição. 7ª ed. – Coimbra, 
Portugal : Edições Almedina, 2011. 
http://www.justen.com.br/informativo
26 
 
A Lei nº 8.666/93 não prevê a possibilidade de fracionar a execução 
do objeto. No entanto, no Regulamento do Procedimento Simplificado de Licitação 
da Petrobras também é possível que haja o fracionamento do objeto, mas a 
modalidade de licitação deve seguir o valor global do objeto antes desse 
fracionamento. 
Quanto a contratação simultânea, o art. 11 da Lei nº 12.462/2011 
prevê que a Administração Pública poderá, mediante justificativa expressa, 
contratar mais de uma empresa ou instituição para executar o mesmo serviço, 
desde que não implique perda de economia de escala, quando o objeto da 
contratação puder ser executado de forma concorrente e simultânea por mais de 
um contratado; ou quando a múltipla execução for conveniente para atender à 
Administração. E acrescenta ainda que, nas hipóteses da contratação simultânea, 
a Administração Pública deverá manter o controle individualizado da execução do 
objeto contratual relativamente a cada uma das contratadas, para evitar que as 
empresas façam a mesma coisa. A fiscalização nas hipóteses de contratação 
simultânea deve ser ainda mais rígida, e o Poder Público deve ter requisitos 
objetivos sobre o que cada empresa irá executar, e evitar assim, o desperdício do 
dinheiro público, e a má execução/prestação do serviço. 
Como será visto mais adiante, a contratação simultânea é uma 
possibilidade trazida pela nova lei, mas que vem sendo muito criticada, sob a 
argumentação de que a previsão de poder contratar mais de uma empresa ou 
instituição para executar o mesmo serviço pode trazer muitas fraudes, se não 
houver a devida fiscalização e controle por parte da Administração Publica em 
relação aos contratados. 
E quanto ao parcelamento, o inciso VI, do art. 4º da Lei nº 
12.462/2011 prevê como uma das diretrizes a serem seguidas pelas licitações e 
pelos contratos, o parcelamento do objeto, visando à ampla participação de 
licitantes, sem perda de economia de escala. 
A inovação trazida por esse dispositivo é que como o RDC foi criado 
para realização de grandes eventos, os quais envolvem grandes projetos, é talvez 
por isso que o legislador previu a possibilidade de parcelamento do objeto que 
está sendo licitado/contratado, para que mais de uma empresa pudesse executar 
os projetos. Tal previsão se aplica muito bem também para as obras do Programa 
27 
 
de Aceleração do Crescimento, que são em regra, de grande porte, mas não se 
aplica aos serviços de engenharia, conforme exposto no art. 11, §2º, da Lei nº 
12.462/2011. 
Porém, cabe ressaltar aqui também a importância do papel do Poder 
Público nessas contratações, de fiscalizar e de cobrar, para que todas as parcelas 
da obra, ou do serviço, sejam bem executadas e no prazo previsto, por todas as 
empresas. Pois caso uma empresa atrase, ou não conclua com qualidade a 
parcela do objeto para a qual foi contratada, isso pode prejudicar o objeto como 
um todo, e prejudica inclusive o trabalho realizado pelas outras empresas. 
 
3.1.6. Fase única de recursos 
 
ORegime Diferenciado de Contratações Públicas estipula uma fase 
única de recurso após a habilitação do vencedor. E acrescenta ainda que a 
intenção de apresentá-lo deve ser manifesta imediatamente após a publicação do 
resultado do vencedor da proposta. Quanto ao prazo, este continua a ser igual ao 
atual, já previsto na Lei Geral de Licitações – Lei nº 8.666/93, de cinco dias úteis. 
Igual prazo terão também as empresas que quiserem apresentar contra-
argumentos aos recursos apresentados pelas empresas que perderem. 
A lei estabelece ainda que salvo no caso de inversão de fases é que 
o procedimento licitatório terá fase recursal única, ou seja, se não houver a 
inversão de fases, haverá única fase recursal. E nela serão analisados os 
recursos referentes ao julgamento das propostas ou lances e à habilitação do 
vencedor. 
Diferente do que existia na Lei nº 8.666/93, a qual prevê duas fases 
de recurso – após a fase de habilitação e após a fase de julgamento - e ainda o 
efeito suspensivo do recurso nas fases de habilitação e de julgamento das 
propostas. Determinando ainda que a fase seguinte somente pode ocorrer depois 
de julgado o recurso anterior. 
Essa inovação trazida pelo RDC, em comparação com a Lei nº 
8.666, de 1993, tem o objetivo de acelerar o processo de licitação e contratação, 
pois diminui a quantidade de recursos a serem propostos, a serem julgados, e 
consequentemente, o tempo para terminar o procedimento licitatório. 
28 
 
Como já foi dito, o RDC apresenta algumas semelhanças com a 
modalidade do pregão, como a inversão de fases. E outra semelhança entre o 
RDC e a Lei do Pregão, é quanto a possibilidade de lances verbais sucessivos, 
buscando uma melhor negociação entre os licitantes que estão apresentando as 
suas propostas, e a Administração, que quer selecionar a proposta que melhor 
atenda ao interesse público. No pregão, de acordo com Carlos Pinto Coelho 
Motta14, instala-se como principal característica, uma interatividade ágil e verbal, 
que faz com que o próprio licitante modifique, por vezes drasticamente, os termos 
da sua proposta inicial, Esse fator supera, de fato, a letra do próprio inciso 37, 
XXI, da Constituição, que exige que no processo de licitação sejam mantidas as 
condições efetivas da proposta, nos termos da lei. 
Outra semelhança entre o pregão e o RDC, é quanto a fase recursal 
única. No pregão, ainda segundo o autor Carlos Pinto Coelho Motta, qualquer dos 
pregoantes poderá se manifestar, motivadamente, a intenção de recorrer de tal 
resultado, o que se fará em prazo fixado. O pregoeiro deverá fazer o devido 
registro do fato, abrindo o prazo de três dias para apresentação das razões do 
recurso, que ocorre, geralmente, no final do pregão. 
No entanto, em comparação com a lei geral de licitações, o RDC 
apresenta várias diferenças, diferença entre a Lei nº 12.462, de 2011 e a Lei nº 
8.666, de 1993 é quanto aos prazos para os pedidos de esclarecimento e 
impugnações ao instrumento convocatório, a primeira dispõe que no caso de 
licitação para aquisição de bens, o prazo para os referidos pedidos será de até 2 
(dois) dias úteis antes da data de abertura das propostas, e no caso de licitação 
para contratação de obras ou serviços, esse prazo será de até 5 (cinco) dias úteis 
antes da data de abertura das propostas. 
Enquanto a segunda, determina que esse prazo para pedido de 
impugnação seja de 5 (cinco) dias, para qualquer tipo de licitação, e será antes da 
data fixada para a abertura dos envelopes de habilitação, e não antes da data de 
abertura das propostas. 
A sistemática recursal prevista no RDC é um conjunto de 
características da Lei nº 8.666/93, da Lei nº 10.520/2002 e também de 
 
14
 MOTTA, Carlos Pinto Coelho. Eficácia nas licitações e contratos: estrutura da contratação, 
concessões e permissões, responsabilidade fiscal, pregão – parcerias público privadas. 10ª 
ed. Belo Horizonte : Del Rey, 2005. 
29 
 
mecanismos próprios. Como prevê a lei nº 12.462/2011, é possível que haja a 
realização da etapa de habilitação previamente à de julgamento de proposta, 
desde que fundamentada (inversão de fases). Nesses casos, haverá também a 
possibilidade de interposição de recursos em dois momentos distintos: após a 
fase de habilitação e depois do julgamento das propostas, o que acarretaria em 
um maior decurso de tempo para a realização do certame, indo de encontro a um 
dos princípios básicos do RDC, que é a celeridade. 
Destaca-se que a interpretação de todas as normas do RDC, logo, 
as normas da fase recursal, deve ser feita sob o olhar dos princípios basilares 
desse regime, que são a celeridade e a agilidade na condução das licitações, sem 
olvidar de mecanismos de controle dos atos administrativos. Deve-se ter 
consciência que recursos administrativos meramente protelatórios, interpostos por 
advogados de má fé para atingir algum objetivo da empresa, ou simplesmente 
para ganhar tempo e regulamentar alguma pendência da empresa, não serão 
admitidos em hipótese alguma, e são condenados pelo Poder Público. 
 
3.1.7. Pré-qualificação 
 
O RDC inova com a chamada pré-qualificação permanente, a qual 
pode ser efetuada de acordo com os grupos ou segmentos, segundo as 
especialidades dos servidores, tendo validade por um ano, e podendo ser 
atualizada a qualquer momento. A Lei nº 12.462/2011 estabelece também que um 
regulamento estabelecerá as condições em que a Administração poderá fazer 
uma licitação restrita aos pré-qualificados. Sendo ainda um mecanismo útil para 
tornar o procedimento licitatório mais rápido e mais seguro para a Administração 
Pública. 
Essa não é uma previsão tão inovadora nos processos licitatórios, 
haja vista que a Lei nº 8.666/93 permite a pré-qualificação de licitantes na 
modalidade de concorrência sempre que o objeto da licitação recomende maior 
análise da qualificação técnica dos interessados. 
A diferença entre a pré-qualificação prevista no art. 114 da Lei nº 
8.666/93 e a do art. 30 da Lei nº 12.462/2011 é que a primeira envolve 
especificamente uma única licitação, reduzindo a competição para um 
30 
 
determinado contrato; enquanto a segunda pode ser aplicada para uma série 
indeterminada de licitações, por ter essa natureza permanente, e validade de um 
ano. Ou seja, a inovação é que as empresas pré-qualificadas, e cadastradas no 
Poder Público, já qualificadas segundo as especialidades, podem ser utilizadas 
para várias licitações, dentro do prazo de validade do seu cadastro, que é de um 
ano, e pode ser atualizado sempre. Outra semelhança está presente na fase de 
habilitação das propostas, pois o RDC prevê que na fase de habilitação das 
licitações, aplicar-se-á, no que couber, o disposto nos arts. 27 a 33 da Lei nº 
8.666/93. 
Embora já houvesse sua previsão em uma modalidade na Lei nº 
8.666/93, a extensão dessa possibilidade para todas as licitações do RDC 
permitem enfrentar alguns dos problemas muito importantes e merecem ser 
generalizadas para o âmbito das contratações públicas em geral. 
A pré-qualificação é uma decisão administrativa de que um 
determinado licitante preenche os requisitos genéricos e/ou específicos de 
habilitação, ou ainda, que certo objeto apresenta qualidade mínima satisfatória 
para atender à necessidade administrativa, podendo ainda esta ser parcial ou 
total, contendo alguns ou todos os requisitos de habilitação ou técnicos 
necessários à contratação. 
A referida previsão está disciplinada no artigo 30 da Lei nº 
12.462/2011, o qual considera a pré-qualificação permanente o procedimento 
anterior à licitação destinado a identificar: fornecedores que reúnam condições de 
habilitação exigidas para o fornecimento de bem ou a execução de serviço ou 
obra nos prazos, locais e condições previamente estabelecidos; e bens que 
atendam às exigências técnicas e de qualidade da Administração Pública.Os parágrafos seguintes do referido artigo, estabelecem normas 
sobre essa pré-qualificação, como já foi dito, e acrescenta ainda que a pré-
qualificação poderá ser parcial ou total, contendo alguns ou todos os requisitos de 
habilitação ou técnicos necessários à contratação, assegurada, em qualquer 
hipótese, a igualdade de condições entre os concorrentes. 
31 
 
Existe ainda, segundo Marçal Justen Filho15, o risco de que a 
adoção da pré-qualificação acarrete a elevação dos preços pagos pelo Poder 
Público, o que pode produzir efetivos prejuízos para os entes estatais. Ele 
defende ainda que para que não exista esse risco, os requisitos de pré-
qualificação devem ser os mínimos necessários a garantir a satisfação das 
necessidades da Administração Pública e que o procedimento de pré-qualificação 
seja destituído de burocracias e impedimentos. Devendo modelar essa de modo a 
assegurar o maior número possível de competidores, com o fim de evitar desvios 
e abusos, e garantir uma maior concorrência entre as empresas, provocando 
consequentemente, que o Poder Público contrate a melhor empresa para atingir 
seu objetivo. 
Sobre o assunto, nas informações prestadas pela AGU, pelo 
Fernando Luiz Albuquerque Faria, à ADIn nº 4655, em tramitação no STF, o 
Advogado Geral da União Substituto, acerca da constitucionalidade da Lei nº 
12.462/2011, defende que a pré-qualificação consiste na retirada da fase de 
habilitação do próprio procedimento licitatório, a qual passa a ser realizada 
previamente. E sua finalidade é agilizar o procedimento licitatório, tendo em vista 
que evita a tentativa de habilitação de candidatos que não possuam idoneidade 
financeira, capacidade técnica, capacidade jurídica ou regularidade fiscal para 
concorrerem ao objeto do certame. Desse modo, evitam-se as discussões e 
recursos decorrentes da rejeição de determinado candidato, tomando a licitação 
mais célere. 
 
3.1.8. Proposta vencedora e julgamento 
 
Inicialmente cabe informar que as diretrizes para o julgamento das 
propostas nas licitações do RDC são muito similares aos da Lei nº 8.666/93, mas 
difere quanto as disposições acerca da proposta vencedora, além de inovar em 
adotar critérios diferentes de julgamento. A Lei prevê os seguintes critérios de 
 
15
 JUSTEN FILHO, Marçal. A pré-qualificação como procedimento auxiliar das licitações no 
RDC (Lei 12.462/2011). Informativo Justen, Pereira, Oliveira e Talamini, Curitiba, nº 56, outubro 
de 2011, disponível em http://www.justen.com.br/pdfs/IE56/IE56-marcal_rdc.pdf, acesso em 
09.10.2012. 
http://www.justen.com.br/pdfs/IE56/IE56-marcal_rdc.pdf
32 
 
julgamento: menor preço ou maior desconto; técnica e preço; melhor técnica ou 
conteúdo artístico; maior oferta de preço; ou maior retorno econômico16. 
Os três primeiros, já estavam presentes na Lei nº 8.666/93, de 
maneira idêntica. O critério de maior oferta ou preço, só era possível nos casos de 
alienação de bens ou concessão de direito real de uso, e foi estendido para todo e 
qualquer objeto da licitação. E o ultimo, o de maior retorno econômico, é uma 
inovação trazida pela Lei nº 12.462, que trás muitas vantagens para o Poder 
Público. 
Muito há que se falar acerca da inovação trazida pelo RDC, não 
cabe falar dos outros critérios de julgamento, pois são similares aos que já 
estavam previstos na Lei Geral de Licitações. 
Esse critério de julgamento está disciplinado no art. 23 da Lei nº 
12.462/2011, o qual estabelece que esse somente poderá ser utilizado para a 
celebração de contratos de eficiência, e as propostas serão consideradas de 
forma a selecionar aquela que proporcionará a maior economia para a 
administração pública decorrente da execução do contrato. Ora, tendo em vista 
que a licitação busca escolher uma proposta que melhor atenda às suas 
necessidades, adotar como critério de julgamento, aquela que poderá trazer o 
maior retorno econômico, é muito positivo para o procedimento licitatório. 
Ademais, na fase de apresentação de propostas, os licitantes apresentarão 
propostas de trabalho e de preço, conforme dispuser o edital. 
Estabelece ainda que o contrato de eficiência a ser celebrado entre 
o contratado e o Poder Público terá por objeto a prestação de serviços, que pode 
incluir a realização de obras e o fornecimento de bens, com o objetivo de 
proporcionar economia ao contratante, na forma de redução de despesas 
correntes, sendo o contratado remunerado com base em percentual da economia 
gerada. 
Outra vantagem desse critério de julgamento, é que a Lei prevê 
ainda as sanções que devem ser aplicadas àquelas empresas vencedoras que 
não cumprirem o acordado com o Poder Público. No momento em que determina 
que nos casos em que não for gerada a economia prevista no contrato de 
eficiência: a diferença entre a economia contratada e a efetivamente obtida será 
 
16
 Lei nº 12.462/2011, art. 18 e incisos. 
33 
 
descontada da remuneração da contratada; se a diferença entre a economia 
contratada e a efetivamente obtida for superior à remuneração da contratada, 
será aplicada multa por inexecução contratual no valor da diferença; e a 
contratada sujeitar-se-á, ainda, a outras sanções cabíveis caso a diferença entre 
a economia contratada e a efetivamente obtida seja superior ao limite máximo 
estabelecido no contrato (Lei 12.462/2011, art. 23, §3, incisos I, II e III). 
Embora esse critério de julgamento possa trazer enormes benefícios 
para o Poder Público, apresenta também um enorme risco, pois uma vez que a 
remuneração da empresa vencedora da licitação será feita com a economia 
gerada pela Administração, isso traz certa insegurança, pode ser que a empresa 
traga muita economia para ela, mas também pode ser que não, a depender de 
como decorra a execução do projeto. Não haverá desembolso por preço certo e 
determinado em contrato, ele será remunerado em virtude do valor economizado, 
que pode variar, a depender da economia gerada. Como por exemplo, soluções 
que resultem em economia de água, energia elétrica, soluções ambientais, etc. 
Dessa forma, conclui-se que embora essa inovação trazida pelo RDC possa 
trazer benefícios para a Administração, há riscos também. 
Agora, a respeito da proposta vencedora, a Lei nº 12.462/2011 
determina que no caso de o licitante vencedor se recusar a contratar ou de não 
executar o contrato integralmente, a convocação dos licitantes remanescentes 
acompanham o objetivo de preservar os postulados de vantajosidade, idoneidade, 
eficiência, celeridade, competitividade, padronização, que são estimulados por 
essa nova modalidade de licitação que é o RDC. 
A Lei nº 12.462/2011 prevê ainda que na hipótese de o vencedor da 
licitação não querer assinar o contrato e os demais classificados não aceitarem 
assiná-lo nas condições ofertadas pelo vencedor, a Administração Pública poderá 
usar os preços dos outros classificados para a realização do contrato, desde que 
não sejam superiores ao orçamento estimado para a contratação daquele objeto. 
Na Lei nº 8.666/93, o art. 64, §2º, identifica as seguintes 
possibilidades para convocar os licitantes remanescentes para assinar o contrato 
nas mesmas condições propostas pelo primeiro classificado: deverá obedecer a 
ordem de classificação, para fazer o objeto da licitação em igual prazo e nas 
mesmas condições propostas pelo primeiro classificado, inclusive quanto aos 
34 
 
preços atualizados de conformidade com o ato convocatório; ou revogar a 
licitação. 
Dessa forma, na Lei Geral de Licitações, a falta de assinatura do 
contrato pelo licitante vencedor ou a não aceitação ou a não retirada, após a 
adjudicação, resulta na faculdade de contratação pelo Poder Público, de adotar 
duas condutas excludentes: ou convoca os remanescentes ou revoga a licitação. 
Enquanto na Lei nº 12.462/2011,sobre o assunto, determina o art. 
40 que nos casos em que o vencedor da licitação não assinar o termo de contrato 
ou não aceitar ou retirar o instrumento equivalente no prazo e condições 
estabelecidos, a Administração Pública pode: revogar a licitação, sem prejuízo da 
aplicação das cominações previstas na Lei no 8.666/93, e nesta Lei; ou convocar 
os licitantes remanescentes, na ordem de classificação, para a celebração do 
contrato nas condições ofertadas pelo licitante vencedor. Hipóteses já previstas 
na Lei nº 8.666/93. 
A inovação do RDC está no Parágrafo único do artigo 40, que 
estabelece que na hipótese de nenhum dos licitantes aceitar a contratação nas 
condições ofertadas pelo licitante vencedor, a administração pública poderá 
convocar os licitantes remanescentes, na ordem de classificação, para a 
celebração do contrato nas condições ofertadas por estes, desde que o respectivo 
valor seja igual ou inferior ao orçamento estimado para a contratação, inclusive 
quanto aos preços atualizados nos termos do instrumento convocatório17. 
O RDC tipifica também as sanções aplicáveis ao vencedor 
desistente e ao remanescente que aceitar a contratação e também recusar 
expressa ou tacitamente, no art. 74 da Lei nº 12462/2011, o legislador 
estabeleceu como sanção para o vencedor desistente, o impedimento da 
empresa de licitar com todos os entes federativos por até 5 anos (não mais dois 
anos, como prevê o art. 87, III, da Lei 8666/93), a aplicação de multas previstas 
no edital e no contrato, e o descredenciamento por cinco anos da empresa 
perante todos os entes federativos que compõem, neste caso, a Autoridade 
Pública Olímpica. 
Outra diferença entre o RDC e a Lei nº 8666/93 é que nessa não há 
previsão de prorrogação do prazo para o comparecimento do licitante vencedor, 
 
17
 Lei nº 12.462/2011, artigo 40, parágrafo único. 
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L8666cons.htm
35 
 
nem há liberação dos licitantes, caso não sejam convocados em 60 dias após a 
entrega das propostas. 
 
3.1.9. Padronização de instrumentos convocatórios e minutas de contratos 
 
Outra inovação trazida pela Lei nº 12.462/2011 e regulamentada 
pelo Decreto 7.581, é a padronização de instrumentos convocatórios e minutas de 
contratos, previamente aprovados pelo órgão jurídico competente, exposto no art. 
4, inciso II, da referida Lei. A Lei nº 8.666/93 não tem mecanismo correspondente. 
O Decreto 7.581 regulamenta essa previsão, e estabelece que a 
Comissão de Licitação é quem deverá escolher se para determinado 
procedimento licitatório ela irá elaborar as minutas dos editais e contratos ou irá 
utilizar a minuta padrão elaborada pela Comissão de Catálogo Eletrônico de 
Padronização, e submetê-las ao órgão jurídico responsável por aquela licitação. 
Quanto a esse Catálogo Eletrônico de Padronização, cabe 
esclarecer que é um sistema informatizado criado pelo Decreto para atender as 
diretrizes do RDC, que valoriza as licitações por meios eletrônicos e de formas 
mais céleres, e que prevê a padronização de bens, serviços e obras a serem 
adquiridos pelo Poder Público. O referido catálogo deve conter: a) a especificação 
de bens, serviços ou obras; b) a descrição de requisitos de habilitação de 
licitantes, conforme o objeto da licitação; c) modelos de instrumentos 
convocatórios, minutas de contratos, termos de referência, projetos de referência; 
e d) outros documentos necessários ao procedimento de licitação que possam ser 
padronizados, de acordo com o art. 110, e incisos seguintes, do Decreto 7.581, de 
2011. 
E ressalta-se que o referido catálogo será usado exclusivamente nas 
licitações cujo critério de julgamento for o de menor preço ou o de maior 
desconto. 
Ou seja, a lei prevê como diretriz que haja a padronização dos 
instrumentos convocatórios e minutas de contratos, e o Decreto regulamenta tal 
previsão, dando à Comissão de Licitação o poder de decidir, se para aquele 
determinado procedimento licitatório é mais interessante para o Poder Público 
elaborar uma nova minuta ou utilizar uma minuta padrão, já elaborada pela 
36 
 
Comissão do Catálogo Eletrônico de Padronização, desde que antes de submeter 
ao público, haja a aprovação do órgão jurídico responsável. Tal previsão no 
ordenamento jurídico demonstra a flexibilização por parte da Administração 
Pública, que pode escolher, de acordo com o objeto do contrato, a melhor forma 
de proceder com a licitação e com os contratos. 
 
3.1.10. Procedimento nos moldes da Lei nº 8.666, de 1993 e no Regime de 
Contratações 
 
A Lei nº 8.666, de 1993 prevê um procedimento específico para 
cada modalidade de licitação, no entanto, podem-se verificar procedimentos em 
comum entre elas. Sendo o procedimento mais complexo o da concorrência, por 
ser a modalidade de licitação que envolve maiores valores. 
O procedimento da licitação, de acordo com o art. 38 da Lei 8.666, 
de 1993, tem início com a fase interna, que consiste na abertura do processo 
administrativo, que contem a autorização da sua abertura, e a indicação sucinta 
do seu objeto e do recurso próprio para a despesa, e ao qual serão juntados 
oportunamente todos os atos da administração e dos licitantes, como edital, 
propostas, atas, pareceres, recursos, etc. 
Ademais, esses primeiros atos administrativos são atos prévios, 
internos, como a autorização, a indicação do objeto e dos recursos próprios para 
a despesa, que são preparatórios do procedimento da licitação, que só se torna 
público com a convocação dos interessados por meio do instrumento adequado. 
E com o fim da fase interna, tem início a fase externa, e cada modalidade têm as 
suas peculiaridades, podendo ser mais simples, ou mais complexa. 
Ou seja, há uma etapa interna e uma externa. Sendo a primeira 
aquela em que a promotora do certame pratica todos os atos condicionais a sua 
abertura. E a segunda, é aquela após a publicação do edital ou convites, na qual 
ocorre a convocação de interessados, as condições de participação e disputa18. 
No entanto, a grande crítica ao procedimento das licitações, nos 
moldes da lei 8.666, de 1993, é que são tantas fases, os prazos são tão extensos, 
 
18
 MELLO, Celso Antonio Bandeira de. Curso de Direito Administrativo. 28 ed, São Paulo: 
Malheiros, 2010. 
37 
 
são tantos recursos, que obstam o Poder Público de realizar uma licitação célere, 
e o procedimento licitatório se torna muito lento. Ou seja, a lei de licitações prevê 
tantas etapas, que torna impossível a realização de uma licitação célere pela 
Administração Pública, a qual acaba sofrendo graves prejuízos em virtude disso. 
Como já foi dito, foi buscando a celeridade e a eficiência, que foi 
criado o RDC, para as contratações especificas. Ressalta-se também, que há no 
Congresso Nacional, o Projeto de Lei nº 7709/2007, o qual prevê muitas 
alterações na Lei nº 8.666, de 1993, para tornar esse processo licitatório mais 
eficaz, mas está parado. 
Quanto ao procedimento, o Regime Diferenciado de Contratações 
trouxe inovações significativas, quando comparado com os procedimentos de 
licitação tradicionais. A Lei nº 12.462, de 2011, trouxe a inversão de fases, como 
já ocorria na modalidade do pregão, na qual a fase de julgamento precede a 
habilitação, bem como, importante modificação no procedimento tradicional é a 
possibilidade da adoção dos “modos de disputa” aberto, fechado e a combinação 
entre ambos, na forma de regulamento a ser aditado19. 
De acordo com o art. 17, da Lei nº 12.462, de 2011, no modo de 
disputa aberto, os licitantes apresentam suas ofertas por meio de lances públicos 
e sucessivos, crescentes ou decrescentes, conforme o critério de julgamento 
adotado; e no modo de disputa fechado, as propostas apresentadas pelos 
licitantes, serão sigilosas até a data e hora designadas paraque sejam 
divulgadas. Sendo possível ainda, a apresentação de lances intermediários, 
durante a disputa aberta; e o reinicio da disputa aberta, após a definição da 
melhor proposta e para a definição das demais colocações. 
 
3.2. EXTENSÃO DO RDC PARA OBRAS DO PROGRAMA DE ACELERAÇÃO 
DO CRESCIMENTO – PAC E PARA A REALIZAÇÃO DE OBRAS E SERVIÇOS 
DE ENGENHARIA NO ÂMBITO DOS SISTEMAS PÚBLICOS DE ENSINO 
 
Em 2012, o Regime Diferenciado de Contratações Públicas teve seu 
objeto estendido, para que todas as licitações e contratos que envolvessem o 
 
19
 GASPARINI, Diogenes. Direito Administrativo. 17 ed. Atualizada por Fabricio Motta – São 
Paulo : Saraiva, 2012. 
38 
 
Programa de Aceleração do Crescimento - PAC e as obras e serviços de 
engenharia no âmbito dos sistemas públicos de ensino, pudessem utilizar a Lei nº 
12.462, de 2011. 
Antes de falar especificamente acerca de cada uma dessas 
mudanças, cabe ressaltar alguns aspectos. Primeiro, a Lei nº 12.462, de 2011, foi 
criada com os objetos específicos, referentes aos eventos da Copa do Mundo, e 
das Olimpíadas, que acontecerão no Brasil nos anos de 2014 e 2016, 
respectivamente. Essa lei foi criada então, com um prazo determinado para 
terminar, ou seja, só poderiam utilizar esse regime diferenciado, as obras e 
serviços que estivessem relacionadas com esses eventos, até a data dos seus 
acontecimentos. 
Desta forma, a expansão desse regime diferenciado para as obras 
do PAC e do sistema público de ensino, contraria esse pensamento, pois alonga a 
possibilidade de utilização desse regime para um período indeterminado, e 
principalmente, para objetos que não são específicos. Tem-se ai, uma grande 
crítica acerca dessas extensões. 
Sobre a temporalidade da lei, muito já foi discutido no Tribunal de 
Contas da União, e sobre isto, é importante frisar o entendimento deste órgão 
fiscalizador, sobre a possibilidade de obras e serviços que envolvam a realização 
dos eventos só ficarem prontos após 2016. E já se decidiu que mesmo as obras 
que tenham sua conclusão prevista para data posterior ao evento, essas poderão 
utilizar o RDC, desde que algum benefício da obra esteja pronto e possa ser 
aproveitado pelos eventos. 
Em um processo do Tribunal de Contas da União, que analisou a 
licitação é baseada no Regime Diferenciado de Contratações Públicas – RDC, 
realizado na forma presencial e aberta, com lances públicos e sucessivos 
decrescentes, julgados sob o critério de "menor preço". Sobre a temporalidade, o 
Relator decidiu: 
Chamou-me a atenção, contudo, que o prazo de vigência do contrato a 
ser assinado será de 47 meses – posterior, portanto, ao evento Copa do 
Mundo de 2014. A obra licitada só terminará em 2017. Levando em 
conta que a licitação foi realizada mediante o RDC, e considerando que 
nos termos do art. 1º, incisos de I a III, da Lei 12.462/2011 estabelece-se 
que só poderão se utilizar do Regime Diferenciado de Contratação 
Pública as obras relacionadas à Copa de 2014 e às Olimpíadas de 2016, 
39 
 
determinei a realização de oitiva da Infraero para que a empresa se 
manifestasse sobre a questão. 
(...) A Infraero, em extrato, arguiu o seguinte: 
a) as obras para reforma e ampliação do Aeroporto Internacional Pinto 
Martins foram divididas em duas etapas: uma com prazo de conclusão 
para o início de 2014 e outra para 2016; b) o uso do RDC na obra em 
análise estaria legitimado, em face do art. 42, ambos da Lei 12.462/11. 
Em outra mão, se a parcela a ser concluída posteriormente, por suas 
características, oferecer prejuízo técnico e econômico de contratação 
distinta com a outra fração a ser terminada até os eventos esportivos, 
por legítimo interesse público a ser perseguido nos ganhos de economia 
e eficiência da empreitada, não haveria o porquê de se afastar o RDC 
para a obra como um todo. 
Nesses termos e diante do que expus, entendo que se deva 
determinar à Infraero, com base no art. 250, inciso II, do Regimento 
Interno do TCU, nos casos de obras com término posterior à Copa 
do Mundo de 2014 – ou às Olimpíadas de 2016, que somente utilize 
o Regime Diferenciado de Licitações Públicas (RDC) nas situações 
em que ao menos fração do empreendimento tenha efetivo proveito 
para a realização desses megaeventos esportivos, cumulativamente 
com a demonstração da inviabilidade técnica e econômica do 
parcelamento das frações da empreitada a serem concluídas a 
posteriori, em atendimento ao disposto nos arts. 1º, incisos de I a III, 
39 e 42 da Lei 12.462/2011, c/c o art. 23, § 1º, da Lei 8.666/93.
20
 (Grifo 
do autor) 
 
Cabe ressaltar que esse é o entendimento do Conselheiro Relator 
Valmir Campelo, no acórdão 1324, de um processo que analisou as obras no 
Aeroporto Pinto Martins, em Fortaleza/CE. Mas o importante é entender o que o 
TCU vem entendendo acerca da possibilidade de utilização do RDC para obras 
que tenham conclusão prevista para após a data dos eventos mundiais. 
 Agora, sobre as extensões do RDC, em 2012. Recentemente foi 
publicada no Diário Oficial a Lei n° 12.688, de 18 de julho de 2012, na qual um 
dos seus dispositivos incluiu no RDC, as licitações e contratos das obras do 
Programa de Aceleração do Crescimento – PAC, programa que começou em 
2007. Essa inovação acelera obras e as metas do programa, já que reduz o 
tempo dos procedimentos licitatórios e das contratações. A inclusão do PAC no 
Regime Diferenciado de Contratações Públicas permite ao Executivo usá-lo para 
acelerar os objetivos do Programa, que engloba um conjunto de políticas 
 
20 Processo nº038.038/2011-0 Diário Oficial da União: vide data do DOU na ATA 20 - Plenário, de 
30/05/2012. Disponível em: https://contas.tcu.gov.br/juris/SvlHighLight?key=ACORDAO-LEGADO-
108204&texto=726463&sort=RELEVANCIA&ordem=DESC&bases=ACORDAO-LEGADO;DECISAO-
LEGADO;RELACAO-LEGADO;ACORDAO-RELACAO-LEGADO;&highlight=726463&posicaoDocumento=0. 
40 
 
econômicas e tem como objetivo principal acelerar o crescimento econômico do 
Brasil. 
O art. 28 da Lei nº 12.688/2012 acrescentou na Lei nº 12.642/2011, 
dentro possíveis aplicações do RDC, o inciso IV – das ações integrantes do 
Programa de Aceleração do Crescimento – PAC. 
A lei nº 12.688/2012, originalmente, não foi criada apenas para isso, 
ela autoriza a Eletrobras a adquirir participação na Celg Distribuição S.A. Além da 
ampliação do RDC em obras do governo, a Medida Provisória nº 559, que de 
origem à Lei nº 12.688/2012, recebeu alteração para possibilitar a troca de até R$ 
17 bilhões em dívidas tributárias de instituições de ensino superior de todo o país 
em troca de bolsas de estudo do Programa Universidade Para Todos (ProUni). 
O governo já tinha tentado aprovar a ampliação do RDC para o PAC 
em outra Medida Provisória, que não foi transformada em lei. Sem acordo sobre 
esse ponto, e também sobre o teto da Participação nos Lucros e Resultados 
(PLR) que poderia ser isenta do Imposto de Renda, a referida MP acabou 
perdendo a validade. 
Quando entrou em vigor a Lei nº 12.688/2012, mais precisamente do 
art. 28, que incluiu as obras do PAC ao RDC, o Ministério Público Federal, que 
ajuizou uma Ação Direta de Inconstitucionalidade contra a Lei nº 12.462/2011 – a 
ADIN 4655, protocolou a petição nº 45045/2012, a qual aditou a petição inicial, 
para pedir que as razões presentes na Petição Inicial, acerca da 
inconstitucionalidade da lei, também fossem estendidas ao dispositivo que 
acrescenta como objetos específicos do RDC as obras do PAC. 
Na referida petição, o Procurador Geral da República defendeu que 
ao criar mais uma hipótese de aplicação do RDC, as alterações efetuadas na lei 
impugnada agravaram ainda mais o quadro de violação ao principio da licitação, 
que, também nos casos das obras do PAC, teve seu regime jurídico transferido ao 
Executivo sem quaisquer critérios preordenados na

Continue navegando