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MusicaAgenteIntegracao-Souza-2021

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Universidade Federal do Rio Grande do Norte 
Escola de Música 
Licenciatura em Música 
 
 
 
 
ELIABI LIMA DE SOUZA 
 
 
 
MÚSICA COMO AGENTE DE INTEGRAÇÃO E ORIENTAÇÃO SOCIAL: UM 
RELATO DE EXPERIÊNCIA NA ONG ASSOCIAÇÃO GUAMAREENSE DE 
PROTEÇÃO E EDUCAÇÃO AMBIENTAL - ASPAM 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Natal/RN 
2021 
ELIABI LIMA DE SOUZA 
 
 
 
 
 
 
 
MÚSICA COMO AGENTE DE INTEGRAÇÃO E ORIENTAÇÃO SOCIAL: UM 
RELATO DE EXPERIÊNCIA NA ONG ASSOCIAÇÃO GUAMAREENSE DE 
PROTEÇÃO E EDUCAÇÃO AMBIENTAL - ASPAM 
 
 
 
 
 
 
Monografia apresentada como exigência parcial 
para obtenção do título de Graduação em 
Licenciatura plena em Música à Banca 
Examinadora da Escola de Música da 
Universidade Federal do Rio Grande do Norte. 
Orientador: Prof. Dr. Ticiano Maciel D’Amore. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Natal/RN 
2021 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
ELIABI LIMA DE SOUZA 
 
 
MÚSICA COMO AGENTE DE INTEGRAÇÃO E ORIENTAÇÃO SOCIAL: UM 
RELATO DE EXPERIÊNCIA NA ONG ASSOCIAÇÃO GUAMAREENSE DE 
PROTEÇÃO E EDUCAÇÃO AMBIENTAL - ASPAM 
 
 
Monografia apresentada como exigência 
parcial para obtenção do título de 
Graduação em Licenciatura plena em 
Música à Banca Examinadora da Escola 
de Música da Universidade Federal do Rio 
Grande do Norte. 
Orientador: Prof. Dr. Ticiano Maciel 
D’Amore. 
 
Aprovada em ___/___/___ 
 
BANCA EXAMINADORA: 
 
______________________________________ 
Prof.° Dr.° Ticiano Maciel D’Amore 
Universidade Federal do Rio Grande do Norte 
Orientador 
______________________________________ 
Prof.ª Dr.ª Germanna França da Cunha 
Universidade Federal do Rio Grande do Norte 
Membro da Banca 
_______________________________________ 
Prof.ª Dr.ª Tamar Genz Gaulke 
Universidade Federal do Rio Grande do Norte 
Membro da Banca 
DEDICATÓRIA 
 
 
 
 
 
 
Este trabalho é dedicado a minha mãe Maria de Fátima, ao 
meu pai Francisco Aldo, aos meus irmãos Elaine Cristina, David 
Anderson e Johnathas Lima, à minha primogênita Evelin Kamile e, 
em especial, à minha esposa Ulay Barros, mãe dos meus filhos, 
Sofia e Theo, por estarem comigo desde o início desta jornada me 
incentivando e me ajudando em todos os momentos. Amo todos 
vocês. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
AGRADECIMENTOS 
 
Agradeço mais uma vez a toda minha querida e amada família por todo 
apoio e confiança. 
Agradeço a minha esposa Ulay de Barros pela paciência, apoio e 
parceria estando sempre ao meu lado me dando força para não desistir. 
Agradeço aos colegas professores e colaboradores que trabalharam 
comigo na ASPAM, dividindo muitas alegrias e não alegrias referentes às 
dificuldades na realização da missão em todos esses anos de dedicação. 
A Iruvane Galvão de Miranda, Presidente da ASPAM, e Manoela Galvão, 
Coordenadora, por todo apoio e confiança em minha pessoa durante os anos 
em que integrei o quadro de professores. Obrigado por tudo. 
Ao meu primeiro professor de bateria João Paulino filho e minha querida 
professora do curso técnico Germanna França da Cunha, de quem recebi todo 
carinho e acolhimento dos dois durante todo os anos de estudos. E, hoje, poder 
olhar para trás e ser completamente grato a eles por tudo. 
Ao meu professor Orientador Ticiano Maciel D’Amore por me direcionar 
com todo cuidado e paciência para elaborar este trabalho. Uma pessoa que 
tenho grande estima. 
A minha turma de 2016.1 por todos os risos e “perrengues” que 
passamos juntos. 
A todos que acreditaram e acreditam no meu potencial e onde posso 
chegar. 
 
 
 
 
 
 
 
 
RESUMO 
O presente trabalho tem por objetivo compreender como o ensino de música 
pode contribuir para a integração e orientação social de crianças e jovens, 
realizado na Organização Não Governamental (ONG) Associação 
Guamareense de Proteção e Educação Ambiental – ASPAM -, voltado para 
crianças e jovens do município. Busca proporcionar compreensão do 
mecanismo e funcionalidade da aula aplicada, atentando para uma maior 
percepção de como proceder no tocante às várias formas de pensar dos 
alunos, como também, analisar comportamentos de socialização, interação, 
identificação e resultados adquiridos pela vivência da aula de música. As 
etapas realizadas foram baseadas na observação de classe, na regência, em 
apresentações, recitais e em anotações feitas em um diário de classe. Os 
relatos aqui contidos buscam explicitar de forma científica todo o passo a passo 
da experiência alcançada no âmbito do ensino de música e suas funções, que 
vão além do ensino técnico específico transpassando à situação de 
vulnerabilidade social. Com isso, torna-se necessário por possibilitar um 
aprendizado mais humanizado e voltado ao contexto local procurando entender 
os pontos que mais apresentavam cuidados. Este relato permite a afirmação do 
exposto, como também oportuniza a troca de experiências, envolvendo 
professor e aluno. Desta forma, o trabalho proporciona evidências positivas e já 
comprovadas também por outros professores e pesquisadores dando base 
para formação do repertório didático e unindo ideias que serão de grande 
relevância na atuação profissional. 
 
 
 
Palavras-chave: Ensino de música. Projeto Social. Aula de Instrumento. ONG. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
ABSTRACT 
This work aims to understand how music education can contribute to the 
integration and social guidance of children and young people, carried out at the 
Non-Governmental Organization (NGO) Guamareense Association for 
Environmental Protection and Education - ASPAM -, aimed at children and 
young people from County. It seeks to provide an understanding of the 
mechanism and functionality of the applied class, paying attention to a greater 
perception of how to proceed with regard to the various ways of thinking of 
students, as well as analyzing behaviors of socialization, interaction, 
identification and results acquired through the experience of the music class. 
The steps performed were based on class observation, conducting, 
presentations, recitals and notes made in a class diary. The reports contained 
herein seek to explain in a scientific way the entire step-by-step experience 
achieved in the context of music education and its functions, which go beyond 
specific technical education, going beyond the situation of social vulnerability. 
With this, it becomes necessary to enable a more humanized learning and 
focused on the local context, trying to understand the points that most needed 
care. This report allows the statement of the above, as well as providing 
opportunities for the exchange of experiences, involving teacher and student. In 
this way, the work provides positive evidence that has already been proven by 
other professors and researchers, providing the basis for the formation of the 
didactic repertoire and uniting ideas that will be of great relevance in 
professional practice. 
 
 
 
Keywords: Music teaching. Social project. Instrument Class. NGO. 
 
 
LISTA DE FIGURAS 
 
 
Figura 01 – Capa do método de bateria Stick Control .......................................... 29 
Figura 02 – Primeira página de exercícios do Stick Control ................................. 29 
Figura 03 - Capa do método de bateria Realistic Rock ........................................ 30 
Figura 04 - Primeira página de exercícios escrita em linhas rítmicas ................... 30 
Figura 05 - Capa do método Pozzoli .................................................................... 31 
Figura 06 - Primeira série do método Pozzoli....................................................... 31 
Figura07 - Aluno exercitando durante a aula primeira página do método de 
bateria Realistic Rock. .......................................................................................... 32 
Figura08 - Alunos executando o mesmo exercício simultaneamente .................. 32 
Figura09 - Apresentação durante recital de uma peça para trio de bateria.Aqui, 
ao centro, eu participei tocando com dois alunos meus ....................................... 33 
Figura10 - Grupo de percussão Batuques do Mangue durante ensaio ................ 34 
Figura 11 - Batuques do Mangue apresentando em recital .................................. 35 
Figura 12 - Tambores e latas ............................................................................... 35 
Figura 13 - Exemplo de uma célula rítmica de samba-reggae dividida para aula 
de percussão ........................................................................................................ 36 
Figura 14 - Batuques do Mangue em desfile ........................................................ 37 
Figura 15 - Apresentação em praça pública ......................................................... 37 
Figura 16 – Final de um recital de bateria no salão do projeto ............................. 42 
 
 
 
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS 
 
ASPAM Associação Guamareense de Proteção e Educação Ambiental 
EMUFRN Escola de Música da Universidade Federal do Rio Grande do 
Norte 
GENV Grupo Ecológico Natureza e Vida 
ONG Organização Não Governamental 
OSRN Orquestra Sinfônica do Rio Grande do Norte 
PCP Programa de Criança Petrobras 
UFRN Universidade Federal do Rio Grande do Norte 
SUMÁRIO 
 
1 – Introdução ...................................................................................................... 11 
2 – Musicalização de jovens e crianças ............................................................... 14 
3 – Música como agente de integração e orientação social ................................. 18 
4 – Uma orientação para a vida ........................................................................... 25 
5 – Considerações ............................................................................................... 43 
 Referências ......................................................................................................... 45 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
11 
 
1 - Introdução 
 
A música tem sido uma das ferramentas mais utilizadas para fins 
pedagógicos e uma importante aliada para crianças e adolescentes na 
integração e orientação social ao longo dos anos através de projetos sociais e 
ONGs. Esses têm dado suporte primordial aonde o Estado tem falhado em 
suprir carências e o essencial mínimo em construção do tecido humano e 
inclusão social com as populações de baixa renda. 
Segundo José da Silva Fontes Junior e Valéria Lázaro de Carvalho 
(2020) o ensino de música vem sendo fonte de diversos debates entre 
pesquisadores por promover ação educativa, socialização e integração social, 
atuando juntamente com outras áreas do conhecimento de forma eficaz. Penna 
(2006) diz que essa é justamente a hora de pensar em uma função educativa 
global, lingando a inter-relação com outros campos do pensamento e da 
linguagem artística a fim de articular as mais variadas questões e perspectivas. 
 Isso nos remete a buscar entender como a música consegue provocar 
maiores percepções, desenvolver o pensamento, trabalhar motricidade, 
controlar emoções, ampliar a capacidade de análises críticas e tomada de 
decisões. Torna-se uma considerável orientadora para um futuro menos difícil 
de crianças e adolescentes que crescem com enorme desvantagem em um 
mundo tão competitivo os possibilitando uma profissão e fornecendo base para 
uma possível graduação. 
Prevalece nesse enfoque, ao lado do desenvolvimento da percepção, 
insigths e observação, a prontidão de respostas, desconstrução de 
padrões automatizados, novas formulações, transitividade e 
equivalência, inventividade, etc., que estimulam cognitivamente e dão 
sustentação ao aprimoramento do ser humano. O exercício de tais 
capacidades é recurso de autoconhecimento que promove a 
consciência de comportamentos e também a recriação dinâmica de 
vínculos, valores, atitudes, contemplando uma formação global, 
efetiva e integradora. (KATER, 2004, p.45 grifo do autor). 
 
Assim, Kater (2004) nos mostra como a música tem poder de 
transformar quando nos afirma que os processos música e educação são 
12 
 
produtos da formação humana, capazes de estimular desenvolvimento tanto na 
compreensão do conhecimento como em autoconhecimento. 
Desse modo, atentando para um questionamento e procurando 
oportunizar um estudo nesse seguimento, este trabalho busca responder: como 
o ensino e a aprendizagem de música podem contribuir para a integração e 
orientação social de crianças e jovens? 
Consequentemente, evidenciar seu objetivo geral que é: compreender 
como o ensino e a aprendizagem de música podem contribuir para a integração 
e orientação social de crianças e jovens na ONG Associação Guamareense de 
Educação e Proteção ambiental – ASPAM. 
Objetivos específicos: 
 Entender o processo de musicalização de jovens e crianças na 
ONG; 
 Compreender a música como agente de integração e orientação 
social; e 
 Relatar a experiência e relaciona-la com as referências 
estudadas; 
 
Este trabalho é baseado como pesquisa qualitativa considerando um 
relato de experiência e os resultados exemplificados logrados com êxito diante 
do tema proposto. 
Por existir diversas abordagens sobre pesquisa qualitativa, pode-se 
concluir que um dos papéis mais importantes são os resultados que cada uma 
delas tende a apresentar, sendo essa à análise de fatores e particularidades de 
um agente motivador como tema. Segundo Bresler (2007) é o pesquisador que 
escolhe quais vivências deseja investigar e expor seus resultados. 
 
O investigador qualitativo escolhe quais realidades deseja investigar. 
Nem toda realidade de uma pessoa é vista da mesma maneira. A 
pessoa pode acreditar em relatividade, contextualidade e 
construtivismo sem considerar que todas essas visões possuem o 
mesmo valor. (BRESLER, 2007, p. 13). 
 
13 
 
Assim, podemos concordar com a afirmação que Fonseca nos traz 
dizendo que: 
 
[...] pode ser caracterizado de acordo com um estudo de uma 
entidade bem definida como um programa, uma instituição, um 
sistema educativo, uma pessoa, ou uma unidade social. Visa 
conhecer em profundidade o seu “como” e os seus “porquês”, 
evidenciando a sua unidade e identidade próprias. É uma 
investigação que se assume como particularística, isto é, que se 
debruça deliberadamente sobre uma situação específica que se 
supõe ser única em muitos aspectos, procurando descobrir o que há 
nela de mais essencial e característico. (FONSECA, 2002, p. 33). 
 
Mediante o tema exposto, logo após a “introdução”, apresento o capítulo 
2, intitulado “Musicalização para jovens e crianças”, em que trago alguns 
apontamentos de grandes referências sobre o tema. 
No capítulo 3, sob o título “Música como agente de integração e 
orientação social”, evidencio a música como agente orientador e integrador 
social, propondo base e fundamentos para os benefícios que o ensino musical 
em projetos sociais e ONGs pode possibilitar assertivamente na formação de 
pessoas, auxiliando a terem uma projeção de um futuro melhor. 
No capítulo 4, intitulado “Uma orientação para a vida”, apresento com 
base na experiência vivida ao longo de 7 anos na ONG Associação 
Guamareense de Proteção e Educação Ambiental – ASPAM -, no qual geria o 
Programa de Criança Petrobras, uma parcela da metodologia aplicada e o 
quanto o ensino de música foi fundamental para vida de alguns jovens nesta 
ONG. Como também, transmitir resultados e alguns relatos de ex-alunos meus. 
E é pensando nessas mudanças e novas perspectivas que esse trabalho 
irá exibir a importância dos projetos sociais e ONGs, e os benefícios que 
podem proporcionar para a vida de milhares de crianças e jovens. 
 
 
 
 
14 
 
2 - Musicalização de jovens e crianças 
O processo pelo qual crianças e jovens aprendem música são os mais 
diversos possíveis. Tudo tem relação direta com seu contextodesde o ventre 
até o nascimento, e os acompanha por toda sua vida, assim, crescem 
absorvendo influências diretas e indiretas de tudo que está de algum modo 
conectado com seu exterior em um mundo que interagem e transformam. 
Por ser capaz de expressar sentimentos, sensações e pensamentos, a 
música tem sua importância na educação desde a Grécia Antiga, onde era 
considerada indispensável como área de conhecimento para suas futuras 
gerações e por incluir ligação por meio de concepções sensíveis, afetivas, 
estéticas e cognitivas. Assim, tornando justificado seu aspecto pedagógico no 
contexto da educação. E, nesse contexto Fonterrada afirma que: 
 
[...] era grande o valor atribuído à música, pois acreditava-se que ela 
colaborava na formação do caráter e da cidadania. As canções não 
poderiam ofender o espírito da comunidade, mas deviam exaltar a 
terra natal. Os cantos conferiam aos jovens um senso de ordem, 
dignidade, obediência às leis, além da capacidade para tomar 
decisões [...] (FONTERRADA, 2008, p.26). 
 
Sabe-se que a criança tem contato com música desde o ventre, no 
entanto, é fator essencial pensar em como dar continuidade a uma linguagem 
tão importante quanto às demais. Uma vez que, ainda antes do nascimento, na 
fase intrauterina os bebês já vivenciam um ambiente sonoro provocado pelo 
corpo da mãe, sentindo os sons da respiração, dos movimentos e da voz como 
principal referência afetiva para eles e por estar nesse ambiente, interage 
constantemente. Para Brito (2003) o ouvir, cantar e dançar se tornam 
atividades presentes na vida de quase todos os seres humanos, mesmo que de 
maneiras diferentes. 
E é de forma completamente intuitiva e espontânea que começa o 
desenvolvimento da musicalização de bebês e crianças. Onde, o repertório 
começa a se formar através dos sons do cotidiano e do entorno que os 
envolve, através das canções de ninar, cantigas de roda, parlendas e jogos 
15 
 
musicais, criando vínculos, descobrindo sonoridades, desenvolvendo laços 
afetivos, cognição e aprendendo a interagir através dos sons. 
[...] Aliás, vale lembrar que, durante os primeiros meses de vida, o 
bebê explora grande quantidade de sons vocais, preparando-se para 
o exercício da fala, sem limitar-se, ainda, aos sons e fonemas 
presentes em sua língua natal, fato que passa a ocorrer a partir dos 
oito meses. (BRITO, 2003, p. 41). 
 
Por entender que ao longo da história ela se faz presente na educação, 
a música tem tido vários objetivos no âmbito escolar, porém, alguns com 
caráter distante das questões relativas ao ensino de música, ela tem tido papel 
importantíssimo para propósitos que auxiliam os professores na formação de 
hábitos, atitudes e comportamentos: lavar as mãos antes do lanche, se 
organizar para hora do intervalo, a hora do lanche, escovar os dentes, início da 
aula, término da aula e em datas comemorativas ao longo do ano com uma 
música específica para cada momento do calendário letivo. No entanto, de 
acordo com o modo como parte da sociedade ainda propõe o ensino de música 
e sua finalidade, o propósito está longe da compreensão e dos processos de 
ensino que permeiam no mínimo a possibilidade do mais próximo do ideal. 
 
Apesar deste quadro, a música, que tem intensa presença em nossa 
vida cotidiana, está presente nas escolas de educação básica de 
múltiplas maneiras: 
 nos eventos comemorativos, em apresentações, festinhas, 
etc; 
 nos intervalos ou no recreio, por iniciativa dos próprios 
alunos; 
 na atividade cívica de cantar o Hino Nacional Brasileiro; 
 em atividades extracurriculares – banda marcial (fanfarra), 
coral, conjuntos instrumentais, etc – atualmente 
desenvolvidas, inclusive, através do Programa Mais 
Educação; 
 e especificamente na educação infantil, (a) acompanhando 
atividades cotidianas (lanche, oração, recreio, fila, etc.); (b) 
em função do processo de alfabetização; (c) para acalmar e 
relaxar, através de audição ou canto; (d) na preparação de 
apresentações. (PENNA; MELO, 2006 apud PENNA, 2013, 
p.62). 
Assim, o grande desafio é tornar o ensino de música presente na 
escola de forma mais efetiva, intensa e significativa, como parte da 
formação de todos os alunos, através do desenvolvimento de ações 
pedagógicas capazes de promover a interação dos estudantes com 
as diversas sonoridades presentes em seu cotidiano, de modo a 
ampliar seu universo sonoro-musical. Para tanto, a música precisa 
16 
 
entrar em sala de aula, com caráter curricular. (PENNA, 2013, p.62, 
grifo do autor). 
 
Assim, tornando aparente que a situação é ainda mais delicada, tanto 
por não haver ensino de música em milhares de escolas da rede pública de 
ensino, como também, a dificuldade de alguns profissionais conseguirem 
desenvolver com êxito o proposto para a clientela. Del-Ben (2012) nos mostra 
que é preciso pensar nas relações dos jovens com a música. Com o que a 
música representa e com a escola que está posta para essa juventude, pois 
tentar mudar realidades e situações mesmo alteradas por Leis, mas sem que a 
estrutura física, social, comportamental, cultural e administrativa também 
avance com essa alteração, é quase que impossível obter os resultados 
esperados. Contudo, Del-Ben (2012) destaca que pesquisas feitas na área de 
educação musical vêm apresentando grande progresso para um melhor 
entendimento da relação dos jovens com a música. 
 
Esses trabalhos vêm nos ensinando quão complexa e diversa é a 
relação dos jovens com a música. Essa complexidade e diversidade 
não são exclusivas dos jovens, mas, talvez, seja entre eles que elas 
se tornem mais visíveis. E é também entre os jovens que a escola 
parece mais facilmente perder o sentido. Por isso, os resultados e 
conclusões dos trabalhos da área de educação musical, muitas 
vezes, vêm aliados a uma crítica à escola, que não tem conseguido 
se constituir como uma escola jovem, para os jovens. Como observa 
Arroyo (2007, p. 33 apud Del-Ben, 2012, p.39): “Aquele adolescente e 
jovem totalmente submisso aos adultos e à escola deu lugar a uma 
juventude que tem imposto seus modos de ser, suas necessidades e 
desejos. Para dar conta dessa nova maneira de ser da juventude, a 
escola deve mudar”.(DEL-BEN, 2012, p. 39). 
 
Diante do exposto, devo ressaltar que Fonterrada (2008), referindo-se 
a Bennett Reimer (1970), nos lembra de que o pensamento comum da 
comunidade precisa possuir convicção para dar força a alguma área filosófica 
de uma profissão. E que, ele, acrescenta: 
 o indivíduo que tem uma clara noção dos objetivos e metas de sua 
profissão, e que esteja convencido de sua importância, é um forte elo 
na cadeia dos indivíduos que também a abraçam;... 
 a compreensão da natureza e do valor da profissão afeta 
inevitavelmente a sua compreensão acerca da natureza e do valor de 
17 
 
sua vida profissional. (REIMER, 1970, p.4 apud FONTERRADA, 
2008, p.12). 
Fonterrada ainda afirma que: 
A falta de clareza com relação a esses motivos impede que se 
compreenda a área de forma abrangente e que se tenha a visão do 
campo maior em que ela está inserida, em cada época [...] 
(FONTERRADA, 2008, p.12). 
Com isso, deve-se ter um olhar mais cauteloso e dedicado para o ensino 
de música, porque o que está sendo proposto tem que ter objetividade e 
certeza dos resultados esperados. É possível reafirmar o quanto existem 
pontos especiais a serem observados e tratados com mais atenção ao interagir 
com crianças e jovens no ensino de música. 
Visto que existe uma complexidade e uma diversidade muito grande dos 
jovens em suas relações com a música, muitos são os gostos e preferências 
que divergem e que estão ligados diretamente a influências do contexto social, 
familiar, financeiro, ciclo de amizades, cultural e religioso. A música tem lugar 
especial na vida deles, justamente, por ligá-los de alguma forma a algo ou 
alguém, construindo identidade e, de certa forma, mostrando ao outro sua 
posição e como querque o mundo o veja. 
Além disso uma grande parte do processo de aprendizagem não ter o 
efeito esperado pelos professores e idealizadores do currículo escolar é, 
propriamente, por não perceberem, ou não priorizarem o que os jovens 
gostariam de sugerir como conteúdo, ideias com atrativos do conhecimento 
que façam parte do cotidiano e que tenham a ver com suas realidades, seus 
interesses, valores, saberes e, assim, ampliá-lo para desenvolvê-lo de forma 
natural e condizente com as suas necessidades. 
 Almeida (2001, p.19) nos fala que é “quando os alunos realizam 
atividades capazes de despertar sentidos plenos para eles, e isso ocorre 
quando se identificam com a proposta de trabalho e se reconhecem como 
autores, quando constatam que podem criar algo novo por meio de sua ação”. 
É fato que sabemos que o espaço físico não evoluiu de acordo com a 
demanda da juventude e o seu perfil atualizado com o mundo moderno e, 
portanto, alguns professores estagnaram em seu modo de enxergar os alunos 
e o mundo a que eles pertencem, sem falar sua língua e procurar entender 
18 
 
seus pensamentos. Del-Ben (2012) aponta relatos importantes de como os 
alunos interpretam o saber e como gostariam que fosse transmitido. 
 
[...] porque não se pode falar em jovem ou juventude, mas em 
jovens/juventudes – no plural – e suas culturas juvenis; a 
multiplicidade de dimensões presentes nas experiências musicais dos 
jovens, que incluem, entre outras, relações de gênero, classe, etnia e 
religião, muito além dos aspectos sonoro-musicais; a diversidade de 
significados atribuídos a essas experiências; e, principalmente, a 
força da música na construção das identidades dos jovens. (DEL-
BEN, 2012, p. 39). 
 
Apesar de a Escola ter assumido um papel que vai além de valorizar a 
arte, a cultura e a ciência é possível especialmente no âmbito destas três, 
aprimorar esse dever que foi transmitido e assim desenvolver também as 
emoções, os sentimentos e a consciência fazendo uso do ensino da música 
como linguagem científica e artística que é. 
Em decorrência do exposto pode-se afirmar o quão importante é criar 
uma ponte entre escolas da rede básica de ensino e projetos sociais com o 
intuito de poder oferecer para crianças e jovens a oportunidade de exercerem 
contato mais direto e contínuo com o ensino de música. Uma vez que neste 
espaço informal, muitas das vezes, tende a propor possibilidades variadas de 
absorver ideias e, quase sempre, possuem aparatos específicos disponíveis 
para execução e realização das criações propostas. 
No próximo capítulo irei retomar o que iniciei no parágrafo anterior, a fim 
de transmitir algumas ideias sobre o que autores e pesquisadores revelam 
referente ao ensino de música em projetos sociais e suas contribuições. 
 
3 - Música como agente de integração e orientação social 
 
Em um mundo cada vez mais repleto de inovações e com uma corrida 
desenfreada em busca do “sucesso”, crianças e jovens que estão fora da zona 
de risco e podendo-se dizer que essas fazem parte da lista dos mais 
afortunados em relação à família, dinheiro e condições melhores de vida, 
19 
 
conseguem assim chegar com enorme vantagem em melhores espaços com 
ensino de artes, esportes e cursos com caráter profissionalizante. 
Com isso a população de baixa renda, especialmente crianças e 
adolescentes, tendem a trilhar trajetórias em sentido ao já imaginado por quem 
os observa sempre à margem da sociedade. Isso ocorre quase sempre por 
falta de oportunidade, abandono, fome e traumas ocasionados muitas vezes 
pela própria família e sociedade. Consequentemente, estão longe do fácil 
acesso para participarem de forma digna dos contextos onde estão inseridas: 
artes, informática, esportes, dentre outros. E lembrando que, como se não 
bastasse, o Estado se omite claramente sem interesse algum em provocar 
mudanças para melhorias da qualidade de vida e integração social. 
 No tocante a esse tema, os projetos sociais e as ONGs estão 
conseguindo espaço e força ao longo dos anos auxiliando e contribuindo na 
melhoria da qualidade de vida e integração social, possibilitando base e 
horizontes para crianças e adolescentes que se encontram em situação de 
risco e expostos aos diversos fatores inerentes ao cenário. 
O ensino de música tem se estruturado em dimensões cada vez mais 
amplas e diversificadas. Assim como as culturas se encontram em 
constantes transformações, o uso da música e as formas de sua 
transmissão tendem a acompanhar as necessidades emergentes de 
cada contexto social. Nesse sentido, o terceiro setor mostra-se como 
uma dimensão da sociedade, na qual – desde a década de 1990 em 
nosso país – têm se expandido os projetos sociais e as organizações 
não governamentais (ONGs). Esses espaços visam atender às 
populações de baixa renda, sobretudo crianças e adolescentes que 
se encontram em situação de vulnerabilidade social. (FONTES 
JUNIOR; CARVALHO, 2020, p.116). 
 
 Assim, o ensino de música se propõe como um dos principais meios de 
ferramenta pedagógica, disposto a intervir e contribuir em assistir essa parcela 
da população. 
Por esse contexto, o uso da música como meio de socialização e 
ação educativa vem sendo adotado, inspirando reflexões, debates e 
pesquisas, proporcionando aproximações epistemológicas entre a 
área da música, suas subáreas e outras áreas do conhecimento, 
como a educação, a socialização, a psicologia e a antropologia. 
(FONTES JUNIOR; CARVALHO, 2020, p.116). 
20 
 
 Os indicativos que fortalecem essas afirmações estão presentes nos 
resultados apresentados nas mais variadas pesquisas trazendo aspectos 
educativos importantes e confirmações positivas que reforçam ainda mais os 
benefícios apresentados. 
 
[...] As particularidades inerentes às dimensões formativas que mais 
se destacaram estão relacionadas com a ética, a socialização, a 
diversidade, a oralidade nas transmissões musicais, o significado das 
práticas musicais e o compromisso com o desenvolvimento da 
autonomia nos alunos. (FONTES JUNIOR; CARVALHO, 2020, 
p.117). 
 
Penna também diz que: 
 
No entanto, os projetos educativos extra-escolares, com finalidade 
social, têm mostrado a validade, no ensino das artes, das funções 
contextualistas – tais como o desenvolvimento da auto-estima, da 
autonomia, da capacidade de simbolizar, analisar, avaliar e fazer 
julgamentos, além de um pensamento mais flexível[...] (PENNA, 
2006, p.37). 
 
 
 No entanto, existe uma análise a ser feita no tocante a ONGs e projetos 
em função de suas finalidades reais, pois, sabe-se que muitos são distintos e 
não enxergam, muitas vezes, os mesmos princípios e valores. 
 
É preciso, contudo, lembrar que os projetos educativos e sociais não 
são homogêneos ou uniformes, e há práticas bastante distintas: em 
algumas delas a superação da oposição entre essencialismo e 
contextualismo pode ser alcançada, enquanto em outras surgem 
novos problemas. Por exemplo, embora propagando objetivos 
pedagógicos, certos projetos pontuais e sem atuação a longo prazo 
têm, na verdade, como prioritária a função política ou de marketing, 
com parcos resultados educativos. Por sua vez, alguns projetos 
contratam artistas, e outros transferem, para esses espaços 
alternativos, práticas tradicionais do fazer musical, sem maiores 
preocupações com os aspectos propriamente pedagógicos 
envolvidos. Cabe, portanto, refletir melhor sobre essas questões. 
(PENNA, 2006, p.37). 
 
Essa preocupação apresentada por Penna (2006) ressalta para o 
cuidado de uma educação musical redentora, ao qual é apresentada 
21 
 
frequentemente por parte da mídia, onde transfere de forma bem direta toda 
responsabilidade das práticas conservadoras para os espaços extraescolares, 
principalmente projetos sociais. 
 
Diante das necessidades prementes dos grupos atendidos por tais 
projetos, que enfrentam precárias condições de vida, com alternativas 
de realização pessoal, profissionalou social extremamente restritas, 
parece fácil considerar qualquer abordagem como válida, qualquer 
contribuição como positiva. Mas isso pode acabar nos levando de 
volta à visão redentora da arte e da música [...] (PENNA, 2006, p.38). 
 
Então, quando se parte do pressuposto de ensinar música e atender 
alunos que ao longo do tempo absorvem constantes transformações de um 
mercado emergente e que está correlacionado diretamente com a 
interdisciplinaridade coletiva, devemos atentar ao cuidado em como atuar na 
função professor, ou seja, dominar e entender o que se quer transmitir sobre 
música e suas relações com o propósito que se pretende oferecer. 
 Para Kater (2004) o modo como as profissões se desenvolvem de 
maneira avançada surgindo novas frentes e conjunturas de trabalho ao longo 
dos anos, em especial para o educador musical, essas transformações refletem 
diretamente com as definições de sua função nas mais variadas sociedades. 
Isso mostra o fato da formação docente e suas especificações, para o fim 
desejado em projetos sociais, com o cuidado de olhar para o que está sendo 
proposto e não entrar no mero campo de um local de distração e 
entretenimento. 
 
Essa situação resulta de uma análise fragmentada da realidade 
compreensão parcial da demanda –, implicada por sua vez numa 
condição específica de classe e ideologia (com tudo o que esse termo 
evoca). Como consequência nos deparamos com a inexistência de 
programas de formação de profissionais com competência para 
atuarem diretamente em empreendimentos de ação social (bem como 
junto a instâncias administrativas e pedagógicas, no planejamento, 
coordenação, orientação ou supervisão de seus projetos), que 
contemplem uma abordagem mais associada à rede de 
conhecimentos de áreas afins (psicologia, pedagogia, sociologia, 
serviço social…) e sobretudo uma qualificação da formação pessoal 
do próprio educador, sob a luz de um enfoque humanizador da 
educação musical. (KATER, 2004, p.44). 
 
22 
 
A música está para educação como fator imprescindível para construção 
humana. Música e educação caminham ao longo do tempo desde o início das 
civilizações e fortalece os mais valiosos vínculos com as sociedades e suas 
culturas, estabelecendo elos e auxiliando nas organizações morais, éticas, 
religiosas e políticas. Fonterrada (2008, p.27) diz que na Grécia Antiga “o 
principal papel da música é pedagógico, pois sendo responsável pela ética e 
pela estética, está implicada na construção da moral e do caráter da nação, o 
que a transforma em evento público e não privado”. 
Kater diz que: 
 
Música e educação são, como sabemos, produtos da construção 
humana, de cuja conjugação pode resultar uma ferramenta original de 
formação, capaz de promover tanto processos de conhecimento 
quanto de autoconhecimento. Nesse sentido, entre as funções da 
educação musical teríamos a de favorecer modalidades de 
compreensão e consciência de dimensões superiores de si e do 
mundo, de aspectos muitas vezes pouco acessíveis no cotidiano, 
estimulando uma visão mais autêntica e criativa da realidade. 
(KATER, 2004, p.44). 
 
Esses aspectos ressaltam a importância e o poder transformador da 
educação musical e sua predisposição em oferecer e assegurar uma formação 
social mais humana e menos injusta. Com isso é determinante que faça parte 
do pensamento do educador entender o ambiente e buscar compreender as 
necessidades e particularidades de cada criança e adolescente para, assim, 
tentar desenvolver na educação musical possibilidades de reverter traumas e 
tentar solucionar conflitos internos. Fontes Junior e Carvalho (2020) entende 
que o ensino de música necessita ir além das questões pedagógicas 
específicas, deve-se ater em reorganizar e fortalecer condições psicológicas 
para que a ação educacional forneça uma socialização de caráter humanitário, 
com papel fundamental em preencher ausências características à construção 
de cada sujeito. 
Portanto, é objeto direto da função do educador, mesmo que 
involuntariamente ou de forma despercebida, possibilitar que o aluno vá além 
dos seus limites e capacidades voltadas apenas a questões musicais. Isso 
23 
 
transcende o explorar habilidade e potencialidade que antes era desconhecido 
por ele, e que ao se deparar com uma nova perspectiva de aprender um novo 
código, uma nova matéria, o direciona para outro estágio de aprendizado onde 
se percebe que pode ir adiante agora que está conhecendo um pouco mais de 
si, que é capaz de entender e enxergar sua própria superação. 
Considerar uma educação musical formadora nos remete a um 
processo educativo, não genericamente “dinâmico” mas, 
essencialmente, desimobilizante. Nele se busca estabelecer os meios 
para revitalizar o interesse por isto que atualmente definimos como 
“música” e também pelas músicas, pelos sons, fontes sonoras, 
pessoas e pelo mundo que constroem e habitam. Redimensionar o 
interesse, explorando a percepção de cada individuo sobre si e sobre 
o complexo de relações no qual interage. E é justamente a 
intensificação da percepção (no micro ou macrouniverso), a atenção 
ativada, que nomeamos consciência. Nesse sentido então é que a 
educação musical pode tornar-se um excelente meio de 
conscientização pessoal e do mundo. (KATER, 2004, p.45). 
 
As evidências só comprovam à relevância da função do educador como 
auxiliar e orientador com o fim socializador e transformador por intermédio do 
ensino-aprendizagem de música. O envolvimento não se resume apenas em 
transmitir algum conhecimento ou assumir determinado papel social, mas estar 
posto como referencial humano que é. Isto remete a sua maneira de agir, 
pensar, falar e interagir no seu dia a dia. Reflete diretamente na construção de 
um ser que absorve, do espelho, tudo aquilo que acredita ter afinidade, estando 
ligado diretamente com a construção de sua própria identidade e que ajudará 
em seu desenvolvimento. Deste modo, Kater nos faz lembrar que: 
 
Por esta razão é sempre útil revisitar a memória pela qual fomos 
criados, a fim de refletir mais criticamente sobre as representações 
que fazemos hoje de nós e do que nos cerca, conhecendo as 
referências que nos intermedeiam dos fatos e das pessoas, 
descobrindo as sutilezas de funcionamento dos mecanismos que 
agem em nós quando atuamos, também, profissionalmente. (KATER, 
2004, p.45). 
 
E que: 
 
24 
 
Torna-se então no mínimo uma demonstração de cuidado, por parte 
do professor, dedicar-se a um trabalho de desenvolvimento pessoal 
(o que significa dizer conhecer-se melhor, cultivar o equilíbrio interno, 
centramento, determinação, coerência, criatividade, auto-observação, 
etc.), consciente da situação de referência que representa. (KATER, 
2004, p.45). 
 
Por isso, com base no que foi apresentado podemos concluir que 
efetivamente o educador de ensino de música atuante em espaços informais 
como são os projetos sociais e ONGs, pode atuar de maneira decisiva no 
crescimento e amadurecimento do aluno. O motivando a se tornar um cidadão 
com olhar além dos estereótipos da estética para um mundo melhor que a 
linguagem da arte pode proporcionar. 
Com isso o professor/educador necessita fazer constantemente uma 
autoavaliação e autoreflexão sobre sua postura como mediador de 
determinados conhecimentos. Freire (2014) diz que não há saber nem 
ignorância absoluta. Ficando assim, a necessidade de entender que o 
professor/educador é fruto de um meio, ao qual vai ser reflexo de apoio no 
contexto social em que estiver inserido. Transmitindo não apenas 
conhecimentos acadêmicos especializados, mas também aprendendo com os 
educandos em um contexto que envolve comportamentos que serão 
observados, avaliados, criticados e provavelmente de algum modo, serão 
seguidos. 
É pensando dessa forma que não se deve separar professor de 
educador, tudo está interligado em meio à educação contemporânea. Para 
Freire (2014) “o saber é relativo assim comoa ignorância”. O professor não é 
detentor de todo conhecimento, em tudo e, em todos, se aprende diariamente e 
constantemente. Segundo Brandão “A educação é, como outras, uma fração 
do modo de vida dos grupos sociais que a criam e recriam, entre tantas outras 
invenções de sua cultura, em sua sociedade”. (BRANDÃO, 1990, p. 10, grifo do 
autor). 
É como um acrescentador de conhecimentos, de pensamentos e 
condutas que o professor/educador deve seguir proporcionando o transformar, 
ensinando a criar e recriar. “A educação deve ser desinibidora e não restritiva. 
25 
 
É necessário darmos oportunidades para que os educandos sejam eles 
mesmos.” (FREIRE, 2014, p. 41). 
A fim de cooperar com a probabilidade de um mundo mais humanizado, 
compartilhando dos mesmos locais e sensações que a clientela sujeita ao 
processo ensino-aprendizagem, sob a óptica do ensino de música em projetos 
sociais e ONGs, é que o educador demanda absorver em todos os ângulos o 
que está diante de seus olhos. Ou seja, olhar além de um mero espaço físico e 
alguns alunos que estão ali apenas para passar um tempo qualquer. O novo 
para essas crianças e adolescentes não se dá apenas ao fato de participarem 
de algumas aulas em um projeto, mas tudo que fará parte desse ambiente. O 
reflexo será em todas as projeções possíveis, principalmente no ser professor, 
que será uma das mais novas figuras atuante na vida deles, partilhando 
saberes, sorrisos, conversas, momentos e os acolhendo em circunstâncias que 
serão claramente necessárias ao longo do percurso. 
O próximo capítulo seguirá com a narração de uma parcela da 
experiência obtida e os efeitos advindos das aulas de instrumento bateria e 
turma de percussão alternativa, vividos no Programa de Criança Petrobras – 
PCP –, Associação Guamareense de Proteção e Educação Ambiental – 
ASPAM -, no município de Guamaré/RN. 
 
4 – Uma orientação para a vida 
Tudo começou enquanto ainda era adolescente e participava de uma 
igreja evangélica na Zona Norte de Natal/RN, aos meus 14 anos de idade, lá 
iniciaram meus dotes e interesse pela música. No ano 2000, já com meus 15 
anos de idade, ouvi no noticiário que a Escola de Música Casa Talento 
(Associação Cultural Talento Suzuki – projeto social) iria abrir vagas de forma 
gratuita para jovens da rede pública de ensino, então fiz minha inscrição sem 
perder tempo. Até então a intenção era apenas em aperfeiçoar a prática em 
bateria, porém depois de três anos no curso básico estudando com o Professor 
e Músico da Orquestra Sinfônica do Rio Grande do Norte – OSRN - João 
Paulino Filho e, em 2003, ser convidado a fazer parte do quadro de monitores 
26 
 
da Escola para ministrar aulas como monitor de bateria, foi quando comecei a 
perceber que seria o que eu iria escolher para minha vida. 
Assim fui aprendendo os primeiros passos dos caminhos da docência. 
Viajei com a Orquestra Talento Petrobras, formada por alunos e professores, 
por diversas cidades e estados fazendo apresentações no Brasil. Também 
comecei a acompanhar algumas bandas e artistas locais. Em 2004 ingressei no 
curso Técnico em Percussão na EMUFRN como aluno da Professora 
Germanna França da Cunha, onde então, as portas do mundo acadêmico 
começaram a se abrir. Em 2007, formado no curso Técnico em Percussão, 
minha carreira docente vinha ganhando bagagem na prática, em aulas de 
instrumento, muito mais cedo do que eu poderia imaginar. 
 Muitas coisas aconteceram e caminhos foram percorridos até receber 
em 2009 o convite para dar aulas na ONG Associação Guamareense de 
Proteção e Educação Ambiental - ASPAM. Localizada na Rua Vicente de Brito, 
136 – Centro. CEP: 59.598-000 - Guamaré-RN. Fundada inicialmente em 1994 
como: Grupo Ecológico Natureza e Vida – GENV. Em 1999 tornou-se 
Associação Guamareense de Proteção e Educação Ambiental. Em 2005 
assumiu o primeiro convênio com a PETROBRAS para execução do primeiro 
Programa de Criança Petrobras de Guamaré (PCP), passando a funcionar em 
parceria com a Prefeitura Municipal de Guamaré. A ASPAM é uma 
Organização Não Governamental que além do trabalho educativo com 
educação ambiental, também oferecia aulas de música, dança, artes visuais e 
plásticas, esportes, lutheria e conteúdos escolares para reforço escolar. 
As vagas eram preenchidas por crianças e adolescentes, na maioria dos 
casos, carentes e oriundos da rede pública de ensino. Ingressavam alunos com 
cinco (5) anos de idade especialmente para as turmas baby class do ballet, e 
dos sete (7) aos dezessete (17) anos de idade para as demais oficinas. 
Inicialmente, eram ofertadas 240 vagas, porém as vagas foram ampliadas para 
470 em virtude da parceria com a prefeitura. 
A seleção, na oficina de música, era feita por meio de testes 
extremamente simples de aptidão, percepção rítmica bem básica, entrevista e 
27 
 
interesses do aluno. Havia oportunidade para eles transitarem por diferentes 
instrumentos com o intuito de favorecer a livre escolha e afinidade do aluno. 
Nas demais oficinas não havia diferença significativa para seleção dos alunos, 
principalmente nas oficinas de aulas coletivas. 
Os critérios eram baseados em: disponibilidades de vagas ofertadas em 
cada oficina; em os alunos estar matriculados na rede básica de ensino; no 
interesse dos alunos; em estarem alfabetizados, especificamente, para as 
aulas de música. 
 A ASPAM contava com uma equipe de dezenove (19) professores 
atuando em sete (7) oficinas: educação ambiental, conteúdos escolares, 
música, dança, artes plásticas e visuais, esportes e luteria. As oficinas eram 
divididas em setenta e quatro (74) turmas. Havia acompanhamento psicológico 
e todos os alunos faziam duas refeições diariamente por turno. Os alunos da 
manhã eram acolhidos com café da manhã e lanchavam antes da saída. Os 
alunos da tarde eram recebidos com almoço e lanchavam antes da saída ao 
final das aulas. 
Com um contexto bastante delicado em relação à qualidade de vida 
dessas crianças e adolescentes, tanto no centro do município como nos 
distritos de seu entorno, a ASPAM, bem como outros projetos no município, 
visam de alguma forma melhorar o bem-estar social e expectativa de 
crescimento educacional no município. 
Assim tive a oportunidade de iniciar meu aprendizado, também, como 
professor em outro segmento que até então não tinha tido nenhuma 
experiência, ou seja, ser professor, além das aulas de bateria, aulas para grupo 
de percussão alternativa (materiais recicláveis: tambores de plástico, cordas e 
latas de tinta). 
 Durante todo o tempo em que participei do projeto, minha carga horária 
era de três (03) dias por semana, o equivalente há 30 horas semanais. Em uma 
sala de aproximadamente 3m², aconteciam as aulas de bateria, onde 
permaneciam duas baterias montadas e alguns pad’s (borrachas de estudos) 
28 
 
para desenvolvimento motor das mãos e coordenação dos exercícios. Aulas 
com duração de cinquenta (50) minutos e dois alunos por turma. 
Costumava iniciar as aulas com alongamentos e em seguida exercícios 
de coordenação das mãos com o método Stick Control (George Lawrence 
Stone), analisando o desenvolvimento de cada aluno referente ao exercício 
desenvolvido e suas dificuldades na execução. Continuava com alguns 
exercícios de leitura rítmica com o método Ettore Pozzoli, aprimorando 
percepção e habilidade na execução ao tocar os ditados nas borrachas de 
estudo, enquanto marcavam o pulso contando o tempo em voz alta ou fazendo 
marcação no chão com um dos pés. Além disso, ainda dentro do segmento 
contínuo da aula, desenvolvíamos leituras de ritmos variados de métodos 
executados na bateria, tais como: Realistic Rock (Carmine Appice), Advanced 
Techniques for the Modern Drummer (Rick Latham) e Ritmos Brasileiros, 
colocando em prática o desenvolvimento motor e cognitivo. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
29 
 
Figura 01 - Capa do método de bateria Stick Control.Fonte: Foto retirada do próprio método em PDF do arquivo pessoal. 
Figura 02 - Primeira página de exercícios do Stick Control 
 
 Fonte: Foto retirada do próprio método em PDF do arquivo pessoal. 
30 
 
Figura 03 – Capa do método de bateria Realistic Rock 
 
 
 
 Fonte: Foto retirada do próprio método em PDF do arquivo pessoal. 
Figura 04 - Primeira página de exercícios escrita em linhas rítmicas 
 
 Fonte: Foto retirada do próprio método em PDF do arquivo pessoal. 
31 
 
Figura 05 – Capa do método Pozzoli 
 
 Fonte: Foto retirada do próprio método em PDF do arquivo 
pessoal. 
 
Figura 06 - Primeira série do método Pozzoli 
 
 
 Fonte: Foto retirada do próprio método em PDF do arquivo 
pessoal. 
32 
 
Figura 07 - Aluno exercitando durante a aula primeira página do método de bateria Realistic 
Rock. 
 
Fonte: Foto retirada do arquivo pessoal. 
Figura 08 - Alunos executando o mesmo exercício simultaneamente 
 
Fonte: Foto retirada do arquivo pessoal. 
Entre uma aula e outra também era aplicado play along – músicas em 
áudio para estudos sem que tivesse a bateria gravada, apenas os outros 
33 
 
instrumentos - com algumas músicas conhecidas por eles e outras apenas 
instrumentais para que eles pudessem aplicar os ritmos estudados ao 
acompanhamento, como se estivessem tocando com uma banda, um grupo... 
Dessa forma já estava também os preparando para os recitais que estavam por 
vir e assim, para que já pudessem adquirir autoconfiança e habilidade quando 
fossem ensaiar com alunos de outros instrumentos. E concordando com 
Almeida (2001), era um processo prazeroso e que eles adoravam. Sentiam que 
estavam realmente tocando bateria e que estavam de fato aprendendo. 
Alguns alunos mais avançados faziam peças um pouco mais 
elaboradas. Tocavam solos de bateria, solos de caixa, duetos, participavam de 
grupos e tocavam na orquestra que a ONG havia criado. E, além disso, já era 
uma ferramenta para a prática em grupo para todos que participavam do 
projeto. 
Figura 09 - Apresentando durante recital uma peça para trio de bateria. Aqui, ao centro, eu 
participei tocando com dois alunos meus 
 
Fonte: Foto retirada do arquivo pessoal. 
Os horários eram alternados em um dia da semana, dentro dos três que 
eram meu compromisso e carga horária, com as aulas do grupo de percussão. 
Muitos dos meus alunos de bateria faziam parte do grupo, porém alunos de 
34 
 
outros instrumentos, da dança e de outras oficinas também. Quando não 
haviam vagas na oficina de bateria, muitas crianças participavam do grupo de 
percussão como uma forma de esperar e garantir uma vaga na oficina de 
bateria, mas tomavam gosto e não abandonava a oficina de percussão após 
conseguirem a vaga. Na turma o trabalho era um pouco mais livre e voltado 
bem mais para a prática e execução de ritmos variados, bem como para a 
elaboração e confecção dos instrumentos, pois eram feitos com materiais 
reciclados: latas de tinta, tambores de plástico, cordas e grãos para chocalhos. 
 
 
Figura 10 - Grupo de percussão Batuques do Mangue durante ensaio 
 
Fonte: Foto retirada do arquivo pessoal. 
 
 
 
 
 
35 
 
Figura 11 - Batuques do Mangue apresentando em recital 
 
Fonte: Foto retirada do arquivo pessoal. 
Figura 12 - Tambores de latas 
 
Fonte: Foto retirada do arquivo pessoal. 
 
A divisão do grupo era de forma simples e clara, ficando dividido em três 
naipes: tambores graves, médios e agudos. Os ritmos eram trabalhados em 
 
18 
36 
 
células rítmicas que eram divididas em três partes se tornando um ritmo com 
som forte e agradável. Algumas técnicas eram passadas para que pudessem 
segurar as baquetas de forma correta e exercícios eram feitos para que os 
ritmos não perdessem suas características. Um dos métodos que eu gostava 
de usar bastante para que pudessem entender as partes de cada célula 
aplicada era o solfejo rítmico, eu também mostrava tocando, em áudio, em 
vídeo, mas o solfejo era, sem dúvida, o mais “tocável” para eles. Pedia que 
cada um solfejasse comigo e sentisse como seria a ideia do ritmo e com isso 
os fazia internalizar a levada trabalhando percepção, memória, pulso e 
repetição, com o propósito de finalizar executando na prática. 
 
Figura 13 – Exemplo de uma célula rítmica de samba-reggae dividida para aula de 
percussão 
 
Fonte: Composição minha. 
 
Do mesmo modo que usava play along com os alunos de bateria, 
também utilizava para o grupo de percussão. Os ensaios aconteciam em um 
horário pela manhã e outro em um horário à tarde e sempre havia uma 
variedade em relação à quantidade de alunos por ensaio, mas quase sempre 
eram 12 a 15, no mínimo. Nas apresentações juntávamos as turmas dos dois 
horários. Criávamos levadas para compor os espaços em algumas músicas 
que seriam preenchidas pela bateria e preparávamos repertório para recitais e 
apresentações diversas. E, no tocante as apresentações, para eles, era o ápice 
da participação do projeto, era o momento de se sentirem protagonistas de 
suas histórias, dos seus shows, donos do palco e atrações de sua cidade. 
Tínhamos recitais periódicos, apresentações em eventos das escolas e desfiles 
37 
 
pelas ruas em datas comemorativas e sempre misturando bateria e percussão 
nos momentos das apresentações em locais fixos. Eles faziam solos, duetos, 
acompanhamentos com play along ou com outros alunos tocando baixo, 
guitarra e teclado. 
Figura 14 – Batuques do Mangue em desfile 
 
 Fonte: Foto retirada do arquivo pessoal. 
Figura 15 – Apresentação em praça pública 
 
Fonte: Foto retirada do arquivo pessoal. 
38 
 
Consoante com Kater (2004), após o primeiro ano na academia, percebi 
com um olhar mais crítico e analítico a importância do projeto no meio social ao 
qual estava inserido e a clientela que seria atendida. 
Crianças e jovens vulneráveis aos mais diversos fatores de risco que 
permeavam o entorno da cidade, buscavam no projeto apoio e oportunidade 
para fugirem de uma mesmice de ociosidade, onde possivelmente, drogas, 
prostituição e a chance de se envolverem em caminhos perigosos estavam à 
espreita, esperando o momento mais frágil de cada um deles. E, é fato, que 
alguns possam ter se perdido por tais caminhos ou optaram em aguardar a 
própria sorte, inertes a espera de um milagre da vida. Porém, a grande maioria 
dos alunos de minha época, descobriram dentro do projeto social, 
possibilidades que poderiam adotar como profissão. Alguns dos meus alunos, 
e, alunos dos demais professores, conseguiram entrar em cursos de graduação 
na UFRN ou no curso Técnico. Esse é o ponto chave em questão. Até onde 
aulas em projetos sociais podem refletir e influenciar efetivamente na vida dos 
jovens? Por essa experiência posso afirmar que sim. 
Relato o quanto o projeto social influenciou na vida de alguns alunos 
meus tanto para seguirem profissão como músicos, como também em outras 
profissões fora do campo da música. Alunos de outros professores que 
seguiram no mundo acadêmico para derem continuidade com o aprendido no 
projeto e tornarem-se profissionais espelhados em seus professores. Para 
exemplo do que exponho, gostaria de transcrever breves relatos de alguns de 
meus ex-alunos, que contam um pouco da experiência vivida no projeto. 
 
Ex-aluno 1: 
 
Bom! Quando comecei a participar do projeto, no ano de 2005, logo 
fui lançado a orquestra daquele tempo em que pra mim foi uma coisa 
maravilhosa, poder acompanhar tantos e tantos instrumentos. 
Participar do projeto foi como uma segunda casa! Pois era de 
segunda a sexta praticamente que me envolvia nos ensaios, estudos, 
aula de Bateria. Eu entrei em 2005, mas dois anos depois saí, mas 
quando o professor Eliabi entrou em 2009 eu voltei, e isso foi muito 
gratificante! Pois preencheu um pouco mais dos meus estudos. Com 
39 
 
isso fui me dedicando cadavez mais a ser o auxiliar dele em 
preparação de sala, questão de ajudar no que fosse preciso. E em 
2015 fiz minha primeira prova para o curso técnico de Música pela 
UFRN. Fiquei em segundo e não entrei porque era apenas uma vaga. 
Me preparei melhor em 2016, fiz a prova e passei em primeiro. Entrei 
no ano de 2017, me alegrei muito pela oportunidade que me foi 
concedida. E lá pude ver outra parte do mundo da música. Hoje sou 
bolsista da Orquestra Potiguar de Clarinetas. Estou concluindo o 
recital do instrumento e vou entrar em licenciatura em música próximo 
semestre. O projeto me influenciou em saber lidar com os imprevistos 
na hora de tocar, saber como fazer acontecer tanto na música como 
pessoalmente também. E a igreja foi o berço, né? Porque todos os 
músicos tiveram uma passagem pela igreja, seja ela qual for a 
denominação. (Renan Barros, ex-aluno do Programa de Criança 
Petrobras – PCP/ASPAM, relato enviado por whatsApp em: 
21/07/2021). 
 
Ex-aluno 2: 
 
Olá, meu nome é Victor Daniel de Melo Lima, tenho 24 anos, moro 
em Guamaré e é uma satisfação relatar um pouco da experiência 
vivida na escola de música do programa de criança Petrobras de 
Guamaré. Iniciei no projeto no ano de 2009 na oficina de percussão, 
por nome de ‘Batuques do Mangue’ e no ano de 2010 comecei a ter 
aulas de bateria e teoria musical. No início meu intuito foi somente 
aprender a tocar um instrumento musical, só que ao decorrer do 
tempo observei que eu poderia viver da música, e ainda toquei 
profissionalmente de 2014 a 2018. Ao longo do tempo fui convidado a 
participar da orquestra da escola de música, como percussionista 
pois já tinha 3 bateristas e não havia mais vaga para a bateria. Um 
ano se passou e no ano de 2011 consegui a vaga de baterista na 
orquestra, onde permaneci até o ano de 2014. No total foram 5 anos 
na escola de música do programa de criança Petrobras de Guamaré, 
no qual sou grato primeiramente a Deus pela oportunidade, e 
segundo a todos os professores, em especial ao meu professor de 
bateria Eliabe, pessoa na qual não ensinou somente a tocar bateria, 
mas também a ser um cidadão educado, disciplinado e responsável. 
Foram muitos aprendizados que levo até hoje para minha vida. Por 
fim, quero dizer que a música é uma ferramenta muito importante 
para a sociedade. Ela educa e disciplina ajudando a muitas crianças 
e adolescentes a viver uma vida saudável longe da vulnerabilidade 
social, além de ser uma profissão que muitas pessoas sobrevivem 
dela. (Victor Daniel, ex-aluno do Programa de Criança Petrobras – 
PCP/ASPAM, relato enviado por whatsApp em: 21/07/2021). 
 
Ex-aluno 3: 
Bom… O projeto quando ele foi criado, despertou o interesse dos 
jovens aqui na cidade, pq era algo novo, todo mundo é familiarizado 
com música até mesmo por conta das igrejas que são bastante 
40 
 
presentes no município e os músicos de igreja até hoje são bastante 
valorizados pela população local. Quando eu busquei ingressar no 
projeto (primeira tentativa), eu busquei mais pela vontade de ser um 
músico e ter reconhecimento, só que não era o momento, só na 
segunda tentativa, 3 anos após a primeira, que eu vim ingressar mais 
com o pensamento de apenas aprender um instrumento e buscar 
como refúgio para problemas pessoas com minha família. Bom, 
durante minha trajetória no projeto, fui percebendo o outro lado da 
música, principalmente me relacionando melhor com os professores, 
onde vi uma oportunidade também me tornar professor igual a eles. E 
durante uma paralisação que teve, onde o projeto quase fecha as 
portas, eu e uma turma de amigos, decidimos ensinar 
voluntariamente, e isso despertou o interesse dos governantes da 
cidade e conseguimos manter o projeto de pé até os dias atuais. A 
importância do projeto na minha vida é muito expressiva, pois 
cheguei lá quase sem perspectiva do que ser no futuro e busquei 
refúgio na música. Hoje estou cursando a licenciatura em música, 
trabalho com produções online e cuido do áudio em uma empresa de 
transmissões ao vivo na região onde eu moro, e hoje a música é 
quem conduz a minha vida, pois, eu vivo de música, eu respiro 
música e ouço quase que 24h e a família me dá maior apoio em tudo 
que eu faço. (Adson Silva, ex-aluno do Programa de Criança 
Petrobras – PCP/ASPAM, relato enviado por whatsApp em: 
28/07/2021). 
 
De acordo com Kater (2004), enfatizo que antes de ser professor a visão 
deve ser de se tornar amigo deles, ter empatia, ouvir, entender rotinas, 
problemas e tentar ajudar conversando, aconselhando e sorrindo com eles. 
Estar inserido em determinado contexto social envolve muito mais que apenas 
ministrar aulas, o professor precisa se tornar parte do ambiente. Deste modo, a 
atuação tem efetividade e resultados mais positivos que negativos. 
E atualmente poder contemplar e saber que alunos como o Renan - que 
está concluindo seu curso Técnico de Bateria pela EMUFRN em 2021 e 
participa de diversos projetos dentro e fora da escola, acompanhando vários 
artistas profissionalmente e buscando ingressar na licenciatura; o Victor – que 
também foi um dos alunos destaques e com talento primoroso e hoje é 
Nutricionista, mas que ainda toca por hobby e na igreja que congrega e; o 
Adson – que também segue brilhantemente tocando profissionalmente 
acompanhando bandas e artistas de sua cidade como baterista e cursando 
também Licenciatura em música. Todos tiveram em sua bagagem e orientação 
aprendizados que foram ofertados por um projeto social, o que reforça ainda 
mais as afirmações descritas nos mais variados trabalhos apresentados em 
relação ao tema. 
41 
 
Ver também que outros alunos atuam como Dj’s, músicos, cantores e 
bailarinos com habilidades e reconhecidos por onde passam, tornando ainda 
mais verdadeiro e evidente o aprendizado que tiveram. Notar as influências 
positivas de seus professores, com transformações em: aspectos 
comportamentais, mudança de postura na oralidade, análise crítica de fatos e 
situações, valores éticos e morais totalmente diferentes do que apresentavam 
no início dos estudos e da vivência no projeto, são sem sombra de dúvidas, 
resultados mais que comprovados e reafirmados por todos os autores 
referenciados antes. 
Então, conforme Fontes Junior e Carvalho (2020), as ideias que foram 
trabalhadas e os frutos observados durante o processo de desenvolvimento 
condizem com o proposto pela afirmativa de que o ensino de música é de fato 
um agente de integração social e uma orientação para algum segmento na 
vida, SIM! Se o aluno vai ser músico, não se sabe, mas que ele pode ser uma 
pessoa melhor e que a música irá contribuir para um melhor pensamento 
cognitivo, motor e ajudar a desenvolver habilidades em outras áreas, isso é fato 
verdadeiro. 
Hoje sou muito agradecido e feliz pelo espaço que tive em trabalhar no 
projeto e a honra que foi poder ter contribuído de alguma forma com projeções 
tão positivas na vida desses alunos e de muitos outros que foram citados 
indiretamente no decorrer do trabalho. 
Espero que parte do que foi compartilhado aqui possa ter explicitado de 
forma clara e abrangente fragmentos dos anos trabalhados como professor de 
bateria e percussão no Programa de Criança Petrobras – Associação 
Guamareense de Proteção e Educação Ambiental – ASPAM e que, de alguma 
maneira, possa contribuir com informações pertinentes ao tema para outras 
pessoas. 
 
 
 
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Figura 16 – Final de um recital de bateria no salão do projeto 
 
Fonte: Foto retirada do arquivo pessoal. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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4 - Considerações finais 
Diante do que foi apresentado posso afirmar a importância qualitativa 
em todos os aspectos expostos e intrínsecos ao tema. Poder explicitar o 
quanto é satisfatório os benefícios que o ensino de música proporciona, é ter 
certeza que estamos contribuindo para um mundo melhor e que estamos 
deixando um pouco da nossa essência na história da vida de alguém. 
Acredito que estetrabalho, simples e objetivo, possa servir como mais 
um indicativo afirmativo das proposições pertinentes ao assunto. Mostrando 
que não foi apresentado apenas teorias, mas também relatos de ex-alunos 
expressando suas realidades e influências diante do contexto envolvido. 
Eu fui fruto de um projeto social. Logo então, ter tido a oportunidade de 
viver a experiência de desenvolver o ensino de música e estar aqui 
apresentando os resultados do tempo vivenciado, justamente em uma 
conclusão de curso, é uma felicidade imensurável. É olhar e perceber o quanto 
deu certo para mim e para muitos de meus alunos, com a certeza de que o 
propósito é verdadeiro e pleno. 
Muitos desafios tentaram me parar, mas a música não me deixou ser 
vencido. Responsabilidades, pouco dinheiro para sustentar a família, querer 
mudar de profissão, tudo isso pesaram contra o desejo de continuar. Eu já 
havia me afastado por demais, terminando o curso técnico na EMUFRN em 
2007 e só conseguindo retornar em 2016 para o curso de licenciatura. Também 
para minha surpresa, fui pai do meu terceiro filho em plena elaboração dessa 
monografia, o que me motivou mais a não desistir. As dificuldades ocasionadas 
pela pandemia me obrigaram a trabalhar como vendedor de internet pelas ruas, 
me consumindo ainda mais o tempo que já nem existia, mas aqui estou. Firme 
e forte! Hoje sei que esse trabalho é apenas o início de onde quero chegar. Os 
sonhos continuam. Acredito que o próximo passo seja uma pesquisa mais 
aprofundada para uma dissertação de mestrado e assim dar mais um passo 
adiante. 
Elaborar este trabalho me trouxe à tona as melhores memórias e o 
quanto minha profissão é prazerosa. Rever toda minha trajetória como um filme 
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em minha mente, ver fotos e vídeos durante a pesquisa e contar um pouco da 
vivência obtida ao longo dos anos, foram ações que me emocionaram e me 
fizeram ter mais certeza de como sou feliz e grato à vida. Colher os resultados 
positivos e a satisfação em ser professor sabendo que com meu auxílio foi 
possível fazer a música alcançar outras pessoas, orientando-as em novas 
perspectivas de qualidade de vida, é algo imensurável. 
 Espero que esta experiência possa fornecer informações úteis para 
outros estudos. Acredito na constante evolução e superação do ser humano 
nas mais difíceis e variadas circunstâncias. Porém, apenas com educação é 
possível mudar vários mundos. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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REFERÊNCIAS 
 
ALMEIDA, C. M. de C. Concepções e práticas artísticas na escola. In: 
FERREIRA, S. (Org.). O ensino das artes: construindo caminhos. Campinas: 
Papirus, 2001. p. 11-38. 
 
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características e possibilidades. Tradução de Sérgio Figueiredo. Revista da 
ABEM, n° 16, março de 2007, p. 7-16. 
 
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formação integral da criança. São Paulo: Editora Petrópolis, 2003. 
BRANDÃO, Carlos Rodrigues./ O que é Educação: Educação? Educações: 
Aprender com o Indío./ São Paulo: / brasiliense, 1981. 
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suas interações com a sociedade: um balanço da produção da Abem. In: 
XVII Congresso da Anppom (Associação Nacional de Pesquisa e Pós-
Graduação em Música), 2007, São Paulo. Anais do XVII Congresso da 
Anppom. São Paulo: Anppom, 2007. v. 17. p. 1-13. 
DEL-BEN, Luciana. Educação Musical no Ensino Médio: alguns 
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FONTES JUNIOR, José da Silva; CARVALHO, Valéria Lazaro de. As 
dimensões formativo-musicais na ONG Ilha de Música: uma perspectiva 
sobre o ensino de música de um projeto social. Revista da Abem, v. 28, p. 115-
138, 2020. 
 
FONTERRADA, Marisa Trench de Oliveira. De tramas e fios: um ensaio sobre 
música e educação. 2.ed. – São Paulo: Editora UNESP; Rio de Janeiro: 
Funarte, 2008. 
FONSECA, J. J. S. Metodologia da pesquisa científica. Fortaleza: UEC, 
2002. Apostila. 
FREIRE, Paulo. Educação e Mudança. trad. Lilian L. M. 36ed. São Paulo / Paz 
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KATER, Carlos. O que podemos esperar da educação musical em projetos 
de ação social. Revista da ABEM, Porto Alegre, V. 10, 43-51, mar. 2004. 
PENNA, Maura. Desafios para a educação musical: ultrapassar oposições e 
promover o diálogo. Revista da ABEM, Porto Alegre, n. 14, p. 35-43, mar. 2006. 
 
46 
 
PENNA, Maura. A Lei 11.769/2008 e a música na educação básica: quadro 
histórico, perspectivas e desafios. InterMeio: Revista do Programa de Pós-
Graduação em Educação-UFMS, v. 19, n. 37, 2013.

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