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Universidade Federal do Rio Grande do Norte Escola de Música Licenciatura em Música ELIABI LIMA DE SOUZA MÚSICA COMO AGENTE DE INTEGRAÇÃO E ORIENTAÇÃO SOCIAL: UM RELATO DE EXPERIÊNCIA NA ONG ASSOCIAÇÃO GUAMAREENSE DE PROTEÇÃO E EDUCAÇÃO AMBIENTAL - ASPAM Natal/RN 2021 ELIABI LIMA DE SOUZA MÚSICA COMO AGENTE DE INTEGRAÇÃO E ORIENTAÇÃO SOCIAL: UM RELATO DE EXPERIÊNCIA NA ONG ASSOCIAÇÃO GUAMAREENSE DE PROTEÇÃO E EDUCAÇÃO AMBIENTAL - ASPAM Monografia apresentada como exigência parcial para obtenção do título de Graduação em Licenciatura plena em Música à Banca Examinadora da Escola de Música da Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Orientador: Prof. Dr. Ticiano Maciel D’Amore. Natal/RN 2021 ELIABI LIMA DE SOUZA MÚSICA COMO AGENTE DE INTEGRAÇÃO E ORIENTAÇÃO SOCIAL: UM RELATO DE EXPERIÊNCIA NA ONG ASSOCIAÇÃO GUAMAREENSE DE PROTEÇÃO E EDUCAÇÃO AMBIENTAL - ASPAM Monografia apresentada como exigência parcial para obtenção do título de Graduação em Licenciatura plena em Música à Banca Examinadora da Escola de Música da Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Orientador: Prof. Dr. Ticiano Maciel D’Amore. Aprovada em ___/___/___ BANCA EXAMINADORA: ______________________________________ Prof.° Dr.° Ticiano Maciel D’Amore Universidade Federal do Rio Grande do Norte Orientador ______________________________________ Prof.ª Dr.ª Germanna França da Cunha Universidade Federal do Rio Grande do Norte Membro da Banca _______________________________________ Prof.ª Dr.ª Tamar Genz Gaulke Universidade Federal do Rio Grande do Norte Membro da Banca DEDICATÓRIA Este trabalho é dedicado a minha mãe Maria de Fátima, ao meu pai Francisco Aldo, aos meus irmãos Elaine Cristina, David Anderson e Johnathas Lima, à minha primogênita Evelin Kamile e, em especial, à minha esposa Ulay Barros, mãe dos meus filhos, Sofia e Theo, por estarem comigo desde o início desta jornada me incentivando e me ajudando em todos os momentos. Amo todos vocês. AGRADECIMENTOS Agradeço mais uma vez a toda minha querida e amada família por todo apoio e confiança. Agradeço a minha esposa Ulay de Barros pela paciência, apoio e parceria estando sempre ao meu lado me dando força para não desistir. Agradeço aos colegas professores e colaboradores que trabalharam comigo na ASPAM, dividindo muitas alegrias e não alegrias referentes às dificuldades na realização da missão em todos esses anos de dedicação. A Iruvane Galvão de Miranda, Presidente da ASPAM, e Manoela Galvão, Coordenadora, por todo apoio e confiança em minha pessoa durante os anos em que integrei o quadro de professores. Obrigado por tudo. Ao meu primeiro professor de bateria João Paulino filho e minha querida professora do curso técnico Germanna França da Cunha, de quem recebi todo carinho e acolhimento dos dois durante todo os anos de estudos. E, hoje, poder olhar para trás e ser completamente grato a eles por tudo. Ao meu professor Orientador Ticiano Maciel D’Amore por me direcionar com todo cuidado e paciência para elaborar este trabalho. Uma pessoa que tenho grande estima. A minha turma de 2016.1 por todos os risos e “perrengues” que passamos juntos. A todos que acreditaram e acreditam no meu potencial e onde posso chegar. RESUMO O presente trabalho tem por objetivo compreender como o ensino de música pode contribuir para a integração e orientação social de crianças e jovens, realizado na Organização Não Governamental (ONG) Associação Guamareense de Proteção e Educação Ambiental – ASPAM -, voltado para crianças e jovens do município. Busca proporcionar compreensão do mecanismo e funcionalidade da aula aplicada, atentando para uma maior percepção de como proceder no tocante às várias formas de pensar dos alunos, como também, analisar comportamentos de socialização, interação, identificação e resultados adquiridos pela vivência da aula de música. As etapas realizadas foram baseadas na observação de classe, na regência, em apresentações, recitais e em anotações feitas em um diário de classe. Os relatos aqui contidos buscam explicitar de forma científica todo o passo a passo da experiência alcançada no âmbito do ensino de música e suas funções, que vão além do ensino técnico específico transpassando à situação de vulnerabilidade social. Com isso, torna-se necessário por possibilitar um aprendizado mais humanizado e voltado ao contexto local procurando entender os pontos que mais apresentavam cuidados. Este relato permite a afirmação do exposto, como também oportuniza a troca de experiências, envolvendo professor e aluno. Desta forma, o trabalho proporciona evidências positivas e já comprovadas também por outros professores e pesquisadores dando base para formação do repertório didático e unindo ideias que serão de grande relevância na atuação profissional. Palavras-chave: Ensino de música. Projeto Social. Aula de Instrumento. ONG. ABSTRACT This work aims to understand how music education can contribute to the integration and social guidance of children and young people, carried out at the Non-Governmental Organization (NGO) Guamareense Association for Environmental Protection and Education - ASPAM -, aimed at children and young people from County. It seeks to provide an understanding of the mechanism and functionality of the applied class, paying attention to a greater perception of how to proceed with regard to the various ways of thinking of students, as well as analyzing behaviors of socialization, interaction, identification and results acquired through the experience of the music class. The steps performed were based on class observation, conducting, presentations, recitals and notes made in a class diary. The reports contained herein seek to explain in a scientific way the entire step-by-step experience achieved in the context of music education and its functions, which go beyond specific technical education, going beyond the situation of social vulnerability. With this, it becomes necessary to enable a more humanized learning and focused on the local context, trying to understand the points that most needed care. This report allows the statement of the above, as well as providing opportunities for the exchange of experiences, involving teacher and student. In this way, the work provides positive evidence that has already been proven by other professors and researchers, providing the basis for the formation of the didactic repertoire and uniting ideas that will be of great relevance in professional practice. Keywords: Music teaching. Social project. Instrument Class. NGO. LISTA DE FIGURAS Figura 01 – Capa do método de bateria Stick Control .......................................... 29 Figura 02 – Primeira página de exercícios do Stick Control ................................. 29 Figura 03 - Capa do método de bateria Realistic Rock ........................................ 30 Figura 04 - Primeira página de exercícios escrita em linhas rítmicas ................... 30 Figura 05 - Capa do método Pozzoli .................................................................... 31 Figura 06 - Primeira série do método Pozzoli....................................................... 31 Figura07 - Aluno exercitando durante a aula primeira página do método de bateria Realistic Rock. .......................................................................................... 32 Figura08 - Alunos executando o mesmo exercício simultaneamente .................. 32 Figura09 - Apresentação durante recital de uma peça para trio de bateria.Aqui, ao centro, eu participei tocando com dois alunos meus ....................................... 33 Figura10 - Grupo de percussão Batuques do Mangue durante ensaio ................ 34 Figura 11 - Batuques do Mangue apresentando em recital .................................. 35 Figura 12 - Tambores e latas ............................................................................... 35 Figura 13 - Exemplo de uma célula rítmica de samba-reggae dividida para aula de percussão ........................................................................................................ 36 Figura 14 - Batuques do Mangue em desfile ........................................................ 37 Figura 15 - Apresentação em praça pública ......................................................... 37 Figura 16 – Final de um recital de bateria no salão do projeto ............................. 42 LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS ASPAM Associação Guamareense de Proteção e Educação Ambiental EMUFRN Escola de Música da Universidade Federal do Rio Grande do Norte GENV Grupo Ecológico Natureza e Vida ONG Organização Não Governamental OSRN Orquestra Sinfônica do Rio Grande do Norte PCP Programa de Criança Petrobras UFRN Universidade Federal do Rio Grande do Norte SUMÁRIO 1 – Introdução ...................................................................................................... 11 2 – Musicalização de jovens e crianças ............................................................... 14 3 – Música como agente de integração e orientação social ................................. 18 4 – Uma orientação para a vida ........................................................................... 25 5 – Considerações ............................................................................................... 43 Referências ......................................................................................................... 45 11 1 - Introdução A música tem sido uma das ferramentas mais utilizadas para fins pedagógicos e uma importante aliada para crianças e adolescentes na integração e orientação social ao longo dos anos através de projetos sociais e ONGs. Esses têm dado suporte primordial aonde o Estado tem falhado em suprir carências e o essencial mínimo em construção do tecido humano e inclusão social com as populações de baixa renda. Segundo José da Silva Fontes Junior e Valéria Lázaro de Carvalho (2020) o ensino de música vem sendo fonte de diversos debates entre pesquisadores por promover ação educativa, socialização e integração social, atuando juntamente com outras áreas do conhecimento de forma eficaz. Penna (2006) diz que essa é justamente a hora de pensar em uma função educativa global, lingando a inter-relação com outros campos do pensamento e da linguagem artística a fim de articular as mais variadas questões e perspectivas. Isso nos remete a buscar entender como a música consegue provocar maiores percepções, desenvolver o pensamento, trabalhar motricidade, controlar emoções, ampliar a capacidade de análises críticas e tomada de decisões. Torna-se uma considerável orientadora para um futuro menos difícil de crianças e adolescentes que crescem com enorme desvantagem em um mundo tão competitivo os possibilitando uma profissão e fornecendo base para uma possível graduação. Prevalece nesse enfoque, ao lado do desenvolvimento da percepção, insigths e observação, a prontidão de respostas, desconstrução de padrões automatizados, novas formulações, transitividade e equivalência, inventividade, etc., que estimulam cognitivamente e dão sustentação ao aprimoramento do ser humano. O exercício de tais capacidades é recurso de autoconhecimento que promove a consciência de comportamentos e também a recriação dinâmica de vínculos, valores, atitudes, contemplando uma formação global, efetiva e integradora. (KATER, 2004, p.45 grifo do autor). Assim, Kater (2004) nos mostra como a música tem poder de transformar quando nos afirma que os processos música e educação são 12 produtos da formação humana, capazes de estimular desenvolvimento tanto na compreensão do conhecimento como em autoconhecimento. Desse modo, atentando para um questionamento e procurando oportunizar um estudo nesse seguimento, este trabalho busca responder: como o ensino e a aprendizagem de música podem contribuir para a integração e orientação social de crianças e jovens? Consequentemente, evidenciar seu objetivo geral que é: compreender como o ensino e a aprendizagem de música podem contribuir para a integração e orientação social de crianças e jovens na ONG Associação Guamareense de Educação e Proteção ambiental – ASPAM. Objetivos específicos: Entender o processo de musicalização de jovens e crianças na ONG; Compreender a música como agente de integração e orientação social; e Relatar a experiência e relaciona-la com as referências estudadas; Este trabalho é baseado como pesquisa qualitativa considerando um relato de experiência e os resultados exemplificados logrados com êxito diante do tema proposto. Por existir diversas abordagens sobre pesquisa qualitativa, pode-se concluir que um dos papéis mais importantes são os resultados que cada uma delas tende a apresentar, sendo essa à análise de fatores e particularidades de um agente motivador como tema. Segundo Bresler (2007) é o pesquisador que escolhe quais vivências deseja investigar e expor seus resultados. O investigador qualitativo escolhe quais realidades deseja investigar. Nem toda realidade de uma pessoa é vista da mesma maneira. A pessoa pode acreditar em relatividade, contextualidade e construtivismo sem considerar que todas essas visões possuem o mesmo valor. (BRESLER, 2007, p. 13). 13 Assim, podemos concordar com a afirmação que Fonseca nos traz dizendo que: [...] pode ser caracterizado de acordo com um estudo de uma entidade bem definida como um programa, uma instituição, um sistema educativo, uma pessoa, ou uma unidade social. Visa conhecer em profundidade o seu “como” e os seus “porquês”, evidenciando a sua unidade e identidade próprias. É uma investigação que se assume como particularística, isto é, que se debruça deliberadamente sobre uma situação específica que se supõe ser única em muitos aspectos, procurando descobrir o que há nela de mais essencial e característico. (FONSECA, 2002, p. 33). Mediante o tema exposto, logo após a “introdução”, apresento o capítulo 2, intitulado “Musicalização para jovens e crianças”, em que trago alguns apontamentos de grandes referências sobre o tema. No capítulo 3, sob o título “Música como agente de integração e orientação social”, evidencio a música como agente orientador e integrador social, propondo base e fundamentos para os benefícios que o ensino musical em projetos sociais e ONGs pode possibilitar assertivamente na formação de pessoas, auxiliando a terem uma projeção de um futuro melhor. No capítulo 4, intitulado “Uma orientação para a vida”, apresento com base na experiência vivida ao longo de 7 anos na ONG Associação Guamareense de Proteção e Educação Ambiental – ASPAM -, no qual geria o Programa de Criança Petrobras, uma parcela da metodologia aplicada e o quanto o ensino de música foi fundamental para vida de alguns jovens nesta ONG. Como também, transmitir resultados e alguns relatos de ex-alunos meus. E é pensando nessas mudanças e novas perspectivas que esse trabalho irá exibir a importância dos projetos sociais e ONGs, e os benefícios que podem proporcionar para a vida de milhares de crianças e jovens. 14 2 - Musicalização de jovens e crianças O processo pelo qual crianças e jovens aprendem música são os mais diversos possíveis. Tudo tem relação direta com seu contextodesde o ventre até o nascimento, e os acompanha por toda sua vida, assim, crescem absorvendo influências diretas e indiretas de tudo que está de algum modo conectado com seu exterior em um mundo que interagem e transformam. Por ser capaz de expressar sentimentos, sensações e pensamentos, a música tem sua importância na educação desde a Grécia Antiga, onde era considerada indispensável como área de conhecimento para suas futuras gerações e por incluir ligação por meio de concepções sensíveis, afetivas, estéticas e cognitivas. Assim, tornando justificado seu aspecto pedagógico no contexto da educação. E, nesse contexto Fonterrada afirma que: [...] era grande o valor atribuído à música, pois acreditava-se que ela colaborava na formação do caráter e da cidadania. As canções não poderiam ofender o espírito da comunidade, mas deviam exaltar a terra natal. Os cantos conferiam aos jovens um senso de ordem, dignidade, obediência às leis, além da capacidade para tomar decisões [...] (FONTERRADA, 2008, p.26). Sabe-se que a criança tem contato com música desde o ventre, no entanto, é fator essencial pensar em como dar continuidade a uma linguagem tão importante quanto às demais. Uma vez que, ainda antes do nascimento, na fase intrauterina os bebês já vivenciam um ambiente sonoro provocado pelo corpo da mãe, sentindo os sons da respiração, dos movimentos e da voz como principal referência afetiva para eles e por estar nesse ambiente, interage constantemente. Para Brito (2003) o ouvir, cantar e dançar se tornam atividades presentes na vida de quase todos os seres humanos, mesmo que de maneiras diferentes. E é de forma completamente intuitiva e espontânea que começa o desenvolvimento da musicalização de bebês e crianças. Onde, o repertório começa a se formar através dos sons do cotidiano e do entorno que os envolve, através das canções de ninar, cantigas de roda, parlendas e jogos 15 musicais, criando vínculos, descobrindo sonoridades, desenvolvendo laços afetivos, cognição e aprendendo a interagir através dos sons. [...] Aliás, vale lembrar que, durante os primeiros meses de vida, o bebê explora grande quantidade de sons vocais, preparando-se para o exercício da fala, sem limitar-se, ainda, aos sons e fonemas presentes em sua língua natal, fato que passa a ocorrer a partir dos oito meses. (BRITO, 2003, p. 41). Por entender que ao longo da história ela se faz presente na educação, a música tem tido vários objetivos no âmbito escolar, porém, alguns com caráter distante das questões relativas ao ensino de música, ela tem tido papel importantíssimo para propósitos que auxiliam os professores na formação de hábitos, atitudes e comportamentos: lavar as mãos antes do lanche, se organizar para hora do intervalo, a hora do lanche, escovar os dentes, início da aula, término da aula e em datas comemorativas ao longo do ano com uma música específica para cada momento do calendário letivo. No entanto, de acordo com o modo como parte da sociedade ainda propõe o ensino de música e sua finalidade, o propósito está longe da compreensão e dos processos de ensino que permeiam no mínimo a possibilidade do mais próximo do ideal. Apesar deste quadro, a música, que tem intensa presença em nossa vida cotidiana, está presente nas escolas de educação básica de múltiplas maneiras: nos eventos comemorativos, em apresentações, festinhas, etc; nos intervalos ou no recreio, por iniciativa dos próprios alunos; na atividade cívica de cantar o Hino Nacional Brasileiro; em atividades extracurriculares – banda marcial (fanfarra), coral, conjuntos instrumentais, etc – atualmente desenvolvidas, inclusive, através do Programa Mais Educação; e especificamente na educação infantil, (a) acompanhando atividades cotidianas (lanche, oração, recreio, fila, etc.); (b) em função do processo de alfabetização; (c) para acalmar e relaxar, através de audição ou canto; (d) na preparação de apresentações. (PENNA; MELO, 2006 apud PENNA, 2013, p.62). Assim, o grande desafio é tornar o ensino de música presente na escola de forma mais efetiva, intensa e significativa, como parte da formação de todos os alunos, através do desenvolvimento de ações pedagógicas capazes de promover a interação dos estudantes com as diversas sonoridades presentes em seu cotidiano, de modo a ampliar seu universo sonoro-musical. Para tanto, a música precisa 16 entrar em sala de aula, com caráter curricular. (PENNA, 2013, p.62, grifo do autor). Assim, tornando aparente que a situação é ainda mais delicada, tanto por não haver ensino de música em milhares de escolas da rede pública de ensino, como também, a dificuldade de alguns profissionais conseguirem desenvolver com êxito o proposto para a clientela. Del-Ben (2012) nos mostra que é preciso pensar nas relações dos jovens com a música. Com o que a música representa e com a escola que está posta para essa juventude, pois tentar mudar realidades e situações mesmo alteradas por Leis, mas sem que a estrutura física, social, comportamental, cultural e administrativa também avance com essa alteração, é quase que impossível obter os resultados esperados. Contudo, Del-Ben (2012) destaca que pesquisas feitas na área de educação musical vêm apresentando grande progresso para um melhor entendimento da relação dos jovens com a música. Esses trabalhos vêm nos ensinando quão complexa e diversa é a relação dos jovens com a música. Essa complexidade e diversidade não são exclusivas dos jovens, mas, talvez, seja entre eles que elas se tornem mais visíveis. E é também entre os jovens que a escola parece mais facilmente perder o sentido. Por isso, os resultados e conclusões dos trabalhos da área de educação musical, muitas vezes, vêm aliados a uma crítica à escola, que não tem conseguido se constituir como uma escola jovem, para os jovens. Como observa Arroyo (2007, p. 33 apud Del-Ben, 2012, p.39): “Aquele adolescente e jovem totalmente submisso aos adultos e à escola deu lugar a uma juventude que tem imposto seus modos de ser, suas necessidades e desejos. Para dar conta dessa nova maneira de ser da juventude, a escola deve mudar”.(DEL-BEN, 2012, p. 39). Diante do exposto, devo ressaltar que Fonterrada (2008), referindo-se a Bennett Reimer (1970), nos lembra de que o pensamento comum da comunidade precisa possuir convicção para dar força a alguma área filosófica de uma profissão. E que, ele, acrescenta: o indivíduo que tem uma clara noção dos objetivos e metas de sua profissão, e que esteja convencido de sua importância, é um forte elo na cadeia dos indivíduos que também a abraçam;... a compreensão da natureza e do valor da profissão afeta inevitavelmente a sua compreensão acerca da natureza e do valor de 17 sua vida profissional. (REIMER, 1970, p.4 apud FONTERRADA, 2008, p.12). Fonterrada ainda afirma que: A falta de clareza com relação a esses motivos impede que se compreenda a área de forma abrangente e que se tenha a visão do campo maior em que ela está inserida, em cada época [...] (FONTERRADA, 2008, p.12). Com isso, deve-se ter um olhar mais cauteloso e dedicado para o ensino de música, porque o que está sendo proposto tem que ter objetividade e certeza dos resultados esperados. É possível reafirmar o quanto existem pontos especiais a serem observados e tratados com mais atenção ao interagir com crianças e jovens no ensino de música. Visto que existe uma complexidade e uma diversidade muito grande dos jovens em suas relações com a música, muitos são os gostos e preferências que divergem e que estão ligados diretamente a influências do contexto social, familiar, financeiro, ciclo de amizades, cultural e religioso. A música tem lugar especial na vida deles, justamente, por ligá-los de alguma forma a algo ou alguém, construindo identidade e, de certa forma, mostrando ao outro sua posição e como querque o mundo o veja. Além disso uma grande parte do processo de aprendizagem não ter o efeito esperado pelos professores e idealizadores do currículo escolar é, propriamente, por não perceberem, ou não priorizarem o que os jovens gostariam de sugerir como conteúdo, ideias com atrativos do conhecimento que façam parte do cotidiano e que tenham a ver com suas realidades, seus interesses, valores, saberes e, assim, ampliá-lo para desenvolvê-lo de forma natural e condizente com as suas necessidades. Almeida (2001, p.19) nos fala que é “quando os alunos realizam atividades capazes de despertar sentidos plenos para eles, e isso ocorre quando se identificam com a proposta de trabalho e se reconhecem como autores, quando constatam que podem criar algo novo por meio de sua ação”. É fato que sabemos que o espaço físico não evoluiu de acordo com a demanda da juventude e o seu perfil atualizado com o mundo moderno e, portanto, alguns professores estagnaram em seu modo de enxergar os alunos e o mundo a que eles pertencem, sem falar sua língua e procurar entender 18 seus pensamentos. Del-Ben (2012) aponta relatos importantes de como os alunos interpretam o saber e como gostariam que fosse transmitido. [...] porque não se pode falar em jovem ou juventude, mas em jovens/juventudes – no plural – e suas culturas juvenis; a multiplicidade de dimensões presentes nas experiências musicais dos jovens, que incluem, entre outras, relações de gênero, classe, etnia e religião, muito além dos aspectos sonoro-musicais; a diversidade de significados atribuídos a essas experiências; e, principalmente, a força da música na construção das identidades dos jovens. (DEL- BEN, 2012, p. 39). Apesar de a Escola ter assumido um papel que vai além de valorizar a arte, a cultura e a ciência é possível especialmente no âmbito destas três, aprimorar esse dever que foi transmitido e assim desenvolver também as emoções, os sentimentos e a consciência fazendo uso do ensino da música como linguagem científica e artística que é. Em decorrência do exposto pode-se afirmar o quão importante é criar uma ponte entre escolas da rede básica de ensino e projetos sociais com o intuito de poder oferecer para crianças e jovens a oportunidade de exercerem contato mais direto e contínuo com o ensino de música. Uma vez que neste espaço informal, muitas das vezes, tende a propor possibilidades variadas de absorver ideias e, quase sempre, possuem aparatos específicos disponíveis para execução e realização das criações propostas. No próximo capítulo irei retomar o que iniciei no parágrafo anterior, a fim de transmitir algumas ideias sobre o que autores e pesquisadores revelam referente ao ensino de música em projetos sociais e suas contribuições. 3 - Música como agente de integração e orientação social Em um mundo cada vez mais repleto de inovações e com uma corrida desenfreada em busca do “sucesso”, crianças e jovens que estão fora da zona de risco e podendo-se dizer que essas fazem parte da lista dos mais afortunados em relação à família, dinheiro e condições melhores de vida, 19 conseguem assim chegar com enorme vantagem em melhores espaços com ensino de artes, esportes e cursos com caráter profissionalizante. Com isso a população de baixa renda, especialmente crianças e adolescentes, tendem a trilhar trajetórias em sentido ao já imaginado por quem os observa sempre à margem da sociedade. Isso ocorre quase sempre por falta de oportunidade, abandono, fome e traumas ocasionados muitas vezes pela própria família e sociedade. Consequentemente, estão longe do fácil acesso para participarem de forma digna dos contextos onde estão inseridas: artes, informática, esportes, dentre outros. E lembrando que, como se não bastasse, o Estado se omite claramente sem interesse algum em provocar mudanças para melhorias da qualidade de vida e integração social. No tocante a esse tema, os projetos sociais e as ONGs estão conseguindo espaço e força ao longo dos anos auxiliando e contribuindo na melhoria da qualidade de vida e integração social, possibilitando base e horizontes para crianças e adolescentes que se encontram em situação de risco e expostos aos diversos fatores inerentes ao cenário. O ensino de música tem se estruturado em dimensões cada vez mais amplas e diversificadas. Assim como as culturas se encontram em constantes transformações, o uso da música e as formas de sua transmissão tendem a acompanhar as necessidades emergentes de cada contexto social. Nesse sentido, o terceiro setor mostra-se como uma dimensão da sociedade, na qual – desde a década de 1990 em nosso país – têm se expandido os projetos sociais e as organizações não governamentais (ONGs). Esses espaços visam atender às populações de baixa renda, sobretudo crianças e adolescentes que se encontram em situação de vulnerabilidade social. (FONTES JUNIOR; CARVALHO, 2020, p.116). Assim, o ensino de música se propõe como um dos principais meios de ferramenta pedagógica, disposto a intervir e contribuir em assistir essa parcela da população. Por esse contexto, o uso da música como meio de socialização e ação educativa vem sendo adotado, inspirando reflexões, debates e pesquisas, proporcionando aproximações epistemológicas entre a área da música, suas subáreas e outras áreas do conhecimento, como a educação, a socialização, a psicologia e a antropologia. (FONTES JUNIOR; CARVALHO, 2020, p.116). 20 Os indicativos que fortalecem essas afirmações estão presentes nos resultados apresentados nas mais variadas pesquisas trazendo aspectos educativos importantes e confirmações positivas que reforçam ainda mais os benefícios apresentados. [...] As particularidades inerentes às dimensões formativas que mais se destacaram estão relacionadas com a ética, a socialização, a diversidade, a oralidade nas transmissões musicais, o significado das práticas musicais e o compromisso com o desenvolvimento da autonomia nos alunos. (FONTES JUNIOR; CARVALHO, 2020, p.117). Penna também diz que: No entanto, os projetos educativos extra-escolares, com finalidade social, têm mostrado a validade, no ensino das artes, das funções contextualistas – tais como o desenvolvimento da auto-estima, da autonomia, da capacidade de simbolizar, analisar, avaliar e fazer julgamentos, além de um pensamento mais flexível[...] (PENNA, 2006, p.37). No entanto, existe uma análise a ser feita no tocante a ONGs e projetos em função de suas finalidades reais, pois, sabe-se que muitos são distintos e não enxergam, muitas vezes, os mesmos princípios e valores. É preciso, contudo, lembrar que os projetos educativos e sociais não são homogêneos ou uniformes, e há práticas bastante distintas: em algumas delas a superação da oposição entre essencialismo e contextualismo pode ser alcançada, enquanto em outras surgem novos problemas. Por exemplo, embora propagando objetivos pedagógicos, certos projetos pontuais e sem atuação a longo prazo têm, na verdade, como prioritária a função política ou de marketing, com parcos resultados educativos. Por sua vez, alguns projetos contratam artistas, e outros transferem, para esses espaços alternativos, práticas tradicionais do fazer musical, sem maiores preocupações com os aspectos propriamente pedagógicos envolvidos. Cabe, portanto, refletir melhor sobre essas questões. (PENNA, 2006, p.37). Essa preocupação apresentada por Penna (2006) ressalta para o cuidado de uma educação musical redentora, ao qual é apresentada 21 frequentemente por parte da mídia, onde transfere de forma bem direta toda responsabilidade das práticas conservadoras para os espaços extraescolares, principalmente projetos sociais. Diante das necessidades prementes dos grupos atendidos por tais projetos, que enfrentam precárias condições de vida, com alternativas de realização pessoal, profissionalou social extremamente restritas, parece fácil considerar qualquer abordagem como válida, qualquer contribuição como positiva. Mas isso pode acabar nos levando de volta à visão redentora da arte e da música [...] (PENNA, 2006, p.38). Então, quando se parte do pressuposto de ensinar música e atender alunos que ao longo do tempo absorvem constantes transformações de um mercado emergente e que está correlacionado diretamente com a interdisciplinaridade coletiva, devemos atentar ao cuidado em como atuar na função professor, ou seja, dominar e entender o que se quer transmitir sobre música e suas relações com o propósito que se pretende oferecer. Para Kater (2004) o modo como as profissões se desenvolvem de maneira avançada surgindo novas frentes e conjunturas de trabalho ao longo dos anos, em especial para o educador musical, essas transformações refletem diretamente com as definições de sua função nas mais variadas sociedades. Isso mostra o fato da formação docente e suas especificações, para o fim desejado em projetos sociais, com o cuidado de olhar para o que está sendo proposto e não entrar no mero campo de um local de distração e entretenimento. Essa situação resulta de uma análise fragmentada da realidade compreensão parcial da demanda –, implicada por sua vez numa condição específica de classe e ideologia (com tudo o que esse termo evoca). Como consequência nos deparamos com a inexistência de programas de formação de profissionais com competência para atuarem diretamente em empreendimentos de ação social (bem como junto a instâncias administrativas e pedagógicas, no planejamento, coordenação, orientação ou supervisão de seus projetos), que contemplem uma abordagem mais associada à rede de conhecimentos de áreas afins (psicologia, pedagogia, sociologia, serviço social…) e sobretudo uma qualificação da formação pessoal do próprio educador, sob a luz de um enfoque humanizador da educação musical. (KATER, 2004, p.44). 22 A música está para educação como fator imprescindível para construção humana. Música e educação caminham ao longo do tempo desde o início das civilizações e fortalece os mais valiosos vínculos com as sociedades e suas culturas, estabelecendo elos e auxiliando nas organizações morais, éticas, religiosas e políticas. Fonterrada (2008, p.27) diz que na Grécia Antiga “o principal papel da música é pedagógico, pois sendo responsável pela ética e pela estética, está implicada na construção da moral e do caráter da nação, o que a transforma em evento público e não privado”. Kater diz que: Música e educação são, como sabemos, produtos da construção humana, de cuja conjugação pode resultar uma ferramenta original de formação, capaz de promover tanto processos de conhecimento quanto de autoconhecimento. Nesse sentido, entre as funções da educação musical teríamos a de favorecer modalidades de compreensão e consciência de dimensões superiores de si e do mundo, de aspectos muitas vezes pouco acessíveis no cotidiano, estimulando uma visão mais autêntica e criativa da realidade. (KATER, 2004, p.44). Esses aspectos ressaltam a importância e o poder transformador da educação musical e sua predisposição em oferecer e assegurar uma formação social mais humana e menos injusta. Com isso é determinante que faça parte do pensamento do educador entender o ambiente e buscar compreender as necessidades e particularidades de cada criança e adolescente para, assim, tentar desenvolver na educação musical possibilidades de reverter traumas e tentar solucionar conflitos internos. Fontes Junior e Carvalho (2020) entende que o ensino de música necessita ir além das questões pedagógicas específicas, deve-se ater em reorganizar e fortalecer condições psicológicas para que a ação educacional forneça uma socialização de caráter humanitário, com papel fundamental em preencher ausências características à construção de cada sujeito. Portanto, é objeto direto da função do educador, mesmo que involuntariamente ou de forma despercebida, possibilitar que o aluno vá além dos seus limites e capacidades voltadas apenas a questões musicais. Isso 23 transcende o explorar habilidade e potencialidade que antes era desconhecido por ele, e que ao se deparar com uma nova perspectiva de aprender um novo código, uma nova matéria, o direciona para outro estágio de aprendizado onde se percebe que pode ir adiante agora que está conhecendo um pouco mais de si, que é capaz de entender e enxergar sua própria superação. Considerar uma educação musical formadora nos remete a um processo educativo, não genericamente “dinâmico” mas, essencialmente, desimobilizante. Nele se busca estabelecer os meios para revitalizar o interesse por isto que atualmente definimos como “música” e também pelas músicas, pelos sons, fontes sonoras, pessoas e pelo mundo que constroem e habitam. Redimensionar o interesse, explorando a percepção de cada individuo sobre si e sobre o complexo de relações no qual interage. E é justamente a intensificação da percepção (no micro ou macrouniverso), a atenção ativada, que nomeamos consciência. Nesse sentido então é que a educação musical pode tornar-se um excelente meio de conscientização pessoal e do mundo. (KATER, 2004, p.45). As evidências só comprovam à relevância da função do educador como auxiliar e orientador com o fim socializador e transformador por intermédio do ensino-aprendizagem de música. O envolvimento não se resume apenas em transmitir algum conhecimento ou assumir determinado papel social, mas estar posto como referencial humano que é. Isto remete a sua maneira de agir, pensar, falar e interagir no seu dia a dia. Reflete diretamente na construção de um ser que absorve, do espelho, tudo aquilo que acredita ter afinidade, estando ligado diretamente com a construção de sua própria identidade e que ajudará em seu desenvolvimento. Deste modo, Kater nos faz lembrar que: Por esta razão é sempre útil revisitar a memória pela qual fomos criados, a fim de refletir mais criticamente sobre as representações que fazemos hoje de nós e do que nos cerca, conhecendo as referências que nos intermedeiam dos fatos e das pessoas, descobrindo as sutilezas de funcionamento dos mecanismos que agem em nós quando atuamos, também, profissionalmente. (KATER, 2004, p.45). E que: 24 Torna-se então no mínimo uma demonstração de cuidado, por parte do professor, dedicar-se a um trabalho de desenvolvimento pessoal (o que significa dizer conhecer-se melhor, cultivar o equilíbrio interno, centramento, determinação, coerência, criatividade, auto-observação, etc.), consciente da situação de referência que representa. (KATER, 2004, p.45). Por isso, com base no que foi apresentado podemos concluir que efetivamente o educador de ensino de música atuante em espaços informais como são os projetos sociais e ONGs, pode atuar de maneira decisiva no crescimento e amadurecimento do aluno. O motivando a se tornar um cidadão com olhar além dos estereótipos da estética para um mundo melhor que a linguagem da arte pode proporcionar. Com isso o professor/educador necessita fazer constantemente uma autoavaliação e autoreflexão sobre sua postura como mediador de determinados conhecimentos. Freire (2014) diz que não há saber nem ignorância absoluta. Ficando assim, a necessidade de entender que o professor/educador é fruto de um meio, ao qual vai ser reflexo de apoio no contexto social em que estiver inserido. Transmitindo não apenas conhecimentos acadêmicos especializados, mas também aprendendo com os educandos em um contexto que envolve comportamentos que serão observados, avaliados, criticados e provavelmente de algum modo, serão seguidos. É pensando dessa forma que não se deve separar professor de educador, tudo está interligado em meio à educação contemporânea. Para Freire (2014) “o saber é relativo assim comoa ignorância”. O professor não é detentor de todo conhecimento, em tudo e, em todos, se aprende diariamente e constantemente. Segundo Brandão “A educação é, como outras, uma fração do modo de vida dos grupos sociais que a criam e recriam, entre tantas outras invenções de sua cultura, em sua sociedade”. (BRANDÃO, 1990, p. 10, grifo do autor). É como um acrescentador de conhecimentos, de pensamentos e condutas que o professor/educador deve seguir proporcionando o transformar, ensinando a criar e recriar. “A educação deve ser desinibidora e não restritiva. 25 É necessário darmos oportunidades para que os educandos sejam eles mesmos.” (FREIRE, 2014, p. 41). A fim de cooperar com a probabilidade de um mundo mais humanizado, compartilhando dos mesmos locais e sensações que a clientela sujeita ao processo ensino-aprendizagem, sob a óptica do ensino de música em projetos sociais e ONGs, é que o educador demanda absorver em todos os ângulos o que está diante de seus olhos. Ou seja, olhar além de um mero espaço físico e alguns alunos que estão ali apenas para passar um tempo qualquer. O novo para essas crianças e adolescentes não se dá apenas ao fato de participarem de algumas aulas em um projeto, mas tudo que fará parte desse ambiente. O reflexo será em todas as projeções possíveis, principalmente no ser professor, que será uma das mais novas figuras atuante na vida deles, partilhando saberes, sorrisos, conversas, momentos e os acolhendo em circunstâncias que serão claramente necessárias ao longo do percurso. O próximo capítulo seguirá com a narração de uma parcela da experiência obtida e os efeitos advindos das aulas de instrumento bateria e turma de percussão alternativa, vividos no Programa de Criança Petrobras – PCP –, Associação Guamareense de Proteção e Educação Ambiental – ASPAM -, no município de Guamaré/RN. 4 – Uma orientação para a vida Tudo começou enquanto ainda era adolescente e participava de uma igreja evangélica na Zona Norte de Natal/RN, aos meus 14 anos de idade, lá iniciaram meus dotes e interesse pela música. No ano 2000, já com meus 15 anos de idade, ouvi no noticiário que a Escola de Música Casa Talento (Associação Cultural Talento Suzuki – projeto social) iria abrir vagas de forma gratuita para jovens da rede pública de ensino, então fiz minha inscrição sem perder tempo. Até então a intenção era apenas em aperfeiçoar a prática em bateria, porém depois de três anos no curso básico estudando com o Professor e Músico da Orquestra Sinfônica do Rio Grande do Norte – OSRN - João Paulino Filho e, em 2003, ser convidado a fazer parte do quadro de monitores 26 da Escola para ministrar aulas como monitor de bateria, foi quando comecei a perceber que seria o que eu iria escolher para minha vida. Assim fui aprendendo os primeiros passos dos caminhos da docência. Viajei com a Orquestra Talento Petrobras, formada por alunos e professores, por diversas cidades e estados fazendo apresentações no Brasil. Também comecei a acompanhar algumas bandas e artistas locais. Em 2004 ingressei no curso Técnico em Percussão na EMUFRN como aluno da Professora Germanna França da Cunha, onde então, as portas do mundo acadêmico começaram a se abrir. Em 2007, formado no curso Técnico em Percussão, minha carreira docente vinha ganhando bagagem na prática, em aulas de instrumento, muito mais cedo do que eu poderia imaginar. Muitas coisas aconteceram e caminhos foram percorridos até receber em 2009 o convite para dar aulas na ONG Associação Guamareense de Proteção e Educação Ambiental - ASPAM. Localizada na Rua Vicente de Brito, 136 – Centro. CEP: 59.598-000 - Guamaré-RN. Fundada inicialmente em 1994 como: Grupo Ecológico Natureza e Vida – GENV. Em 1999 tornou-se Associação Guamareense de Proteção e Educação Ambiental. Em 2005 assumiu o primeiro convênio com a PETROBRAS para execução do primeiro Programa de Criança Petrobras de Guamaré (PCP), passando a funcionar em parceria com a Prefeitura Municipal de Guamaré. A ASPAM é uma Organização Não Governamental que além do trabalho educativo com educação ambiental, também oferecia aulas de música, dança, artes visuais e plásticas, esportes, lutheria e conteúdos escolares para reforço escolar. As vagas eram preenchidas por crianças e adolescentes, na maioria dos casos, carentes e oriundos da rede pública de ensino. Ingressavam alunos com cinco (5) anos de idade especialmente para as turmas baby class do ballet, e dos sete (7) aos dezessete (17) anos de idade para as demais oficinas. Inicialmente, eram ofertadas 240 vagas, porém as vagas foram ampliadas para 470 em virtude da parceria com a prefeitura. A seleção, na oficina de música, era feita por meio de testes extremamente simples de aptidão, percepção rítmica bem básica, entrevista e 27 interesses do aluno. Havia oportunidade para eles transitarem por diferentes instrumentos com o intuito de favorecer a livre escolha e afinidade do aluno. Nas demais oficinas não havia diferença significativa para seleção dos alunos, principalmente nas oficinas de aulas coletivas. Os critérios eram baseados em: disponibilidades de vagas ofertadas em cada oficina; em os alunos estar matriculados na rede básica de ensino; no interesse dos alunos; em estarem alfabetizados, especificamente, para as aulas de música. A ASPAM contava com uma equipe de dezenove (19) professores atuando em sete (7) oficinas: educação ambiental, conteúdos escolares, música, dança, artes plásticas e visuais, esportes e luteria. As oficinas eram divididas em setenta e quatro (74) turmas. Havia acompanhamento psicológico e todos os alunos faziam duas refeições diariamente por turno. Os alunos da manhã eram acolhidos com café da manhã e lanchavam antes da saída. Os alunos da tarde eram recebidos com almoço e lanchavam antes da saída ao final das aulas. Com um contexto bastante delicado em relação à qualidade de vida dessas crianças e adolescentes, tanto no centro do município como nos distritos de seu entorno, a ASPAM, bem como outros projetos no município, visam de alguma forma melhorar o bem-estar social e expectativa de crescimento educacional no município. Assim tive a oportunidade de iniciar meu aprendizado, também, como professor em outro segmento que até então não tinha tido nenhuma experiência, ou seja, ser professor, além das aulas de bateria, aulas para grupo de percussão alternativa (materiais recicláveis: tambores de plástico, cordas e latas de tinta). Durante todo o tempo em que participei do projeto, minha carga horária era de três (03) dias por semana, o equivalente há 30 horas semanais. Em uma sala de aproximadamente 3m², aconteciam as aulas de bateria, onde permaneciam duas baterias montadas e alguns pad’s (borrachas de estudos) 28 para desenvolvimento motor das mãos e coordenação dos exercícios. Aulas com duração de cinquenta (50) minutos e dois alunos por turma. Costumava iniciar as aulas com alongamentos e em seguida exercícios de coordenação das mãos com o método Stick Control (George Lawrence Stone), analisando o desenvolvimento de cada aluno referente ao exercício desenvolvido e suas dificuldades na execução. Continuava com alguns exercícios de leitura rítmica com o método Ettore Pozzoli, aprimorando percepção e habilidade na execução ao tocar os ditados nas borrachas de estudo, enquanto marcavam o pulso contando o tempo em voz alta ou fazendo marcação no chão com um dos pés. Além disso, ainda dentro do segmento contínuo da aula, desenvolvíamos leituras de ritmos variados de métodos executados na bateria, tais como: Realistic Rock (Carmine Appice), Advanced Techniques for the Modern Drummer (Rick Latham) e Ritmos Brasileiros, colocando em prática o desenvolvimento motor e cognitivo. 29 Figura 01 - Capa do método de bateria Stick Control.Fonte: Foto retirada do próprio método em PDF do arquivo pessoal. Figura 02 - Primeira página de exercícios do Stick Control Fonte: Foto retirada do próprio método em PDF do arquivo pessoal. 30 Figura 03 – Capa do método de bateria Realistic Rock Fonte: Foto retirada do próprio método em PDF do arquivo pessoal. Figura 04 - Primeira página de exercícios escrita em linhas rítmicas Fonte: Foto retirada do próprio método em PDF do arquivo pessoal. 31 Figura 05 – Capa do método Pozzoli Fonte: Foto retirada do próprio método em PDF do arquivo pessoal. Figura 06 - Primeira série do método Pozzoli Fonte: Foto retirada do próprio método em PDF do arquivo pessoal. 32 Figura 07 - Aluno exercitando durante a aula primeira página do método de bateria Realistic Rock. Fonte: Foto retirada do arquivo pessoal. Figura 08 - Alunos executando o mesmo exercício simultaneamente Fonte: Foto retirada do arquivo pessoal. Entre uma aula e outra também era aplicado play along – músicas em áudio para estudos sem que tivesse a bateria gravada, apenas os outros 33 instrumentos - com algumas músicas conhecidas por eles e outras apenas instrumentais para que eles pudessem aplicar os ritmos estudados ao acompanhamento, como se estivessem tocando com uma banda, um grupo... Dessa forma já estava também os preparando para os recitais que estavam por vir e assim, para que já pudessem adquirir autoconfiança e habilidade quando fossem ensaiar com alunos de outros instrumentos. E concordando com Almeida (2001), era um processo prazeroso e que eles adoravam. Sentiam que estavam realmente tocando bateria e que estavam de fato aprendendo. Alguns alunos mais avançados faziam peças um pouco mais elaboradas. Tocavam solos de bateria, solos de caixa, duetos, participavam de grupos e tocavam na orquestra que a ONG havia criado. E, além disso, já era uma ferramenta para a prática em grupo para todos que participavam do projeto. Figura 09 - Apresentando durante recital uma peça para trio de bateria. Aqui, ao centro, eu participei tocando com dois alunos meus Fonte: Foto retirada do arquivo pessoal. Os horários eram alternados em um dia da semana, dentro dos três que eram meu compromisso e carga horária, com as aulas do grupo de percussão. Muitos dos meus alunos de bateria faziam parte do grupo, porém alunos de 34 outros instrumentos, da dança e de outras oficinas também. Quando não haviam vagas na oficina de bateria, muitas crianças participavam do grupo de percussão como uma forma de esperar e garantir uma vaga na oficina de bateria, mas tomavam gosto e não abandonava a oficina de percussão após conseguirem a vaga. Na turma o trabalho era um pouco mais livre e voltado bem mais para a prática e execução de ritmos variados, bem como para a elaboração e confecção dos instrumentos, pois eram feitos com materiais reciclados: latas de tinta, tambores de plástico, cordas e grãos para chocalhos. Figura 10 - Grupo de percussão Batuques do Mangue durante ensaio Fonte: Foto retirada do arquivo pessoal. 35 Figura 11 - Batuques do Mangue apresentando em recital Fonte: Foto retirada do arquivo pessoal. Figura 12 - Tambores de latas Fonte: Foto retirada do arquivo pessoal. A divisão do grupo era de forma simples e clara, ficando dividido em três naipes: tambores graves, médios e agudos. Os ritmos eram trabalhados em 18 36 células rítmicas que eram divididas em três partes se tornando um ritmo com som forte e agradável. Algumas técnicas eram passadas para que pudessem segurar as baquetas de forma correta e exercícios eram feitos para que os ritmos não perdessem suas características. Um dos métodos que eu gostava de usar bastante para que pudessem entender as partes de cada célula aplicada era o solfejo rítmico, eu também mostrava tocando, em áudio, em vídeo, mas o solfejo era, sem dúvida, o mais “tocável” para eles. Pedia que cada um solfejasse comigo e sentisse como seria a ideia do ritmo e com isso os fazia internalizar a levada trabalhando percepção, memória, pulso e repetição, com o propósito de finalizar executando na prática. Figura 13 – Exemplo de uma célula rítmica de samba-reggae dividida para aula de percussão Fonte: Composição minha. Do mesmo modo que usava play along com os alunos de bateria, também utilizava para o grupo de percussão. Os ensaios aconteciam em um horário pela manhã e outro em um horário à tarde e sempre havia uma variedade em relação à quantidade de alunos por ensaio, mas quase sempre eram 12 a 15, no mínimo. Nas apresentações juntávamos as turmas dos dois horários. Criávamos levadas para compor os espaços em algumas músicas que seriam preenchidas pela bateria e preparávamos repertório para recitais e apresentações diversas. E, no tocante as apresentações, para eles, era o ápice da participação do projeto, era o momento de se sentirem protagonistas de suas histórias, dos seus shows, donos do palco e atrações de sua cidade. Tínhamos recitais periódicos, apresentações em eventos das escolas e desfiles 37 pelas ruas em datas comemorativas e sempre misturando bateria e percussão nos momentos das apresentações em locais fixos. Eles faziam solos, duetos, acompanhamentos com play along ou com outros alunos tocando baixo, guitarra e teclado. Figura 14 – Batuques do Mangue em desfile Fonte: Foto retirada do arquivo pessoal. Figura 15 – Apresentação em praça pública Fonte: Foto retirada do arquivo pessoal. 38 Consoante com Kater (2004), após o primeiro ano na academia, percebi com um olhar mais crítico e analítico a importância do projeto no meio social ao qual estava inserido e a clientela que seria atendida. Crianças e jovens vulneráveis aos mais diversos fatores de risco que permeavam o entorno da cidade, buscavam no projeto apoio e oportunidade para fugirem de uma mesmice de ociosidade, onde possivelmente, drogas, prostituição e a chance de se envolverem em caminhos perigosos estavam à espreita, esperando o momento mais frágil de cada um deles. E, é fato, que alguns possam ter se perdido por tais caminhos ou optaram em aguardar a própria sorte, inertes a espera de um milagre da vida. Porém, a grande maioria dos alunos de minha época, descobriram dentro do projeto social, possibilidades que poderiam adotar como profissão. Alguns dos meus alunos, e, alunos dos demais professores, conseguiram entrar em cursos de graduação na UFRN ou no curso Técnico. Esse é o ponto chave em questão. Até onde aulas em projetos sociais podem refletir e influenciar efetivamente na vida dos jovens? Por essa experiência posso afirmar que sim. Relato o quanto o projeto social influenciou na vida de alguns alunos meus tanto para seguirem profissão como músicos, como também em outras profissões fora do campo da música. Alunos de outros professores que seguiram no mundo acadêmico para derem continuidade com o aprendido no projeto e tornarem-se profissionais espelhados em seus professores. Para exemplo do que exponho, gostaria de transcrever breves relatos de alguns de meus ex-alunos, que contam um pouco da experiência vivida no projeto. Ex-aluno 1: Bom! Quando comecei a participar do projeto, no ano de 2005, logo fui lançado a orquestra daquele tempo em que pra mim foi uma coisa maravilhosa, poder acompanhar tantos e tantos instrumentos. Participar do projeto foi como uma segunda casa! Pois era de segunda a sexta praticamente que me envolvia nos ensaios, estudos, aula de Bateria. Eu entrei em 2005, mas dois anos depois saí, mas quando o professor Eliabi entrou em 2009 eu voltei, e isso foi muito gratificante! Pois preencheu um pouco mais dos meus estudos. Com 39 isso fui me dedicando cadavez mais a ser o auxiliar dele em preparação de sala, questão de ajudar no que fosse preciso. E em 2015 fiz minha primeira prova para o curso técnico de Música pela UFRN. Fiquei em segundo e não entrei porque era apenas uma vaga. Me preparei melhor em 2016, fiz a prova e passei em primeiro. Entrei no ano de 2017, me alegrei muito pela oportunidade que me foi concedida. E lá pude ver outra parte do mundo da música. Hoje sou bolsista da Orquestra Potiguar de Clarinetas. Estou concluindo o recital do instrumento e vou entrar em licenciatura em música próximo semestre. O projeto me influenciou em saber lidar com os imprevistos na hora de tocar, saber como fazer acontecer tanto na música como pessoalmente também. E a igreja foi o berço, né? Porque todos os músicos tiveram uma passagem pela igreja, seja ela qual for a denominação. (Renan Barros, ex-aluno do Programa de Criança Petrobras – PCP/ASPAM, relato enviado por whatsApp em: 21/07/2021). Ex-aluno 2: Olá, meu nome é Victor Daniel de Melo Lima, tenho 24 anos, moro em Guamaré e é uma satisfação relatar um pouco da experiência vivida na escola de música do programa de criança Petrobras de Guamaré. Iniciei no projeto no ano de 2009 na oficina de percussão, por nome de ‘Batuques do Mangue’ e no ano de 2010 comecei a ter aulas de bateria e teoria musical. No início meu intuito foi somente aprender a tocar um instrumento musical, só que ao decorrer do tempo observei que eu poderia viver da música, e ainda toquei profissionalmente de 2014 a 2018. Ao longo do tempo fui convidado a participar da orquestra da escola de música, como percussionista pois já tinha 3 bateristas e não havia mais vaga para a bateria. Um ano se passou e no ano de 2011 consegui a vaga de baterista na orquestra, onde permaneci até o ano de 2014. No total foram 5 anos na escola de música do programa de criança Petrobras de Guamaré, no qual sou grato primeiramente a Deus pela oportunidade, e segundo a todos os professores, em especial ao meu professor de bateria Eliabe, pessoa na qual não ensinou somente a tocar bateria, mas também a ser um cidadão educado, disciplinado e responsável. Foram muitos aprendizados que levo até hoje para minha vida. Por fim, quero dizer que a música é uma ferramenta muito importante para a sociedade. Ela educa e disciplina ajudando a muitas crianças e adolescentes a viver uma vida saudável longe da vulnerabilidade social, além de ser uma profissão que muitas pessoas sobrevivem dela. (Victor Daniel, ex-aluno do Programa de Criança Petrobras – PCP/ASPAM, relato enviado por whatsApp em: 21/07/2021). Ex-aluno 3: Bom… O projeto quando ele foi criado, despertou o interesse dos jovens aqui na cidade, pq era algo novo, todo mundo é familiarizado com música até mesmo por conta das igrejas que são bastante 40 presentes no município e os músicos de igreja até hoje são bastante valorizados pela população local. Quando eu busquei ingressar no projeto (primeira tentativa), eu busquei mais pela vontade de ser um músico e ter reconhecimento, só que não era o momento, só na segunda tentativa, 3 anos após a primeira, que eu vim ingressar mais com o pensamento de apenas aprender um instrumento e buscar como refúgio para problemas pessoas com minha família. Bom, durante minha trajetória no projeto, fui percebendo o outro lado da música, principalmente me relacionando melhor com os professores, onde vi uma oportunidade também me tornar professor igual a eles. E durante uma paralisação que teve, onde o projeto quase fecha as portas, eu e uma turma de amigos, decidimos ensinar voluntariamente, e isso despertou o interesse dos governantes da cidade e conseguimos manter o projeto de pé até os dias atuais. A importância do projeto na minha vida é muito expressiva, pois cheguei lá quase sem perspectiva do que ser no futuro e busquei refúgio na música. Hoje estou cursando a licenciatura em música, trabalho com produções online e cuido do áudio em uma empresa de transmissões ao vivo na região onde eu moro, e hoje a música é quem conduz a minha vida, pois, eu vivo de música, eu respiro música e ouço quase que 24h e a família me dá maior apoio em tudo que eu faço. (Adson Silva, ex-aluno do Programa de Criança Petrobras – PCP/ASPAM, relato enviado por whatsApp em: 28/07/2021). De acordo com Kater (2004), enfatizo que antes de ser professor a visão deve ser de se tornar amigo deles, ter empatia, ouvir, entender rotinas, problemas e tentar ajudar conversando, aconselhando e sorrindo com eles. Estar inserido em determinado contexto social envolve muito mais que apenas ministrar aulas, o professor precisa se tornar parte do ambiente. Deste modo, a atuação tem efetividade e resultados mais positivos que negativos. E atualmente poder contemplar e saber que alunos como o Renan - que está concluindo seu curso Técnico de Bateria pela EMUFRN em 2021 e participa de diversos projetos dentro e fora da escola, acompanhando vários artistas profissionalmente e buscando ingressar na licenciatura; o Victor – que também foi um dos alunos destaques e com talento primoroso e hoje é Nutricionista, mas que ainda toca por hobby e na igreja que congrega e; o Adson – que também segue brilhantemente tocando profissionalmente acompanhando bandas e artistas de sua cidade como baterista e cursando também Licenciatura em música. Todos tiveram em sua bagagem e orientação aprendizados que foram ofertados por um projeto social, o que reforça ainda mais as afirmações descritas nos mais variados trabalhos apresentados em relação ao tema. 41 Ver também que outros alunos atuam como Dj’s, músicos, cantores e bailarinos com habilidades e reconhecidos por onde passam, tornando ainda mais verdadeiro e evidente o aprendizado que tiveram. Notar as influências positivas de seus professores, com transformações em: aspectos comportamentais, mudança de postura na oralidade, análise crítica de fatos e situações, valores éticos e morais totalmente diferentes do que apresentavam no início dos estudos e da vivência no projeto, são sem sombra de dúvidas, resultados mais que comprovados e reafirmados por todos os autores referenciados antes. Então, conforme Fontes Junior e Carvalho (2020), as ideias que foram trabalhadas e os frutos observados durante o processo de desenvolvimento condizem com o proposto pela afirmativa de que o ensino de música é de fato um agente de integração social e uma orientação para algum segmento na vida, SIM! Se o aluno vai ser músico, não se sabe, mas que ele pode ser uma pessoa melhor e que a música irá contribuir para um melhor pensamento cognitivo, motor e ajudar a desenvolver habilidades em outras áreas, isso é fato verdadeiro. Hoje sou muito agradecido e feliz pelo espaço que tive em trabalhar no projeto e a honra que foi poder ter contribuído de alguma forma com projeções tão positivas na vida desses alunos e de muitos outros que foram citados indiretamente no decorrer do trabalho. Espero que parte do que foi compartilhado aqui possa ter explicitado de forma clara e abrangente fragmentos dos anos trabalhados como professor de bateria e percussão no Programa de Criança Petrobras – Associação Guamareense de Proteção e Educação Ambiental – ASPAM e que, de alguma maneira, possa contribuir com informações pertinentes ao tema para outras pessoas. 42 Figura 16 – Final de um recital de bateria no salão do projeto Fonte: Foto retirada do arquivo pessoal. 43 4 - Considerações finais Diante do que foi apresentado posso afirmar a importância qualitativa em todos os aspectos expostos e intrínsecos ao tema. Poder explicitar o quanto é satisfatório os benefícios que o ensino de música proporciona, é ter certeza que estamos contribuindo para um mundo melhor e que estamos deixando um pouco da nossa essência na história da vida de alguém. Acredito que estetrabalho, simples e objetivo, possa servir como mais um indicativo afirmativo das proposições pertinentes ao assunto. Mostrando que não foi apresentado apenas teorias, mas também relatos de ex-alunos expressando suas realidades e influências diante do contexto envolvido. Eu fui fruto de um projeto social. Logo então, ter tido a oportunidade de viver a experiência de desenvolver o ensino de música e estar aqui apresentando os resultados do tempo vivenciado, justamente em uma conclusão de curso, é uma felicidade imensurável. É olhar e perceber o quanto deu certo para mim e para muitos de meus alunos, com a certeza de que o propósito é verdadeiro e pleno. Muitos desafios tentaram me parar, mas a música não me deixou ser vencido. Responsabilidades, pouco dinheiro para sustentar a família, querer mudar de profissão, tudo isso pesaram contra o desejo de continuar. Eu já havia me afastado por demais, terminando o curso técnico na EMUFRN em 2007 e só conseguindo retornar em 2016 para o curso de licenciatura. Também para minha surpresa, fui pai do meu terceiro filho em plena elaboração dessa monografia, o que me motivou mais a não desistir. As dificuldades ocasionadas pela pandemia me obrigaram a trabalhar como vendedor de internet pelas ruas, me consumindo ainda mais o tempo que já nem existia, mas aqui estou. Firme e forte! Hoje sei que esse trabalho é apenas o início de onde quero chegar. Os sonhos continuam. Acredito que o próximo passo seja uma pesquisa mais aprofundada para uma dissertação de mestrado e assim dar mais um passo adiante. Elaborar este trabalho me trouxe à tona as melhores memórias e o quanto minha profissão é prazerosa. Rever toda minha trajetória como um filme 44 em minha mente, ver fotos e vídeos durante a pesquisa e contar um pouco da vivência obtida ao longo dos anos, foram ações que me emocionaram e me fizeram ter mais certeza de como sou feliz e grato à vida. Colher os resultados positivos e a satisfação em ser professor sabendo que com meu auxílio foi possível fazer a música alcançar outras pessoas, orientando-as em novas perspectivas de qualidade de vida, é algo imensurável. Espero que esta experiência possa fornecer informações úteis para outros estudos. Acredito na constante evolução e superação do ser humano nas mais difíceis e variadas circunstâncias. Porém, apenas com educação é possível mudar vários mundos. 45 REFERÊNCIAS ALMEIDA, C. M. de C. Concepções e práticas artísticas na escola. In: FERREIRA, S. (Org.). O ensino das artes: construindo caminhos. Campinas: Papirus, 2001. p. 11-38. BRESLER, Liora. Pesquisa qualitativa em educação musical: contextos, características e possibilidades. Tradução de Sérgio Figueiredo. Revista da ABEM, n° 16, março de 2007, p. 7-16. BRITO, Teca Alencar de. Música na educação infantil – propostas para a formação integral da criança. São Paulo: Editora Petrópolis, 2003. 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