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1 
 
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE 
CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE 
DEPARTAMENTO DE ODONTOLOGIA 
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO SAÚDE COLETIVA 
 
 
NEUMA LÚCIA DE OLIVEIRA 
 
 
PRÁTICAS EDUCATIVAS E INTEGRALIDADE NA SAÚDE DA FAMÍLIA 
UM ESTUDO ETNOGRÁFICO 
 
 
 
 NATAL/RN 
2013 
2 
 
 
NEUMA LÚCIA DE OLIVEIRA 
 
 
 
PRÁTICAS EDUCATIVAS E INTEGRALIDADE NA SAÚDE DA FAMÍLIA: 
 UM ESTUDO ETNOGRÁFICO 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
NATAL 
2013 
Dissertação apresentada ao Programa de 
Pós-Graduação em Saúde Coletiva da 
Universidade Federal do Rio Grande do 
Norte (PPGSCOL/UFRN), como 
requisito parcial para a obtenção do título 
de Mestre em Saúde Coletiva. 
 
Orientadora: Profa. Dra. Elizabethe 
Cristina Fagundes de Souza. 
 
 
3 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Catalogação na Fonte. UFRN/ Departamento de Odontologia 
Biblioteca Setorial de Odontologia “Profº Alberto Moreira Campos”. 
 
 
Oliveira, Neuma Lúcia de. 
 Práticas educativas e integralidade na saúde da família: um estudo etnográfico / 
Neuma Lúcia de Oliveira. – Natal, RN, 2013. 
148 f. : il. 
Orientador: Profa. Dra. Elizabethe Cristina Fagundes de Souza. 
Dissertação (Mestrado em Saúde Coletiva) – Universidade Federal do Rio Grande do Norte. 
Centro de Ciências da Saúde. Programa de Pós-Graduação em Saúde Coletiva. 
1. Promoção da Saúde – Dissertação. 2. Etnografia – Dissertação. 3. Saúde da Família. I. 
Souza, Elizabethe Cristina Fagundes de. II. Título. 
 
RN/UF/BSO Black D57 
 
 
 
4 
 
PÁGINA DE APROVAÇÃO 
 
A dissertação “Práticas educativas e integralidade na Saúde da Família: Um estudo 
etnográfico”, apresentada por Neuma Lúcia de Oliveira ao Programa de Pós-Graduação 
Saúde Coletiva da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, foi aprovada e aceita como 
requisito para obtenção do título de Mestre em Saúde Coletiva. 
 
 
Aprovada em: 27/06/2013 
 
 
_________________________________________ 
Profa. Dra. Elizabethe Cristina Fagundes de Souza. 
UFRN 
Orientador 
 
 
_______________________________ 
Prof. Dra. Luciane M. Pezzato 
PUC/ Campinas 
Membro Externo 
 
 
_______________________________ 
Profa. Dra. Jacileide Guimarães 
UFRN 
Membro interno 
 
 
NATAL/RN 
2013 
 
5 
 
DEDICATÓRIA 
 
A minha mãe, Maria Lúcia, a quem devo não só minha existência física, mas também a minha 
essência humana. 
Aos meus irmãos (Luciano, Eugênio, Leonel e Claudionor) e irmãs (Socorro e Carmelita) pelo 
convívio alegre, descontraído e solidário, o que me faz sentir a importância da família na 
estruturação do pensamento e da ação humana. 
Aos meus queridos filhos Raoni e Cauê, por me proporcionarem a felicidade e a principal 
razão de estar neste mundo. 
Ao meu amado Kilder, companheiro, amigo, por estar presente em todos os momentos de 
minha vida, me proporcionando alegria, felicidade, aprendizagem e a certeza de que a vida é 
bela e repleta de bons encontros. 
 
AGRADECIMENTOS 
 
A Deus por estar sempre presente em minha vida, coração e mente. Com essa certeza sigo 
uma vida feliz. 
 
A professora Elizabethe, minha amiga Betinha, que prontamente aceitou orientar este 
trabalho, e com sua amizade, incentivo, carinho e competência tornou esta caminhada alegre, 
leve e enriquecedora. 
 
A equipe da USFC II que de forma solícita e carinhosa me acolheu e que ao longo da pesquisa 
de campo me presenteou com suas memórias e vivências de construção/reconstrução do 
complexo trabalho em saúde. O meu sincero agradecimento pelo feliz aprendizado. 
 
Mais que especial, o agradecimento a Jaaziel, Meine, Rudnilson, Selma, Clymary, Valdelice e 
Maguinólia que foram os profissionais da USFC II que contribuíram mais diretamente com a 
pesquisa de campo, com suas informações, suas brilhantes atuações na construção do SUS, 
seus conhecimentos e o fraterno carinho. O meu eterno agradecimento por tornarem essa 
caminhada feliz e gratificante. 
 
Aos usuários e usuárias da USFC II que de forma calorosa e singular me acolheram e me 
presentearam com sua alegria e sentimentos de solidariedade. Meus sinceros agradecimentos 
pelos risos soltos, pelas demonstrações de afeto e por terem tornado essa tarefa prazerosa, 
leve e enriquecedora. 
 
As minhas colegas e meus colegas de mestrado pela convivência fraterna, alegre e os 
conhecimentos compartilhados. 
 
6 
 
A Marize, irmã de alma, por nossos maravilhosos papos existenciais e intelectuais, que nos 
proporcionam felicidade e crescimento. 
As minhas amigas Emiliana, Lavínia, Lygia, Edna, Lucia, Ivana pela presença alegre e 
especial em minha vida. Obrigada amigas de sempre. 
 
A Márcia Lucas, amizade conquistada no mestrado. Obrigada, amiga, pela forma carinhosa 
que sempre acolheu meus desabafos, angústias e ansiedades inerentes ao exercício do 
aprendizado. 
 
As professoras Jacileide Guimarães e Rosana Alves, pelas contribuições no momento da 
qualificação do trabalho. Obrigada Jacileide pelos conhecimentos compartilhados na 
disciplina Território, Saúde e Cotidiano, ministrada no Programa de Pós- Graduação em 
Enfermagem (PPGENF/UFRN) que muito colaborou para as minhas reflexões. 
 
Aos docentes do Programa de Pós-graduação em Saúde Coletiva (PPGSCOL/UFRN) pelos 
momentos de aprendizado. 
 
A minha equipe (Madalena, Alexsandra, Edilma, Jaíra, Andréa, Luzinete, Janilda e Joilma) 
pela compreensão. Obrigada Madalena por seu apoio e incentivo. 
 
A Anailde, Diretora da minha USF, por tornar possível a minha caminhada no mestrado. 
Obrigada a toda a equipe da UMFC pela compreensão. 
 
A equipe de saúde bucal da UMFC (Lúcia Régia, Magnólia, Dalvaci, Edilene, Graça, Tereza 
João, Michele e Marinísia) pela compreensão e apoio. 
 
A todos os profissionais da Estratégia Saúde da Família que colaboraram com suas 
informações no momento do mapeamento das atividades educativas desenvolvidas no 
município de Natal. Obrigada Maria do Carmo e Silvana (profissionais do NASF) que 
aplicaram alguns formulários em sua área de atuação. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
7 
 
RESUMO 
 
Na Atenção Primária em Saúde, sobretudo, na Estratégia Saúde da Família, espera-se que 
ocorra articulação das ações assistenciais e de promoção da saúde. O Ministério da Saúde 
(BRASIL, 2007) define a educação em saúde como uma estratégia potencializadora das ações 
de prevenção e promoção, fundamentada em práticas reflexivas, que possibilitem ao usuário 
sua condição de sujeito histórico, social e político, sob a visão de uma clínica ampliada por 
parte dos profissionais de saúde. Nesse sentido, há diretrizes para que profissionais 
desenvolvam ações educativas e que estas possam interferir no processo de saúde-doença da 
população, na perspectiva do desenvolvimento de autonomia dos sujeitos. Esta pesquisa teve 
como objetivo compreender, à luz da integralidadedo cuidado, como se dá a produção das 
práticas de educação em saúde, no âmbito da Estratégia Saúde da Família a partir de estudo 
etnográfico em uma Unidade de Saúde da Família (USF). O local da pesquisa foi a Unidade 
de Saúde Felipe Camarão II, no Distrito Sanitário Oeste, no município de Natal, RN, Brasil, 
selecionada a partir de mapeamento preliminar de práticas educativas implantadas nas 
unidades de saúde da família deste município, com base em critérios entre os quais tempo de 
implantação da USF e sustentabilidade das ações existentes. A imersão em campo constou de 
observação participante com registro em diário, realizada durante o período de agosto de 2012 
a janeiro de 2013, em que a pesquisadora acompanhou processos de trabalho das equipes em 
ações clinico-assistenciais, na própria USF, em domicílios e em ações educativas de caráter 
grupal. Os resultados apresentados na descrição etnográfica foram analisados com base nos 
eixos propostos por Ayres (2009) para identificação da integralidade nas práticas de saúde: o 
eixo das necessidades; o eixo das finalidades; o eixo das articulações; e o eixo das 
interações. As evidências descritas a partir da observação apontam presença de cada eixo 
acima nas práticas de educação em saúde desenvolvidas pelas equipes, mesmo que de forma 
incipiente, quais sejam: articulação e valorização de saberes e práticas da cultura popular com 
iniciativas locais (Pastoril do Peixe Boi Encantado, Auto de Natal e Grupo Terapia e Arte); 
integração da clínica com as ações de promoção da saúde e articulação de saberes 
multiprofissional, com vínculo profissional-usuário (Curso para Gestantes). No entanto, 
alguns desafios foram identificados a serem enfrentados para se avançar nessas práticas numa 
perspectiva do cuidado integral: necessidade de ruptura com a fragmentação das ações; 
fortalecimento do trabalho em equipe; necessidade de maior sustentabilidade política das 
ações coletivas; trabalho intersetorial com vistas a uma melhor atuação do Estado no 
enfrentamento do processo saúde-doença, somando-a à ação dos indivíduos-sujeitos. A 
análise produzida a partir da observação dos processos vivenciados indica haver necessidade 
de um melhor reconhecimento por parte dos gestores locais de que ações semelhantes as que 
ocorrem na USF Felipe Camarão possibilitam avanços na integralidade à medida que permite 
inclusão dos atores implicados nos processos de trabalho em saúde, e estimulam participação 
e corresponsabilização no enfrentamento de situações de saúde-doença. 
 
Palavras-chaves: etnografia; cuidado integral; promoção da saúde; atenção primária em 
saúde. 
 
 
 
 
 
 
8 
 
ABSTRACT 
 
 
Primary Health Care, especially in the family health strategy, it is expected that the joint 
assistance and actions of health promotion. The Ministry of health (BRAZIL, 2007) defines 
health education as an eyeshadow strategy of prevention and health promotion, based on 
reflective practices, which allow the user to their condition of historical, social and political 
subject, under the vision of an expanded clinic on the part of health professionals. In this 
sense, there are guidelines for it professionals to develop educational activities and that they 
can interfere in the health/disease process of the population, with a view to the development 
of autonomy of the subject. This research had as objective to understand in the light of the 
integrality of the care, as is the production of health education practices, within the framework 
of the family health strategy from ethnographic study in a family health unit (USF). The 
location of the research was the unit of USF Felipe Camarão II in West Health District, in the 
city of Natal, RN, Brazil, selected from preliminary mapping of educational practices 
deployed in units of health of the family of this municipality, based on criteria such as time-
to-deployment of USF and sustainability of existing actions. Immersion in the field consisted 
of participant observation with journaling, held during the period of August 2012 to January 
2013, in which she accompanied team work processes in clinical-welfare actions on the USF, 
in households and in educational activities of group character. The results presented in 
ethnographic description were analyzed based on the axes proposed by Ayres (2009) for 
identification of integrality in health practices:the axis of the needs; the axis of the 
purposes; the joint axis; and the axis of the interactionsThe evidence described from 
observation point the presence of each axle up health education practices developed by the 
teams, even incipient form, namely: articulation and appreciation of knowledge and practices 
of popular culture with local initiatives (Pastoril do Peixe Boi Encantado, Auto de Natal e 
Grupo Terapia e Arte); Clinical integration with health promotion actions and coordination of 
multidisciplinary knowledge, with professional-user link (course for pregnant women). 
However, a few challenges were identified to be faced in order to move forward in these 
practices in integral care: the need to break with the fragmentation of actions; strengthening 
teamwork; need for greater sustainability policy of collective actions; intersectoral work 
aimed at a better role of the State in the face of the health-disease process, adding to the action 
of individuals.The analysis produced from observation of the processes experienced indicates 
the need for a better recognition of local managers that actions similar to those that occur in 
the USF Felipe Camarão II enable advances in completeness as allows inclusion of actors 
involved in the processes of health work, and stimulate participation and shared responsibility 
in the fight for health-disease situations. 
 
Key words: Ethnography; integral care; health promotion; primary health attention. 
 
 
 
 
 
 
 
 
9 
 
 
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS 
 
SUS – Sistema Único de Saúde 
MS – Ministério da Saúde 
APS – Atenção Primária em Saúde 
ESF – Estratégia Saúde da Família 
USF – Unidade de Saúde da Família 
UBS – Unidade Básica de Saúde 
USFC II – Unidade de Saúde da Família de Felipe Camarão II 
UMFC – Unidade Mista de Felipe Camarão 
AME – Ambulatórios de Medicina Especializada 
UPA – Unidade de Pronto Atendimento 
UFRN – Universidade Federal do Rio Grande do Norte 
PSF – Programa Saúde da Família 
ACS – Agentes Comunitários de Saúde 
DSO – Distrito Sanitário Oeste 
NOAS – Norma Operacional da Assistência à Saúde 
GPAB-A – Gestão Plena da Atenção Básica Ampliada 
NASF – Núcleo de Apoio à Saúde da Família 
PMAQ – Programa Nacional de Melhoria do Acesso e da Qualidade da Atenção Básica 
CNES – Cadastro Nacional de Estabelecimentos de Saúde 
ONG – Organização Não Governamental 
UNI – Uma Nova Iniciativa na Formação de Profissionais de Saúde em União com a 
Comunidade 
PDA – Programa de Desenvolvimento de Área 
NAM – Núcleo de Amparo ao Menor 
PACS – Programa de Agentes Comunitários de Saúde 
10 
 
CD – Crescimento e Desenvolvimento 
 PNH – Política Nacional de Humanização 
PNPIC – Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares 
OMS – Organização Mundial de Saúde 
PSE – Programa Saúde nas Escolas 
PNEPS-SUS – Política Nacional de Educação Popular no Sistema Único de Saúde 
ANEPS – Articulação Nacional de Movimentos e Práticas de Educação Popular e Saúde 
ABRASCO – Associação Brasileira de Pós-graduação em Saúde Coletiva 
SIAB – Sistema de Informação da Atenção Básica 
TCLE – Termo de Consentimento Livre e Esclarecido 
ONG – Organização Não Governamental 
SMS – Secretaria Municipal de Saúde 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
11 
 
SUMÁRIO 
INTRODUÇÃO 12 
1. A TRAJETÓRIA METODOLÓGICA 20 
1.1 A ESCOLHA DO ESTUDO ETNOGRÁFICO 21 
1.2 O CONTEXTO LOCAL DE REALIZAÇÃO DA PESQUISA: O 
MUNICÍPIO DE NATAL E A ESF NA REDE DE ATENÇÃO PRIMÁRIAÀ 
SAÚDE 
23 
1.3 A ESTRATÉGIA SAÚDE DA FAMÍLIA EM NATAL/RN 25 
1.4 TRAÇANDO TRILHAS NO CAMINHO METODOLÓGICO: 
MAPEAMENTO DAS ATIVIDADES EDUCATIVAS COLETIVAS 
REALIZADAS NA ESTRATÉGIA SAÚDE DA FAMÍLIA EM NATAL/RN 
 
27 
1.5 A UNIDADE DE SAÚDE DA FAMÍLIA DE FELIPE CAMARÃO II 
COMO O LÓCUS DA PESQUISA 
 
33 
1.5.1 A escolha da USF 33 
1.5.2 O bairro e a Unidade de Saúde da família de Felipe Camarão II 34 
2. IMERSÃO ETNOGRÁFICA: O COTIDIANO DO TRABALHO NA 
UNIDADE DE SAÚDE DA FAMÍLIA FELIPE CAMARÃO II 
44 
3. EDUCAÇÃO EM SAÚDE NO CONTEXTO DA PROMOÇÃO DA 
SAÚDE 
95 
3.1 AS PRÁTICAS COLETIVAS DE EDUCAÇÃO EM SAÚDE NO 
COTIDIANO DA ESF: UM OLHAR A PARTIR DA INTEGRALIDADE 
101 
4. LIÇÕES APRENDIDAS 123 
5. REFERÊNCIAS 127 
ANEXOS 138 
APÊNDICES 143 
 
 
 
12 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
INTRODUÇÃO 
__________________________________________________________________________________ 
 
 
Se as coisas são inatingíveis... ora! Não é motivo para não querê-las... 
que tristes os caminhos, se não fora a mágica presença das estrelas! 
Mário Quintana 
 
 
 
13 
 
 
INTRODUÇÃO 
 
As práticas de saúde, ao longo dos anos, têm sido objeto de discussão, críticas e 
proposições de renovações. Nesse rol de discussões, ressaltam-se a promoção da saúde, a 
vigilância da saúde, a saúde da família e a redução de vulnerabilidades (AYRES, 2004). 
A conquista do Sistema Único de Saúde (SUS) na década de 1980 traz como desafio 
para sua consolidação a superação de inúmeros obstáculos. Dentre eles destaca-se a herança 
da estreita relação que o sistema anterior mantinha com o setor privado conveniados por meio 
da compra de serviços. Somam-se a isso as ideias e os valores também herdados do modelo 
biomédico que continuam predominantes na sociedade, na formação dos profissionais e, 
portanto, nas práticas cotidianas (FEUERWERKER, 2005), como por exemplo, a separação 
entre ações clínicas e promocionais no modelo de práticas de atenção à saúde. 
A partir da criação do SUS se intensificaram os discursos e as iniciativas para 
redirecionamento das práticas na perspectiva da promoção da saúde visando fortalecer a ideia 
de autonomia dos sujeitos e dos grupos sociais. Tendo como questão central dessa discussão 
qual a concepção de autonomia é efetivamente proposta e construída. Outra questão posta é a 
distinção entre os conceitos de prevenção e de promoção. Para Czeresnia (2009), há uma 
tendência à manutenção da ideia de prevenção e promoção, baseada na História Natural da 
Doença (HND), de Leavell e Clark. A prevenção nessa concepção é tida como uma ação que 
se antecipa ao surgimento da doença para que esta não ocorra, com predomínio do 
conhecimento epidemiológico, objetivando controlar a transmissão das doenças e a promoção 
da saúde, seria uma ampliação da prevenção se referindo às medidas que servem para 
aumentar a saúde e melhorar a condição de vida das pessoas. As divergências estão em se 
perceber essas concepções reducionistas por não considerarem a experiência subjetiva do 
adoecimento, tendo repercussões negativas na formulação das práticas. No dizer da autora, “o 
conhecimento científico e a possibilidade operativa das técnicas nas práticas de saúde 
deveriam ser empregados sem provocar a desconexão da sensibilidade em relação aos nossos 
próprios corpos” (CZERESNIA, 2009, p. 51). 
A ideia de promoção envolve a concepção de fortalecimento da capacidade individual e 
coletiva para lidar com os múltiplos fatores condicionantes da saúde. Vai além de uma 
aplicação de técnicas e normas. Essa concepção converge com a noção de fortalecimento da 
saúde através da construção da capacidade de escolha, bem como a utilização do 
14 
 
conhecimento aliado ao discernimento de atentar para as diferenças e singularidades dos 
acontecimentos (CZERESNIA, 2009). 
Apesar do debate em torno da promoção da saúde ao longo das conferências 
internacionais a partir da Carta de Ottawa, em 1986, no Brasil, a promoção da saúde só foi 
proposta como uma política institucional 18 anos após a implantação do SUS. O Ministério da 
Saúde (MS), reconhecendo a necessidade de implantação e implementação de diretrizes e 
ações para promoção da saúde em consonância com os princípios do Sistema Nacional de 
Saúde, lança a Portaria n. 687, em 30 de março de 2006, aprovando a Política Nacional de 
Promoção da Saúde (BRASIL, 2006a). 
Dentre os cinco campos de ação da promoção da saúde, preconizados pela Carta de 
Ottawa, o desenvolvimento de habilidades e atitudes pessoais pertence ao âmbito da educação 
em saúde. Esta deve ocorrer no lar, na escola, no trabalho e em qualquer espaço coletivo 
(BUSS, 2009). 
Considera-se que as ações de educação em saúde estão incluídas no trabalho em saúde, 
em caráter de complementaridade, articuladas na perspectiva do cuidado integral, podendo 
estar presentes nas atividades individuais, como as consultas de médicos, dentistas ou 
enfermeiros, ou em atividades coletivas em programas de acompanhamento ou espaços 
comunitários, sobretudo no âmbito da Atenção Primária. 
Educação em Saúde definida por Candeias (1997) refere-se a quaisquer combinações de 
experiências de aprendizagem que visam combinar múltiplos determinantes do 
comportamento humano. É uma atividade sistematicamente planejada, com vistas a facilitar, 
predispor, possibilitar e reforçar ações voluntárias conducentes à saúde, sem coerção, e com 
plena compreensão e aceitação dos objetivos educativos implícitos e explícitos nas ações 
desenvolvidas e recomendadas. A ação é voltada para a adoção de medidas comportamentais 
por uma pessoa, grupo ou comunidade para alcançar um efeito intencional sobre a própria 
saúde (CANDEIAS, 1997). 
A Educação Popular tem sido defendida como o melhor caminho para o 
desenvolvimento das práticas de educação em saúde na perspectiva da integralidade. 
Constituem-se numa forma dialógica de fazer educação e, por essa razão, é a que mais 
possibilita expressar condição de sujeitos individuais e coletivos. Entretanto, estudos 
ressaltam a predominância da prática educativa tradicional normativa e a deficiência dos 
sistemas locais em incentivar e dar condições para as equipes realizarem essas ações 
(ALBUQUERQUE; STOTZ, 2004; ALVES, 2005; HORTA et al., 2009; KANTORSKI et al., 
15 
 
2009; CARVALHO, 2009). A manutenção da prática normativa pode ser considerada uma 
consequência da educação em saúde desenvolvida no Brasil até a década de 1970, que 
consistiu basicamente em iniciativa das elites políticas e econômicas e, portanto, subordinada 
aos seus interesses, como nos lembra Vasconcelos (2004). 
O Brasil, no entanto, foi pioneiro na constituição da Educação Popular sendo Paulo 
Freire o primeiro intelectual a sistematizar o método que teve grande importância na 
redefinição de práticas sociais nos mais variados campos do saber (VASCONCELOS, 2004). 
Vasconcelos (idem), apropriando-se das concepções de Carlos Rodrigues Brandão, 
salienta que a Educação Popular 
 
busca trabalhar pedagogicamente o homem e os grupos envolvidos no 
processo de participação popular, fomentando formas coletivas de 
aprendizado e investigação, de modo a promover o crescimento da 
capacidade de análise crítica sobre a realidade e o aperfeiçoamento das 
estratégias de luta e enfrentamento. É uma estratégia de construção da 
participação popular no redirecionamento da vida social (BRANDÃO, 1982 
apud VASCONCELOS, 2004, p. 71). 
 
 
O MS preconiza que todos os profissionais desenvolvam ações educativas que possam 
interferir no processo saúde-doença da população, na perspectiva do desenvolvimento de 
autonomia, individual e coletiva, na busca por qualidade de vida pelos usuários. Define a 
educação em saúde como uma estratégia potencializadora das ações de prevenção e promoção 
à saúde, fundamentada em práticas reflexivas, que possibilitem ao usuário sua condição de 
sujeito histórico, social e político, soba visão de uma clínica ampliada por parte dos 
profissionais de saúde. Desse modo, adota a educação popular como uma das possibilidades 
teóricas e metodológicas para transformar as tradicionais práticas de educação em saúde 
(BRASIL, 2007). 
Nesse sentido, consideramos que a educação em saúde possa estar presente nas práticas 
cotidianas dos serviços de saúde numa perspectiva da integralidade do cuidado. 
A integralidade, conforme a Constituição brasileira, é um princípio norteador do SUS, 
expresso como “atendimento integral, com prioridade para as atividades preventivas, sem 
prejuízo dos serviços assistenciais” (BRASIL, 1988, art. 198). 
A integralidade do cuidado imputa uma noção de cuidado que extrapole um nível de 
atenção do sistema, diferente de um cuidado baseado em procedimentos técnicos 
simplificados, e incorpora a ideia do cuidado como valor e fruto de um agir pensado, uma 
ação de razão pública da integralidade em saúde e do direito de cidadania (PINHEIRO; 
16 
 
GUIZARDI, 2008; PINHEIRO, 2011). O ato de cuidar é a alma dos serviços de saúde e deve 
ser operado com saberes tecnológicos, de expressão material e não material (MERHY, 
2007b). O cuidado é uma dimensão da vida humana e no plano operativo das práticas de 
saúde é uma atitude terapêutica na busca ativa do sentido existencial. Para ser efetivo se 
estende a populações, sem descuidar dos sujeitos (AYRES, 2004; 2011a). 
Na Atenção Primária em Saúde (APS), sobretudo na Estratégia Saúde da Família (ESF), 
a articulação das ações de cura, reabilitação e de promoção deve se dar na perspectiva da 
integração da clínica com as ações de vigilância e de promoção da saúde. Isso pressupõe uma 
nova clínica com a qualificação da escuta das necessidades de saúde, na intenção de superar a 
relação oferta/demanda. Nessa perspectiva a integralidade assume o caráter de ação social 
resultante da interação democrática dos sujeitos sociais com a tarefa de garantir a vida no seu 
sentido mais amplo (CECÍLIO, 2001; PINHEIRO, 2011). A ampliação da clínica é uma 
diretriz adotada pelo MS em propostas de políticas específicas como: Política Nacional de 
Humanização da atenção (PNH) e da Gestão no SUS; Política de Promoção da Saúde, entre 
outras (BRASIL, 2008). 
Alguns autores ressaltam o caráter polissêmico do princípio da integralidade e a 
defendem como uma imagem objetivo, isto é, na perspectiva de uma bandeira de luta 
(MATTOS, 2001, 2004; CECÍLIO, 2001; PINHEIRO; GUIZARDI, 2008; AYRES, 2009). 
Estes têm fornecido contribuições importantes para se pensar e reformular as práticas no 
cotidiano. 
Mattos (2001, 2004) chama a atenção para os vários sentidos da integralidade que vão 
se constituindo ao longo de seu processo de construção a partir de críticas e reformulações. O 
primeiro conjunto de sentidos refere-se às boas práticas de saúde e estas resultam de uma 
redefinição radical dos processos de trabalho. Assim, a integralidade do cuidado não pode se 
restringir apenas às competências técnicas, há que se considerar o acolhimento, os vínculos de 
intersubjetividades e a escuta dos sujeitos. O segundo conjunto de sentidos diz respeito à 
organização dos serviços e das práticas de saúde. Estas deveriam se dar através de uma 
melhor articulação com as necessidades da população, de modo mais horizontalizado e 
dialógico, buscando romper com os programas verticalizados e cristalizados. E para o último 
conjunto de sentidos, o autor destaca as configurações de algumas políticas específicas, as 
denominadas políticas especiais, que são formuladas para dar respostas a um problema 
específico de saúde ou aos problemas de saúde. É relativo às respostas governamentais. O 
autor assinala que os sentidos da integralidade não se esgotam nos ressaltados e que só serão 
17 
 
aceitáveis se forem balizados pelo direito universal ao atendimento das necessidades de saúde 
(MATTOS, 2001). 
Para Cecílio (2001), a integralidade deve ser percebida em três dimensões: focalizada, 
integralizada e ampliada. Na dimensão focalizada, a integralidade resulta dos vários saberes 
de uma equipe multiprofissional no cotidiano dos serviços, seja este um hospital ou uma 
Unidade Básica. Nessa dimensão, cabe à equipe acolher o usuário com suas diversas 
necessidades e decodificá-las a partir de uma escuta qualificada e uma boa relação 
profissional/usuário. Dessa forma, a integralidade se constitui em um princípio norteador das 
práticas, no sentido de romper com a fragmentação e o tecnicismo tomando como referência o 
acolhimento, o estabelecimento dos vínculos, a intersubjetividade e a escuta dos sujeitos. 
Nessa perspectiva, propõe uma análise das práticas a partir de uma taxonomia para ordenar as 
necessidades que serão percebidas no cotidiano dos serviços e chama a atenção para a 
importância de uma melhor escuta, proporcionando uma tradução das necessidades rumo às 
boas práticas de saúde. 
 Nas dimensões integralizada e ampliada, a integralidade resulta da articulação entre os 
serviços de saúde nos diversos níveis de atenção e da articulação entre outros setores externos 
ao da saúde, respectivamente. Essas dimensões, segundo o autor, são efetivadas a partir de 
uma rede integrada de serviços e ações intersetoriais. Ou seja, uma conformação de rede 
resolutiva cuja relação dialógica manteria o usuário acolhido em suas necessidades 
(CECÍLIO, 2001). 
Ayres (2009) propõe eixos que possibilitem uma melhor identificação das práticas na 
perspectiva da integralidade: o eixo das necessidades que diz respeito à qualidade e natureza 
da escuta, acolhimento e resposta às demandas de atenção à saúde; o eixo das finalidades que 
representa os graus e modos de integração entre as ações de promoção da saúde, prevenção 
dos agravos, tratamento de doenças/sofrimentos, recuperação da saúde e reinserção social; o 
eixo das articulações que se refere aos graus de modos de composição de saberes 
interdisciplinares, equipes multiprofissionais e ações intersetoriais e o eixo das interações 
referindo-se à qualidade e natureza das interações intersubjetivas no cotidiano das práticas de 
cuidado. 
A integralidade, portanto, deve orientar políticas e ações programáticas que respondam 
às demandas e necessidades da população no acesso à rede de cuidados em saúde, 
considerando a complexidade e as especificidades de diferentes abordagens do processo 
18 
 
saúde-doença e nas distintas dimensões, biológica, cultural e social do ser cuidado (CECÍLIO, 
2001; MATTOS, 2001; 2004; PINHEIRO; LUZ, 2003; PINHEIRO, 2011). 
Destacamos que entre os autores (CECÍLIO, 2001; MERHY, 2007b; AYRES, 2011; 
PINHEIRO, 2011) há certo consenso quanto à integralidade no que diz respeito ao imperativo 
de se repensar, criar, reinventar uma nova forma de organização e de produção das ações de 
saúde, considerando-se, sobretudo, o fazer cotidiano e elegendo como elemento central do 
cuidado o usuário e suas necessidades de saúde. 
Consideramos que a ESF, apesar do seu caráter normativo originário e que ainda tende a 
ser predominante em alguns contextos municipais, abre também espaços que estimulam 
criação e iniciativas das equipes, o que demanda a construção de relações dialógicas entre 
trabalhadores, gestores e usuários nos processos de trabalho e na produção de práticas de 
saúde. 
A ideia deste estudo partiu de indagações acumuladas na experiência profissional 
pessoal na atenção e na gestão da ESF. Nessa perspectiva, chamou-nos a atenção a produção 
de práticas de educação em saúde e sua inserção nos processos de trabalho das equipes, 
levando-nos a interrogar se estas ocorrem de forma integrada e articulada às demais ações e se 
contribuem para produzir cuidado integral. 
No município de Natal/RN, estudos referentes às práticas educativas no âmbito da ESF 
(UCHÔA, 2009; OLIVEIRA; SOUZA, 2012) mostram que, ao mesmo tempo em que estas 
são desenvolvidas na perspectiva da promoção da saúde e da produçãodo cuidado, é possível 
perceber que a maioria das atividades – especialmente aquelas destinadas aos idosos 
acometidos de hipertensão e/ou diabetes, às gestantes e às crianças – é desenvolvida na 
perspectiva do controle e prevenção de doenças, em uma abordagem tradicional de vigilância 
da saúde.
 
As atividades que imprimem ações não convencionais e inovadoras estão presentes 
em poucas Unidades de saúde, o que sugere serem iniciativas profissionais locais, com pouco 
ou nenhum apoio institucional. 
A presente pesquisa pretendeu investigar as práticas de educação em saúde na ESF, 
tendo como eixo orientador a integralidade, e para tanto buscou responder às seguintes 
questões: 
- Como se dão as práticas coletivas de educação em saúde na ESF? 
- Qual o lugar que essas práticas ocupam no processo de trabalho em saúde? 
- Como essas práticas se produzem na perspectiva da produção do cuidado integral? 
19 
 
Para dar respostas a tais questões, definimos como objetivo geral da investigação 
compreender como se dá a inserção das práticas de educação em saúde nos processos de 
trabalho de equipes da ESF tendo como eixo orientador a integralidade e elegemos uma 
Unidade de Saúde da Família (USF) no município de Natal como o locus de nossa 
investigação, a partir de mapeamento preliminar das ações de educação em saúde 
desenvolvidas na ESF do município de Natal/RN. 
A partir desse objetivo geral, definimos os seguintes objetivos específicos: 
 Identificar como se dá a inserção das práticas de educação em saúde nos processos de 
trabalho das equipes de uma USF – a USF Felipe Camarão, Distrito Sanitário Oeste, 
Natal/RN. 
 Analisar a relação entre as ações coletivas de educação em saúde e as práticas clínicas 
assistenciais desenvolvidas pelas equipes. 
 Identificar articulações das ações coletivas desenvolvidas na USF com outros setores 
externos ao da Saúde. 
 
Realizar esta pesquisa possibilitou termos um olhar ampliado para as possibilidades da 
integralidade como imagem objetivo. Dessa forma, esperamos que seus resultados, aqui 
compartilhados, possam contribuir para reflexões sobre a inserção da educação nas práticas de 
saúde e para identificação de potencialidades de superação dos problemas e desafios que, 
atualmente, dificultam a construção de práticas de promoção da saúde articuladas e integradas 
à produção do cuidado. 
 
20 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 A TRAJETÓRIA METODOLÓGICA 
__________________________________________________________________________________ 
 
 
 
“Não se pode percorrer duas vezes o mesmo rio [...] por causa da impetuosidade e da 
velocidade da mutação, esta se dispersa e se recolhe, vem e vai”. 
 
Heráclito de Éfeso 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
21 
 
2. A TRAJETÓRIA METODOLÓGICA 
2.1 A ESCOLHA DO ESTUDO ETNOGRÁFICO 
 
No momento que procuramos compreender como se dá a produção das práticas de 
educação em saúde desenvolvidas na ESF, à luz da integralidade do cuidado, identificamos na 
abordagem qualitativa um caminho metodológico com maior aproximação ao objeto e aos 
objetivos da investigação, uma vez que tal abordagem permite lidar com a subjetividade, com 
as relações produzidas, com os valores e com as concepções presentes na produção de saúde 
no cotidiano do trabalho em saúde. 
Optamos por fazer um estudo etnográfico. O método etnográfico define-se, sobretudo, 
pela observação participante e pelas técnicas de entrevistas para a coleta de dados na 
perspectiva de apreender o fenômeno nos contextos em que ocorrem. Para isso, é preciso uma 
sensibilidade aguçada e uma atenção meticulosa a tudo que está relacionado ao objeto de 
estudo. Este tipo de pesquisa requer o confronto contínuo do pesquisador com seu horizonte 
teórico e o exercício constante de sua autorreflexão e crítica (COSTA; GUALDA, 2010; 
ESTEBAN, 2010). 
Apesar de ter surgido com o objetivo de estudar aldeias exóticas e distantes, com 
interesse na totalidade da vida social, a etnografia é praticada hoje em qualquer situação, 
inclusive na própria cultura do pesquisador. “A etnografia é a arte e a ciência de descrever um 
grupo humano – suas instituições, seus comportamentos interpessoais, suas produções 
materiais e suas crenças” (ANGROSINO, 2009, p. 30). 
Nessa perspectiva, optamos por ferramentas metodológicas da antropologia para nos 
aproximarmos da dinâmica do grupo social estudado – equipes de saúde da família e usuários 
de uma USF – auxiliando na compreensão do sentido das experiências e das estratégias que o 
grupo lança mão para enfrentar o cotidiano do trabalho em saúde e, ao mesmo tempo, 
possibilitando-nos reflexões. 
Corroboramos a afirmação de que é através da cultura que as pessoas expõem suas 
visões de mundo, suas estratégias de enfrentamento às adversidades. A etnografia tem como 
objetivo compreender o ponto de vista do outro, sua relação com a vida e a visão do seu 
próprio mundo (MALINOWSKY, 1984). 
Para Laraia (1993) a cultura interfere na satisfação das necessidades fisiológicas 
básicas e pode condicionar outros aspectos biológicos, ou até mesmo decidir sobre a vida e a 
morte dos membros de um sistema cultural. Todo sistema cultural tem sua própria lógica, 
22 
 
portanto a coerência de um hábito cultural só pode ser analisada mediante o sistema a qual 
pertença. No entanto, a ciência não depende da dicotomia entre o pensamento mágico e o 
científico e sim de instrumentos de observação. Como lembra Levis Strauss citado por Laraia 
(1993), o sábio nunca dialoga com a natureza pura, senão com um determinado estado de 
relação entre a natureza e a cultura em que vive e a civilização que é a sua e os meios 
materiais que dispõem. 
Para Geertz (1989) o conceito de cultura diz respeito às teias de significados tecidas 
pelo próprio homem e sua análise. Nesse sentido, a etnografia se constitui numa experiência 
interpretativa na qual o pesquisador percebe com que, ou por meio de que, ou através de que 
seus informantes percebem o fenômeno. 
 
[...] praticar etnografia é estabelecer relações, selecionar informantes, 
transcrever textos, levantar genealogias, mapear campos, manter um diário, e 
assim por diante. Mas não são essas coisas, as técnicas e os procedimentos 
determinados, que definem o empreendimento. O que o define é o tipo de 
esforço intelectual que ele representa: um risco elaborado para uma 
“descrição densa” [...] (GEERTZ, 1989, p. 15). 
 
 
A etnografia é um processo conduzido com uma sensibilidade reflexiva, tomando em 
conta a própria experiência no campo junto às pessoas com as quais o antropólogo trabalha. O 
texto terá grande importância, pois é na forma de texto que ocorre a interpretação e esta, por 
sua vez, pode ser múltipla. Todo texto pode ser passível de diferentes interpretações a 
depender dos diferentes leitores e de seus pontos de vista, visões e concepções de mundo 
(GEERTZ, 1989). Por essa razão, o texto deve ser uma tradução mais fiel possível à 
experiência vivida. 
A observação participante foi formalizada por Malinowski e se constituiu numa 
inovação nas pesquisas de campo, no sentido de captar os significados que permeiam a vida 
social investigada. Soma-se a esta o trabalho de coleta sistemática de dados, a interpretação e 
integração da vivência empírica de modo a recriar a totalidade vivida e apreendida pela 
intuição do pesquisador. Antes de se iniciar um relato etnográfico, é essencial fazer uma 
descrição clara e honesta dos métodos utilizados, em que condições foram realizadas o estudo, 
os resultados da observação direta, e das declarações e interpretações nativas 
(MALINOWSKI, 1984). 
No presente estudo, optamos pela observação participante como principal fonte de 
coleta de dados que foram registrados em diário de campo. No projeto de pesquisa, previmos 
23 
 
a realizaçãode entrevistas com profissionais e usuários. No entanto, no desenvolvimento da 
pesquisa, optamos por manter apenas a observação a partir da imersão no campo, em que 
ocorreram diversas conversas com profissionais e usuários as quais foram registradas em 
diário, tornando desnecessárias as entrevistas com profissionais com roteiro semiestruturado 
como havia sido previsto. Realizamos essas entrevistas apenas com usuários. As conversas 
com informantes-chave foram sendo realizadas ao longo da observação e, ao final do período 
de observação, buscou-se identificar registros a partir da leitura dos prontuários clínicos dos 
participantes do grupo de idosos relativos às articulações entre as ações clínicas assistenciais e 
as ações de promoção. 
Antes de apresentarmos a descrição narrativa de nosso percurso etnográfico, 
apresentaremos alguns procedimentos metodológicos que precederam a imersão da 
pesquisadora no campo e produção propriamente dita na etnografia. 
 
2.2 O CONTEXTO LOCAL DE REALIZAÇÃO DA PESQUISA: O MUNICÍPIO DE 
NATAL E A ESF NA REDE DE ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE 
 
O município de Natal, capital do Estado do Rio Grande do Norte, região Nordeste do 
Brasil, fundado em 25 de dezembro de 1599, possui 803.739 habitantes, segundo censo 
demográfico de 2010. Deste total, 47% são de habitantes do sexo masculino e 53% do sexo 
feminino (NATAL, 2012). 
O município está dividido, para fins organizativos dos serviços de saúde, em cinco 
distritos sanitários: Norte I e II, Sul, Leste e Oeste, conforme Lei Complementar n.º 061 de 
02/06/2005, Decreto n.º 7.642 de 10/06/2005 (NATAL, 2005). 
Em 2007, o município contava com sessenta Unidades Básicas de Saúde (UBS) em 
sua rede própria de serviços de saúde, das quais trinta e cinco são organizadas através da ESF. 
Somando-se aos demais serviços a rede própria totalizava oitenta serviços de saúde (NATAL, 
2007). No relatório municipal de saúde do ano de 2003 (NATAL, 2003), a proposta de 
expansão da ESF seria para 70% da população de Natal, considerando a população de 2002, o 
que totalizaria o quantitativo de 174 equipes. Meta, portanto, não alcançada e foi mantida no 
plano municipal com vigência 2006-2009 (NATAL, 2006). 
No entanto, no momento de realização desta pesquisa, compreendido entre a 
elaboração do projeto que se deu no período de outubro de 2011 a março de 2012 e a imersão 
da pesquisadora em campo, no período de agosto de 2012 a janeiro de 2013, o município de 
24 
 
Natal vivenciou situação político-governamental caracterizada como de extrema gravidade 
produzida pelo abandono das políticas públicas pelo poder público, evidenciado na gestão 
municipal que assumiu a Prefeitura no período 2008/2012. Entre os setores atingidos, o 
sistema de saúde teve evidência especial, sobretudo, pelo sucateamento da rede de APS. A 
situação pode ser identificada em registros da mídia televisiva, impressa e veiculada na 
internet, de denúncia da grave crise na saúde e nas demais políticas públicas municipais, com 
descaso, adoção de privatização do público, corrupção, o que culminou com intervenção do 
Ministério Público e decisão do Poder Judiciário de afastamento de cargo da representante do 
Executivo no dia 31 de outubro de 2012 (G1 RN, 31/10/2012). A partir de então, assumiu o 
Vice-Prefeito para finalizar o mandato que se encerrou em 31 de dezembro de 2012. O quadro 
da situação da cidade naquele momento era de esgotamento do funcionamento dos 
equipamentos públicos, acúmulo de lixo nas ruas, interrupção do ano letivo na Rede de 
Ensino Municipal e aumento da precariedade das condições de funcionamento das UBS 
(FOLHA DE SÃO PAULO, 2012). 
Após o pleito eleitoral municipal de 2012, espera-se que a transição governamental 
entre a atual e a nova gestão eleita permita amenizar a situação com instalação de força tarefa 
local e das demais esferas federadas (Estado e União) para recuperação emergencial da 
capacidade de funcionamento dos serviços básicos de educação, saúde, saneamento e 
recuperação das vias urbanas. 
A presente pesquisa foi produzida nesse contexto político-governamental, caótico e de 
desgoverno, que teve repercussões na vida das pessoas e em todos os setores públicos da 
cidade. Na rede de serviços de saúde imperou o sucateamento das Unidades existentes com 
fechamento de algumas delas por falta de condições estruturais, a omissão da gestão em suas 
responsabilidades mínimas para assegurar o funcionamento dos serviços, equipes de saúde da 
família incompletas, diminuição da cobertura populacional para menos de 29% da população 
(CNES, 2012), terceirização de serviços, desabastecimento da rede básica, sucateamento das 
estruturas físicas e dos equipamentos. Algumas Unidades que funcionam em casas alugadas 
ficaram em situação de solicitação de despejo por falta de pagamento do aluguel. Soma-se a 
tudo isso o descaso com a gestão do trabalho em saúde, refletido na ausência de um 
acompanhamento sistemático das equipes, na falta de valorização do fazer dos profissionais e 
falta de educação permanente das equipes. 
A estruturação de serviços de saúde que se configurou naquele momento distanciou-se 
cada vez mais da noção de redes articuladas e coordenadas pela atenção básica. Foram criados 
25 
 
os denominados Ambulatórios de Medicina Especializada (AME), que ofertam os mesmos 
serviços já realizados nas UBS e policlínicas; as Unidades de Pronto Atendimentos (UPAs) 
não têm qualquer articulação com o sistema de serviços municipal. Muitos de seus 
atendimentos não são caracterizados como urgência e poderiam ser realizados na rotina 
ambulatorial das UBS, desde que estas estivessem bem equipadas e em pleno funcionamento. 
Esses novos serviços implantados têm gestão terceirizada e os trabalhadores são vinculados às 
empresas contratadas que se credenciaram como Organização Social para gerir serviços 
públicos. Em meio ao desgoverno municipal, ocorreu também nesses serviços atraso de 
pagamento de vencimentos dos trabalhadores. 
Apesar desse contexto desfavorável, que estimula práticas descomprometidas com a 
construção do SUS, identifica-se profissionais que buscam formas de resistir e de manter seu 
compromisso profissional com os usuários e com a qualificação dos serviços, no sentido de 
fazer articulações e mediações frente ao contexto caótico, tentando manter inciativas criativas 
e habilidades adquiridas ao longo de suas trajetórias profissionais. 
Em mapeamento das atividades coletivas existentes nas Unidades de Saúde do 
munícipio de Natal, realizado entre janeiro e março de 2012 (OLIVEIRA; SOUZA, 2012) 
identificamos algumas iniciativas que podemos considerar inovadoras e cuja sustentabilidade 
se deve à capacidade de resistência e de autonomia das equipes locais em seus processos de 
trabalho. Esse mapeamento permitiu aproximarmo-nos do universo da pesquisa e definirmos a 
escolha da Unidade de Saúde a ser pesquisada. 
 
2.3 A ESTRATÉGIA SAÚDE DA FAMÍLIA EM NATAL/RN 
 
A ESF no município de Natal-RN foi implantada no ano de 1998, com caráter 
programático à semelhança dos demais municípios do Brasil e com a denominação de 
Programa Saúde da Família (PSF). Conforme Portaria nº 1886/GM, as Equipes de Saúde da 
Família seriam compostas cada uma por um médico, um enfermeiro, dois auxiliares de 
enfermagem e cinco Agentes Comunitários de Saúde (ACS) (BRASIL, 1997). 
Naquele ano, iniciou-se sua implantação em quatro Unidades de Saúde do Distrito 
Sanitário Oeste (DSO), escolhidas por critérios técnico-institucionais, epidemiológicos e 
sócio-sanitários (ROCHA, 2000). Segundo essa autora, o processo de implantação do então 
PSF, no município de Natal, ocorreu com pouco comprometimento institucional, tendo como 
um dos fatores limitantes as sucessivas mudanças de Secretários Municipais de Saúde em 
26 
 
curto intervalo de tempo, naquele período, provocando “uma sistemática descontinuidade de 
ações” (ROCHA, 2000,p. 42). 
No momento da implantação do PSF, Natal já contava com uma rede ambulatorial 
com equipes multiprofissionais com a presença de médicos pediatras, ginecologistas e 
clínicos gerais, dentistas, enfermeiros, psicólogos, nutricionistas, assistentes sociais. O 
processo de implantação foi realizado com caráter competitivo, substitutivo e reducionista, no 
interior da APS, deixando de fora aqueles profissionais que já estavam em UBS, mas não 
faziam parte da composição prevista pelo PSF. A coexistência dos dois modelos em algumas 
Unidades, com profissionais percebendo distintos vencimentos e trabalhando em cargas 
horárias diferenciadas, parece ter produzido insatisfação e dificultado a operacionalização de 
ambos os modelos, além de reforçar a dicotomia entre o PSF e o modelo tradicional no 
âmbito da Atenção Básica. 
O MS, em 2002, incentivou a condição de gestão plena dos municípios ampliando o 
piso da Atenção básica e suas competências através da NOAS-SUS 01/2002 (BRASIL, 2002). 
Cinco anos depois, considerando a expansão do PSF no país, lançou a portaria de nº 648, 
transformando-o na estratégia prioritária para reorganização da atenção básica no país, 
incorporando os princípios e as diretrizes propostas no Pacto pela Saúde 2006 firmado entre 
esferas de governo. Neste contexto, propõe a desfragmentação do financiamento da Atenção 
Básica (BRASIL, 2006c). O município de Natal assume, então, a condição de Gestão Plena da 
Atenção Básica Ampliada (GPAB-A) e passa a considerar a ESF o modelo de reorganização 
da atenção básica, propondo 100% de cobertura populacional para os Distritos Norte e Oeste e 
parte dos Distritos Leste e Sul. Assim, o município manteria a coexistência dos dois modelos 
de organização das práticas: Unidades de Saúde organizadas na lógica da ESF nos distritos 
Norte e Oeste e as Unidades Básicas de Saúde tradicionalmente organizadas com equipes 
multiprofissionais nos locais em que ainda não fosse possível implantar a ESF (NATAL, 
2003). 
Em 2010, o município de Natal implantou os Núcleos de Apoio à Saúde da Família 
(NASF), o que oportunizou a inserção de outros profissionais na ESF. Contudo, a implantação 
desses núcleos está ocorrendo de forma lenta e precária. Foram implantados três NASF, com 
o propósito de apoiar oito equipes cada, distribuídos da seguinte forma: 01 (um) no Distrito 
Sanitário Norte I; 01(um) no Distrito Sanitário Norte II e 01(um) Distrito Sanitário Oeste. 
No momento final da pesquisa de campo, o município contava com 37 USF (uma 
temporariamente desativada) com 114 equipes implantadas, distribuídas nos cinco Distritos 
27 
 
Sanitários (Quadro 1). Contudo, existe nessas equipes o desfalque de alguns profissionais, 
sobretudo, médicos e auxiliares de saúde bucal. Dessas 114 equipes, apenas 31 fizeram 
adesão ao Programa Nacional de Melhoria do Acesso e da Qualidade da Atenção Básica 
(PMAQ). 
O desfalque de profissionais nas equipes promoveu uma redução no índice de 
cobertura da ESF no Cadastro Nacional de Estabelecimentos de Saúde (CNES). No mês de 
novembro de 2012 a cobertura da ESF correspondia a menos de 29% da população, com 59 
equipes de saúde da família e 44 equipes de saúde bucal (CNES, 2012). 
 
Quadro 1 – Distribuição das Unidades de Saúde no município de Natal por distrito Sanitário, 
2011. 
 
DISTRITO NORTE I DISTRITO NORTE II DISTRITO OESTE DISTRITO LESTE DISTRITO SUL 
 
USF Gramoré USF Panatis USF Bom Pastor USF Aparecida USF Planalto** 
USF Redinha USF Potengí USF Nazaré* USF Guarita 
 
USF Vista Verde USF Santarém* USF Nova Cidade USF Paço da Pátria 
USF África* USF Igapó USF Monte Líbano USF Rocas 
USF José Sarney USF Vale Dourado USF Cidade Nova 
USF Cidade Praia USF Santa Catarina USF Bairro Nordeste 
USF Pompéia USF Soledade I USF Guarapes 
USF Nova Natal I USF Soledade II USF km 6 
USF Nova Natal II USF Parque dos Coqueiros USF Felipe Camarão I 
USF Nordelândia USF Parque Das Mangueiras USF Felipe Camarão II 
USF Parque das Dunas USF Felipe Camarão III 
Fonte: Quadro elaborado através de consulta ao site da prefeitura (2011). 
*funciona também um NASF. **USF temporariamente desativada. 
 
 
 
2.4 TRAÇANDO TRILHAS NO CAMINHO METODOLÓGICO: MAPEAMENTO DE 
ATIVIDADES EDUCATIVAS COLETIVAS NA ESTRATÉGIA SAÚDE DA 
FAMÍLIA EM NATAL/RN 
 
Com o objetivo de se fazer uma primeira aproximação ao objeto de estudo, durante os 
meses de outubro e novembro de 2011, realizou-se um inquérito nas USF, no município de 
Natal, por telefone, com o objetivo de identificar as atividades educativas desenvolvidas no 
âmbito da ESF, cujo resultado está descrito no Quadro 2 a seguir. 
28 
 
 
Quadro 2 – Atividades educativas coletivas realizadas nas USF do município de Natal, 
novembro de 2011
1
 
DISTRITO PÚBLICO ALVO ATIVIDADES 
DESENVOLVIDAS 
PERIODICIDADE PROFISSIONAIS ENVOLVIDOS 
NORTE I 
E 
NORTE II 
Idosos ou hipertensos e 
diabéticos. 
Gestantes. 
Crianças. 
Adultos. 
Adolescentes. 
Fumantes. 
Palestras e rodas de 
conversa. 
Danças folclóricas. 
Relaxamento, 
Caminhada. 
Trabalhos artesanais. 
Terapia comunitária. 
Tenda do conto. 
Mensal e quinzenal na 
maioria dos grupos, 
com exceção das 
caminhadas, que 
ocorrem duas a três 
vezes por semana. 
De acordo com a temática define-se 
a participação dos profissionais. Na 
coordenação das atividades 
predomina a enfermeira. 
Nas caminhadas, a participação 
efetiva é do profissional de 
Educação Física e de ACS. 
OESTE Idosos ou hipertensos e 
diabéticos. 
Gestantes. 
Crianças. 
Adultos. 
Profissionais. 
 
Palestras e rodas de 
conversa. 
Danças folclóricas. 
Relaxamento. 
Caminhada. 
Trabalhos artesanais. 
Meditação. 
Práticas integrativas. 
Cantos religiosos. 
Mensal e quinzenal na 
maioria dos grupos, 
com exceção das 
caminhadas, que 
ocorrem duas a três 
vezes por semana. 
De acordo com a temática define-se 
a participação dos profissionais. 
Na coordenação das atividades 
predomina a enfermeira. 
Nas caminhadas, a participação 
efetiva é do profissional de 
Educação Física, 
alunos do PET Saúde. 
LESTE Idosos ou hipertensos e 
diabéticos. 
Gestantes. 
Crianças. 
Adultos. 
 
Palestras e rodas de 
conversa. 
Relaxamento. 
Caminhada. 
Trabalhos artesanais. 
 
Mensal e quinzenal na 
maioria dos grupos, 
com exceção das 
caminhadas, que 
ocorrem duas a três 
vezes por semana. 
Equipes das USF. 
Alunos do PET Saúde. 
Nutricionista. 
Fonte: Quadro elaborado através de inquérito telefônico para mapeamento das atividades educativas 
em Unidades da ESF em Natal, RN, 2011. 
 
No mês de janeiro de 2012, com o objetivo de complementar a caracterização das 
atividades referidas no inquérito por telefone aplicou-se um formulário de questões nas USF 
do município de Natal, conforme Apêndice D. 
A aplicação do formulário se deu, em sua maioria, pela própria pesquisadora e, em 
cinco Unidades de Saúde, por profissionais do NASF. Nas USF, o primeiro contato da 
pesquisadora foi realizado com a enfermeira e caso esta estivesse sem disponibilidade de 
tempo ou estivesse ausente, outro profissional participante da atividade seria convidado a 
responder o formulário. Responderam ao formulário diretamente com a pesquisadora: 16 
 
1
 O Distrito Sul não está no quadro porque só existe uma USF e no momento da pesquisa estava interditada 
 
29 
 
(dezesseis) enfermeiras, 7 (sete) dentistas, 4 (quatro) Agentes Comunitários de Saúde e 3 
(três) técnicas de enfermagem. 
O conteúdo das questões nos formulários referiu-se ao quantitativo de atividades 
coletivas realizadas; ao número de equipes por Unidade e quantas estariam completas; à 
periodicidade e quem seria o principal responsável pela atividade; à média de participantes; ao 
espaço onde se realizavam as atividades; às dificuldades encontradas na realização das 
atividades; aoque seria identificado como inovador; ao que motivaria a criação dos grupos e, 
por último, que efeitos seriam identificados na saúde das pessoas mediante a participação nos 
grupos. 
Foram preenchidos trinta e quatro formulários dos trinta e sete previstos. Três USF 
ficaram de fora desse levantamento: duas por estarem com as atividades coletivas paralisadas 
e não foi possível falar com o profissional inserido nas atividades e uma que estava desativada 
temporariamente. Das 34 Unidades que preencheram os formulários apenas oito apresentaram 
todas as equipes completas; cinco funcionavam sem nenhum médico da ESF. Em algumas 
delas a equipe contava com médicos contratados temporariamente através de uma 
cooperativa. No entanto, esses profissionais trabalhavam em regime de vinte horas e não eram 
suficientes para atuar junto à equipe no modelo preconizado pela ESF. 
Ao se referirem às dificuldades, em todas as USF os profissionais relataram falta de 
apoio da instituição, principalmente logístico. Muitos elencaram falta de espaço e alguns 
citaram a adesão do público-alvo e ao pouco envolvimento da equipe. 
Quanto ao caráter inovador na atividade realizada, em sua maioria, os profissionais 
responderam questões referentes ao próprio desenvolvimento da atividade, o que pode ser 
interpretado como não compreensão da questão. No entanto, alguns relatam o envolvimento 
da equipe, a parceria com outros setores, a abordagem diferente da tradicional e a 
aprendizagem constante. 
Quadro 3 – Caracterização das atividades educativas coletivas realizadas nas USF, Natal, 
RN, março de 2012. 
ATIVIDADE DESCRIÇÃO USF 
“HIPERDIA” 
 (IDOSOS) 
Encontros mensais que proporcionam a atualização da medicação. Promovem-se palestras, 
rodas de conversas acerca do processo de adoecimento. Geralmente são realizados por 
equipe, com a presença da maioria dos profissionais da equipe da área, e ocorrem 
mensalmente. 
20 
A TENDA DO CONTO Atividade que conta com narrativas dos participantes acerca dos mais variados temas 
relativos à suas vidas. Constitui-se em um espaço de fala e escuta aberto para todos: 
profissionais, usuários, estudantes. A tenda acontece numa perspectiva de tecer redes de 
apoio e solidariedade, fortalecer vínculos, trocar experiências e vivências. Há participação 
02 
30 
 
efetiva de vários profissionais. Ocorre mensalmente. 
A TAPERA DA FALAÇÃO Atividade inspirada na “Tenda do Conto” que se diferencia por ter o propósito de fazer as 
pessoas sorrirem, e evitam falar de coisas tristes. Convidam artistas locais e realizam 
atividades que integram saúde, cultura e lazer. É coordenada por uma técnica de 
enfermagem. Ocorre mensalmente. 
01 
OS CINCO MINUTOS PELO 
SUS 
Atividade de sala de espera, que conta com um breve relato de um dentista acerca do SUS, 
acompanhado pelo som de um violão. Ocorre quase que diariamente. 
01 
A CALÇADA AMIGA Atividade realizada através de debate com os usuários acerca dos agravos que estejam 
acometendo em uma determinada microárea. É realizada pela equipe responsável pela área 
em questão. Ocorre de acordo com a ocasião exigida em cada momento/situação. 
01 
A TERAPIA COMUNITÁRIA Atividade realizada com os usuários que se constitui em um espaço de reflexão do 
sofrimento causado por situação estressante, na perspectiva da valorização das histórias de 
vida e o resgate das identidades. Ocorre semanalmente. 
02 
CURSO OU GRUPO DE 
GESTANTES 
Atividades que em sua maioria se dão na perspectiva da preparação da mulher para o parto 
e para facilitar sua adesão ao planejamento familiar. Ocorre semanalmente, ou 
quinzenalmente. 
18 
AS DANÇAS FOLCLÓRICAS O carimbó, o pastoril, a dança da peneira, e outras expressões culturais como o teatro, são 
realizados na perspectiva do resgate cultural e de proporcionar momentos de lazer e 
descontração. Periodicidade varia conforme a USF. 
05 
ADOLESCENTE Discussões de assuntos pertinentes à idade. Ocorre mensalmente. 03 
O LIAN GONG, 
TAI CHI CHUAN, YOGA 
Atividades físicas praticadas em algumas Unidades de saúde. Em uma Unidade a yoga é 
realizada com os profissionais.A periodicidade varia conforme a USF 
02 
CANTOS E ORAÇÕES Atividade realizada com os idosos com o propósito de buscar “paz e equilíbrio”. Ocorre 
semanalmente. 
01 
A CAMINHADA Atividade que teve início com a presença de um profissional de educação física nas 
Unidades e que foi potencializada pela Política de Promoção da Saúde. Ocorre 
semanalmente (2 a 3 vezes por semana). 
25 
O BEBÊ SORRISO Atividade de prevenção às doenças bucais, destinada a crianças de zero a cinco anos. 
Geralmente acontece integrada à atividade de acompanhamento do crescimento e 
desenvolvimento da criança (CD). A periodicidade varia conforme a USF. 
03 
O AUTO DE NATAL Utiliza a ferramenta do teatro trabalhando o lúdico, propondo-se a respeitar a cultura, 
promover o exercício da cidadania e a reorientar práticas que incidem sobre as condições e 
modos de vida da população. O grupo se prepara durante o ano para se apresentar no 
período natalino. 
01 
VINDO AO MUNDO 
ACOLHIDO POR UMA NOVA 
ESTRATÉGIA 
Atividade realizada pela equipe de saúde bucal com as mães internadas na maternidade de 
Felipe Camarão no intuito de complementar as ações de humanização ao parto, existentes 
na Unidade. Ocorre diariamente. 
01 
 
Fonte: Mapeamento de atividades coletivas de educação em saúde em Unidades da ESF, em Natal, RN 
a partir de resposta à formulário, março de 2012. 
 
Conforme identificado no Quadro 3, constatamos que a maioria das USF realiza algum 
tipo de atividade de educação em saúde com grupos, principalmente, com idosos acometidos 
de hipertensão e/ou diabetes, gestantes, crianças menores de cinco anos e, em um número 
bastante reduzido, com adolescentes. O enfoque nas condições crônicas é justificado em 
virtude destas serem responsáveis por dois terços da carga de doença e são resultantes das 
31 
 
condições agudas, como refere documento do Conselho Nacional de Secretários de Saúde 
(BRASIL, 2009). A maioria das ações coletivas é desenvolvida para controle e prevenção de 
doenças, na perspectiva da tradicional vigilância da saúde. São atividades realizadas por meio 
de palestras ou rodas de conversa. 
No entanto, ficou evidente que algumas equipes identificam a necessidade de pensar 
novas estratégias e de intervir em condições mais gerais da produção de saúde, papel 
fundamental da APS. Neste sentido encontramos algumas Unidades que desenvolvem 
atividades que proporcionam momentos de vivências do folclore como as danças do Carimbó, 
Pastoril e outras manifestações populares. Outras realizam ações coletivas envolvendo 
pessoas desvinculadas de algum agravo como é o caso das atividades com trabalhos manuais, 
da “Tenda do Conto”, da “Calçada Amiga”, do “Os Cinco Minutos pelo SUS”. Há outras com 
foco mais específico na promoção da saúde como o “Lian Gong”, a caminhada com os idosos, 
os grupos de gestantes e a atividade de orientação coletiva às mães no CD (Crescimento e 
Desenvolvimento da criança) a qual se insere a orientação à saúde bucal (Bebê Sorriso). 
A Tenda do Conto é realizada nas USF de Panatis e Soledade I articulada por 
enfermeiras, porém com forte envolvimento da equipe. Teve início nas reuniões com os 
idosos e, diante da presença de pessoas mais jovens, a tenda transformou-se em espaço de fala 
e escuta aberto a profissionais, usuários, estudantes. Atualmente se constitui em uma atividade 
itinerante, passando por outras Unidades pertencentes a outros distritos. Segundo a enfermeira 
responsável por sua criação, a tenda acontece numa perspectiva de tecer redes de apoio e 
solidariedade, fortalecer vínculos e trocar experiências e vivências. 
A USF de Potengi, inspirada na “Tenda do Conto” realiza atividade denominada de 
“Tapera da Falação”. Segundo a técnica de enfermagem, profissional responsável pela 
atividade, há o diferencial defazer as pessoas sorrirem e, ao invés de falar de coisas tristes, 
convidam artistas locais e realizam atividades que integram saúde, cultura e lazer. 
A atividade de sala de espera, denominada “Cinco Minutos pelo SUS”, é realizada na 
USF de Panatis e conta com um breve relato de um dentista acerca do SUS, acompanhado 
pelo som de um violão. 
A Calçada Amiga é realizada na USF de Cidade Nova com a participação da equipe. 
Debate-se com os usuários acerca dos agravos que estejam acometendo uma determinada 
microárea de atuação das equipes. 
A Terapia Comunitária acontece em algumas Unidades de Saúde do Distrito Sanitário 
Norte (Cidade Praia, Gramoré), coordenada por uma psicóloga do NASF e conta com a 
32 
 
participação da equipe das Unidades. Constitui-se em espaço para reflexão do sofrimento 
causado por situação estressante, na perspectiva da valorização das histórias de vida e o 
resgate das identidades. 
A atividade com as gestantes, em sua maioria coordenada por enfermeiras, acontece na 
perspectiva da preparação da mulher para o parto e para facilitar sua adesão ao planejamento 
familiar. É realizada em várias Unidades distribuídas em todos os distritos. 
As Danças do Carimbó, o Pastoril e outras estão presentes nas USF de Felipe Camarão 
II, Potengi e Cidade Praia. 
Na USF de Felipe Camarão II, o pastoril recebe a denominação de “Pastoril do Peixe 
Boi Encantado” e é composto por pessoas de faixas etárias variadas, dos nove aos setenta e 
dois anos, com predomínio do sexo feminino (86%). 
Ainda na USF de Felipe Camarão II, a partir da experiência com a comunidade no 
pastoril, existe um grupo teatral que encena o Auto de Natal, que se constitui numa 
experiência que usa o teatro para trabalhar o lúdico, propondo-se a respeitar a cultura, 
promover o exercício da cidadania e a reorientação de práticas que incidem sobre as 
condições e modos de vida da população. 
A atividade de caminhada realizada com os idosos está presente na maioria das 
Unidades de Saúde distribuídas em todos os Distritos. É uma atividade que teve início com a 
presença de um profissional de educação física nas Unidades e que foi potencializada com a 
política de promoção da saúde. No entanto, ainda se restringe à participação do profissional 
de educação física e algum ACS. 
O Lian Gong é praticado na USF de Nova Cidade, no Distrito Sanitário Oeste, e na 
USF de Potengi, Distrito Sanitário Norte, que também pratica o tai chi chuan. Ainda na USF 
de Nova Cidade acontece uma atividade de cantos e orações com os idosos, denominada “Paz 
e Equilíbrio”. 
O “Bebê Sorriso” é uma atividade de prevenção às doenças bucais, destinada a 
crianças de zero a cinco anos, e acontece nas USF de Nova Cidade e Km 6. A mesma 
atividade acontece em outras Unidades de forma integrada às ações do CD, como é o caso da 
USF de Felipe Camarão II e da USF de Felipe Camarão Mista. Nesta também é desenvolvida 
atividade voltada para os cuidados que as mães devem ter com seus recém-nascidos, na 
perspectiva de prevenir as doenças da cavidade bucal. É realizada com as mães internadas na 
maternidade no intuito de complementar as ações de humanização ao parto, existentes naquela 
Unidade. 
33 
 
Na USF de Bom Pastor é realizada uma atividade na perspectiva da promoção da 
saúde dos profissionais, por uma médica homeopata da própria Unidade, e consiste na 
realização da prática de yoga. 
 
2.5 A UNIDADE DE SAÚDE DA FAMÍLIA DE FELIPE CAMARÃO II COMO O 
LÓCUS DA PESQUISA 
 
2.5.1 A escolha da USF 
 
Os dados do mapeamento das atividades educativas desenvolvidas no âmbito da ESF 
no município de Natal (OLIVEIRA; SOUZA, 2012) balizaram a escolha da Unidade de Saúde 
a ser estudada, através de critérios de inclusão descritos a seguir. 
Para inclusão consideramos: 
- Unidades que realizam atividades coletivas de educação em saúde. Entre as trinta e 
sete (37) Unidades de Saúde da Família existentes no município, trinta e quatro (34) foram 
incluídas nesse critério. Duas Unidades estavam com as atividades paralisadas por motivo de 
reforma e outra estava interditada. 
- Unidades com tempo mínimo de dois anos de existência de alguma atividade de 
educação em saúde. Vinte e sete (27) Unidades de saúde contemplaram esse critério. 
- Unidades com o maior tempo de implantação da ESF no município. Três (03) 
Unidades de Saúde incluíram-se nesse critério, todas localizadas no Distrito Sanitário Oeste 
(DSO). 
Entre as três Unidades selecionadas a partir dos critérios descritos, consideramos a 
natureza do estudo e a sua viabilidade operacional para escolha intencional daquela com 
melhores condições de viabilidade para realização do estudo. Selecionamos a USF de Felipe 
Camarão II porque, além de contemplar todos os critérios de inclusão e estar localizada em 
área do DSO, tem o diferencial do acúmulo de experiências ao longo de 14 anos, com 
atividades educativas e coletivas de longa duração, o que confere certo grau de 
sustentabilidade. Contribuiu ainda para a escolha dessa Unidade de Saúde o fato dela ter a 
colaboração do NASF e a adesão de três de suas quatro equipes ao PMAQ. Mediante a 
conjuntura de precarização dos serviços, no momento de realização da pesquisa, esses 
aspectos constituiriam em uma melhor perspectiva de viabilidade operacional da pesquisa. 
 
34 
 
2.5.2 O bairro e a Unidade de Saúde da família de Felipe Camarão II 
 
Dos cinco Distritos do município de Natal, o DSO é o que possui os mais baixos 
indicadores de qualidade de vida: alto índice de analfabetismo, desemprego, precárias 
condições de moradia e alto índice de violência. Esse distrito é formado por oito bairros, 
sendo um deles o de Felipe Camarão que possui uma população de 50.997, com 
predominância do sexo feminino correspondendo a 51,18%. O referido bairro possui grande 
extensão territorial e alta densidade demográfica, onde 92,66% dos domicílios são compostos 
de casas, com um percentual de 68,79% próprias e 25,94% alugadas. 65,68% da população 
estão na faixa economicamente ativa. A renda per capta domiciliar está entre menos de meio 
a um salário mínimo e constitui pouco mais de 65,15% da população, segundo dados do 
IBGE, 2010 (NATAL, 2012). 
Dentre as organizações e equipamentos sociais existentes no bairro de Felipe 
Camarão, encontram-se clube de mães, escolas de 1º e 2º graus, Unidades de saúde pública, 
igrejas católicas, evangélicas, centros espíritas, creches, feiras públicas, fundação filantrópica 
e uma empresa de transportes urbanos (ALCÂNTARA, 2007). 
O bairro de Felipe Camarão se localiza distante da região central e antes era uma área 
de granjas e terrenos de proprietários privados. A cultura popular se destaca por ter abrigado 
dois dos maiores representantes do Rio Grande do Norte: o mamulengueiro
2
 Chico Daniel e o 
Mestre Manoel Marinheiro. Este, responsável pelos ensinamentos e perpetuação da dança 
folclórica Boi de Reis (ALCÂNTARA, 2007). 
É um bairro que conta com presença significativa de Organização Não Governamental 
(ONG), desenvolvendo projetos com propósitos de redução de vulnerabilidades sociais. 
Dentre estes, destacou-se, na década de 1990, o projeto UNI
3
 e, atualmente, os projetos 
Conexão Felipe Camarão e o Programa de Desenvolvimento de Área (PDA), respectivamente, 
através das ONGs Companhia TerrAmar e Visão Mundial. A conexão Felipe Camarão, desde 
 
2
 Também denominado de Calungueiros – arte de fazer o João-Redondo – um teatro rústico de 
bonecos que começou nos velhos países do Oriente, China, Turquia. Imigrando para Europa sofreu um 
processo de ascensão cultural. Trazido para o Brasil, o joão-redondo retornou sua forma rústica e faz 
parte do folclore nordestino (GURGEL,1999 apud ALCÂNTARA, 2007). 
 
3
 Uma Nova Iniciativa (UNI) na formação e educação de recursos humanos para a saúde em parceria com a 
comunidade. Atuou em algunsbairros da cidade. Todos no Distrito Oeste. Fazia parte do Programa UNI, da 
Fundação W. K Kellogg, que era constituído de 19 projetos na América Latina e Caribe. Disponível em: 
<http://www.ufrn.br/sites/engenhodesonhos/forum/conselho/uninatal/index.html>. 
35 
 
2005, trabalha o potencial artístico de crianças e adolescentes do bairro
4
 e a Visão Mundial 
com crianças, famílias e comunidades a fim de que alcancem seu potencial pleno, no 
propósito de combater a pobreza
5
. O bairro conta ainda com a colaboração do Núcleo de 
Amparo ao Menor (NAM) que é uma instituição beneficente do terceiro setor, referência no 
bairro, que apoia, cria, desenvolve e executa projetos na área de educação, esporte e cultura 
para melhoria da qualidade de vida de crianças, adolescentes e jovens há 18 anos
6
. 
A área de abrangência da USF de Felipe Camarão II tem como referência uma 
população de aproximadamente 14.800 habitantes, conforme dados do Sistema de Informação 
da Atenção Básica (SIAB), acessado na USF em dezembro de 2012. Essa área foi projetada, 
inicialmente, para ser um conjunto habitacional denominado Promorar II, onde foram 
abrigadas famílias oriundas de favelas de outros locais da cidade. Não existem espaços 
destinados a praças, áreas de lazer ou Centros de Convivência (ALCÂNTARA, 2007). 
De acordo com as informações adquiridas durante a observação participante na 
Unidade e registradas em diário, a ESF foi implantada no ano de 1998. Iniciou com uma 
equipe e, logo depois, foi complementada com mais três equipes de saúde da família, ficando 
com a seguinte composição: 04 (quatro) médicos; 04 (quatro) enfermeiros; 04 (quatro) 
dentistas; 08 (oito) técnicos de enfermagem; 04 (quatro) auxiliares de saúde bucal; 24 (vinte e 
quatro) agentes comunitários de saúde. No entanto, em virtude da deficiência existente no 
quadro de funcionários do município, no momento da pesquisa a Unidade apresenta o 
desfalque de 01 (um) médico; 01 (um) ACS; 01 (um) auxiliar de saúde bucal – que está 
afastada por questões de saúde há dois anos. Além dos profissionais da ESF, a USF conta 
apenas com um diretor e um arquivista. Para a limpeza, existem 02 (dois) auxiliares de 
serviços gerais terceirizados por empresa contratada pela gestão municipal. A faixa de idade 
predominante dos profissionais é de 50 (cinquenta) anos e mais, com exceção dos ACS que 
apresentam idades predominantes entre 30 (trinta) e 50 (cinquenta) anos, mas existem dois 
com 60 (sessenta) anos. O sexo que predomina é o feminino, com a presença de apenas seis 
(seis) homens dentre os 50 (cinquenta) funcionários existentes na USF. 
 A média de permanência dos profissionais nas equipes, inicialmente, era de cinco 
anos e mais. No momento de realização da pesquisa, identificamos que tem havido permuta 
 
4 Disponível em: <www.conexaofelipecamarao.org.br/>. 
5 Disponível em: <www.visaomundial.org.br/>. 
6 Disponível em: <www.nam.org.br/>. 
36 
 
de profissionais no próprio município ou alguns profissionais se desvinculam da ESF para 
retornar ao seu local de lotação de origem, por decisão própria, em virtude das questões 
trabalhistas, ocasionadas pelo processo de municipalização ocorrido nos anos 1990
7
. A USF 
conta com a colaboração do NASF que é constituído pelos seguintes profissionais: assistente 
social; educador físico; nutricionista; fisioterapeuta, farmacêutico. No momento da pesquisa, 
três das quatro equipes existentes na Unidade aderiram ao PMAQ. 
Desde sua implantação, a Unidade de Saúde tem sido lugar de muitos projetos e de 
pesquisas, funcionando também como cenário de práticas de ensino, pesquisa e extensão para 
os cursos da área da saúde, semelhante a outras Unidades do município. À semelhança do que 
ocorre no bairro, a Unidade também tem uma história de muitas parcerias com universidades, 
ONGs e Organizações Comunitárias. É reconhecida por suas várias experiências inovadoras 
que ficaram registradas em anais de congressos e em trabalhos que não foram publicados. Já 
foi premiada por algumas experiências e foi protagonista de um livro escrito e organizado por 
seus servidores e colaboradores, que por ali passam ao longo de sua existência. O livro 
Contos, cantos e encantos de Felipe Camarão: histórias do PSF (OLIVEIRA; 
ALCÂNTARA; SILVA, 2010) foi produzido em parceria com a Universidade Federal do Rio 
Grande do Norte (UFRN) e tenta traduzir o modo de fazer saúde daquela equipe, com 
lançamento na III Mostra Nacional de Saúde da Família, ano de 2008, em Brasília. 
Em 2000, foi realizado o “I Seminário de promoção à saúde: Felipe Camarão mostra a 
sua cara”, por iniciativa de profissionais, pessoas da comunidade e colaboradores da UFRN e 
o UNI/Natal. O evento se constituiu em quatro grupos temáticos: cidadania e qualidade de 
vida; meio ambiente e qualidade de vida; violência e qualidade de vida; atenção à saúde e 
qualidade de vida
8
. 
Como desdobramento desse evento foi oficializado o “Fórum Permanente Pela 
Qualidade de Vida de Felipe Camarão”. Esse teria o propósito de se constituir um espaço 
democrático de discussão dos problemas do bairro, de traçar estratégias intersetoriais e 
influenciar nas políticas públicas de promoção à saúde. O fórum se propôs, dentre seus 
 
7 Com a municipalização dos serviços de saúde estaduais e federais, os funcionários com vínculo original nessas 
instituições foram cedidos ao município, mas seus direitos trabalhistas continuam sendo geridos pelos seus 
órgãos de origem. Ou seja, aposentam-se apenas com os vencimentos pagos por seus respectivos órgãos 
empregadores. 
8 Extraído de relatório existente na USF sobre a organização do Fórum Comunitário de Promoção da Saúde e 
pela qualidade de vida no Bairro de Felipe Camarão. 
37 
 
objetivos, apoiar tecnicamente a realização das atividades de promoção à saúde, 
desenvolvidas pelas equipes da Unidade. 
No referido seminário surgiu também ideia da adequação de um espaço físico já 
existente no bairro para transformá-lo em um centro de convivência para a comunidade, que 
até o momento de finalização desta pesquisa não fora construído. 
Após a realização desse Seminário, a USF de Felipe Camarão II intensificou as 
atividades educativas coletivas através de grupos que foram sendo constituídos desde sua 
implantação e formando outros mediante as necessidades percebidas durante o processo de 
trabalho. Grupos estes que sofrem descontinuidade em suas ações mediante a instabilidade 
política do município. 
A seguir, descreveremos os grupos identificados na USF de Felipe Camarão II através 
de registros existentes na própria Unidade, assim como através das conversas com os 
profissionais durante a observação participante. 
 
a) Conviver para Melhor Viver 
 
Conforme registros na Unidade, o grupo surgiu em 2001 a partir da constatação do 
número expressivo que existia de idosos na área e da necessidade que alguns profissionais 
perceberam acerca de se trabalhar a promoção à saúde nessa faixa etária. Aproveitou-se um 
grupo que já se reunia nas quartas-feiras no conselho comunitário Padre João Maria. No 
momento de sua implantação, realizou-se oficina de planejamento em que foram traçados os 
objetivos e seu desenvolvimento, incluindo a participação dos profissionais da ESF, membros 
do conselho comunitário e estudantes de medicina e de enfermagem da UFRN. Estabeleceu-se 
que o grupo teria, dentre seus objetivos, buscar autossustentação, criar subgrupos de arte e 
cultura (coral, teatro, folclore, entre outros), e colaborar com a consciência crítica dos direitos 
e deveres do cidadão e a promoção do autocuidado. Os encontros seriam constituídos de 
dinâmicas de grupo, atividades de relaxamento/alongamento, danças, comemoração de datas 
festivas, conversas informais, passeios e atividades educativas relacionadas a hábitos de

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