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1 UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE DEPARTAMENTO DE ODONTOLOGIA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO SAÚDE COLETIVA NEUMA LÚCIA DE OLIVEIRA PRÁTICAS EDUCATIVAS E INTEGRALIDADE NA SAÚDE DA FAMÍLIA UM ESTUDO ETNOGRÁFICO NATAL/RN 2013 2 NEUMA LÚCIA DE OLIVEIRA PRÁTICAS EDUCATIVAS E INTEGRALIDADE NA SAÚDE DA FAMÍLIA: UM ESTUDO ETNOGRÁFICO NATAL 2013 Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Saúde Coletiva da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (PPGSCOL/UFRN), como requisito parcial para a obtenção do título de Mestre em Saúde Coletiva. Orientadora: Profa. Dra. Elizabethe Cristina Fagundes de Souza. 3 Catalogação na Fonte. UFRN/ Departamento de Odontologia Biblioteca Setorial de Odontologia “Profº Alberto Moreira Campos”. Oliveira, Neuma Lúcia de. Práticas educativas e integralidade na saúde da família: um estudo etnográfico / Neuma Lúcia de Oliveira. – Natal, RN, 2013. 148 f. : il. Orientador: Profa. Dra. Elizabethe Cristina Fagundes de Souza. Dissertação (Mestrado em Saúde Coletiva) – Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Centro de Ciências da Saúde. Programa de Pós-Graduação em Saúde Coletiva. 1. Promoção da Saúde – Dissertação. 2. Etnografia – Dissertação. 3. Saúde da Família. I. Souza, Elizabethe Cristina Fagundes de. II. Título. RN/UF/BSO Black D57 4 PÁGINA DE APROVAÇÃO A dissertação “Práticas educativas e integralidade na Saúde da Família: Um estudo etnográfico”, apresentada por Neuma Lúcia de Oliveira ao Programa de Pós-Graduação Saúde Coletiva da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, foi aprovada e aceita como requisito para obtenção do título de Mestre em Saúde Coletiva. Aprovada em: 27/06/2013 _________________________________________ Profa. Dra. Elizabethe Cristina Fagundes de Souza. UFRN Orientador _______________________________ Prof. Dra. Luciane M. Pezzato PUC/ Campinas Membro Externo _______________________________ Profa. Dra. Jacileide Guimarães UFRN Membro interno NATAL/RN 2013 5 DEDICATÓRIA A minha mãe, Maria Lúcia, a quem devo não só minha existência física, mas também a minha essência humana. Aos meus irmãos (Luciano, Eugênio, Leonel e Claudionor) e irmãs (Socorro e Carmelita) pelo convívio alegre, descontraído e solidário, o que me faz sentir a importância da família na estruturação do pensamento e da ação humana. Aos meus queridos filhos Raoni e Cauê, por me proporcionarem a felicidade e a principal razão de estar neste mundo. Ao meu amado Kilder, companheiro, amigo, por estar presente em todos os momentos de minha vida, me proporcionando alegria, felicidade, aprendizagem e a certeza de que a vida é bela e repleta de bons encontros. AGRADECIMENTOS A Deus por estar sempre presente em minha vida, coração e mente. Com essa certeza sigo uma vida feliz. A professora Elizabethe, minha amiga Betinha, que prontamente aceitou orientar este trabalho, e com sua amizade, incentivo, carinho e competência tornou esta caminhada alegre, leve e enriquecedora. A equipe da USFC II que de forma solícita e carinhosa me acolheu e que ao longo da pesquisa de campo me presenteou com suas memórias e vivências de construção/reconstrução do complexo trabalho em saúde. O meu sincero agradecimento pelo feliz aprendizado. Mais que especial, o agradecimento a Jaaziel, Meine, Rudnilson, Selma, Clymary, Valdelice e Maguinólia que foram os profissionais da USFC II que contribuíram mais diretamente com a pesquisa de campo, com suas informações, suas brilhantes atuações na construção do SUS, seus conhecimentos e o fraterno carinho. O meu eterno agradecimento por tornarem essa caminhada feliz e gratificante. Aos usuários e usuárias da USFC II que de forma calorosa e singular me acolheram e me presentearam com sua alegria e sentimentos de solidariedade. Meus sinceros agradecimentos pelos risos soltos, pelas demonstrações de afeto e por terem tornado essa tarefa prazerosa, leve e enriquecedora. As minhas colegas e meus colegas de mestrado pela convivência fraterna, alegre e os conhecimentos compartilhados. 6 A Marize, irmã de alma, por nossos maravilhosos papos existenciais e intelectuais, que nos proporcionam felicidade e crescimento. As minhas amigas Emiliana, Lavínia, Lygia, Edna, Lucia, Ivana pela presença alegre e especial em minha vida. Obrigada amigas de sempre. A Márcia Lucas, amizade conquistada no mestrado. Obrigada, amiga, pela forma carinhosa que sempre acolheu meus desabafos, angústias e ansiedades inerentes ao exercício do aprendizado. As professoras Jacileide Guimarães e Rosana Alves, pelas contribuições no momento da qualificação do trabalho. Obrigada Jacileide pelos conhecimentos compartilhados na disciplina Território, Saúde e Cotidiano, ministrada no Programa de Pós- Graduação em Enfermagem (PPGENF/UFRN) que muito colaborou para as minhas reflexões. Aos docentes do Programa de Pós-graduação em Saúde Coletiva (PPGSCOL/UFRN) pelos momentos de aprendizado. A minha equipe (Madalena, Alexsandra, Edilma, Jaíra, Andréa, Luzinete, Janilda e Joilma) pela compreensão. Obrigada Madalena por seu apoio e incentivo. A Anailde, Diretora da minha USF, por tornar possível a minha caminhada no mestrado. Obrigada a toda a equipe da UMFC pela compreensão. A equipe de saúde bucal da UMFC (Lúcia Régia, Magnólia, Dalvaci, Edilene, Graça, Tereza João, Michele e Marinísia) pela compreensão e apoio. A todos os profissionais da Estratégia Saúde da Família que colaboraram com suas informações no momento do mapeamento das atividades educativas desenvolvidas no município de Natal. Obrigada Maria do Carmo e Silvana (profissionais do NASF) que aplicaram alguns formulários em sua área de atuação. 7 RESUMO Na Atenção Primária em Saúde, sobretudo, na Estratégia Saúde da Família, espera-se que ocorra articulação das ações assistenciais e de promoção da saúde. O Ministério da Saúde (BRASIL, 2007) define a educação em saúde como uma estratégia potencializadora das ações de prevenção e promoção, fundamentada em práticas reflexivas, que possibilitem ao usuário sua condição de sujeito histórico, social e político, sob a visão de uma clínica ampliada por parte dos profissionais de saúde. Nesse sentido, há diretrizes para que profissionais desenvolvam ações educativas e que estas possam interferir no processo de saúde-doença da população, na perspectiva do desenvolvimento de autonomia dos sujeitos. Esta pesquisa teve como objetivo compreender, à luz da integralidadedo cuidado, como se dá a produção das práticas de educação em saúde, no âmbito da Estratégia Saúde da Família a partir de estudo etnográfico em uma Unidade de Saúde da Família (USF). O local da pesquisa foi a Unidade de Saúde Felipe Camarão II, no Distrito Sanitário Oeste, no município de Natal, RN, Brasil, selecionada a partir de mapeamento preliminar de práticas educativas implantadas nas unidades de saúde da família deste município, com base em critérios entre os quais tempo de implantação da USF e sustentabilidade das ações existentes. A imersão em campo constou de observação participante com registro em diário, realizada durante o período de agosto de 2012 a janeiro de 2013, em que a pesquisadora acompanhou processos de trabalho das equipes em ações clinico-assistenciais, na própria USF, em domicílios e em ações educativas de caráter grupal. Os resultados apresentados na descrição etnográfica foram analisados com base nos eixos propostos por Ayres (2009) para identificação da integralidade nas práticas de saúde: o eixo das necessidades; o eixo das finalidades; o eixo das articulações; e o eixo das interações. As evidências descritas a partir da observação apontam presença de cada eixo acima nas práticas de educação em saúde desenvolvidas pelas equipes, mesmo que de forma incipiente, quais sejam: articulação e valorização de saberes e práticas da cultura popular com iniciativas locais (Pastoril do Peixe Boi Encantado, Auto de Natal e Grupo Terapia e Arte); integração da clínica com as ações de promoção da saúde e articulação de saberes multiprofissional, com vínculo profissional-usuário (Curso para Gestantes). No entanto, alguns desafios foram identificados a serem enfrentados para se avançar nessas práticas numa perspectiva do cuidado integral: necessidade de ruptura com a fragmentação das ações; fortalecimento do trabalho em equipe; necessidade de maior sustentabilidade política das ações coletivas; trabalho intersetorial com vistas a uma melhor atuação do Estado no enfrentamento do processo saúde-doença, somando-a à ação dos indivíduos-sujeitos. A análise produzida a partir da observação dos processos vivenciados indica haver necessidade de um melhor reconhecimento por parte dos gestores locais de que ações semelhantes as que ocorrem na USF Felipe Camarão possibilitam avanços na integralidade à medida que permite inclusão dos atores implicados nos processos de trabalho em saúde, e estimulam participação e corresponsabilização no enfrentamento de situações de saúde-doença. Palavras-chaves: etnografia; cuidado integral; promoção da saúde; atenção primária em saúde. 8 ABSTRACT Primary Health Care, especially in the family health strategy, it is expected that the joint assistance and actions of health promotion. The Ministry of health (BRAZIL, 2007) defines health education as an eyeshadow strategy of prevention and health promotion, based on reflective practices, which allow the user to their condition of historical, social and political subject, under the vision of an expanded clinic on the part of health professionals. In this sense, there are guidelines for it professionals to develop educational activities and that they can interfere in the health/disease process of the population, with a view to the development of autonomy of the subject. This research had as objective to understand in the light of the integrality of the care, as is the production of health education practices, within the framework of the family health strategy from ethnographic study in a family health unit (USF). The location of the research was the unit of USF Felipe Camarão II in West Health District, in the city of Natal, RN, Brazil, selected from preliminary mapping of educational practices deployed in units of health of the family of this municipality, based on criteria such as time- to-deployment of USF and sustainability of existing actions. Immersion in the field consisted of participant observation with journaling, held during the period of August 2012 to January 2013, in which she accompanied team work processes in clinical-welfare actions on the USF, in households and in educational activities of group character. The results presented in ethnographic description were analyzed based on the axes proposed by Ayres (2009) for identification of integrality in health practices:the axis of the needs; the axis of the purposes; the joint axis; and the axis of the interactionsThe evidence described from observation point the presence of each axle up health education practices developed by the teams, even incipient form, namely: articulation and appreciation of knowledge and practices of popular culture with local initiatives (Pastoril do Peixe Boi Encantado, Auto de Natal e Grupo Terapia e Arte); Clinical integration with health promotion actions and coordination of multidisciplinary knowledge, with professional-user link (course for pregnant women). However, a few challenges were identified to be faced in order to move forward in these practices in integral care: the need to break with the fragmentation of actions; strengthening teamwork; need for greater sustainability policy of collective actions; intersectoral work aimed at a better role of the State in the face of the health-disease process, adding to the action of individuals.The analysis produced from observation of the processes experienced indicates the need for a better recognition of local managers that actions similar to those that occur in the USF Felipe Camarão II enable advances in completeness as allows inclusion of actors involved in the processes of health work, and stimulate participation and shared responsibility in the fight for health-disease situations. Key words: Ethnography; integral care; health promotion; primary health attention. 9 LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS SUS – Sistema Único de Saúde MS – Ministério da Saúde APS – Atenção Primária em Saúde ESF – Estratégia Saúde da Família USF – Unidade de Saúde da Família UBS – Unidade Básica de Saúde USFC II – Unidade de Saúde da Família de Felipe Camarão II UMFC – Unidade Mista de Felipe Camarão AME – Ambulatórios de Medicina Especializada UPA – Unidade de Pronto Atendimento UFRN – Universidade Federal do Rio Grande do Norte PSF – Programa Saúde da Família ACS – Agentes Comunitários de Saúde DSO – Distrito Sanitário Oeste NOAS – Norma Operacional da Assistência à Saúde GPAB-A – Gestão Plena da Atenção Básica Ampliada NASF – Núcleo de Apoio à Saúde da Família PMAQ – Programa Nacional de Melhoria do Acesso e da Qualidade da Atenção Básica CNES – Cadastro Nacional de Estabelecimentos de Saúde ONG – Organização Não Governamental UNI – Uma Nova Iniciativa na Formação de Profissionais de Saúde em União com a Comunidade PDA – Programa de Desenvolvimento de Área NAM – Núcleo de Amparo ao Menor PACS – Programa de Agentes Comunitários de Saúde 10 CD – Crescimento e Desenvolvimento PNH – Política Nacional de Humanização PNPIC – Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares OMS – Organização Mundial de Saúde PSE – Programa Saúde nas Escolas PNEPS-SUS – Política Nacional de Educação Popular no Sistema Único de Saúde ANEPS – Articulação Nacional de Movimentos e Práticas de Educação Popular e Saúde ABRASCO – Associação Brasileira de Pós-graduação em Saúde Coletiva SIAB – Sistema de Informação da Atenção Básica TCLE – Termo de Consentimento Livre e Esclarecido ONG – Organização Não Governamental SMS – Secretaria Municipal de Saúde 11 SUMÁRIO INTRODUÇÃO 12 1. A TRAJETÓRIA METODOLÓGICA 20 1.1 A ESCOLHA DO ESTUDO ETNOGRÁFICO 21 1.2 O CONTEXTO LOCAL DE REALIZAÇÃO DA PESQUISA: O MUNICÍPIO DE NATAL E A ESF NA REDE DE ATENÇÃO PRIMÁRIAÀ SAÚDE 23 1.3 A ESTRATÉGIA SAÚDE DA FAMÍLIA EM NATAL/RN 25 1.4 TRAÇANDO TRILHAS NO CAMINHO METODOLÓGICO: MAPEAMENTO DAS ATIVIDADES EDUCATIVAS COLETIVAS REALIZADAS NA ESTRATÉGIA SAÚDE DA FAMÍLIA EM NATAL/RN 27 1.5 A UNIDADE DE SAÚDE DA FAMÍLIA DE FELIPE CAMARÃO II COMO O LÓCUS DA PESQUISA 33 1.5.1 A escolha da USF 33 1.5.2 O bairro e a Unidade de Saúde da família de Felipe Camarão II 34 2. IMERSÃO ETNOGRÁFICA: O COTIDIANO DO TRABALHO NA UNIDADE DE SAÚDE DA FAMÍLIA FELIPE CAMARÃO II 44 3. EDUCAÇÃO EM SAÚDE NO CONTEXTO DA PROMOÇÃO DA SAÚDE 95 3.1 AS PRÁTICAS COLETIVAS DE EDUCAÇÃO EM SAÚDE NO COTIDIANO DA ESF: UM OLHAR A PARTIR DA INTEGRALIDADE 101 4. LIÇÕES APRENDIDAS 123 5. REFERÊNCIAS 127 ANEXOS 138 APÊNDICES 143 12 INTRODUÇÃO __________________________________________________________________________________ Se as coisas são inatingíveis... ora! Não é motivo para não querê-las... que tristes os caminhos, se não fora a mágica presença das estrelas! Mário Quintana 13 INTRODUÇÃO As práticas de saúde, ao longo dos anos, têm sido objeto de discussão, críticas e proposições de renovações. Nesse rol de discussões, ressaltam-se a promoção da saúde, a vigilância da saúde, a saúde da família e a redução de vulnerabilidades (AYRES, 2004). A conquista do Sistema Único de Saúde (SUS) na década de 1980 traz como desafio para sua consolidação a superação de inúmeros obstáculos. Dentre eles destaca-se a herança da estreita relação que o sistema anterior mantinha com o setor privado conveniados por meio da compra de serviços. Somam-se a isso as ideias e os valores também herdados do modelo biomédico que continuam predominantes na sociedade, na formação dos profissionais e, portanto, nas práticas cotidianas (FEUERWERKER, 2005), como por exemplo, a separação entre ações clínicas e promocionais no modelo de práticas de atenção à saúde. A partir da criação do SUS se intensificaram os discursos e as iniciativas para redirecionamento das práticas na perspectiva da promoção da saúde visando fortalecer a ideia de autonomia dos sujeitos e dos grupos sociais. Tendo como questão central dessa discussão qual a concepção de autonomia é efetivamente proposta e construída. Outra questão posta é a distinção entre os conceitos de prevenção e de promoção. Para Czeresnia (2009), há uma tendência à manutenção da ideia de prevenção e promoção, baseada na História Natural da Doença (HND), de Leavell e Clark. A prevenção nessa concepção é tida como uma ação que se antecipa ao surgimento da doença para que esta não ocorra, com predomínio do conhecimento epidemiológico, objetivando controlar a transmissão das doenças e a promoção da saúde, seria uma ampliação da prevenção se referindo às medidas que servem para aumentar a saúde e melhorar a condição de vida das pessoas. As divergências estão em se perceber essas concepções reducionistas por não considerarem a experiência subjetiva do adoecimento, tendo repercussões negativas na formulação das práticas. No dizer da autora, “o conhecimento científico e a possibilidade operativa das técnicas nas práticas de saúde deveriam ser empregados sem provocar a desconexão da sensibilidade em relação aos nossos próprios corpos” (CZERESNIA, 2009, p. 51). A ideia de promoção envolve a concepção de fortalecimento da capacidade individual e coletiva para lidar com os múltiplos fatores condicionantes da saúde. Vai além de uma aplicação de técnicas e normas. Essa concepção converge com a noção de fortalecimento da saúde através da construção da capacidade de escolha, bem como a utilização do 14 conhecimento aliado ao discernimento de atentar para as diferenças e singularidades dos acontecimentos (CZERESNIA, 2009). Apesar do debate em torno da promoção da saúde ao longo das conferências internacionais a partir da Carta de Ottawa, em 1986, no Brasil, a promoção da saúde só foi proposta como uma política institucional 18 anos após a implantação do SUS. O Ministério da Saúde (MS), reconhecendo a necessidade de implantação e implementação de diretrizes e ações para promoção da saúde em consonância com os princípios do Sistema Nacional de Saúde, lança a Portaria n. 687, em 30 de março de 2006, aprovando a Política Nacional de Promoção da Saúde (BRASIL, 2006a). Dentre os cinco campos de ação da promoção da saúde, preconizados pela Carta de Ottawa, o desenvolvimento de habilidades e atitudes pessoais pertence ao âmbito da educação em saúde. Esta deve ocorrer no lar, na escola, no trabalho e em qualquer espaço coletivo (BUSS, 2009). Considera-se que as ações de educação em saúde estão incluídas no trabalho em saúde, em caráter de complementaridade, articuladas na perspectiva do cuidado integral, podendo estar presentes nas atividades individuais, como as consultas de médicos, dentistas ou enfermeiros, ou em atividades coletivas em programas de acompanhamento ou espaços comunitários, sobretudo no âmbito da Atenção Primária. Educação em Saúde definida por Candeias (1997) refere-se a quaisquer combinações de experiências de aprendizagem que visam combinar múltiplos determinantes do comportamento humano. É uma atividade sistematicamente planejada, com vistas a facilitar, predispor, possibilitar e reforçar ações voluntárias conducentes à saúde, sem coerção, e com plena compreensão e aceitação dos objetivos educativos implícitos e explícitos nas ações desenvolvidas e recomendadas. A ação é voltada para a adoção de medidas comportamentais por uma pessoa, grupo ou comunidade para alcançar um efeito intencional sobre a própria saúde (CANDEIAS, 1997). A Educação Popular tem sido defendida como o melhor caminho para o desenvolvimento das práticas de educação em saúde na perspectiva da integralidade. Constituem-se numa forma dialógica de fazer educação e, por essa razão, é a que mais possibilita expressar condição de sujeitos individuais e coletivos. Entretanto, estudos ressaltam a predominância da prática educativa tradicional normativa e a deficiência dos sistemas locais em incentivar e dar condições para as equipes realizarem essas ações (ALBUQUERQUE; STOTZ, 2004; ALVES, 2005; HORTA et al., 2009; KANTORSKI et al., 15 2009; CARVALHO, 2009). A manutenção da prática normativa pode ser considerada uma consequência da educação em saúde desenvolvida no Brasil até a década de 1970, que consistiu basicamente em iniciativa das elites políticas e econômicas e, portanto, subordinada aos seus interesses, como nos lembra Vasconcelos (2004). O Brasil, no entanto, foi pioneiro na constituição da Educação Popular sendo Paulo Freire o primeiro intelectual a sistematizar o método que teve grande importância na redefinição de práticas sociais nos mais variados campos do saber (VASCONCELOS, 2004). Vasconcelos (idem), apropriando-se das concepções de Carlos Rodrigues Brandão, salienta que a Educação Popular busca trabalhar pedagogicamente o homem e os grupos envolvidos no processo de participação popular, fomentando formas coletivas de aprendizado e investigação, de modo a promover o crescimento da capacidade de análise crítica sobre a realidade e o aperfeiçoamento das estratégias de luta e enfrentamento. É uma estratégia de construção da participação popular no redirecionamento da vida social (BRANDÃO, 1982 apud VASCONCELOS, 2004, p. 71). O MS preconiza que todos os profissionais desenvolvam ações educativas que possam interferir no processo saúde-doença da população, na perspectiva do desenvolvimento de autonomia, individual e coletiva, na busca por qualidade de vida pelos usuários. Define a educação em saúde como uma estratégia potencializadora das ações de prevenção e promoção à saúde, fundamentada em práticas reflexivas, que possibilitem ao usuário sua condição de sujeito histórico, social e político, soba visão de uma clínica ampliada por parte dos profissionais de saúde. Desse modo, adota a educação popular como uma das possibilidades teóricas e metodológicas para transformar as tradicionais práticas de educação em saúde (BRASIL, 2007). Nesse sentido, consideramos que a educação em saúde possa estar presente nas práticas cotidianas dos serviços de saúde numa perspectiva da integralidade do cuidado. A integralidade, conforme a Constituição brasileira, é um princípio norteador do SUS, expresso como “atendimento integral, com prioridade para as atividades preventivas, sem prejuízo dos serviços assistenciais” (BRASIL, 1988, art. 198). A integralidade do cuidado imputa uma noção de cuidado que extrapole um nível de atenção do sistema, diferente de um cuidado baseado em procedimentos técnicos simplificados, e incorpora a ideia do cuidado como valor e fruto de um agir pensado, uma ação de razão pública da integralidade em saúde e do direito de cidadania (PINHEIRO; 16 GUIZARDI, 2008; PINHEIRO, 2011). O ato de cuidar é a alma dos serviços de saúde e deve ser operado com saberes tecnológicos, de expressão material e não material (MERHY, 2007b). O cuidado é uma dimensão da vida humana e no plano operativo das práticas de saúde é uma atitude terapêutica na busca ativa do sentido existencial. Para ser efetivo se estende a populações, sem descuidar dos sujeitos (AYRES, 2004; 2011a). Na Atenção Primária em Saúde (APS), sobretudo na Estratégia Saúde da Família (ESF), a articulação das ações de cura, reabilitação e de promoção deve se dar na perspectiva da integração da clínica com as ações de vigilância e de promoção da saúde. Isso pressupõe uma nova clínica com a qualificação da escuta das necessidades de saúde, na intenção de superar a relação oferta/demanda. Nessa perspectiva a integralidade assume o caráter de ação social resultante da interação democrática dos sujeitos sociais com a tarefa de garantir a vida no seu sentido mais amplo (CECÍLIO, 2001; PINHEIRO, 2011). A ampliação da clínica é uma diretriz adotada pelo MS em propostas de políticas específicas como: Política Nacional de Humanização da atenção (PNH) e da Gestão no SUS; Política de Promoção da Saúde, entre outras (BRASIL, 2008). Alguns autores ressaltam o caráter polissêmico do princípio da integralidade e a defendem como uma imagem objetivo, isto é, na perspectiva de uma bandeira de luta (MATTOS, 2001, 2004; CECÍLIO, 2001; PINHEIRO; GUIZARDI, 2008; AYRES, 2009). Estes têm fornecido contribuições importantes para se pensar e reformular as práticas no cotidiano. Mattos (2001, 2004) chama a atenção para os vários sentidos da integralidade que vão se constituindo ao longo de seu processo de construção a partir de críticas e reformulações. O primeiro conjunto de sentidos refere-se às boas práticas de saúde e estas resultam de uma redefinição radical dos processos de trabalho. Assim, a integralidade do cuidado não pode se restringir apenas às competências técnicas, há que se considerar o acolhimento, os vínculos de intersubjetividades e a escuta dos sujeitos. O segundo conjunto de sentidos diz respeito à organização dos serviços e das práticas de saúde. Estas deveriam se dar através de uma melhor articulação com as necessidades da população, de modo mais horizontalizado e dialógico, buscando romper com os programas verticalizados e cristalizados. E para o último conjunto de sentidos, o autor destaca as configurações de algumas políticas específicas, as denominadas políticas especiais, que são formuladas para dar respostas a um problema específico de saúde ou aos problemas de saúde. É relativo às respostas governamentais. O autor assinala que os sentidos da integralidade não se esgotam nos ressaltados e que só serão 17 aceitáveis se forem balizados pelo direito universal ao atendimento das necessidades de saúde (MATTOS, 2001). Para Cecílio (2001), a integralidade deve ser percebida em três dimensões: focalizada, integralizada e ampliada. Na dimensão focalizada, a integralidade resulta dos vários saberes de uma equipe multiprofissional no cotidiano dos serviços, seja este um hospital ou uma Unidade Básica. Nessa dimensão, cabe à equipe acolher o usuário com suas diversas necessidades e decodificá-las a partir de uma escuta qualificada e uma boa relação profissional/usuário. Dessa forma, a integralidade se constitui em um princípio norteador das práticas, no sentido de romper com a fragmentação e o tecnicismo tomando como referência o acolhimento, o estabelecimento dos vínculos, a intersubjetividade e a escuta dos sujeitos. Nessa perspectiva, propõe uma análise das práticas a partir de uma taxonomia para ordenar as necessidades que serão percebidas no cotidiano dos serviços e chama a atenção para a importância de uma melhor escuta, proporcionando uma tradução das necessidades rumo às boas práticas de saúde. Nas dimensões integralizada e ampliada, a integralidade resulta da articulação entre os serviços de saúde nos diversos níveis de atenção e da articulação entre outros setores externos ao da saúde, respectivamente. Essas dimensões, segundo o autor, são efetivadas a partir de uma rede integrada de serviços e ações intersetoriais. Ou seja, uma conformação de rede resolutiva cuja relação dialógica manteria o usuário acolhido em suas necessidades (CECÍLIO, 2001). Ayres (2009) propõe eixos que possibilitem uma melhor identificação das práticas na perspectiva da integralidade: o eixo das necessidades que diz respeito à qualidade e natureza da escuta, acolhimento e resposta às demandas de atenção à saúde; o eixo das finalidades que representa os graus e modos de integração entre as ações de promoção da saúde, prevenção dos agravos, tratamento de doenças/sofrimentos, recuperação da saúde e reinserção social; o eixo das articulações que se refere aos graus de modos de composição de saberes interdisciplinares, equipes multiprofissionais e ações intersetoriais e o eixo das interações referindo-se à qualidade e natureza das interações intersubjetivas no cotidiano das práticas de cuidado. A integralidade, portanto, deve orientar políticas e ações programáticas que respondam às demandas e necessidades da população no acesso à rede de cuidados em saúde, considerando a complexidade e as especificidades de diferentes abordagens do processo 18 saúde-doença e nas distintas dimensões, biológica, cultural e social do ser cuidado (CECÍLIO, 2001; MATTOS, 2001; 2004; PINHEIRO; LUZ, 2003; PINHEIRO, 2011). Destacamos que entre os autores (CECÍLIO, 2001; MERHY, 2007b; AYRES, 2011; PINHEIRO, 2011) há certo consenso quanto à integralidade no que diz respeito ao imperativo de se repensar, criar, reinventar uma nova forma de organização e de produção das ações de saúde, considerando-se, sobretudo, o fazer cotidiano e elegendo como elemento central do cuidado o usuário e suas necessidades de saúde. Consideramos que a ESF, apesar do seu caráter normativo originário e que ainda tende a ser predominante em alguns contextos municipais, abre também espaços que estimulam criação e iniciativas das equipes, o que demanda a construção de relações dialógicas entre trabalhadores, gestores e usuários nos processos de trabalho e na produção de práticas de saúde. A ideia deste estudo partiu de indagações acumuladas na experiência profissional pessoal na atenção e na gestão da ESF. Nessa perspectiva, chamou-nos a atenção a produção de práticas de educação em saúde e sua inserção nos processos de trabalho das equipes, levando-nos a interrogar se estas ocorrem de forma integrada e articulada às demais ações e se contribuem para produzir cuidado integral. No município de Natal/RN, estudos referentes às práticas educativas no âmbito da ESF (UCHÔA, 2009; OLIVEIRA; SOUZA, 2012) mostram que, ao mesmo tempo em que estas são desenvolvidas na perspectiva da promoção da saúde e da produçãodo cuidado, é possível perceber que a maioria das atividades – especialmente aquelas destinadas aos idosos acometidos de hipertensão e/ou diabetes, às gestantes e às crianças – é desenvolvida na perspectiva do controle e prevenção de doenças, em uma abordagem tradicional de vigilância da saúde. As atividades que imprimem ações não convencionais e inovadoras estão presentes em poucas Unidades de saúde, o que sugere serem iniciativas profissionais locais, com pouco ou nenhum apoio institucional. A presente pesquisa pretendeu investigar as práticas de educação em saúde na ESF, tendo como eixo orientador a integralidade, e para tanto buscou responder às seguintes questões: - Como se dão as práticas coletivas de educação em saúde na ESF? - Qual o lugar que essas práticas ocupam no processo de trabalho em saúde? - Como essas práticas se produzem na perspectiva da produção do cuidado integral? 19 Para dar respostas a tais questões, definimos como objetivo geral da investigação compreender como se dá a inserção das práticas de educação em saúde nos processos de trabalho de equipes da ESF tendo como eixo orientador a integralidade e elegemos uma Unidade de Saúde da Família (USF) no município de Natal como o locus de nossa investigação, a partir de mapeamento preliminar das ações de educação em saúde desenvolvidas na ESF do município de Natal/RN. A partir desse objetivo geral, definimos os seguintes objetivos específicos: Identificar como se dá a inserção das práticas de educação em saúde nos processos de trabalho das equipes de uma USF – a USF Felipe Camarão, Distrito Sanitário Oeste, Natal/RN. Analisar a relação entre as ações coletivas de educação em saúde e as práticas clínicas assistenciais desenvolvidas pelas equipes. Identificar articulações das ações coletivas desenvolvidas na USF com outros setores externos ao da Saúde. Realizar esta pesquisa possibilitou termos um olhar ampliado para as possibilidades da integralidade como imagem objetivo. Dessa forma, esperamos que seus resultados, aqui compartilhados, possam contribuir para reflexões sobre a inserção da educação nas práticas de saúde e para identificação de potencialidades de superação dos problemas e desafios que, atualmente, dificultam a construção de práticas de promoção da saúde articuladas e integradas à produção do cuidado. 20 A TRAJETÓRIA METODOLÓGICA __________________________________________________________________________________ “Não se pode percorrer duas vezes o mesmo rio [...] por causa da impetuosidade e da velocidade da mutação, esta se dispersa e se recolhe, vem e vai”. Heráclito de Éfeso 21 2. A TRAJETÓRIA METODOLÓGICA 2.1 A ESCOLHA DO ESTUDO ETNOGRÁFICO No momento que procuramos compreender como se dá a produção das práticas de educação em saúde desenvolvidas na ESF, à luz da integralidade do cuidado, identificamos na abordagem qualitativa um caminho metodológico com maior aproximação ao objeto e aos objetivos da investigação, uma vez que tal abordagem permite lidar com a subjetividade, com as relações produzidas, com os valores e com as concepções presentes na produção de saúde no cotidiano do trabalho em saúde. Optamos por fazer um estudo etnográfico. O método etnográfico define-se, sobretudo, pela observação participante e pelas técnicas de entrevistas para a coleta de dados na perspectiva de apreender o fenômeno nos contextos em que ocorrem. Para isso, é preciso uma sensibilidade aguçada e uma atenção meticulosa a tudo que está relacionado ao objeto de estudo. Este tipo de pesquisa requer o confronto contínuo do pesquisador com seu horizonte teórico e o exercício constante de sua autorreflexão e crítica (COSTA; GUALDA, 2010; ESTEBAN, 2010). Apesar de ter surgido com o objetivo de estudar aldeias exóticas e distantes, com interesse na totalidade da vida social, a etnografia é praticada hoje em qualquer situação, inclusive na própria cultura do pesquisador. “A etnografia é a arte e a ciência de descrever um grupo humano – suas instituições, seus comportamentos interpessoais, suas produções materiais e suas crenças” (ANGROSINO, 2009, p. 30). Nessa perspectiva, optamos por ferramentas metodológicas da antropologia para nos aproximarmos da dinâmica do grupo social estudado – equipes de saúde da família e usuários de uma USF – auxiliando na compreensão do sentido das experiências e das estratégias que o grupo lança mão para enfrentar o cotidiano do trabalho em saúde e, ao mesmo tempo, possibilitando-nos reflexões. Corroboramos a afirmação de que é através da cultura que as pessoas expõem suas visões de mundo, suas estratégias de enfrentamento às adversidades. A etnografia tem como objetivo compreender o ponto de vista do outro, sua relação com a vida e a visão do seu próprio mundo (MALINOWSKY, 1984). Para Laraia (1993) a cultura interfere na satisfação das necessidades fisiológicas básicas e pode condicionar outros aspectos biológicos, ou até mesmo decidir sobre a vida e a morte dos membros de um sistema cultural. Todo sistema cultural tem sua própria lógica, 22 portanto a coerência de um hábito cultural só pode ser analisada mediante o sistema a qual pertença. No entanto, a ciência não depende da dicotomia entre o pensamento mágico e o científico e sim de instrumentos de observação. Como lembra Levis Strauss citado por Laraia (1993), o sábio nunca dialoga com a natureza pura, senão com um determinado estado de relação entre a natureza e a cultura em que vive e a civilização que é a sua e os meios materiais que dispõem. Para Geertz (1989) o conceito de cultura diz respeito às teias de significados tecidas pelo próprio homem e sua análise. Nesse sentido, a etnografia se constitui numa experiência interpretativa na qual o pesquisador percebe com que, ou por meio de que, ou através de que seus informantes percebem o fenômeno. [...] praticar etnografia é estabelecer relações, selecionar informantes, transcrever textos, levantar genealogias, mapear campos, manter um diário, e assim por diante. Mas não são essas coisas, as técnicas e os procedimentos determinados, que definem o empreendimento. O que o define é o tipo de esforço intelectual que ele representa: um risco elaborado para uma “descrição densa” [...] (GEERTZ, 1989, p. 15). A etnografia é um processo conduzido com uma sensibilidade reflexiva, tomando em conta a própria experiência no campo junto às pessoas com as quais o antropólogo trabalha. O texto terá grande importância, pois é na forma de texto que ocorre a interpretação e esta, por sua vez, pode ser múltipla. Todo texto pode ser passível de diferentes interpretações a depender dos diferentes leitores e de seus pontos de vista, visões e concepções de mundo (GEERTZ, 1989). Por essa razão, o texto deve ser uma tradução mais fiel possível à experiência vivida. A observação participante foi formalizada por Malinowski e se constituiu numa inovação nas pesquisas de campo, no sentido de captar os significados que permeiam a vida social investigada. Soma-se a esta o trabalho de coleta sistemática de dados, a interpretação e integração da vivência empírica de modo a recriar a totalidade vivida e apreendida pela intuição do pesquisador. Antes de se iniciar um relato etnográfico, é essencial fazer uma descrição clara e honesta dos métodos utilizados, em que condições foram realizadas o estudo, os resultados da observação direta, e das declarações e interpretações nativas (MALINOWSKI, 1984). No presente estudo, optamos pela observação participante como principal fonte de coleta de dados que foram registrados em diário de campo. No projeto de pesquisa, previmos 23 a realizaçãode entrevistas com profissionais e usuários. No entanto, no desenvolvimento da pesquisa, optamos por manter apenas a observação a partir da imersão no campo, em que ocorreram diversas conversas com profissionais e usuários as quais foram registradas em diário, tornando desnecessárias as entrevistas com profissionais com roteiro semiestruturado como havia sido previsto. Realizamos essas entrevistas apenas com usuários. As conversas com informantes-chave foram sendo realizadas ao longo da observação e, ao final do período de observação, buscou-se identificar registros a partir da leitura dos prontuários clínicos dos participantes do grupo de idosos relativos às articulações entre as ações clínicas assistenciais e as ações de promoção. Antes de apresentarmos a descrição narrativa de nosso percurso etnográfico, apresentaremos alguns procedimentos metodológicos que precederam a imersão da pesquisadora no campo e produção propriamente dita na etnografia. 2.2 O CONTEXTO LOCAL DE REALIZAÇÃO DA PESQUISA: O MUNICÍPIO DE NATAL E A ESF NA REDE DE ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE O município de Natal, capital do Estado do Rio Grande do Norte, região Nordeste do Brasil, fundado em 25 de dezembro de 1599, possui 803.739 habitantes, segundo censo demográfico de 2010. Deste total, 47% são de habitantes do sexo masculino e 53% do sexo feminino (NATAL, 2012). O município está dividido, para fins organizativos dos serviços de saúde, em cinco distritos sanitários: Norte I e II, Sul, Leste e Oeste, conforme Lei Complementar n.º 061 de 02/06/2005, Decreto n.º 7.642 de 10/06/2005 (NATAL, 2005). Em 2007, o município contava com sessenta Unidades Básicas de Saúde (UBS) em sua rede própria de serviços de saúde, das quais trinta e cinco são organizadas através da ESF. Somando-se aos demais serviços a rede própria totalizava oitenta serviços de saúde (NATAL, 2007). No relatório municipal de saúde do ano de 2003 (NATAL, 2003), a proposta de expansão da ESF seria para 70% da população de Natal, considerando a população de 2002, o que totalizaria o quantitativo de 174 equipes. Meta, portanto, não alcançada e foi mantida no plano municipal com vigência 2006-2009 (NATAL, 2006). No entanto, no momento de realização desta pesquisa, compreendido entre a elaboração do projeto que se deu no período de outubro de 2011 a março de 2012 e a imersão da pesquisadora em campo, no período de agosto de 2012 a janeiro de 2013, o município de 24 Natal vivenciou situação político-governamental caracterizada como de extrema gravidade produzida pelo abandono das políticas públicas pelo poder público, evidenciado na gestão municipal que assumiu a Prefeitura no período 2008/2012. Entre os setores atingidos, o sistema de saúde teve evidência especial, sobretudo, pelo sucateamento da rede de APS. A situação pode ser identificada em registros da mídia televisiva, impressa e veiculada na internet, de denúncia da grave crise na saúde e nas demais políticas públicas municipais, com descaso, adoção de privatização do público, corrupção, o que culminou com intervenção do Ministério Público e decisão do Poder Judiciário de afastamento de cargo da representante do Executivo no dia 31 de outubro de 2012 (G1 RN, 31/10/2012). A partir de então, assumiu o Vice-Prefeito para finalizar o mandato que se encerrou em 31 de dezembro de 2012. O quadro da situação da cidade naquele momento era de esgotamento do funcionamento dos equipamentos públicos, acúmulo de lixo nas ruas, interrupção do ano letivo na Rede de Ensino Municipal e aumento da precariedade das condições de funcionamento das UBS (FOLHA DE SÃO PAULO, 2012). Após o pleito eleitoral municipal de 2012, espera-se que a transição governamental entre a atual e a nova gestão eleita permita amenizar a situação com instalação de força tarefa local e das demais esferas federadas (Estado e União) para recuperação emergencial da capacidade de funcionamento dos serviços básicos de educação, saúde, saneamento e recuperação das vias urbanas. A presente pesquisa foi produzida nesse contexto político-governamental, caótico e de desgoverno, que teve repercussões na vida das pessoas e em todos os setores públicos da cidade. Na rede de serviços de saúde imperou o sucateamento das Unidades existentes com fechamento de algumas delas por falta de condições estruturais, a omissão da gestão em suas responsabilidades mínimas para assegurar o funcionamento dos serviços, equipes de saúde da família incompletas, diminuição da cobertura populacional para menos de 29% da população (CNES, 2012), terceirização de serviços, desabastecimento da rede básica, sucateamento das estruturas físicas e dos equipamentos. Algumas Unidades que funcionam em casas alugadas ficaram em situação de solicitação de despejo por falta de pagamento do aluguel. Soma-se a tudo isso o descaso com a gestão do trabalho em saúde, refletido na ausência de um acompanhamento sistemático das equipes, na falta de valorização do fazer dos profissionais e falta de educação permanente das equipes. A estruturação de serviços de saúde que se configurou naquele momento distanciou-se cada vez mais da noção de redes articuladas e coordenadas pela atenção básica. Foram criados 25 os denominados Ambulatórios de Medicina Especializada (AME), que ofertam os mesmos serviços já realizados nas UBS e policlínicas; as Unidades de Pronto Atendimentos (UPAs) não têm qualquer articulação com o sistema de serviços municipal. Muitos de seus atendimentos não são caracterizados como urgência e poderiam ser realizados na rotina ambulatorial das UBS, desde que estas estivessem bem equipadas e em pleno funcionamento. Esses novos serviços implantados têm gestão terceirizada e os trabalhadores são vinculados às empresas contratadas que se credenciaram como Organização Social para gerir serviços públicos. Em meio ao desgoverno municipal, ocorreu também nesses serviços atraso de pagamento de vencimentos dos trabalhadores. Apesar desse contexto desfavorável, que estimula práticas descomprometidas com a construção do SUS, identifica-se profissionais que buscam formas de resistir e de manter seu compromisso profissional com os usuários e com a qualificação dos serviços, no sentido de fazer articulações e mediações frente ao contexto caótico, tentando manter inciativas criativas e habilidades adquiridas ao longo de suas trajetórias profissionais. Em mapeamento das atividades coletivas existentes nas Unidades de Saúde do munícipio de Natal, realizado entre janeiro e março de 2012 (OLIVEIRA; SOUZA, 2012) identificamos algumas iniciativas que podemos considerar inovadoras e cuja sustentabilidade se deve à capacidade de resistência e de autonomia das equipes locais em seus processos de trabalho. Esse mapeamento permitiu aproximarmo-nos do universo da pesquisa e definirmos a escolha da Unidade de Saúde a ser pesquisada. 2.3 A ESTRATÉGIA SAÚDE DA FAMÍLIA EM NATAL/RN A ESF no município de Natal-RN foi implantada no ano de 1998, com caráter programático à semelhança dos demais municípios do Brasil e com a denominação de Programa Saúde da Família (PSF). Conforme Portaria nº 1886/GM, as Equipes de Saúde da Família seriam compostas cada uma por um médico, um enfermeiro, dois auxiliares de enfermagem e cinco Agentes Comunitários de Saúde (ACS) (BRASIL, 1997). Naquele ano, iniciou-se sua implantação em quatro Unidades de Saúde do Distrito Sanitário Oeste (DSO), escolhidas por critérios técnico-institucionais, epidemiológicos e sócio-sanitários (ROCHA, 2000). Segundo essa autora, o processo de implantação do então PSF, no município de Natal, ocorreu com pouco comprometimento institucional, tendo como um dos fatores limitantes as sucessivas mudanças de Secretários Municipais de Saúde em 26 curto intervalo de tempo, naquele período, provocando “uma sistemática descontinuidade de ações” (ROCHA, 2000,p. 42). No momento da implantação do PSF, Natal já contava com uma rede ambulatorial com equipes multiprofissionais com a presença de médicos pediatras, ginecologistas e clínicos gerais, dentistas, enfermeiros, psicólogos, nutricionistas, assistentes sociais. O processo de implantação foi realizado com caráter competitivo, substitutivo e reducionista, no interior da APS, deixando de fora aqueles profissionais que já estavam em UBS, mas não faziam parte da composição prevista pelo PSF. A coexistência dos dois modelos em algumas Unidades, com profissionais percebendo distintos vencimentos e trabalhando em cargas horárias diferenciadas, parece ter produzido insatisfação e dificultado a operacionalização de ambos os modelos, além de reforçar a dicotomia entre o PSF e o modelo tradicional no âmbito da Atenção Básica. O MS, em 2002, incentivou a condição de gestão plena dos municípios ampliando o piso da Atenção básica e suas competências através da NOAS-SUS 01/2002 (BRASIL, 2002). Cinco anos depois, considerando a expansão do PSF no país, lançou a portaria de nº 648, transformando-o na estratégia prioritária para reorganização da atenção básica no país, incorporando os princípios e as diretrizes propostas no Pacto pela Saúde 2006 firmado entre esferas de governo. Neste contexto, propõe a desfragmentação do financiamento da Atenção Básica (BRASIL, 2006c). O município de Natal assume, então, a condição de Gestão Plena da Atenção Básica Ampliada (GPAB-A) e passa a considerar a ESF o modelo de reorganização da atenção básica, propondo 100% de cobertura populacional para os Distritos Norte e Oeste e parte dos Distritos Leste e Sul. Assim, o município manteria a coexistência dos dois modelos de organização das práticas: Unidades de Saúde organizadas na lógica da ESF nos distritos Norte e Oeste e as Unidades Básicas de Saúde tradicionalmente organizadas com equipes multiprofissionais nos locais em que ainda não fosse possível implantar a ESF (NATAL, 2003). Em 2010, o município de Natal implantou os Núcleos de Apoio à Saúde da Família (NASF), o que oportunizou a inserção de outros profissionais na ESF. Contudo, a implantação desses núcleos está ocorrendo de forma lenta e precária. Foram implantados três NASF, com o propósito de apoiar oito equipes cada, distribuídos da seguinte forma: 01 (um) no Distrito Sanitário Norte I; 01(um) no Distrito Sanitário Norte II e 01(um) Distrito Sanitário Oeste. No momento final da pesquisa de campo, o município contava com 37 USF (uma temporariamente desativada) com 114 equipes implantadas, distribuídas nos cinco Distritos 27 Sanitários (Quadro 1). Contudo, existe nessas equipes o desfalque de alguns profissionais, sobretudo, médicos e auxiliares de saúde bucal. Dessas 114 equipes, apenas 31 fizeram adesão ao Programa Nacional de Melhoria do Acesso e da Qualidade da Atenção Básica (PMAQ). O desfalque de profissionais nas equipes promoveu uma redução no índice de cobertura da ESF no Cadastro Nacional de Estabelecimentos de Saúde (CNES). No mês de novembro de 2012 a cobertura da ESF correspondia a menos de 29% da população, com 59 equipes de saúde da família e 44 equipes de saúde bucal (CNES, 2012). Quadro 1 – Distribuição das Unidades de Saúde no município de Natal por distrito Sanitário, 2011. DISTRITO NORTE I DISTRITO NORTE II DISTRITO OESTE DISTRITO LESTE DISTRITO SUL USF Gramoré USF Panatis USF Bom Pastor USF Aparecida USF Planalto** USF Redinha USF Potengí USF Nazaré* USF Guarita USF Vista Verde USF Santarém* USF Nova Cidade USF Paço da Pátria USF África* USF Igapó USF Monte Líbano USF Rocas USF José Sarney USF Vale Dourado USF Cidade Nova USF Cidade Praia USF Santa Catarina USF Bairro Nordeste USF Pompéia USF Soledade I USF Guarapes USF Nova Natal I USF Soledade II USF km 6 USF Nova Natal II USF Parque dos Coqueiros USF Felipe Camarão I USF Nordelândia USF Parque Das Mangueiras USF Felipe Camarão II USF Parque das Dunas USF Felipe Camarão III Fonte: Quadro elaborado através de consulta ao site da prefeitura (2011). *funciona também um NASF. **USF temporariamente desativada. 2.4 TRAÇANDO TRILHAS NO CAMINHO METODOLÓGICO: MAPEAMENTO DE ATIVIDADES EDUCATIVAS COLETIVAS NA ESTRATÉGIA SAÚDE DA FAMÍLIA EM NATAL/RN Com o objetivo de se fazer uma primeira aproximação ao objeto de estudo, durante os meses de outubro e novembro de 2011, realizou-se um inquérito nas USF, no município de Natal, por telefone, com o objetivo de identificar as atividades educativas desenvolvidas no âmbito da ESF, cujo resultado está descrito no Quadro 2 a seguir. 28 Quadro 2 – Atividades educativas coletivas realizadas nas USF do município de Natal, novembro de 2011 1 DISTRITO PÚBLICO ALVO ATIVIDADES DESENVOLVIDAS PERIODICIDADE PROFISSIONAIS ENVOLVIDOS NORTE I E NORTE II Idosos ou hipertensos e diabéticos. Gestantes. Crianças. Adultos. Adolescentes. Fumantes. Palestras e rodas de conversa. Danças folclóricas. Relaxamento, Caminhada. Trabalhos artesanais. Terapia comunitária. Tenda do conto. Mensal e quinzenal na maioria dos grupos, com exceção das caminhadas, que ocorrem duas a três vezes por semana. De acordo com a temática define-se a participação dos profissionais. Na coordenação das atividades predomina a enfermeira. Nas caminhadas, a participação efetiva é do profissional de Educação Física e de ACS. OESTE Idosos ou hipertensos e diabéticos. Gestantes. Crianças. Adultos. Profissionais. Palestras e rodas de conversa. Danças folclóricas. Relaxamento. Caminhada. Trabalhos artesanais. Meditação. Práticas integrativas. Cantos religiosos. Mensal e quinzenal na maioria dos grupos, com exceção das caminhadas, que ocorrem duas a três vezes por semana. De acordo com a temática define-se a participação dos profissionais. Na coordenação das atividades predomina a enfermeira. Nas caminhadas, a participação efetiva é do profissional de Educação Física, alunos do PET Saúde. LESTE Idosos ou hipertensos e diabéticos. Gestantes. Crianças. Adultos. Palestras e rodas de conversa. Relaxamento. Caminhada. Trabalhos artesanais. Mensal e quinzenal na maioria dos grupos, com exceção das caminhadas, que ocorrem duas a três vezes por semana. Equipes das USF. Alunos do PET Saúde. Nutricionista. Fonte: Quadro elaborado através de inquérito telefônico para mapeamento das atividades educativas em Unidades da ESF em Natal, RN, 2011. No mês de janeiro de 2012, com o objetivo de complementar a caracterização das atividades referidas no inquérito por telefone aplicou-se um formulário de questões nas USF do município de Natal, conforme Apêndice D. A aplicação do formulário se deu, em sua maioria, pela própria pesquisadora e, em cinco Unidades de Saúde, por profissionais do NASF. Nas USF, o primeiro contato da pesquisadora foi realizado com a enfermeira e caso esta estivesse sem disponibilidade de tempo ou estivesse ausente, outro profissional participante da atividade seria convidado a responder o formulário. Responderam ao formulário diretamente com a pesquisadora: 16 1 O Distrito Sul não está no quadro porque só existe uma USF e no momento da pesquisa estava interditada 29 (dezesseis) enfermeiras, 7 (sete) dentistas, 4 (quatro) Agentes Comunitários de Saúde e 3 (três) técnicas de enfermagem. O conteúdo das questões nos formulários referiu-se ao quantitativo de atividades coletivas realizadas; ao número de equipes por Unidade e quantas estariam completas; à periodicidade e quem seria o principal responsável pela atividade; à média de participantes; ao espaço onde se realizavam as atividades; às dificuldades encontradas na realização das atividades; aoque seria identificado como inovador; ao que motivaria a criação dos grupos e, por último, que efeitos seriam identificados na saúde das pessoas mediante a participação nos grupos. Foram preenchidos trinta e quatro formulários dos trinta e sete previstos. Três USF ficaram de fora desse levantamento: duas por estarem com as atividades coletivas paralisadas e não foi possível falar com o profissional inserido nas atividades e uma que estava desativada temporariamente. Das 34 Unidades que preencheram os formulários apenas oito apresentaram todas as equipes completas; cinco funcionavam sem nenhum médico da ESF. Em algumas delas a equipe contava com médicos contratados temporariamente através de uma cooperativa. No entanto, esses profissionais trabalhavam em regime de vinte horas e não eram suficientes para atuar junto à equipe no modelo preconizado pela ESF. Ao se referirem às dificuldades, em todas as USF os profissionais relataram falta de apoio da instituição, principalmente logístico. Muitos elencaram falta de espaço e alguns citaram a adesão do público-alvo e ao pouco envolvimento da equipe. Quanto ao caráter inovador na atividade realizada, em sua maioria, os profissionais responderam questões referentes ao próprio desenvolvimento da atividade, o que pode ser interpretado como não compreensão da questão. No entanto, alguns relatam o envolvimento da equipe, a parceria com outros setores, a abordagem diferente da tradicional e a aprendizagem constante. Quadro 3 – Caracterização das atividades educativas coletivas realizadas nas USF, Natal, RN, março de 2012. ATIVIDADE DESCRIÇÃO USF “HIPERDIA” (IDOSOS) Encontros mensais que proporcionam a atualização da medicação. Promovem-se palestras, rodas de conversas acerca do processo de adoecimento. Geralmente são realizados por equipe, com a presença da maioria dos profissionais da equipe da área, e ocorrem mensalmente. 20 A TENDA DO CONTO Atividade que conta com narrativas dos participantes acerca dos mais variados temas relativos à suas vidas. Constitui-se em um espaço de fala e escuta aberto para todos: profissionais, usuários, estudantes. A tenda acontece numa perspectiva de tecer redes de apoio e solidariedade, fortalecer vínculos, trocar experiências e vivências. Há participação 02 30 efetiva de vários profissionais. Ocorre mensalmente. A TAPERA DA FALAÇÃO Atividade inspirada na “Tenda do Conto” que se diferencia por ter o propósito de fazer as pessoas sorrirem, e evitam falar de coisas tristes. Convidam artistas locais e realizam atividades que integram saúde, cultura e lazer. É coordenada por uma técnica de enfermagem. Ocorre mensalmente. 01 OS CINCO MINUTOS PELO SUS Atividade de sala de espera, que conta com um breve relato de um dentista acerca do SUS, acompanhado pelo som de um violão. Ocorre quase que diariamente. 01 A CALÇADA AMIGA Atividade realizada através de debate com os usuários acerca dos agravos que estejam acometendo em uma determinada microárea. É realizada pela equipe responsável pela área em questão. Ocorre de acordo com a ocasião exigida em cada momento/situação. 01 A TERAPIA COMUNITÁRIA Atividade realizada com os usuários que se constitui em um espaço de reflexão do sofrimento causado por situação estressante, na perspectiva da valorização das histórias de vida e o resgate das identidades. Ocorre semanalmente. 02 CURSO OU GRUPO DE GESTANTES Atividades que em sua maioria se dão na perspectiva da preparação da mulher para o parto e para facilitar sua adesão ao planejamento familiar. Ocorre semanalmente, ou quinzenalmente. 18 AS DANÇAS FOLCLÓRICAS O carimbó, o pastoril, a dança da peneira, e outras expressões culturais como o teatro, são realizados na perspectiva do resgate cultural e de proporcionar momentos de lazer e descontração. Periodicidade varia conforme a USF. 05 ADOLESCENTE Discussões de assuntos pertinentes à idade. Ocorre mensalmente. 03 O LIAN GONG, TAI CHI CHUAN, YOGA Atividades físicas praticadas em algumas Unidades de saúde. Em uma Unidade a yoga é realizada com os profissionais.A periodicidade varia conforme a USF 02 CANTOS E ORAÇÕES Atividade realizada com os idosos com o propósito de buscar “paz e equilíbrio”. Ocorre semanalmente. 01 A CAMINHADA Atividade que teve início com a presença de um profissional de educação física nas Unidades e que foi potencializada pela Política de Promoção da Saúde. Ocorre semanalmente (2 a 3 vezes por semana). 25 O BEBÊ SORRISO Atividade de prevenção às doenças bucais, destinada a crianças de zero a cinco anos. Geralmente acontece integrada à atividade de acompanhamento do crescimento e desenvolvimento da criança (CD). A periodicidade varia conforme a USF. 03 O AUTO DE NATAL Utiliza a ferramenta do teatro trabalhando o lúdico, propondo-se a respeitar a cultura, promover o exercício da cidadania e a reorientar práticas que incidem sobre as condições e modos de vida da população. O grupo se prepara durante o ano para se apresentar no período natalino. 01 VINDO AO MUNDO ACOLHIDO POR UMA NOVA ESTRATÉGIA Atividade realizada pela equipe de saúde bucal com as mães internadas na maternidade de Felipe Camarão no intuito de complementar as ações de humanização ao parto, existentes na Unidade. Ocorre diariamente. 01 Fonte: Mapeamento de atividades coletivas de educação em saúde em Unidades da ESF, em Natal, RN a partir de resposta à formulário, março de 2012. Conforme identificado no Quadro 3, constatamos que a maioria das USF realiza algum tipo de atividade de educação em saúde com grupos, principalmente, com idosos acometidos de hipertensão e/ou diabetes, gestantes, crianças menores de cinco anos e, em um número bastante reduzido, com adolescentes. O enfoque nas condições crônicas é justificado em virtude destas serem responsáveis por dois terços da carga de doença e são resultantes das 31 condições agudas, como refere documento do Conselho Nacional de Secretários de Saúde (BRASIL, 2009). A maioria das ações coletivas é desenvolvida para controle e prevenção de doenças, na perspectiva da tradicional vigilância da saúde. São atividades realizadas por meio de palestras ou rodas de conversa. No entanto, ficou evidente que algumas equipes identificam a necessidade de pensar novas estratégias e de intervir em condições mais gerais da produção de saúde, papel fundamental da APS. Neste sentido encontramos algumas Unidades que desenvolvem atividades que proporcionam momentos de vivências do folclore como as danças do Carimbó, Pastoril e outras manifestações populares. Outras realizam ações coletivas envolvendo pessoas desvinculadas de algum agravo como é o caso das atividades com trabalhos manuais, da “Tenda do Conto”, da “Calçada Amiga”, do “Os Cinco Minutos pelo SUS”. Há outras com foco mais específico na promoção da saúde como o “Lian Gong”, a caminhada com os idosos, os grupos de gestantes e a atividade de orientação coletiva às mães no CD (Crescimento e Desenvolvimento da criança) a qual se insere a orientação à saúde bucal (Bebê Sorriso). A Tenda do Conto é realizada nas USF de Panatis e Soledade I articulada por enfermeiras, porém com forte envolvimento da equipe. Teve início nas reuniões com os idosos e, diante da presença de pessoas mais jovens, a tenda transformou-se em espaço de fala e escuta aberto a profissionais, usuários, estudantes. Atualmente se constitui em uma atividade itinerante, passando por outras Unidades pertencentes a outros distritos. Segundo a enfermeira responsável por sua criação, a tenda acontece numa perspectiva de tecer redes de apoio e solidariedade, fortalecer vínculos e trocar experiências e vivências. A USF de Potengi, inspirada na “Tenda do Conto” realiza atividade denominada de “Tapera da Falação”. Segundo a técnica de enfermagem, profissional responsável pela atividade, há o diferencial defazer as pessoas sorrirem e, ao invés de falar de coisas tristes, convidam artistas locais e realizam atividades que integram saúde, cultura e lazer. A atividade de sala de espera, denominada “Cinco Minutos pelo SUS”, é realizada na USF de Panatis e conta com um breve relato de um dentista acerca do SUS, acompanhado pelo som de um violão. A Calçada Amiga é realizada na USF de Cidade Nova com a participação da equipe. Debate-se com os usuários acerca dos agravos que estejam acometendo uma determinada microárea de atuação das equipes. A Terapia Comunitária acontece em algumas Unidades de Saúde do Distrito Sanitário Norte (Cidade Praia, Gramoré), coordenada por uma psicóloga do NASF e conta com a 32 participação da equipe das Unidades. Constitui-se em espaço para reflexão do sofrimento causado por situação estressante, na perspectiva da valorização das histórias de vida e o resgate das identidades. A atividade com as gestantes, em sua maioria coordenada por enfermeiras, acontece na perspectiva da preparação da mulher para o parto e para facilitar sua adesão ao planejamento familiar. É realizada em várias Unidades distribuídas em todos os distritos. As Danças do Carimbó, o Pastoril e outras estão presentes nas USF de Felipe Camarão II, Potengi e Cidade Praia. Na USF de Felipe Camarão II, o pastoril recebe a denominação de “Pastoril do Peixe Boi Encantado” e é composto por pessoas de faixas etárias variadas, dos nove aos setenta e dois anos, com predomínio do sexo feminino (86%). Ainda na USF de Felipe Camarão II, a partir da experiência com a comunidade no pastoril, existe um grupo teatral que encena o Auto de Natal, que se constitui numa experiência que usa o teatro para trabalhar o lúdico, propondo-se a respeitar a cultura, promover o exercício da cidadania e a reorientação de práticas que incidem sobre as condições e modos de vida da população. A atividade de caminhada realizada com os idosos está presente na maioria das Unidades de Saúde distribuídas em todos os Distritos. É uma atividade que teve início com a presença de um profissional de educação física nas Unidades e que foi potencializada com a política de promoção da saúde. No entanto, ainda se restringe à participação do profissional de educação física e algum ACS. O Lian Gong é praticado na USF de Nova Cidade, no Distrito Sanitário Oeste, e na USF de Potengi, Distrito Sanitário Norte, que também pratica o tai chi chuan. Ainda na USF de Nova Cidade acontece uma atividade de cantos e orações com os idosos, denominada “Paz e Equilíbrio”. O “Bebê Sorriso” é uma atividade de prevenção às doenças bucais, destinada a crianças de zero a cinco anos, e acontece nas USF de Nova Cidade e Km 6. A mesma atividade acontece em outras Unidades de forma integrada às ações do CD, como é o caso da USF de Felipe Camarão II e da USF de Felipe Camarão Mista. Nesta também é desenvolvida atividade voltada para os cuidados que as mães devem ter com seus recém-nascidos, na perspectiva de prevenir as doenças da cavidade bucal. É realizada com as mães internadas na maternidade no intuito de complementar as ações de humanização ao parto, existentes naquela Unidade. 33 Na USF de Bom Pastor é realizada uma atividade na perspectiva da promoção da saúde dos profissionais, por uma médica homeopata da própria Unidade, e consiste na realização da prática de yoga. 2.5 A UNIDADE DE SAÚDE DA FAMÍLIA DE FELIPE CAMARÃO II COMO O LÓCUS DA PESQUISA 2.5.1 A escolha da USF Os dados do mapeamento das atividades educativas desenvolvidas no âmbito da ESF no município de Natal (OLIVEIRA; SOUZA, 2012) balizaram a escolha da Unidade de Saúde a ser estudada, através de critérios de inclusão descritos a seguir. Para inclusão consideramos: - Unidades que realizam atividades coletivas de educação em saúde. Entre as trinta e sete (37) Unidades de Saúde da Família existentes no município, trinta e quatro (34) foram incluídas nesse critério. Duas Unidades estavam com as atividades paralisadas por motivo de reforma e outra estava interditada. - Unidades com tempo mínimo de dois anos de existência de alguma atividade de educação em saúde. Vinte e sete (27) Unidades de saúde contemplaram esse critério. - Unidades com o maior tempo de implantação da ESF no município. Três (03) Unidades de Saúde incluíram-se nesse critério, todas localizadas no Distrito Sanitário Oeste (DSO). Entre as três Unidades selecionadas a partir dos critérios descritos, consideramos a natureza do estudo e a sua viabilidade operacional para escolha intencional daquela com melhores condições de viabilidade para realização do estudo. Selecionamos a USF de Felipe Camarão II porque, além de contemplar todos os critérios de inclusão e estar localizada em área do DSO, tem o diferencial do acúmulo de experiências ao longo de 14 anos, com atividades educativas e coletivas de longa duração, o que confere certo grau de sustentabilidade. Contribuiu ainda para a escolha dessa Unidade de Saúde o fato dela ter a colaboração do NASF e a adesão de três de suas quatro equipes ao PMAQ. Mediante a conjuntura de precarização dos serviços, no momento de realização da pesquisa, esses aspectos constituiriam em uma melhor perspectiva de viabilidade operacional da pesquisa. 34 2.5.2 O bairro e a Unidade de Saúde da família de Felipe Camarão II Dos cinco Distritos do município de Natal, o DSO é o que possui os mais baixos indicadores de qualidade de vida: alto índice de analfabetismo, desemprego, precárias condições de moradia e alto índice de violência. Esse distrito é formado por oito bairros, sendo um deles o de Felipe Camarão que possui uma população de 50.997, com predominância do sexo feminino correspondendo a 51,18%. O referido bairro possui grande extensão territorial e alta densidade demográfica, onde 92,66% dos domicílios são compostos de casas, com um percentual de 68,79% próprias e 25,94% alugadas. 65,68% da população estão na faixa economicamente ativa. A renda per capta domiciliar está entre menos de meio a um salário mínimo e constitui pouco mais de 65,15% da população, segundo dados do IBGE, 2010 (NATAL, 2012). Dentre as organizações e equipamentos sociais existentes no bairro de Felipe Camarão, encontram-se clube de mães, escolas de 1º e 2º graus, Unidades de saúde pública, igrejas católicas, evangélicas, centros espíritas, creches, feiras públicas, fundação filantrópica e uma empresa de transportes urbanos (ALCÂNTARA, 2007). O bairro de Felipe Camarão se localiza distante da região central e antes era uma área de granjas e terrenos de proprietários privados. A cultura popular se destaca por ter abrigado dois dos maiores representantes do Rio Grande do Norte: o mamulengueiro 2 Chico Daniel e o Mestre Manoel Marinheiro. Este, responsável pelos ensinamentos e perpetuação da dança folclórica Boi de Reis (ALCÂNTARA, 2007). É um bairro que conta com presença significativa de Organização Não Governamental (ONG), desenvolvendo projetos com propósitos de redução de vulnerabilidades sociais. Dentre estes, destacou-se, na década de 1990, o projeto UNI 3 e, atualmente, os projetos Conexão Felipe Camarão e o Programa de Desenvolvimento de Área (PDA), respectivamente, através das ONGs Companhia TerrAmar e Visão Mundial. A conexão Felipe Camarão, desde 2 Também denominado de Calungueiros – arte de fazer o João-Redondo – um teatro rústico de bonecos que começou nos velhos países do Oriente, China, Turquia. Imigrando para Europa sofreu um processo de ascensão cultural. Trazido para o Brasil, o joão-redondo retornou sua forma rústica e faz parte do folclore nordestino (GURGEL,1999 apud ALCÂNTARA, 2007). 3 Uma Nova Iniciativa (UNI) na formação e educação de recursos humanos para a saúde em parceria com a comunidade. Atuou em algunsbairros da cidade. Todos no Distrito Oeste. Fazia parte do Programa UNI, da Fundação W. K Kellogg, que era constituído de 19 projetos na América Latina e Caribe. Disponível em: <http://www.ufrn.br/sites/engenhodesonhos/forum/conselho/uninatal/index.html>. 35 2005, trabalha o potencial artístico de crianças e adolescentes do bairro 4 e a Visão Mundial com crianças, famílias e comunidades a fim de que alcancem seu potencial pleno, no propósito de combater a pobreza 5 . O bairro conta ainda com a colaboração do Núcleo de Amparo ao Menor (NAM) que é uma instituição beneficente do terceiro setor, referência no bairro, que apoia, cria, desenvolve e executa projetos na área de educação, esporte e cultura para melhoria da qualidade de vida de crianças, adolescentes e jovens há 18 anos 6 . A área de abrangência da USF de Felipe Camarão II tem como referência uma população de aproximadamente 14.800 habitantes, conforme dados do Sistema de Informação da Atenção Básica (SIAB), acessado na USF em dezembro de 2012. Essa área foi projetada, inicialmente, para ser um conjunto habitacional denominado Promorar II, onde foram abrigadas famílias oriundas de favelas de outros locais da cidade. Não existem espaços destinados a praças, áreas de lazer ou Centros de Convivência (ALCÂNTARA, 2007). De acordo com as informações adquiridas durante a observação participante na Unidade e registradas em diário, a ESF foi implantada no ano de 1998. Iniciou com uma equipe e, logo depois, foi complementada com mais três equipes de saúde da família, ficando com a seguinte composição: 04 (quatro) médicos; 04 (quatro) enfermeiros; 04 (quatro) dentistas; 08 (oito) técnicos de enfermagem; 04 (quatro) auxiliares de saúde bucal; 24 (vinte e quatro) agentes comunitários de saúde. No entanto, em virtude da deficiência existente no quadro de funcionários do município, no momento da pesquisa a Unidade apresenta o desfalque de 01 (um) médico; 01 (um) ACS; 01 (um) auxiliar de saúde bucal – que está afastada por questões de saúde há dois anos. Além dos profissionais da ESF, a USF conta apenas com um diretor e um arquivista. Para a limpeza, existem 02 (dois) auxiliares de serviços gerais terceirizados por empresa contratada pela gestão municipal. A faixa de idade predominante dos profissionais é de 50 (cinquenta) anos e mais, com exceção dos ACS que apresentam idades predominantes entre 30 (trinta) e 50 (cinquenta) anos, mas existem dois com 60 (sessenta) anos. O sexo que predomina é o feminino, com a presença de apenas seis (seis) homens dentre os 50 (cinquenta) funcionários existentes na USF. A média de permanência dos profissionais nas equipes, inicialmente, era de cinco anos e mais. No momento de realização da pesquisa, identificamos que tem havido permuta 4 Disponível em: <www.conexaofelipecamarao.org.br/>. 5 Disponível em: <www.visaomundial.org.br/>. 6 Disponível em: <www.nam.org.br/>. 36 de profissionais no próprio município ou alguns profissionais se desvinculam da ESF para retornar ao seu local de lotação de origem, por decisão própria, em virtude das questões trabalhistas, ocasionadas pelo processo de municipalização ocorrido nos anos 1990 7 . A USF conta com a colaboração do NASF que é constituído pelos seguintes profissionais: assistente social; educador físico; nutricionista; fisioterapeuta, farmacêutico. No momento da pesquisa, três das quatro equipes existentes na Unidade aderiram ao PMAQ. Desde sua implantação, a Unidade de Saúde tem sido lugar de muitos projetos e de pesquisas, funcionando também como cenário de práticas de ensino, pesquisa e extensão para os cursos da área da saúde, semelhante a outras Unidades do município. À semelhança do que ocorre no bairro, a Unidade também tem uma história de muitas parcerias com universidades, ONGs e Organizações Comunitárias. É reconhecida por suas várias experiências inovadoras que ficaram registradas em anais de congressos e em trabalhos que não foram publicados. Já foi premiada por algumas experiências e foi protagonista de um livro escrito e organizado por seus servidores e colaboradores, que por ali passam ao longo de sua existência. O livro Contos, cantos e encantos de Felipe Camarão: histórias do PSF (OLIVEIRA; ALCÂNTARA; SILVA, 2010) foi produzido em parceria com a Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) e tenta traduzir o modo de fazer saúde daquela equipe, com lançamento na III Mostra Nacional de Saúde da Família, ano de 2008, em Brasília. Em 2000, foi realizado o “I Seminário de promoção à saúde: Felipe Camarão mostra a sua cara”, por iniciativa de profissionais, pessoas da comunidade e colaboradores da UFRN e o UNI/Natal. O evento se constituiu em quatro grupos temáticos: cidadania e qualidade de vida; meio ambiente e qualidade de vida; violência e qualidade de vida; atenção à saúde e qualidade de vida 8 . Como desdobramento desse evento foi oficializado o “Fórum Permanente Pela Qualidade de Vida de Felipe Camarão”. Esse teria o propósito de se constituir um espaço democrático de discussão dos problemas do bairro, de traçar estratégias intersetoriais e influenciar nas políticas públicas de promoção à saúde. O fórum se propôs, dentre seus 7 Com a municipalização dos serviços de saúde estaduais e federais, os funcionários com vínculo original nessas instituições foram cedidos ao município, mas seus direitos trabalhistas continuam sendo geridos pelos seus órgãos de origem. Ou seja, aposentam-se apenas com os vencimentos pagos por seus respectivos órgãos empregadores. 8 Extraído de relatório existente na USF sobre a organização do Fórum Comunitário de Promoção da Saúde e pela qualidade de vida no Bairro de Felipe Camarão. 37 objetivos, apoiar tecnicamente a realização das atividades de promoção à saúde, desenvolvidas pelas equipes da Unidade. No referido seminário surgiu também ideia da adequação de um espaço físico já existente no bairro para transformá-lo em um centro de convivência para a comunidade, que até o momento de finalização desta pesquisa não fora construído. Após a realização desse Seminário, a USF de Felipe Camarão II intensificou as atividades educativas coletivas através de grupos que foram sendo constituídos desde sua implantação e formando outros mediante as necessidades percebidas durante o processo de trabalho. Grupos estes que sofrem descontinuidade em suas ações mediante a instabilidade política do município. A seguir, descreveremos os grupos identificados na USF de Felipe Camarão II através de registros existentes na própria Unidade, assim como através das conversas com os profissionais durante a observação participante. a) Conviver para Melhor Viver Conforme registros na Unidade, o grupo surgiu em 2001 a partir da constatação do número expressivo que existia de idosos na área e da necessidade que alguns profissionais perceberam acerca de se trabalhar a promoção à saúde nessa faixa etária. Aproveitou-se um grupo que já se reunia nas quartas-feiras no conselho comunitário Padre João Maria. No momento de sua implantação, realizou-se oficina de planejamento em que foram traçados os objetivos e seu desenvolvimento, incluindo a participação dos profissionais da ESF, membros do conselho comunitário e estudantes de medicina e de enfermagem da UFRN. Estabeleceu-se que o grupo teria, dentre seus objetivos, buscar autossustentação, criar subgrupos de arte e cultura (coral, teatro, folclore, entre outros), e colaborar com a consciência crítica dos direitos e deveres do cidadão e a promoção do autocuidado. Os encontros seriam constituídos de dinâmicas de grupo, atividades de relaxamento/alongamento, danças, comemoração de datas festivas, conversas informais, passeios e atividades educativas relacionadas a hábitos de
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