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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE TECNOLOGIA CURSO DE ENGENHARIA MECÂNICA PLANO DE LUBRIFICAÇÃO DE CALDEIRA À BIOMASSA E DE SEU SISTEMA DE ALIMENTAÇÃO FELIPE FERNANDES NETO NATAL- RN, 2021 UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE TECNOLOGIA CURSO DE ENGENHARIA MECÂNICA PLANO DE LUBRIFICAÇÃO DE CALDEIRA À BIOMASSA E DE SEU SISTEMA DE ALIMENTAÇÃO FELIPE FERNANDES NETO Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao curso de Engenharia Mecânica da Universidade Federal do Rio Grande do Norte como parte dos requisitos para a obtenção do título de Engenheiro Mecânico, orientado pelo Prof. Dr. Raphael Araújo Cardoso . NATAL - RN 2021 UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE TECNOLOGIA CURSO DE ENGENHARIA MECÂNICA PLANO DE LUBRIFICAÇÃO DE CALDEIRA À BIOMASSA E DE SEU SISTEMA DE ALIMENTAÇÃO FELIPE FERNANDES NETO Banca Examinadora do Trabalho de Conclusão de Curso Prof. Dr. Raphael Araújo Cardoso ___________________________ Universidade Federal do Rio Grande do Norte - Orientador Me. Antônio Paulino de Araújo Neto ___________________________ Universidade Estadual do Rio Grande do Norte - Avaliador Externo Eng. Antônio Oleon Camelo Ferreira Junior ___________________________ Chefe de utilidades de Indústria Têxtil - Avaliador Externo NATAL, 09/09/2021 de setembro de 2021. Fernandes Neto, Felipe. Plano de lubrificação de caldeira à biomassa e de seu sistema de alimentação / Felipe Fernandes Neto. - 2021. 95f.: il. Monografia (Graduação) - Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Centro de tecnologia, Bacharelado de engenharia mecânica, Natal, 2021. Orientador: Dr. Raphael Araújo Cardoso. 1. Lubrificação - Monografia. 2. Plano de lubrificação - Monografia. 3. Manutenção - Monografia. I. Cardoso, Raphael Araújo. II. Título. RN/UF/BCZM CDU 621 Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN Sistema de Bibliotecas - SISBI Catalogação de Publicação na Fonte. UFRN - Biblioteca Central Zila Mamede Elaborado por RAIMUNDO MUNIZ DE OLIVEIRA - CRB-15/429 i Agradecimentos Este trabalho não poderia ser concluído sem a ajuda de diversas pessoas as quais presto minha homenagem: Não conseguimos nada sozinho, cada experiencia única trocada com cada uma dessas pessoas foram fundamentais para eu estar nesse momento em que estou. Queria agradecer primeiro a minha família, aos meu país Nilson Marcelino e Vasti Lopes que me criaram em um ambiente repleto de amor e carinho, e me ensinarem que o conhecimento é o caminho, ao meu irmão Nilson Filho por toda preocupação e zelo. Aos sogros Marcus e Etiana, por me receberem de portas abertas e me apoiarem. Aos amigos do Salesiano que levo para vida, Pedro, Rodrigo, Iago, Felipe e Raphael, pelos momentos de desafogo durante essa etapa. Aos amigos que conheci em C&T, Rafael, Humberto, Nicholas, Amon, Tojal. Aos amigos de mecânica, Marcelo, Igor Maia, Gabi Lobato, Felipe Monte, Gustavo, Aylla, Mariana, Heitor, Roger e Mateus Ismael. Sem eles, para dar apoio no dia-dia, finalizar essa jornada teria sido impossível. Aos amigos da Solidus, Hugo, Chico, Gabriela costa, Amanda, Vitor Teles, Vinicius, Márcio, Pedro Gentil, Daniel e Felipe Menezes, por terem sido partes de uma etapa muito importante da minha vida. Aos amigos, Antônio Paulino, Iago, Adalberto e Daniel Mousinho por terem sido parte fundamental do meu desenvolvimento durante minha iniciação cientifica. Aos amigos Getianos, Nicolas, Cabral, Dyego, Ruy, Fernando, Juliana Ricardo, Lenine, Maia, Ranaildo, Alexandre, Rômulo, Vinicius, Gabriel Marinho e Seu Ricardo, pelas ajudas no laboratório. As minhas amigas estagiárias de Engenharia da Vicunha, Leticia, Camilla e Thalita. Obrigado por diariamente deixar o dia mais divertido e tranquilo. ii Aos amigos estagiários da Vicunha, Elizeu, Igor, Bia, Erik, Mari, Hanne, Erick Beatriz, Júlio, Lionelson, Rubens, Rafa, Alice, Gabi, Harlene, Ewerton, Adison e Lorran. Aos amigos e colegas de trabalho, Oleon, Paulo Morato e Thiago por terem sido peças chaves no meu desenvolvimento técnico e pessoal, na minha jornada dentro da Vicunha. Meus mais sinceros obrigados. Aos amigos da Engenharia, Eloá, Edson, Fernanda, Layse, Livia e Michele por estarem todo dia ao meu lado sempre disposto para ajudar no que for preciso. Aos amigos da automação Diego, Geraldo, André e Adauto, pelas conversas diárias. Aos colegas do setor de Utilidades, Márcio, Fábio, Rychardson, Rafael, André, Seu João, Adenilson, Wellignton, Josimar, Bernardo, Welson, Jaime, Bergue, Filipe, Noaldo, Marcos, Ivanildo, Gleiton, Mikael. Muito obrigado pelo suporte durante o desenvolvimento durante esse trabalho. Aos operadores, Wallace, Maicon, Tony, Seu Mariano, Seu Ivanildo, seu Valdeir, Marcelo, Alan, Juramir, Seu Souza e Joel. Obrigado pelos ensinamentos e dúvidas tiradas. Aos professores de C&T, Debora, Kelly, Fabio, Fábio Sperotto. Pelo suporte no início da jornada. Aos professores de Mecânica João Telesforo, João Wanderley, Roncalli, Kleiber, Adilson e Medina. Por terem sido fundamentais para a minha aprendizagem e conclusão do meu curso. Ao professor Custódio, por ter sido mais que um professor, por está sempre preocupado com o bem-estar dos seus alunos. Pela oportunidade incrível de trabalhar com o senhor. Meus sinceros obrigados. A professora Salete, pela paciência e por ter aceitado o convite de fazer parte da minha nova jornada. iii Ao professor e orientador Raphael, pelos ensinamentos e conselhos durante o desenvolvimento desse trabalho, e por saber extrair o melhor dos seus alunos. Muito obrigado. A minha namorada Tereza, por estar ao meu lado em todos os momentos de felicidade, tristeza e ansiedade. Por me acalmar e me mostrar o caminho. Pelos seus abraços e cheiros, que me fortaleceram e motivaram a continuar lutando, por acreditar em mim, mesmo em momentos em que eu não acreditava. Muito obrigado pelo privilégio de caminhar ao seu lado nessa jornada. iv Fernandes Neto, F. Plano de lubrificação de caldeira à biomassa e de seu sistema de alimentação. 2021. 95 p. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Engenharia Mecânica) - Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal-RN, 2021. Resumo Lubrificação é definido como o processo de adicionar lubrificante entre duas superfícies que estejam em movimento relativo, com o intuito de reduzir o atrito e o desgaste. Já a manutenção é a combinação de todas as ações técnicas e administrativas com o intuito de manter o equipamento realizando a sua função requerida. Desse modo, um plano de lubrificação é a junção do conceito de lubrificação e manutenção, pois vão ser diferentes ações de lubrificação com o objetivo de prolongar a vida útil de um equipamento. Esse trabalho tem como objetivo desenvolver um plano de lubrificação aplicado à caldeira biomassa de uma indústria têxtil. Por meio de visitas de campo e materiais técnicos fornecidos pelos fabricantes foi possível mapear os pontos necessários para lubrificação, selecionar os lubrificantes e definir as atividades necessárias para efetuar a lubrificação. Sendo assim, foi preciso seccionar a caldeira e seus sistemas de alimentação em diferentes níveis, para melhorar a organização do planejamento e facilitar a compreensão pelos mantenedores quanto à implementação do plano de lubrificação. Foram identificados 63 pontos de aplicação, para as atividades de re- lubrificação, verificação de temperatura e de nível. Dois lubrificantes foram utilizados para esses pontos, cada um adequado para uma condição operacional e ambiental específica, e para a aplicação foi utilizado uma bomba manual de graxa. No total, 2008 atividades do plano de lubrificação foram programadas para o período de um ano. Palavras-chave: Lubrificação, manutenção,lubrificante, plano de lubrificação v Fernandes Neto, F. Lubrication plan for a biomass boiler and its supply system. 2021. 95 p. Conclusion work project (Graduate in Mechanical Engineering) - Federal University of Rio Grande do Norte, Natal-RN, 2021. Abstract Lubrication is defined as the process of adding lubricant between two surfaces that are in relative motion, in order to reduce friction and wear. Maintenance, on the other hand, is the combination of technical and administrative actions that are focused on maintaining the equipment performing its required function. Thus, a lubrication plan is the combination of the lubrication and maintenance concepts, as there will be different lubrication actions to prolong the useful life of the equipment. This work aims to develop a lubrication plan applied to the biomass boiler of a textile industry. Through field visits and technical materials supplied by the manufacturers, it was possible to map the necessary points for lubrication, select the lubricants and define which activities were needed to carry out the lubrication. In this setting, it was essential to section the boiler and its supply systems at different levels, to improve the planning organization and facilitate the comprehension by mechanics to carry out the lubrication. It was identified 63 application points for re-lubrication activities, temperature, and level verification. Two lubricants were used for these points, and a manual grease pump was utilized for the applications. In total, 2008 lubrication plan activities were scheduled for the period of one year. Keywords: Lubrication, maintenance, lubricant, lubrication plan vi Lista de Ilustrações Figura 1 - a) Caldeira a biomassa b) Caldeira a gás _________________________ 3 Figura 2 - Exemplo de resíduos gerados pela biomassa impregnados em componentes da caldeira ______________________________________________ 4 Figura 3 - Pintura rupestre no antigo Egito demonstrando a aplicação do conceito de tribologia ___________________________________________________________ 6 Figura 4 - Desvios de forma de uma superfície conforme norma DIN 4760 ________ 7 Figura 5 - Tipos de desgaste ___________________________________________ 8 Figura 6 - Evolução das técnicas de manutenção __________________________ 10 Figura 7 - Curva PF x custo do reparo ___________________________________ 13 Figura 8 - Análise de vibração _________________________________________ 15 Figura 9 - Classificação API ___________________________________________ 17 Figura 10 - Intervalos de temperatura da classificação SAE __________________ 18 Figura 11 - Classificação ISO para lubrificantes ____________________________ 19 Figura 12 - Desenho esquemático de caldeira flamotubular __________________ 23 Figura 13 - Desenho esquemático de caldeira aquatubular ___________________ 23 Figura 14 - Fluxograma de funcionamento do sistema de alimentação __________ 26 Figura 15 - a) Desenho esquemático da moega. b) Vista superior da moega. c) Vista panorâmica da moega _______________________________________________ 27 Figura 16 - Rosca varredora colocando material na esteira 1 _________________ 28 Figura 17 - Translado da rosca varredora ________________________________ 28 Figura 18 - a) Vista frontal da passagem do material da esteira 1 para 2. b) Vista lateral da passagem do material da esteira 1 para 2 _____________________________ 29 vii Figura 19 - a) Passagem do cavaco da esteira 2 para 3. b) Passagem do cavaco da esteira 3 para a caldeira ______________________________________________ 29 Figura 20 - a) Silo de alimentação esquemático. b) Silo de alimentação real _____ 30 Figura 21 - a) Êmbolo hidráulico esquemático. b) Êmbolo hidráulico real ________ 31 Figura 22 - a) Grelha rotativa esquemática. b) Grelha rotativa real _____________ 31 Figura 23 - a) Entrada de ar primário. b) Entrada de ar secundário _____________ 32 Figura 24 - Fluxograma da entrada do ar primário e secundário na caldeira e trajetória dos gases e cinzas __________________________________________________ 33 Figura 25 - a) Rosca de remoção de cinzas na parte frontal. b) Roscas de remoção de cinzas na parte posterior da grelha _____________________________________ 34 Figura 26 - Trajetória dos gases de combustão ____________________________ 34 Figura 27 - a) Filtro multiciclone esquemático. b) Filtro multiciclone real _________ 35 Figura 28 - Exaustor e Chaminé ________________________________________ 36 Figura 29 - Controle da válvula moderadora ______________________________ 36 Figura 30 - Fluxograma do caminho da água, do ar e do combustível ___________ 38 Figura 31 - Divisão em árvore do PL ____________________________________ 40 Figura 32 - Exemplo dos tópicos de divisão e controle, da seção “Equipamento" __ 41 Figura 33 - a) Tópicos de divisão em árvore dos quatros níveis. b) Tópicos de controle _________________________________________________________________ 41 Figura 34 - a) Exemplo de mancal na posição LOA b) Exemplo de mancal na posição LA _______________________________________________________________ 43 Figura 35 – Exemplo da secção lubrificante _______________________________ 43 Figura 36 - a) Exemplo de código LIS para graxas. b) Exemplo de código LIS para óleos _____________________________________________________________ 44 Figura 37 - Seções do código LIS referente aos óleos _______________________ 45 viii Figura 38 - Seção 1 _________________________________________________ 45 Figura 39 - Seção 2 _________________________________________________ 46 Figura 40 - a) Temperatura mínima de operação da graxa e sua respectiva sigla. b) Temperatura máxima de operação da graxa e sua respectiva sigla. c) Propriedades da graxa contra contaminação da água e proteção anticorrosiva. d) Propriedades de extrema pressão ____________________________________________________ 47 Figura 41 - a) Grau de consistência NLGI. b) Grau de viscosidade ISO do óleo. c) Tipo de óleo básico. _____________________________________________________ 48 Figura 42 – Classificação de grupo de óleo _______________________________ 48 Figura 43 - Quadro de cores a partir da viscosidade ISO VG _________________ 49 Figura 44 - Quadro de cores a partir do grupo do óleo base __________________ 49 Figura 45 - Bomba manual de graxa ____________________________________ 50 Figura 46 - Divisão em árvore da seção "Atividades" ________________________ 51 Figura 47 - Informações de entrada da calculadora de lubrificante _____________ 52 Figura 48 - Valores retornado da calculadora de lubrificante __________________ 52 Figura 49 - Medidas do rolamento ______________________________________ 53 Figura 50 – Código LIS: a) Staburags nbu 8 ep b) Multifak ep 2 _______________ 61 ix Lista de Tabelas Tabela 1 – Principais atribuições do PCM ................................................................. 11 Tabela 2 - Principais propriedades dos lubrificantes ................................................. 16 Tabela 3 - Ensaios realizados nas graxas ................................................................. 20 Tabela 4 - Exemplos dos tipos de aditivos e suas funções ....................................... 21 Tabela 5 - Informações técnicas da caldeira 1B e 2B ............................................... 24 Tabela 6 – Tabela de adaptação de horas para periodicidade ................................. 54 Tabela 7 - Divisão realizada dos tópicos "Máquina", "Grupo" e "Componente" ........ 56 Tabela 8 - Resultado da secção equipamento .......................................................... 57 Tabela 9 - Resultados da seção lubrificante e ferramenta ........................................ 60 Tabela 10 - Atividades do PL para cada "item" ......................................................... 62 Tabela 11 - Quantidade de atividadesque são realizadas durante um ano .............. 64 x Sumário Agradecimentos ............................................................................................... i Resumo ......................................................................................................... iv Abstract .......................................................................................................... v Lista de Ilustrações ........................................................................................ vi Lista de Tabelas ............................................................................................ ix Sumário .......................................................................................................... x 1 Introdução .................................................................................................... 1 1.1 Justificativa............................................................................................ 2 1.2 Objetivos ............................................................................................... 4 1.2.1 Objetivo geral ................................................................................. 4 1.2.2 Objetivos específicos ...................................................................... 4 2 Revisão Bibliográfica ................................................................................... 5 2.1 Tribologia .............................................................................................. 5 2.1.1 Histórico .......................................................................................... 5 2.1.2 Conceitos básicos .......................................................................... 6 2.1.2.1 Desvio de forma ....................................................................... 6 2.1.2.2 Atrito ......................................................................................... 7 2.1.2.3 Desgaste .................................................................................. 8 2.2 Manutenção .......................................................................................... 9 2.2.1 Planejamento e Controle da Manutenção (PCM) ......................... 10 2.2.2 Manutenção Corretiva .................................................................. 11 2.2.2.1 Manutenção corretiva emergencial ........................................ 12 2.2.2.2 Manutenção corretiva programada ........................................ 12 2.2.3 Manutenção Preventiva ................................................................ 13 2.2.4 Manutenção Preditiva ................................................................... 14 2.3 Lubrificação ......................................................................................... 15 xi 2.3.1 Propriedades dos Lubrificantes .................................................... 16 2.3.2 Classificação dos lubrificantes ...................................................... 17 2.3.3 Óleos ............................................................................................ 19 2.3.4 Graxa ............................................................................................ 20 2.3.5 Aditivos ......................................................................................... 20 2.4 Caldeiras ............................................................................................. 22 3 Contexto Atual ........................................................................................... 24 3.1 Setor de Utilidades .............................................................................. 24 3.2 Instalação e funcionamento da caldeira e sua alimentação ................ 24 3.3 Lubrificação atualmente ...................................................................... 38 3.3.1 Controle de lubrificação ................................................................ 39 3.3.2 Lubrificação na rotina dos mantenedores ..................................... 39 4 Metodologia ............................................................................................... 40 4.1 Equipamento ....................................................................................... 40 4.2 Lubrificante.......................................................................................... 43 4.2.1 Identificação dos lubrificantes ....................................................... 44 4.2.1.1 Graxa ..................................................................................... 45 4.2.1.1.1 Seção 1 ........................................................................... 45 4.2.1.1.2 Seção 2 ........................................................................... 46 4.2.1.1.3 Seção 3 ........................................................................... 47 4.2.1.1.4 Seção 4 ........................................................................... 47 4.2.1.1.5 Seção 5 ........................................................................... 48 4.2.1.1.6 Seção 6 ........................................................................... 48 4.2.1.1.7 Cores ............................................................................... 48 4.3 Ferramenta.......................................................................................... 50 4.4 Atividades............................................................................................ 50 4.4.1 Calculadora .................................................................................. 51 xii 4.4.1.1 Dimensão do rolamento ......................................................... 52 4.4.1.2 Condições de operação ......................................................... 53 4.4.1.3 Condições do ambiente ......................................................... 53 4.4.2 Re-lubrificação .............................................................................. 53 4.4.3 Verificação de temperatura ........................................................... 55 4.4.4 Verificação de nível ...................................................................... 55 4.4.5 Máquina ........................................................................................ 55 5 Resultados e Discussões .......................................................................... 56 5.1 Equipamentos ..................................................................................... 56 5.2 Lubrificante e Ferramenta ................................................................... 60 5.3 Atividades............................................................................................ 61 5.4 Resumo de atividades ......................................................................... 64 6 Conclusões ................................................................................................ 65 7 Referências ............................................................................................... 67 8 Anexos ....................................................................................................... 71 1 1 Introdução “O movimento de uma superfície sólida contra outra é fundamentalmente importante para o funcionamento de vários tipos de mecanismos, sejam eles artificiais ou naturais” (HUTCHINGS, 1992). Com essa frase Ian Hutchings inicia o seu livro “Tribology: Friction and Wear of Engineering Materials”, justificando o porquê do estudo da tribologia, área essa que estuda os fenômenos do atrito, desgaste e lubrificação. Essa três fenômenos são de grande importância para o estudo da manutenção e, consequentemente, para o aumento de vida útil do equipamento. A lubrificação tem grande impacto no aumento da vida útil dos equipamentos. A ação dos lubrificantes cria uma camada entre as superfícies que as protegem de corrosões, reduz o atrito e o desgaste. Além disso,evita a fadiga em algumas peças e facilita sua limpeza (PETRONAS LUBRIFICANTES BRASIL S.A., 2014). A falta de aplicação dos lubrificantes, ou quando ela é realizada de forma incorreta, pode causar um desgaste precoce e, consequentemente, a quebra do equipamento. Sendo assim, para garantir o bom funcionamento das máquinas é necessário que elas possuam um programa de lubrificação adequado. Este pode demandar um lubrificante em específico, como: lubrificantes sintéticos, semissintéticos, automotivos, minerais, sólidos, biodegradáveis ou graxas (SENAI, 1997).n Nesse trabalho será abordado o sistema de lubrificação de uma indústria têxtil. O setor têxtil industrial é bastante diversificado, sendo responsável pela produção de fios e tecidos, de forma geral esse tipo de indústria é divido em três setores, sendo eles a fiação, tecelagem e beneficiamento, o primeiro vai ser responsável pela transformação das fibras de algodão em fios, o segundo pelo entrelaçamento dos fios por meio de teares, resultando no tecido, e por fim no setor do beneficiamento o tecido passará por processos de alvejamento, tingimento, acabamento, entre outros, depois dessas etapas o tecido estará pronto para ser comercializado. No Brasil, o mercado movimentado por esse setor chegou a faturar 185,7 bilhões de reais no ano de 2019, contando com 1,5 milhões de empregos diretos, distribuídos por 25,5 mil empresas em todo país. Além disso, o Brasil é o quarto maior 2 produtor de malha do mundo e está entre os cinco maiores produtores e consumidores de denim (ABIT - ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DA INDÚSTRIA TÊXTIL E DE CONFECÇÃO, 2021). Quanto ao processo de produção desse setor, as etapas de fabricação demandam vapor para serem realizadas de forma adequada, por esse motivo as caldeiras são de extrema importância em uma indústria têxtil. Frente a essa realidade é de interesse da empresa que suas caldeiras não apresentem falhas, pois poderia causar uma pausa na produção. Sendo assim a manutenção e lubrificação do equipamento deve ser realizada de forma correta e periódica, com o objetivo de manter ou até prolongar sua vida útil. 1.1 Justificativa A geração de vapor na indústria têxtil é muito importante para o desenvolvimento de variados tipos de tecidos. Esse processo deve ser verificado e acompanhado de perto constantemente, pois o vapor é utilizado para alvejar e tingir tecidos e nas secagens em estufas, sendo necessário o aquecimento de grandes quantidades de água. O setor é um dos maiores geradores de efluentes líquidos do Brasil, utilizando cerca de 150 litros de água para fabricação de um quilo de tecido (FEDERAÇÃO DAS INDÚSTRIAS DO ESTADO DE MINAS GERAIS - FIEMG, 2014). Para a produção do vapor é necessária a utilização de uma caldeira, este equipamento pode utilizar tanto o gás natural quanto a biomassa para manter o processo de combustão. O gás natural é um combustível fóssil, encontrado na natureza, e que pode estar associado ao petróleo. A biomassa é originada de matéria orgânica, que pode ser animal ou vegetal, e é uma fonte de energia renovável. Em comparação, a biomassa emite uma menor quantidade de gases poluentes, como o carbono. Além disso, a biomassa apresenta outras características positivas, como baixo custo na produção de energia e de aquisição. Já o fornecimento de gás, por ser canalizado, é direto e contínuo, além de proporcionar uma operação mais simples da caldeira por partes dos encarregados (DELGADO; CARVALHO; COELHO JÚNIOR, 2015). A escolha do combustível a ser utilizado implicará em efeitos positivos e negativos para as indústrias. Então, cabe a elas analisarem os fatores econômicos, ambientais, logísticos, entre outros para a sua escolha. 3 A empresa estudada nesse trabalho possui os dois tipos de caldeira, mas a partir de análises próprias concluiu-se que a utilização da caldeira biomassa (Figura 1a) era mais vantajoso. Foi visto que a utilização da caldeira a gás natural (Figura 1b) gerava mais custos no processo produtivo. Além disso, a escolha da biomassa, por ser um combustível renovável, está de acordo com a visão, missão e valores da empresa, que estão focados no seu crescimento sustentável e na diminuição da poluição nacional e global. Figura 1 - a) Caldeira a biomassa b) Caldeira a gás Fonte: Elaborada pelo autor (2021) Como a utilização da caldeira a gás natural não é benéfica para a indústria estudada, ela é apenas utilizada como reserva, ou seja, quando o processo da caldeira a biomassa é interrompido, por motivos planejados ou por falhas inesperadas. Então, a lubrificação e sua gestão e controle surgem como aliados da manutenção, para maximizar o rendimento e aumentar a vida útil dos equipamentos, consequentemente, para que seja possível a utilização da caldeira a biomassa o máximo de tempo possível, já que, durante a utilização da biomassa são geradas partículas de pequena granulometria que ficam impregnadas por todo o equipamento (Figura 2), podendo provocar falha prematura dos componentes, assim o planejamento da lubrificação se torna essencial para esse tipo de caldeira. 4 Figura 2 - Exemplo de resíduos gerados pela biomassa impregnados em componentes da caldeira Fonte: Elaborada pelo autor (2021) 1.2 Objetivos 1.2.1 Objetivo geral Esse trabalho tem como objetivo propor uma gestão e controle do processo de lubrificação de duas caldeiras à biomassa, utilizadas em uma indústria têxtil, através de um Plano de Lubrificação (PL). Dessa forma, diminuindo suas paradas com manutenções e, consequentemente, prolongando o seu funcionamento. 1.2.2 Objetivos específicos O trabalho tem como objetivos específicos: • Entender a importância da lubrificação na manutenção • Conhecer o processo de funcionamento da caldeira biomassa • Aprimorar o conhecimento nos processos de lubrificação • Inserir o PL no sistema de manutenção da empresa, com o intuito de registrar as lubrificações digitalmente para realizar análises e utilizá-las como base de tomadas de decisões 5 2 Revisão Bibliográfica 2.1 Tribologia 2.1.1 Histórico Os fenômenos e as aplicações estudadas pela tribologia são antigos, porém o termo tribologia foi apenas utilizado oficialmente em 1966 pelo Dr Peter Jost em um relatório enviado ao departamento inglês de educação e ciência. Ele definiu a tribologia como a “ciência e tecnologia de superfícies interativas em movimento relativo e dos assuntos e práticas relacionados” (JOST, 1990). A palavra é formada pelo radical grego “τρίβω” (tribos) que expressa atritar e do sufixo “λόγος” (logos) com sentido de estudo. Consequentemente, com o significado de “estudo do atrito”. A tribologia estuda o atrito, o desgaste e a lubrificação, como forma de minimizar a energia gasta durante o contato das superfícies. A tribologia é uma área de estudo multidisciplinar que envolve diversos conhecimentos da mecânica, física, química e ciência dos materiais. Seu principal foco, nesse caso, é investigar o comportamento de elementos que experimentam contatos mantenedores. Essa união multidisciplinar de conhecimentos é provocada, não pelos princípios físicos e químicos, mas sim pela área de aplicação (SINATORA, 2005). Por este motivo ela já era estudada antes de ter uma palavra definindo-a, pois o mundo sempre enfrentou este modelo de problema. No período Paleolítico, o fogo era gerado a partir do atrito entre duas pedras. No Mesolítico, as ferramentas de trabalho já possuíam material mais resistente e eficiente para a atividades como a caça. No Egito antigo foi encontrado um registro da ação da tribologia. Na Figura 3 é possível visualizar 172 escravos puxando uma estátua, na parte inferior existe uma estrutura utilizada para apoia a estátua e facilitar o deslizamento. E existe um indivíduo colocando um líquido no trecho para reduzir o atrito (RADI et al., 2007). 6 Figura3 - Pintura rupestre no antigo Egito demonstrando a aplicação do conceito de tribologia Fonte: (RADI et al., 2007) 2.1.2 Conceitos básicos 2.1.2.1 Desvio de forma O acabamento superficial representa um fator importante para os mecanismos de desgaste de um par tribológico. Ele é definido pelo processo de fabricação do qual é oriundo, por exemplo torneamento, fresamento, aplainamento, retificação. Cada um desses processos terá um acabamento superficial característico que influenciará no processo de desgaste (HUTCHINGS; SHIPWAY, 2017). Segundo Souza (2015), os desvios de forma que uma superfície pode apresentar são divididos em dois grupos, sendo estes os desvios macro geométricos, de primeira ou de segunda ordem, e os desvios micro geométricos. No caso do primeiro grupo, os desvios são em relação a uma superfície com geometria ideal. Algumas dessas anomalias (Figura 4), são a planicidade, cilindricidade e retilineidade. Os desvios micro geométricos de terceira e quarta ordem, estão relacionados ao estado da superfície. A rugosidade é a medida que irá quantificar a partir de diferentes parâmetros, o defeito que essa superfície apresentará quando comparada com a forma ideal. 7 As anormalidades no corpo não acontecem de forma isolada. Os desvios de primeira, segunda, terceira e quarta ordem acontecem todos, simultaneamente, em uma mesma superfície. Figura 4 - Desvios de forma de uma superfície conforme norma DIN 4760 Fonte: Adaptado de Bet (1999) apud Medeiros (2002) 2.1.2.2 Atrito Atrito é a força que se opõem ao movimento de um corpo. Pode ser divido em estático, quando o corpo está em repouso, dinâmico quando o objeto está em movimento (MEDEIROS, 2015). O coeficiente de atrito é um valor adimensional que expressa a resistência ao deslizamento que um par tribológico experimenta. Esse valor não é relativo exclusivamente as propriedades de um material, mas sim ao contato formado pelo par, podendo diminuir de diferentes formas, por exemplo com a adição de lubrificante (MEDEIROS, 2015). 8 O atrito nem sempre é indesejado. Por exemplo, ao andar, os pés empurram o chão para trás. O piso exerce uma resistência ao movimento (atrito), empurrando o pé para frente, dessa forma, gerando o movimento. Caso o piso esteja molhado (adição de lubrificante), o atrito diminui, causando uma dificuldade para se movimentar. 2.1.2.3 Desgaste Desgaste pode ser definido como a perda progressiva de material devido ao movimento relativo existente entre as superfícies (MEDEIROS, 2015). O conceito de desgaste está relacionado com o atrito, pois quanto maior a força contrária ao movimento, maior será o dano sofrido pelo material. O desgaste pode ser classificado em quatro grandes grupos, representado na Figura 5. Figura 5 - Tipos de desgaste Fonte: (RADI et al., 2007) O desgaste adesivo é caracterizado quando ocorre uma ligação adesiva entre a superfícies em contato. A força adesiva entre elas é tão forte que oferece grande resistência ao deslizamento sofrido pelos dois corpos, o que acaba resultando na remoção de material quando se força o deslizamento (Figura 5a). No desgaste abrasivo (Figura 5b), durante o contato, um material por ter uma geometria que favoreça o desgaste de outra ou por se consideravelmente mais duro do que o outro, remove o material mais mole. Esse tipo de desgaste pode ser classificado como 9 desgaste abrasivo por dois corpors quando as partículas abrasivas estão incrustadas em uma das superfícies, consequentemente, elas só podem deslizar sobre o contra- corpo, ou pode ser classificada como desgaste abrasivo por três corpos quando ocorre o desprendimento de uma partícula por parte da superfície de menor dureza, e essa partícula permanece rolando entre as duas superfícies (COZZA, 2006). Quando um corpo é submetido a carregamentos flutuantes, a peça tem tendência a falhar sob níveis de tensão menores do que os observados em carregamentos estáticos, além do alto número de ciclos entre as superfícies. Segundo Schuitek (2007), a falha por fadiga segue uma sequência, primeiro ocorre a deformação elástica, seguida pela deformação plástica, encruamento, e pôr fim a formação e propagação de trincas. Dessa forma, acontece o desgaste por fadiga (Figura 5c). No desgaste corrosivo ocorrem reações triboquímicas nas superfícies ocasionando o desgaste (Figura 5d). 2.2 Manutenção A palavra manutenção deriva do latim “Manus tenere”, que significa manter o que se tem. A manutenção é a “Combinação de todas as ações técnicas e administrativas, incluindo as de supervisão, destinadas a manter ou recolocar um item em um estado no qual possa desempenhar uma função requerida.” (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS, 1994). Porém, existe diferentes maneiras de manter um dispositivo trabalhando em suas condições padrões. Para entender melhor o conceito de manutenção é preciso entender a diferença entre defeito, falha e pane. Segundo (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS, 1994), defeito é “Qualquer desvio de uma característica de um item em relação aos seus requisitos”. “Um defeito pode, ou não, afetar a capacidade de um item em desempenhar uma função requerida”. O conceito de falha é o “Término da capacidade de um item desempenhar a função requerida.” Já a pane é definido como “Estado de um item caracterizado pela incapacidade de desempenhar uma função requerida”. Sendo assim, depois da falha, o item tem uma pane (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS, 1994). 10 A manutenção pode agir em diferentes estágios, por exemplo, antes de acontecer um defeito, após o defeito ou a falha, ou até mesmo posterior a pane. Dependendo de quando e como ocorrerá a ação, a manutenção é classificada de maneira diferente. Desde a revolução industrial, a importância da manutenção vem crescendo e sua forma de agir se modificando. Na Figura 6, é possível visualizar a evolução das técnicas de manutenção ao longo dos anos, desde 1940. No início, a manutenção atuava posterior aos acontecimentos das falhas, ou seja, quando o equipamento perdia a sua capacidade funcional. Com o passar dos anos, os modos foram mudando, e passou-se a realizar a manutenção de acordo com uma periodicidade pré-definida, mesmo que o equipamento não apresentasse defeito. Na terceira geração, deu início a utilização de ferramentas e indicadores para fazer o acompanhamento das manutenções, a exemplo o “Failure Mode and Effect Analysis” (FMEA) e surgiu o conceito de manutenção preditiva. A quarta geração é a melhoria dos processos da terceira, registrando-os digitalmente, e levando em conta a manutenção para as metas e resultados da indústria (TELES, 2019). Figura 6 - Evolução das técnicas de manutenção Fonte: (TELES, 2019) 2.2.1 Planejamento e Controle da Manutenção (PCM) O PCM é um dos setores mais importante para a manutenção, pois é o responsável por gerenciar e controlar todas as atividades de manutenção de uma determinada empresa. Esse setor tem como objetivo aumentar a confiabilidade e 11 disponibilidade dos ativos (todos os bens de uma empresa), por meio de estratégias que irão alocar da melhor forma possível a mão de obra, tempo e dinheiro da indústria (DUTRA, 2019). Segundo Souza, Góes e Francisco (2008), algumas das atribuições do PCM são (Tabela 1). Tabela 1 – Principais atribuições do PCM Atribuições Descrição Tagueamento Ferramenta que permite a organização planejar, programar a manutenção, além de permitir a extração de informações estratificadas do processo Fluxogramas de Serviço Após o processo de tagueamento é definido o fluxo de serviços de manutenção, ou seja, estabelecimento das regras organizacionais que canalizam os serviços com as devidas informações. Ordem de Manutenção São instruções escrita geradas dos planos de manutenção enviada as equipes e que define um trabalho a ser executadopela manutenção. Matriz de Prioridade São ferramentas para facilitar a tomada de decisão, que consiste na combinação da criticidade do equipamento e o nível de urgência do serviço. Histórico da Manutenção São reportes das informações concernentes aos serviços de manutenção de grande importância no gerenciamento de um processo produtivo, principalmente se gerenciado por um banco de dados da organização. Acervo Técnico- bibliográfico Devido as possibilidades de ocorrência de mudanças ou reparos nos equipamentos e maquinaria, os desenhos e catálogos são ferramentas importantes para futuros estudos e encaminhamentos técnicos na organização. FMEA É uma ferramenta para análise de falhas em processos e produtos, com objetivo de prever efeitos indesejados, facilitando a tomada de decisões de forma antecipada, identificando e priorizando ações que impeçam a existência efetiva destes efeitos. Fonte: Adaptado de Souza, Góes e Francisco (2008) O PCM é primordial para o desempenho da organização. Enquanto a manutenção industrial é responsável pela empresa, o PCM organiza e viabiliza a melhoria desta empresa, tornando a mais competitiva (SOUZA; GÓES; FRANCISCO, 2008). 2.2.2 Manutenção Corretiva A manutenção corretiva segundo a (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS, 1994), é a “Manutenção efetuada após a ocorrência de uma pane destinada a recolocar um item em condições de executar uma função requerida.” 12 Esse tipo de manutenção é o de maior custo financeiro e o de tempo útil parado do equipamento. Para a ocorrência da intervenção corretiva é preciso que o dispositivo apresente algum defeito, falha ou até a pane. Porém, nem sempre é necessário a empresa agir previamente e em alguns caso há interesse de realizar a correção após a pane do equipamento. Por isso a manutenção corretiva é dividida em dois grupos. 2.2.2.1 Manutenção corretiva emergencial A intervenção nesse tipo de manutenção acontece sem planejamento prévio. Segundo Teles (2019), por esse motivo, ela se torna a mais custosa, pois a falha acarretará alguns fatores, como por exemplo: • Lucro cessante: quando o equipamento deixa de operar e o processo produtivo é interrompido, desse modo, a empresa está deixando de obter lucro. • Compras emergencial: pois se a empresa não tiver no almoxarifado um estoque de peças para substituir, será necessária uma compra emergencial para ser entregue o mais rápido possível. • Danos auxiliares: um defeito simples que poderia ser solucionado de forma barata, ocasionou uma falha e consequentemente, a quebra de outros equipamentos que não apresentavam defeitos. • Tempo: gasta-se mais tempo para realizar a intervenção corretiva do que a preventiva ou preditiva. Além desses fatores, nos casos de manutenções corretivas emergenciais é mais difícil encontrar a causa raiz da pane, o que dificulta as análises posteriores e a preparação para evitar que o ocorrido se repita. 2.2.2.2 Manutenção corretiva programada A manutenção corretiva programada, na maioria dos casos, é realizada para eliminar o defeito antes que se transforme em uma falha. Na Figura 7, o defeito é chamado de “falha potencial” e é possível observar que na medida do decaimento da performance do equipamento o custo para seu reparo vai se tornando maior, então é recomendado realizar a intervenção entre os pontos “P” e “F”, porém é desejado que a intervenção seja o mais próximo do ponto “P”, pois a medida que o equipamento se 13 aproxima do ponto “F” o custo aumenta, como representado na curva pontilhada em vermelho na Figura 7. Figura 7 - Curva PF x custo do reparo Fonte: (TELES, 2019) Segundo Teles (2019), a intervenção pode acontecer após a pane da máquina em alguns casos, por exemplo, quando as falhas não causarem problemas de segurança ou ao meio ambiente, não gerem probelmas de qualidade, puderem ser reparadas por um custo menor que 10% do custo mensal da manutenção, e quando existirem equipamentos reservas. 2.2.3 Manutenção Preventiva A manutenção preventiva, segundo a (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS, 1994), é a “Manutenção efetuada em intervalos predeterminados, ou de acordo com critérios prescritos, destinada a reduzir a probabilidade de falha ou a degradação do funcionamento de um item.” Segundo Teles (2019), a intervenção preventiva irá utilizar algum critério estabelecido para realizar as paradas. Basicamente existem quatro parâmetros, eles são: • Tempo: exemplo “A lubrificação dos mancais deve acontecer a cada 3 meses” • Horas de funcionamento: exemplo “A lubrificação dos mancais deve acontecer a cada 1000 horas de funcionamento” 14 • Produtividade: exemplo “Lubrificar mancais a cada 500 peças produzidas” • Misto: exemplo “Lubrificar mancais a cada 3 meses, 1000 horas ou 500 peças produzidas. O par que acontecer primeiro, entre as três condições.” A manutenção preventiva funciona apenas para equipamentos nos quais as falhas estejam relacionadas com a idade da máquina. Ela é apenas aplicável em 11% dos equipamentos de uma indústria (TELES, 2019). O custo da manutenção preventiva pode tornar-se elevado caso seja utilizado de maneira equivocada. Assim como a corretiva emergencial, ocorre também o lucro cessante, embora seja menor, pois foi programado, ainda sim é um custo elevado. Outro fator determinante é a troca de peças de reposição antes do fim da vida útil do equipamento. Para maximizar os benefícios da manutenção preventiva, Teles (2019) diz que é necessário fazer um planejamento dessa manutenção, com o auxílio do FMEA. Essa ferramenta é utilizada para fazer uma análise qualitativa das falhas, e transformar essa informação em dados quantitativos. 2.2.4 Manutenção Preditiva A manutenção preditiva, segundo a Associação Brasileira de Normas Técnicas (1994), é a “Manutenção que permite garantir uma qualidade de serviço desejada, com base na aplicação sistemática de técnicas de análise, utilizando-se de meios de supervisão centralizados ou de amostragem, para reduzir ao mínimo a manutenção preventiva e diminuir a manutenção corretiva.” A manutenção preditiva, segundo Teles (2019), é a tentativa de prever o estado futuro de um equipamento, por meio de dados que vão ser coletados ao longo do tempo utilizando uma instrumentação específica. Os dados de coleta podem ser de temperatura, vibração (Figura 8), ultrassom, tomografia etc. 15 Figura 8 - Análise de vibração Fonte: (TELES, 2019) Com a utilização desse monitoramento é observado uma diminuição de outros tipos de manutenção como a corretiva e a preventiva, pois a realização de um acompanhamento instantâneo contribui para a diminuição de desmontagens desnecessárias, que ocorrem para a realização de inspeções. Além disso, aproveita- se ao máximo da vida útil do equipamento, pois o monitoramento consegue aumentar sua confiabilidade (LIPPI; FLEXA; SILVA, 2016). Segundo Teles (2019), a manutenção preditiva se baseia em dois pilares. O primeiro é o diagnóstico, nessa etapa é detectado as irregularidades, e será preciso realizar um diagnóstico em relação a origem e a gravidade do modo de não conformidade encontrado. O segundo é a análise da tendência da falha, esta etapa consiste em localizar a falha no seu estado inicial e programar quando será realizada a correção. 2.3 Lubrificação Lubrificação é definido como o processo de adicionar lubrificante entre duas superfícies que estejam em movimento relativo, com o intuito de reduzir o atrito e o desgaste. Essa substância chamada de lubrificante normalmente é um óleo ou uma graxa que impede o contato direto entre as superfícies sólidas (SENAI, 2009). Com a inserção do lubrificante nas superfícies que fazem contato sólido- sólido, o atrito sólido é substituído pelo atrito fluido, ou seja, haverá redução do atrito, e consequentemente, ocorrerá um menor desgaste, menor geração de calor ea perda 16 de energia será reduzida. Dessa forma, o custo de operação e o tempo inativo dos equipamentos será menor, o que é positivo para a manutenção em uma indústria (SENAI, 2009). Segundo SENAI (1997), as principais funções dos lubrificantes, além do controle do atrito e desgaste, são: • Controle de temperatura: absorvendo o calor gerado pelo contato das superfícies, alguns exemplos são os motores e operações de corte. • Controle de corrosão: evitando que ação de ácidos destrua os metais. • Transmissão de força: atuando em um sistema hidráulico, transmitindo força com um mínimo de perda. • Amortecimento de choques: transferindo energia mecânica para energia fluida, por exemplo nos amortecedores dos automóveis. • Remoção de contaminantes: evitando a formação de borras, lacas e vernizes. • Vedação: impedindo a saída de lubrificantes e a entrada de partículas estranhas. A falta de lubrificação pode ocasionar sérios problemas para o sistema, como: aumento do atrito e desgaste, aquecimento, dilatação das peças, desalinhamento, ruídos, grimpagem e ruptura de peças (RIOS, 2009). 2.3.1 Propriedades dos Lubrificantes As principais propriedades dos lubrificantes estão representadas na Tabela 2. São a partir das propriedades que os consumidores analisam qual o lubrificante é o mais indicado para cada aplicação (SENAI, 1997). Tabela 2 - Principais propriedades dos lubrificantes Propriedade Definição Viscosidade Viscosidade é a medida da resistência oferecida por qualquer fluido (líquido ou gás) ao movimento ou ao escoamento. Índice de viscosidade Valor numérico que indica a variação da viscosidade em relação à variação da temperatura. Quanto maior o índice de viscosidade menor será a variação da viscosidade com a temperatura. 17 Densidade relativa Este parâmetro refere-se a razão entre a densidade de uma certa substância pela densidade da água para as mesmas condições de pressão e temperatura. Ponto de fulgor Temperatura em que o óleo, quando aquecido, desprende os primeiros vapores que se inflamam ao contato de uma chama. Ponto de combustão Temperatura na qual o óleo, quando aquecido o, inflama-se em toda a superfície por mais de 5 segundos, ao contato de uma chama. Ponto de fluidez Menor temperatura, expressa em múltiplos de 3ºC, na qual a amostra ainda flui, quando resfriada e observada sob condições determinadas. Fonte: (SENAI, 1997) 2.3.2 Classificação dos lubrificantes Existem diferentes classificações para os lubrificantes, cada uma utiliza um parâmetro diferente. As principais são a American Petroleum Institute (API), Society of Automotive Engineers (SAE) e o sistema ISO. A classificação API se refere ao grau de severidade com que o óleo pode trabalhar e um código de duas letras define os níveis de qualidade. A primeira letra do código pode ser “S” ou “C”, se referindo a um veículo a gasolina e gás (Spark ignition) e a um veículo a diesel (Compression Ignition), respectivamente. A segunda letra apresenta o nível de qualidade, em ordem alfabética, sendo “A” o de menor qualidade (PETROMÓS, 2020). Essa classificação está ilustrada na Figura 9. Figura 9 - Classificação API Fonte: (PETROMÓS, 2020) 18 A classificação SAE tem como parâmetro a viscosidade e classifica os lubrificantes em dois grupos distintos. O grupo dos monoviscosos são identificados pelo SAE com apenas um número, como “30” ou “10W”, por exemplo. Já o grupo dos multiviscosos são identificados com dois números, por exemplo, “10W-30”. Nestes, o primeiro número representa a viscosidade em baixa temperatura, a qual é crítica para a partida do motor. Quanto mais baixo esse valor, mais fluido será o lubrificante à baixa temperatura, essa é uma característica desejável para partidas à frio, pois por ser mais fluido o lubrificante circula melhor e alcança peças críticas mais rápido. O segundo número, por sua vez, representa a viscosidade em alta temperatura. Nessa situação o lubrificante forma uma película, a qual é desejável para motores quentes. Em decorrência dessa característica de ser capaz de ajustar sua viscosidade de acordo com a temperatura à que é submetido, os lubrificantes multiviscosos são mais utilizados no mercado atual. Na Figura 10 é possível visualizar a classificação SAE a partir da temperatura em graus celsius (STABELINI, 2018). Figura 10 - Intervalos de temperatura da classificação SAE Fonte: (STABELINI, 2018) A classificação ISO se aplica aos lubrificantes industriais que estão entre a faixa de viscosidade de 2 a 1.500 cSt a 40°C. Essa classificação tem como objetivo principal estabelecer vários graus definidos de viscosidade, a fim de criar uma referência comum e uniforme para lubrificantes industriais e descartar viscosidades intermediárias e desnecessárias, desse modo, reduzindo a quantidade de graus de 19 viscosidade utilizados na lubrificação industrial. Na Figura 11 está ilustrada a classificação ISO. Figura 11 - Classificação ISO para lubrificantes Fonte: (CESÁRIO NETO, 2021) 2.3.3 Óleos Os óleos lubrificantes podem ser divididos em cinco grupos: óleos graxos, compostos, aditivados, minerais puros e sintéticos (SENAI, 1997). Os primeiros óleos lubrificantes a serem utilizados foram os óleos graxos, que podem ser de origem vegetal ou animal, porém, foram substituídos pelos óleos minerais. A mistura desses dois (graxos e minerais) constituem os óleos compostos, a porcentagem de cada um varia de acordo com a finalidade do óleo. Já os óleos aditivados são uma mistura de óleos minerais puros com substâncias comumente chamadas de aditivos. Essa adição de substâncias é realizada para reforçar ou acrescentar propriedades ao óleo. Os óleos minerais puros são obtidos a partir dos processos de destilação e refinação do petróleo. Dentro dessa classificação dos óleos minerais, pode-se fazer ainda uma divisão: de base parafínico, base naftênico, base mista. Por fim, os óleos sintéticos, que provêm de indústrias petroquímicas, são os lubrificantes de melhor qualidade e que possuem o custo mais elevado. Dentro da classificação dos óleos sintéticos, Colonhezi (2008) faz uma divisão: hidrocarbonetos sintéticos, poliolésteres, diésteres, óleos de silicone e poliésteres perfluorados. 20 2.3.4 Graxa Quando o uso de óleo não é recomendado são utilizadas graxas, que são constituídas de lubrificantes semi-sólidos, uma mistura de óleo, aditivos e agentes engrossadores. Estes são chamados de sabões metálicos, feitos à base de alumínio, cálcio, sódio, lítio e bário (SENAI, 2009). As graxas podem ser subdivididas em cinco grupos, são eles: graxas de sabão metálico, sintéticas, á base de argila, betuminosas e para processo. O grupo mais utilizado, comumente, é o das graxas de sabão metálico. Essas são constituídas de óleos minerais puros e sabões metálicos, os quais são uma mistura de óleo graxo e metal (cálcio, sódio, lítio, etc.). As mais modernas são as graxas sintéticas. As graxas à base de argila são constituídas de óleos minerais puros e argilas especiais de granulação muito fina. Já as graxas betuminosas, lubrificantes bastante adesivos, são formadas por asfalto e óleos minerais puros. Por fim, as graxas para processo são fabricadas especificamente para processos industriais, como estampagem, moldagem e etc (SENAI, 1997). Para a comercialização das graxas, os fabricantes realizam ensaios para determinar algumas propriedades importantes. Desse modo, no momento de escolha da graxa, o consumidor pode adquirir aquela mais adequada para sua aplicação. Os ensaios realizados podem ser visualizados na Tabela 3 (SENAI, 2009). Tabela 3 - Ensaios realizados nas graxas Ensaio O que o ensaio determina Consistência Dureza relativa, resistência à penetração. Estrutura Tato, aparência Filamentação Capacidade de formar fios ou filamentos. Adesividade Capacidade de aderência Ponto defusão ou gotejo Temperatura na qual a graxa passa para o estado líquido. Fonte: (SENAI, 2009) 2.3.5 Aditivos Os aditivos se tornaram necessários em virtude do aperfeiçoamento constante das máquinas. A adição dessas substâncias aos óleos minerais puros permitiu a 21 melhora de propriedades já existentes nesses lubrificantes e, ainda, a adição de novas qualidades (SENAI, 1997). Segundo Silva (2000), os aditivos podem ser divididos em dois grupos. O primeiro grupo é caracterizado pelos aditivos que modificam características físicas dos óleos, como índice de viscosidade, ponto de fluidez e formação de espuma. Já o segundo grupo é representado pelos aditivos que causam um efeito de natureza química, como os aditivos antioxidantes, inibidores de corrosão, aditivos de extrema pressão. Para uma mesma finalidade podem ser encontrados diversos aditivos, a escolha de qual deve ser utilizado deve ser baseada na relação do aditivo com o óleo básico, levando em consideração aspectos como susceptibilidade e compatibilidade (SENAI, 1997). A Tabela 4 lista alguns aditivos, assim como suas principais funções. Tabela 4 - Exemplos dos tipos de aditivos e suas funções Aditivos Funções Detergente-dispersante Evita que o lubrificante forme resíduos, que se agrupam e precipitam, consequentemente, formando depósitos Antioxidante O aditivo antioxidante combate a oxidação do óleo lubrificante Anticorrosivo Os anticorrosivos têm por finalidade a neutralização dos ácidos orgânicos, formados pela oxidação do óleo Antiferrugem Semelhante ao anticorrosivo, este aditivo tem a finalidade de evitar a corrosão dos metais ferrosos pela ação da água ou umidade Anti espumante O aditivo antiespumante tem a função de agrupar as pequenas bolhas de ar, existentes no seio do óleo, formando bolhas maiores, que conseguem subir à superfície, onde se desfazem Extrema pressão Em situações em que a pressão de contato for muito elevada e possa a vir acontecer o contato direto entre a surpeficies, este aditivo reage com as superfícies metálicas, formando uma película lubrificante que reduzirá o desgaste Antidesgaste Estes aditivos são semelhantes aos de extrema pressão, mas têm ação mais branda. Seus principais elementos são o zinco e o fósforo Abaixador do ponto de fluidez Este aditivo tem a função de envolver os cristais de parafina que se formam a baixas temperaturas, evitando que eles aumentem e se agrupem, o que impediria a circulação do óleo Aumentador do índice de viscosidade A função destes aditivos é reduzir a variação da viscosidade dos óleos com o aumento da temperatura Fonte: (SENAI, 1997) 22 2.4 Caldeiras A norma regulamentadora treze (BRASIL, 2019) define “Caldeiras a vapor são equipamentos destinados a produzir e acumular vapor sob pressão superior à atmosférica, utilizando qualquer fonte de energia, projetados conforme códigos pertinentes, excetuando-se refervedores e similares.” As caldeiras da categoria A são aquelas cuja pressão de operação é igual ou superior a 1960 kPa (19,98 kgf/cm2), com volume superior a 100 L (cem litros); caldeiras da categoria B são aquelas cuja pressão de operação seja superior a 60 kPa (0,61 kgf/cm2) e inferior a 1960 kPa (19,98 kgf/cm2), volume interno superior a 100 L (cem litros) e o produto entre a pressão de operação em kPa e o volume interno em m³ seja superior a 6 kPa∙m³ (BRASIL, 2019). As caldeiras, segundo a NR-13 (BRASIL, 2019), devem possuir os seguintes sistemas: • Válvula de segurança com pressão de abertura de valor igual ou inferior à Pressão Máxima de Trabalho Admissível (PMTA); • Instrumento que especifique a pressão do vapor acumulado; • Sistema de alimentação de água ou injetor, além do sistema principal, para evitar superaquecimento em caso de alimentação deficiente de caldeiras de combustível sólido não atomizado ou com queima em suspensão; • Sistema dedicado de drenagem rápida de água em caldeiras de recuperação de álcalis; • Sistema automático de controle do nível de água com intertravamento que evite o superaquecimento por alimentação deficiente. Existem dois tipos de caldeiras, as flamotubulares e as aquatubulares. Na primeira os tubos que transportam os gases de combustão até a caldeira são envoltos por água. Na segunda, ocorre o inverso, os tubos que chegam até a caldeira são preenchidos de água e os gases ficam ao seu redor. As caldeiras mais utilizadas são as flamotubulares, possuem pressão de operação abaixo de 20 bar e geram vapor saturado (Figura 12). 23 Figura 12 - Desenho esquemático de caldeira flamotubular Fonte: (BRASIL, 2019) Já para a produção de vapor superaquecido, as caldeiras aquatubulares são muito utilizadas. O vapor produzido também é bastante utilizado em turbinas para gerar energia elétrica. Essas caldeiras podem suportar elevadas pressões até 160 bar (Figura 13). Figura 13 - Desenho esquemático de caldeira aquatubular Fonte: (BRASIL, 2019) 24 3 Contexto Atual 3.1 Setor de Utilidades O setor de utilidades é responsável por fornecer os insumos para toda a fábrica como vapor, ar comprimido, água gelada, entre outros. Sendo um setor de extrema importância para o funcionamento da fábrica. O setor de utilidades da indústria abordada nesse trabalho é divido em oito áreas: caldeiras, climatização, refrigeração, ar comprimido, Estação de Tratamento de Água (ETA), manutenção hidráulica, manutenção civil e Estação de Tratamento de Efluentes (ETE). Sendo o primeiro setor o responsável pela geração de vapor. Até junho de 2020, essa indústria utilizava a caldeira a gás como o principal meio de produção de vapor. Porém, devido ao alto custo do preço do gás natural e aos malefícios gerados ao meio ambiente, foram adquiridas duas caldeiras à biomassa, usualmente chamadas de Caldeira 1B e Caldeira 2B, cujas informações técnicas estão descritas na Tabela 5. Tabela 5 - Informações técnicas da caldeira 1B e 2B Caldeira 1B e 2B Fabricante H.BREMER & FILHOS LTDA Modelo TECNOTHERM - 4 Tipo Mista Ano 2019 Pressão Atual de Operação 9,5 kgf/cm² P.M.T.A. 11,0 kgf/cm² P.T.H. 16,5 kgf/cm² Superfície de Aquecimento 1.032,9 m² Produção de Vapor 20 ton/h Categoria B Combustível Biomassa Fonte: Elaborada pelo autor (2021) 3.2 Instalação e funcionamento da caldeira e sua alimentação A empresa Bremer começou o projeto de instalação das caldeiras à biomassa em janeiro de 2020, e finalizou o processo no mês de junho. Ainda em julho do mesmo ano a caldeira iniciou o seu funcionamento, dando início à produção de vapor para a fábrica. Simultaneamente ao processo de instalação por parte da Bremer, estava 25 sendo realizado a instalação do sistema de alimentação da caldeira, realizada pela empresa Planalto. Ao longo da instalação, foram entregues diversos documentos por ambas as empresas, a respeito de como operar os equipamentos, seus desenhos técnicos e projetos elétricos. Destes, vale ressaltar cinco que foram imprescindíveis para a realização desse trabalho: • Manual de operação (Planalto) • Manual de operação (Bremer) • Descritivo funcional (Bremer) • Resumo matéria prima (Bremer) • Lista de relação de materiais (Bremer) Os dois primeiros documentos são os manuais de operação e manutenção da Bremer e da Planalto, ambos os arquivos trazem informações importantes sobre a manutenção e a lubrificação de forma geral, informando quais os principais componentes com os quais deve-se ter cuidado na realização desses dois processos. O terceiro arquivo é o descritivo funcional, esse documento traz informações mais técnicas sobre as funções, as divisões dos componentes e dados de operação. O resumo matéria prima e a lista de relação de materiais são dois documentos que se complementam, enquanto o primeiro informa todos os componentes da caldeira com informações detalhadas, o segundo informa os componentesdescritos no resumo de matéria prima, classificados de acordo com a divisão das caldeiras realizada pela Bremer. O processo de funcionamento do sistema de alimentação pode ser exemplificado a partir do fluxograma da Figura 14. Este é iniciado com o abestecimento dos depósitos com biomassa, que será o combustível para a caldeira. Em seguida, esse combustível será levado para a moega e seguirá pelas esteiras até chegar ao destino final, a caldeira. Abaixo esse processo será melhor detalhado. 26 Figura 14 - Fluxograma de funcionamento do sistema de alimentação Fonte: Elaborada pelo autor (2021) Nos dias atuais, a indústria recebe diariamente diversos caminhões com biomassa, usualmente chamadas de cavaco. Os principais carregamentos são de cajueiro e bambu, devido ao seu bom poder calorífico e pela facilidade logística do abastecimento com esses combustíveis. Como o transporte é realizado por caminhões, a opção mais viável é a de produtos que possam ser produzidos em locais próximos, nesse caso específico, na região Nordeste, pois se houver uma dependência de um transporte demorado, há o risco de ocorrer a falta do combustível, problema este que é solucionado com a utilização de produtos locais. Quando a biomassa chega na indústria ela é alocada em um grande depósito, formando uma grande reserva de combustível. Quando necessário, um operador utiliza um veículo próprio para o abastecimento, chamado de pá carregadeira. Essa máquina é responsável por coletar uma quantidade de combustível e depositar na moega, como visto na Figura 15a, mais especificamente na parte superior da moega (Figura 15b). Na Figura 15c pode ser visualizada a imagem panorâmica da moega, que está abaixo do nível do solo. A moega tem como finalidade acumular o máximo de material possível, pois a entrada de material para a caldeira ocorre de forma automática. Todas as etapas que acontecem posterior ao abastecimento da moega são ocasionadas por um sensor que indica presença de material no silo de alimentação da caldeira. Após a moega ter sido abastecida com material, ocorrem dois tipos de movimentos. O primeiro é o de rotação da rosca varredora, consequentemente, ela empurra cavaco até a esteira 1, representado na Figura 16. Além disso, existe uma 27 corrente dentada do início ao fim da moega fazendo com que a rosca varredora percorra toda sua extensão. Desse modo, ocorre a combinação dos dois tipos de movimento, o de rotação da rosca varredora que irá empurrar o material para a esteira e o de translação que fará com que essa rosca percorra desde o início da moega até seu fim, assim esse material é deslocado para esteira de todos os pontos da moega. O translado pode ser visualizado Figura 17. Figura 15 - a) Desenho esquemático da moega. b) Vista superior da moega. c) Vista panorâmica da moega Fonte: Elaborada pelo autor (2021) 28 Figura 16 - Rosca varredora colocando material na esteira 1 Fonte: Elaborada pelo autor (2021) Figura 17 - Translado da rosca varredora Fonte: Elaborada pelo autor (2021) Após o material ser transportado para a primeira esteira, ele segue para a segunda (Figura 18a e b) e em seguida para a terceira (Figura 19a), em ambos os 29 casos por meio de tambores. Na esteira três é realizada a entrada do material para a caldeira (Figura 19b). Figura 18 - a) Vista frontal da passagem do material da esteira 1 para 2. b) Vista lateral da passagem do material da esteira 1 para 2 Fonte: Elaborada pelo autor (2021) Figura 19 - a) Passagem do cavaco da esteira 2 para 3. b) Passagem do cavaco da esteira 3 para a caldeira Fonte: Elaborada pelo autor (2021) A entrada de cavaco na caldeira se dá pelos silos de alimentação (Figura 20a), sendo dividido em dois dutos, como visto na Figura 20b (o desenho esquemático utilizado nessa figura pode ser visto por completo no anexo B). Quando o combustível chega ao final do silo, ele é empurrado pelos êmbolos (Figura 21a e b), que são 30 ativados pela unidade hidráulica, para a grelha rotativa, como visto na Figura 22a e b (o desenho esquemático completo pode ser visto no anexo A). Figura 20 - a) Silo de alimentação esquemático. b) Silo de alimentação real Fonte: Adaptado de Bremer (2019c) 31 Figura 21 - a) Êmbolo hidráulico esquemático. b) Êmbolo hidráulico real Fonte: Adaptado de Bremer (2019c) Figura 22 - a) Grelha rotativa esquemática. b) Grelha rotativa real Fonte: Adaptado de Bremer (2019c) 32 Por toda a extensão da grelha rotativa ocorre a queima do material, tornando necessária a entrada de ar atmosférico. A combustão ocorre na fornalha que é o espaço na parte superior da grelha, a fornalha sempre trabalha com pressão negativa para forçar a movimentação dos gases de combustão. A entrada de ar na caldeira ocorre de duas formas, ambas por meio de ventiladores. O ar primário, antes de entrar na caldeira, ganha calor com os gases de combustão de saída (Figura 23a). O primário adentra pela parte inferior da grelha, essa entrada é ajustada dependendo do material utilizado e da queima desejada. Já o ar secundário entra na caldeira pela parte superior da grelha (Figura 23b). Figura 23 - a) Entrada de ar primário. b) Entrada de ar secundário Fonte: Adaptado de Bremer (2019c) 33 Quando a combustão é incompleta ocorre a formação de cinzas. Algumas dessas partículas são pequenas, então elas sobem junto com o ar para a parte superior da caldeira, como representado na Figura 24, e vão ser eliminadas posteriormente. Outras dessas partículas são maiores e possuem massa superior aos dos gases, as cinzas descem para a grelha e são retiradas pelo sistema de remoção de cinzas. Como a queima do material ocorre por toda a grelha, existem pontos de remoção no início (Figura 25a) e no fim (Figura 25b), sendo no fim o local de maior remoção de cinzas. Figura 24 - Fluxograma da entrada do ar primário e secundário na caldeira e trajetória dos gases e cinzas Fonte: Adaptado de Bremer (2019c) 34 Figura 25 - a) Rosca de remoção de cinzas na parte frontal. b) Roscas de remoção de cinzas na parte posterior da grelha Fonte: Elaborada pelo autor (2021) Os gases após a combustão seguem para o gerador de vapor por meio de tubos. Nesse local a caldeira passa a ser flamotubular. Os gases depois de trocarem calor com a água de entrada seguem seu caminho para a troca de calor com o ar primário (Figura 26). Figura 26 - Trajetória dos gases de combustão Fonte: Adaptado de Bremer (2019c) Em seguida os gases chegam no filtro multiciclone (Figura 27a). Este trabalha por gravidade e é composto de ciclones em seu interior. Os gases, ao entrarem no filtro, obedecem a uma trajetória helicoidal, em função do posicionamento dos tubos de saída por onde são aspirados. Essa forma de trajetória, pelo princípio da força centrífuga, obriga as partículas de pó mais pesadas a se dirigirem à periferia e, por 35 gravidade, se depositarem na parte inferior do filtro, onde são recolhidos (BREMER 2019). Assim removendo as partículas de cinzas restantes da combustão. No filtro existe uma válvula dupla comporta (Figura 27b), onde a primeira válvula abre para a passagem da cinza restante, logo em seguida, a válvula fecha, e em seguida a segunda válvula abre para a retirada de cinzas para o meio externo. A válvula serve para evitar a entrada de ar, pois com a abertura das duas válvulas, simultaneamente, ocorreria a admissão de ar falso, o exaustor iria succionar o ar externo para a chaminé, ao invés dos gases na fornalha. Dessa forma, a pressão na fornalha se tornaria positiva, dificultando a saída dos gases de combustão. Figura 27 - a) Filtro multiciclone esquemático. b) Filtro multiciclone real Fonte: Adaptado de Bremer (2019c) Logo em seguida, o exaustor succiona o restante do ar para ser destinado para a ETE, onde o gáscarbônico é reutilizado, ou para a chaminé, onde vai ser liberado para atmosfera (Figura 28). 36 Figura 28 - Exaustor e Chaminé Fonte: Adaptado de Bremer (2019c) A alimentação de água para o gerador da caldeira é realizada por meio de duas bombas centrífugas de alta pressão multi-estágios, das quais uma serve de stand-by (funciona como reserva caso uma para de funcionar). A entrada é controlada por uma válvula moduladora, a válvula recebe o sinal da garrafa de nível e quando o valor está diferente do set point (valor estabelecido como padrão), ela regula a entrada de água (Figura 29). Do gerador de vapor para as partes da caldeira a água é transportada por convecção natural até as paredes haletadas em volta da fornalha. Figura 29 - Controle da válvula moderadora Fonte: Adaptado de Bremer (2019c) 37 Após aquecida, a água se transforma em vapor e por meio de convecção natural é retirada pela parte de cima da caldeira. Desse modo, dando fim ao processo de produção de vapor. Depois de explicado o funcionamento da caldeira desde a alimentação do cavaco até a produção de vapor, podemos observar que a caldeira utiliza três fontes primárias (a água, o combustível e o ar) cada uma com sua devida função para o processo final de produção de vapor, e todos elas estão interligadas com o mesmo objetivo. Como podemos ver, a Figura 30 ilustra como ocorre a interação entre esses três fenômenos. A água, como visto na Figura 30 (na cor verde), primeiro é retirada dos poços, localizados na própria indústria, e depois é encaminhada para os reservatórios. Depois disso, a água que será utilizada para a caldeira passa por osmose, com o objetivo de retirar os sais presentes na água. Após esse procedimento, a água vai até o “Tanque 1”, onde ocorre a adição do retorno de condensado das máquinas, e ambos seguem para o “Tanque 2”. Depois, a mistura de água e condensado irá até as bombas onde será introduzida para dentro da caldeira, mais especificamente para o “Gerador de vapor”, parte flamotubular da caldeira. Após trocar calor com os gases de combustão que estão passando pelos tubos, a água segue até as paredes haletadas da caldeira, região em que esta é aquatubular. Depois desse processo a água se transforma em vapor, e este é destinado para toda a fábrica. O ar externo, como visto na Figura 30 (na cor azul), é succionado por dois ventiladores. Depois de succionado para dentro da caldeira o ar primário passa pelo pré-ar para trocar calor com o ar de retorno, que vem do gerador de vapor. Após, ele é introduzido na parte inferior da grelha e posteriormente segue para a fornalha, onde irá ocorrer a combustão, nessa região irá ocorrer a introdução do ar secundário, juntamente ao combustível. Após a queima, o ar se mistura com os resíduos da combustão incompleta (cinzas) e seguem para o gerador de vapor, por meio de tubos, onde irão trocar calor com a água (a qual faz parte do processo descrito acima). Depois disso, eles retornarão ao Pré-ar, onde trocarão calor com o ar primário. Após a troca de calor, o ar, juntamente com as cinzas, passará pelo filtro multiciclone, para retirada do máximo de partículas de cinzas possível, e será succionado até o exaustor. 38 Os gases de combustão restantes serão destinados para a ETE ou serão lançados para a atmosfera através da chaminé. A biomassa, como visto na Figura 30 (na cor vermelha), adentra na caldeira por meio dos silos de alimentação e é distribuída até chegar na grelha rotativa. Como ocorre queima de combustível por toda extensão da grelha, ocorrerá a remoção de cinzas tanto no seu início como no seu final (dianteira e traseira). Em seguida, ocorre a combustão na fornalha e depois as cinzas juntamente com os gases de combustão seguirão os mesmos passos já explicados acima (no caminho do ar), até chegar no filtro multiciclone, onde serão separados e as cinzas serão removidas. Figura 30 - Fluxograma do caminho da água, do ar e do combustível Fonte: Elaborada pelo autor (2021) 3.3 Lubrificação atualmente Devido ao pouco tempo de funcionamento da caldeira biomassa, e consequentemente, a falta de conhecimento por parte da operação, grande parte da manutenção realizada é a corretiva. Quando algum componente apresenta algum ruido acima do normal ou dificuldade de movimento relativo é realizada a aplicação do lubrificante, de forma que não é possível identificar se a falta de lubrificação é a causa raiz das falhas. 39 3.3.1 Controle de lubrificação As atividades de manutenção e lubrificação realizadas na indústria em análise são todas geradas pela equipe de Planejamento e Controle da Manutenção (PCM) a partir do Sistema Integrado de Manutenção (SIM). A plataforma SIM é um sistema operacional com diversas funções, uma delas é a abertura das Ordens de Manutenções (OM), da mesma forma que serve como banco de dados para futuras análises, pois no sistema são registradas as horas gastas e os materiais utilizados em cada OM. Depois de realizada a ordem de manutenção é possível finalizá-la, caso contrário ela ficará pendente no sistema. Nessa plataforma, é possível registrar as horas trabalhadas pelos mantenedores nas manutenções, esse ato é chamado de apontamento de horas. As metas geradas pela supervisão são baseadas a partir das horas apontadas no sistema. Porém, atualmente as atividades de lubrificação estão cadastradas no software da SKF, programa sem compatibilidade com o SIM e sem a possibilidade de análises mais profundas. Este programa é utilizado para controle interno do setor de utilidades. Este software permite a geração de uma lista com as próximas lubrificações que devem ser realizadas no período determinado pelo usuário. 3.3.2 Lubrificação na rotina dos mantenedores No início de cada mês, as OM são geradas e entregues aos mantenedores. Eles recebem uma lista com as manutenções preventivas e inspeções que devem ser realizadas mensalmente, além de atuar nas manutenções corretivas que ocasionalmente aparecem. No final de cada mês, eles devem efetuar o apontamento das horas trabalhadas. Lubrificações pontuais recomendadas pelo fabricante são repassadas para os mantenedores, porém, pela alta demanda com outras manutenções, e pelo fato de as atividades de lubrificações não serem cadastradas no sistema (não ficando pendentes no sistema), ela é deixada em segundo plano e muitas vezes não ocorre a lubrificação. 40 4 Metodologia Para desenvolver o Plano de lubrificação (PL) foi criada uma planilha digital, seguindo a metodologia descrita nessa seção. Esta planilha foi dividida em quatro áreas: “Equipamento”, “Lubrificante”, “Ferramenta” e “Atividades”. A divisão realizada pode ser vista na Figura 31. O resultado de cada uma dessas áreas será abordado individualmente com mais detalhes nas próximas subseções. Figura 31 - Divisão em árvore do PL Fonte: Elaborada pelo autor (2021) 4.1 Equipamento Após entender o funcionamento da caldeira a biomassa, foi elaborada uma planilha digital, dividida em dois grupos de tópicos, divisão e controle (Figura 32). 41 Figura 32 - Exemplo dos tópicos de divisão e controle, da seção “Equipamento" Fonte: Elaborada pelo autor (2021) Os tópicos de divisão estão separados em quatro níveis (Máquina, grupo, componente e ponto de aplicação), e estão organizados em forma de árvore. De modo que, o “ponto de aplicação” faz parte do “componente”, esse faz parte do “grupo”, e que por fim faz parte da “máquina” (Figura 33a). Essa divisão em árvore tem como função facilitar a compreensão dos pontos a serem lubrificados por partes dos mantenedores, quando estes forem realizar as lubrificações. O tópico principal é o “ponto de aplicação”, pois este é o local que efetivamente o mecânico efetuará a lubrificação. Todos os tópicos de divisão anteriores servem para facilitar a compreensão desse local (Figura 33b).
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