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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE DEPARTAMENTO DE NUTRIÇÃO PROTEÍNA C REATIVA E SUA RELAÇÃO COM MARCADORES ANTROPOMÉTRICOS E BIOQUÍMICOS NA PREDIÇÃO DE ALTERAÇÕES CARDIOVASCULARES EM ADOLESCENTES COM EXCESSO DE PESO TAIANE DE FREITAS ALVES NATAL–RN 2021 TAIANE DE FREITAS ALVES PROTEÍNA C REATIVA E SUA RELAÇÃO COM MARCADORES ANTROPOMÉTRICOS E BIOQUÍMICOS NA PREDIÇÃO DE ALTERAÇÕES CARDIOVASCULARES EM ADOLESCENTES COM EXCESSO DE PESO Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Curso de Graduação em Nutrição da Universidade Federal do Rio Grande do Norte como requisito final para obtenção do grau de nutricionista. Orientadora: Profª. Severina Carla Vieira Cunha Lima Coorientadora: Maria Eduarda Bezerra da Silva NATAL–RN 2021 Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN Sistema de Bibliotecas - SISBI Catalogação de Publicação na Fonte. UFRN - Biblioteca Setorial do Centro Ciências da Saúde - CCS Alves, Taiane de Freitas. Proteína C Reativa e sua relação com marcadores antropométricos e bioquímicos na predição de alterações cardiovasculares em adolescentes com excesso de peso / Taiane de Freitas Alves. - 2021. 21f.: il. Trabalho de Conclusão de Curso - TCC (Graduação em Nutrição) - Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Centro de Ciências da Saúde, Departamento de Nutrição. Natal, RN, 2022. Orientadora: Severina Carla Vieira Cunha Lima. 1. Doenças cardiovasculares - TCC. 2. Adolescentes - TCC. 3. Obesidade - TCC. 4. Proteína C Reativa - TCC. I. Lima, Severina Carla Vieira Cunha. II. Título. RN/UF/BS-CCS CDU 616.1 Elaborado por ANA CRISTINA DA SILVA LOPES - CRB-15/263 TAIANE DE FREITAS ALVES PROTEÍNA C REATIVA E SUA RELAÇÃO COM MARCADORES ANTROPOMÉTRICOS E BIOQUÍMICOS NA PREDIÇÃO DE ALTERAÇÕES CARDIOVASCULARES EM ADOLESCENTES COM EXCESSO DE PESO Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Curso de Graduação em Nutrição da Universidade Federal do Rio Grande do Norte como requisito final para obtenção do grau de Nutricionista. BANCA EXAMINADORA Severina Carla Vieira Cunha Lima (Orientadora) Maria Eduarda Bezerra da Silva (Coorientadora) Marcia Marília Gomes Dantas Lopes (3º membro) Natal,08 de setembro de 2021 AGRADECIMENTOS Primeiramente agradeço a Deus por iluminar a minha trajetória e me ajudar a atingir meus objetivos. Também quero agradecer imensamente à minha mãe, Josefa, por seu amor e carinho, pelas palavras encorajadoras e reconfortantes, pela confiança e por acreditar na minha capacidade, mesmo quando desacreditava. Agradeço também ao meu pai João, e meu tio Wilson pelo apoio incondicional em todos os momentos de minha vida. Agradeço também à minha orientadora Severina Carla e coorientadora Maria Eduarda por seus conselhos, pela motivação, pela paciência e sobretudo por me ajudar a atingir mais uma meta em minha carreira profissional. Estendo meus agradecimentos aos meus amigos, em especial, Roberta, Sthephanny, Nataly, Misael, Rolando e Joanielly e a todos que me ajudaram direta ou indiretamente a desenvolver esse trabalho. ALVES, Taiane de Freitas. Proteína-C reativa e marcadores antropométricos e bioquímicos como preditores de alterações cardiovasculares em adolescentes com excesso de peso. 2021. 25 f. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Nutrição) – Curso de Nutrição, Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, 2021. RESUMO Introdução: Os parâmetros antropométricos e bioquímicos auxiliam na classificação de fatores de risco para doenças cardiovasculares. Dentre eles, a proteína-C reativa (PCR) é um importante biomarcador sensível à identificação da condição pró-inflamatória sistêmica subclínica em indivíduos com obesidade. Objetivo: Analisar os marcadores antropométricos, bioquímicos e as concentrações de PCR e sua habilidade em predizer alterações cardiovasculares. Metodologia: Estudo transversal, com 184 adolescentes de 10 a 19 anos com sobrepeso/obesidade. Foram coletados dados antropométricos (estatura, peso e perímetro da cintura e do pescoço) e bioquímicos (perfil lipídico, glicêmico e concentrações de PCR). Os dados foram avaliados por testes de coeficiente de correlação de Pearson e teste Exato de Fisher. Foi considerada estatisticamente significantes aqueles resultados com p-valor < 0,05. Resultados: Dos 184 adolescentes, 52,72% eram meninos. As meninas tiveram valores maiores de insulina de jejum e HOMA-IR, e os meninos apresentaram valores mais elevados para a razão cintura/estatura. Nos meninos, PCR correlacionou-se positivamente com índice de massa corporal (IMC), perímetro da cintura, insulina de jejum (p<0,005) e HOMA-IR (p<0,005) e razão cintura/estatura (p<0,001). E nas meninas com IMC e razão cintura/estatura (p<0,005). Conclusão: Marcadores antropométricos e do perfil glicêmico se correlacionaram com as concentrações de PCR em adolescentes com excesso de peso, sugerindo que a PCR pode predizer risco cardiovascular. PALAVRAS-CHAVE: Doenças cardiovasculares; adolescentes; obesidade; Proteína C reativa ABSTRACT Introduction: Anthropometric and biochemical parameters help in the classification of risk factors for cardiovascular disease. Among them, C-reactive protein (CRP) is an important biomarker sensitive to the identification of subclinical systemic proinflammatory condition in individuals with obesity. Objective: To analyze anthropometric and biochemical markers and CRP concentrations and their ability to predict cardiovascular changes. Methodology: Cross-sectional study with 184 overweight/obese adolescents aged 10 to 19 years. Anthropometric (height, weight and waist and neck perimeter) and biochemical (lipid, glycemic and CRP concentrations) data were collected. Data were evaluated by Pearson's correlation coefficient tests and Fisher's exact test. Results with p-value < 0.05 were considered statistically significant. Results: Of the 184 adolescents, 52.72% were boys. Girls had higher values for fasting insulin and HOMA-IR, and boys had higher values for waist-to-height ratio. In boys, CRP was positively correlated with body mass index (BMI), waist circumference, fasting insulin (p<0.005) and HOMA-IR (p<0.005) and waist-to-height ratio (p<0.001). And in girls with BMI and waist/height ratio (p<0.005). Conclusion: Anthropometric and glycemic profile markers correlated with CRP concentrations in overweight adolescents, suggesting that CRP can predict cardiovascular risk. KEYWORDS: Cardiovascular diseases; teenagers; obesity; C-reactive protein LISTA DE TABELAS Tabela 1. Características biodemográficas, antropométricas e bioquímicas dos adolescentes de acordo com o sexo Tabela 2. Correlações entre PCR, parâmetros antropométricos e bioquímicos dos adolescentes de acordo com o sexo SUMÁRIO APRESENTAÇÃO ...................................................................................................................... 4 ARTIGO DE PESQUISA ........................................................................................................... 5 RESUMO .....................................................................................................................................6 Introdução .................................................................................................................................. 11 Metodologia ............................................................................................................................... 12 Resultados .................................................................................................................................. 15 Discussão .................................................................................................................................... 16 Conclusão ................................................................................................................................... 17 Referências ................................................................................................................................. 18 TABELAS .................................................................................................................................. 20 APRESENTAÇÃO O presente estudo teve origem de um projeto maior intitulado ``Estudo da associação entre polimorfismos de nucleotídeo único (SNPs) dos genes CYP2R1 e VDR com as concentrações séricas de cálcio e vitamina D e sobrepeso/obesidade em adolescentes’’ coordenado pela professora Severina Carla Vieira Cunha Lima. Nesse projeto participei na coleta de dados e com isso, tive a oportunidade de realizar meu Trabalho de Conclusão de Curso (TCC). Para elaboração deste estudo, foram utilizados dados de um banco de dissertações de mestrado e tese de doutorado. A partir desse banco de dados, as variáveis aqui estudadas foram: dados antropométricos, do perfil lipídico e glicêmico, e dosagem das concentrações de PCR. Com isso, objetivou-se avaliar a relação entre as concentrações de PCR e as variáveis de risco cardiometabólico em adolescentes com excesso de peso. Os resultados encontrados foram utilizados na elaboração e defesa de TCC do Curso de Graduação em Nutrição da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, escrito em formato de artigo científico, conforme as normas da revista Jornal de Pediatria, Qualis B1 para a área de Nutrição da CAPES (2013-2016). ARTIGO DE PESQUISA Proteína C- reativa e marcadores antropométricos e bioquímicos como preditores de alterações cardiovasculares em adolescentes com excesso de peso C-reactive protein and anthropometric and biochemical markers as predictors of cardiovascular changes in overweight adolescentes Taiane de Freitas Alves1, Maria Eduarda Bezerra da Silva, Amanda Caroline Pereira Nunes1, Angélica Luiza de Sales Souza 1, Severina Carla Vieira Cunha de Lima1. 1 Departamento de Nutrição, Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Av. Sen. Salgado Filho 3000, Lagoa Nova, Campus Central, Natal, RN, CEP: 59078-970, Brasil. Taiane de Freitas Alves, taianealves.f@gmail.com; Maria Eduarda Bezerra da Silva, dubezerrasilva@gmail.com; Amanda Caroline P.Nunes, amandanunes0206@gmail.com; Angélica Luiza de Sales Souza, angélica_sales9@hotmail.com; Severina Carla Vieira Cunha Lima, scvclima@gmail.com. Título abreviado: Proteína C- reativa e alterações cardiovasculares. *Autor correspondente: Severina Carla Vieira Cunha de Lima; scvclima@gmail.com, Departamento de Nutrição, Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Av. Sen. Salgado Filho, no 3000, Campus Central, Lagoa Nova, Natal, RN. CEP: 59078-970, Brasil. Telefone: 55(84) 3342-2291 Palavras-chave: Doenças cardiovasculares; adolescentes; obesidade; Proteína C reativa mailto:taianealves.f@gmail.com mailto:dubezerrasilva@gmail.com mailto:amandanunes0206@gmail.com mailto:angélica_sales9@hotmail.com mailto:scvclima@gmail.com RESUMO Introdução: Os parâmetros antropométricos e bioquímicos auxiliam na classificação de fatores de risco para doenças cardiovasculares. Dentre eles, a proteína-C reativa (PCR) é um importante biomarcador sensível à identificação da condição pró-inflamatória sistêmica subclínica em indivíduos com obesidade. Objetivo: Analisar os marcadores antropométricos, bioquímicos e as concentrações de PCR e sua habilidade em predizer alterações cardiovasculares. Metodologia: Estudo transversal, com 184 adolescentes de 10 a 19 anos com sobrepeso/obesidade. Foram coletados dados antropométricos (estatura, peso e perímetro da cintura e do pescoço) e bioquímicos (perfil lipídico, glicêmico e concentrações de PCR). Os dados foram avaliados por testes de coeficiente de correlação de Pearson e teste Exato de Fisher. Foi considerada estatisticamente significantes aqueles resultados com p-valor < 0,05. Resultados: Dos 184 adolescentes, 52,72% eram meninos. As meninas tiveram valores maiores de insulina de jejum e HOMA-IR, e os meninos apresentaram valores mais elevados para a razão cintura/estatura. Nos meninos, PCR correlacionou-se positivamente com índice de massa corporal (IMC), perímetro da cintura, insulina de jejum (p<0,005) e HOMA-IR (p<0,005) e razão cintura/estatura (p<0,001). E nas meninas com IMC e razão cintura/estatura (p<0,005). Conclusão: Marcadores antropométricos e do perfil glicêmico se correlacionaram com as concentrações de PCR em adolescentes com excesso de peso, sugerindo que a PCR pode predizer risco cardiovascular. PALAVRAS-CHAVE: Doenças cardiovasculares; adolescentes; obesidade; Proteína C reativa 11 Introdução A obesidade é uma doença caracterizada pelo acúmulo em excesso de adiposidade corpórea que aumenta o risco de desenvolvimento de doenças crônicas não transmissíveis (DCNT) como diabetes melito tipo 2, síndrome metabólica e doenças cardiovasculares. Esses agravos são as principais causas de morte em adultos e, por isso, a obesidade e o sobrepeso no público mais jovem aumentam o risco de morbidade, mortalidade e incapacidade na vida adulta (SANTOS et al, 2020). Sugiro inserir algum dado epidemiológico do excesso de peso no público jovem. Na obesidade ocorre um aumento substancial no tamanho e número de células do tecido adiposo, que gera uma redução do suprimento de sangue para os adipócitos e, em consequência, uma hipóxia dessas células. Esse processo ocasiona a liberação de grande quantidade de citocinas pró-inflamatórias, como o Fator de Necrose Tumoral Alfa (TNFα) e Interleucina 6 (IL-6), que geram uma inflamação local no tecido adiposo e, em seguida, uma inflamação sistêmica, sendo essa última caracterizada principalmente pelo aumento da produção de proteína C-reativa (PCR) (RAHMAT et al, 2017). Há evidências de que a obesidade esteja intimamente associada a valores significativamente mais altos de PCR, inclusive em faixas etárias mais jovens. A infância e a adolescência são marcadas por uma alta presença de adipogênese e de alterações na síntese e secreção das adipocinas, que por sua vez, interferem na produção das citocinas pró-inflamatórias TNFα e IL-6. Essas citocinas, além de induzirem a lipólise e a liberação de ácidos graxos aumentando a produção de glicose pelo fígado e a resistência à insulina (RI), também causam a diferenciação de adipócitos e a inflamação nas células adiposas, endoteliais e hepáticas, contribuindo para o aumento das concentrações de PCR (LUCIARD et al, 2018). A PCR é um importante biomarcador sérico sensível à identificação da condição pró-inflamatória sistêmica subclínica, denominada de adiposopatia, em indivíduos obesos. Essa proteína é um reagente de fase aguda, de alta sensibilidade, que pode ser secretada de maneira local por células do tecido adiposo, endoteliais, musculares da parede arterial coronariana e pelas placas de ateroma, contudo, é no fígado onde ocorre sua maior produção. A nível hepático, os hepatócitos secretam a PCR em resposta à12 presença de citocinas inflamatórias, principalmente a IL-6, liberadas durante uma infecção ou lesão de algum tecido. (CASTRO et al, 2018). As comorbidades vinculadas à obesidade estão associadas ao processo inflamatório crônico característico dessa doença. Esse desequilíbrio dos mecanismos inflamatórios sistêmicos, marcados por valores elevados de PCR, contribuem para o aparecimento da RI, disfunção endotelial precoce, hipercoagulabilidade e, consequentemente, aumentam a possibilidade de formação da aterosclerose, que pode resultar em disfunções no sistema cardiovascular. Além disso, foi observado que níveis altos de PCR estão associados ao risco aumentado de infarto do miocárdio e doença vascular periférica (UJVAROSY et al, 2018) Além de marcadores inflamatórios e bioquímicos, há também os indicadores antropométricos que auxiliam na identificação de possíveis riscos de evento cardiovascular. O perímetro da cintura (PC), o índice razão cintura/estatura (RCEst) e a circunferência do pescoço (CP) possuem relação com o excesso de tecido adiposo, risco cardiovascular, síndrome metabólica e RI (TEIXEIRA et al, 2019). Nesse sentido, há lacunas quanto a qual seria o melhor marcador para predição de risco para o desenvolvimento de doenças cardiovasculares, principalmente em adolescentes. Portanto, este estudo pretende analisar os marcadores antropométricos, bioquímicos e as concentrações de PCR e sua habilidade em predizer alterações cardiovasculares com o intuito de tornar o diagnóstico e conduta nutricional mais assertiva no tratamento de adolescentes com excesso de peso. Metodologia Trata-se de um estudo transversal, O estudo foi submetido e aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa do Hospital Universitário Onofre Lopes (HUOL) (CAAE 56763716.7.0000.5292), obedecendo às diretrizes regulamentadoras da pesquisa envolvendo seres humanos, que constam na Resolução 466/12 do Conselho Nacional de Saúde. O termo de consentimento livre esclarecido foi devidamente assinado pelos pais e/ou responsáveis de cada uma das crianças e adolescentes, após terem recebido informações sobre os objetivos, riscos e benefícios da pesquisa. Foi constituída uma amostra de conveniência composta por 184 adolescentes, de ambos os sexos, com idades entre 10 e 19 anos. O recrutamento dos participantes 13 realizou-se por meio do contato direto com pais e/ou responsáveis e adolescentes, esclarecendo os objetivos da pesquisa para aqueles que frequentaram o ambulatório de endocrinologia pediátrica do HUOL nos anos de 2016 a 2018. Foram considerados critérios de inclusão: (1) apresentar idade entre 10 e 19 anos; (2) diagnóstico de sobrepeso ou obesidade; (3) participantes com as funções físicas e cognitivas preservadas. Os critérios de exclusão corresponderam a: (1) presença de síndromes genéticas associadas à obesidade ou outras doenças (2) gestantes e lactantes; (3) uso de vitaminas e minerais; (4) uso de medicamentos para o tratamento da resistência à insulina ou diabetes mellitus tipo 2; e (5) adolescentes que apresentam alguma doença aguda ou crônica que pudesse alterar as concentrações séricas de PCR (doenças reumáticas, infecções, doença renal crônica, câncer e insuficiência cardíaca). A avaliação antropométrica foi realizada a partir do peso e a estatura, os quais foram coletados de acordo com procedimentos descritos no Anthropometric Standardization Reference Manual (LOHMAN, 1992) e recomendações da Organização Mundial da Saúde (WHO, 1995). A aferição dessas medidas, bem como o perímetro da cintura foram realizados por examinadores capacitados durante a coleta de dados. A partir do cálculo do Índice da Massa Corporal (IMC) foi possível a classificação dos valores de IMC e consequente diagnóstico do sobrepeso e obesidade dos adolescentes. O diagnóstico ocorreu com base nas curvas de índice de massa corporal (IMC) da Organização Mundial da Saúde (OMS), específicas para idade e sexo, sendo classificado como sobrepeso e obesidade, respectivamente, quando o escore Z de IMC for maior ou igual a +1 e +2. O índice de conicidade (IC), foi obtido a partir da seguinte fórmula: IC = circunferência da cintura (m)/0,019 x √peso corporal (kg)/estatura (m). Foram utilizados como parâmetro também o Perímetro da Cintura (PC), com a classificação proposta por Taylor et al. (2000), considerando como ponto de corte valor de PC < 80 cm como adequado, visando a prevenção do risco cardiovascular em adolescentes; e a Circunferência do Pescoço (CP), utilizando-se para a análise pontos de corte adaptados para adolescentes, os quais definem como excesso de peso valores >32cm e >35,5cm para os sexos feminino e masculino, respectivamente (HINGORJO et al, 2012); a Razão Cintura/Estatura (RCEst) foi classificado com ponto de corte de 0,50 para ambos os sexos, aqueles acima ou igual foram classificados com risco cardiovascular e os abaixo, sem risco. O índice de conicidade foi calculado por meio dos valores de IMC e perímetro da cintura utilizando-se a equação de Valdez. 14 As amostras de sangue foram coletadas após jejum de 12 a 14 horas. Realizou-se a dosagem do perfil lipídico e PCR-ultrassensível (PCR us) pelo Laboratório de Análises Clínicas do HUOL da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN). A classificação das concentrações do perfil lipídico dos adolescentes foi realizada de acordo com as recomendações para lipídeos e lipoproteínas preconizados pela Atualização da Diretriz Brasileira de Dislipidemias e Prevenção da Aterosclerose (2017), sendo considerado valores normal para população entre 10 e 19 anos o Colesterol Total < 170 mg/dL; Lipoproteína de alta densidade (HDL-c) > 45 mg/dL; Triglicérides < 90 mg/dL e Lipoproteína de baixa densidade (LDL-c) < 110 mg/dL. Utilizou-se método enzimático para determinação da concentração sanguínea de colesterol total e triglicérides, colorimétrico direto através de espectrofotomeria para a fração de HDL-c e o cálculo do LDL-c através da fórmula de Friedwald. Para a avaliação bioquímica foram coletadas amostras de sangue após jejum de 12 a 14 horas. O sangue foi fracionado em tubo sem anticoagulante (volume de 10 ml) para obtenção do soro e, em seguida, destinado às análises de glicemia de jejum, teste oral de tolerância à glicose (TOTG), insulina no jejum e aos 120 minutos após TTGO para a avaliação da resistência à insulina (RI) por meio do índice: HOMA- IR (homeostasis model assessment – insulin resistance) calculado pela seguinte fórmula: (glicemia de jejum em mg/dLx0,05551) x insulina de jejum em μU/mL]/22,5, que segundo a Sociedade Brasileira de Diabetes, 2019 possui ponto de corte de >3 caracterizando o teste como positivo para resistência à insulina. Os valores da PCR-us foram utilizados para avaliar o risco cardiovascular nos adolescentes. Para isso, as concentrações de PCR-us foram analisadas segundo método de imunoturbidimetria, utilizando-se os seguintes valores de referência: < 1 mg/L como baixo risco para doenças cardiovasculares; entre 1mg/L e 3 mg/L, médio risco para doenças cardiovasculares; e acima de 3mg/L, elevado risco para doenças cardiovasculares (CORDEIRO et al, 2017). Os dados da pressão arterial diastólica e sistólica foram obtidos a partir do registro do prontuário do Endocrinologista no dia da consulta. Assim como também, os dados referentes ao estadiamento puberal registrados pelo Endocrinologista Pediátrico no prontuário neste mesmo dia. 15 Para a análise estatística dos dados foi utilizado o Software R x64 3.4.2. As variáveis quantitativas foram descritas pela média e desvio padrão e as variáveis categóricas por proporção. A distribuição das variáveis foi avaliada pelo teste de Shapiro- Wilk, e a correlação entre as variáveis foi testada utilizando-se o coeficiente de correlação de Pearson. Para variáveis que não apresentaram normalidadefoi utilizada a transformação de Box-Cox, para aproximar a variável a uma distribuição normal. A comparação de média foi feita através do teste t de Student para variáveis paramétricas ou teste de Wilcoxon para as não-paramétricas. Para testar a associação entre duas variáveis foi utilizado o teste Qui-quadrado de Pearson ou o teste exato de Fisher, quando o valor esperado de algum dado fosse menor que cinco. Todas as análises estatísticas foram consideradas significantes para p-valor < 0,05. Resultados Um total de 184 adolescentes com sobrepeso e obesidade participaram deste estudo, sendo 52,72% meninos. As meninas tiveram valores significativamente maiores de insulina de jejum, e HOMA-IR e apresentaram maior proporção de púberes enquanto os meninos apresentaram valores estatisticamente mais elevados para a razão cintura/estatura. Os dados biodemográficas, antropométricas e bioquímicos dos adolescentes de acordo com o sexo estão dispostos na tabela 1. Tabela 1. Como observado na tabela 2, nos meninos, a PCR se correlacionou positivamente com IMC insulina de jejum, HOMA IR (p<0,005) e RCest. Nas meninas a PCR se correlacionou positivamente com IMC e RCest. Foram realizadas regressões lineares simples tendo as concentrações de PCR-us como variável independente e as variáveis que se correlacionaram significativamente, como dependentes. Nos meninos estima-se que a cada unidade a mais de PCR a variável IMC aumente em 0,24 kg/m2; a circunferência da cintura sofra um aumento de 0,09 cm; a razão cintura/altura se eleva em 20,66; a insulina de jejum tem um aumento de 0,17nU/mL e o HOMA IR, 0,73. Nas meninas, a cada unidade a mais do PCR, a variável IMC aumenta 0,5 kg/m2; a razão cintura/altura sofre um aumento de 31,92; a altura reduz em 0,19cm. 16 Tabela 2. Discussão O presente estudo demonstrou que a PCR está intimamente relacionada com os indicadores IMC, circunferência da cintura, insulina de jejum, índice HOMA e razão cintura/altura nos meninos e, nas meninas, essa proteína se relaciona positivamente com o IMC e razão cintura/altura. Esses dados demonstram a relação entre a PCR e indicadores antropométricos e bioquímicos de eventos cardiovasculares em adolescentes com sobrepeso e obesidade. Nosso estudo demonstrou relação entre a PCR e o IMC. A obesidade é marcada por um quadro inflamatório em que ocorre o aumento do tecido adiposo somado à redução de adiponectina. Juntamente com esse processo, as citocinas inflamatórias infiltram o tecido adiposo, pâncreas e outros tecidos levando a um quadro inflamatório tanto local quanto sistêmico, caracterizado pelo aumento acentuado de marcadores inflamatórios, como a PCR (CERCATO; FONSECA, 2019). A PCR também se associou positivamente com os indicadores razão cintura/estatura e circunferência da cintura que correspondem à gordura visceral. Isso ocorre, pois, no estágio inicial da obesidade a deposição de gordura ocorre principalmente na região subcutânea e, gradualmente, ela vai se concentrando na região visceral. A atividade lipolítica do tecido adiposo visceral é maior que a do tecido subcutâneo devido à elevação da atividade β3-adrenoreceptores e a menor quantidade de receptores de insulina (BORODKINA et al, 2018). Somado a isso, o tecido adiposo visceral apresenta maior quantidade de fatores pró-inflamatórios, como a PCR, e um número mais baixo de mediadores antiinflamatórios que o secretoma subcutâneo. Essa atividade metabólica desfavorável contribui para o maior risco de doenças cardiovasculares (TUERO et al, 2019). Em consonância com nossos achados, pesquisadores também encontraram associação positiva entre indicadores inflamatórios e gordura abdominal (GONZÁLEZ- CHICA et al, 2021). Muitos mecanismos podem contribuir para o desenvolvimento da RI na obesidade, dentre eles o processo inflamatório sistêmico (Ferrari et al, 2019). Assim como observado no nosso estudo, no qual nos meninos, a PCR se correlacionou com insulina de jejum e HOMA-IR comprovando a relação entre PCR e perfil glicêmico. 17 De fato, a RI reduz a sensibilidade das células do tecido adiposo ao efeito antilipídico do hormônio, o que gera um aumento da lipólise nas células adiposas e liberação de ácidos graxos, que por sua vez ativam a via inflamatória. E as próprias citocinas TNF-a e IL-6 liberadas no processo inflamatório também induzem lipólise, intensificando a relação inflamação/RI (CICOGNA et al, 2021). Essas citocinas pró- inflamatórias podem desencadear uma ativação em cadeia da enzima c-Jun N-terminal quinase (JNK), seguida da serina ou treonina quinase que causa uma redução da sinalização de insulina. Além disso, a ativação da JNK se relaciona às vias de sinalização que ativam o fator nuclear kappa B (NF-B) o qual, por sua vez, estimula a produção de citocinas pró-inflamatórias. Somado a isso, a JNK também ativa a NF-B nas ilhotas pancreáticas gerando um ciclo vicioso (Ferrari et al, 2019). O presente estudo apresenta algumas limitações as quais merecem ser relatadas, como o fato do desenho transversal, não possibilitar a identificação de uma relação causa/consequência. Contudo, nosso estudo apresenta um número amostral significativo, trazendo uma nova perspectiva na relação entre um marcador inflamatório simples e de baixo custo com antropométricos e bioquímicos numa população que ainda carece de estudos nesta perspectiva. Conclusão Marcadores antropométricos e bioquímicos foram relacionados com as concentrações de PCR, importante biomarcador inflamatório. Desse modo, a dosagem e investigação desse biomarcador pode ser uma importante ferramenta na predição de risco cardiovascular na prática clínica nutricional nos cuidados em adolescentes com excesso de peso. 18 Referências ASHWELL, M.; HSIEH, S.D. Six reasons why the waist-to-height ratio is a rapid and effective global indicator for health risks of obesity and how its use could simplify the international public health message on obesity. Int J Food Sci Nutr. 2005. BORODKINA, D. et al. Localização de depósitos de gordura e risco cardiovascular. Lipids Health Dis v. 218, n17, 2018. CASTRO, A. A.; TACHIBANA, A.; SAKUMA, A. T.; FONSECA, E. K. U. N.; YAMAUCHI, F. I.; BARREIROS, M. A. M.; RIGUES, M. A. S.; PEIXOTO, M. R.; RIBEIRO, S. P. P.; SKARE, T. L. 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TOTAL (n=184) Meninos (n=97) Meninas (n=87) p-valor Idade (anos) 11,66 ± 1,61 11,30 ± 1,55 0,1566 Peso (kg) 62,84 ± 14,95 64,74 ± 12,85 0,3616 Altura (cm) 152,26 ± 10,47 152,91 ± 8,61 0,6529 IMC/idade (kg/m²) 26,74 ± 3,78 27,55 ± 4,08 0,1681 Púbere (n/%)a 35 (64,8) 46 (92,0) 0,0008** Perímetro da cintura (cm) 89,93 ± 10,18 87,05 ± 10,30 0,0625 Índice de conicidade 1,24 ± 0,27 1,22 ± 0,16 0,6069 Razão cintura/estatura 0,59 ± 0,05 0,57 ± 0,07 0,0278* Perímetro do pescoço (cm) 33,98 ± 3,29 33,23 ± 2,39 0,0852 Glicemia em jejum (mg/dL) 93,78 ± 7,80 92,63 ± 7,92 0,3243 Insulina em jejum (uU/mL) 11,50 ± 7,27 15,98 ± 13,57 0,0086** HOMA -IR 2,69 ± 1,69 3,69 ± 3,20 0,0118* Colesterol Total (mg/dL) 170,80 ± 37,92 170,48 ± 30,80 0,9506 HDL-c (mg/dL) 39,63 ± 7,90 39,54 ± 7,56 0,9377 Triglicerídeos (mg/dL) 120,11 ± 78,78 119,90 ± 59,74 0,9848 TG/HDL 3,20 ± 2,53 3,15 ± 1,97 0,8786 PAS (mm/Hg) 116,05 ± 12,84 113,04 ± 11,07 0,1188 PAD (mm/Hg) 72,83 ± 11,38 70,03 ± 10,88 0,1174 PCR (mg/dL) 3,14 ± 3,49 4,33 ± 5,68 0,1074 IMC, índice de massa corporal; HOMA-IR, homeostatic model assessment-insulin resistance; TG, triglicerídeos; HDL-c, lipoproteínas de alta densidade; PAS, pressão arterial sistólica; PAD, pressão arterial diastólica. Dados foram apresentados pela média ± desvio padrão e pela frequência. Foi utilizado teste t nas comparações de médias. a Foi realizado teste qui-quadrado na comparação de proporções. *p < 0,050, **p < 0,010. 21 Tabela 2. Correlações entre PCR, parâmetros antropométricos e bioquímicos dos adolescentes de acordo com o sexo. PCR Meninos (n=97) Meninas (n=87) Pearson R p-valor Pearson R p-valor Peso (kg) 0,172 0,120 0,091 0,433 Altura (cm) 0,018 0,869 -0,286 0,012* IMC/idade (kg/m²) 0,257 0,015* 0,347 0,002** Perímetro da cintura (cm) 0,265 0,018* 0,202 0,077 Índice de conicidade -0,022 0,842 0,040 0,734 Razão cintura/altura 0,309 0,006** 0,355 0,002** Perímetro do pescoço (cm) 0,214 0,059 0,158 0,171 Glicemia em jejum (mg/dL) 0,050 0,655 -0,203 0,075 Insulina em jejum (uU/mL) 0,357 0,002** 0,140 0,235 HOMA -IR 0,366 0,001** 0,110 0,351 Colesterol Total (mg/dL) 0,035 0,753 -0,058 0,613 HDL-c (mg/dL) -0,210 0,056 -0,019 0,871 Triglicerídeos (mg/dL) 0,066 0,554 -0,013 0,909 TG/HDL 0,044 0,696 0,017 0,885 PAS (mm/Hg) 0,152 0,212 0,066 0,593 PAD (mm/Hg) -0,151 0,216 -0,070 0,576 IMC, índice de massa corporal; HOMA-IR, homeostatic model assessment-insulin resistance; TG, triglicerídeos; HDL-c, lipoproteínas de alta densidade; TG/HDL-c, razão TG para HDL; PAS, pressão arterial sistólica; PAD, pressão arterial diastólica. Correlações foram estimadas utilizando-se coeficiente de correlação de Pearson. *p < 0,050, **p < 0,010.
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