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1 Marcela Oliveira - Medicina UNIFG 2022 HIPOTIREOIDISMO O hipotireoidismo é uma síndrome clínica ocasionada por síntese/secreção insuficiente ou ação inadequada dos hormônios tireoidianos nos tecidos, resultando em lentificação generalizada do metabolismo. Podemos classificar o hipotireoidismo em primário (falência tireoidiana), secundário (falência hipofisária – deficiência de TSH) ou terciário (deficiência hipotalâmica de TRH). As formas secundária e terciária costumam ser agrupadas no conceito de “hipotireoidismo central”. Ressalte-se que certas condições ainda podem determinar uma disfunção transitória da glândula, com posterior retorno de sua função, conforme observado em algumas formas de tireoidite como a “tireoidite pós-parto” O hipotireoidismo PRIMÁRIO representa > 90% dos casos, sendo bastante comum. Tem prevalência de 2-4% em indivíduos > 65 anos; O hipotireoidismo congênito (quase sempre primário, por “disgenesia” da glândula) é diagnosticado em 1 a cada 2-4 mil recém-natos... Seu screening deve ser feito de rotina através do “teste do pezinho” (realizado entre o 3º e 7º dia de vida; Os principais fatores de risco conhecidos para hipotireoidismo são: idade (> 65 anos), sexo feminino, puerpério, história familiar, irradiação prévia de cabeça e pescoço, doenças autoimunes (ex.: vitiligo, DM 1, anemia perniciosa), drogas como amiodarona, lítio, tionamidas e INF- alfa (entre outras), síndromes de Down e Turner, dieta pobre em iodo e infecção crônica pelo HCV. ETIOLOGIA A principal causa de hipotireoidismo no mundo é a deficiência de iodo. Nas regiões com ingesta adequada de iodo (incluindo o brasil), as principais são a tireoidite de Hashimoto e Iatrogênica (tratamento do hipertireoidismo). MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS A demência hipotireóidea é uma causa clássica de demência reversível no idoso. Sendo assim, antes de dizermos que um paciente é portador de doença de Alzheimer, por exemplo, devemos solicitar, entre outros exames, a dosagem do TSH; O paciente hipotireóideo pode apresentar depósito difuso na derme de mucopolissacarídeo, condição denominada de mixedema. Este depósito pode levar a edema generalizado, sem cacifo. Podemos ter madarose (perda do terço distal das sobrancelhas), diminuição da temperatura e turgor cutâneo. A diminuição do ritmo de drenagem linfática ocasiona, em alguns pacientes, os famosos derrames cavitários do hipotireoidismo. Podemos encontrar derrame pleural, ascite e, principalmente, derrame pericárdico. 2 Marcela Oliveira - Medicina UNIFG 2022 TIREOIDITE DE HASHIMOTO Destruição autoimune da glândula tireoide mediada principalmente por células T. A tireoidite de Hashimoto – também descrita como tireoidite crônica autoimune ou tireoidite linfocítica crônica – é a causa mais comum de doença autoimune da tireoide e de hipotireoidismo. Afeta mais frequentemente mulheres (5:1) e a prevalência aumenta com a idade, sendo a idade média do diagnóstico 60 anos. FISIOPATOLOGIA Existem fatores genéticos (HLA-DR3, DR4 e DR5 e CTLA-4) e adquiridos (ingesta de altas doses de iodo) associados. O resultado final é uma reação imunológica voltada para uma série de antígenos tireoidianos, utilizando tanto a via celular (citotoxidade principalmente por linfócitos CD8+) quanto à via humoral – os autoanticorpos. Um ou mais autoanticorpos tireoidianos são encontrados em virtualmente todos os pacientes. Antitireoperoxidase (TPO) – 95-100% dos casos; Antitireoglobulina; Antirreceptor de TSH; Antitransportador de iodo. Os anticorpos antitireoperoxidase (anti-TPO) e antitireoglobulina são aqueles que estão quase sempre presentes (95-100% dos casos), enquanto os antirreceptores de TSH e o antitransportador de iodo são positivos em apenas 15-20% dos pacientes. QUADRO CLINICO A fase inicial da doença cursa com a elevação transitória (semanas a meses) dos hormônios tireoidianos, eventualmente levando à tireotoxicose clinicamente manifesta (hashitoxicose). Como na maioria dos casos a elevação hormonal é subclínica, essa fase passa despercebida. A segunda fase da doença é o hipotireoidismo subclínico, caracterizado pela elevação dos níveis de TSH, sem ainda haver queda do T3 ou T4 séricos abaixo do valor de referência. A evolução para a terceira fase da doença – o hipotireoidismo clinicamente manifesto ocorre em média de 5% ao ano. O bócio surge paulatinamente em 75% dos pacientes, decorrente do efeito trófico do TSH no tecido folicular remanescente. DIAGNÓSTICO É feito com base na associação de um quadro clínico compatível, ou seja, bócio e, na maioria dos casos, hipotireoidismo, com o achado de níveis aumentados de autoanticorpos tireoidianos, especialmente o anticorpo anti-TPO (em títulos geralmente superiores a 1:1.600) e, em segundo lugar, o anticorpo antitireoglobulina. É importante perceber que a presença de hipotireoidismo não é obrigatória para o diagnóstico. HIPOTIREOIDISMO PRIMÁRIO: Caracteriza-se por TSH elevado e T4 livre baixo. O T3 também se encontra reduzido, mas não é habitualmente dosado... Na maioria dos casos, num primeiro momento ocorre elevação isolada do TSH, com T4 livre normal. É o chamado hipotireoidismo subclínico: como a glândula é destruída aos poucos, a “reserva” tireoidiana é progressivamente requisitada, sendo necessário um nível relativamente mais alto de TSH para manter o T4 livre dentro da faixa normal. HIPOTIREOIDISMO CENTRAL - SECUNDÁRIO OU TERCIÁRIO: O TSH encontra-se baixo ou inapropriadamente normal, em face de um T4 livre que está sempre baixo! O próximo passo após a confirmação do hipotireoidismo de padrão “central” é a realização de uma RM da sela túrcica. TRATAMENTO A conduta é a reposição adequada de hormônio tireoidiano ad eternum. O ajuste deve ser feito de acordo com o TSH sérico. Para todas as formas de hipotireoidismo (primário e secundário), o tratamento consiste na administração de dose única diária de levotiroxina 1,6 μg/kg/dia (100-150 μg/dia), em jejum, pela manhã. Nos pacientes com menos de 60 anos, sem doença coronariana, podemos iniciar a reposição hormonal com 50 a 100 μg/dia de levotiroxina - o famoso Puran®, Em idosos ou em coronariopatas, devemos prescrever uma dose inicial menor de levotiroxina (12,5 a 25 μg/dia), com incrementos da mesma 3 Marcela Oliveira - Medicina UNIFG 2022 dosagem, a cada quatro a seis semanas até alcançarmos a dose ideal. No hipotireoidismo primário, o objetivo é manter os valores do TSH inferiores à metade dos níveis de referência do laboratório, ou seja, entre 1,0-2,0 mU/L., no entanto, o TSH só deve ser dosado a partir de 4-6 semanas. Caso os valores do TSH que objetivamos não sejam alcançados, aumentamos gradualmente a tiroxina em 12,5 a 25 μg/semana (não confunda, nos idosos e coronariopatas esse aumento é mensal!). Cada vez que alteramos a dose, o ideal é dosarmos o TSH sérico. Uma vez ajustada a dose, o TSH deve ser checado anualmente. Existe ainda um pequeno subgrupo de pacientes que, mesmo com exames laboratoriais evidenciando a correção do hipotireoidismo (redução do TSH aos níveis ideais), ainda mantêm queixas clínicas compatíveis com a disfunção da tireoide. Nesses casos, pode ser aumentada ainda mais a dose de levotiroxina ou associada à reposição de T3.
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