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Exame de imagem no abdome agudo inflamatório OBJETIVOS · Entender como decidir se os exames de imagem são necessários e qual o método mais apropriado para avaliação de pacientes com dor abdominal · Revisar os principais achados de imagem nas causas mais comuns de abdome agudo inflamatório Qual exame de imagem é a melhor escolha pra responder à pergunta clínica? Começa na anamnese + exame físico, que vão gerar uma suspeita clínica (diagnóstico sindrômico) → eu preciso de exames complementares para confirmar minha suspeita clínica? Se não, fecho o diagnóstico clínico e faço o tratamento, se sim, a escolha do exame vai depender da suspeita clínica. Mas como eu escolho? · Conhecimento da patologia · Conhecimento das principais características dos exames de imagem – qualidades e limitações · Meu paciente pode fazer este exame? · Risco/benefício · Contraindicações ABDOME AGUDO · É uma condição clínica que tem como principal sintoma a dor abdominal aguda, necessitando de avaliação e tratamento rápidos, seja este cirúrgico ou não · 4 a 5% dos atendimentos em serviços de emergência · Existem muitos tipos de abdome agudo, com causas abdominais e extra-abdominais · O diagnóstico precoce é essencial para diminuir a morbimortalidade · Anamnese detalhada e exame físico minucioso são mais importantes do que qualquer exame complementar · A primeira avaliação é mais importante, porque a analgesia subsequente pode alterar o exame físico · Avaliações seriadas pelo mesmo médico são a melhor forma de determinar a progressão ou a resolução da doença Diagnóstico sindrômico Classificação varia de acordo com o autor utilizado ROTINA DE ABDOME AGUDO – RADIOLOGIA CONVENCIONAL · 1 radiografia de tórax com o paciente em pé – existem causas torácicas de dor abdominal · 1 radiografia do abdome do paciente em pé · 1 radiografia do abdome do paciente deitado 2 – região do fígado 9 e 10 – linha do psoas – avalia pra ver se estão presentas Quando o delgado obstrui, tem o empilhamento de moedas Pneumoperitônio – ar entre a cúpula diafragmática e o fígado Sinal de Riggler – geralmente tem ar dentro dos órgãos, quando tem uma perfuração o ar sai e vai pra fora, ficando ar nos dois locais, então dá pra ver ar nas duas partes. Distensão de cólon – prestar atenção nas haustrações e o fato de estar localizado na periferia ULTRASSONOGRAFIA · Principais vantagens: ausência de radiação ionizante; disponível em grande parte dos serviços de emergência · Desvantagens: operador dependente; avaliação limitada do retroperitônio e alças intestinais TOMOGRAFIA COMPUTADORIZADA · É o método que apresenta maior acurácia para identificação da causa de dor abdominal · Sensibilidade/especificidade ~95% → melhor método pra ver abdome · Porém não deve ser utilizado em todos os casos devido a: · Radiação ionizante · Especialmente em crianças, adultos jovens e gestantes · Contraste iodado – alergia/nefropatia · Deve se considerar o risco/benefício dependendo da suspeita clínica RESSONÂNCIA MAGNÉTICA · Excelente alternativa em situações em que a USG foi inconclusiva e a tomografia não pode ser utilizada ou precisa ser evitada: · Gestantes/crianças (ausência de radiação ionizante); · Alergia ao contraste iodado; · Acurácia semelhante à tomografia para abdome agudo inflamatório · Principais desvantagens: · Alto custo e baixa disponibilidade; · Interpretação mais complexa; · Maior tempo de exame (requer maior colaboração do paciente - pelo menos 30 minutos para fazer sem se mexer); · Contraindicações relacionadas ao campo magnético como no caso de pessoas com marca-passo cardíaco. CASO CLÍNICO Paciente feminina, 34 anos, apresentando dor abdominal em cólica em epigástrio e HCD ha 2 horas, após refeição copiosa, associada a náuseas e 1 episodio de vomito. Nega febre, sem comorbidades. Exame Físico: BEG, corada, hidratada, estável hemodinamicamente, ACP fisiológica. Abdome flácido, globoso por adipocidade, RHA+, doloroso a palpação superficial em epigástrio e HCD, com defesa voluntaria, Sinal de Murphy positivo. Principal HD? Se eu acho que é uma gastrite, não vou pedir exame nenhum, já se eu achar que é uma colecistite eu vou pedir um exame, que pra esse caso é a ultrassonografia. Vesicula inflamada com a presença de um cálculo Vesícula normal COLECISTITE AGUDA · Principal condição aguda da vesícula biliar · 90-95% obstrução do colo vesicular ou no ducto cístico por cálculo · Fatores de risco: sexo feminino, idade > 40 anos, multiparidade e obesidade · Na história, 75% já tiveram sintomas de cólica biliar prévia · Perfuração em 10% - mortalidade de 20%, demora no diagnóstico · Colecistite alitiásica – 5 a 10%, crianças, pacientes debilitados (diabéticos, IRC, AIDS); associada à nutrição parenteral – a pessoa não tem estimulo hormonal pra se alimentar, então a bile começa a ‘acumular’ e forma a lama biliar que pode ir para o colo e obstruir, igual a pedra. Homem, 40 anos, etilista e tabagista, ha 1 dia com dor epigástrica associada a náuseas e alguns episódios de vômitos após libação alcoólica. Fez uso de Diclofenaco, com melhora temporária, mas refere que ha +/- 3h houve uma piora aguda da dor, que agora esta em todo o abdome. Nega febre. Exame Físico: posição antálgica com flexão de quadril, descorado (1+/4), desidratado (1+/4), afebril, anictérico, orientado. FR 23irpm, FC 110bpm, PA 110X60mmHg. Abdome tenso, doloroso a simples percussão em epigástrio e em flancos, Blumberg positivo em todo o abdome. Principal HD? Pancreatite aguda. Foi feito um RX de abdome agudo que veio normal, mas é importante pra pensar em doença inflamatória, não em doença obstrutiva. Calcificação na topografia do pâncreas, característico nas pancreatites crônicas PANCREATITE AGUDA · Enzimas pancreáticas inadequadamente ativadas · Edema, hemorragia e até necrose pancreática e peripancreática · Repercussão sistêmica – hipovolemia e comprometimento de múltiplos órgãos · 80 casos para cada 100k de habitantes · Mortalidade 10 a 15% · Quadro clinico · Exame de imagem de eleição – tomografia computadorizada · Ultrassonografia · Limitação – distensão gasosa · Detecção de litíase biliar · Aumento volumétrico · Hipoecogenicidade difusa ou focal – porque entra água no local · Dilatação de Wirsung · Perda de definição dos limites – devido a inflamação · Áreas hiperecogênicas – hemorragia · Coleções – as vezes é o único achado Pâncreas cresce e fica com área hipoecogênica ao em volta Pâncreas normal na tomografia – contornos lobulados, gordura em volta do pâncreas está cinza. Pâncreas cresce, perde a definição (não paece mais uma ‘nuvenzinha’) e a área em volta não é mais escura e uniforma. A tomografia é melhor porque o pâncreas é retroperitoneal e a tomo não tem problemas com isso, já a USG sim. Indica o grau da pancreatite de acordo com a TC (avalia achado topográfico e necrose pancreática- por constate). A parte preta dentro do pâncreas é gas, então indica que teve uma perfuração e isso aumenta muito a mortalidade CASO CLÍNICO 3: mulher, 26 anos, refere dor abdominal em baixo ventre há 2 dias, com piora progressiva. Refere sensação de febre hoje pela manhã, mas não mediu. Refere náuseas, nega vômitos, hiporexia. DUM há 15 dias. Nega disúria. Ao exame: BEG, corada, hidratada, afebril no momento, FC 80bpm. Abdome flácido, doloroso a palpação superficial em hipogástrio e FID, Blumberg positivo em FID. Giordano negativo. HD= apendicite, diverticulite de ceco, ileíte terminal, cisto de ovário roto, gravidez ectópica. Principal HD= Apendicite. Nessa imagem vemos o apendicolito, uma calcificação que se forma no apêndice que pode levar a apêndice, mas é raro. APENDICITE AGUDA · Principal causa de cirurgia abdominal de urgência; · 250.000 casos por ano nos EUA; · Incide em todas as idades; · Mais frequente em adulto jovem; · Dor peri-umbilical irradiada para fossa ilíaca direita; · Acompanhada de náuseas, vômitos, anorexia, febre baixa; · Evolução de poucas horas a 1 dia; · Sinal de Blumberg, Sinalde Rovsing presentes; · Quadro típico em 66% dos casos; · Acurácia da USG: Sensibilidade 75-90% e especificidade 86-100% - muitos fatores dificultam o exame, como obesidade e localização do apêndice, que pode ser retrocecal · Técnica da compressão gradual (vai apertando o órgão e se ele estiver normal, ele fecha/colaba, quando o apendicite esta inflamado ele não fecha); · Transdutores lineares de alta resolução. Apêndice normal CASO CLÍNICO 4: Mulher, 60 anos, refere há 2 dias dor com piora progressiva em flanco e FIE. Refere sensação de febre, mas não mediu. Refere constipação crônica até 3 dias sem evacuar. Não evacuou desde o início do quadro. Flatus presentes. Hiporexia. Nega náuseas ou vômitos. Diabética. Ao exame: BEG, corada, hidratada, afebril, eupneica, orientada, FC 90bpm, ACP fisiológica. Abdome flácido, RHA+, doloroso a palpação de flanco e FIE com Blumberg duvidoso. Toque retal com pequena quantidade de fezes na ampola retal. DIVERTICULITE · Doença diverticular dos cólons que evolui para diverticulite (1/3 população acima de 50 anos e 2/3 da população acima de 80 anos); · Diverticulite aguda (25% da população com doença diverticular podem evoluir com diverticulite); · Inflamação aguda de um ou mais divertículos cólicos; · 90% ocorre no cólon sigmoide (onde há mais divertículos). · Quadro clínico clássico · Dor em fossa ilíaca esquerda ou suprapúbica; · Massa abdominal (plastrão) na palpação; · Febre; · Náuseas e vômitos; · Dor a descompressão brusca em FIE; · Leucocitose. · Melhor exame: tomografia! Ultrassonografia