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LIBRAS aula 07

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Libras - Língua Brasileira de Sinais
7º Aula
Objetivos de aprendizagem
Ao término desta aula, vocês serão capazes de:
O desenvolvimento psicossocial do 
escola
As bases sociais, nas quais foram sendo construídas 
as concepções sobre surdez, estimulavam a construção de 
uma cultura de isolamento das pessoas com deficiência. 
Tal isolamento se deve ao fato de que as deficiências em 
muitas sociedades eram consideradas impeditivas para o 
desenvolvimento normal do indivíduo, e por essa razão, 
esse indivíduo não participava das relações econômicas, 
sociais e culturais desses grupos. Acreditava-se que 
ele não poderia contribuir para o avanço econômico e 
intelectual da sociedade em que vivia.
No campo da psicologia, alguns autores estudaram 
o desenvolvimento humano, tais como Jean Piaget 
e Lev Vygotsky, e postularam que o ser humano se 
constitui biopsicologicamente através de um processo de 
maturação que tem como impulsionadores as relações 
sociais, que são intermediadas pela linguagem. Ela é 
determinante para a constituição do sujeito social, seja ele 
ouvinte ou surdo.
Boa aula!
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E o sujeito surdo?
ouve? Ou que eu não entendo a “linguagem gestual”?
Quem é esta pessoa que “fala” com as mãos? Será que terá condições 
de desenvolvimento cognitivo?
E sua participação na sociedade?
1 – Psicologia, sociedade e surdez: a visão terapêutica e o 
impacto do olhar deficiente sobre o sujeito surdo
2 – Pensamento de respeito à diferença construindo uma 
“nova subjetividade”
3 – Formação do sujeito surdo nos espaços escolares 
Tenham, todos, uma boa leitura!
Seções de estudo
1 – Psicologia, sociedade e surdez: a 
visão terapêutica e o impacto do olhar 
Como vimos em nossa primeira aula, desde a Antiguidade 
o pensamento hegemônico da sociedade ouvinte é de que o 
surdo era um indivíduo subumano que deveria aprender a falar. 
Somente a partir da fala é que conseguiria desenvolvimento 
cognitivo. Caso contrário, seria exilado, isolado das relações 
sociais por não contribuir, em nada, para a evolução do Estado.
De acordo com a pesquisadora Dalcin (2006, p. 188), 
as pessoas surdas foram consideradas como indivíduos que 
necessitavam de reabilitação, dentro de uma perspectiva 
médico-terapêutica que incluía avaliação do órgão falho e 
discriminação do tratamento necessário para que chegasse, o 
máximo possível, à normalidade, como vemos nas palavras da 
própria autora:
se “surdo” às questões da constituição psíquica 
do sujeito surdo, negando-lhe o processo de 
humanização, que só é possível no momento em 
que ocorre o convívio humano e a participação, 
que levam ao mundo dos símbolos por meio da 
aquisição da linguagem. Dessa forma, os surdos 
acabaram por se afastar de sua comunidade, 
de sua língua e de sua cultura em virtude 
das tentativas de adaptação propostas pelos 
discursos médicos, psicológicos, econômicos, 
políticos e religiosos, que tinham como objetivo 
fazê-los falar, minimizando as diferenças e 
aplacando o mal-estar que a condição dos 
surdos provoca.
Devido às concepções oriundas das áreas médica e 
psicológica, os surdos foram enquadrados como pessoas que 
possuíam um desenvolvimento psíquico anormal, um corpo 
defeituoso, uma pessoa que não serviria para estar em convívio 
social, muitas vezes, pela possibilidade de ser “agressivo”. Este 
entendimento nos faz associar a imagem o surdo à um animal 
que precisa ser domesticado para conviver com a família e 
outras pessoas. 
Por muito tempo os surdos ficaram no meio do caminho 
entre os ouvintes com sua ‘plenitude intelectual’ de qualidade 
superior e os traços de anormalidade que os afastavam da 
aceitação social, principalmente por se comunicar através de 
sinais, que não possuíam status de língua.
Vamos pensar, portanto, no impacto que este 
comportamento social causou na constituição da subjetividade 
do sujeito surdo. Será que eles se viam como pessoas? Eles se 
reconheciam como surdos ou como pessoas deficientes? A 
eles era concedido o direito de ser participante ou fardo?
Esses fatos históricos contribuíram para que as pessoas 
que possuem a deficiência auditiva se organizassem em um 
grupo que luta pelo reconhecimento da sua língua e para se 
tornarem visíveis, como vemos outros autores explicarem: 
A separação entre grupos humanos é produzida 
socialmente, bem como sua integração, na 
medida em que toda forma de preconceito, 
toda discriminação, todo comportamento 
humano está subordinado à cultura que os 
constrói, propaga, veicula e sedimenta. São 
as normas sociais que “autorizam” essa 
separação, normas que organizam toda a 
nossa vida social, modos de falar, de vestir-
se, de atuar no mundo, de pensar etc. O 
modo como a surdez vem sendo descrita está 
ideologicamente relacionado a essas normas. 
Assim como a luta política por novas normas: 
cultura e identidade surdas, inclusão do surdo 
nas minorias sociais, junto com os negros e 
índios. Essa luta pela inclusão é uma forma de 
“garantia” de afastamento da “anormalidade” 
e aproximação das minorias, normais embora 
p. 566)
Todo esse emaranhado de pensamentos e concepções 
relativos à pessoa surda contribuíram para que o surdo 
desenvolvesse um sentimento de não pertencimento ao meio 
social, à família. 
Mas, através das lutas sociais iniciadas pelas comunidades 
surdas pelo reconhecimento da língua de sinais, a mudança de 
paradigma teve seu início no final do século XX.
2 – Pensamento de respeito à diferença 
construindo uma “ nova subjetividade”
A luta da comunidade surda, primeiramente, foi pelo 
reconhecimento de uma língua natural e própria e pelo 
direito de se comunicar através dos sinais. Pesquisas no 
campo da linguística evidenciam que os surdos desenvolvem 
naturalmente uma comunicação visual, e, por esse motivo, as 
línguas de sinais devem ser consideradas sistemas legítimos de 
comunicação assim como as línguas orais. No caso do Brasil, os 
surdos desenvolveram a LIBRAS (Língua Brasileira de Sinais) 
e lutam pela sua difusão e uso. Estas lutas refletem a ânsia do 
sujeito surdo em ser considerado humano, em sua plenitude, 
dotado de capacidades cognitivas e de desenvolvimento de 
uma linguagem própria, que se difere da maioria ouvinte.
Devemos ficar atentos, pois, ao fato de que nem sempre 
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as sociedades aceitam as línguas de sinais como naturais aos 
surdos, sem críticas. De igual forma também existem opiniões 
contrárias à utilização desta língua pelos surdos, conforme 
nos explica Carlos Skliar (1997, p. 14):
surda como uma minoria linguística, 
baseando-se no fato de que a língua de sinais 
é utilizada por um grupo restrito de usuários, 
os quais, seguindo tal lógica discursiva, vivem 
uma situação de desvantagem social, de 
desigualdade, e participam, limitadamente, na 
vida da sociedade majoritária. Resulta curiosa 
dos discursos dominantes na educação dos 
como diz Anderson (1989), em que o uso da 
língua de sinais constitui sempre um fator de 
exclusão da sociedade majoritária.
Através das pesquisas realizadas relativas à surdez, o povo 
surdo se organizou e buscou capacitação para garantir um 
posicionamento político consistente diante das concepções 
a eles dirigidas. Não aceitariam mais o enquadramento em 
uma posição de deficiência, posto que possuiam diferença 
linguística e de constituição subjetiva.
Assim, chegaram à concepção que embasa todos os 
documentos oficiais e as propostas educacionais para as 
pessoas surdas: surdez como diferença.
Quando falamos em diferença, nos referimos às 
diferenças culturais nos diversos meios sociais. O surdo como 
sujeito cultural, construindo sua identidade dentro de um 
contexto intercultural.
A este respeito, Perlin&Strobel (2006, p. 28) têm a dizer:
Entramos em momentos que primam pela 
defesa cultural: a educação na diferença na 
mediação intercultural. Esta modalidade 
oferece fundamento para a educação dos 
surdos a partir de uma visão em uma outra 
dá-se no momento em que o surdo é colocado 
em contatocom sua diferença para que 
aconteça a subjetivação e as trocas culturais. 
A modalidade da ‘diferença’ se fundamenta na 
subjetivação cultural. Ele surge no momento 
que os surdos atingem sua identidade, através 
da diferença cultural, surge no espaço pós-
colonial. Neste espaço não mais há a sujeição 
ao que é do ouvinte, não ocorre mais a 
hibridação, ocorre a aprendizagem nativa 
própria do surdo.
Sendo assim, como nos aproximamos das pessoas 
diferentes? O que estamos construindo para o futuro? Uma 
geração que realmente cultive o pensamento da diferença 
e sua aceitação/inclusão ou mais um mascaramento da 
realidade do pensamento hegemônico das “maiorias”?
3 – Formação do sujeito surdo nos 
espaços escolares 
Atuando baseadas em uma perspectiva inclusiva, 
conforme os documentos oficiais, dentro da proposta de 
educação bilíngue para surdos, as escolas têm como missão 
primordial, promover a formação do sujeito surdo para que 
atinja autonomia, cidadania e conhecimento cultural. 
Para isso, os educadores e gestores devem pensar uma 
maneira de estimular um ambiente de aceitação das diferenças 
e interação social plena.
É importante, portanto, que saibamos quais os 
fundamentos teóricos e filosóficos que embasaram a construção 
das políticas de inclusão escolar para compreendermos o que 
se espera da pessoa surda escolarizada em uma sociedade 
moderna, que é (ou não!) a nossa.
Esse sujeito entendido no pensamento moderno representa 
as concepções de sujeito instaurado pela filosofia platônica e 
pela tradição hebraica, que mais tarde foram retomadas pelo 
Cristianismo, Humanismo e Idealismo Alemão. Esse sujeito 
era visto como uma unidade racional ocupando o centro dos 
processos sociais. Porém, dado que sua racionalidade não 
estaria completa, far-se-ia necessário um projeto pedagógico 
que o tirasse da menoridade e o transformasse no dono de sua 
própria consciência e um agente de sua própria história (Veiga-
Neto, 2000, p. 50).
Assim, a educação de pessoas surdas é pensada e 
implementada por políticas públicas em Educação Especial, 
dentro da política educacional, regida por esta base filosófica: a 
da concepção do sujeito surdo.
As discussões políticas, que envolvem a educação de todas 
as pessoas com necessidades educacionais especiais, trazem 
uma proposta alicerce para a educação do aluno surdo: que a 
escolarização seja realizada no ensino regular, na perspectiva da 
educação inclusiva.
Esta proposta de educação inclusiva diz respeito a uma 
escola de qualidade para todos. Uma escola que não segregue, 
não rotule e não expulse seus alunos, mas assuma e atenda a 
diversidade de características dos mesmos. Portanto, torna-
se necessário um processo de transformação da escola. 
Repensar a práxis educacional, refletindo sobre a formação 
de professores, a participação da comunidade escolar (alunos, 
professores, funcionários, família), as metodologias de ensino 
e a organização do espaço escolar para atender todos em suas 
diferenças.
A participação dos pais na comunidade escolar diz respeito 
à valorização do processo de escolarização do filho surdo, 
o interesse pela organização do espaço escolar, o constante 
diálogo com os gestores e professores e a participação 
efetiva nas atividades requeridas pela escola. Disso depende a 
identificação do sujeito surdo, como pertencente a uma família 
e seguro de sua atuação/interação no espaço escolar, ambos 
entendendo o significado de uma educação inclusiva.
Nas escolas, para atender o aluno surdo, as propostas 
inclusivas orientam para que essa educação seja realizada numa 
perspectiva bilíngue, onde a criança aprende a Língua de Sinais 
como primeira língua e a Língua Portuguesa, na modalidade 
escrita, como segunda Língua. Devido a estes pressupostos, a 
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Língua de Sinais deve ser valorizada nos ambientes escolares.
Segundo Lacerda (2006, p.181), uma questão desafiadora 
seria a organização do espaço escolar e das práticas pedagógicas 
para a inclusão do aluno surdo no ensino regular. Aponta 
que o aluno surdo está inserido em um ambiente pensado e 
organizado para alunos ouvintes.
Essa realidade precisa ser modificada para que esse aluno 
se sinta pertencente ao espaço escolar. Além do acesso e da 
eliminação das barreiras de comunicação, torna-se indispensável 
pensar na qualidade do ensino oferecido à esse aluno, na 
função que a escola tem assumido para ele e no significado que 
a escola tem para o aluno surdo.
O decreto 5626/2005 que regulamenta a lei 10436/02, 
a Lei da Libras, reconhece o uso da LIBRAS pelos cidadãos 
surdos do Brasil e, entre outros, dispõe da formação do 
professor para atuar na educação de surdos.
Através dos apontamentos abaixo, vamos demonstrar 
os requisitos necessários a este professor e qual o papel deve 
assumir na educação especial de alunos surdos:
precisa ter formação superior oferecida pelas IES (Instituições 
de Ensino Superior).
surdo, e os aspectos identitários, sócio-cuturais e psíquicos 
concepções a respeito da surdez, evitando qualquer atitude que 
constranja, deprecie ou exclua o aluno surdo.
Ilustração de www.ellenguimaraes.blogspot.com
Retomando a aula
RETOMANDO A CONVERSA INICIAL...
1 – Psicologia, sociedade e surdez: a visão terapêutica 
e o impacto do olhar deficiente sobre o sujeito surdo
Entendemos, nesta seção, como se deu a construção das 
primeiras concepções relativas à surdez. Da antiguidade até 
o meados século XX, o sujeito surdo era entendido como 
anormal, defeituoso, necessitando de cura. Tais concepções 
sobre sujeito foram construídas baseadas nas crenças religiosas 
e divisão social e econômica da época. Para o povo surdo restou, 
somente, o isolamento, a impossibilidade de desenvolvimento 
pleno e a vergonha de ser quem era.
2 – Pensamento de respeito à diferença construindo 
uma “nova subjetividade”
O reconhecimento das línguas de sinais como sendo 
imprescindível para o desenvolvimento cognitivo dos surdos 
foi alcançada através dos movimentos de lutas sociais e 
resistência política, no início da década de 1980. As lutas da 
comunidade surda geraram pesquisas e discussões, nas quais 
se baseiam a concepção atual acerca do sujeito surdo: surdez 
como diferença cultural. 
3 – Formação do sujeito surdo nos espaços escolares
Nesta seção, vimos como as políticas públicas 
entendem o sujeito surdo para elaboração de diretrizes para 
implementação dos espaços escolares. Assim, como trabalhar 
com este sujeito dentro das escolas regulares? Organizando 
a escola de modo a oferecer, a este aluno, o acesso a duas 
línguas: LIBRAS e Língua Portuguesa. Também o papel não 
menos importante do professor, que precisa, além de estar 
capacitado para receber este aluno, de estimular um ambiente 
de aceitação das diferenças.
Para finalizar...
As conquistas da comunidade surda se deram em meio 
a conflitos e jogos de interesse. Uma luta política pelo direito 
de pertencer a uma nação, mesmo não utilizando sua língua 
oficial e oral. O direito de ser reconhecido como sujeito 
cultural e, sendo assim, em contato com as diversas culturas 
existentes na sociedade.
Devemos lembrar, sempre, que os discursos são variados 
e democráticos. Se não estivermos dentro da militância, 
poderemos discutir com mais cautela todas as implicações 
neste processo de inclusão.
Vale a pena
“Filhos do Silêncio”
Título Original: Children of a Lesser God
Gênero: drama
Diretor: Randa Haines
Lançamento: EUA - 1986
Um filme que desvela o preconceito dos alunos 
e professores diante de uma aluna surda que, após sua 
formatura, decide permanecer na escola como professora 
de surdos.
Vale a pena assistir
Minhas anotações
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