Buscar

impressao (27)

Prévia do material em texto

BIOGEOGRAFIA 
AULA 2 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Profª Carolina Machado da Rosa 
 
 
2 
CONVERSA INICIAL 
Se observarmos os seres vivos, percebemos que cada um está em um 
lugar específico. Existem espécies que vivem em ambientes extremos, como 
lugares excessivamente quentes ou excessivamente frios. No entanto, se 
trocarmos essas espécies de lugar, nenhuma das duas sobreviverá. Assim, 
percebemos que mesmo as espécies que vivem em condições inóspitas não 
conseguem viver em qualquer ambiente. Por exemplo, se colocarmos um urso 
polar em uma floresta tropical, ele não sobreviveria. Bem como se colocássemos 
um mico-leão-dourado no Ártico, ele morreria. 
Com base nisso, podemos perceber que as espécies e os indivíduos de 
cada espécie se distribuem de acordo com fatores abióticos e bióticos. 
Fatores atmosféricos e edáficos são exemplos de abióticos. Eles 
representam a influência do ambiente na distribuição dos organismos. Fatores 
bióticos envolvem interações entre as espécies, o que também interfere em sua 
distribuição e na ocupação de nicho. 
Nesta aula, estudaremos como os fatores físicos e biológicos afetam a 
distribuição dos indivíduos e das espécies no nosso planeta, tanto em 
ecossistemas terrestres como em ecossistemas aquáticos. Desse modo, você 
será capaz de compreender a razão de uma espécie estar em determinado local 
e outra, não e como ela interage com as condições ambientais e com os outros 
seres vivos. 
TEMA 1 – FATORES ATMOSFÉRICOS 
Fatores atmosféricos incluem o clima, a disponibilidade de luz, a 
temperatura, a umidade e os ventos, os quais podem ser considerados fatores 
limitantes para a ocorrência das espécies. Fator limitante é tudo que dificulta a 
vida e a reprodução de cada espécie. 
As espécies podem ser ecologicamente tolerantes a fatores ambientais, 
denominadas de euritópicas, ou ser intolerantes, chamadas de estenotópicas. 
Dentro desses limites, a espécie consegue sobreviver adequadamente, mas 
excedendo tais limites, elas sofrem estresses fisiológicos. 
 
 
Ana Luisa
.
Ana Luisa
.
 
 
3 
1.1 Temperatura 
A Lei de Van’tHoff determina que a velocidade da reação que transforma 
substâncias inorgânicas em orgânicas dobra quando a temperatura aumenta. Os 
organismos vivos seguem essa lei nos seus processos fisiológicos. Desse modo, 
as espécies que vivem em regiões tropicais, com temperaturas mais altas, 
tendem a apresentar crescimento e metabolismo mais rápidos. 
Os seres vivem adequadamente em uma faixa entre temperatura mínima 
e temperatura máxima. Quando esses parâmetros são ultrapassados, eles 
morrem. Dentro dessa faixa, existe a temperatura ótima, na qual os organismos 
apresentam o máximo de sua capacidade de crescimento e/ou reprodutiva. 
Você foi apresentado anteriormente aos conceitos de euritópicos e 
estenotópicos. Essas definições podem ser aplicadas para a temperatura. Os 
organismos euritérmicos suportam grandes amplitudes térmicas, enquanto os 
organismos estenotérmicos suportam amplitudes pequenas. 
Os vegetais ainda podem ser classificados de acordo com sua preferência 
térmica. As plantas microtérmicas, como as herbáceas da tundra, têm 
preferência por temperaturas inferiores a 15°C e, portanto, habitam regiões frias. 
As plantas mesotérmicas, como a araucária (Figura 1), habitam ambientes 
temperados, por preferirem temperaturas entre 15°C e 19°C. Já os vegetais 
megatérmicos, como as árvores da Amazônia, preferem temperaturas acima de 
20°C e habitam áreas tropicais. 
Os animais também são classificados de acordo com critérios térmicos. 
Animais ectotérmicos, como os lagartos (Figura 2), ajustam sua temperatura 
corporal de acordo com a temperatura externa e, por isso, são extremamente 
influenciados pela temperatura. Já os animais endotérmicos, como os lobos, 
criam condições constantes de temperatura dentro de suas células e não 
modificam sua temperatura interna. Quando isso ocorre, poderão manifestar 
danos metabólicos e/ou possível óbito. 
 
 
 
4 
Figura 1 – Araucaria angustifolia, planta mesotérmica 
 
Crédito: Paulo de Abreu/Shutterstock. 
Figura 2 – Lagarto, animal ectotérmico 
 
Crédito: Conrad Martin/Shutterstock. 
1.2 Luz 
A luz, bem como a temperatura, não é recebida nem distribuída 
igualitariamente em todos os ambientes da Terra. Isso ocorre porque nosso 
planeta possui uma inclinação de 23,5°. Essa disponibilidade divergente de 
radiação solar e luminosidade afeta as atividades dos seres vivos. As plantas 
https://www.shutterstock.com/pt/g/Paulo+de+Abreu
https://www.shutterstock.com/pt/g/Paulo+de+Abreu
https://www.shutterstock.com/pt/g/cmartin
 
 
5 
são organismos autótrofos que precisam da luz solar para realizar o processo 
fotossintético. Assim, percebemos que a luz permite todas as interações da teia 
alimentar. 
Exemplos de influência luminosa na vida são o fototactismo, fototropismo 
e fotoperiodismo. Fototactismo é quando os animais têm a luz como fator 
diretivo, sendo atrativo, como no caso das mariposas, ou repulsivo, como é o 
caso das baratas. Fototropismo é quando as plantas orientam seu crescimento 
pela luminosidade, como a samambaia que cresce em direção à luz (Figura 3). 
Já fotoperiodismo é a resposta dos organismos ao período de luminosidade ao 
qual são submetidos. Um exemplo de fotoperiodismo são as chamadas plantas 
de dia longo, plantas de dia curto e plantas de dia neutro. As primeiras 
normalmente florescem na primavera e no início do verão, pois precisam de um 
período de luminosidade maior que o comprimento crítico, é o caso da batata e 
do trigo. As segundas costumam florescer no final do verão e do outono, já que 
necessitam de um período de luz menor que o comprimento crítico, é o caso do 
morango e da prímula. As plantas de dia neutro florescem independentemente 
do tempo de luz recebido, como é o caso do arroz e do feijão. 
Além disso, as plantas podem ser classificadas em heliófilas, que 
precisam de muita luz, como a grama, e umbrófilas, que vivem em ambientes 
mais sombreados, como no subosque. 
Apesar de menos evidente, alguns animais também dependem da luz. 
Existem pássaros que amadurecem sexualmente apenas quando o dia tiver 
determinada duração. O canto matinal de algumas aves também possui relação 
com a intensidade luminosa. Além disso, existem animais com hábitos diurnos e 
noturnos, de acordo com a sua necessidade de luz para realização de atividades. 
 
 
 
6 
Figura 3 – Samambaia cresce em direção à luz 
 
Crédito: Max Lindenthaler/Shutterstock. 
1.3 Ventos 
Os ventos influenciam diretamente na distribuição das plantas. O vento 
pode atuar dispersando as sementes de espécies anemocóricas. Já a anemofilia 
retrata a ação dos ventos na polinização. 
Além disso, de forma indireta, os ventos afetam a temperatura e a 
umidade, outros dois fatores de distribuição de organismos. 
1.4 Umidade 
Todos os seres vivos precisam de água para sobreviver. As células 
realizam as suas atividades em meio aquoso. As plantas absorvem água do solo 
e os animais bebem água para obter o suprimento necessário. Além disso, 
alguns organismos vivem em ambientes aquáticos. 
Além disso, como anteriormente discutido, existe a regra de Gloger, a qual 
explica que organismos da mesma espécie, que vivem em locais com maior 
umidade, tendem a ter uma coloração mais escura quando comparados a 
organismos de ambientes mais secos. 
Os organismos são classificados de acordo com a sua necessidade de 
água. Como muitas palavras dessas classificações possuem origem grega ou 
latina, foi colocado seu significado entre parênteses para facilitar a 
https://www.shutterstock.com/pt/g/rjdad
 
 
7 
compreensão. Plantas e animais que vivem na água são chamados, 
respectivamente, de hidrófitos, como aguapés, e hidrófilos, como peixes (hidro: 
água, fito: planta, filo: que tem afinidade). Vegetais e animais que necessitam de 
ambientes úmidossão chamados de higrófitos, como avencas (Figura 4) e 
higrófilos, como minhocas (higro: umidade). Esses organismos são 
desprotegidos contra a perda de água e sofrem consequências graves em 
situações de seca. As plantas xerófitas, cactos, e os animais xerófilos, girafas 
(Figura 5), (xero: seco) são aqueles que precisam de pouca água para sobreviver 
e conseguem suportar períodos de seca, uma vez que possuem mecanismos 
para acumular água ou minimizar suas perdas. Organismos mesófitos, como 
açaí, e mesófilos, como leões, (meso: meio) se encontram em posição 
intermediária. Eles não precisam viver em ambientes úmidos, mas também não 
são capazes de suportar secas intensas. 
Figura 4 – Avenca, exemplo de higrófita 
 
Crédito: RJ22/Shutterstock. 
 
https://www.shutterstock.com/pt/g/malisolittle
 
 
8 
Figura 5 – Girafa, exemplo de xerófilo 
 
Crédito: Nilesh Rathod/Shutterstock. 
TEMA 2 – FATORES EDÁFICOS OU PEDOLÓGICOS 
Na própria definição de solos, já notamos a sua influência para os seres 
vivos. Solo é definido como um conjunto de indivíduos naturais, composto de 
matéria orgânica e que sustenta plantas. Ele é formado por minerais 
provenientes do desgaste de rochas e por matéria orgânica da decomposição de 
seres vivos. 
2.1Tipos de solo e vegetação associada 
Os solos zonais possuem sua gênese vinculada ao clima. Existem quatro 
processos pedogênicos principais associados à vegetação. São eles: 
podzolização, laterização, calcificação e gleização. 
A podzolização (Figura 6) ocorre em locais onde a temperatura é baixa e 
a precipitação é alta, ou seja, regiões de altas latitudes. Florestas de coníferas 
são as vegetações típicas desse solo, por se desenvolverem nesse solo ácido, 
e há pouca atividade microbial. 
As florestas tropicais são adaptadas a solos lateríticos (Figura 7). Esses 
locais possuem temperaturas e precipitações elevadas, cujos solos são firmes e 
porosos, mas com pouca fertilidade. 
Solos calcários ocorrem em ambientes áridos e semiaridos, sendo 
comuns em desertos. Contudo, em áreas em que ocorrem mais chuvas, a água 
https://www.shutterstock.com/pt/g/NileshRathod
 
 
9 
e as sementes penetram em camadas mais profundas, tornando o solo fértil. 
Assim, esse solo calcário mais úmido é comum apresentar a vegetação de 
pradarias. 
Gleização é o processo que forma o solo de regiões mais frias e úmidas, 
polares. A matéria orgânica não consegue ser decomposta porque o solo se 
encontra constantemente gelado e encharcado. A vegetação típica desses 
ambientes é a tundra. 
O solo negro é intrazonal, pois independe de fatores climáticos, uma vez 
que depende mais da composição minerológica e da quantidade de água no 
perfil. Esses solos se contraem em época seca e se expandem em época 
chuvosa. Eles são comuns em savanas e em áreas subtropicais, nas quais 
ocupam regiões planas ou depressões. 
Solos azonais são compostos de alguma substância química incomum e 
que dificulta o crescimento de plantas. As plantas que toleram esses solos 
possuem mecanismos fisiológicos especiais, por exemplo, solos halomórficos 
são aqueles que possuem grandes quantidades de sais (do Grego: halo significa 
sal e morfo, forma). Apenas plantas adaptadas, denominadas dehalófitas, 
conseguem viver nesses locais. 
Figura 6 – Solo podzol 
 
Crédito: Michal812/Shutterstock. 
 
 
 
https://www.shutterstock.com/pt/g/michal812
 
 
10 
Figura 7 – Solo laterítico 
 
Crédito: Sunhaji/Shutterstock. 
2.2Outras características do solo 
As propriedades físicas do solo, como tamanho e porosidade de 
partículas, afetam escoamento, infiltração e penetração de água, interferindo na 
distribuição da vegetação. Desse modo, a textura do solo pode causar variações 
nas plantas, mesmo que o clima seja uniforme. A temperatura do solo é outro 
fator físico vinculado à de sementes e à decomposição da matéria orgânica, ou 
seja, ação de bactérias e fungos saprófitos (decompositores). 
As propriedades químicas do solo são, principalmente em termos 
biológicos, pH e disponibilidade de água. Em termos de pH, a maioria das 
espécies vegetais preferem solos com pH neutro (6,5 – 7,5). Contudo, existem 
as acidófitas (Figura 8), plantas que preferem solos ácidos (pH menor que 6), 
como erva-mate e basófitas, como o algodão, plantas que preferem solos 
básicos (pH maior que 7). A quantidade de água disponível no solo também afeta 
a vegetação que nele vai se estabelecer. Além disso, as substâncias 
encontradas no solo, como fósforo, potássio e nitrogênio, são necessárias para 
o crescimento dos vegetais. 
Apesar de a influência do solo ser mais perceptível para os 
microrganismos e vegetais, ele também afeta a presença de animais. De forma 
indireta, pela determinação das plantas presentes. De forma mais direta, as 
propriedades edáficas físicas e químicas afetam os ciclos de vida dos animais. 
Algumas espécies de invertebrados, répteis e mamíferos possuem sua 
distribuição restrita a um tipo de solo necessário para ser escavado ou para que 
eles se locomovam. Por exemplo, as minhocas só conseguem viver em solos 
https://www.shutterstock.com/pt/g/Sunhaji
 
 
11 
úmidos, uma vez que apresentam respiração cutânea e precisam que sua pele 
esteja umidificada para que as trocas gasosas ocorram de forma adequada. 
Figura 8 – Exemplo de planta acidófita, a mandioca 
 
Crédito: Srimapan/Shutterstock. 
TEMA 3 – ECOSSISTEMAS AQUÁTICOS 
A distribuição dos organismos aquáticos também é influenciada pela 
temperatura e pela luz. Bem como pelo pH, nutrientes inorgânicos, salinidade e 
pressão. 
3.1 Estratificação térmica: temperatura, luz e nutrientes 
Quando a luz incide em ambientes aquáticos, ela é rapidamente 
absorvida. Notamos, primeiramente, que a zona fótica, local onde ocorre a 
fotossíntese, encontra-se na superfície da água. Ali existe uma grande 
concentração de organismos. O fitoplâncton, algas unicelulares fotossintéticas, 
habita esse local. O zooplâncton (Figura 9), por sua vez, realiza migração diária. 
Eles vão se alimentar durante o dia na superfície e se dirigem às profundezas 
durante a noite para fugir de predadores. 
Outro ponto importante é que a superfície é mais quente, enquanto as 
profundezas são frias, fator importante na distribuição dos organismos. 
Além disso, a disponibilidade de oxigênio e nutrientes ocorre na zona 
fótica, em lagos tropicais e oceanos, uma vez que eles não possuem circulação 
vertical, devido à estratificação permanente. Esses locais tendem a ter zonas 
https://www.shutterstock.com/pt/g/srimapan
 
 
12 
profundas improdutivas, já que as substâncias acima mencionadas dependem 
do processo fotossintético. Já em lagos temperados, essa situação é diferente. 
Na primavera e no outono, não há estratificação, assim os nutrientes e o oxigênio 
conseguem atingir as profundidades, permitindo uma maior produtividade. 
Figura 9 – Zooplâncton que realiza migração diária 
 
Crédito: Choksawatdikorn/Shutterstock. 
3.2 Pressão 
A variação de pressão afeta a distribuição de espécies porque são 
necessárias adaptações fisiológicas para que os organismos suportem 
determinadas condições. A pressão da água fica mais alta com a profundidade, 
sendo um problema para grande parte dos organismos. Assim, as espécies 
adaptadas a viver sob essas condições extremas de pressão, nas profundezas, 
não conseguiriam viver na superfície. O peixe Anoplogaster cornuta (Figura 10) 
vive a 5.000 metros de profundidade. 
 
 
13 
Figura 10 – Anoplogaster cornuta, peixe que suporta uma pressão 500 vezes 
maior que o ar faz sobre nós 
 
Crédito: 3DMI/shutterstock. 
3.3 Salinidade 
Da mesma forma que a pressão, a salinidade também exige adaptações 
fisiológicas, como vimos nas plantas halófitas de ambientes terrestres, como a 
Salicornia (Figura 11), que possui caules e raízes expostos ao sal. Como as 
águas salgadas estão nos oceanos e esses ocupam uma grande parte da 
superfícieterrestre, muitos organismos estão adaptados a essas condições 
especiais. Essas espécies, por sua vez, possuem mecanismos para eliminar o 
excesso de sal. Os organismos eurialinos, como o peixe robalo-peva, são 
adaptados fisiologicamente a viver em ambientes com salinidade flutuante e, 
portanto, habitam ambientes salobros, como estuários e alguns pântanos. 
 
https://www.shutterstock.com/pt/g/3DMI
 
 
14 
Figura 11 – Salicornia em praia com água salgada 
 
Crédito: Barmalini/Shutterstock. 
3.4 Condições especiais 
A zona entre marés é uma região que recebe um padrão regular de 
inundação causada pelas marés. Essa área é ocupada por espécies bem 
peculiares. Os padrões de vida desses organismos acontecem de acordo com 
as condições de inundação e dessecamento causadas por esse fenômeno. 
Outro caso especial são os organismos que estão adaptados ao 
movimento das correntes oceânicas, pois eles são capazes de suportar 
ambientes com massas de água distintas. 
TEMA 4 – FATORES BIÓTICOS 
Os fatores bióticos são aqueles que envolvem a relação entre os 
organismos vivos e que causam, limitam ou ampliam a distribuição das espécies. 
4.1 Competição 
A competição interespecífica é uma competição entre diferentes espécies 
por algum recurso, que pode ser luz e nutrientes, no caso das plantas, ou 
alimento e habitat, no caso de animais. Assim, como essa interação diminui a 
disponibilidade de recurso para a outra espécie, ela gera uma redução na 
fecundidade, no crescimento e/ou sobrevivência de indivíduos de uma espécie, 
https://www.shutterstock.com/pt/g/barmalini
 
 
15 
devido à exploração comum de recursos por indivíduos de outra espécie. Em 
casos mais drásticos, pode haver exclusão competitiva, ou seja, uma espécie 
pode ser extinta daquele local, por não ser uma boa competidora. Espécies de 
diatomáceas, por exemplo, competem por silicato, um elemento necessário para 
a constituição de suas paredes celulares. 
Existem diferentes tipos de competição: de exploração, em que os 
indivíduos competem indiretamente entre si e respondem à diminuição dos 
recursos; por interferência, na qual percebe-se uma competição mais direta, 
como por habitat, ou seja, se um indivíduo está em determinado local, outro não 
pode ocupá-lo. Já a alelopatia é um tipo especial de competição por interferência, 
experimentado por algumas plantas. Uma planta produz substâncias tóxicas 
para outra espécie, tornando o ambiente hostil para sua competidora. Por 
exemplo, o capim-santo/limão (Cymbopogon citratus) inibe o crescimento da 
alface e do picão-preto. 
Portanto, a competição afeta a dinâmica das populações competidoras, o 
que influencia na distribuição e na evolução de cada espécie. Algumas espécies 
não ocorrem em determinado local favorável a ela, provavelmente porque há 
uma competidora que impede seu estabelecimento. Desse modo, existe uma 
limitação da distribuição geográfica de uma espécie por meio da competição. 
Isso acontece com mamíferos, aves, plantas, dentre outros seres vivos. 
4.2 Predação e herbivoria 
Predação é o consumo de um organismo, a presa, por outro, o predador, 
por exemplo, quando um guepardo se alimenta de uma gazela (Figura 12). A 
herbivoria, por sua vez, é o consumo de plantas praticado por animais, como o 
bicho da seda que se alimenta de folhas de amoeira. Para alguns autores, a 
herbivoria é considerada um tipo de predação e em termos de influência na 
distribuição das espécies, ela pode ser assim considerada. Predadores e 
herbívoros são chamados de consumidores, os quais influenciam na distribuição 
e na abundância dos indivíduos que consomem e o contrário também é 
verdadeiro. 
Se, por exemplo, um predador pode se alimentar de duas presas 
diferentes, mas tem preferência por uma delas, ele limita a distribuição das 
populações de ambas as presas. Por outro lado, como o predador se alimenta 
dessas presas, a sua distribuição também é condicionada pelo local de 
 
 
16 
ocorrência delas. Um exemplo mais claro disso é se os predadores afetarem a 
distribuição de espécies, quando essas duas espécies são competidoras. 
Observe: existem duas populações de espécies competidoras, a A e a B. Em 
uma situação sem predador, a espécie A elimina a espécie B por exclusão 
competitiva. Contudo, em uma situação com um predador que tem preferência 
alimentar pela espécie A, esse predador controla a população de A, permitindo 
que a espécie B permaneça nesse local e, portanto, interferindo na distribuição 
de ambas as populações. Em casos de herbivoria, o mesmo exemplo pode ser 
aplicado. 
Os predadores e herbívoros altamente específicos possuem sua 
amplitude geográfica coincidente com a distribuição geográfica de suas presas. 
Além disso, os predadores podem eliminar a população de presas de 
determinado local ou impedir a colonização de presas em algum ambiente. 
Nesses dois casos, os predadores interferem na distribuição das populações de 
presas. O primeiro exemplo, no entanto, é difícil de ocorrer na natureza, porque 
se a população de predadores elimina definitivamente a população de presas, 
ele acaba sendo eventualmente eliminado ou, pelo menos, tem sua população 
reduzida. 
Se pensarmos em níveis de teia alimentar, percebemos que essa 
influência pode atingir outras dimensões, como: um predador carnívoro se 
alimenta de uma presa herbívora. Quando o predador limita a população de 
presas, ele permite que as plantas que sofriam herbivoria dessa presa ampliem 
a sua distribuição. 
No entanto, essas constatações são difíceis de ser observadas em 
condições naturais. Essas conclusões foram possíveis por meio de experimentos 
de introdução e remoção de predadores em ambientes naturais. 
 
 
 
17 
 
Figura 12 – Guepardo caçando uma gazela 
 
Crédito: Elana Erasmus/Shutterstock. 
4.3 Parasitismo 
Parasitismo é quando um organismo, o parasito, obtém seus nutrientes 
de outro organismo, o hospedeiro, causando prejuízo, mas não a morte imediata. 
A maioria dos parasitos possui hospedeiros específicos, o que limita sua 
distribuição. Por isso, a distribuição das espécies de parasitos depende 
essencialmente da distribuição das espécies dos hospedeiros. O berne, por 
exemplo, é a larva de mosca que parasita várias espécies de mamíferos (Figura 
13). 
Além disso, os parasitos causam prejuízos aos hospedeiros, que podem 
ser refletidos no crescimento e na reprodução. Assim sendo, os hospedeiros 
tendem a ser mais fracos e menos fecundos, o que pode levá-los a ter uma 
desvantagem competitiva. Essa interação de fatores limita a distribuição das 
espécies hospedeiras. 
 
https://www.shutterstock.com/pt/g/elana7012
 
 
18 
Figura 13 – Berne na pata de um pastor-alemão 
 
Crédito: AlessandraRC/Shutterstock. 
4.4 Mutualismo 
O mutualismo é quando diferentes espécies interagem entre si e ambas 
são beneficiadas com essa interação. As relações mutualísticas podem ser 
obrigatórias ou não, dependendo da evolução de cada relação. De qualquer 
maneira, essa interação afeta a distribuição das espécies. 
Exemplos de relações mutualísticas são a polinização e a dispersão e, em 
ambos os casos, os animais se alimentam de algo produzido pela planta e levam 
o pólen para fecundar outra planta ou distribuem suas sementes. O beija-flor, por 
exemplo, retira o néctar e poliniza muitas famílias de plantas, como as bromélias 
(Figura 14). Nesse sentido, a reprodução e a distribuição da planta estão 
condicionadas à amplitude da movimentação animal. Outro caso é o de fungos 
ou bactérias e plantas. As plantas não conseguem assimilar o nitrogênio 
atmosférico e precisam que outros organismos convertam esse nitrogênio para 
que elas possam assimilá-lo. Desse modo, essas plantas só vão se estabelecer 
em locais onde haja esses organismos, limitando a sua distribuição. 
Outro caso comum de mutualismo são as bactérias que habitam intestinos 
animais, como acontece na nossa própriaespécie. Essas bactérias são 
benéficas para as espécies animais. Contudo, o intestino animal é o habitat 
delas. Assim, a distribuição dessas espécies de bactérias é dependente da 
distribuição da espécie animal na qual elas vivem. 
https://www.shutterstock.com/pt/g/AlessandraRC
 
 
19 
Figura 14 – Beija-flor polinizando flor 
 
Crédito: petrdd/shutterstock. 
4.5 Epifitismo 
O epifitismo ocorre quando uma planta utiliza outra como suporte, mas 
sem prejudicá-la. Bromélias e orquídeas são plantas epífitas e precisam se 
apoiar em outros vegetais para conseguir a luz necessária para realizar a 
fotossíntese. Desse modo, a existência e distribuição das espécies epífitas 
dependem das outras espécies de plantas suporte. 
TEMA 5 – NICHOS ECOLÓGICOS 
Para compreendermos o conceito de nicho ecológico, precisamos, 
primeiramente, diferenciá-lo de habitat. Este é o local no qual os organismos 
vivem, enquanto aquele inclui as condições para a sobrevivência da espécie, 
suas tolerâncias e necessidades. Por conseguinte, um habitat pode conter 
muitos nichos distintos. Em resumo, habitat é onde o organismo vive e o nicho é 
como ele vive. 
Hutchinson, em 1957, propôs o conceito de nicho como hipervolume n-
dimensional. Quando pensamos no nicho que uma espécie ocupa, 
consideramos várias dimensões. Estudamos nesta aula diferentes condições 
que interferem na distribuição dos seres vivos, por exemplo, observamos que as 
plantas dependem de fatores atmosféricos, como temperatura, luz e umidade, 
https://www.shutterstock.com/pt/g/PetrDolejsek
 
 
20 
bem como de fatores edáficos, como disponibilidade de nutrientes e pHe, ainda, 
de fatores bióticos, como herbivoria, parasitismo, competição e mutualismo. 
Cada um desses fatores compõe uma dimensão do nicho definido por 
Hutchinson. Assim, a combinação desses fatores formaria um hipervolume 
multidimensional, o qual seria o nicho de cada espécie. 
Na ausência de competidores e predadores, as espécies possuem um 
nicho ecológico amplo, o qual seria fundamental, uma vez que reflete todas as 
possibilidades de uma espécie. Já o nicho efetivo ou realizado considera as 
condições da espécie, mesmo que ela esteja limitada por inimigos naturais, 
assim o espectro da espécie é mais reduzido. 
Agora que compreendemos o conceito e as dimensões de nicho, bem 
como as diferenças entre nicho fundamental e realizado, somos capazes de 
entender como ele influencia na distribuição das espécies em diferentes 
situações. 
Diante do exposto, entendemos que a distribuição geográfica de uma 
espécie é um reflexo do seu nicho. A espécie ocorre onde estão presentes todas 
as dimensões necessárias para a sua sobrevivência. 
Vamos, então, observar o seguinte exemplo de nicho, o qual inclui fatores 
abióticos, bióticos e nos mostra claramente a diferença entre nicho fundamental 
e nicho efetivo: 
Em 1961, Connel estudou as cracas Chthamalus stellatus (Figura 15) para 
compreender os limites de sua distribuição geográfica. Esse animal ocupa a 
parte superior da zona entre marés. Um fator abiótico que afeta essa distribuição 
é a dessecação causada por marés baixas. Como as cracas possuem 
mecanismos fisiológicos que toleram essa situação, elas podem ocupar esse 
local. 
Na porção inferior da zona entre marés, essa craca competiria com a 
craca Balanus balanoides e poderia ser predada pelo caracol Thais lapillus. O 
experimento de Connel consistiu na retirada da B. balanoides. Depois que a 
espécie competidora não estava mais presente, a C. stellatus ampliou sua 
distribuição até a zona inferior. 
 
 
 
21 
Figura 15 – Craca Chthamalus stellatus 
 
Crédito: Daguimagery/Shutterstock. 
5.1 Exclusão competitiva versus coexistência 
Conhecemos o princípio da exclusão competitiva, pelo qual a espécie que 
melhor compete elimina a outra. Vimos anteriormente que uma espécie sem 
competidores possui um nicho fundamental, mas na presença de competidoras 
ocupa o nicho efetivo. Podemos exemplificar com espécies de peixes 
salmonídeos (Figura 16). Ambas as espécies (Salvelinus malma e Salvelinus 
leucomaenis) podem viver em uma ampla altitude e suportam grande variação 
de temperatura, se estiverem sozinhas, sendo esses seus nichos fundamentais. 
Contudo, ao estarem as duas espécies presentes no mesmo local, ocorre uma 
diferenciação de nicho e cada uma ocupa seu nicho efetivo. S. malma ocupa 
altitudes maiores e S. leucomaenis habita altitudes menores. Esse deslocamento 
de nicho permite a coexistência das espécies, mas afeta as suas distribuições 
geográficas. 
 
https://www.shutterstock.com/pt/g/dagimagery
 
 
22 
Figura 16 – Peixe salmonídeo Salvelinus malma 
 
Crédito: Vamaoyaji/Shutterstock. 
5.2 Modelagem de nicho 
Nós aprendemos que as distribuições das espécies dependem de fatores 
abióticos e bióticos que permitem ou dificultam a sua sobrevivência e 
permanência. Se as condições estão adequadas, espera-se que a população 
seja maior e mais produtiva. Esses fatores permitem que os ecólogos prevejam 
as distribuições reais e potenciais da espécie em estudo. 
Uma ferramenta que tem sido empregada para prever essas distribuições 
é a modelagem de nicho. Por meio das ocorrências já conhecidas das espécies, 
é possível listar a combinação das condições dos locais onde elas habitam. 
Assim, cria-se o envelope ecológico que abriga as condições que permitiriam a 
sobrevivência de determinada espécie. Conhecidas essas condições, o 
modelista pode mapear as áreas que tenham as mesmas características das 
quais as espécies precisam e pode prever as possíveis amplitudes geográficas 
que as espécies podem ocupar. 
 
https://www.shutterstock.com/pt/g/yamaoyaji
 
 
23 
NA PRÁTICA 
Imagine essa situação hipotética: 
Um grande agricultor que vende soja entrou em contato com você porque 
este ano seu produto apresentou uma queda na produção e ele procurou você 
como profissional para compreender seu problema econômico. No atual contexto 
de mudanças climáticas, o outono teve dias cumpridos, com grande quantidade 
de sol. Reflita e indique como você justificaria isso. 
Primeiramente, precisamos da seguinte informação: a soja é uma planta 
de dia curto (Figura 17). Isso significa que ela precisa de muitas horas de escuro 
para florescer e, portanto, floresce no outono. Como no apresentado ano, o 
outono não foi uma estação bem definida e os dias não foram curtos o suficiente, 
muitas plantas não floresceram adequadamente, prejudicando a produção 
daquele agricultor. 
Figura 17 – Plantação de soja 
 
Crédito: Soru Epotok/Shutterstock. 
FINALIZANDO 
Nesta aula, foi abordado o tema de distribuição dos organismos e 
estudado como fatores abióticos interferem na amplitude geográfica ocupada 
pelas espécies. 
Os fatores abióticos abrangem os fatores ambientais. Tratamos aqui de 
elementos atmosféricos e edáficos, sendo que estes incluem temperatura, luz, 
umidade e a ação dos ventos. Os fatores do solo constituem a disponibilidade 
https://www.shutterstock.com/pt/g/UrosPoteko
 
 
24 
de nutrientes e água e o pH. Também observamos que cada tipo de vegetação 
está associado a solos específicos. 
Compreendeu-se também que os ecossistemas aquáticos possuem 
condições específicas. A penetração de luz afeta a temperatura da água, a 
fotossíntese e a disponibilidade de nutrientes e, assim, pode-se observar uma 
estratificação nesses ambientes. Além disso, observou-se como a pressão e a 
salinidade afetam a presença de organismos e limitam a ocorrência de espécies 
adaptadas.Foi citado, ainda, o exemplo específico da zona entremarés que só 
permite a presença de organismos extremamente adaptados àquelas condições. 
Constatou-se que os fatores bióticos são aqueles que incluem a interação 
entre os organismos. Competição, predação, herbivoria, parasitismo, epifitismo 
e mutualismo são exemplos dessa interação e, assim, consegue-se perceber 
como essas relaçõesafetam a distribuição dos organismos. 
Por fim, foi desenvolvido o conceito de nicho ecológico. Pela definição de 
nicho fundamental e nicho efetivo, estabelecemos como determinados 
organismos em situações ideais possuem um amplo nicho, mas, se em contato 
com inimigos naturais, podem ocupar o nicho realizado, mais restrito, mas que 
pode garantir a sua sobrevivência. 
Para finalizar, é importante ressaltar que os fatores interagem entre si. Em 
um ambiente, nenhuma condição estabelecerá sozinha a distribuição geográfica 
de uma espécie. No entanto, esse conjunto de fatores estudado permite a 
ocorrência de espécies nos locais observados. 
 
 
25 
REFERÊNCIAS 
BEGON, M.; TOWSEND. C. R.; HARPER, J. L. Ecologia: de indivíduos a 
ecossistemas. 4. ed. Porto Alegre: Artmed, 2007. 
BROWN, J. H.; LOMOLINO, M. V. Biogeografia. 2. ed. Ribeirão Preto: 
FUNPEC, 2006. 
CAVARARO, R.; MONTEIRO-FILHO, C. J. (orgs). Manual técnico de 
Pedologia. 2. ed. Rio de Janeiro: IBGE, 2007. 
CONNEL. J. H. The influence of interspecific competition and other factors on the 
distribution of the barnacle. Chthamalus stellatus. Ecology, n. 42, p. 710 – 723, 
1961. 
COX, C. B.; MOORE, P. D. Biogeografia: uma abordagem ecológica e 
evolucionária. 7.ed. Rio de Janeiro: Editora LTC, 2009. 
GODEFROID, R. S. Biogeografia: abordagens teórico-conceituais tópicos 
aplicados.1. ed. Curitiba: Intersaberes, 2017. 
HUTCHINSON, G. E. Concluding remarks. Cold Spring Harbour Symposium 
on Quantitative Biology, n. 22, p. 415 – 427, Yale University, New Haven, 
Connecticut 1957. Disponível em: 
<https://www2.unil.ch/biomapper/Download/Hutchinson-CSHSymQunBio-
1957.pdf>. Acesso em: 11 fev. 2020. 
RAVEN, P. H.; EVERT, R. F.; EICHHORN, S E. Biologia vegetal. 5.ed. Rio de 
Janeiro: Guanabara Koogan, 1996. 
RICKLEFS, R. E. A economia da natureza. 6.ed. Rio de Janeiro: Guanabara, 
2010. 
TROPPMAIR, H. Biogeografia e meio ambiente.8.ed. Rio Claro: Divisa, 2008.

Continue navegando

Outros materiais