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DISCIPLINA QUÍMICA AMBIENTAL AULA 09 COMBUSTÍVEIS ORGÂNICOS AUTOR MILTON BEZERRA DO VALE TECNÓLOGO EM GESTÃO AMBIENTAL DISCIPLINA QUÍMICA AMBIENTAL AULA 09 COMBUSTÍVEIS ORGÂNICOS AUTOR MILTON BEZERRA DO VALE TECNÓLOGO EM GESTÃO AMBIENTAL GOVERNO DO BRASIL Presidente da República DILMA VANA ROUSSEFF Ministro da Educação ALOIZIO MERCADANTE Diretor de Ensino a Distância da CAPES JOÃO CARLOS TEATINI Reitor do IFRN BELCHIOR DE OLIVEIRA ROCHA Diretor do Câmpus EaD/IFRN ERIVALDO CABRAL Diretora Acadêmica do Câmpus EaD/IFRN ANA LÚCIA SARMENTO HENRIQUE Coordenadora Geral da UAB /IFRN ILANE FERREIRA CAVALCANTE Coordenador Adjunto da UAB/IFRN JÁSSIO PEREIRA Coordenadora do Curso de Tecnologia em Gestão Ambiental MARIA DO SOCORRO DIÓGENES PAIVA TECNÓLOGO EM GESTÃO AMBIENTAL Química Ambiental AULA 09 - Combustíveis Orgânicos Professor Pesquisador/Conteudista MILTON BEZERRA DO VALE Direção da Produção de Material Didático ROSEMARY PESSOA BORGES Coordenação de Produção de Mídia Impressa e de Design Gráfico LEONARDO DOS SANTOS FEITOZA Projeto Gráfico BRENO XAVIER Diagramação ANDREZA RÊGO Ilustrações VICTOR HUGO 5 COMBUSTÍVEIS ORGÂNICOS APRESENTANDO A AULA Nessa aula, você vai conhecer uma das tecnologias mais antigas da humanidade, a combustão.Conheerá também os principais combustíveis orgânicos utilizados atualmente, dentre eles, os combustíveis fósseis. Vemos ainda a importância do fenômeno de combustão para o desenvolvimento da nação e para os seres humanos, compreenderemos o seu significado físico e os principais parâmetros que influenciam esse fenômeno. Você saberá idenficar os impactos ambientes causados pelos combustíveis orgânicos. DEFININDO OBJETIVOS Após a realização dos estudos correspondentes a esta aula, você será capaz de: • conceituar combustão e identificar os seus componentes da combustão; • verificar a importância dos combustíveis orgânicos no desenvolvimento de uma nação; • identificar os principais combustíveis orgânicos; • relacionar a queima de combustíveis orgânicos com o seu impacto ambiental; • identificar os agentes causadores da poluição atmosférica presente na combustão. 6 QUÍMICA AMBIENTAL DESENVOLVENDO O CONTEÚDO 1 Introdução A grande atividade industrial atual tornou-se possível pelo sempre crescente fornecimento de energia, que pode ser utilizada sob a forma conveniente de energia calorífica ou de energia elétrica, obtida, principalmente, através de três fontes: quedas de água (hidrelétricas), reação de combustão (combustíveis) e energia atômica (reações nucleares). Atualmente, a maior parte da energia consumida no mundo (por exemplo, em transporte, geração de energia elétrica e aquecimento) é fornecida pelas reações químicas dos combustíveis, principalmente os combustíveis fósseis (petróleo, carvão e gás natural), as quais são fontes não renováveis. Como você já deve saber, os seres vivos conseguem energia através dos alimentos (combustíveis). Deste modo, o conhecimento do processo de combustão é de grande importância para muitas áreas. Além de utilizar a combustão para gerar energia, nós usamos como meios para destruir materiais indesejáveis para o meio ambiente, através do processo de incineração, por exemplo, a queima do lixo e de produtos perigosos. A importância da combustão pode ser aferida pela sua participação na produção total de energia: cerca de 80% da energia no mundo, inclusive o Brasil, é produzida através de processos de combustão de derivados de petróleo, gás natural, carvão ou biomassa. Essa energia tem diversas aplicações: transporte; geração de energia elétrica em termelétricas; processos industriais; caldeiras; queimadores; aquecimento doméstico e industrial; incineração de resíduos; cozimento de alimentos. A combustão é uma ciência aplicada que se apóia em quatro ciências básicas: a termodinâmica, a cinética química, a mecânica dos fluidos e os fenômenos de transporte os quais tratam da difusão de espécies e de calor em misturas. 2 Combustão Combustão é uma reação química rápida de uma substância com o oxigênio, acompanhado pela evolução do calor e, na maioria das vezes, com a presença da luz. 7 COMBUSTÍVEIS ORGÂNICOS É uma reação exotérmica, portanto a entalpia dos produtos é menor que a entalpia dos reagentes (∆H < 0). A combustão, sendo uma reação de oxi-redução em alta temperatura, necessita de uma energia de ativação, normalmente conseguida pela elevação de temperatura em um ponto do combustível. Sendo a reação de combustão exotérmica, o processo torna-se auto-ativante até à extinção completa do combustível. Os participantes da reação de combustão recebem nomes técnicos, que são: combustível (por exemplo, matéria orgânica), comburente (o mais utilizado é o oxigênio) e produtos da combustão (gases de exaustão, materiais particulados e cinzas). Veja a equação a seguir: Combustível + comburente produtos da combustão + energia Por exemplo, a glicose é um combustível para nossas células que é oxidada pelo oxigênio, conforme equação abaixo: Glicose + oxigênio dióxido de carbono + água + energia A reação de combustão pode ocorrer nos três estados de agregação da matéria, mas, de modo geral, a reação se dá em fase gasosa. No caso de combustível líquido, este é evaporado previamente e a reação de combustão se efetua entre o vapor do líquido e o oxigênio, intimamente misturados. Já os combustíveis sólidos são de combustão um tanto mais difícil, pois a reação se dá na interface sólido- gás, devendo haver a difusão do oxigênio através dos gases que envolvem o sólido para se atingir a superfície do sólido em combustão. Denomina-se entalpia de combustão ou calor de combustão, a quantidade de calor liberada na combustão completa de 1 mol de substância (combustível), quando todos os participantes da reação encontram-se no estado padrão (estado mais estável da substância a 25 ˚C e 1 atm). As reações mais importantes no processo da combustão estão representadas 8 QUÍMICA AMBIENTAL abaixo, com suas respectivas entalpias de combustão: (1) C(grafite) + Oç CO2 + 393,42 KJ/mol (2)H2 (g) + 1⁄2 O2 H2O(v) + 241,84KJ/mol (3) H2 (g) + 1⁄2 O2 H2O (l) ∆H = -285,85 Kcal/mol 3 Tipos de reações de combustão Denomina-se combustão completa a reação ideal de combustão, quando a quantidade de oxigênio é suficiente para oxidar toda a matéria combustível. Isto é, todo o carbono no combustível é oxidado para CO2, todo o hidrogênio para H2O e todo enxofre para SO2. Considera- se, também, para efeito de cálculo, envolvendo balanço de massa, que todo o nitrogênio presente no combustível apareça nos produtos de combustão como N2. Veja a combustão completa do metano (gás natural). CH4 + 2 O2 CO2 + 2 H2O Denomina-se combustão incompleta a reação que se realiza com insuficiência de oxigênio, ou seja, com uma quantidade de oxigênio inferior à quantidade estequiométrica para oxidar completamente a matéria combustível. Na combustão incompleta, aparece nos gases residuais (fumos) grande quantidade de produtos não completamente oxidados, tais como CO, e muitas vezes matéria combustível não queimada (oxidada), tal como os hidrocarbonetos. Na combustão completa da gasolina, temos: Gasolina + O2 CO2 + H2O Enquanto, na combustão incompleta da gasolina, temos: 9 COMBUSTÍVEIS ORGÂNICOS Gasolina + O2 CO + CO2 + H2O + hidrocarbonetos Numa reação química, apenas a massa é conservada, porém o mesmo não é verdadeiro para o número total de mols de reagentes e produtos. Para balancear a equação de combustão, adota-se 1 para o coeficiente do combustível e os demais coeficientes são determinados por tentativa, deixando-se o oxigênio por último. 4 Comburente É o reagente que participa da reação de combustão e que possui o elemento que sofre redução. Na reação de combustão com geração de calor, o comburente é o oxigênio molecular. A fonte de oxigênio é, naturalmente,o ar atmosférico, cuja composição percentual em volume é 20,99% e o restante, são os gases inertes (nitrogênio e gases nobres). 5 Combustível É o reagente que participa da reação de combustão e que possui o elemento que sofre oxidação. É considerado orgânico, quando o combustível possuir carbono na sua composição. Os metais, como o ferro, o alumínio, o magnésio, em certas condições, comportam-se como combustíveis. Muitos outros elementos, como o silício e o enxofre, também queimam. Os elementos químicos que entram na composição da maioria dos combustíveis orgânicos são: carbono, hidrogênio, oxigênio, nitrogênio e enxofre. A qualidade do combustível é dada pelos elementos carbono (C) e hidrogênio (H). O enxofre (S), apesar de combustível, é indesejável, enquanto o oxigênio (O) diminui a quantidade unitária de calor desprendida. O nitrogênio (N) também não é desejável, pois não apresenta, no campo da combustão industrial, reação com oxigênio com liberação de calor. Para que um material possa ser considerado industrialmente combustível, são necessários os seguintes requisitos técnicos e econômicos: 10 QUÍMICA AMBIENTAL • facilidade de uso; • não formação, durante a combustão, de substâncias tóxicas ou corrosivas; • obtenção fácil; • baixo custo de produção; • segurança no armazenamento e no transporte. Os exemplos mais comuns de combustíveis orgânicos são os combustíveis fósseis. Além deles, temos os originados da biomassa: madeira (lenha), biodiesel, álcool hidratado (etanol), metanol, etc. 5.1 Combustíveis Fósseis Os combustíveis fósseis englobam um grande número de compostos orgânicos minerais, podendo ser sólidos, líquidos ou gasosos. Os combustíveis fósseis são depósitos geológicos formados há milhões de ano a partir da decomposição de vegetais e animais e submetidos a altas pressões e temperatura na crosta terrestre, sendo considerada uma fonte de energia não renovável. São eles: • Carvão Mineral O carvão mineral, ou carvão-de-pedra, ou hulha é uma rocha sedimentar, orgânica, porosa, negra ou negra- acastanhada. Existem quatro tipos básicos de carvão: lignito, turfa, betuminoso e antracito. O carvão é constituído, principalmente, por carbono, hidrogênio e oxigênio com pequenas quantidades de enxofre, nitrogênio e água. Na utilização do carvão para fins energéticos, é essencial o conhecimento prévio das propriedades do carvão por análise elementar, análise imediata, poder calorífico superior e inferior e reatividade. Além disso, a determinação de álcalis, Na (sódio) e K (potássio) nos carvões é importante, por que estes causam sérios problemas de obstrução (fouling) em caldeiras. O carvão é empregado, principalmente, nos processos de combustão, gaseificação, liquefação e carbonização. • Petróleo 11 COMBUSTÍVEIS ORGÂNICOS O petróleo é um óleo escuro, geralmente de cor negra, formado por uma mistura complexa de centenas de hidrocarbonetos, sendo menos denso que água (0,75 a 0,90 g/mL) e insolúvel na água. Dentre os hidrocarbonetos, encontram-se não apenas os alcanos, mas também alcenos e compostos aromáticos. Entram também em sua composição alguns compostos que possuem nitrogênio, enxofre, organometálico, água, cloreto de sódio e restos de microrganismos. O petróleo é encontrado nos poros das rochas, chamadas de rochas-reservatórios, portanto, está presente nas bacias sedimentares. O petróleo é classificado segundo a natureza química em três grupos: base parafínica (cadeia alifática), base naftênica ou asfáltica (cíclica não aromática) e base aromática (pouco comum, possui o anel benzênico). Existe também, de base mista. A unidade empregada para a medida de volume de petróleo é o barril americano, que equivale 159 L ou em média 129 Kg. • Gás natural O termo gás natural é usado para designar gases acumulados no subsolo, de composição muito variável, os quais estão ou não associados à presença de óleo. Com poucas exceções, o gás natural consiste em, pelo menos, 95% de hidrocarbonetos, sendo o restante constituído de nitrogênio, dióxido de carbono e, algumas vezes, sulfeto de hidrogênio. Por isso, para o uso desse gás, ele necessita ser refinado para remoções de impurezas. O principal componente do gás natural é o metano (CH4), representando normalmente cerca de 90% do seu volume. Os hidrocarbonetos de maior massa molecular estão presentes em menor quantidade, considerando-se que alcanos com mais de 5 átomos de carbono raramente constituem mais de 2% em volume da mistura. O gás natural é considerado uma fonte de energia limpa, comparada a derivados de petróleo e carvão, pois emite baixo níveis de poluentes e apresenta boas condições de controle. Outra vantagem do gás natural é sua facilidade de transporte, manuseio e segurança. Além de combustível, o gás natural tem outra aplicação muito importante, na 12 QUÍMICA AMBIENTAL propulsão do petróleo dos poços para aumentar a sua vazão. 5.2 Derivados dos combustíveis fósseis São os produtos obtidos através de processos físicos e/ou químicos apropriados, aplicados aos combustíveis fósseis. Por exemplo, nas refinarias o petróleo é destilado para separação dos seus componentes e obtenção de diversos produtos, como a gasolina, o querosene, óleo diesel e outros produtos. A porcentagem de cada uma das frações listadas varia em função da origem do petróleo. Os principais combustíveis derivados fósseis são: • Gás Liquefeito do Petróleo-GLP O GLP, gás liquefeito de petróleo, é constituído por hidrocarbonetos que são produzidos no início da destilação do petróleo e também durante o processamento do gás natural. Para o GLP proveniente do petróleo, os hidrocarbonetos que aparecem em maiores proporções são os compostos de três átomos de carbono (propano e propeno) e de quatro carbonos (butano e buteno). Pequenas quantidades de etano e pentano também podem ocorrer. Os hidrocarbonetos predominantes no GLP são gasosos à pressão e temperatura ambientes, mas liquefazem-se quando pressões relativamente baixas são aplicadas, proporcionando a redução a pequenos volumes, facilitando os trabalhos de manuseio e transporte. O GLP apresenta grandes vantagens sobre os combustíveis sólidos ou líquidos, devido ao seu alto poder calorífico, que é da ordem de 46.024 kJ/kg e menor toxidade e risco de explosão. Em veículos leves, as emissões de NOx são próximas das obtidas com a gasolina, mas as outras emissões são menores. • Gasolina A gasolina é líquida, volátil, inflamável e constituída por mistura de hidrocarbonetos (normalmente de 4 a 12 átomos de carbono). A faixa de destilação da gasolina automotiva varia de 30 a 220°C. A gasolina é o combustível mais consumido dentre os que são utilizados em transporte rodoviário. A gasolina é um combustível de relativa alta densidade energética, sendo muito 13 COMBUSTÍVEIS ORGÂNICOS adequado para motores de ciclo Otto. Porém, possui um número de octanagem menor do que outros combustíveis usados nesses motores, o que limita as razões de compressão e a eficiência energética dos motores a gasolina. O índice de octanagem é um importante parâmetro da qualidade da gasolina. Esse índice mede a tendência de um combustível detonar quando queimado no cilindro de um motor. Quanto maior o índice de octanagem, menor a tendência à detonação. De acordo com a definição do índice de octanagem, o isoctano (2,2,4 trimetil pentano) tem o valor de 100 para esse índice, enquanto o n-heptano (C7H16) possui o valor de zero. Por exemplo, uma octanagem de 87 equivale a uma mistura de 87% de isoctano e 13% de heptano. No Brasil, denomina-se gasolina regular aditivada aquele combustível que possui aditivos detergentes/dispersantes, que têm a função de impedir a formação de depósitos, mantendo limpos os bicos injetores e as válvulas de admissão. • Óleo Diesel O óleo diesel é obtido através da sua destilação entre temperaturas de 250 e 350 ˚C.É constituído basicamente de hidrocarbonetos. Em aplicações automotivas, o óleo diesel tem relativamente baixas emissões de CO e hidrocarbonetos, mas altas emissões de NOx e material particulado. As desvantagens nas emissões têm potencial para melhoramentos. Uma redução no conteúdo de enxofre por exemplo, reduz não somente as emissões de SO2, mas também as emissões de material particulado. Como a gasolina, o controle nas emissões fornece um incentivo para a reformulação do óleo diesel. 5.3 Biomassa Biomassa é a matéria orgânica da terra, principalmente, os resíduos de plantas. No campo da energia, o termo biomassa é usado para descrever todas as formas de plantas e derivados que podem ser convertidos em energia utilizável, como madeira, resíduos urbanos e florestais, grãos, talos, óleos vegetais e lodo de tratamento biológico de efluentes. A energia gerada pela biomassa é também conhecida como “energia verde” ou “bioenergia”, isto é, o conjunto de recursos biologicamente 14 QUÍMICA AMBIENTAL renováveis. Uma das formas de utilização da biomassa é através da queima direta para produzir energia. Outra forma de utilização é através do processamento da biomassa para produção de combustíveis. A obtenção de combustível a partir da biomassa pode ser realizada através de processos químicos, como a gaseificação, ou através de processos biotecnológicos, como a fermentação. Como exemplos, pode-se citar o álcool e o biogás. Há muitas vantagens na utilização da biomassa diretamente como combustível, por exemplo, as reduzidas emissões de poluentes. As emissões de CO2, liberadas durante a queima de biomassa podem ser consideradas praticamente nulas, pois esse gás é reabsorvido no próximo ciclo de vida da planta, no processo de fotossíntese. Além disso, a madeira, por exemplo, contem pouca cinza (1% ou menos), o que reduz a quantidade de cinza que precisa ser disposta no meio ambiente, em comparação ao carvão mineral. Entretanto, deve ser observado que, em comparação com os combustíveis fósseis sólidos, a biomassa contém muito menos carbono e mais oxigênio e, como conseqüência, tem um menor poder calorífico. Além disso, o conteúdo de cloro de certas biomassas, como algumas palhas, pode exceder o nível encontrado no carvão. Entre os diversos tipos de biomassa que podem ser usados como combustíveis, destacam-se: • Lenha É o combustível mais antigo em uso e, atualmente, ainda é bastante utilizado em alguns países, incluindo o Brasil. A lenha é a madeira (tronco e galhos) de árvores nativas ou de reflorestamentos, e o carvão vegetal é a lenha que sofreu o processo da carbonização, principalmente, em fornos. A lenha, sendo madeira, é constituída de celulose, resinas, água e sais minerais. A queima da lenha é feita sobre grelhas, e a chama produzida é longa, devido aos gases da combustão. Outro tipo de combustível seria na forma de serragem e cavaco, que são resíduos da indústria de beneficiamento da madeira, como a indústria moveleira, de papel e outras. 15 COMBUSTÍVEIS ORGÂNICOS • Álcool Etílico No Brasil, o álcool etílico, ou etanol (C2H6O), é mais conhecido simplesmente como álcool. O emprego do álcool etílico como combustível foi uma solução brasileira para a crise do petróleo do final da década de 70, através do programa Pro-álcool. O álcool etílico é obtido da biomassa, normalmente de plantas ricas em açúcar, amido e material celulósico, através da fermentação da glicose (açúcar). A maior parte da glicose pode ser extraída diretamente de plantas ricas em açúcar, o que não necessita de hidrólise; plantas ricas em amido precisam ser processadas por hidrólise enzimática e materiais celulósicos requerem hidrólise ácida. O álcool etílico pode ser usado tanto em motores do ciclo Otto como do ciclo Diesel e é usado, principalmente, em misturas com gasolina. Portanto, existem dois tipos de álcool fabricados no Brasil, o álcool anidro e o hidratado. O álcool anidro é o álcool etílico com teor mínimo de 99,3º INPM (porcentagem de álcool em massa, em uma mistura hidroalcoólica à temperatura padrão de 20ºC), sendo usado como aditivo oxigenante da gasolina. O álcool hidratado possui um teor alcoólico mínimo de 92,6ºINPM, e é usado como combustível em veículos de passeios e comerciais leves. • Biogás É produzido através da digestão anaeróbia, ou seja, pela biodegradação de matéria orgânica pela ação de bactérias na ausência de oxigênio. Os principais resíduos orgânicos utilizados na produção de biogás são estercos de animais, lodo de esgoto, lixo doméstico, resíduos agrícolas, efluentes industriais e plantas aquáticas. A composição do biogás é constituída principalmente de gás metano (50 a 75%) e gás carbônico (20 a 40%), contendo também hidrogênio, gás sulfídrico, amônia, água, etc. Simultaneamente à obtenção do biogás, a digestão anaeróbia de matéria orgânica produz resíduo rico em fósforo e nitrogênio, que pode ser utilizado como fertilizante agrícola, denominado biofertilizante. 16 QUÍMICA AMBIENTAL • Biodiesel O biodiesel é produzido a partir de óleos vegetais puros ou usados e de gorduras animais (sebo). Tais óleos e gorduras sofrem uma reação com álcoois de cadeia curta (etanol ou metanol) à temperatura de 50 ˚C, chamada de reação de transesterificação de triglicerídeos, resultando os compostos conhecidos como ésteres de ácidos graxos (etílicos ou metílicos), tendo a glicerina como subproduto. Ele é usado em substituição ou adicionado ao diesel de petróleo (petrodiesel). A reação de transesterificação é catalisada por ácido ou base, dependendo das características do óleo e/ou gordura utilizados. As matérias-primas utilizadas na produção de biodiesel são: mamona, amendoim, girassol, dendê, soja, babaçu, caroço de algodão, gordura animal, buriti, etc. 6 Produtos da Combustão Os produtos da combustão, também chamados de gases de combustão, são os produtos resultantes das reações que ocorrem durante o processo de combustão. Entre os diversos gases que podem ser formados, podem-se citar os seguintes: • Dióxido de carbono (CO2), presente em todas as combustões completas. • Vapor d’água (H2O), presente em todas as combustões completas. • Óxidos de enxofre (SO2 e SO3), resultam da oxidação do enxofre presente como impureza nos combustíveis fósseis. • Monóxido de carbono (CO), que tem a sua formação através da relação oxigênio/combustível e pela eficiência da queima da mistura ar/combustível. Isto é, ocorre nas reações de combustão incompleta. • Óxidos de nitrogênio (NO e NO2), que têm a sua formação dependente da temperatura da combustão. • Hidrocarbonetos (HC), que são as frações dos combustíveis orgânicos não queimados ou que sofreram apenas oxidação parcial. • Aldeído (R-CHO), que resulta da oxidação parcial do combustível durante a queima. Os principais aldeídos são o formaldeído (metanal) e o acetaldeído (etanal). 17 COMBUSTÍVEIS ORGÂNICOS Na combustão de sólidos, líquidos e de gases, também podem ser liberados materiais particulados que resultam da combustão das frações mais complexas de hidrocarbonetos em condições insuficientes de oxigênio e tempo para uma queima adequada. Resultam também da condensação dos aerossóis e vapores de desgaste ou deterioração de materiais. Na combustão, resulta de duas fontes principais: material inorgânico presente no combustível (cinzas) e fuligem, formada pela combustão incompleta. As cinzas, normalmente, encontram-se na forma de óxidos de elementos inorgânicos do combustível, tais como CaO, Al2O3, K2O, etc. A Fuligem, pode ser formada devido a recombinações de elementos voláteis ou frações leves do combustível, sob condições específicas ainda não bem conhecidas e determinadas. Pode ser formada também devido à liberação de voláteis incompleta de gotas ou do combustível sólido, os quais não tiveram tempo, temperatura e oxigênio suficiente para oxidação completa. As partículasde fuligem são a principal causa da luminosidade das chamas. Muitos dos compostos liberados na combustão são poluentes atmosféricos, como os citados acima. Com exceção do gás carbônico e do vapor d’água. Já vimos que esses poluentes contribuem para a intensificação do efeito estufa na atmosfera. Por isso, muitos estudos sobre combustão têm sido realizados com o objetivo de elucidar e minimizar a produção dos poluentes formados neste processo. Os efeitos dos poluentes da combustão podem ser diretos (doenças, aumento do efeito estufa) ou indiretos, que são a formação de poentes secundários (smog fotoquímico e chuva ácida). 7 Determinação do Poder Calorífico O poder calorífico pode ser determinado teoricamente, através de cálculos (métodos matemáticos, por exemplo, a fórmula de Dulong), desde que se tenha a composição elementar do combustível e o calor de combustão dos elementos ou compostos gasosos. Esse parâmetro também pode ser determinado experimentalmente através de calorímetros como a bomba calorimétrica de Berthelot- 18 QUÍMICA AMBIENTAL Mahle (combustíveis sólidos e líquidos) e o calorímetro de Junkes (combustíveis líquidos e gasosos). 8 Medidas preventivas Foi criado pelo governo brasileiro, em 1993, um programa de controle da poluição do ar para veículos automotores, com objetivo de fazer com que as indústrias automobilísticas reduzissem a emissão de monóxido de carbono. Como conseqüência, surgiu o conversor catalítico, chamado de catalisador. É um equipamento colocado na descarga do automóvel, com a finalidade de promover reações químicas de forma rápida de certos gases poluentes em outros menos poluentes, de acordo com as seguintes equações: 2 CO + O2 2 CO2 2 NO +2 CO N2 + 2 CO2 C7H16 + 11 O2 7 CO2 + 8 H2O Essas reações catalíticas ocorrem através da ação dos metais (catalisadores), tais como paládio (Pd), ródio (Rh) e molibdênio (Mo). ATIVIDADE 01 1.1. De onde vem a energia térmica liberada nas combustões? 1.2. Quais as diferenças entre a combustão completa e a incompleta? 1.3. Por que o álcool etílico é um combustível ecologicamente correto? 19 COMBUSTÍVEIS ORGÂNICOS RESUMINDO Nesta aula, aprendemos sobre a importância dos combustíveis orgânicos para o desenvolvimento de uma nação e a sobrevivências dos animais (alimentos). Vimos que as reações de combustão são responsáveis por um dos maiores problemas ambientais do planeta: a poluição atmosférica, através de sua contribuição no smog fotoquímico e químico, na chuva ácida e no aumento do efeito estufa, além de provocar doenças. Verificamos também que os combustíveis orgânicos são a maior fonte de energia para movimentar os veículos e manter as indústrias funcionando. 1.4. Pesquise os produtos da destilação do petróleo. 1.5. Relacione os benefícios e os problemas ambientais produzidos pelo petróleo. 1.6. O principal combustível do biogás é o mesmo do gás natural. Escreva a equação de combustão e complete as equações de combustão incompleta. 1.7. Defina biomassa e cite seis exemplos de combustíveis dela provenientes. 1.8. Qual a finalidade do conversor catalítico nos automóveis? Explique 20 QUÍMICA AMBIENTAL AVALIANDO SEUS CONHECIMENTOS Considerando a leitura desta aula, as atividades e leituras complementares desenvolvidas por você, resolva as seguintes questões. 1. Escreva a equação balanceada da combustão completa e uma incompleta do octano. 2. Coloque os combustíveis álcool, carvão e gasolina em ordem crescente de lançamento do gás tóxico SO2 durante a combustão. Explique. 3. Técnicos comparam a capacidade energética dos combustíveis em função do calor liberado por massas iguais dessas substâncias. De acordo com a tabela abaixo: LEITURA COMPLEMENTAR BRAGA, B. et al. Introdução a engenharia ambiental. 2. ed. São Paulo: Ed. Pearson / Prentice Hall, 2002. h t t p : / / w w w . u s p . b r / q a m b i e n t a l / c o m b u s t a o _ energiaExperim ento.html. Acesso maio, 2007. PETROBRÁS. Disponível em: <http://www.petrobras.com. br/pt/>. Acesso em 01 maio 2007. 21 COMBUSTÍVEIS ORGÂNICOS Combustível Massa molarLondres Entalpia de combustão Álcool etílico (etanol) 46 g/mol -1369 kJ/mol Álcool metílico (metanol) 32 g/mol -763 kJ/mol Butano 58 g/mol -2280 kJ/mol Hidrogênio 2 g/mol -286 kJ/mol Qual desses combustíveis tem maior capacidade energética? Qual é o menos poluente? 4. Considere a seguinte situação-problema: A cidade de São Paulo produz 4 milhões de m3 de esgoto por dia. O tratamento de 1 m3 desse esgoto produz em média 0,070 m3 de biogás, no qual 60% são de metano. Usado como combustível de veículos, 1m3 de metano equivale a 1 L de gasolina. Agora, responda às questões a seguir: a) Quantos litros de gasolina seriam economizados diariamente se todo o esgoto de São Paulo fosse tratado para produzir metano? b) Escreva a equação química que representa o aproveitamento do metano como combustível. 22 QUÍMICA AMBIENTAL CONHECENDO AS REFERÊNCIAS BAIRD, C. Química Ambiental.2. ED., São Paulo: Bookman, 2002. BRANCO, S. M. Energia e Meio Ambiente. São Paulo: Editora Moderna, 1993. BRANCO, S. M. Meio Ambiente e Biologia. São Paulo: Senac, 2005. CARVALHO JÚNIOR, J. A.; MCQUAY, M. Q. Princípios de combustão aplicada. Florianópolis: Editora da UFSC, 2007. HINRICHS, R. A.; KLEINBACH, M. Energia e meio ambiente. 3. ed. São Paulo: Pioneira Thomson Learning, 2003. GOLDEMBERG, J. Energia, Meio Ambiente e Desenvolvimento. São Paulo: Edusp, 2003 MANO, E. B.; PACHECO, E. B. A. V.; BONELLI, C. M. C. Meio ambiente, poluição e reciclagem. São Paulo: Edgar Blucher Ed., 2005. MANAHAN, S. E. Fundamentals of Environmental Chemistry. 2. ed. Boca Raton: Lewis Publishers, 2001. OLIVIER, M. J. Chime de L’environnement. 3. ed. Canadá: Ed. Editeur Les productions, 1998. ROCHA, J. L; ROSA, A. H.; CARDOSO, A. A. Introdução à Química Ambiental. Porto Alegre: Bookman, 2004. TOLMASQUIM, M. T. Fontes Renováveis de Energia no Brasil. Rio de Janeiro, Interciência, 2003
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