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Anne Karen Reis PATOLOGIA Aterosclerose A resposta imunológica está relacionada com a presença de um antígeno, ou seja, algo que cause um dano, nesse caso, o acúmulo de LDL. A partir de um acúmulo, começa a ocorrer deposição de alguma coisa em um local no qual ela não deveria estar. Nos processos de degeneração ocorre acúmulo de substâncias e, na degeneração gordurosa, ocorre um acúmulo de gordura em células que não armazenam e nem processam essa substância, sendo essa degeneração chamada de lipidose. Se começa a acontecer acúmulo de LDL em uma região que ele não deveria estar acumulado, as células começam a responder contra esse LDL, o que gera um processo inflamatório. Na inflamação aguda temos a ativação primeiramente de neutrófilos, que vão produzir IL-6, IL-1 e TNF-α. Essas moléculas começam a ativar outras células do sistema imunológico. Se após uma inflamação aguda acontece um processo de inflamação crônica (já que a aterosclerose é uma doença obstrutiva crônica) tem-se a ativação de macrófagos. Primariamente, esses macrófagos tendem a perpetuar a inflamação, visando a destruição do antígeno, então temos os chamados macrófagos M1, que são mais fagocíticos e produzem mais INF-γ. Começa, então, a fagocitose de LDL, que inicia um processo de oxidação. Quando o macrófago começa a fagocitar o LDL, ele se torna as chamadas foam cells, também chamadas de células espumosas. As células se tornam espumosas porque acontece oxidação dentro do citoplasma, visto que os macrófagos não conseguem destruir totalmente o lipídio, logo começam a “espumar” e entram em morte celular. Se a célula morre, ocorre um influxo de cálcio (sinal de sofrimento da célula). Ao haver interação entre cálcio e gordura, ocorre calcificação dessa gordura, iniciando a formação da placa de gordura. Acontece então a troca de macrófagos M1 para macrófagos M2, que tenta resolver o que está acontecendo, melhorando e trocando o tecido que foi danificado e regulando o processo inflamatório, através de IL-10 e TGF- β. O IL-10 gera uma regulação através de células T regulatórias e o TGF-β faz processo de angiogênese (visto que já houve a inflamação inicial, já houve a destruição de células e, se as células espumosas estão morrendo, o corpo entende que o tecido está sofrendo → quando há perda de células acontece angiogênese, por causa do TGF-β, ou hiperplasia). Anne Karen Reis PATOLOGIA As células que morrem sinalizam para as células vizinhas que elas precisam se replicar, então tem-se a hiperplasia da musculatura lisa que está embaixo da camada íntima e começa a ter processo de angiogênese no local da perda de células → começam a aparecer vasos ao redor da placa. Isso é ruim porque, assim, a placa não para de crescer (como a pessoa não entende que está doente, ela continua com os hábitos alimentares ruins). À medida que essa placa cresce, ela exerce uma pressão sobre o endotélio, que começa a entrar a luz do vaso, que vai ter menos espaço para a passagem do sangue. Quanto maior a placa, maior a oclusão do vaso. Quanto mais essa placa cresce, isso é sinal que a deposição de LDL ainda está acontecendo, ainda está havendo morte celular e o processo inflamatório. Quando a angiogênese começa ao redor da placa, os vasos preenchem o espaço. Vasos sanguíneos possuem baixa elasticidade e, se a placa cresce, ela começa a esticar os vasos, o que pode levar ao rompimento, que leva ao extravasamento de sangue. Com o extravasamento de sangue, ocorre hemostasia. Há duas formas de ativar a cascata de coagulação, a via intrínseca e a extrínseca. Se ocorrer dano tecidual devido ao rompimento de um vaso, há ativação da via extrínseca e exposição do fator tecidual, o que gera ativação plaquetária. Tem-se início a formação do trombo primário. O sangramento começa de dentro do tecido para fora (a luz do vaso) e quanto mais fatores de coagulação passam, maior a agregação plaquetária ocorre e maior o trombo fica, o que gera maior oclusão do vaso, devido ao processo de trombose. Ocorre, então, mais isquemia, gerando diminuição da oferta de oxigênio, o que leva a, mais uma vez, ao dano celular, devido a menor oxidação, isso leva à morte das células, causando infarto. INFLAMAÇÃO: HÁ COMO MEDIR? Alguns estudos mostram que a PCR (Proteína C Reativa Ultrassensível) pode ser utilizada como um marcador inflamatório para detecção inicial de doenças ateroscleróticas. Algumas citocinas, como a Interleucina-1 (IL-1), IL-6 e o Fator de Necrose Tumoral-α (TNF-α), podem regular a síntese de PCR. Estudos prévios mostram que esta proteína pode exercer importantes efeitos pró-inflamatórios e, quando se liga a moléculas resultantes de inflamação ou infecção, desencadeia a ativação do complemento, o que leva à lesão tecidual. Dados da literatura mostram que há forte correlação entre valores elevados de PCR em indivíduos com sobrepeso ou obesidade. A presença de hiperglicemia, dislipidemia, os valores aumentados de PCR e o risco de SM também são afetados pelo sobrepeso/obesidade em crianças, o que leva ao risco de comorbidades futuras. A hiperglicemia relaciona-se à inflamação devido à formação de produtos avançados de glicação (AGEs), que podem levar à síntese de IL-6, à ativação de macrófagos e ao estresse oxidativo, o que culminaria com a produção de PCR, contribuindo para a inflamação. Os AGEs derivam da reação não enzimática da glicose (além de sua oxidação) com proteínas, lipídeos e também ácidos nucleicos, levando ao estresse oxidativo e ao subsequente desenvolvimento de processos inflamatórios e trombóticos; essas condições explicam, em parte, a relação do DM com os eventos cardiovasculares. Os AGEs elevam a produção de espécies reativas de oxigênio, prejudicando a função dos sistemas antioxidantes. Por outro lado, os AGEs também são produzidos em situações de oxidação, o que contribui para as complicações crônicas do DM. Sua ação inicia-se pela sua ligação ao receptor de AGE (RAGE). Ocorre também ativação de NF-κB (fator nuclear - kappa β), que ativa a transcrição de citocinas pró- inflamatórias, como a IL-6 e o MCP-1 (peptídeo 1 quimiotático de monócitos), intensificando a resposta inflamatória. Anne Karen Reis PATOLOGIA A elevação da PCR também está presente na gênese da aterosclerose e mesmo modestas alterações podem ser preditoras de eventos cardiovasculares. Seus níveis aproximadamente triplicam na presença de risco de doenças vasculares periféricas. Dessa forma, a PCR pode predizer eventos cardiovasculares, já que representa um fator de risco independente de desenvolver DCV. Em conclusão, pode-se inferir que a PCR se associa à morbidade cardiovascular e está fortemente relacionada ao número de componentes da SM; porém, há uma correlação mais forte com a adiposidade do que com a sensibilidade insulínica ou o controle glicêmico. No entanto, algumas limitações devem ser levadas em consideração, pois seus níveis séricos podem elevar-se transitoriamente por duas a três semanas depois de uma grande infecção, trauma ou evento isquêmico agudo. ATEROSCLEROSE: ALGUNS ASPECTOS INFLAMATÓRIOS Os fatores de risco de formação de placas aterogênicas têm relação com o estilo de vida (dieta aterogênica, sedentarismo, obesidade, tabagismo, etilismo) e outros fatores como a RI (ou DM), a hipertensão arterial, a hipertrigliceridemia, os baixos níveis de HDL-c e LDL-c oxidado, e as alterações nos valores de homocisteína, de PCR-us, do fator VII de coagulação, do ativador tecidual do plasminogênio e do PAI-1. A aterosclerose é uma DCV, caracterizada pela inflamação crônica da parede da artéria e consequente formação de placas, assim comopela ativação de diferentes células inatas do sistema imune que estão envolvidas diretamente na gênese do depósito das substâncias constituintes destas placas, que são compostas principalmente de lipídios, cálcio e células inflamatórias. As lesões ateroscleróticas são, de fato, uma série de respostas celulares e moleculares altamente específicas e dinâmicas, essencialmente inflamatórias, por natureza. Em pacientes vulneráveis, a aterosclerose se desenvolve por meio da influência de condições que traumatizam o endotélio, como envelhecimento, tabagismo, hipertensão arterial sistêmica, hipercolesterolemia, diabetes e a própria obesidade. Esses fatores danificam o endotélio e estimulam uma reação inflamatória/proliferativa na parede vascular. O processo inflamatório, além de aumentar o risco de hipertensão e DM2, também promove elevação dos níveis de citocinas, o que está diretamente relacionado a recrutamento de monócitos e infiltração de macrófagos na parede arterial, com formação da placa. Como são processos lentos e assintomáticos, os sinais podem demorar anos para se manifestar; assim, o uso de marcadores como a PCR-us é importante indicador. A presença de hipertensão também se relaciona com o aumento do estresse oxidativo e consequente desencadeamento do processo inflamatório na parede dos vasos. A hiperglicemia e o desenvolvimento do DM relacionam-se com o desenvolvimento da aterosclerose por diferentes mecanismos. Talvez o mecanismo mais bem estudado seja o que tange aos AGEs, que se relacionam à gênese da placa, mas também podem ser acumulados nas lesões. Estes produtos são mediadores de lesão endotelial, inflamação e alterações lipídicas – como, por exemplo, a oxidação da LDL- c que, nesta condição, são altamente aterogênicas, pois os macrófagos envolvidos na formação da placa têm receptores scavenger para captação de LDL-c oxidada; observe-se que, com o tempo, esses macrófagos se tornam células espumosas. Estes eventos são seguidos pelo recrutamento de células inflamatórias para a parede dos vasos. Em monócitos, a PCR-us também está relacionada com a estimulação da produção do fator tecidual, que é um ativador extrínseco da cascata de coagulação. A PCR também atua como reguladora da produção de óxido nítrico no endotélio vascular e coordena a produção e a secreção de várias citocinas pró-inflamatórias por adipócitos. Dados da literatura mostram que a elevação dos níveis de fibrinogênio, fibrina e produtos de degradação do fibrinogênio tem relação com a formação e o desenvolvimento da placa de ateroma. O fibrinogênio exerce papel fundamental na formação e no crescimento da placa de ateroma, além de ser precursor de trombos Anne Karen Reis PATOLOGIA murais. Ele também está envolvido nos mecanismos de agregação plaquetária e injúria da célula endotelial, que exercem papel na formação do trombo. Valores elevados de fibrinogênio associados à presença de outros fatores de risco, como hipertensão, tabagismo, sedentarismo, dislipidemia e RI, elevam os riscos de formação de trombos. Assim como a PCR-us, o fibrinogênio é considerado um fator de risco independente para a DCV. O aumento de fibrinogênio, fibrina e produtos de degradação do fibrinogênio podem levar à esclerose das paredes dos vasos e ao estreitamento do lúmen, além de contribuírem com a ruptura da placa. Outro marcador de inflamação é o CD40, expresso por linfócitos T e por plaquetas ativadas, além de ser expresso por células endoteliais na superfície de células musculares lisas e em macrófagos. A exacerbação da inflamação aumenta a instabilidade da placa aterosclerótica, fazendo com que haja maior vulnerabilidade de eventos coronarianos recorrentes. Esta instabilidade leva à obstrução de pequenos compartimentos vasculares ou mesmo à formação de trombos, que podem levar a obstruções mais graves. A degradação da capa fibrosa por ação de metaloproteinases de matriz (MMPs) e a neovascularização nas placas são processos implicados na instabilidade da placa. Com o exposto, pode-se reafirmar que a inflamação tem papel imprescindível na gênese e na progressão da aterosclerose. Outro fator importante, já comentado no contexto dos AGES, é o NF-κB, que induz a expressão de vários mediadores químicos de inflamação, contribuindo para a formação e o desenvolvimento da placa aterosclerótica. Fonte: Artigo Síndrome metabólica, aterosclerose e inflamação: tríade indissociável?, de Sandra Maria Barbalho, Marcelo Dib Bechara, Karina Quesada, Márcia Rocha Gabaldi, Ricardo de Alvares Goulart, Ricardo José Tofano e Rodrigo Galhardi Gasparini.
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