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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE - UFRN CENTRO DE TECNOLOGIA – CT DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA CIVIL ENGENHARIA AMBIENTAL UTILIZAÇÃO DO MODELO DE GRANDES BACIAS HIDROGRÁFICAS – MGB-IPH EM RESERVATÓRIOS DA BACIA DO RIO PIRANHAS-AÇU Daniel Soares da Silva Orientador (a): Prof. Dra. Joana Darc Freire de Medeiros Natal/RN 2019 Daniel Soares da Silva Página i Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN Sistema de Bibliotecas - SISBI Catalogação de Publicação na Fonte. UFRN - Biblioteca Central Zila Mamede Silva, Daniel Soares da. Utilização do modelo de grandes bacias hidrográficas - MGB-IPH em reservatórios da bacia do rio Piranhas -Açu / Daniel Soares da Silva. - 2019. 17 f.: il. Monografia (graduação) - Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Centro de Tecnologia, Curso de Engenharia Ambiental. Natal, RN, 2019. Orientadora: Profa. Dra. Joana Darc Freire de Medeiros. 1. Recursos hídricos - Semiárido - Monografia. 2. Modelo hidrológico distribuído - Monografia. 3. Calibração - Monografia. I. Medeiros, Joana Darc Freire de. II. Título. RN/UF/BCZM CDU 556.18(813.2) Elaborado por Kalline Bezerra da Silva - CRB-15 / 327 Daniel Soares da Silva Página ii RESUMO Os problemas relacionados aos recursos hídricos na região semiárida do Nordeste brasileiro faz com que seja necessária a utilização de alguma metodologia que ajude a definir o comportamento hidrológico de uma bacia hidrográfica, para que se possa ter um melhor planejamento para solucionar os problemas ocasionados pelas secas. Nesse sentido, o MGB-IPH entra como um grande auxiliador no intuito de se realizar a modelagem hidrológica da bacia. Foi então calibrado e aplicado o modelo na Bacia do Rio Piranhas-Açu, de maneira a verificar a utilização do modelo em reservatórios presentes na bacia e comparado os dados calculados pelo modelo com os dados presentes no Plano da Bacia. Foi constatado que o modelo obteve vazões abaixo das vazões obtidas no Plano, em função dos reservatórios de grande porte presentes na bacia, no entanto a calibração do modelo apresentou um coeficiente de eficiência de Nash-Sutcliffe elevado. Palavras-chave: Semiárido, Modelo hidrológico distribuído, Calibração. ABSTRACT The problems related to water resources in the semi-arid region of the Brazilian Northeast make it necessary to use some methodology to help define the hydrological behavior of a river basin, so that better planning can be done to solve the problems caused by the droughts. In this sense, the MGB-IPH is a great aid in the hydrological modeling of the basin. The model was then calibrated and applied in the Piranhas-Açu River Basin, in order to verify the use of the model in reservoirs present in the basin and compared the data calculated by the model with the data present in the Basin Plan. It was verified that the model obtained flow rates below the flows obtained in the Plan, due to the large reservoirs present in the basin, however, the calibration of the model presented a high Nash-Sutcliffe efficiency coefficient. Palavras-chave: Semi-arid, Hydrological distributed model, Calibration. Daniel Soares da Silva Página iii Sumário 1. INTRODUÇÃO .................................................................................................... 4 2. METODOLOGIA ................................................................................................. 5 2.1. Área de estudo ................................................................................................ 5 2.2. Modelagem através do MGB-IPH ................................................................... 7 2.2.1. Pré-processamento ................................................................................... 7 2.2.2. Dados de entrada ..................................................................................... 9 2.2.3. Calibração dos parâmetros ....................................................................... 9 2.2.4. Simulação da bacia ................................................................................ 10 3. RESULTADOS E DISCUSSÕES ....................................................................... 11 3.1. Calibração do modelo ................................................................................... 11 3.2. Simulação ..................................................................................................... 13 4. CONCLUSÕES .................................................................................................. 16 5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................. 17 Daniel Soares da Silva Página 4 1. INTRODUÇÃO A região semiárida do Nordeste brasileiro se caracteriza por apresentar uma precipitação pluviométrica reduzida, concentrada em poucos meses, com grande variabilidade interanual, aliada a uma forte insolação, o que resulta na intermitência da rede hidrográfica (SILVA, 2010; STRAHLER; STRAHLER, 1994). Esses problemas ocasionam dificuldades na gestão de recursos hídricos da região e faz-se necessário conhecer o comportamento hidrológico das bacias, de modo a se avaliar a disponibilidade hídrica e possibilitar um melhor planejamento dos usos, reduzindo os conflitos. Uma maneira que pode ser utilizada para se compreender os processos hidrológicos que envolvem uma bacia hidrográfica é a modelagem hidrológica, que permite analisar processos, como, por exemplo, a transformação de chuva em vazão, de modo a entender como a bacia se comporta ao longo do ano, com as variações de precipitação ao qual ela está submetida (TUCCI, 1998). Existem diversos modelos que podem ser utilizados para simular o processo de transformação de chuva em vazão, dentre eles o Modelo de Grandes Bacias (MGB), desenvolvido pelo Instituto de Pesquisas Hidráulicas (IPH) da Universidade Federal do Rio Grande do Sul - UFRGS. O MGB é capaz de realizar a simulação de vários processos, como: interceptação, balanço d’água no solo, evapotranspiração, geração de escoamento superficial, sub-superficial, subterrâneo e propagação do escoamento na rede de drenagem (COLLISCHONN, 2001). Nesse modelo a bacia é discretizada em unidades irregulares, definidas a partir de dados do relevo de um Modelo Digital de Elevação (MDE), denominadas minibacias. Em cada minibacia, é identificado o uso, o tipo de solo e o tipo de vegetação. A interação entre a vegetação e o tipo e uso de solo define as zonas com o mesmo comportamento hidrológico, chamadas de unidades de resposta hidrológica (URH). Em cada URH é realizado o balanço hídrico (COLLISCHONN, 2001). O MGB-IPH foi desenvolvido e tem sido amplamente utilizado para grandes bacias hidrográficas de rios perenes em algumas regiões do país, como, por exemplo, na Bacia do rio São Francisco (SILVA; COLLISCHONN; TUCCI, 2005), na Bacia do rio Piracicaba, situada na região sudeste do estado de São Paulo e Sul do estado de Minas Gerais (MELLER; BRAVO; COLLISCHONN 2012), na Bacia do rio Ijuí Rio Grande do Sul (FAN; COLLISCHONN, 2014) e até mesmo bacias que abrangem outras áreas Daniel Soares da Silva Página 5 da América Latina, como é o caso, por exemplo, da Bacia do rio Paraná, que é de importância vital para a produção de energia hidrelétrica na Argentina, Brasil e Paraguai (ADAM et al., 2015) e também da Bacia do rio Madeira, que se estende pelo Brasil, Bolívia e Peru (RIBEIRO NETO, 2006). Nestas regiões sua aplicação tem apresentado bons resultados. No entanto, o semiárido nordestino apresenta características climáticas e hidrológicas muito diversas e existem poucas aplicações do MGB-IPH. Felix & Paz (2016), por exemplo, aplicou o MGB-IPH na bacia hidrográficado rio Piancó, enquanto Negreiros (2017), avaliou a aplicação na bacia do rio Seridó, ambas sub-bacias da bacia hidrográfica Piranhas-Açu. No trabalho de Felix & Paz (2016) o MGB-IPH conseguiu simular a forte sazonalidade da bacia, apresentando vazões calculadas muito próximas das vazões observadas, indicando que este modelo apresenta um bom potencial para representar os fenômenos hidrológicos de uma bacia hidrográfica da região semiárida, já no trabalho de Negreiros (2017), onde foi realizada a aplicação do MGB-IPH na bacia do rio Seridó, os resultados da calibração mostraram que o modelo não foi capaz de representar de maneira satisfatória o regime de vazões da bacia estudada. Dessa forma, o objetivo principal desse trabalho foi analisar o desempenho do modelo hidrológico MGB-IPH em representar as variações dos processos hidrológicos na bacia do rio Piranhas-Açu, mais especificamente em três reservatórios da bacia, o açude Itans, o açude Cruzeta e o açude Sabugi de modo a avaliar o comportamento hidrológico, promovendo a comparação com os dados do plano da bacia hidrográfica em questão com os dados calculados pelo modelo. 2. METODOLOGIA 2.1.Área de estudo A bacia hidrográfica do rio Piranhas-Açu está situada na região semiárida do Nordeste brasileiro, possui uma área de drenagem de 43.683 km² que está parcialmente inserida nos Estados da Paraíba (60%) e do Rio Grande do Norte (40%) (Figura 1). A bacia abrange 147 municípios, dos quais 47 pertencem ao Estado do Rio Grande do Norte e 100 ao Estado da Paraíba (ANA, 2014). Daniel Soares da Silva Página 6 Figura 1 - Localização da bacia Piranhas-Açu Fonte: Autor Segundo a ANA (2014), a bacia Piranhas-Açu possui uma grande variabilidade interanual de precipitação, com chuvas bastante concentradas em poucos meses do ano e altas taxas de evaporação que causam perdas significativas das reservas de água, resultando na intermitência natural dos rios e demais corpos d’água. A bacia, portanto, apresenta sérios problemas de déficit hídrico e períodos de seca prolongados. O clima da bacia, segundo a classificação climática de Köppen, varia do tipo A (clima tropical) na porção mais a montante ao tipo B (clima árido) no restante da bacia, com temperatura média variando entre 24,2°C a 28,2°C, precipitações médias anuais da ordem de 590 a 940 mm/ano, concentradas nos meses de fevereiro a maio, e evapotranspiração na faixa de 1.786 mm/ano (ANA, 2014). Foram escolhidos três reservatórios onde o modelo foi aplicado, a Tabela 1 apresenta os principais dados dos mesmos. Tabela 1. Dados dos reservatórios escolhidos. Reservatório Município Latitude Longitude Ano de Construção Itans Caicó/RN 06º 29’ 25,65’’ S 37’’ 03 59,74 W’ 1935 Cruzeta Cruzeta/RN 06º 24’ 37,18’’ S 36° 47’ 49,70’’ W 1929 Sabugi São João do Sabugi/RN 06º 38’ 47,53’’ S 37’’ 11 54,61 W’ 1965 Fonte: ANA, 2017 Daniel Soares da Silva Página 7 A Figura 2 apresenta a localização dos açudes escolhidos para realizar a aplicação do modelo. Figura 2. Localização dos açudes escolhidos. Fonte: Autor 2.2. Modelagem através do MGB-IPH 2.2.1. Pré-processamento No pré-processamento dos arquivos de entrada para utilização do MGB-IPH, fez-se uso do pacote de ferramentas IPH-Hydro Tools, que é um plugin para o software de SIG MapWindow GIS®, assim como o próprio plugin do MGB-IPH acoplado ao software. O plugin IPH-Hydro Tools utiliza o Modelo Digital de Elevação (MDE) da região como arquivo de entrada para gerar os arquivos necessários no pré- processamento do MGB-IPH. O MDE utilizado foi obtido através de imagens SRTM, geradas pela Shuttle Radar Topography Mission, da National Geospatial-Intelligence Agency – NGA e NASA, obtidas diretamente pelo site (http://srtm.csi.cgiar.org/SELECTION/inputCoord.asp) do Consortium for Spatial Information (CGIAR-CSI) com resolução espacial de 90 metros. Inicialmente foi realizado o preenchimento das depressões do MDE (valor da altitude de uma ou mais célula menor que o da célula vizinha). Em seguida foi utilizado o plugin para se determinar a direção de fluxo dos corpos d’águas da bacia de interesse. De posse das direções de fluxo pôde-se definir a rede de drenagem da bacia. Para o caso Daniel Soares da Silva Página 8 estudado foi selecionado um limite de área de drenagem de 5000 m², este limite de área de drenagem afluente a rede mostra os canais de fluxo de água que são conectados entre si e que drenam a água da chuva numa densidade aceitável para o tamanho da bacia. Com a direção de fluxo, foi delimitada a bacia. A área da bacia obtida por esta metodologia foi de 42.557 km 2 este valor é semelhante ao apresentado no Plano de Recursos Hídricos da Bacia Hidrográfica do Rio Piranhas-Açu (43.683 km²) (ANA, 2014). Na sequência foi utilizado o arquivo de direções de fluxo, juntamente com a rede de drenagem, para gerar o arquivo de minibacias (Figura 3a), a bacia hidrográfica do rio Piranhas-Açu apresentou 1000 minibacias. Após definidas as minibacias, foi necessário definir as URHs, para isso foi utilizado um mapa de URH da América do Sul e recortada apenas a área de interesse (Figura 3b e Tabela 2). Figura 3. Resultados do pré-processamento. (a) minibacias geradas; (b) URHs. Fonte: Autor Tabela 2. Tipos de URHs e respectivas porcentagens Código Descrição Porcentagem 1 Caatinga densa em solo raso 4,65% 2 Caatinga densa em solo profundo 0,91% 3 Agricultura em solo raso 26,37% 4 Agricultura em solo profundo 5,76% 5 Caatinga em solo raso 50,29% 6 Caatinga em solo profundo 10,37% 7 Várzeas inundáveis 0,19% 8 Áreas semi-impermeáveis 0,10% 9 Água 1,44% Fonte: Autor (a) (b) Daniel Soares da Silva Página 9 2.2.2. Dados de entrada Além dos dados e informações obtidas no pré-processamento, o MGB utiliza diversos outros dados, tais como: dados de chuva (precipitação diária), vazão, clima (médias climáticas mensais dos parâmetros como temperatura, vento, umidade relativa, insolação e pressão atmosférica da região). Os dados de precipitação das estações pluviométricas localizadas no Rio Grande do Norte tiveram como fonte a EMPARN (Empresa de Pesquisa Agropecuária do Rio Grande do Norte), enquanto os dados de precipitação das estações localizadas na Paraíba foram cedidos pela AESA (Agência Executiva de Gestão das Águas). Os dados de vazão foram obtidos diretamente pelo ANA data acquisition, presente no próprio plugin do MGB. Os arquivos de clima foram obtidos através de base de dados interna de normais para o Brasil (INMET) também presente no plugin do MGB. Nesse estudo, para a calibração, foram utilizadas 56 postos pluviométricos e 1 posto fluviométrico (37470000), localizado em Jardim de Piranhas. O período utilizado para a calibração foi de 1962 a 2015 (Figura 4). Figura 4. Distribuição das estações Fonte: Autor 2.2.3. Calibração dos parâmetros O modelo MGB utiliza um conjunto de parâmetros fixos e outro de parâmetros calibráveis. Os parâmetros considerados fixos são aqueles que não alteram significativamente os resultados do modelo, por exemplo: índice de área foliar (IAF), albedo, altura média da vegetação e resistência superficial do solo (COLLISHONN, Daniel Soares da Silva Página 10 2001). Os parâmetros fixos utilizados foram utilizados os valores escolhidos por Negreiros (2017) (Tabela 3). Tabela 3. Parâmetros fixos utilizados URH Descrição Albedo IAF Altura média da vegetação (m) Resistência superficial (s/m) 1 Caatinga densa em solo raso 0,13 6,0 10 100 2 Caatinga densa em solo profundo 0,13 6,0 10 100 3 Agricultura em solo raso 0,17 3,0 1,0 70 4 Agricultura em solo profundo 0,17 3,0 1,0 70 5 Caatinga em solo raso 0,18 2,0 6,0 60 6 Caatinga em solo profundo 0,18 2,0 6,0 60 7 Várzeas inundáveis 0,10 1,0 0,5 0 8 Áreas Semi-Impermeáveis 0,10 1,0 0,5 200 9Água 0,08 1,0 0,1 0 Fonte: Negreiros, 2017 Para ajustar o conjunto de parâmetros calibráveis, foram realizadas várias simulações manualmente. O ajuste da calibração do modelo foi feita utilizando o coeficiente de eficiência Nash-Sutcliffe (NS), que mostra quão próximo as vazões calculadas estão das vazões observadas no posto fluviométrico (Equação 1) (MORIASI et al., 2007). Quanto mais próximo de 1 for o coeficiente, melhor a calibração. NS=1- ∑ (Yiobs-Yisim)²𝑛𝑖=1 ∑ (Yiobs-Yimean)²𝑛𝑖=1 (1) Onde Yiobs e Yisim, são as vazões observadas e simuladas, respectivamente; e Yimean é a média das vazões observadas ao longo de todo o período da simulação. Segundo Gotschalk & Motoviloc (2000) NS = 1 corresponde a um ajuste perfeito, NS >0,75 o modelo é considerado adequado e bom; 0,36< NS <0,75 o modelo é considerado aceitável. Já segundo Zaapa (2002), valores de NS acima de 0,5 qualificam o modelo para simulação. 2.2.4. Simulação da bacia Com o modelo devidamente calibrado é possível realizar a simulação do processo de transformação de chuva em vazão, em qualquer ponto da bacia e se houverem dados medidos por estações fluviométricas nos pontos escolhidos, pode-se verificar se o modelo realmente está bem ajustado e se representa de maneira adequada as variações nas precipitações impostas ao longo do tempo. Foram escolhidos três reservatórios de interesse presentes na bacia para obtenção das vazões afluentes: Itans, Cruzeta e Sabugi e, com base nas precipitações, Daniel Soares da Silva Página 11 foram geradas as vazões afluentes aos reservatórios no período de 1962 a 2009, o mesmo período de dados apresentado no plano. As vazões obtidas com o MGB foram comparadas com as séries de vazões afluentes aos reservatórios apresentadas no Plano de Recursos Hídricos da Bacia Hidrográfica do rio Piancó-Piranhas-Açu (ANA, 2014). 3. RESULTADOS E DISCUSSÕES 3.1. Calibração do modelo O MGB-IPH apresentou NS de 0,802, para a estação fluviométrica Nº 37470000, localizada em Jardim de Piranhas/RN, um valor considerado adequado e bom, segundo Gotschalk & Motoviloc (2000). Este resultado é semelhante ao obtido por Felix & Paz (2016), que obteve um valor de NS de 0,7, mas bem diferente do resultado obtido por Negreiros (2017) que obteve valores de NS muito baixos, ambos os estudos foram realizados para sub-bacias do rio Piranhas-Açu. No estudo de Felix & Paz as estações fluviométricas analisadas no ajuste do modelo eram relativamente distantes de grandes reservatórios, enquanto no estudo de Negreiros, a bacia hidrográfica estudada (Bacia do rio Seridó) é fortemente influenciada pela presença de vários reservatórios de grande e médio porte. Na Tabela 4, são mostrados os parâmetros calibráveis para a bacia de estudo. O parâmetro Wm (mm), representa a capacidade de armazenamento de água no solo, b o controle da separação entre o escoamento superficial e a saturação de armazenamento de água, Kbas (mm/dia) parâmetro de escoamento subterrâneo, Kint (mm/dia) parâmetro de drenagem sub-superficial, XL Índice de distribuição do tamanho dos poros, CAP parâmetro que representa a presença ou não de fluxo ascendente de umidade do lençol freático para o perfil do solo, WC (mm) limite de armazenamento para acontecer fluxo ascendente ou descendente. Daniel Soares da Silva Página 12 Tabela 4. Parâmetros calibráveis URH Wm b Kbas Kint XL CAP WC Caatinga densa em solo raso 430 0.05 0 1 0.6 0 0.1 Caatinga densa em solo profundo 730 0.05 0 1 0.6 0 0.1 Agricultura em solo raso 430 0.05 0 1 0.6 0 0.1 Agricultura em solo profundo 730 0.05 0 1 0.6 0 0.1 Caatinga em solo raso 430 0.05 0 1 0.6 0 0.1 Caatinga em solo profundo 730 0.05 0 1 0.6 0 0.1 Várzeas inundáveis 800 0.05 0 1 0.6 0 0.1 Áreas Semi-Impermeáveis 300 0.05 0 1 0.6 0 0.1 Água 0 0 0 1 0.6 0 0.1 Fonte: Autor Em regiões semiáridas têm-se baixos valores de Wm devido as baixas profundidade dos solos, quanto menor o valor de Wm, maior o escoamento superficial. Diferentemente do Wm o parâmetro b é diretamente proporcional ao escoamento superficial e indiretamente proporcional a quantidade de água que infiltra no solo, ou seja, quanto maior o parâmetro b, maior é o escoamento superficial e menor a infiltração (COLLISCHONN, 2001). Diante disso os valores adotados para o parâmetro b deveriam ser altos para a bacia devido a baixa profundidade do solo, no entanto, devido a alta retenção de água nos reservatórios, o valor de b que apresentou melhor performance foi muito baixo. Segundo Ribeiro Neto (2006) o parâmetro b deve variar entre 0 e 1,2. Os parâmetros Kbas e Kint, relacionados com a parcela da precipitação que gera escoamento subterrâneo e subsuperficial, respectivamente, são baixos devido a região semiárida ter geologia cristalina e ocorrer maior contribuição do escoamento superficial. O hidrograma resultante no período de calibração, ou seja, a representação gráfica da variação da vazão com o tempo para a estação fluviométrica escolhida (Figura 5), mostra que os valores calculados pelo modelo tendem a acompanhar os valores que foram observados na estação. Entre o ano de 2008 e 2009, pôde- se observar que o pico da vazão calculada é inferior ao da vazão observada, isso se deve ao fato destes anos terem sido extremamente chuvosos, de forma que a maioria dos reservatórios da região sangraram e, como o MGB foi calibrado para considerar que boa parte do armazenamento fica retido nos reservatórios, o modelo não consegue representar os eventos de vertimento que ocorreram nesse período. Assim como no estudo de Felix & Paz (2016) e de Negreiros (2017) a curva de permanência mostra uma diferença significativa. Estas diferenças tem relação com a Daniel Soares da Silva Página 13 operação dos reservatórios, a estação fluviométrica utilizada, está localizada num trecho do rio Piranhas-Açu perenizado pelo reservatório Curemas-Mãe D’Água, fazendo com que curva de permanência dos dados observados apresente uma maior regularização que a curva de permanência dos dados calculados pelo modelo (Figura 6). Figura 5. Comparação entre hidrograma calculado e observado Fonte: Autor Figura 6. Curvas de permanência de vazões observadas e calculadas Fonte: Autor 3.2. Simulação A Tabela 5 apresenta as médias e o desvio padrão das vazões afluentes aos reservatórios, encontradas no Plano da Bacia e as obtidas pelo modelo MGB. Observa- se que as vazões do MGB são 46,56%, 45,66% e 74,05% abaixo das obtidas no Plano 0 500 1000 1500 2000 2500 3000 3500 4000 4500 5000 Va zã o ( m ³/ s) Data Calculado Observado 1.00E-06 1.00E-05 1.00E-04 1.00E-03 1.00E-02 1.00E-01 1.00E+00 1.00E+01 1.00E+02 1.00E+03 1.00E+04 0% 20% 40% 60% 80% 100% 120% Va zã o m ³/ s) Permanência (%) Calculado Observado Daniel Soares da Silva Página 14 de Recursos Hídricos da bacia para os açudes Itans, Cruzeta e Sabugi, respectivamente, indicando uma tendência de subestimativa das vazões. O Plano utilizou na simulação dos reservatórios o modelo SMAP calibrado para a estação fluviométrica Piancó (37340000), que não sofre influência significativa de açudagem a montante, tal posto fluviométrico fica a montante de um grande reservatório de interesse (Curemas-Mãe D’Água), o fato da calibração do modelo utilizado no Plano não levar em consideração a vazão retida pelo reservatório, faz com que o mesmo obtenha valores maiores de vazões afluentes aos reservatórios a jusante. Tabela 5. Médias e desvio padrão dos dados calculados e do plano. Açude Vazão Média (MGB) Vazão Média (Plano) Desvio Padrão (MGB) Desvio Padrão (Plano) Q max (MGB) Q max (Plano) Q min (MGB) Q min (Plano) Itans 1,32 2,47 5,25 10,40 90,52 180,85 0 0 Cruzeta 0,94 1,73 2,93 5,80 35,57 55,25 0 0 Sabugi 1,50 4,05 5,68 16,68 66,90 266,37 00 Fonte: Autor O MGB consegue acompanhar bem a sazonalidade nas vazões em função das variações pluviométricas na bacia estudada, no entanto, os valores de vazão afluentes foram sistematicamente inferiores aos simulados pelo modelo SMAP no Plano da Bacia (Figura 7, Figura 8 e Figura 9). Figura 7. Vazões do plano e calculadas pelo MGB para o açude Itans Fonte: Autor 0.000 20.000 40.000 60.000 80.000 100.000 120.000 140.000 160.000 180.000 V az ão ( m ³/ s) Data Itans Plano Calculado (MGB) Daniel Soares da Silva Página 15 Figura 8. Vazões do plano e calculadas pelo MGB para o açude de Cruzeta Fonte: Autor Figura 9. Vazões do plano e calculadas pelo MGB para o açude Sabugi Fonte: Autor O valor de NS encontrado na calibração do modelo mostrou que para os dados observados na vazão do posto fluviométrico escolhido o modelo estava adequado para 0.000 10.000 20.000 30.000 40.000 50.000 Va zã o ( m ³/ s) Data Cruzeta Plano Calculado (MGB) 0.000 50.000 100.000 150.000 200.000 250.000 Va zã o ( m ³/ s) Data Sabugi Plano Calculado (MGB) Daniel Soares da Silva Página 16 ser utilizado, no entanto os resultados mostrados nas simulações do modelo para os reservatórios escolhidos estavam abaixo dos valores encontrados no Plano da Bacia, o que indica que o MGB não está adequado para áreas influenciadas por grandes reservatórios. Ou seja, o fato dos dados obtidos serem diferentes provavelmente se deve ao fato dos reservatórios de regularização na bacia, os quais o modelo não leva devidamente em consideração. 4. CONCLUSÕES Embora o modelo MGB-IPH tenha apresentado um bom ajuste para a estação fluviométrica Jardim de Piranhas, com um coeficiente de Nash-Sutcliffe de 0,802, mostrando que o modelo era capaz de representar os processos hidrológicos de transformação de chuva em vazão na bacia, os hidrogramas que foram calculados através do modelo mostraram vazões inferiores as observadas no Plano de Recursos Hídricos da Bacia Piancó-Piranhas-Açu, mostrando que o modelo tem dificuldade de representar a presença de reservatórios de grande porte na bacia. Daniel Soares da Silva Página 17 5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS AGÊNCIA NACIONAL DE ÁGUAS (ANA) (2017). Reservatórios do Semiárido Brasileiro: Hidrologia, Balanço Hídrico e Operação: Anexo B. Brasília, Brasil AGÊNCIA NACIONAL DE ÁGUAS (ANA) (2014). Plano de recursos hídricos da bacia hidrográfica do rio Piranhas-Açu. Brasília, Brasil. ADAM, K.N.; FAN, F.M.; PONTES, P.R.M.; COLLISCHONN, W. Mudanças climáticas e vazões extremas na bacia do Rio Paraná. Revista Brasileira de Recursos Hídricos, vol. 20, n. 4. 2015. COLLISCHONN, W., TUCCI, C. E. M. Simulação hidrológica de grandes bacias. Revista Brasileira de Recursos Hídricos, v. 6, n. 2, 2001. FAN, F. M.; COLLISCHONN, W. Integração do Modelo MGB-IPH com Sistema de Informação Geográfica. Revista Brasileira de Recursos Hídricos, v. 19, n. 1, p. 243- 254, 2014. FELIX, V. S.; PAZ, A. R. Representação dos processos hidrológicos em bacia hidrográfica do semiárido paraibano com modelagem hidrológica distribuída. Revista Brasileira de Recursos Hídricos, Porto Alegre, v. 21, n. 3, p.556-569, set. 2016. MELLER, A.; BRAVO, J. M.; COLLISCHONN, W. Assimilação de dados de vazão na previsão de cheias em tempo-real com o modelo hidrológico MGB-IPH. Revista Brasileira de Recursos Hídricos, v. 17, n. 3, p. 209-224, 2012. NEGREIROS, B. F. Aplicação do modelo hidrológico MGB-IPH na bacia hidrográfica do rio Seridó. 2017. 19 f. 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