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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE TECNOLOGIA DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA CIVIL COORDENAÇÃO DO CURSO DE ENGENHARIA AMBIENTAL LIBERAÇÃO DE FÓSFORO DO SEDIMENTO NO RESERVATÓRIO DOURADO-RN APÓS REINUNDAÇÃO SARA RAQUEL LAURENTINO BARBOSA DE LIMA NATAL 2019 SARA RAQUEL LAURENTINO BARBOSA DE LIMA LIBERAÇÃO DE FÓSFORO DO SEDIMENTO NO RESERVATÓRIO DOURADO-RN APÓS REINUNDAÇÃO Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à Universidade Federal do Rio Grande do Norte como parte dos requisitos para obtenção do grau de Engenheira Ambiental. Orientadora: Dra. Fabiana Araújo Coorientadora: Profª. Dra. Vanessa Becker NATAL 2019 Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN Sistema de Bibliotecas - SISBI Catalogação de Publicação na Fonte. UFRN - Biblioteca Central Zila Mamede Lima, Sara Raquel Laurentino Barbosa de. Liberação de fósforo do sedimento no Reservatório Dourado-RN após reinundação / Sara Raquel Laurentino Barbosa de Lima. - 2019. 21f.: il. Monografia (Graduação)-Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Centro de Tecnologia, Departamento de engenharia civil, Curso de Engenharia Ambiental, Natal, 2019. Orientadora: Fabiana Araújo. Coorientadora: Vanessa Becker. 1. Eutrofização - Monografia. 2. Fertilização interna - Monografia. 3. Nutrientes - Monografia. I. Araújo, Fabiana. II. Becker, Vanessa. III. Título. RN/UF/BCZM CDU 628.132 Elaborado por Raimundo Muniz de Oliveira - CRB-15/429 AGRADECIMENTOS Agradeço a minha família, meu pai e minha mãe, por me ensinar a priorizar os estudos desde criança, por sempre me incentivar em tudo que faço e pelo inesgotável cuidado, preocupação e compreensão quando eu passava a maior parte dos dias na UFRN sem poder oferecer a devida atenção. Sem o suporte de vocês, quase nada teria acontecido. Agradeço a Hugo, meu namorado, pelo companheirismo, apoio, carinho e compreensão durante as inúmeras e inevitáveis ausências. Agradeço a meus avós paternos. Ao meu avô e para sempre professor Barbosa (in memorian) por ser minha inspiração de superação e dedicação acadêmica. A minha avó Nevinha por todo apoio, conselho e cuidado desde minha primeira infância. Agradeço a meus avós maternos (in memorian) pelos ensinamentos e momentos de descontração que compartilhamos. Agradeço aos meus tios e tias por todo carinho, confiança e expectativa que depositaram em mim desde sempre. Agradeço aos meus primos e primas pela companhia e pelas experiências que compartilhamos desde nossa infância. Agradeço a Dra Fabiana Araújo, orientadora neste trabalho, pela paciência e empenho nas sugestões para melhoria do TCC, um verdadeiro exemplo de profissional. Agradeço a Profª. Dra Vanessa Becker, coorientadora deste trabalho, por sempre me receber no Elisa, pela oportunidade de fazer parte desse grupo de estudos e pelo compromisso com o curso de engenharia ambiental. A todos do Elisa – Larhisa, meu muito obrigada. Agradeço a Profª. Dra Vera Lucia Lopes de Castro, minha primeira orientadora de iniciação cientifica, pela confiança no meu trabalho e por todo ensinamento transmitido. Agradeço a Profª. Dra Silvânia Lucas Lopes dos Santos pelas orientações acadêmicas dentro e fora da pesquisa PMSB e pelos conhecimentos a mim fornecidos. Agradeço ao Prof. Dr. Aldo Aloísio Dantas da Silva, ao Prof. Dr. Paulo Eduardo Vieira Cunha, a Gilbrando Medeiros Trajano Júnior e Lucas Costa Rodrigues pela oportunidade, suporte e confiança dentro do projeto Pesquisa PMSB. A todos do projeto pesquisa PMSB, meu muito obrigada. Agradeço a ONG Engenheiros Sem Fronteiras pela oportunidade de atuar como gerente do projeto de saneamento contribuindo para minha formação. Agradeço a Amanda Bezerra de Sousa pelo acompanhamento e dedicação nesse projeto. Agradeço aos meus amigos da Escola Sesc de Ensino Médio, aos meus amigos da UFRN, aos meus amigos da ONG Engenheiros sem Fronteiras. Compartilhar minha trajetória com vocês fez esse caminho mais leve e divertido. Agradeço a todos os professores que fizeram parte da minha educação básica e superior. Vocês foram essenciais para minha formação acadêmica e cidadã. Agradeço a todos os professores, servidores, terceirizados e bolsistas da UFRN pela excelência dessa instituição pública de ensino superior. A todos vocês, eu dedico este trabalho. RESUMO O fenômeno de enriquecimento dos ecossistemas aquáticos com nutrientes desencadeia o processo da eutrofização comprometendo, assim, a qualidade da água e elevando os custos de tratamento de água para o abastecimento. No contexto da eutrofização, o fósforo atua como elemento limitante da produção primária, já que algumas algas são capazes de fixar o nitrogênio atmosférico. Diante disso, o sedimento é um compartimento relevante para acúmulo de fósforo depositado proveniente da coluna d’água, embora também seja fonte de fósforo reativo no processo de fertilização interna. Condições climáticas da região do semiárido, como chuvas intensas em curto período e eventos de seca prolongada, fazem com que os reservatórios estejam sujeitos a períodos de inundação e secagem do sedimento além de proporcionar acúmulo de nutrientes de forma que esses sistemas são mais vulneráveis à eutrofização. Neste sentido, estudar a fertilização interna de reservatórios do semiárido se torna relevante uma vez que estes sistemas utilizados para abastecimento público possuem um alto tempo de residência da água, muitas vezes com eventos de esgotamento hídrico. O objetivo desse trabalho foi avaliar a liberação de fósforo em um reservatório no semiárido potiguar após período de seca a partir da simulação de inundação em laboratório com experimento de liberação de fósforo com duração de 14 dias (2 semanas). Foram monitoradas as concentrações de NO3-, SRP, OD, pH e temperatura. Os resultados mostraram que houve liberação de fósforo do sedimento em quantidade suficiente para causar a eutrofização do reservatório (>50µg.L-1), apesar de estudos anteriores apresentarem que 84,84% do SRP está presente no sedimento em formas indisponíveis de baixa mobilidade. Contudo, um aumento na concentração de NO3- foi capaz de amortecer a liberação do SRP mais tardiamente, sugerindo a importância da concentração de nitrato na dinâmica da fertilização interna de fósforo. Palavras-chave: Eutrofização; fertilização interna; nutrientes. ABSTRACT The phenomenon of nutrient enrichment in aquatic ecosystems triggers the process of eutrophication, thereby compromising water quality and increasing water treatment costs for public supply. In the context of eutrophication, phosphorus plays an important role as a limiting element for primary production, because some algae are capable of fixing atmospheric nitrogen. Given this, the sediment is a relevant compartment due to its role as a phosphorus sink from the water column, although it is also a source of reactive phosphorus in the internal fertilization process. Semi-arid climatic conditions, such as heavy rainfall in short periods and prolonged drought events, make the lakes sediment subject to drying and reflooding, in addition to promoting accumulation of nutrients, hence these systems are more vulnerable to eutrophication. In this sense, the study of the internal fertilization of semi-arid reservoirs becomes relevant, as these systems which are used for public supply have a long residence time, usually with water depletion events. The objective of this work was to evaluate the phosphorus release in a reservoir in the Potiguar semi-arid after a drought period. To do so a reflood simulation in laboratorywas employed and the phosphorus release was measured experiment for 14 days (2 weeks). NO3-, SRP e OD concentration were monitored as well as temperature. The results showed that there was enough phosphorus release in the sediment to cause reservoir eutrophication (> 50µg.L- 1), despite previous studies showing that 84.84% of the SRP is present in the sediment in unavailable forms. However, an increase in NO3- concentration was able to reduce the release of SRP later, suggesting the importance of nitrate concentration in the internal phosphorus fertilization dynamics. Key-words: Eutrophication; internal fertilization; nutrient. LISTA DE FIGURAS Figura 1 - Localização do reservatório Dourado com a indicação do ponto de coleta da amostra de sedimento......................................................................................................11 Figura 2– Valores médios ± desvio padrão do pH (a), concentração de oxigênio dissolvido (b) e (c) temperatura nos microcosmos nos dias 1, 7 e 14 do experimento.....................................................................................................................14 Figura 3 – Valores médios ± desvio padrão da concentração dos nutrientes SRP (a) e NO3- (b) nos dias 1, 7 e 14 dias de experimento............................................................14 Figura 4 – Taxa de liberação média ± desvio padrão de P nos dias 7 e 14 do experimento.....................................................................................................................16 SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO ........................................................................................................ 9 2. MATERIAIS E MÉTODOS ................................................................................. 11 2.1. ÁREA DE ESTUDO ...................................................................................... 11 2.2. AMOSTRAGENS DO SEDIMENTO ........................................................... 12 2.3. EXPERIMENTOS DE LIBERAÇÃO DE FÓSFORO .................................. 12 2.4. ANÁLISE DOS DADOS ............................................................................... 13 3. RESULTADOS E DISCUSSÃO ........................................................................... 14 4. CONCLUSÃO ........................................................................................................ 17 5. REFERÊNCIAS ..................................................................................................... 18 9 1. INTRODUÇÃO O enriquecimento dos ecossistemas aquáticos com nutrientes acarretando no aumento da produção primária, definido como eutrofização, pode promover a proliferação de algas e cianobactérias, bem como de macrófitas aquáticas (CARPENTER, 2005). As consequências gerais da eutrofização para a qualidade da água são: coloração verde devido ao aumento da clorofila-α, aumento da concentração de matéria orgânica, aumento da biomassa de microrganismos potenciais produtores de toxinas, aumento da demanda bioquímica de oxigênio, aumento da turbidez e condição de anoxia (BUZELLI & CUNHA-SANTINO, 2013). Nesse sentido, a eutrofização tem representado um problema ambiental de grande relevância. Vale destacar ainda que a eutrofização apresenta consequências como aumento dos custos de tratamento da água a fim de torná-la potável atendendo o padrão de qualidade necessário para consumo humano (BRICKER ET et al, 1999). Dentre os nutrientes responsáveis pelo desencadeamento do processo de eutrofização, o fósforo merece atenção especial por atuar como elemento limitante da produção primária (CARPENTER, 2005). Isso porque, mesmo que haja o controle do aporte externo de nitrogênio existem cianobactérias capazes de fixar o nitrogênio disponível na atmosfera (MOREIRA & SIQUEIRA, 2006) e, desse modo, não teriam seu crescimento limitado com o controle das fontes externas nitrogenadas. O compartimento relevante para o acúmulo do fósforo proveniente das cargas externas é o sedimento, o qual apresenta a capacidade de reter e servir como depósito desse nutriente no ecossistema aquático (SONDERGAARD et al. 2003). Entretanto, esse compartimento pode ser considerado uma fonte de fósforo solúvel reativo em determinadas condições, por exemplo, na ocorrência de anoxia no hipolímnio. Isso porque, na presença do oxigênio, o fósforo é adsorvido ao ferro III formando um composto insolúvel que fica depositado no sedimento. Todavia, em condições anóxicas, o ferro III é reduzido para ferro II e o fosfato anteriormente adsorvido é liberado para coluna d’água (MORTIMER, 1941; GUNKEL et al, 2003). Esse fenômeno de liberação de P do sedimento para coluna d’água é denominado fertilização interna. Outros fatores também podem levar à fertilização interna como a decomposição de biomassa, ressuspensão do sedimento e atividade de organismos aquáticos como a bioturbação (WELCH e COOKE, 2005). 10 A região do semiárido brasileiro apresenta particularidades, decorrente das condições climáticas da região, que consiste na ocorrência de longos períodos de estiagem, baixas vazões, altos tempos de residência, elevadas temperaturas e elevadas taxas de evaporação da região (GUNKEL et al, 2015; BARBOSA et al, 2012). Por esses motivos, esses sistemas são consideravelmente mais vulneráveis à eutrofização quando comparados aos inseridos em áreas mais úmidas (BARBOSA et al, 2012). As condições climáticas na região fazem com que os reservatórios estejam sujeitos a períodos de inundação e secagem do sedimento além de proporcionar acúmulo e aumento na concentração de nutrientes. Com isso, a capacidade de retenção de fósforo no sedimento é alterada (QUI & McCOMB, 2002; BALDWIN, 1996). Além disso, tem-se na região a prática agrícola no sedimento exposto outrora inundado aumentando o transporte de nutrientes do sedimento para a coluna de água quando reservatório é reinundado. Sendo assim, quando um corpo hídrico é reinundado, após um período de seca, pode apresentar o fenômeno da fertilização interna decorrentes de alterações no sedimento resultante da exposição ao ar no período de secagem total (KINSMAN-COSTELLO et al., 2016). Nesse sentido, no período de inundação, após um período de seca, há um aumento na liberação de fósforo reativo solúvel proveniente da lise celular das bactérias, da mineralização bacteriana e das condições de anaerobiose por isolar o sedimento do oxigênio atmosférico que desfaz o complexo insolúvel de Fe III e o fósforo (KEITEL et al., 2016). Desse modo, é de extrema relevância avaliar a dinâmica da liberação de nutrientes nos reservatórios após um período de seca seguido de reinundação. Isso porque, é nessa região onde há um grande esforço realizado para aumentar a água disponível como medida compensatória do regime intermitente dos corpos hídricos. Por fim, é importante destacar o estudo realizado por Bezerra (2016) no qual foi abordada a liberação de fósforo do sedimento do reservatório Marechal Eurico Gaspar Dutra (Gargalheiras). Os resultados do referido trabalho apresentaram que a liberação de fósforo foi maior na água deionizada do que na água do próprio reservatório. Considerando a problemática apresentada, o objetivo desse trabalho é avaliar a dinâmica da liberação de fósforo em um reservatório do semiárido potiguar, após um período de seca a partir da simulação de inundação em laboratório. 11 2. MATERIAIS E MÉTODOS 2.1. Área de estudo O reservatório Dourado está localizado na Microrregião do Seridó Oriental do Rio Grande do Norte no município de Currais Novos (06º 15’ 39” S; 36º 31’ 04'' W). O reservatório é utilizado majoritariamente para abastecimento humano de água e irrigação no município (DNOCS, 2019). Esse reservatório apresentacapacidade total de 10.321.000,00 metros cúbicos e está completamente inserido na bacia hidrográfica Piranhas-Açu, caracterizada como a maior bacia hidrográfica do Estado com aproximadamente 43.682 km2, o que corresponde a cerca de 30% do território estadual. Essa bacia contribui com 79% do total de água acumulada no Estado. O reservatório Dourado é abastecido pela sub-bacia do Rio Currais Novos. Figura 1 - Localização do reservatório Dourado com a indicação do ponto de coleta da amostra de sedimento. O clima da região é tropical semiárido do tipo BSh (Estepe) (KOTTEK et al., 2006; ALVARES et al., 2014), com temperatura média anual de 27,5 °C, e temperaturas máxima e mínima de 33 °C e 18 °C, respectivamente (CPRM, 2005). De acordo com a EMPARN (2017), os dados da série histórica de 1963 até 2006 levam a uma média anual de precipitação de 521,5 mm para o município de Currais Novos. A chuva na região concentra-se nos meses de fevereiro a maio caracterizando um regime de precipitações irregulares e significativas. Sendo assim, o regime de chuvas é desigual e, com isso, ao longo do ano configura-se um regime de escassez hídrica com déficit no 12 balanço hídrico devido ao elevado nível de evapotranspiração (ANA, 2016; NASCIMENTO & FERREIRA, 2012). Em outubro de 2017 o açude Dourado secou completamente como consequência da severa seca prolongada que atingia a região desde o ano de 2012. Segundo estudo realizado por Oliveira (2012), a composição de solos Litólicos Eutróficos (Neossolo Litólicos) é predominante no entorno da bacia do reservatório Dourado. São solos pouco desenvolvidos cuja soma dos horizontes A-C-R não ultrapassa 50 cm. Esses solos estão associados a afloramento rochosos, pedregosos e cascalhentos. Os Neossolos Litólicos apresentam alta fertilidade natural com textura argilo-arenosa. Além disso, a área de preservação permanente do reservatório Dourado apresenta mata ciliar significativamente reduzida devido aos processos de degradação pelo uso e ocupação (MATTOS et al., 2015). Desse modo, o reservatório está suscetível ao aporte de grandes cargas de nutrientes provenientes das atividades de criação de animais e produção agrícola com utilização de adubo químico (MATTOS et al., 2015). Soma-se a isso, o estudo de Oliveira (2012) cujos resultados indicam que o reservatório Dourado foi capaz de reter 52% da elevada carga de fósforo total proveniente da bacia de drenagem aumentando a possibilidade de agravamento do processo de eutrofização do mesmo o qual, a época do estudo, foi classificado como hipereutrófico. 2.2. Amostragens do sedimento O efeito da inundação do reservatório Dourado na dinâmica da liberação de fósforo foi analisado a partir de sedimentos secos coletados próximos ao barramento, ponto de coleta estratégico para o estudo, posto que é o local de maior acumulação de nutrientes no sedimento por apresentar maior profundidade. Foram coletados oito núcleos de sedimentos com perfis de 5 cm no referido ponto utilizando-se tubos de policloreto de vinila (PVC) previamente lavados com ácido HCL 10%. As amostras coletadas foram acondicionadas em caixas térmicas durante o transporte até o laboratório. 2.3. Experimentos de liberação de fósforo No laboratório, as amostras foram colocadas em béqueres de 1L e, em seguida, foram adicionados 750 mL de água destilada em cada unidade. Os béqueres foram completamente envolvidos por papel alumínio para simular as condições de ausência de luminosidade de fundo no reservatório. Esses microcosmos foram mantidos por um período de 14 dias em temperatura ambiente (28ºC). O período de incubação foi 13 realizado do dia 0 ao dia 14. No dia 0, o experimento foi montado. Nos dias 1, 7 e 14, foram realizadas as medições de: oxigênio dissolvido (OD), utilizando-se de uma microssonda acoplada a um picometro (INSTRUTHERM/MO-900); pH utilizando-se de um medidor de pH portátil (AKSO/AK103); temperatura da água utilizando-se uma sonda digital portátil (AKSO/AK103). Amostras de água foram coletadas e em seguida filtradas para análise de nutrientes em aparato de filtração com membranas de fibra de vidro de poro 1,2 µm. Em seguida, a amostra de água filtrada foi levada para determinação das concentrações de nitrato (NO3-), através do método colorimétrico medido por espectrofotometria seguindo o método de Muller e Wiedemann (1955) e concentrações de fósforo reativo solúvel (SRP), através do método colorimétrico medido por espectrofotometria com reagente composto de molibdato de amônio, ácido sulfúrico, ácido ascórbico e tartarato de antimônio e potássio (MURPHY & RILEY, 1962). 2.4. Análise dos dados A liberação de P do sedimento para a coluna d’água foi quantificada através do cálculo da taxa de liberação de P para os dias 7 e 14, de acordo com a equação (SCHAANNING et al., 2006): JD = (Ct – C0) . V A . t Sendo: JD = Fluxo de lançamento de P a partir dos sedimentos para a coluna d’água (mgP.m-2.d- 1) Ct = concentração de P na água no tempo t (mg.m-3) C0 = concentração de P na água no tempo 0 (mg.m-3) V= Volume de água sobre o sedimento (m³) A = Área superficial de sedimento no frasco (m2) t = tempo de duração do experimento (dias) Para verificar se houve diferença nas taxas de liberação, foi feito teste T ordinário para amostras dependentes, com nível de significância de 5%. As análises descritivas e estatísticas foram feitos no Prism 6 (Version 6.01, GraphPad Software). 14 3. RESULTADOS E DISCUSSÃO O valor médio inicial de pH foi 6,4 (± 0,26) e o valor médio final foi de 6,9 (± 0,14) na água dos microcosmos (Fig. 2a). Assim, pode-se afirmar que apesar do aumento observado o sobrenadante das amostras manteve pH neutro durante o período de monitoramento. A concentração média inicial de OD na água foi de 3,0 mg/L (± 0,73) apresentando-se constante ao longo do experimento de forma que a concentração média final foi de 3,2 mg/L (± 0,73) (Fig. 2b). Com isso, a partir dos resultados observados para as concentrações de OD, consideramos que o sobrenadante foi mantido em condições de hipóxia, uma vez que essa condição é obtida na presença de níveis de oxigênio em torno de 2mg/L (RABALAIS, 2002). Para temperatura, o valor médio inicial foi de 25,6 °C (± 0,07) o qual apresentou aumento ao longo do experimento com valor médio final de 27,0 °C (± 0,15) (Fig. 2c). Figura 2– Valores médios ± desvio padrão do pH (a), concentração de oxigênio dissolvido (b) e (c) temperatura nos microcosmos nos dias 1, 7 e 14 do experimento. A concentração de SRP aumentou ao longo do experimento variando de 56,9 ± 11,16 µg.L-1 (dia 1) para 104,8 ± 38,47 µg.L-1 (dia 7) (Fig. 3a), mantendo-se em equilíbrio até o dia 14 (90,9 ±15,52 µg.L-1). A concentração de NO3- aumentou durante todo o experimento, variando de 45,5 ± 31,96 µg.L-1 (dia 1) a 503,0 ± 189,17 µg.L-1 (dia 14) (Fig. 3b). Figura 3 – Valores médios ± desvio padrão da concentração dos nutrientes SRP (a) e NO3- (b) nos dias 1, 7 e 14 dias de experimento. 15 Os resultados sugerem a liberação SRP devido ao aumento da concentração até o 7º dia de experimento. Em contrapartida, pode-se afirmar que após essa liberação houve uma baixa variação na concentração de SRP, indicando uma tendência ao equilíbrio. Isso porque, a reinundação resulta na rápida liberação de P de minerais e, assim, um pulso de SRP para a água é a consequência (KEITEL et al., 2016). Além disso, o valor das concentrações médias no dia 7 e dia 14 são muito próximas (104,8 µg.L-1 e 90,9 µg.L-1, respectivamente). A concentração média final de NO3- foi quase 10 vezes maior que a inicial. Esse resultado concorda com a expectativa de que com a reinundaçãoocorre o aumento da atividade bacteriana de nitrificação com liberação de NO3- (BALDWIN & MITCHELL, 2000). Além disso, a elevada concentração de NO3- sugere que a mesma foi suficiente para causar a oxidação do FeII de forma a permitir a ligação do FRS ao FeIII aumentando, assim, a capacidade do fósforo permanecer retido no sedimento, uma vez que o FRS é frequentemente ligado a compostos de ferro (STRAUB et al., 1996; HAUCK et al., 2001; HEMOND & LIN, 2010). Isso explica a elevada concentração de NO3- concomitantemente a redução da concentração média de SRP no dia 14. De maneira geral, o potencial redox coordena o equilíbrio do fosfato entre os compartimentos água e sedimento, de forma que uma elevada concentração de NO3- pode apresentar efeito oxidante suficiente para aumentar a ligação do FRS ao sedimento (ANDERSEN, 1981; HEMOND & LIN, 2010). Dessa forma, na situação de baixa concentração de OD apresentada, a elevada concentração de NO3- indica seu funcionamento como aceptor de elétrons responsável pela oxidação do FeII mantendo, com isso, o FRS retido no sedimento. A média da taxa de liberação de P a partir dos sedimentos para a coluna d’água para os dias 7 e 14 foi de 1,42 ± 0,53 mg/m².dia e 0,62 ± 0,11mg/m².dia, respectivamente (Fig. 4). Portanto, comparando as taxas de liberação dos respectivos dias, verificamos que houve diferença significativa entre as taxas de liberação nos dias 7 e 14 (t(7.0) = 4.744, P = 0,0021), indicando que houve uma maior liberação nos primeiros 7 dias de experimento. Esses resultados são condizentes com expectativa de que com a chegada de novas águas haja rápida liberação de P do sedimento configurando um pico de P disponível (KEITEL, 2016). Isso porque, a secagem do sedimento devido a eventos de seca acarreta a mineralização de N e P devido à lise celular dos 16 microorganismos. Sendo assim, com a chegada de novas águas, esses nutrientes são liberados do sedimento. Figura 4 – Taxa de liberação média ± desvio padrão de P nos dias 7 e 14 do experimento. Adicionalmente, Baldwin (1996) mostrou que os sedimentos oxidados que não passaram pelo processo de secagem apresentaram menor valor para P do que sedimentos secos oxidados mostrando, assim, que a oxidação responde pela maior influência na afinidade do sedimento pelo P. Então, para explicar a maior taxa de adsorção de P para sedimentos cobertos por água do que para os sedimentos secos Baldwin explicou que quando os sedimentos são inundados a concentração de Fe amorfo aumenta coincidindo com o aumento da afinidade P. Assim, quando os sedimentos são expostos a oxidação no período de secagem, há o envelhecimento do ferro amorfo reduzindo a afinidade desse sedimento por P (LIJKLEMA 1980). Portanto, a diminuição da afinidade dos sedimentos secos deve-se provavelmente a exposição ao processo de oxidação e envelhecimento que altera a ligação P ao sedimento. Além disso, Qui & McComb (2002) afirmam que a secagem do sedimento provocou a transformação de Fe não cristalino para a forma cristalina. Essa mudança de cristalinidade, incluindo envelhecimento e agregação das partículas, afetou a adsorção de P. Desse modo, foi observado que, durante o evento de reinundação, esse sedimento apresentou menor capacidade de adsorção do P aumentando, assim, a liberação de P. Portanto, apesar de Bezerra e colaboradores (2017) apresentarem que a fração de SRP potencialmente disponível no sedimento do reservatório de Dourado é de 11, 76 µgP.g-1 (15,16%), de modo 65,75 µgP.g-1 (84,84%) do SRP está presente no sedimento em formas indisponíveis de baixa mobilidade, os resultados alcançados no experimento de reinundação abordado no presente trabalho mostram que a fertilização interna foi suficiente para deixar o reservatório eutrofizado tendo como referencia o valor de 17 fósforo (>50 µg.L-1) estabelecido por Thornton & Rast (1993) para classificação do estado trófico na região semiárida. Nesse sentido, é válido destacar que a simulação em laboratório com água deionizada acarreta em uma maior liberação de fósforo do sedimento do que a simulação de inundação com água do próprio reservatório, devido a diferença de concentração iônica (BEZERRA, 2016). 4. CONCLUSÃO O sedimento seco do reservatório Dourado atuou como fonte de fósforo (fertilização interna) a partir da liberação de SRP em concentrações suficientes para causar a eutrofização do reservatório logo após sua reinundação. Contudo, um aumento na concentração de NO3- foi capaz de amortecer a liberação do SRP mais tardiamente, sugerindo a importância da concentração de nitrato na dinâmica da fertilização interna de fósforo. 18 5. REFERÊNCIAS ANDERSEN, J. M. Effect of Nitrate concentration in lake water on phosphate release from the sediment. Water Res., v.16, p.1119 to 1126, 1982. ALVARES, C. A. et al. Koopen´s climate classification map for Brazil. Meteorol. Z., v. 22, p. 711 - 728, 2013. ANA - Agência Nacional de Águas. Plano de Recursos hídricos Piancó-Piranhas-Açu. Resumo executivo. Brasília: 2016 BALDWIN, D.S. Effects of exposure to air and subsequent drying on the phosphate sorption characteristics of sediments from a eutrophic reservoir. Limnol. 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