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TCC-EMILY---2022-2--FINALIZADO-

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE – UFRN 
CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS – CCSA 
DEPARTAMENTO DE SERVIÇO SOCIAL - DESSO 
 
 
 
EMILY MALVINA CASTRO OLIVEIRA 
 
 
 
A ATUAÇÃO PROFISSIONAL DAS/OS ASSISTENTES SOCIAIS NAS 
UNIDADES DE URGÊNCIAS E EMERGÊNCIA: desafios e possibilidades do 
trabalho profissional na UPA de Parnamirim/RN. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
NATAL/RN 
2022 
 
 
 
 
 
EMILY MALVINA CASTRO OLIVEIRA 
 
 
 
A ATUAÇÃO PROFISSIONAL DAS/OS ASSISTENTES SOCIAIS NAS 
UNIDADES DE URGÊNCIAS E EMERGÊNCIA: desafios e possibilidades do 
trabalho profissional na UPA de Parnamirim/RN. 
 
 
 
 
Trabalho de Conclusão de Curso apresentada ao curso de 
graduação de Serviço Social, da Universidade Federal do 
Rio Grande do Norte – UFRN, como requisito parcial à 
obtenção do título de bacharel. 
Orientadora: Prof.ª Dra. Ilena Felipe Barros. 
 
 
 
 
 
 
 
 
NATAL/RN 
2022 
 
 
 
 
 
EMILY MALVINA CASTRO OLIVEIRA 
 
 
 
A ATUAÇÃO PROFISSIONAL DAS/OS ASSISTENTES SOCIAIS NAS 
UNIDADES DE URGÊNCIAS E EMERGÊNCIA: desafios e possibilidades do 
trabalho profissional na UPA de Parnamirim/RN. 
 
 
Monografia apresentada à coordenação do 
Curso de Serviço Social da Universidade 
Federal do Rio Grande do Norte - UFRN, 
como requisito parcial para obtenção do 
título de Bacharel em Serviço Social. 
 
Aprovada em: 27/10/2022 
 
BANCA EXAMINADORA 
 
__________________________________________________ 
Profa. Dra. Ilena Felipe Barros (Orientadora) 
 
____________________________________________________ 
Profa. Ma. Crismanda Maria Ferreira (UFRN) 
(Membro Interno) 
 
_____________________________________________________ 
Ma. Angely Dias da Cunha 
Assistente Social – CRESS/RN 4929 
(Membro Externo) 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN 
Sistema de Bibliotecas - SISBI 
Catalogação de Publicação na Fonte. UFRN - Biblioteca Setorial do Centro Ciências Sociais Aplicadas - CCSA 
 Oliveira, Emily Malvina Castro. 
 A atuação profissional das/os Assistentes Sociais nas unidades 
de urgências e emergência: desafios e possibilidades do trabalho 
profissional na UPA de Parnamirim/RN / Emily Malvina Castro 
Oliveira. - 2022. 
 62f.: il. 
 
 Monografia (Graduação em Serviço Social) - Universidade 
Federal do Rio Grande do Norte, Centro de Ciências Sociais 
Aplicadas, Departamento de Serviço Social. Natal, RN, 2022. 
 Orientadora: Profa. Dra. Ilena Felipe Barros. 
 
 
 1. Trabalho - Monografia. 2. Serviço social - Monografia. 3. 
Processo de trabalho - Monografia. 4. Unidade de Pronto 
Atendimento (UPA) - Monografia. 5. Política de urgência e 
emergência - Monografia. I. Barros, Ilena Felipe. II. 
Universidade Federal do Rio Grande do Norte. III. Título. 
 
RN/UF/Biblioteca CCSA CDU 364-43:61 
 
 
 
 
Elaborado por Eliane Leal Duarte - CRB-15/355 
 
 
 
 
 
DEDICATORIA 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Dedico esse trabalho a minha mãe, meu maior exemplo, com todo 
seu amor, força e colo me acolheu sempre, essa conquista é sua! 
Dedico também ao meu marido, Mario, meu amor, com seu apoio 
incondicional me fez mais forte para enfrentar as dificuldades. 
 
 
AGRADECIMENTOS 
 
Escrevo esses agradecimentos com sentimento de saudade e dever cumprido. O Serviço 
Social me acolheu, sou grata por essa profissão. 
Quero agradecer primeiramente a Deus que com seu amor vem me mostrando o meu 
caminho e que me consola nos dias mais difíceis. Tudo é sobre ti senhor! 
Quero agradecer aos meus pais por sempre incentivarem meus estudos, por abdicarem 
de seus sonhos e desejos para me proporcionar sempre o melhor. Essa conquista é de 
vocês! 
Quero agradecer a minha irmã, Nicoly, minha pequena gigante. Está perto de ti é um 
sopro de paz no meu coração. 
Quero agradecer ao meu grande amor, Mario, meu marido. Você é meu porto seguro, luz 
na minha vida. Obrigada por dividir as felicidades, mas principalmente obrigada por 
tornar suportável os dias difíceis. Eu te amo, meu amor! 
Quero agradecer minha querida orientadora Ilena com sua alegria e disponibilidade 
tornou esse momento mais leve. Muito obrigada profa! 
Quero agradecer a banca pela disponibilidade de está presente neste dia tão especial para 
minha trajetória acadêmica. 
E por fim, quero agradecer minhas amigas de curso Ana Emília, Joyce, Luisa e Larissa, 
a parceira de vocês me trouxe até aqui. Obrigada pelas manhãs, tardes e noites de estudo 
em grupo, por dividir seminários, trabalhos e artigos. Obrigada principalmente por todos 
os momentos de angustia em que vocês me apararam e por toda a felicidade que 
compartilhamos durante esses anos. Ter vocês como amigas e colegas de profissão me 
fazem ter esperança de dias melhores. 
 
 
 
 
 
 
RESUMO 
 
 
 
 
O presente trabalho de conclusão (TCC) de curso tem como objetivo estudar a atuação 
profissional dos assistentes sociais nas unidades de urgência e emergência, levando em 
consideração os desafios posto a profissão na atualidade, a partir da análise da UPA Maria 
Nazaré em Parnamirim/RN. Dessa forma, a metodologia da pesquisa abrangeu análise 
documental e estudos bibliográficos, além de contar com a vivência de estágio 
obrigatório, o relatório e os diários de campo, para a análise da UPA de Parnamirim/RN. 
Ressalta-se a importância da inserção do Serviço Social nas unidades de pronto 
atendimento do país, visto que esse serviço de saúde recebe demandas, muitas vezes, 
reprimidas que não alcançam outras unidades de saúde e que vão além da concepção de 
saúde-doença usando o ideal de saúde ampliada defendido pela Constituição Federal de 
1988. Além disso, estabelece a importância da atuação profissional comprometida com o 
projeto ético-político e os princípios estabelecidos no código de ética da profissão; 
atuando nas dimensões ético-político, técnico-operativo e teórico-metodológico do 
Serviço Social. 
 
Palavras-chaves: Trabalho, Serviço Social, Processo de Trabalho, UPA, Política de 
urgência e emergência. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
ABSTRATC 
 
 
This course conclusion work (TCC) aims to study the professional performance of social 
workers in urgency and emergency units, taking into account the challenges posed to the 
profession today, from the analysis of the UPA Maria Nazaré in Parnamirim/RN . Thus, 
the research methodology covered document analysis and bibliographic studies, in 
addition to having the experience of a mandatory internship, the report and field diaries, 
for the analysis of the UPA of Parnamirim/RN. The importance of the insertion of Social 
Service in emergency care units in the country is highlighted, since this health service 
receives demands, often repressed, that do not reach other health units and that go beyond 
the concept of health-disease using the ideal of expanded health defended by the Federal 
Constitution of 1988. In addition, it establishes the importance of professional 
performance committed to the ethical-political project and the principles established in 
the profession's code of ethics; acting in the ethical-political, technical-operative and 
theoretical-methodological dimensions of Social Work. 
Keywords: Work, Social Service, Work Process, UPA, Urgency and Emergency Policy. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
LISTA DE SIGLAS 
 
ABESS- Associação Brasileira de Escolas de Serviço Social 
CAPs - Caixas de Aposentadoria e Pensão 
CCQs - Círculos de Controle de Qualidades 
CFESS - Conselho Federal de Serviço Social 
CRESS - Conselho Regional de Serviço Social 
IAPS - Instituto de Aposentadoria e Pensão 
IBGE- Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas 
INAMPS - Instituto Nacional de Assistência Médica da Previdência Social 
OIT - Organização Internacional do Trabalho 
PNAU - PlanoNacional de Atenção a Urgências e Emergências 
SINAN - Sistema de Informação de Agravos de notificações 
SUS - Sistema Único de Saúde 
UPA- Unidade de Pronto Atendimento 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
LISTA DE GRÁFICOS 
 
Gráfico 01 Taxa de desocupação janeiro/2012 a julho/2022.......................... 30 
 
Gráfico 02 Taxa de desocupação por sexo (2012/2022)................................. 31 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
SÚMARIO 
 
1 INTRODUÇÃO................................................................................... 12 
2 PROCESSO DE TRABALHO DO(A) ASSISTENTE SOCIAL: 
REFLEXÕES SOBRE TRABALHO, ANÁLISE DA CLASSE 
TRABALHADORA BRASILEIRA E PROCESSO DE 
TRABALHO EM SERVIÇO SOCIAL................................................. 
 
 
14 
 
 2.1 Trabalho, modo de produção capitalista e alienação........................... 14 
 2.2 A reestruturação produtiva e os impactos no mundo do trabalho....... 19 
 
3 A ATUAÇÃO PROFISSIONAL DAS/OS ASSISTENTES SOCIAIS 
NAS UNIDADES DE URGÊNCIAS E EMERGÊNCIA: DESAFIOS 
E POSSIBILIDADES DO TRABALHO PROFISSIONAL NA UPA 
DE PARNAMIRIM/RN.......................................................................... 
 
 
36 
 
 3.1 Políticas de Saúde: Uma análise sobre a política de urgência e 
emergência no Brasil................................................................................. 
 
36 
 3.2 A Inserção do Serviço Social na Saúde................................................ 41 
 3.3 O Processo de trabalho do/a assistente social: reflexões para 
debate........................................................................................................ 
 
46 
 3.4 O trabalho desenvolvido pelo/a assistente social na UPA de 
Parnamirim/RN......................................................................................... 
 
51 
 
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS................................................................. 60 
5 REFERENCIAS ..................................................................................... 62 
 
 
 
12 
 
 
INTRODUÇÃO 
O presente trabalho de conclusão (TCC) de curso teve como objetivo estudar a 
atuação profissional dos assistentes sociais nas unidades de urgência e emergência, 
levando em consideração os desafios posto a profissão na atualidade, a partir da análise 
da UPA Maria Nazaré em Parnamirim/RN. 
A temática da monografia foi definida a partir da vivência do estágio, no qual ao 
me inserir na unidade de pronto atendimento Maria Nazaré, passei a refletir sobre a 
atuação profissional das assistentes sociais na saúde. A partir do conceito ampliado da 
saúde, na qual prevê saúde além da ausência de doenças, se dá a importância da inserção 
do Serviço Social na rede de urgência e emergência, onde as assistentes sociais inseridas 
nesse serviços, passam a viabilizar direitos dos usuários que no primeiro momento podem 
não ser identificadas, mas com a atuação profissional qualificada, consegue-se identificar 
demandas de violação de direito associadas as demandas patológicas. 
O Serviço Social a partir da análise de Iamamoto (2000), é uma especialização do 
trabalho coletivo, no qual irá se afirmar a partir das necessidades sociais advindas do 
conflito de classes. Sendo assim, a atuação das assistentes sociais é polarizada, atuando 
nas diversas expressões da questão social, viabilizando direitos através do Estado por 
meio de políticas públicas e a favor dos interesses da classe trabalhadora. A atuação 
profissional das assistentes sociais é guiada pelo código de ética, pela lei da 
regulamentação da profissão e na saúde, pelos parâmetros de atuação profissional, além 
disso, conta também os aparatos ético-políticos, teórico-metodológicos e técnico-
operativos. 
Os objetivos específicos da pesquisa se voltam para: analisar a categoria trabalho 
dentro do modo de produção capitalista e seus impactos na vida da classe trabalhadora; 
estudar sobre as políticas de saúde no Brasil e a inserção do Serviço Social na saúde; e 
por fim a partir desse acumulo teórico pesquisar sobre a atuação profissional dos 
assistentes sociais nas unidades de urgência e emergência, destacando os desafios e 
possibilidades do exercício profissional. 
A pesquisa teve uma abordagem qualitativa, utilizando-se de levantamento e 
revisão bibliográfica, pesquisa documental; assim como a utilização do relatório de 
estágio em Serviço Social. Soares (2019, p.169) ao definir que a pesquisa qualitativa, 
afirma que é expressa pelo desenvolvimento de conceitos a partir de opiniões, fatos e 
 
 
13 
 
ideias, assim como a partir do entendimento indutivo e interpretativo que se atribui aos 
dados descobertos ligados ao problema de pesquisa. 
 
O entendimento qualitativo é indutivo, interpretativo e 
argumentativo, o que possibilita ir além do mensurável ou meramente 
informativo, escapando daquilo que seja previsível. Outra 
característica marcante deste processo é que além de analisar 
fenômenos sociais, busca em forma de pesquisa interpretativa, 
os significados, enfatizando mais intensamente o processo que o 
produto. (SOARES, 2019, p. 179) 
 
Esta abordagem se fez essencial durante o processo de pesquisa, uma vez que 
permite analisar de forma critica a realidade da atuação profissional do Serviço Social na 
saúde. Em relação a revisão de literatura, para refletir sobre trabalho e utilizou-se autores 
como Lessa (1999), Netto e Braz (2006), Singer (1994), Antunes (2006) e Alves (2007). 
Na discussão sobre políticas de saúde e inserção do Serviço Social na saúde, utiliza-se 
autores como Bertolli (2002), Netto (2005), Iamamoto (2010). Sobre a política de 
urgência e emergência a pesquisa é abordada a partir de autores como Konder (2013) e 
Aragão (2017). Por fim, para analisar processo de trabalho em Serviço Social e a atuação 
profissional dos assistentes sociais na saúde, levando em consideração a atualidade 
pandêmica, utiliza-se a análise de Iamamoto (2000) e Matos (2020). 
O método utilizado para essa pesquisa foi o materialismo histórico-dialético de 
Marx, em virtude de entender a realidade numa perspectiva de totalidade, o que permite 
a analise critica do objeto da pesquisa, onde através do contexto histórico se construiu 
uma investigação da realidade. Neste método, analisamos o passado para se discutir o 
presente e entender os impactos deste na realidade imposta. 
Portanto, a estrutura de exposição deste trabalho, está dividida em 2 capítulos, 
além de introdução e considerações finais. O primeiro capitulo é uma analise sobre a 
categoria trabalho, o modo de produção capitalista e seus impactos no mundo de trabalho, 
visando levantar uma reflexão sobre o que é trabalho e como foi construído o mundo do 
trabalho na atualidade. No segundo capitulo propõem-se uma análise sobre a política de 
urgência e emergência, processo de trabalho em serviço social e a atuação profissional 
dos assistentes sociais na UPA de Parnamirim, considerando os desafios impostos na 
atualidade. 
 
 
 
 
14 
 
2. PROCESSO DE TRABALHO DO ASSISTENTE SOCIAL: Reflexões sobre 
trabalho e análise da classe trabalhadora brasileira. 
 O capítulo abaixo tratasse de uma análise sobre a categoria trabalho, o modo de 
produção capitalista e seus impactos no mundo de trabalho, visando levantar uma reflexão 
sobre o que é trabalho e como foi construído o mundo do trabalho na atualidade. 
 
2.1 Trabalho, modo de produção capitalista e alienação. 
O trabalho é a categoria fundante do ser social. Para autores marxistas como Lessa 
(1999), o trabalho é a transformação da natureza a partir da busca pela satisfação das 
necessidades humanas. 
Em português, apesar de haver labor e trabalho é possível achar na 
mesma palavra trabalho ambas as significações: a de realizar uma obra 
que te expresse, que dê reconhecimento sociale permaneça além da tua 
vida; e a de esforço rotineiro e repetitivo, sem liberdade, de resultado 
consumível e incomodo inevitável. (ALBORNOZ, 1988, p. 9). 
Ao longo de milhares de anos, a humanidade irá desenvolver o trabalho, 
transformando a natureza e a si mesmo. O ser social é fruto das transformações humanas 
a partir do trabalho, no qual ao desenvolver os meios/objetos de trabalho, transformam o 
mundo ao seu redor e si mesmo. Diferente dos animais irracionais, o/a homem/mulher 
passa por um processo de objetivação de suas atividades, ocorrendo a previa ideação, que 
segundo Lessa (1999), é a capacidade de o homem idealizar o seu processo de trabalho e 
do produto final deste. 
[...] todo ato de trabalho, sempre voltado para o atendimento de uma 
necessidade concreta, historicamente determinada, termina por remeter 
para muito além de si próprio. Suas consequências objetivas e 
subjetivas não se limitam á produção do objeto imediato, mais se 
estendem por toda história a humanidade. (LESSA, 1999, p. 4) 
A reprodução social é iniciada pelo trabalho, mas não se limita apenas a ele, é ela 
que possibilita o desenvolvimento social do homem, das suas relações sociais e da sua 
organização social. 
Na esfera da reprodução social, as novas necessidades e possibilidades 
geradas pelo trabalho vão dar origem a novas relações sociais que se 
organizam sob a forma de complexos sociais. A fala, o Direito, o 
Estado, a ideologia (com suas formas específicas, como a filosofia, a 
arte, a religião, a política, etc.), os costumes, etc., etc., são complexos 
sociais que surgem para atender às novas necessidades e possibilidades, 
postas pelo trabalho, para o desenvolvimento dos homens. (LESSA, 
1999, p. 6). 
Netto e Braz (2006) destacam que à medida que o ser social se desenvolve ele não 
se limitará apenas o trabalho (como transformação da natureza para obter um produto que 
 
 
15 
 
satisfaça suas necessidades), e sim irá criar outras objetivações que vão além deste. Para 
isso se utiliza a categoria práxis. 
 
verifica-se, na e pela práxis, como, para além das suas objetivações 
primárias, constituídas pelo trabalho, o ser social se projeta e se realiza 
nas objetivações materiais e ideais da ciência, da filosofia, da arte, 
construindo um mundo de produtos,obras e valores – um mundo social, 
humano enfim, em que a espécie humana se converte inteiramente em 
gênero humano. Na sua amplitude, a categoria de práxis revela o 
homem como ser criativo e autoprodutivo: ser da práxis, o homem é 
produto ecriação da sua auto-atividade, ele é o que (se) fez e (se) faz. 
(NETTO; BRAZ, 2006, p. 26) 
 
Dentro desse processo evolutivo de desenvolvimento do trabalho humano e da 
sociedade, com a agricultura, no qual a humanidade passa a produzir mais do que pode 
consumir, o excedente desta produção passa a não ser mais coletivo e os homens e 
mulheres começa a explorar outros homens e mulheres. Sendo assim, à medida que a 
humanidade se desenvolve a partir do trabalho e complexifica suas relações sociais, o 
trabalho, segundo Lessa (1999), irá ganhar outro significado, passa a significar o poder 
de um (a) homem/ mulher que compra o trabalho (capitalista) sobre outro (a) homem/ 
mulher que vende seu trabalho (classe trabalhadora). 
Assim como Lessa (1999) e Albornoz (1988) destacam, o trabalho humano é atividade 
consciente e planejada, no qual diferente dos animais não somos obrigados 
biologicamente em exercer o trabalho. As primeiras formas de trabalho da humanidade, 
eram instintivas, ou seja, transformava-se a natureza a fim de suprir suas necessidades 
básicas, colhia os frutos e caçava o que iria consumir, neste período não existia a ideia de 
excedente, tudo era consumido pela tribo. 
Com o desenvolvimento do trabalho humano, a partir da descoberta da agricultura, 
tem-se a possibilidade de cultivar os próprios alimentos e logo em seguida, tudo que era 
coletivo e consumido imediatamente passa a ter um excedente, que muda a história da 
humanidade, reorganiza as relações sociais, pois aquilo que era coletivo passa a pertencer 
a uma só pessoa (o capitalista). Essa relação de apropriação da terra e produção, altera o 
significado do trabalho humano. 
O excedente desenvolve novas formas de relações sociais. Na sociedade feudal, 
os servos trabalham e entregam todo seu excedente para o senhor feudal, este abriga os 
servos em suas vastas terras em troca da produção do seu trabalho, o excedente, o que 
sobra desta produção, não é do servo e sim do senhor feudal dono das terras que servo 
trabalha. Com o passar dos anos, o desenvolvimento do comércio, inserção da moeda nas 
 
 
16 
 
relações comercias, novas possibilidades de venda, aqui não se troca mais apenas grãos e 
carne de caça, a humanidade se desenvolve e começa a produzir arte, produtos que vão 
além de suprir a necessidade básica do ser humano. Os comerciantes (burgos) começa a 
ter poder de compra, passa a ocupar um lugar na sociedade, e a partir da organização 
dessa classe que surge a burguesia, no qual até os dias atuais dominam os meios de 
produção do mundo. 
Os mais bem-sucedidos comerciantes empregavam trabalhadores – 
artesãos, carregadores, marinheiros, artistas, criados domésticos, e aos 
poucos se estabelece uma hierarquia baseada no dinheiro e no mercado 
onde os produtos agrícolas podem ser vendidos por dinheiro. Tais 
burgos, cujo o surgimento na historia medieval europeia bem como na 
modernidade latino-americana é fácil de reconhecer e acompanhar, são 
os nascedouro desta classe – a burguesia, que ainda no mundo de hoje 
é a classe dominadora em nossas sociedades capitalistas, sendo quem 
determina em grande parte as formas pelas quais se realiza hoje o 
trabalho. (ALBORNOZ, 1988, p. 20) 
 
A crise do sistema feudal começa a partir do esgotamento de terras para cultivo, o 
que resulta em uma extrema pobreza da população nesta época, juntamente com o 
surgimento da peste negra que devasta a Europa neste período e arrebata um quarto da 
população. Porém não se limita a esses dois fatores o esgotamento do sistema feudal. 
Netto e Braz (2006), destaca que a economia feudal passa a aderir as transações mercantil, 
além disso, devido os últimos acontecimentos (fome e peste) a relação entre senhores 
feudais e servos estavam estremecidas, o que fez com que esta primeira categoria adotasse 
o Estado Absolutista, concentrando o poder na mão de um único rei e sendo, 
contraditoriamente, financiado pela classe burguesa. Fazendo com que essa classe tivesse 
um protagonismo econômico. 
A revolução burguesa, segundo Netto e Braz (2006), vem se formando em uma 
época de revoluções sociais, como Reforma Protestante e Renascimento, percebemos que 
a burguesia não domina apenas a economia, mais todo um novo pensamento na sociedade, 
o que impulsiona essa nova classe ao poder. 
Para entendermos a produção capitalista, temos que compreender primeiramente 
a produção mercantil simples, está é caracterizada pelo: 
[...] trabalho pessoal e o fato de artesãos e camponeses nela envolvidos 
serem os proprietários dos meios de produção que empregavam. 
Originalmente, esse tipo de produção não implicava relações de 
exploração: o camponês trabalhava solidariamente com membros da 
sua família e o mestre-artesão compartilhava as condições de trabalho 
e vida de seus aprendizes e jornaleiros (as corporações eram, também, 
originalmente associações de pares: aprendizes e jornaleiros seriam os 
futuros mestres). Ademais, esse tipo de produção destinava-se 
 
 
17 
 
basicamente a um mercado restrito, quase sempre de âmbito local, no 
qual os produtores conheciam as necessidades dos compradores. 
(NETTO; BRAZ, 2006, p. 48) 
 
Segundo Netto e Braz (2006) a partir do século XVIII com a expansão das rotas 
comerciais há uma nova forma de comércio surgindo, o que antes, nos mercados locais, 
o produtor comercializava apenas o produto do seu própriotrabalho e comprava 
instrumentos para a continuação deste. Passa a ter outro modo, o comerciante passa a não 
produzir os seus produtos de venda e sim buscar comprar por preços mais baixos e vende-
los em mercados por preços mais altos, obtendo lucro. Sendo assim, a uma alteração nas 
relações sociais no trabalho. 
No modo de produção capitalista, os produtores diretos não são donos dos meios 
de produção para realizar o trabalho. O burguês terá domínio destes meios, mas não irá 
trabalhar neles e sim comprar a força de trabalho de outras pessoas para trabalharam nos 
seus meios de produção. Netto e Braz (2006) destacam que não é a troca de mercadorias 
que irá gerar o dinheiro do capitalista, mas sim o controle e continuidade da produção. 
 
Podemos agora explicitar uma determinação essencial: nem toda 
produção mercantil é produção capitalista, embora toda produção 
capitalista seja produção mercantil – o que especifica a produção 
mercantil capitalista é o fato de ela se fundar sobre o trabalho 
assalariado (o salário é o preço que o capitalista paga pela mercadoria 
força de trabalho). Não é, portanto, apenas a produção de mercadorias 
que caracteriza o modo de produção capitalista [...]. (NETTO; BRAZ, 
2006, p. 50) 
 
O fundamental no modo de produção capitalista é a existência de duas classes 
sociais, sendo elas: a pessoa que tem os modos de produção e possibilidade de compra da 
força de trabalho, o capitalista, e a pessoa que somente possui a sua força de trabalho para 
vendê-la, os trabalhadores. 
Para Netto e Braz (2006) a gênese do modo de produção capitalista se deu no 
processo denominado por Marx de acumulação primitiva, o qual ocorreu na Inglaterra e 
alguns países da Europa Ocidental, possuindo as seguintes características: 1. Cercamento 
de terras, 2. Expulsão dos camponeses do campo, 3. Criação de uma legislação 
sanguinário, o qual castigava quem ia contra a esse novo sistema. Esses três fatos 
acumularam riquezas na mão de poucos homens e mulheres e obrigou o restante da 
população a se deslocar do campo para cidade e vender a única coisa que lhe restava, sua 
força de trabalho. 
 
 
18 
 
Além disso, a descoberta das Américas, a colonização nesses países, a mão de 
obra negra escravizada, toda barbárie produzida pela raça humana contribuiu para 
concretização desse modo de produção que acumula cada vez mais capital. Para o modo 
de produção capitalista existir, a pobreza, a barbárie, a dominação de uma classe sobre 
outra e a alienação, precisam coexistir para manutenção do status quo. O capitalista não 
domina apenas os meios de produção, mas todos os aspectos políticos, econômicos e 
sociais da vida dos trabalhadores. 
Netto e Braz (2006) destacam um fenômeno, nomeado por Marx de fetichismo da 
mercadoria, quando o trabalho não reconhece mais como construtor de uma parte da 
mercadoria, pois seu trabalho não produz o produto final, mas sim uma parte deste. E a 
mercadoria (produto final do trabalho do homem) passa a lhe ser alheio e causar 
estranheza, ela os domina. 
A essa forma fantasmagórica, a esse poder autônomo que as 
mercadorias parecem ter e efetivamente exercem em face dos seus 
produtores, Marx chamou de fetichismo da mercadoria. É no modo de 
produção que universaliza a lógica mercantil –isto é, no modo de 
produção capitalista – que o fetichismo alcança a sua máxima gradação: 
nas sociedades em que esse modo de produção impera, as relações 
sociais tomam a aparência de relações entre coisas10. Por isso mesmo, 
o fenômeno da reificação (em latim, res = coisa; reificação, pois, é 
sinônimo de coisificação) é peculiar às sociedades capitalistas; é mesmo 
possível afirmar que a reificação é a forma típica da alienação (mas não 
a única) engendrada no modo de produção capitalista. O fetichismo 
daquela mercadoria especial que é o dinheiro, nessas sociedades, é 
talvez a expressão mais flagrante de como as relações sociais são 
deslocadas pelo seu poder ilimitado. (NETTO; BRAZ, 2006, p.55) 
 
Ao longo dos anos o valor da mercadoria foi se consolidando e obtendo um 
equivalente de comparação entre os produtos e para isso utilizava os seguintes meios para 
comparação: o tempo em que estes levavam para serem produzidos e a escassez deste. 
Além disso, coma criação da moeda como um meio para troca de mercadoria, ajudou a 
ampliação do comercio e consolidação do modo de produção capitalista. Netto e Braz 
(2006, p.59) destaca que assim como as mercadorias, a força de trabalho humana 
precisava de um valor (salário) que será definida a partir de “[...] o tempo de trabalho 
socialmente necessário para produzir bens que permite a manutenção (ou reprodução)”, 
e esta definição do salário do trabalhador que fara com que a força de trabalho humana 
seja o produto mais lucrativo para o capitalista, pois este não paga o equivalente ao que o 
trabalhador produz e sim paga o valor equivalente a sua reprodução (social e biológica). 
 
 
19 
 
A partir disso cria-se um antagonismo de classes, o capitalista busca sempre 
comprar a força de trabalho humana pelo valor mais baixo do mercado e para isso utiliza-
se de aparelhos de dominação, como Estado com suas leis trabalhista que contribuem para 
o aumento da exploração; utiliza-se também da miséria produzida por esse sistema de 
acumulação de riqueza nas mãos de poucos, o que faz com que exista sempre um exército 
industrial de reserva para facilmente substituir aquele trabalhador que se rebelar, e este 
tem seu trabalho tão “repartido” que consegue facilmente ser substituído e não se 
reconhecer no produto final de sua produção. Apesar dessas estratégias de dominação 
burguesa a classe trabalhadora através de sua organização politica com sindicatos, vem 
lutando por melhoria das suas condições de trabalho e aumento de seu salário. Os 
trabalhadores nunca foram coniventes com essa exploração. 
Por fim, o desenvolvimento do trabalho humano, nos trouxe grandes 
possibilidades de melhora, porém à medida que o mundo moderno se desenvolve e 
descobre curas para diversas doenças e até mesmo a possibilidade de conhecer outros 
planetas, a humanidade produz sua própria destruição. Dentro do modo de produção 
capitalista descobrimos que éramos capazes de suprir a fome do mundo, mas devido a 
ganância de uma classe, passamos a produzir miséria. 
2.2 A reestruturação produtiva e os impactos no mundo do trabalho 
Compreende-se que o modo de produção capitalista é o novo modelo de produção 
em vigência no mundo, em seu processo de expansão adentrou em diversos países e 
economias, incluindo o Brasil. Porém, cada país que o capitalismo adentra tem suas 
particularidades históricas, políticas e sociais. A seguir propõem-se uma reflexão da 
adentrada do capitalismo no Brasil e seus impactos no mundo do trabalho. 
Singer (1994) destaca as três divisões dos países industrializados, sendo eles: pais 
desenvolvidos - que começaram sua industrialização no século XVIII, país em 
desenvolvimento - começaram seu processo de industrialização na década de 1930 e são 
países marcados pelo escravismo, e países não desenvolvidos, este que ainda não 
começaram seu processo de industrialização. Logo, para entendermos a formação da 
classe operário brasileira, devemos entender seu processo de colonização e 
industrialização. 
No Brasil a três grandes ciclos de exportação, açúcar, ouro e café. Sendo o último, 
segundo Singer (1994), o mais importante para análise da construção da classe 
trabalhadora. O Brasil foi construído a partir do escravismo e exportação. O ciclo do café 
 
 
20 
 
se inicia no século XIX, no Rio de Janeiro, utilizando-se de mão de obra escrava vinda 
das mineradoras em decadência e da África através do tráfico negreiro. O Brasil, em 
poucos anos, passou a ser o maior exportador de café, produto estes que vinha sendo 
muito consumido na Europa e Estados Unidos da América (EUA). Porém, durante esse 
mesmo período a Grã-Bretanhavinha traçando uma luta contra a mão de obra escrava. 
Para Singer (1994) está batalha tinha motivos ideológicos e econômicos para os 
ingleses, estávamos no século das luzes, ideias como liberdade era disseminada por toda 
a Europa e era insustentável manter a escravização, porém, além disso, a mão de obra 
escrava não era interessante para o capitalismo, pois a degradação humana impedia que 
trabalhadores escravos tivessem poder de comprar e se inserisse na economia, como mão 
de obra e como consumidor. Ora, como um trabalhador escravo poderia contribuir com o 
capitalismo se este não poderia vender sua força de trabalho. Porém, no Brasil, a 
economia é sustentada pelo latifúndio cafeeiro e escravização, fazendo com que os 
governantes não aceitassem muito bem as imposições contra o tráfico negreiro do 
governo inglês, porém após anos de pressão, o Brasil cede. 
Em longo prazo a “extinção” do trabalho escravo no Brasil teve impactos 
significativos na economia. Singer (1994) destaca que a preocupação com a mão-de-obra, 
se dá pelo fato que além dos trabalhadores ex-escravos, os trabalhadores livres (não 
negros libertos) não estavam à disposição do capital, estes possuíam seus próprios meios 
de produção. 
 A “escravidão capitalista” que segundo Singer (1994), era composta por escravos 
urbanos, no qual seu senhorio os alugava para capitalistas e estes pagavam um salário que 
era uma parte apropriado pelo senhor de escravos e a outra parte ficava com o escravo 
para manter sua subsistência e em longo prazo comprar sua carta de alforria. Esse sistema 
não se manteve por muito tempo, pois logo cresceu a porcentagem de escravos livres 
exercendo atividades autônomas e para reprodução da escravidão capitalista precisava do 
suprimento de mão de obra negra escrava, o que foi cessada. 
No campo, a falta de mão de obra negra também era um novo problema para a 
aristocracia, diferentemente dos escravos urbanos, os escravos que trabalhavam no campo 
eram submetidos a tamanhos maus tratos, no qual eram mantidos com o mínimo para 
sobreviver e dando o máximo nas plantações. Uma característica, segundo Singer (1994), 
da escravidão é taxa de mortalidade ser superior à taxa de nascidos vivos, isto 
impossibilitada à reprodução de uma classe escrava, o que antes esse empecilho era 
suprido pelo tráfico negreiro. 
 
 
21 
 
A solução para os suprimentos de mão de obra no Brasil foi à imigração europeia. 
A partir de 1850, a mão de obra imigrante passou a tomar de conta dos campos de café, 
esses trabalhadores já chegavam ao país com dividas com seus contratantes, estes ultimo 
custeava toda viagem e deslocamento dentro do próprio país, no qual compensava esses 
gastos desconto do salário dos imigrantes, além disso, dentro de sua terra, fornecia 
produtos básicos e comidas em custos altíssimos para esses trabalhadores, o que no fim 
fazia com que sua dívida se torna-se quase impossível de quitar. Porém, Singer (1994, 
p.54) destaca que esses trabalhadores se submetiam a servidão temporária e a longo prazo 
estes se revoltavam e deixavam as plantações de café voltando para seu país de origem. 
Para Singer (1994), nunca houve um lugar seguro, intocado pela escravidão, para 
a industrialização do Brasil, ou seja, o capital industrial não conseguia competir com o 
escravismo. 
O fato fundamental é que, no Brasil, nunca houve um espaço intocado 
pelo escravismo em que o capital industrial pudesse se acumular com 
ímpeto. Por isso não surgiu nenhum outro modo de produção capaz de 
competir com o escravismo, mesmo quando este já estava ferido de 
morte pela cessação do tráfico. O que se deu foi o desgaste lento e 
contínuo do escravismo, através da paulatina redução do número de 
escravos e sua concentração nos Estados cafeeiros [...]. A pressão 
abolicionista, em certos momentos de fato significativa, foi neutralizada 
por leis procrastinadora, como a do Ventre Livre e a dos Sexagenários. 
No final, a escravidão foi abolida graças a crescente resistência dos 
próprios escravos e a incapacidade dos escravocratas de mobilizar a 
força do Estado - especificamente o exército - para esmaga-la. 
(SINGER, 1994, p. 56) 
 
Apesar da economia escravista está em decadência, a abolição da escravatura se 
dá pela luta da população negra, as revoltas se tornavam crescente, não havia mais 
suprimento de mão-de-obra negra, os escravos nascidos no país já falavam português e 
estavam socializados e inseridos na cultura do país, além da pressão inglesa, todos esses 
fatos fizeram-se necessários para assinar a abolição da escravatura. 
Singer (1994, p.58) destaca que a abolição da escravatura, abriu um caminho para 
solução do suprimento da mão de obra, como já destacado anteriormente, há imigração 
de trabalhadores europeus sendo incentivada no país, criando-se assim um semiproletário 
agrícola, o colonato. No colonato, os trabalhadores pagavam suas dívidas adquiridas na 
viajem com seu trabalho e esperava a primeira colheita para comprar seus próprios meios 
de sustentos (terras para o próprio cultivo, animais e etc...) ou comprava a passagem de 
volta para seu país de origem. O Brasil atraia esses trabalhadores europeus com promessas 
de empregar suas famílias e lhes gerar oportunidade de fonte de ganho autônomo. A 
 
 
22 
 
prosperidade dos colonos do café, se dava pela hegemonia do Brasil na venda mundial 
deste produto. 
Durante a República Velha (1889 – 1930) há a formação do semiproletário 
agrícola, composta por trabalhadores imigrantes, os ex escravos foram completamente 
excluídos nesse processo, Singer destaca três motivos dessa exclusão: 
1°) a mobilidade espacial dos trabalhadores rurais era bastante reduzida 
por uma política deliberada de retenção das classes dominantes dos 
Estados não-cafeeiros, cujo poder econômico e político dependia da 
quantidade de trabalhadores sob seu domínio. 2°) durante o mesmo 
período se abriram dois novos ciclos de exportação – da cultura do 
cacau no sul da Bahia e da extração de borracha da Amazônia – que 
absorveram considerável mão-de-obra, principalmente nordestina; 3°) 
a forma como se deu a Abolição, mediante ao abandono em massa das 
fazendas de café pelos escravos, dificultava o emprego dessa mão-de-
obra na própria cafeicultura. (SINGER, 1994, p.60) 
 
Muitos negros se alojaram nas cidades, exercendo trabalhos assalariados com 
ganho inferiores, na construção civil e serviços domésticos, eles tinham que competir com 
os trabalhadores imigrantes que também se agrupavam nas grandes cidades. As raízes 
escravocratas com sua mão preconceituosa inferiorizaram o negro, privando-o de 
oportunidades para se inserir na classe operária em formação. Singer (1994, p. 60) 
destaca, que a maioria das famílias negras eram sustentadas pelas mulheres através de 
seus empregos domésticos, o que impossibilitava a ascensão social dessas pessoas e 
reforçava o viés preconceituosos com essa população. 
Além disso, à marginalização da população negra se dá pela importação excessiva 
de mão-de-obra imigrante na capital paulista. Singer (1994) destaca que entre 1893 a 
1928, cerca de 1.114.000,00 trabalhadores europeus adentraram o país, mais que o triplo 
do necessário para suprir a mão de obra cafeeira, este número altíssimo se dá pela alta 
rotatividade desses trabalhadores nas fazendas. Esses dados incentivaram a fixação desses 
trabalhadores nas grandes cidades. 
Para Singer (1994) a formação da classe operária brasileira acontece com a 
cessação do tráfico negreiro, antes da imigração europeia, porém esta última é 
responsável pelo impulsionamento da formação dessa classe. A substituição do trabalho 
escravo pelo trabalho livre na agroindústria do açúcar no Nordeste é os primórdios do 
proletariado brasileiro. Porém este não é um "proletariado puro", isto se dá devido às 
condições de empregabilidade nas plantações no qual os trabalhadores são empregados 
em apenas uma época do ano,fazendo que no resto do ano esses trabalhassem para própria 
 
 
23 
 
subsistência nas terras cedidas pelo patrão, constituindo assim um semiproletário que se 
assemelha ao colonato. Ou seja, há uma combinação de trabalho assalariado e produção 
própria para sua subsistência. Além do semiproletário da agroindústria do açúcar, no 
Brasil surge também o operário de usina. 
O que Singer (1994) destaca é que a gênese do proletariado no Brasil surge antes 
da escravidão, mas não se desenvolve, pois não existia mercado para produtos 
manufatureiros no Brasil, a camada rica da população dava prioridade para produtos 
importados, e o restante da população estava situado no campo e produzia sua própria 
subsistência. Além disso, nessa época não há criação de grandes mercados já que não 
tinha consumidores para estes, o que fazia com que os artesãos suprissem essa demanda, 
sem necessidade de intervenção de uma industrial capitalista para aumentar a produção. 
Só a partir da abolição da escravatura, crescimento dos centros urbanos, 
necessidade de consumo de produtos locais, altas taxas tributárias de produtos importados 
que cria-se um terreno fértil para a gênese do proletariado brasileiro. 
A formação da classe operária brasileira se acelera entre os anos de 1880 e 1920, 
crescendo não só o proletariado ligado as indústrias, mas também ligados a avanços da 
infraestrutura no país, como: construção civil, transportes marítimos e terrestre, 
saneamento. Singer (1994, p.66) destaca que apesar desse crescimento em 1920 a classe 
operária no Brasil representava apenas 8,2% da população economicamente ativa. A 
maior parte dos trabalhadores ainda eram autônomos e semiproletários, ou seja, o 
desenvolvimento da classe operária era muito lento, isso tem grande influência da 
economia exportadora no qual não incentivava o crescimento de grandes centros 
industriais ligados a outros produtos. 
Entre 1920 e 1940 a população econômica ativa no país subiu para 14,8%, 
possibilitando um aumento da classe operária. É importante destacar que não é uma 
formação de proletário puro que ocorre no país (tendo sempre trabalhadores inseridos em 
diversas atividades além das indústrias e muitas vezes autônomas), para Singer (1994), a 
formação da classe operaria se dá de maneira paralela em atividades industriais e 
manufatureiras. 
A substituição de importação foi muito importante no processo de estabelecimento 
da classe operária no Brasil, pois possibilitou a criação de diversas manufaturas que 
empregavam uma parcela da população economicamente ativa. 
De uma forma geral pode-se dizer, no entanto, que o proletariado que 
se formou no Brasil, até 1920, era em sua maioria de serviços – 
 
 
24 
 
funcionários públicos, ferroviários, portuários, etc. –, e a minoria 
ocupada em estabelecimentos ditos “industriais” devia ser formada 
principalmente por operários manufatureiros, isto é, artesãos 
assalariados, trabalhando com ferramentas ou maquinas manuais. 
(SINGER, 1994, p.67) 
 
Na década de 1940 são marcados por uma nova etapa econômica no país, a grande 
indústria. Singer (1994) destaca que essas indústrias são formadas por estabelecimentos 
de grandes portes que fabricavam produtos como: aço, alumínio, cimento, papel, vidro e 
etc., além disso, produzia também bens duráveis de consumo (eletrodomésticos e 
automóveis) e bens de capital (máquinas). Vale destacar que essas empresas eram 
formadas por multinacionais, estatais ou de alguma forma ligada ao capital estrangeiro. 
Uma característica desse tipo de empresa é que o trabalho nesta é extremamente 
mecanizado, não precisando de uma mão de obra qualificada para trabalhar. Singer (1994) 
destaca que neste período há dois tipos de proletariado da grande indústria, sendo eles: 
semiqualificados - trabalhadores que tem apenas um treinamento básico e rápido e os 
técnicos/ administrativos - pessoas que tem um nível de escolaridade maior. Além disso, 
a grande indústria tende a empregar a maior parte da população econômica ativa, pois 
tem sua expansão de forma muito rápida dominando diversos tipos de atividades, como 
redes de supermercados, hotéis e lojas de departamento de roupas. 
 O proletariado da grande indústria vive exclusivamente do seu salário, porém 
apesar de empregar uma parcela grande da população, nem todos os trabalhadores que 
trabalham na grande indústria tem seus direitos garantidos, ficam a mercê de empregos 
temporários sem garantias trabalhistas. 
Nesse período destaca-se os anos de 1945 e 1946, com a queda do Estado Novo 
de Getúlio Vargas, pressões politicas e mobilizações sociais, em 1945 ocorre as eleições 
presidências e gerais, na qual elege presidente, senadores e deputados federais. Já em 
1946 é promulgada a Constituição de 1946, primeira constituição social do país, no qual 
garantia direito trabalhistas e direitos civis, como o estabelecimento do voto secreto. Essa 
Constituição apesar dos avanços ainda apresentava limitações. 
O campo neste período também está em desenvolvimento, fazendo com que cada 
vez menos seja necessário mão de obra humana. "A proletarização do homem do campo, 
no Brasil, se da [...] mediante a expropriação direta de posseiros e empobrecimento 
gradativo e continuo de pequenos agricultores". (SINGER,1994, p.70) A migração rural-
 
 
25 
 
urbana é um fator que ocorre na década de 1950 motivada pela industrialização do campo 
e expropriação. 
A década de 1970 foi marcada pelo milagre econômica e grandes expansões 
capitalista por todo território brasileiro, o que incentivou tanto o emprego assalariado, 
como o trabalhador autônomo, porém logo essa onda passou e logo em seguida na década 
de 1980 o país enfrenta grande crise econômica. Os anos de 1980 foram marcantes para 
o mundo do trabalho, ocorrendo diversas transformações na forma de produção 
capitalista, além de transformações sociais e políticas a nível mundial. O trabalho nessa 
época sofre mutações na sua forma de produção, impactando a vida da classe 
trabalhadora. 
Antunes (2006) destaca que a década de 1980 foi marcada por saltos tecnológicos, 
no quais esses avanços invadiram o mundo fabril modificando as relações de trabalho e 
modo de produção capitalista. O modo de produção Taylor-fordista não é mais o único 
em vigência, aparecendo assim, outros tipos de processo produtivo. Este fator faz com 
que a superprodução seja substituída pela flexibilização do trabalho. 
Antunes (2006) relata um novo conceito na produção capitalista os Círculos de 
Controle de Qualidades (CCQs), onde estes pregam “a gestão participativa, a busca da 
qualidade total”, isto em vários países desenvolvidos e subdesenvolvidos do mundo 
capitalista. O novo modelo de produção capitalista é denominado como toyotismo. 
Essa nova forma de produção tem impactos sociais significativos na vida dos 
trabalhadores, a partir do processo de inserção do modelo toyotista, é necessário que se 
aplique diversas mudanças nos países para que essa nova roupagem do capital possa ser 
exercida. O trabalho passa a ser flexibilizado e desregulamentado. 
Segundo Harvey apud Antunes (2006, p.28) o fordismo se manteve estável até a 
recessão após 1973, tendo essa crise impulsionado as mudanças no interior da acumulação 
capitalista, que se denomina por acumulação flexível, que de acordo com para Harvey 
(1992, p. 140) apud Antunes (2006, p.29) é 
Marcada por um confronto direto com a rigidez do fordismo. Ela se 
apoia na flexibilidade dos processos de trabalho, dos produtos e padrões 
de consumo. Caracteriza-se pelo surgimento de setores de produção 
inteiramente novos, novas maneiras de fornecimento de serviços 
financeiros, novos mercados e, sobretudo, taxas altamente 
intensificadas de inovação comercial, tecnológica e organizacional. A 
acumulação flexível envolve rápidas mudanças dos padrões do 
desenvolvimento desigual, tanto entre setores como entre regiões 
geográficas, criando,por exemplo, um vasto movimento no emprego 
no chamado “setor de serviços”, bem como conjuntos industriais 
completamente novos em regiões subdesenvolvidas. 
 
 
26 
 
De acordo Harvey apud Antunes (2006, p.29) há uma combinação de processos 
produtivos que irá se articular ao fordismo com processos flexíveis, ou seja, não é algo 
essencialmente novo, mas sim a incorporação de um novo modelo de produção 
combinado a um modelo já existente. É necessário destacar que essa flexibilização não 
atinge apenas o modelo de produção, mas também atinge o trabalhador direto, o tornando 
suscetíveis a trabalhos desregulamentados e terceirizados. 
Para Antunes (2006, p. 31) há quatro fases que levaram ao toyotismo, sendo elas: 
 
Primeira: a introdução, na indústria automobilística japonesa, da 
experiência ao ramo têxtil, dada especialmente pela necessidade de o 
trabalhador operar simultaneamente com várias máquinas. Segunda: a 
necessidade de a empresa responder à crise financeira, aumentando a 
produção sem aumentar o número de trabalhadores. Terceira: a 
importação das técnicas de gestão dos supermercados dos EUA, que 
deram origem ao kanban. Segundo os termos atribuídos a Toyoda, 
presidente fundador da Toyota, “o ideal seria produzir somente o 
necessário e fazê-lo no melhor tempo”, baseando-se no modelo dos 
supermercados, de reposição de produtos somente depois da sua venda. 
Segundo Coriat, o método kanban já existia desde 1962, de modo 
generalizado, nas partes essenciais da Toyota, embora o toyotismo, 
como modelo mais geral, tenha sua origem a partir do pós-guerra. 
Quarta fase: a expansão do método kanban para as empresas 
subcontratadas e fornecedoras. 
 
Algumas características definem o Toyotismo: a produção deve ser diversificada, 
pronta para suprir as demandas de consumo, sendo feita a partir de um estoque mínimo, 
só se produz o que irá se consumir; Aproveitamento do tempo de trabalho e flexibilização 
deste. Um trabalhador passar a ser polivalente, operar várias máquinas e exercer diversas 
funções; diferentemente do fordismo, o toyotismo não exerce uma linha de produção 
vertical, fazendo todas as peças do seu produto, sendo assim o toyotismo irá recorrer por 
terceirizações de serviços básicos. 
A flexibilização do trabalho faz com que as empresas sejam montadas com o 
número mínimo de trabalhadores, ampliando a contratação de trabalhadores temporários 
de acordo com a necessidade da produção e subcontratação (empresas terceirizadas). 
Para Antunes (2006, p.36): 
o toyotismo é uma resposta à crise do fordismo dos anos 70. Ao invés 
do trabalho desqualificado, o operário torna-se polivalente. Ao invés da 
linha individualizada, ele se intrega em uma equipe. Ao invés de 
produzir veículos em massa para pessoas que não conhece, ele fábrica 
um elemento para a satisfação da equipe que está na sequência da sua 
linha. 
 
 
27 
 
Por fim, Antunes (2006) destaca que o toyotismo não seria um novo modelo 
societário e de produção, longe das mazelas do capital, o toyotismo causa um não 
reconhecimento do trabalhador como classe trabalhadora, os envolves em ideais 
participativos da empresa, os manipula, a ponta de eles passarem a se identificar mais 
com as empresas do que com a classe trabalhadora. Há a apropriação do ser e do fazer 
dos trabalhadores. 
Alves (2007) destaca que faz parte do mundo capitalista processos de 
reestruturações produtivas em seu interior ao logo do desenvolvimento do capital, no qual 
essas reestruturações irão ocasionar mudanças objetivas e subjetivas no mundo do 
trabalho. Para Alves (2007, p.156) o toyotismo é "tão-somente mais um elemento 
compositivo do longo processo de racionalização da produção capitalista e de 
manipulação do trabalho vivo que teve origem com o fordismo-taylorismo." 
Segundo Alves (2007) o toytismo surge na década de 1950 no Japão, mas só a 
partir de 1980, com a mundialização do capital, que esse modelo se expande em países 
capitalistas adquirindo mudanças com particularidades locais e regionais de acordo com 
a necessidade e demanda de cada país em que se insere. Essas mudanças irão ocorrer tanto 
no setor privado como no setor público. O toyotismo é baseado na produção fluida, 
flexível e difusa. 
Entretanto, consideramos como cerne essencial do toyotismo, a busca 
do “engajamento estimulado” do trabalho, principalmente do 
trabalhador central, o assalariado “estável”. É através da “captura” da 
subjetividade que o operário ou empregado consegue operar, com 
eficácia elativa, a série de dispositivos técnico-organizacionais que 
sustentam a produção fluída e difusa. (ALVES, 2007, p. 159) 
 
Algumas considerações essências, segundo Alves (2007) para análise da 
reestruturação produtiva (toyotismo):1. Há não só uma nova forma de produção há 
também a necessidade de uma nova forma de dominação do proletariado, sendo ela a 
capturar da subjetividade do trabalhador; 2. Existe uma ligação entre toyotismo, luta de 
classes e etapas sócio histórica do capitalismo mundial, na qual o processo de capturar da 
subjetividade do trabalhador se altera de acordo com as condições do capitalismo e 
particularidades dos países que adentram. A partir de 1980, decorrente desse 
desenvolvimento mundial do capitalismo e as necessidades do mercado, as condições 
sociais dentro desse modelo para o trabalhador foram revistas ou abolidas. Era 
característica no Japão o emprego vitalício e o salário de acordo com o tempo de serviço, 
porém com essa revisão surge os contratos anuais e os bônus ou gratificação de acordo 
 
 
28 
 
com a produção. Porém, essa gratificação é mínima, uma pequena porcentagem do lucro 
da empresa, talvez quase insignificante para o capitalista, mas faz com que o trabalhador 
se sinta incentivado a produzir mais. 
E também: 
O sucesso do sistema Toyota vincula-se, numa perspectiva histórica, às 
grandes derrotas da classe operária e à decapitação (e neutralização) do 
seu “intelectual orgânicos” no plano produtivo: o sindicato industrial, 
de classe, transformado num sindicato de empresa, corporativo e 
interlocutor exclusivo do capital. Este processo de neutralização 
político-ideológica da classe operária no espaço da produção é tão 
importante para o sucesso do toyotismo que, no país capitalista de 
origem, o Japão, uma das passagens essenciais que asseguram a 
promoção dos dirigentes e a formação das elites da empresa Toyota é a 
atividade sindical. (ALVES,2007, p.162) 
Ainda sobre a “captura” da subjetividade do trabalhador é importante entender 
que a globalização do capital tem como uma das principais características a manipulação, 
isto ocorre quando o capital adentra aparelhos de socialização, como: escola, igrejas, 
mídias sociais, o próprio governo do país. Há uma verdadeira guerra no campo das ideias, 
a classe vencedora é a que impõe a sua hegemonia e nessa luta os detentores dos meios 
de produção vêm nos últimos anos ganhando. 
É interessante ressaltar que para Alves (2007) o termo “captura” é usado entre 
aspas, pois esse processo não foi perene, ou seja, dentro desse processo há resistência e 
luta. A “capturar” da subjetividade do trabalhador, não acontece apenas no âmbito da 
empresa, há uma rede de coerção, manipulação e consentimento que perpassa todas as 
instâncias da reprodução social. 
Os impactos da reestruturação no Brasil acontecem a partir da década de 1990, é 
interessante ressaltar que, as décadas anteriores o Brasil passar por grandes lutas sociais, 
com o fim da ditadura e a mobilização dos movimentos sociais, a conquista da nova 
Constituição Federal de 1988, na qual prevê direitos nunca antes alcançados no país. 
Alves (2007) resgata determinantes sócios históricos para entender os impactos 
da reestruturação produtiva no Brasil, sendo ele: A natureza colonial - escravista do país, 
no qual sua economia era voltada para exportação de mão de obra agrícola e sustentada 
por trabalho escravo,o que acentua a desigualdade social no país antes e após a 
escravidão. Desde o princípio o Brasil produziu leis, como a leis de terras, que propagou 
a grande concentração das terras nas mãos da burguesia. Outro elemento importante é que 
o desenvolvimento industrial do Brasil acontece em consonância com a produção agrícola 
 
 
29 
 
e é dependente do capital estrangeiro. Apesar da industrialização tardia uma parcela da 
população é absorvida. 
(...) uma população de milhões e milhões de trabalhadores brasileiros 
migrantes, desenraizados e envolvidos em trabalhos assalariados 
(embora sem carteira), ou ainda, atividades (ou “bicos”) por conta 
própria, falsos autônomos, ampla marginalidade social que não ocultam 
seu caráter de subalternidade, constituindo o trabalho vivo “invisível” 
da exploração capitalista no Brasil. (ALVES, 2007, p. 275) 
Alves (2007) destaca que nos últimos 50 anos com o processo de industrialização 
há dois mundos do trabalho, de um lado o trabalhador classe média que teve acesso à 
educação, ocupando cargos de mais prestígios social ligados a administração, setor 
financeiro e marketing, onde estes trabalhadores são protegidos por conquistas sociais e 
leis trabalhista. E do outro lado encontra-se o trabalhador migrante, vindo do campo ou 
da cidade, que não teve tanto acesso a educação, este são os trabalhadores invisíveis, que 
assumem empregos informais na nossa sociedade. 
Na década de 1960, há a metropolização capitalista, o território urbano cresce no 
país. 
O acesso ao mercado de consumo urbano significa, para amplas 
parcelas do proletariado metropolitano, um ganho de status social. Até 
fins da década de 1970, a mobilidade social está no horizonte de classe 
do proletariado no Brasil. (ALVES, 2007, p. 276) 
 
Com a crise do milagre econômico há alterações na dinâmica econômica e social 
do país nas décadas de 1970 e 1980. Há um fechamento na mobilidade social nesse 
período. Na década de 1990, com a entrada do neoliberalismo 1 e os impactos da 
reestruturação produtiva, para Alves (2007), não há uma garantia de carreira e ascensão 
social para nenhum dos trabalhadores sejam aqueles assalariados ou de empregos 
informais. 
Assim, o processo de precarização como processo social se apresenta 
como o desmonte da perspectiva de formalização e o crescimento da 
informalização; a reestruturação produtiva de amplos setores 
protegidos da indústria, o crescimento do desemprego aberto. Ora, o 
processo de precarização atinge o centro e a borda do mundo do 
trabalho. A crise da economia brasileira dá cores trágicas ao cenário 
 
1 Para conceituar o neoliberalismo, utiliza-se o texto “Neoliberalismo e educação: manual do usuário” do 
autor Pablo Gentili que encontra-se no livro "Escola S.A.", Tomaz Tadeu da Silva e Pablo Gentili, 1999. 
[...] o neoliberalismo expressa a dupla dinâmica que caracteriza todo processo de construção de hegemonia. 
Por um lado, trata-se de uma alternativa de poder extremamente vigorosa constituída por uma série de 
estratégias políticas, econômicas e jurídicas orientadas para encontrar uma saída dominante para a crise 
capitalista que se inicia ao final dos anos 60 e que se manifesta claramente já nos anos 70. Por outro lado, 
ela expressa e sintetiza um ambicioso projeto de reforma ideológica de nossas sociedades a construção e a 
difusão de um novo senso comum que fornece coerência, sentido e uma pretensa legitimidade às propostas 
de reforma impulsionadas pelo bloco dominante[...] 
 
 
30 
 
social nas últimas décadas, piorando a qualidade do emprego no 
mercado de trabalho. (ALVES, 2007, p. 276) 
 
Com todas essas mudanças impulsionadas pelas alterações no mundo do trabalho 
a partir dos ideais da reestruturação produtiva com o modelo de produção flexível, há um 
processo de precarização do trabalho, no qual cresce o desemprego e a informalização. 
 
Na atualidade o cenário não é diferente, dados do IBGE (Instituto Brasileiro de 
Geografia e Estatísticas) apontam que há um crescimento na taxa de trabalhadores 
desempregados nos últimos 10 anos. O ano de 2012 com 6,9% da população 
desempregada e em 2022 somando um total de 9,3% de pessoas desempregadas, em 
números seria 10,1 milhões de pessoas desempregadas no Brasil. É importante ressaltar 
que durante os anos de 2020 e 2021, no pico da pandemia mundial da Covid-192, há um 
crescimento ainda maior dessa porcentagem, sendo simultaneamente de 14,9% nos 
trimestres de julho, agosto e setembro de 2020 e também 14,9% no trimestre de janeiro, 
fevereiro e março de 2021. Segundo o IBGE a população desocupada são pessoas 
desempregadas, mas que estão em busca de trabalho.. 
Gráfico 01: Taxa de desocupação janeiro/2012 a julho/2022 
 
 
 
 
 
 
 
 
2 A Covid-19 é uma infecção respiratória aguda causada pelo coronavírus SARS-CoV-2, potencialmente 
grave, de elevada transmissibilidade e de distribuição global. (https://www.gov.br/saude/pt-
br/coronavirus/o-que-e-o-coronavirus). 
No ano de 2020 o mundo é atingindo por uma pandemia, milhares pessoas mortas, hospitais superlotados, 
corrida pela vacina. A pandemia trouxe impactos não só para saúde mundial, mas também para economia. 
E a classe em que vive do seu próprio trabalho mais uma vez é atingida. 
 
 
 
31 
 
 Esses dados são ainda mais alarmantes quando analisado o desemprego por 
gênero. No final de 2012 a uma taxa de desemprego de 8,4% de mulheres e 5,7% de 
homens. Em 2022 chegamos a 11,6% de mulheres desempregadas e 7,5% de homens 
desempregados. E durante a pandemia há um pico no primeiro trimestre de 2021 com 
18,5% de mulheres desempregados e 12,2% de homens desempregados neste mesmo 
período. 
 Gráfico 02: Taxa de desocupação por sexo (2012/2022) 
 
 
 Antunes (2020) destaca que durante a pandemia há um aumento nos índices 
de empobrecimento e miserabilidade da classe trabalhadora. É interessante ressaltar que 
antes da pandemia, 40% da classe trabalhadora encontravam-se em empregos informais 
no final do ano de 2019. Isto se dá pelo fato das inovações tecnológicas somadas ao 
interesse do capital. O autor analisa esse processo e utiliza o termo uberização, no qual 
trabalhadores começaram a experimentar trabalhos digitais através de aplicativos. 
 Vale lembrar que os trabalhos através de aplicativos de entregas, corridas e 
outras funções, são trabalhos informais, sem garantias trabalhistas. A tecnologia seria 
inovação ou estamos voltamos para época da revolução industrial sem nenhum direito 
trabalhista? 
 Na análise de Antunes (2020) baseando-se na obra de Marx, utiliza-se da 
metáfora do metabolismo social para entender o sistema capitalista. 
Tratando-se de uma complexa engrenagem econômica que não possui 
limites para a sua expansão (pois seu foco é sempre a produção de mais 
capital), sua resultante é uma acentuada destrutividade. Para fazer fluir 
o movimento de autovalorização de interação humana – e em particular 
a atividade laborativa – são modulados e calibrados por uma segunda 
 
 
32 
 
natureza, tal como destacou Marx, voltada essencialmente para a 
expansão e reprodução do capital. (ANTUNES, 2020, p. 11 -12) 
 A partir das crises de 1968-1973 e 2008-2009, segundo Antunes (2020 p.12), 
encontrou-se uma brecha social favorável para intensificar os processos de exploração do 
trabalho e degradação da vida humana, sendo eles: “corrosão do trabalho, destruição 
ilimitada da natureza, degradação do mundo rural [...] segregação urbana e social, etc”. 
Além disso, as questões sociais são intensificadas, como a opressão de gênero, o racismo, 
a homofobia, xenofobia e a negação da ciência. 
 Ainda segundo Antunes (2020, p.16) sob a luz da obra de Mészáros, o sistema 
de metabolismo social do capital se constituí a partir de um tripé, sendo ele: capital, 
trabalho assalariado e Estado. Sendo assim, ele explica que não basta eliminar um ou dois 
polos desse sistema, sendo a única forma de supera-loa extinção desses 3 pontos. 
 A produção social se submete ao modus operanti do capital. Tendo como 
consequências para a humanidade "[...] O desemprego monumental, a destruição 
ambiental, a "mercadorização" da vida e o incentivo diário a novas guerras e conflitos 
armados". 
 Outro conceito importante é a taxa de utilização decrescente do valor de uso 
das mercadorias, que seria a diminuição da vida útil dos produtos. Sendo assim, a partir 
do momento que diminui a vida útil de um produto, ele precisará ser reproduzia/fabricado 
novamente. (Antunes, 2020, p.16) 
A produção de bens não está voltada para a geração de valores de 
uso,com o objetivo de atender necessidades humano-sociais, mas para 
produzir valores de troca visando o lucro. E, uma vez que o sistema de 
capital é tão mais lucrativo quanto menor for o tempo de vida útil das 
mercadorias, sua feição só pode ser, em si e para si, a de um sistema 
destrutivo, cujos imperativos o impulsionam a criar sempre mais 
mercadorias. (ANTUNES, 2020, p. 16 -17). 
 É importante destacar que não apenas produtos produzidos pelo homem 
passam por esse processo, a própria força de trabalho também está incluída nessa redução. 
Porém, o trabalho não pode ser eliminado, pois ele é necessário para valorização do 
capital. O que ocorre é a devastação das condições de trabalho em escala planetária. 
 Para Antunes (2020), a uberizaçao do trabalho é a informalidade, 
precarização, super exploração, acidentes, mortes, suicídios, um mundo no qual o 
trabalho se desenvolve de forma informal nas plataformas digitais e aplicativos. 
 É nesse cenário de capitalismo financeiro somado aos avanços tecnológicos e 
deterioração da vida humana que a pandemia global adentra. A pandemia da Covid-19 
assolou o mundo inteiro tirando milhares de vidas e causando a intensificação do 
 
 
33 
 
desemprego. Dados da OIT (Organização Internacional do Trabalho) mostram que houve 
a perda de 195 milhares de empregos em tempo integral só no segundo trimestre de 2020. 
Além disso, Antunes (2020) destaca que 1,6 bilhões de pessoas vivam de trabalhos 
informais e durante a pandemia houve a destruição das condições (apesar de precárias) 
desse trabalho. 
 Sendo assim, a Covid-19 é uma pandemia de classe, gênero e raça. Enquanto 
governos propagam a ideia de "estamos juntos nessa", a classe trabalhadora enfrenta um 
dilema horrível entre continuar a trabalhar e ou parar de trabalhar e não ter condições para 
sobreviver. (Antunes, 2020, p.16) 
 O capital pandêmico para Antunes (2020) tem um caráter de classe, já que 
afeta claramente de forma mais brutal a classe que do próprio trabalho vive. Talvez a 
maior contradição dessa pandemia fosse à necessidade de isolamento social, como as 
pessoas que depende do seu próprio trabalho poderiam se isolar para não se contaminar e 
contaminar o próximo se não existem condições básicas garantidas para essas pessoas. 
 É importante ressaltar que através de números a percepção que a maior parte 
dos trabalhadores encontra-se em empregos informais, ou seja, sem nenhuma garantia 
trabalhista, o que agrava ainda mais a situação. 
Assim, a confluência entre uma economia destruída, um universo 
societal destroçado e uma crise política inqualificável converte o Brasil 
em um forte candidato ao abismo humano, em um verdadeiro cemitério 
coletivo. (ANTUNES, 2020, p. 27) 
 Todos esses fatos ampliaram a miserabilidade da classe menos favorecida, a 
classe trabalhadora. Dados do IBGE do primeiro trimestre de 2020 já apresentam 
ampliação do desemprego, tendo 12,85 milhões de pessoas desempregadas no Brasil e 
38,3 milhões de pessoas trabalhando em empregos informais. 
 A pandemia para Antunes (2020), também impactou os trabalhadores de 
aplicativos digitais. Os trabalhadores que saiam do desemprego e buscavam alternativas 
nessa nova modalidade de emprego a uberizaçao, passam também por grandes 
contradições. 
 A tecnologia é usada como forma de diminuição do trabalho vivo, ou para 
super explora-lo, extraindo o máximo possível da mão de obra sem os custos trabalhista 
de um trabalhador. 
Portanto diferente da fase de predomínio taylorista e fordista, que 
vigorou nas fábricas da "era do automóvel l" durante o século XX, neste 
século XXI, as empresas "flexíveis" vem impondo velozmente sua 
trípode destrutiva sobre o trabalho. É por isso que terceirização, 
informalidade e flexibilidade se tornam partes inseparáveis do léxico de 
 
 
34 
 
empresa corporativa. E o trabalho intermitente, aprovado pela 
contrarreforma trabalhista durante o governo terceirizado de Temer, 
tornou-se elemento ainda mais corrosivo em relação a proteção do 
trabalho. (ANTUNES, 2020, p.32) 
 
 Por fim destaco que desde o processo de formação da classe trabalhadora 
brasileira até os dias atuais, a classe que vive do seu próprio trabalho passar por intensa 
exploração do sistema capitalista, e nos últimos anos, com a inserção da tecnologia esse 
processo vem sendo intensificado atingindo não só diretamente o trabalho em si, mas toda 
a vida social, econômica e política envolta dele. O capital financeiro e tecnológico que 
promete avanços no mundo é uma das fases mais exploratória, capturando a objetividade 
e subjetividade do trabalhador. 
Essa realidade atual do mundo do trabalho é refletida no cotidiano do exercício 
profissional das/os Assistentes Sociais, nos diferentes espaços sócio ocupacionais. Assim, 
verifica-se a reestruturação produtiva, também, na atividade laboral do Serviço Social. 
São desafios que estão na ordem do dia do trabalho profissional: precarização; 
terceirização; trabalho intermitente; ausência de programas de qualificação profissional; 
não efetivação da Lei das 30 horas semanais; entre outros. Esses desafios serão discutidos 
no próximo capítulo, a partir da análise do trabalho do/a Assistente Social na saúde, nos 
serviços de urgência e emergência. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
35 
 
3 – A ATUAÇÃO PROFISSIONAL DAS (OS) ASSISTENTES SOCIAIS NA UPA: 
UMA ANALISE SOBRE PROCESSO DE TRABALHO E DESAFIOS 
PROFISSIONAIS. 
No capitulo a seguir propõe-se uma análise sobre a política de urgência e 
emergência, o processo de trabalho em Serviço Social e a atuação profissional dos 
assistentes sociais na UPA de Parnamirim, considerando os desafios impostos pela 
atualidade. 
3.1 Políticas de Saúde: uma análise sobre a política de urgência e emergência no 
Brasil. 
A saúde no Brasil é fruto de um longo processo de lutas, ganhos e perdas. Para 
entender o contexto da criação das Unidades de Pronto Atendimento, precisa-se fazer um 
breve resgate histórico da saúde no Brasil. No período colonial não existia saúde no 
Brasil, o país era conhecido como inferno tropical devido seu alto índice de doenças e a 
assistência médica era ligada à filantropia. Essas condições só vão melhor a partir da 
abolição da escravatura, pois há um novo tipo de população que necessitava de um novo 
cuidado para manter a mão-de-obra, além disso, o enfoque era o saneamento dos portos, 
tendo em vista que a economia brasileira é agroexportadora, sendo assim precisa de 
condições mínimas para manter os portos funcionando e a economia girando. Porém, até 
essa época só existiam medidas de saúde ligadas a contenção de epidemias e saneamento 
básico. 
A partir da década de 1920 e 1930 o Estado vai efetivar uma melhora considerável 
na saúde com surgimento do CAPs (Caixas de Aposentadoria e Pensão) que tinha um 
financiamento triplo, sendo ele: estado; empregadores e empregados, no qual além da 
aposentadoria e pensão, fornecia assistência médica. Sua problemática era que apenas 
trabalhadores assalariados de algumas empresas estavam assistidos, a maior parte da 
população não se encaixava nesses requisitos. Posteriormente na década de 1930, surgem 
os IAPS (Instituto de Aposentadoria e Pensão), no qual abrange um contingente maior de 
trabalhadores, sendo divididos porprofissões. Nos anos 1940 e 1950 o governo passa a 
focar seus investimentos na industrialização e deixa a saúde sem muitas mudanças. 
De acordo com Bertolli (2002), em 1964, com a ditadura, o governo vai ser 
caracterizado por um binômio de repressão e assistência, a saúde nessa época vai ter uma 
abertura para os projetos privados. Outro ponto importante é a criação dos INAMPS 
(Instituto Nacional de Assistência Médica da Previdência Social) que vai juntar todos os 
 
 
36 
 
IAPS e formar um único sistema de previdência. Após a ditadura há um processo de 
redemocratização e rearticulação política da classe trabalhadora, no qual o Movimento da 
Reforma Sanitária irá surgir e a partir disto repensar a saúde no país, é nesse ponto que 
surge a nova conceituação do que é saúde e depois de quase uma década de discussões e 
articulações conquistamos o SUS (Sistema Único de Saúde). 
Para refletir-se sobre o movimento da Reforma Sanitária Brasileira, se faz 
necessário um breve resgate histórico da cena política e econômica do país durante as 
décadas de 1970 e 1980. Durante o processo de redemocratização do país a situação da 
saúde brasileira era de disputa entre três projetos políticos ideológicos. Bravo (2007) 
analisa os três projetos, sendo eles: a proposta conservadora, que defendia a manutenção 
do modelo pluralista, no qual baseava-se na compra de serviços do setor privado, onde o 
setor público financiava o sistema privado de saúde, terceirizando os serviços; a proposta 
modernizante privatista que defendia um binômio entre setor privado e setor público, no 
qual o Estado tomaria conta das ações de saúde da população carente, que não estava 
inseridas no mercado de trabalho empresarial, com o enfoque na população rural, e o setor 
privado tomaria de conta da assistência a saúde as pessoas inserida no mercado de 
trabalho nas grandes metrópoles. Por fim, a proposta racionalizadora, defendia saúde 
como direito da população e responsabilidade do Estado, sendo o setor privado 
subordinado ao público, agindo de forma complementar. Essa proposta cria o movimento 
da reforma sanitária. 
Segundo Bravo (2007), há um acontecimento marcante para a discussão da 
questão de saúde do país nesse período, a realização da VIII Conferência Nacional de 
Saúde, que tinha como tema central: 
I) A saúde como direito inerente a personalidade e a cidadania; II) 
Reformulação do Sistema Nacional de Saúde, em consonância com os 
princípios de integração orgânico-institucional, descentralização, 
universalização e participação, redefinição dos papeis institucionais das 
unidades políticas (União, estado, municípios, territórios) na prestação 
dos serviços de saúde; III) Financiamento setorial. (Bravo, 2007, p. 88) 
 
A VIII Conferencia teve importante impacto no projeto de saúde brasileiro, que 
segundo Bravo (2007) foi a partir dela que se consolidou o conceito ampliado de saúde e 
concretizou a necessidade de reestruturação do setor de saúde com a criação do Sistema 
Único de Saúde. O movimento da Reforma Sanitária irá trazer uma nova leitura do 
conceito de saúde, não apenas a ausência de doenças, passa-se a considerar todos os 
determinantes sociais, econômicos e políticos que atingem os usuários e fazem parte da 
 
 
37 
 
saúde, como: lazer, moradia, educação, esporte e outros. Foi a partir dessa nova 
conceituação de saúde juntamente com a Constituição Federal de 1988, que irá aprovar 
uma série de políticas sociais, que surge o SUS (Sistema Único de Saúde). Podemos 
observar essas mudanças segundo o Art. 196 da Constituição Federal de 1988, no qual 
prevê o acesso universal às ações e serviços de saúde. 
Bravo (2007) ainda destaca que alguns aspectos importantes para alterar a política 
de saúde privatizante do país e fortalecer o setor público, sendo eles: a politização da 
saúde que tem como objetivo aprofundar o nível de consciência sanitária visando a 
inclusão das demandas de saúde na agenda do governo, a fim de garantir apoio político 
para a implementação das mudanças necessários; a alteração da norma constitucional, no 
qual a partir de toda articulação e mobilização adota um texto favorável para saúde 
seguindo as reivindicações do movimento da reforma sanitária e por fim, a mudança do 
arcabouço e práticas institucionais o que vai ser efetuado através de medidas como a 
universalização do atendimento, a redução do papel do setor privado na saúde, 
descentralização e execução dos serviços a nível local. 
É importante destacar que devemos entender o conceito de saúde ampliada de 
acordo com a Constituição Federal de 1988, e refletir que existem não só urgências 
biológicas ou físicas, mas também urgências sociais e que os serviços que ofertam esse 
aparato, as vezes são os únicos serviços que aquela população tem acesso. 
A partir da análise de Konder (2013) é destacado que em 1995 começa a 
regulamentar as primeiras iniciativas de atenção às urgências, dividindo-se em 3 etapas. 
O primeiro período entre 1998 e 2002 fica marcado pelas primeiras iniciativas na 
regulamentação das urgências; no segundo período entre 2003 e 2008 fica marcado a 
implantação da Política Nacional de Atenção às Urgências, com o foco no SAMU 
(Serviço de Atendimento Móvel de Urgência) e o terceiro período, especificamente em 
2008, a criação da UPA (Unidade de Pronto Atendimento). 
De acordo com Konder (2013) na década de 1990 com o protagonismo federal na 
estruturação e regulamentação do SUS, tem como foco principal o hospital. 
[...]a necessidade de organizar um sistema hospitalar de atenção às 
urgências face à grave situação vivenciada por estes, especialmente em 
grandes centros urbanos justificou a instituição de incentivo financeiro 
variável, a depender de algumas exigências como: projeto local 
(municipal ou estadual) de atendimento às urgências, central de 
internação gerida localmente e contrapartida financeira da esfera 
conveniada. Para o incentivo financeiro, cabia ao gestor local a escolha 
dos hospitais participantes (BRASIL, 1995). (KONDER, 2013, p.23) 
 
 
38 
 
Nesse momento, apesar de já existir uma discussão sobre a atenção às Urgências 
e Emergências o enfoque desta política ainda tem como figura principal, o hospital. 
Apenas em 2002 com a publicação da Portaria n° 2.048, tem-se uma regulamentação das 
Técnicas dos Sistemas Estaduais de Urgência e Emergência que se tem a mudança no 
enfoque. 
Esse regulamento técnico considera 7 eixos: plano estadual de 
atendimento às urgências e emergências, regulação médica das UE, 
atendimento pré-hospitalar fixo, atendimento pré-hospitalar móvel, 
atendimento hospitalar, transferências e transporte inter-hospitalar e 
núcleos de educação em urgências (NEU). Propunha-se a organização 
de um sistema, desenvolvido a partir de um plano estadual, o que 
expressava uma retomada da regionalização na organização do SUS. As 
diferentes modalidades de atendimento previstas, como pré-hospitalar 
móvel e fixo além do já tradicional âmbito hospitalar, representaram a 
possibilidade de melhor distribuição espacial das unidades e da 
complexidade do atendimento. (KONDER, 2013, p. 24) 
 
No ano seguinte, em 2003, foi marcado pela criação do Plano Nacional de Atenção 
a Urgências e Emergências (PNAU) tendo sua estruturação voltada a 5 eixos 
fundamentais, sendo eles: 
[...] adoção de estratégias promocionais de qualidade de vida, 
organização de redes loco-regionais de atenção integral às urgências, 
instalação e operação das centrais de regulação médica das urgências, 
capacitação e educação continuada das equipes de saúde, e orientação 
geral segundo os princípios de humanização da atenção. (KONDER, 
2013, p. 24) 
 Konder (2013) afirma que a criação da PNAU é um processo estratégico e 
facilitador na regulamentação da gestão da atenção as urgências. Sua principal inovação 
é o protagonismo do usuário e articulação de diversas redes de atendimento. Além disso, 
destaca

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