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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE – UFRN CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS – CCSA DEPARTAMENTO DE SERVIÇO SOCIAL - DESSO EMILY MALVINA CASTRO OLIVEIRA A ATUAÇÃO PROFISSIONAL DAS/OS ASSISTENTES SOCIAIS NAS UNIDADES DE URGÊNCIAS E EMERGÊNCIA: desafios e possibilidades do trabalho profissional na UPA de Parnamirim/RN. NATAL/RN 2022 EMILY MALVINA CASTRO OLIVEIRA A ATUAÇÃO PROFISSIONAL DAS/OS ASSISTENTES SOCIAIS NAS UNIDADES DE URGÊNCIAS E EMERGÊNCIA: desafios e possibilidades do trabalho profissional na UPA de Parnamirim/RN. Trabalho de Conclusão de Curso apresentada ao curso de graduação de Serviço Social, da Universidade Federal do Rio Grande do Norte – UFRN, como requisito parcial à obtenção do título de bacharel. Orientadora: Prof.ª Dra. Ilena Felipe Barros. NATAL/RN 2022 EMILY MALVINA CASTRO OLIVEIRA A ATUAÇÃO PROFISSIONAL DAS/OS ASSISTENTES SOCIAIS NAS UNIDADES DE URGÊNCIAS E EMERGÊNCIA: desafios e possibilidades do trabalho profissional na UPA de Parnamirim/RN. Monografia apresentada à coordenação do Curso de Serviço Social da Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN, como requisito parcial para obtenção do título de Bacharel em Serviço Social. Aprovada em: 27/10/2022 BANCA EXAMINADORA __________________________________________________ Profa. Dra. Ilena Felipe Barros (Orientadora) ____________________________________________________ Profa. Ma. Crismanda Maria Ferreira (UFRN) (Membro Interno) _____________________________________________________ Ma. Angely Dias da Cunha Assistente Social – CRESS/RN 4929 (Membro Externo) Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN Sistema de Bibliotecas - SISBI Catalogação de Publicação na Fonte. UFRN - Biblioteca Setorial do Centro Ciências Sociais Aplicadas - CCSA Oliveira, Emily Malvina Castro. A atuação profissional das/os Assistentes Sociais nas unidades de urgências e emergência: desafios e possibilidades do trabalho profissional na UPA de Parnamirim/RN / Emily Malvina Castro Oliveira. - 2022. 62f.: il. Monografia (Graduação em Serviço Social) - Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Centro de Ciências Sociais Aplicadas, Departamento de Serviço Social. Natal, RN, 2022. Orientadora: Profa. Dra. Ilena Felipe Barros. 1. Trabalho - Monografia. 2. Serviço social - Monografia. 3. Processo de trabalho - Monografia. 4. Unidade de Pronto Atendimento (UPA) - Monografia. 5. Política de urgência e emergência - Monografia. I. Barros, Ilena Felipe. II. Universidade Federal do Rio Grande do Norte. III. Título. RN/UF/Biblioteca CCSA CDU 364-43:61 Elaborado por Eliane Leal Duarte - CRB-15/355 DEDICATORIA Dedico esse trabalho a minha mãe, meu maior exemplo, com todo seu amor, força e colo me acolheu sempre, essa conquista é sua! Dedico também ao meu marido, Mario, meu amor, com seu apoio incondicional me fez mais forte para enfrentar as dificuldades. AGRADECIMENTOS Escrevo esses agradecimentos com sentimento de saudade e dever cumprido. O Serviço Social me acolheu, sou grata por essa profissão. Quero agradecer primeiramente a Deus que com seu amor vem me mostrando o meu caminho e que me consola nos dias mais difíceis. Tudo é sobre ti senhor! Quero agradecer aos meus pais por sempre incentivarem meus estudos, por abdicarem de seus sonhos e desejos para me proporcionar sempre o melhor. Essa conquista é de vocês! Quero agradecer a minha irmã, Nicoly, minha pequena gigante. Está perto de ti é um sopro de paz no meu coração. Quero agradecer ao meu grande amor, Mario, meu marido. Você é meu porto seguro, luz na minha vida. Obrigada por dividir as felicidades, mas principalmente obrigada por tornar suportável os dias difíceis. Eu te amo, meu amor! Quero agradecer minha querida orientadora Ilena com sua alegria e disponibilidade tornou esse momento mais leve. Muito obrigada profa! Quero agradecer a banca pela disponibilidade de está presente neste dia tão especial para minha trajetória acadêmica. E por fim, quero agradecer minhas amigas de curso Ana Emília, Joyce, Luisa e Larissa, a parceira de vocês me trouxe até aqui. Obrigada pelas manhãs, tardes e noites de estudo em grupo, por dividir seminários, trabalhos e artigos. Obrigada principalmente por todos os momentos de angustia em que vocês me apararam e por toda a felicidade que compartilhamos durante esses anos. Ter vocês como amigas e colegas de profissão me fazem ter esperança de dias melhores. RESUMO O presente trabalho de conclusão (TCC) de curso tem como objetivo estudar a atuação profissional dos assistentes sociais nas unidades de urgência e emergência, levando em consideração os desafios posto a profissão na atualidade, a partir da análise da UPA Maria Nazaré em Parnamirim/RN. Dessa forma, a metodologia da pesquisa abrangeu análise documental e estudos bibliográficos, além de contar com a vivência de estágio obrigatório, o relatório e os diários de campo, para a análise da UPA de Parnamirim/RN. Ressalta-se a importância da inserção do Serviço Social nas unidades de pronto atendimento do país, visto que esse serviço de saúde recebe demandas, muitas vezes, reprimidas que não alcançam outras unidades de saúde e que vão além da concepção de saúde-doença usando o ideal de saúde ampliada defendido pela Constituição Federal de 1988. Além disso, estabelece a importância da atuação profissional comprometida com o projeto ético-político e os princípios estabelecidos no código de ética da profissão; atuando nas dimensões ético-político, técnico-operativo e teórico-metodológico do Serviço Social. Palavras-chaves: Trabalho, Serviço Social, Processo de Trabalho, UPA, Política de urgência e emergência. ABSTRATC This course conclusion work (TCC) aims to study the professional performance of social workers in urgency and emergency units, taking into account the challenges posed to the profession today, from the analysis of the UPA Maria Nazaré in Parnamirim/RN . Thus, the research methodology covered document analysis and bibliographic studies, in addition to having the experience of a mandatory internship, the report and field diaries, for the analysis of the UPA of Parnamirim/RN. The importance of the insertion of Social Service in emergency care units in the country is highlighted, since this health service receives demands, often repressed, that do not reach other health units and that go beyond the concept of health-disease using the ideal of expanded health defended by the Federal Constitution of 1988. In addition, it establishes the importance of professional performance committed to the ethical-political project and the principles established in the profession's code of ethics; acting in the ethical-political, technical-operative and theoretical-methodological dimensions of Social Work. Keywords: Work, Social Service, Work Process, UPA, Urgency and Emergency Policy. LISTA DE SIGLAS ABESS- Associação Brasileira de Escolas de Serviço Social CAPs - Caixas de Aposentadoria e Pensão CCQs - Círculos de Controle de Qualidades CFESS - Conselho Federal de Serviço Social CRESS - Conselho Regional de Serviço Social IAPS - Instituto de Aposentadoria e Pensão IBGE- Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas INAMPS - Instituto Nacional de Assistência Médica da Previdência Social OIT - Organização Internacional do Trabalho PNAU - PlanoNacional de Atenção a Urgências e Emergências SINAN - Sistema de Informação de Agravos de notificações SUS - Sistema Único de Saúde UPA- Unidade de Pronto Atendimento LISTA DE GRÁFICOS Gráfico 01 Taxa de desocupação janeiro/2012 a julho/2022.......................... 30 Gráfico 02 Taxa de desocupação por sexo (2012/2022)................................. 31 SÚMARIO 1 INTRODUÇÃO................................................................................... 12 2 PROCESSO DE TRABALHO DO(A) ASSISTENTE SOCIAL: REFLEXÕES SOBRE TRABALHO, ANÁLISE DA CLASSE TRABALHADORA BRASILEIRA E PROCESSO DE TRABALHO EM SERVIÇO SOCIAL................................................. 14 2.1 Trabalho, modo de produção capitalista e alienação........................... 14 2.2 A reestruturação produtiva e os impactos no mundo do trabalho....... 19 3 A ATUAÇÃO PROFISSIONAL DAS/OS ASSISTENTES SOCIAIS NAS UNIDADES DE URGÊNCIAS E EMERGÊNCIA: DESAFIOS E POSSIBILIDADES DO TRABALHO PROFISSIONAL NA UPA DE PARNAMIRIM/RN.......................................................................... 36 3.1 Políticas de Saúde: Uma análise sobre a política de urgência e emergência no Brasil................................................................................. 36 3.2 A Inserção do Serviço Social na Saúde................................................ 41 3.3 O Processo de trabalho do/a assistente social: reflexões para debate........................................................................................................ 46 3.4 O trabalho desenvolvido pelo/a assistente social na UPA de Parnamirim/RN......................................................................................... 51 4 CONSIDERAÇÕES FINAIS................................................................. 60 5 REFERENCIAS ..................................................................................... 62 12 INTRODUÇÃO O presente trabalho de conclusão (TCC) de curso teve como objetivo estudar a atuação profissional dos assistentes sociais nas unidades de urgência e emergência, levando em consideração os desafios posto a profissão na atualidade, a partir da análise da UPA Maria Nazaré em Parnamirim/RN. A temática da monografia foi definida a partir da vivência do estágio, no qual ao me inserir na unidade de pronto atendimento Maria Nazaré, passei a refletir sobre a atuação profissional das assistentes sociais na saúde. A partir do conceito ampliado da saúde, na qual prevê saúde além da ausência de doenças, se dá a importância da inserção do Serviço Social na rede de urgência e emergência, onde as assistentes sociais inseridas nesse serviços, passam a viabilizar direitos dos usuários que no primeiro momento podem não ser identificadas, mas com a atuação profissional qualificada, consegue-se identificar demandas de violação de direito associadas as demandas patológicas. O Serviço Social a partir da análise de Iamamoto (2000), é uma especialização do trabalho coletivo, no qual irá se afirmar a partir das necessidades sociais advindas do conflito de classes. Sendo assim, a atuação das assistentes sociais é polarizada, atuando nas diversas expressões da questão social, viabilizando direitos através do Estado por meio de políticas públicas e a favor dos interesses da classe trabalhadora. A atuação profissional das assistentes sociais é guiada pelo código de ética, pela lei da regulamentação da profissão e na saúde, pelos parâmetros de atuação profissional, além disso, conta também os aparatos ético-políticos, teórico-metodológicos e técnico- operativos. Os objetivos específicos da pesquisa se voltam para: analisar a categoria trabalho dentro do modo de produção capitalista e seus impactos na vida da classe trabalhadora; estudar sobre as políticas de saúde no Brasil e a inserção do Serviço Social na saúde; e por fim a partir desse acumulo teórico pesquisar sobre a atuação profissional dos assistentes sociais nas unidades de urgência e emergência, destacando os desafios e possibilidades do exercício profissional. A pesquisa teve uma abordagem qualitativa, utilizando-se de levantamento e revisão bibliográfica, pesquisa documental; assim como a utilização do relatório de estágio em Serviço Social. Soares (2019, p.169) ao definir que a pesquisa qualitativa, afirma que é expressa pelo desenvolvimento de conceitos a partir de opiniões, fatos e 13 ideias, assim como a partir do entendimento indutivo e interpretativo que se atribui aos dados descobertos ligados ao problema de pesquisa. O entendimento qualitativo é indutivo, interpretativo e argumentativo, o que possibilita ir além do mensurável ou meramente informativo, escapando daquilo que seja previsível. Outra característica marcante deste processo é que além de analisar fenômenos sociais, busca em forma de pesquisa interpretativa, os significados, enfatizando mais intensamente o processo que o produto. (SOARES, 2019, p. 179) Esta abordagem se fez essencial durante o processo de pesquisa, uma vez que permite analisar de forma critica a realidade da atuação profissional do Serviço Social na saúde. Em relação a revisão de literatura, para refletir sobre trabalho e utilizou-se autores como Lessa (1999), Netto e Braz (2006), Singer (1994), Antunes (2006) e Alves (2007). Na discussão sobre políticas de saúde e inserção do Serviço Social na saúde, utiliza-se autores como Bertolli (2002), Netto (2005), Iamamoto (2010). Sobre a política de urgência e emergência a pesquisa é abordada a partir de autores como Konder (2013) e Aragão (2017). Por fim, para analisar processo de trabalho em Serviço Social e a atuação profissional dos assistentes sociais na saúde, levando em consideração a atualidade pandêmica, utiliza-se a análise de Iamamoto (2000) e Matos (2020). O método utilizado para essa pesquisa foi o materialismo histórico-dialético de Marx, em virtude de entender a realidade numa perspectiva de totalidade, o que permite a analise critica do objeto da pesquisa, onde através do contexto histórico se construiu uma investigação da realidade. Neste método, analisamos o passado para se discutir o presente e entender os impactos deste na realidade imposta. Portanto, a estrutura de exposição deste trabalho, está dividida em 2 capítulos, além de introdução e considerações finais. O primeiro capitulo é uma analise sobre a categoria trabalho, o modo de produção capitalista e seus impactos no mundo de trabalho, visando levantar uma reflexão sobre o que é trabalho e como foi construído o mundo do trabalho na atualidade. No segundo capitulo propõem-se uma análise sobre a política de urgência e emergência, processo de trabalho em serviço social e a atuação profissional dos assistentes sociais na UPA de Parnamirim, considerando os desafios impostos na atualidade. 14 2. PROCESSO DE TRABALHO DO ASSISTENTE SOCIAL: Reflexões sobre trabalho e análise da classe trabalhadora brasileira. O capítulo abaixo tratasse de uma análise sobre a categoria trabalho, o modo de produção capitalista e seus impactos no mundo de trabalho, visando levantar uma reflexão sobre o que é trabalho e como foi construído o mundo do trabalho na atualidade. 2.1 Trabalho, modo de produção capitalista e alienação. O trabalho é a categoria fundante do ser social. Para autores marxistas como Lessa (1999), o trabalho é a transformação da natureza a partir da busca pela satisfação das necessidades humanas. Em português, apesar de haver labor e trabalho é possível achar na mesma palavra trabalho ambas as significações: a de realizar uma obra que te expresse, que dê reconhecimento sociale permaneça além da tua vida; e a de esforço rotineiro e repetitivo, sem liberdade, de resultado consumível e incomodo inevitável. (ALBORNOZ, 1988, p. 9). Ao longo de milhares de anos, a humanidade irá desenvolver o trabalho, transformando a natureza e a si mesmo. O ser social é fruto das transformações humanas a partir do trabalho, no qual ao desenvolver os meios/objetos de trabalho, transformam o mundo ao seu redor e si mesmo. Diferente dos animais irracionais, o/a homem/mulher passa por um processo de objetivação de suas atividades, ocorrendo a previa ideação, que segundo Lessa (1999), é a capacidade de o homem idealizar o seu processo de trabalho e do produto final deste. [...] todo ato de trabalho, sempre voltado para o atendimento de uma necessidade concreta, historicamente determinada, termina por remeter para muito além de si próprio. Suas consequências objetivas e subjetivas não se limitam á produção do objeto imediato, mais se estendem por toda história a humanidade. (LESSA, 1999, p. 4) A reprodução social é iniciada pelo trabalho, mas não se limita apenas a ele, é ela que possibilita o desenvolvimento social do homem, das suas relações sociais e da sua organização social. Na esfera da reprodução social, as novas necessidades e possibilidades geradas pelo trabalho vão dar origem a novas relações sociais que se organizam sob a forma de complexos sociais. A fala, o Direito, o Estado, a ideologia (com suas formas específicas, como a filosofia, a arte, a religião, a política, etc.), os costumes, etc., etc., são complexos sociais que surgem para atender às novas necessidades e possibilidades, postas pelo trabalho, para o desenvolvimento dos homens. (LESSA, 1999, p. 6). Netto e Braz (2006) destacam que à medida que o ser social se desenvolve ele não se limitará apenas o trabalho (como transformação da natureza para obter um produto que 15 satisfaça suas necessidades), e sim irá criar outras objetivações que vão além deste. Para isso se utiliza a categoria práxis. verifica-se, na e pela práxis, como, para além das suas objetivações primárias, constituídas pelo trabalho, o ser social se projeta e se realiza nas objetivações materiais e ideais da ciência, da filosofia, da arte, construindo um mundo de produtos,obras e valores – um mundo social, humano enfim, em que a espécie humana se converte inteiramente em gênero humano. Na sua amplitude, a categoria de práxis revela o homem como ser criativo e autoprodutivo: ser da práxis, o homem é produto ecriação da sua auto-atividade, ele é o que (se) fez e (se) faz. (NETTO; BRAZ, 2006, p. 26) Dentro desse processo evolutivo de desenvolvimento do trabalho humano e da sociedade, com a agricultura, no qual a humanidade passa a produzir mais do que pode consumir, o excedente desta produção passa a não ser mais coletivo e os homens e mulheres começa a explorar outros homens e mulheres. Sendo assim, à medida que a humanidade se desenvolve a partir do trabalho e complexifica suas relações sociais, o trabalho, segundo Lessa (1999), irá ganhar outro significado, passa a significar o poder de um (a) homem/ mulher que compra o trabalho (capitalista) sobre outro (a) homem/ mulher que vende seu trabalho (classe trabalhadora). Assim como Lessa (1999) e Albornoz (1988) destacam, o trabalho humano é atividade consciente e planejada, no qual diferente dos animais não somos obrigados biologicamente em exercer o trabalho. As primeiras formas de trabalho da humanidade, eram instintivas, ou seja, transformava-se a natureza a fim de suprir suas necessidades básicas, colhia os frutos e caçava o que iria consumir, neste período não existia a ideia de excedente, tudo era consumido pela tribo. Com o desenvolvimento do trabalho humano, a partir da descoberta da agricultura, tem-se a possibilidade de cultivar os próprios alimentos e logo em seguida, tudo que era coletivo e consumido imediatamente passa a ter um excedente, que muda a história da humanidade, reorganiza as relações sociais, pois aquilo que era coletivo passa a pertencer a uma só pessoa (o capitalista). Essa relação de apropriação da terra e produção, altera o significado do trabalho humano. O excedente desenvolve novas formas de relações sociais. Na sociedade feudal, os servos trabalham e entregam todo seu excedente para o senhor feudal, este abriga os servos em suas vastas terras em troca da produção do seu trabalho, o excedente, o que sobra desta produção, não é do servo e sim do senhor feudal dono das terras que servo trabalha. Com o passar dos anos, o desenvolvimento do comércio, inserção da moeda nas 16 relações comercias, novas possibilidades de venda, aqui não se troca mais apenas grãos e carne de caça, a humanidade se desenvolve e começa a produzir arte, produtos que vão além de suprir a necessidade básica do ser humano. Os comerciantes (burgos) começa a ter poder de compra, passa a ocupar um lugar na sociedade, e a partir da organização dessa classe que surge a burguesia, no qual até os dias atuais dominam os meios de produção do mundo. Os mais bem-sucedidos comerciantes empregavam trabalhadores – artesãos, carregadores, marinheiros, artistas, criados domésticos, e aos poucos se estabelece uma hierarquia baseada no dinheiro e no mercado onde os produtos agrícolas podem ser vendidos por dinheiro. Tais burgos, cujo o surgimento na historia medieval europeia bem como na modernidade latino-americana é fácil de reconhecer e acompanhar, são os nascedouro desta classe – a burguesia, que ainda no mundo de hoje é a classe dominadora em nossas sociedades capitalistas, sendo quem determina em grande parte as formas pelas quais se realiza hoje o trabalho. (ALBORNOZ, 1988, p. 20) A crise do sistema feudal começa a partir do esgotamento de terras para cultivo, o que resulta em uma extrema pobreza da população nesta época, juntamente com o surgimento da peste negra que devasta a Europa neste período e arrebata um quarto da população. Porém não se limita a esses dois fatores o esgotamento do sistema feudal. Netto e Braz (2006), destaca que a economia feudal passa a aderir as transações mercantil, além disso, devido os últimos acontecimentos (fome e peste) a relação entre senhores feudais e servos estavam estremecidas, o que fez com que esta primeira categoria adotasse o Estado Absolutista, concentrando o poder na mão de um único rei e sendo, contraditoriamente, financiado pela classe burguesa. Fazendo com que essa classe tivesse um protagonismo econômico. A revolução burguesa, segundo Netto e Braz (2006), vem se formando em uma época de revoluções sociais, como Reforma Protestante e Renascimento, percebemos que a burguesia não domina apenas a economia, mais todo um novo pensamento na sociedade, o que impulsiona essa nova classe ao poder. Para entendermos a produção capitalista, temos que compreender primeiramente a produção mercantil simples, está é caracterizada pelo: [...] trabalho pessoal e o fato de artesãos e camponeses nela envolvidos serem os proprietários dos meios de produção que empregavam. Originalmente, esse tipo de produção não implicava relações de exploração: o camponês trabalhava solidariamente com membros da sua família e o mestre-artesão compartilhava as condições de trabalho e vida de seus aprendizes e jornaleiros (as corporações eram, também, originalmente associações de pares: aprendizes e jornaleiros seriam os futuros mestres). Ademais, esse tipo de produção destinava-se 17 basicamente a um mercado restrito, quase sempre de âmbito local, no qual os produtores conheciam as necessidades dos compradores. (NETTO; BRAZ, 2006, p. 48) Segundo Netto e Braz (2006) a partir do século XVIII com a expansão das rotas comerciais há uma nova forma de comércio surgindo, o que antes, nos mercados locais, o produtor comercializava apenas o produto do seu própriotrabalho e comprava instrumentos para a continuação deste. Passa a ter outro modo, o comerciante passa a não produzir os seus produtos de venda e sim buscar comprar por preços mais baixos e vende- los em mercados por preços mais altos, obtendo lucro. Sendo assim, a uma alteração nas relações sociais no trabalho. No modo de produção capitalista, os produtores diretos não são donos dos meios de produção para realizar o trabalho. O burguês terá domínio destes meios, mas não irá trabalhar neles e sim comprar a força de trabalho de outras pessoas para trabalharam nos seus meios de produção. Netto e Braz (2006) destacam que não é a troca de mercadorias que irá gerar o dinheiro do capitalista, mas sim o controle e continuidade da produção. Podemos agora explicitar uma determinação essencial: nem toda produção mercantil é produção capitalista, embora toda produção capitalista seja produção mercantil – o que especifica a produção mercantil capitalista é o fato de ela se fundar sobre o trabalho assalariado (o salário é o preço que o capitalista paga pela mercadoria força de trabalho). Não é, portanto, apenas a produção de mercadorias que caracteriza o modo de produção capitalista [...]. (NETTO; BRAZ, 2006, p. 50) O fundamental no modo de produção capitalista é a existência de duas classes sociais, sendo elas: a pessoa que tem os modos de produção e possibilidade de compra da força de trabalho, o capitalista, e a pessoa que somente possui a sua força de trabalho para vendê-la, os trabalhadores. Para Netto e Braz (2006) a gênese do modo de produção capitalista se deu no processo denominado por Marx de acumulação primitiva, o qual ocorreu na Inglaterra e alguns países da Europa Ocidental, possuindo as seguintes características: 1. Cercamento de terras, 2. Expulsão dos camponeses do campo, 3. Criação de uma legislação sanguinário, o qual castigava quem ia contra a esse novo sistema. Esses três fatos acumularam riquezas na mão de poucos homens e mulheres e obrigou o restante da população a se deslocar do campo para cidade e vender a única coisa que lhe restava, sua força de trabalho. 18 Além disso, a descoberta das Américas, a colonização nesses países, a mão de obra negra escravizada, toda barbárie produzida pela raça humana contribuiu para concretização desse modo de produção que acumula cada vez mais capital. Para o modo de produção capitalista existir, a pobreza, a barbárie, a dominação de uma classe sobre outra e a alienação, precisam coexistir para manutenção do status quo. O capitalista não domina apenas os meios de produção, mas todos os aspectos políticos, econômicos e sociais da vida dos trabalhadores. Netto e Braz (2006) destacam um fenômeno, nomeado por Marx de fetichismo da mercadoria, quando o trabalho não reconhece mais como construtor de uma parte da mercadoria, pois seu trabalho não produz o produto final, mas sim uma parte deste. E a mercadoria (produto final do trabalho do homem) passa a lhe ser alheio e causar estranheza, ela os domina. A essa forma fantasmagórica, a esse poder autônomo que as mercadorias parecem ter e efetivamente exercem em face dos seus produtores, Marx chamou de fetichismo da mercadoria. É no modo de produção que universaliza a lógica mercantil –isto é, no modo de produção capitalista – que o fetichismo alcança a sua máxima gradação: nas sociedades em que esse modo de produção impera, as relações sociais tomam a aparência de relações entre coisas10. Por isso mesmo, o fenômeno da reificação (em latim, res = coisa; reificação, pois, é sinônimo de coisificação) é peculiar às sociedades capitalistas; é mesmo possível afirmar que a reificação é a forma típica da alienação (mas não a única) engendrada no modo de produção capitalista. O fetichismo daquela mercadoria especial que é o dinheiro, nessas sociedades, é talvez a expressão mais flagrante de como as relações sociais são deslocadas pelo seu poder ilimitado. (NETTO; BRAZ, 2006, p.55) Ao longo dos anos o valor da mercadoria foi se consolidando e obtendo um equivalente de comparação entre os produtos e para isso utilizava os seguintes meios para comparação: o tempo em que estes levavam para serem produzidos e a escassez deste. Além disso, coma criação da moeda como um meio para troca de mercadoria, ajudou a ampliação do comercio e consolidação do modo de produção capitalista. Netto e Braz (2006, p.59) destaca que assim como as mercadorias, a força de trabalho humana precisava de um valor (salário) que será definida a partir de “[...] o tempo de trabalho socialmente necessário para produzir bens que permite a manutenção (ou reprodução)”, e esta definição do salário do trabalhador que fara com que a força de trabalho humana seja o produto mais lucrativo para o capitalista, pois este não paga o equivalente ao que o trabalhador produz e sim paga o valor equivalente a sua reprodução (social e biológica). 19 A partir disso cria-se um antagonismo de classes, o capitalista busca sempre comprar a força de trabalho humana pelo valor mais baixo do mercado e para isso utiliza- se de aparelhos de dominação, como Estado com suas leis trabalhista que contribuem para o aumento da exploração; utiliza-se também da miséria produzida por esse sistema de acumulação de riqueza nas mãos de poucos, o que faz com que exista sempre um exército industrial de reserva para facilmente substituir aquele trabalhador que se rebelar, e este tem seu trabalho tão “repartido” que consegue facilmente ser substituído e não se reconhecer no produto final de sua produção. Apesar dessas estratégias de dominação burguesa a classe trabalhadora através de sua organização politica com sindicatos, vem lutando por melhoria das suas condições de trabalho e aumento de seu salário. Os trabalhadores nunca foram coniventes com essa exploração. Por fim, o desenvolvimento do trabalho humano, nos trouxe grandes possibilidades de melhora, porém à medida que o mundo moderno se desenvolve e descobre curas para diversas doenças e até mesmo a possibilidade de conhecer outros planetas, a humanidade produz sua própria destruição. Dentro do modo de produção capitalista descobrimos que éramos capazes de suprir a fome do mundo, mas devido a ganância de uma classe, passamos a produzir miséria. 2.2 A reestruturação produtiva e os impactos no mundo do trabalho Compreende-se que o modo de produção capitalista é o novo modelo de produção em vigência no mundo, em seu processo de expansão adentrou em diversos países e economias, incluindo o Brasil. Porém, cada país que o capitalismo adentra tem suas particularidades históricas, políticas e sociais. A seguir propõem-se uma reflexão da adentrada do capitalismo no Brasil e seus impactos no mundo do trabalho. Singer (1994) destaca as três divisões dos países industrializados, sendo eles: pais desenvolvidos - que começaram sua industrialização no século XVIII, país em desenvolvimento - começaram seu processo de industrialização na década de 1930 e são países marcados pelo escravismo, e países não desenvolvidos, este que ainda não começaram seu processo de industrialização. Logo, para entendermos a formação da classe operário brasileira, devemos entender seu processo de colonização e industrialização. No Brasil a três grandes ciclos de exportação, açúcar, ouro e café. Sendo o último, segundo Singer (1994), o mais importante para análise da construção da classe trabalhadora. O Brasil foi construído a partir do escravismo e exportação. O ciclo do café 20 se inicia no século XIX, no Rio de Janeiro, utilizando-se de mão de obra escrava vinda das mineradoras em decadência e da África através do tráfico negreiro. O Brasil, em poucos anos, passou a ser o maior exportador de café, produto estes que vinha sendo muito consumido na Europa e Estados Unidos da América (EUA). Porém, durante esse mesmo período a Grã-Bretanhavinha traçando uma luta contra a mão de obra escrava. Para Singer (1994) está batalha tinha motivos ideológicos e econômicos para os ingleses, estávamos no século das luzes, ideias como liberdade era disseminada por toda a Europa e era insustentável manter a escravização, porém, além disso, a mão de obra escrava não era interessante para o capitalismo, pois a degradação humana impedia que trabalhadores escravos tivessem poder de comprar e se inserisse na economia, como mão de obra e como consumidor. Ora, como um trabalhador escravo poderia contribuir com o capitalismo se este não poderia vender sua força de trabalho. Porém, no Brasil, a economia é sustentada pelo latifúndio cafeeiro e escravização, fazendo com que os governantes não aceitassem muito bem as imposições contra o tráfico negreiro do governo inglês, porém após anos de pressão, o Brasil cede. Em longo prazo a “extinção” do trabalho escravo no Brasil teve impactos significativos na economia. Singer (1994) destaca que a preocupação com a mão-de-obra, se dá pelo fato que além dos trabalhadores ex-escravos, os trabalhadores livres (não negros libertos) não estavam à disposição do capital, estes possuíam seus próprios meios de produção. A “escravidão capitalista” que segundo Singer (1994), era composta por escravos urbanos, no qual seu senhorio os alugava para capitalistas e estes pagavam um salário que era uma parte apropriado pelo senhor de escravos e a outra parte ficava com o escravo para manter sua subsistência e em longo prazo comprar sua carta de alforria. Esse sistema não se manteve por muito tempo, pois logo cresceu a porcentagem de escravos livres exercendo atividades autônomas e para reprodução da escravidão capitalista precisava do suprimento de mão de obra negra escrava, o que foi cessada. No campo, a falta de mão de obra negra também era um novo problema para a aristocracia, diferentemente dos escravos urbanos, os escravos que trabalhavam no campo eram submetidos a tamanhos maus tratos, no qual eram mantidos com o mínimo para sobreviver e dando o máximo nas plantações. Uma característica, segundo Singer (1994), da escravidão é taxa de mortalidade ser superior à taxa de nascidos vivos, isto impossibilitada à reprodução de uma classe escrava, o que antes esse empecilho era suprido pelo tráfico negreiro. 21 A solução para os suprimentos de mão de obra no Brasil foi à imigração europeia. A partir de 1850, a mão de obra imigrante passou a tomar de conta dos campos de café, esses trabalhadores já chegavam ao país com dividas com seus contratantes, estes ultimo custeava toda viagem e deslocamento dentro do próprio país, no qual compensava esses gastos desconto do salário dos imigrantes, além disso, dentro de sua terra, fornecia produtos básicos e comidas em custos altíssimos para esses trabalhadores, o que no fim fazia com que sua dívida se torna-se quase impossível de quitar. Porém, Singer (1994, p.54) destaca que esses trabalhadores se submetiam a servidão temporária e a longo prazo estes se revoltavam e deixavam as plantações de café voltando para seu país de origem. Para Singer (1994), nunca houve um lugar seguro, intocado pela escravidão, para a industrialização do Brasil, ou seja, o capital industrial não conseguia competir com o escravismo. O fato fundamental é que, no Brasil, nunca houve um espaço intocado pelo escravismo em que o capital industrial pudesse se acumular com ímpeto. Por isso não surgiu nenhum outro modo de produção capaz de competir com o escravismo, mesmo quando este já estava ferido de morte pela cessação do tráfico. O que se deu foi o desgaste lento e contínuo do escravismo, através da paulatina redução do número de escravos e sua concentração nos Estados cafeeiros [...]. A pressão abolicionista, em certos momentos de fato significativa, foi neutralizada por leis procrastinadora, como a do Ventre Livre e a dos Sexagenários. No final, a escravidão foi abolida graças a crescente resistência dos próprios escravos e a incapacidade dos escravocratas de mobilizar a força do Estado - especificamente o exército - para esmaga-la. (SINGER, 1994, p. 56) Apesar da economia escravista está em decadência, a abolição da escravatura se dá pela luta da população negra, as revoltas se tornavam crescente, não havia mais suprimento de mão-de-obra negra, os escravos nascidos no país já falavam português e estavam socializados e inseridos na cultura do país, além da pressão inglesa, todos esses fatos fizeram-se necessários para assinar a abolição da escravatura. Singer (1994, p.58) destaca que a abolição da escravatura, abriu um caminho para solução do suprimento da mão de obra, como já destacado anteriormente, há imigração de trabalhadores europeus sendo incentivada no país, criando-se assim um semiproletário agrícola, o colonato. No colonato, os trabalhadores pagavam suas dívidas adquiridas na viajem com seu trabalho e esperava a primeira colheita para comprar seus próprios meios de sustentos (terras para o próprio cultivo, animais e etc...) ou comprava a passagem de volta para seu país de origem. O Brasil atraia esses trabalhadores europeus com promessas de empregar suas famílias e lhes gerar oportunidade de fonte de ganho autônomo. A 22 prosperidade dos colonos do café, se dava pela hegemonia do Brasil na venda mundial deste produto. Durante a República Velha (1889 – 1930) há a formação do semiproletário agrícola, composta por trabalhadores imigrantes, os ex escravos foram completamente excluídos nesse processo, Singer destaca três motivos dessa exclusão: 1°) a mobilidade espacial dos trabalhadores rurais era bastante reduzida por uma política deliberada de retenção das classes dominantes dos Estados não-cafeeiros, cujo poder econômico e político dependia da quantidade de trabalhadores sob seu domínio. 2°) durante o mesmo período se abriram dois novos ciclos de exportação – da cultura do cacau no sul da Bahia e da extração de borracha da Amazônia – que absorveram considerável mão-de-obra, principalmente nordestina; 3°) a forma como se deu a Abolição, mediante ao abandono em massa das fazendas de café pelos escravos, dificultava o emprego dessa mão-de- obra na própria cafeicultura. (SINGER, 1994, p.60) Muitos negros se alojaram nas cidades, exercendo trabalhos assalariados com ganho inferiores, na construção civil e serviços domésticos, eles tinham que competir com os trabalhadores imigrantes que também se agrupavam nas grandes cidades. As raízes escravocratas com sua mão preconceituosa inferiorizaram o negro, privando-o de oportunidades para se inserir na classe operária em formação. Singer (1994, p. 60) destaca, que a maioria das famílias negras eram sustentadas pelas mulheres através de seus empregos domésticos, o que impossibilitava a ascensão social dessas pessoas e reforçava o viés preconceituosos com essa população. Além disso, à marginalização da população negra se dá pela importação excessiva de mão-de-obra imigrante na capital paulista. Singer (1994) destaca que entre 1893 a 1928, cerca de 1.114.000,00 trabalhadores europeus adentraram o país, mais que o triplo do necessário para suprir a mão de obra cafeeira, este número altíssimo se dá pela alta rotatividade desses trabalhadores nas fazendas. Esses dados incentivaram a fixação desses trabalhadores nas grandes cidades. Para Singer (1994) a formação da classe operária brasileira acontece com a cessação do tráfico negreiro, antes da imigração europeia, porém esta última é responsável pelo impulsionamento da formação dessa classe. A substituição do trabalho escravo pelo trabalho livre na agroindústria do açúcar no Nordeste é os primórdios do proletariado brasileiro. Porém este não é um "proletariado puro", isto se dá devido às condições de empregabilidade nas plantações no qual os trabalhadores são empregados em apenas uma época do ano,fazendo que no resto do ano esses trabalhassem para própria 23 subsistência nas terras cedidas pelo patrão, constituindo assim um semiproletário que se assemelha ao colonato. Ou seja, há uma combinação de trabalho assalariado e produção própria para sua subsistência. Além do semiproletário da agroindústria do açúcar, no Brasil surge também o operário de usina. O que Singer (1994) destaca é que a gênese do proletariado no Brasil surge antes da escravidão, mas não se desenvolve, pois não existia mercado para produtos manufatureiros no Brasil, a camada rica da população dava prioridade para produtos importados, e o restante da população estava situado no campo e produzia sua própria subsistência. Além disso, nessa época não há criação de grandes mercados já que não tinha consumidores para estes, o que fazia com que os artesãos suprissem essa demanda, sem necessidade de intervenção de uma industrial capitalista para aumentar a produção. Só a partir da abolição da escravatura, crescimento dos centros urbanos, necessidade de consumo de produtos locais, altas taxas tributárias de produtos importados que cria-se um terreno fértil para a gênese do proletariado brasileiro. A formação da classe operária brasileira se acelera entre os anos de 1880 e 1920, crescendo não só o proletariado ligado as indústrias, mas também ligados a avanços da infraestrutura no país, como: construção civil, transportes marítimos e terrestre, saneamento. Singer (1994, p.66) destaca que apesar desse crescimento em 1920 a classe operária no Brasil representava apenas 8,2% da população economicamente ativa. A maior parte dos trabalhadores ainda eram autônomos e semiproletários, ou seja, o desenvolvimento da classe operária era muito lento, isso tem grande influência da economia exportadora no qual não incentivava o crescimento de grandes centros industriais ligados a outros produtos. Entre 1920 e 1940 a população econômica ativa no país subiu para 14,8%, possibilitando um aumento da classe operária. É importante destacar que não é uma formação de proletário puro que ocorre no país (tendo sempre trabalhadores inseridos em diversas atividades além das indústrias e muitas vezes autônomas), para Singer (1994), a formação da classe operaria se dá de maneira paralela em atividades industriais e manufatureiras. A substituição de importação foi muito importante no processo de estabelecimento da classe operária no Brasil, pois possibilitou a criação de diversas manufaturas que empregavam uma parcela da população economicamente ativa. De uma forma geral pode-se dizer, no entanto, que o proletariado que se formou no Brasil, até 1920, era em sua maioria de serviços – 24 funcionários públicos, ferroviários, portuários, etc. –, e a minoria ocupada em estabelecimentos ditos “industriais” devia ser formada principalmente por operários manufatureiros, isto é, artesãos assalariados, trabalhando com ferramentas ou maquinas manuais. (SINGER, 1994, p.67) Na década de 1940 são marcados por uma nova etapa econômica no país, a grande indústria. Singer (1994) destaca que essas indústrias são formadas por estabelecimentos de grandes portes que fabricavam produtos como: aço, alumínio, cimento, papel, vidro e etc., além disso, produzia também bens duráveis de consumo (eletrodomésticos e automóveis) e bens de capital (máquinas). Vale destacar que essas empresas eram formadas por multinacionais, estatais ou de alguma forma ligada ao capital estrangeiro. Uma característica desse tipo de empresa é que o trabalho nesta é extremamente mecanizado, não precisando de uma mão de obra qualificada para trabalhar. Singer (1994) destaca que neste período há dois tipos de proletariado da grande indústria, sendo eles: semiqualificados - trabalhadores que tem apenas um treinamento básico e rápido e os técnicos/ administrativos - pessoas que tem um nível de escolaridade maior. Além disso, a grande indústria tende a empregar a maior parte da população econômica ativa, pois tem sua expansão de forma muito rápida dominando diversos tipos de atividades, como redes de supermercados, hotéis e lojas de departamento de roupas. O proletariado da grande indústria vive exclusivamente do seu salário, porém apesar de empregar uma parcela grande da população, nem todos os trabalhadores que trabalham na grande indústria tem seus direitos garantidos, ficam a mercê de empregos temporários sem garantias trabalhistas. Nesse período destaca-se os anos de 1945 e 1946, com a queda do Estado Novo de Getúlio Vargas, pressões politicas e mobilizações sociais, em 1945 ocorre as eleições presidências e gerais, na qual elege presidente, senadores e deputados federais. Já em 1946 é promulgada a Constituição de 1946, primeira constituição social do país, no qual garantia direito trabalhistas e direitos civis, como o estabelecimento do voto secreto. Essa Constituição apesar dos avanços ainda apresentava limitações. O campo neste período também está em desenvolvimento, fazendo com que cada vez menos seja necessário mão de obra humana. "A proletarização do homem do campo, no Brasil, se da [...] mediante a expropriação direta de posseiros e empobrecimento gradativo e continuo de pequenos agricultores". (SINGER,1994, p.70) A migração rural- 25 urbana é um fator que ocorre na década de 1950 motivada pela industrialização do campo e expropriação. A década de 1970 foi marcada pelo milagre econômica e grandes expansões capitalista por todo território brasileiro, o que incentivou tanto o emprego assalariado, como o trabalhador autônomo, porém logo essa onda passou e logo em seguida na década de 1980 o país enfrenta grande crise econômica. Os anos de 1980 foram marcantes para o mundo do trabalho, ocorrendo diversas transformações na forma de produção capitalista, além de transformações sociais e políticas a nível mundial. O trabalho nessa época sofre mutações na sua forma de produção, impactando a vida da classe trabalhadora. Antunes (2006) destaca que a década de 1980 foi marcada por saltos tecnológicos, no quais esses avanços invadiram o mundo fabril modificando as relações de trabalho e modo de produção capitalista. O modo de produção Taylor-fordista não é mais o único em vigência, aparecendo assim, outros tipos de processo produtivo. Este fator faz com que a superprodução seja substituída pela flexibilização do trabalho. Antunes (2006) relata um novo conceito na produção capitalista os Círculos de Controle de Qualidades (CCQs), onde estes pregam “a gestão participativa, a busca da qualidade total”, isto em vários países desenvolvidos e subdesenvolvidos do mundo capitalista. O novo modelo de produção capitalista é denominado como toyotismo. Essa nova forma de produção tem impactos sociais significativos na vida dos trabalhadores, a partir do processo de inserção do modelo toyotista, é necessário que se aplique diversas mudanças nos países para que essa nova roupagem do capital possa ser exercida. O trabalho passa a ser flexibilizado e desregulamentado. Segundo Harvey apud Antunes (2006, p.28) o fordismo se manteve estável até a recessão após 1973, tendo essa crise impulsionado as mudanças no interior da acumulação capitalista, que se denomina por acumulação flexível, que de acordo com para Harvey (1992, p. 140) apud Antunes (2006, p.29) é Marcada por um confronto direto com a rigidez do fordismo. Ela se apoia na flexibilidade dos processos de trabalho, dos produtos e padrões de consumo. Caracteriza-se pelo surgimento de setores de produção inteiramente novos, novas maneiras de fornecimento de serviços financeiros, novos mercados e, sobretudo, taxas altamente intensificadas de inovação comercial, tecnológica e organizacional. A acumulação flexível envolve rápidas mudanças dos padrões do desenvolvimento desigual, tanto entre setores como entre regiões geográficas, criando,por exemplo, um vasto movimento no emprego no chamado “setor de serviços”, bem como conjuntos industriais completamente novos em regiões subdesenvolvidas. 26 De acordo Harvey apud Antunes (2006, p.29) há uma combinação de processos produtivos que irá se articular ao fordismo com processos flexíveis, ou seja, não é algo essencialmente novo, mas sim a incorporação de um novo modelo de produção combinado a um modelo já existente. É necessário destacar que essa flexibilização não atinge apenas o modelo de produção, mas também atinge o trabalhador direto, o tornando suscetíveis a trabalhos desregulamentados e terceirizados. Para Antunes (2006, p. 31) há quatro fases que levaram ao toyotismo, sendo elas: Primeira: a introdução, na indústria automobilística japonesa, da experiência ao ramo têxtil, dada especialmente pela necessidade de o trabalhador operar simultaneamente com várias máquinas. Segunda: a necessidade de a empresa responder à crise financeira, aumentando a produção sem aumentar o número de trabalhadores. Terceira: a importação das técnicas de gestão dos supermercados dos EUA, que deram origem ao kanban. Segundo os termos atribuídos a Toyoda, presidente fundador da Toyota, “o ideal seria produzir somente o necessário e fazê-lo no melhor tempo”, baseando-se no modelo dos supermercados, de reposição de produtos somente depois da sua venda. Segundo Coriat, o método kanban já existia desde 1962, de modo generalizado, nas partes essenciais da Toyota, embora o toyotismo, como modelo mais geral, tenha sua origem a partir do pós-guerra. Quarta fase: a expansão do método kanban para as empresas subcontratadas e fornecedoras. Algumas características definem o Toyotismo: a produção deve ser diversificada, pronta para suprir as demandas de consumo, sendo feita a partir de um estoque mínimo, só se produz o que irá se consumir; Aproveitamento do tempo de trabalho e flexibilização deste. Um trabalhador passar a ser polivalente, operar várias máquinas e exercer diversas funções; diferentemente do fordismo, o toyotismo não exerce uma linha de produção vertical, fazendo todas as peças do seu produto, sendo assim o toyotismo irá recorrer por terceirizações de serviços básicos. A flexibilização do trabalho faz com que as empresas sejam montadas com o número mínimo de trabalhadores, ampliando a contratação de trabalhadores temporários de acordo com a necessidade da produção e subcontratação (empresas terceirizadas). Para Antunes (2006, p.36): o toyotismo é uma resposta à crise do fordismo dos anos 70. Ao invés do trabalho desqualificado, o operário torna-se polivalente. Ao invés da linha individualizada, ele se intrega em uma equipe. Ao invés de produzir veículos em massa para pessoas que não conhece, ele fábrica um elemento para a satisfação da equipe que está na sequência da sua linha. 27 Por fim, Antunes (2006) destaca que o toyotismo não seria um novo modelo societário e de produção, longe das mazelas do capital, o toyotismo causa um não reconhecimento do trabalhador como classe trabalhadora, os envolves em ideais participativos da empresa, os manipula, a ponta de eles passarem a se identificar mais com as empresas do que com a classe trabalhadora. Há a apropriação do ser e do fazer dos trabalhadores. Alves (2007) destaca que faz parte do mundo capitalista processos de reestruturações produtivas em seu interior ao logo do desenvolvimento do capital, no qual essas reestruturações irão ocasionar mudanças objetivas e subjetivas no mundo do trabalho. Para Alves (2007, p.156) o toyotismo é "tão-somente mais um elemento compositivo do longo processo de racionalização da produção capitalista e de manipulação do trabalho vivo que teve origem com o fordismo-taylorismo." Segundo Alves (2007) o toytismo surge na década de 1950 no Japão, mas só a partir de 1980, com a mundialização do capital, que esse modelo se expande em países capitalistas adquirindo mudanças com particularidades locais e regionais de acordo com a necessidade e demanda de cada país em que se insere. Essas mudanças irão ocorrer tanto no setor privado como no setor público. O toyotismo é baseado na produção fluida, flexível e difusa. Entretanto, consideramos como cerne essencial do toyotismo, a busca do “engajamento estimulado” do trabalho, principalmente do trabalhador central, o assalariado “estável”. É através da “captura” da subjetividade que o operário ou empregado consegue operar, com eficácia elativa, a série de dispositivos técnico-organizacionais que sustentam a produção fluída e difusa. (ALVES, 2007, p. 159) Algumas considerações essências, segundo Alves (2007) para análise da reestruturação produtiva (toyotismo):1. Há não só uma nova forma de produção há também a necessidade de uma nova forma de dominação do proletariado, sendo ela a capturar da subjetividade do trabalhador; 2. Existe uma ligação entre toyotismo, luta de classes e etapas sócio histórica do capitalismo mundial, na qual o processo de capturar da subjetividade do trabalhador se altera de acordo com as condições do capitalismo e particularidades dos países que adentram. A partir de 1980, decorrente desse desenvolvimento mundial do capitalismo e as necessidades do mercado, as condições sociais dentro desse modelo para o trabalhador foram revistas ou abolidas. Era característica no Japão o emprego vitalício e o salário de acordo com o tempo de serviço, porém com essa revisão surge os contratos anuais e os bônus ou gratificação de acordo 28 com a produção. Porém, essa gratificação é mínima, uma pequena porcentagem do lucro da empresa, talvez quase insignificante para o capitalista, mas faz com que o trabalhador se sinta incentivado a produzir mais. E também: O sucesso do sistema Toyota vincula-se, numa perspectiva histórica, às grandes derrotas da classe operária e à decapitação (e neutralização) do seu “intelectual orgânicos” no plano produtivo: o sindicato industrial, de classe, transformado num sindicato de empresa, corporativo e interlocutor exclusivo do capital. Este processo de neutralização político-ideológica da classe operária no espaço da produção é tão importante para o sucesso do toyotismo que, no país capitalista de origem, o Japão, uma das passagens essenciais que asseguram a promoção dos dirigentes e a formação das elites da empresa Toyota é a atividade sindical. (ALVES,2007, p.162) Ainda sobre a “captura” da subjetividade do trabalhador é importante entender que a globalização do capital tem como uma das principais características a manipulação, isto ocorre quando o capital adentra aparelhos de socialização, como: escola, igrejas, mídias sociais, o próprio governo do país. Há uma verdadeira guerra no campo das ideias, a classe vencedora é a que impõe a sua hegemonia e nessa luta os detentores dos meios de produção vêm nos últimos anos ganhando. É interessante ressaltar que para Alves (2007) o termo “captura” é usado entre aspas, pois esse processo não foi perene, ou seja, dentro desse processo há resistência e luta. A “capturar” da subjetividade do trabalhador, não acontece apenas no âmbito da empresa, há uma rede de coerção, manipulação e consentimento que perpassa todas as instâncias da reprodução social. Os impactos da reestruturação no Brasil acontecem a partir da década de 1990, é interessante ressaltar que, as décadas anteriores o Brasil passar por grandes lutas sociais, com o fim da ditadura e a mobilização dos movimentos sociais, a conquista da nova Constituição Federal de 1988, na qual prevê direitos nunca antes alcançados no país. Alves (2007) resgata determinantes sócios históricos para entender os impactos da reestruturação produtiva no Brasil, sendo ele: A natureza colonial - escravista do país, no qual sua economia era voltada para exportação de mão de obra agrícola e sustentada por trabalho escravo,o que acentua a desigualdade social no país antes e após a escravidão. Desde o princípio o Brasil produziu leis, como a leis de terras, que propagou a grande concentração das terras nas mãos da burguesia. Outro elemento importante é que o desenvolvimento industrial do Brasil acontece em consonância com a produção agrícola 29 e é dependente do capital estrangeiro. Apesar da industrialização tardia uma parcela da população é absorvida. (...) uma população de milhões e milhões de trabalhadores brasileiros migrantes, desenraizados e envolvidos em trabalhos assalariados (embora sem carteira), ou ainda, atividades (ou “bicos”) por conta própria, falsos autônomos, ampla marginalidade social que não ocultam seu caráter de subalternidade, constituindo o trabalho vivo “invisível” da exploração capitalista no Brasil. (ALVES, 2007, p. 275) Alves (2007) destaca que nos últimos 50 anos com o processo de industrialização há dois mundos do trabalho, de um lado o trabalhador classe média que teve acesso à educação, ocupando cargos de mais prestígios social ligados a administração, setor financeiro e marketing, onde estes trabalhadores são protegidos por conquistas sociais e leis trabalhista. E do outro lado encontra-se o trabalhador migrante, vindo do campo ou da cidade, que não teve tanto acesso a educação, este são os trabalhadores invisíveis, que assumem empregos informais na nossa sociedade. Na década de 1960, há a metropolização capitalista, o território urbano cresce no país. O acesso ao mercado de consumo urbano significa, para amplas parcelas do proletariado metropolitano, um ganho de status social. Até fins da década de 1970, a mobilidade social está no horizonte de classe do proletariado no Brasil. (ALVES, 2007, p. 276) Com a crise do milagre econômico há alterações na dinâmica econômica e social do país nas décadas de 1970 e 1980. Há um fechamento na mobilidade social nesse período. Na década de 1990, com a entrada do neoliberalismo 1 e os impactos da reestruturação produtiva, para Alves (2007), não há uma garantia de carreira e ascensão social para nenhum dos trabalhadores sejam aqueles assalariados ou de empregos informais. Assim, o processo de precarização como processo social se apresenta como o desmonte da perspectiva de formalização e o crescimento da informalização; a reestruturação produtiva de amplos setores protegidos da indústria, o crescimento do desemprego aberto. Ora, o processo de precarização atinge o centro e a borda do mundo do trabalho. A crise da economia brasileira dá cores trágicas ao cenário 1 Para conceituar o neoliberalismo, utiliza-se o texto “Neoliberalismo e educação: manual do usuário” do autor Pablo Gentili que encontra-se no livro "Escola S.A.", Tomaz Tadeu da Silva e Pablo Gentili, 1999. [...] o neoliberalismo expressa a dupla dinâmica que caracteriza todo processo de construção de hegemonia. Por um lado, trata-se de uma alternativa de poder extremamente vigorosa constituída por uma série de estratégias políticas, econômicas e jurídicas orientadas para encontrar uma saída dominante para a crise capitalista que se inicia ao final dos anos 60 e que se manifesta claramente já nos anos 70. Por outro lado, ela expressa e sintetiza um ambicioso projeto de reforma ideológica de nossas sociedades a construção e a difusão de um novo senso comum que fornece coerência, sentido e uma pretensa legitimidade às propostas de reforma impulsionadas pelo bloco dominante[...] 30 social nas últimas décadas, piorando a qualidade do emprego no mercado de trabalho. (ALVES, 2007, p. 276) Com todas essas mudanças impulsionadas pelas alterações no mundo do trabalho a partir dos ideais da reestruturação produtiva com o modelo de produção flexível, há um processo de precarização do trabalho, no qual cresce o desemprego e a informalização. Na atualidade o cenário não é diferente, dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas) apontam que há um crescimento na taxa de trabalhadores desempregados nos últimos 10 anos. O ano de 2012 com 6,9% da população desempregada e em 2022 somando um total de 9,3% de pessoas desempregadas, em números seria 10,1 milhões de pessoas desempregadas no Brasil. É importante ressaltar que durante os anos de 2020 e 2021, no pico da pandemia mundial da Covid-192, há um crescimento ainda maior dessa porcentagem, sendo simultaneamente de 14,9% nos trimestres de julho, agosto e setembro de 2020 e também 14,9% no trimestre de janeiro, fevereiro e março de 2021. Segundo o IBGE a população desocupada são pessoas desempregadas, mas que estão em busca de trabalho.. Gráfico 01: Taxa de desocupação janeiro/2012 a julho/2022 2 A Covid-19 é uma infecção respiratória aguda causada pelo coronavírus SARS-CoV-2, potencialmente grave, de elevada transmissibilidade e de distribuição global. (https://www.gov.br/saude/pt- br/coronavirus/o-que-e-o-coronavirus). No ano de 2020 o mundo é atingindo por uma pandemia, milhares pessoas mortas, hospitais superlotados, corrida pela vacina. A pandemia trouxe impactos não só para saúde mundial, mas também para economia. E a classe em que vive do seu próprio trabalho mais uma vez é atingida. 31 Esses dados são ainda mais alarmantes quando analisado o desemprego por gênero. No final de 2012 a uma taxa de desemprego de 8,4% de mulheres e 5,7% de homens. Em 2022 chegamos a 11,6% de mulheres desempregadas e 7,5% de homens desempregados. E durante a pandemia há um pico no primeiro trimestre de 2021 com 18,5% de mulheres desempregados e 12,2% de homens desempregados neste mesmo período. Gráfico 02: Taxa de desocupação por sexo (2012/2022) Antunes (2020) destaca que durante a pandemia há um aumento nos índices de empobrecimento e miserabilidade da classe trabalhadora. É interessante ressaltar que antes da pandemia, 40% da classe trabalhadora encontravam-se em empregos informais no final do ano de 2019. Isto se dá pelo fato das inovações tecnológicas somadas ao interesse do capital. O autor analisa esse processo e utiliza o termo uberização, no qual trabalhadores começaram a experimentar trabalhos digitais através de aplicativos. Vale lembrar que os trabalhos através de aplicativos de entregas, corridas e outras funções, são trabalhos informais, sem garantias trabalhistas. A tecnologia seria inovação ou estamos voltamos para época da revolução industrial sem nenhum direito trabalhista? Na análise de Antunes (2020) baseando-se na obra de Marx, utiliza-se da metáfora do metabolismo social para entender o sistema capitalista. Tratando-se de uma complexa engrenagem econômica que não possui limites para a sua expansão (pois seu foco é sempre a produção de mais capital), sua resultante é uma acentuada destrutividade. Para fazer fluir o movimento de autovalorização de interação humana – e em particular a atividade laborativa – são modulados e calibrados por uma segunda 32 natureza, tal como destacou Marx, voltada essencialmente para a expansão e reprodução do capital. (ANTUNES, 2020, p. 11 -12) A partir das crises de 1968-1973 e 2008-2009, segundo Antunes (2020 p.12), encontrou-se uma brecha social favorável para intensificar os processos de exploração do trabalho e degradação da vida humana, sendo eles: “corrosão do trabalho, destruição ilimitada da natureza, degradação do mundo rural [...] segregação urbana e social, etc”. Além disso, as questões sociais são intensificadas, como a opressão de gênero, o racismo, a homofobia, xenofobia e a negação da ciência. Ainda segundo Antunes (2020, p.16) sob a luz da obra de Mészáros, o sistema de metabolismo social do capital se constituí a partir de um tripé, sendo ele: capital, trabalho assalariado e Estado. Sendo assim, ele explica que não basta eliminar um ou dois polos desse sistema, sendo a única forma de supera-loa extinção desses 3 pontos. A produção social se submete ao modus operanti do capital. Tendo como consequências para a humanidade "[...] O desemprego monumental, a destruição ambiental, a "mercadorização" da vida e o incentivo diário a novas guerras e conflitos armados". Outro conceito importante é a taxa de utilização decrescente do valor de uso das mercadorias, que seria a diminuição da vida útil dos produtos. Sendo assim, a partir do momento que diminui a vida útil de um produto, ele precisará ser reproduzia/fabricado novamente. (Antunes, 2020, p.16) A produção de bens não está voltada para a geração de valores de uso,com o objetivo de atender necessidades humano-sociais, mas para produzir valores de troca visando o lucro. E, uma vez que o sistema de capital é tão mais lucrativo quanto menor for o tempo de vida útil das mercadorias, sua feição só pode ser, em si e para si, a de um sistema destrutivo, cujos imperativos o impulsionam a criar sempre mais mercadorias. (ANTUNES, 2020, p. 16 -17). É importante destacar que não apenas produtos produzidos pelo homem passam por esse processo, a própria força de trabalho também está incluída nessa redução. Porém, o trabalho não pode ser eliminado, pois ele é necessário para valorização do capital. O que ocorre é a devastação das condições de trabalho em escala planetária. Para Antunes (2020), a uberizaçao do trabalho é a informalidade, precarização, super exploração, acidentes, mortes, suicídios, um mundo no qual o trabalho se desenvolve de forma informal nas plataformas digitais e aplicativos. É nesse cenário de capitalismo financeiro somado aos avanços tecnológicos e deterioração da vida humana que a pandemia global adentra. A pandemia da Covid-19 assolou o mundo inteiro tirando milhares de vidas e causando a intensificação do 33 desemprego. Dados da OIT (Organização Internacional do Trabalho) mostram que houve a perda de 195 milhares de empregos em tempo integral só no segundo trimestre de 2020. Além disso, Antunes (2020) destaca que 1,6 bilhões de pessoas vivam de trabalhos informais e durante a pandemia houve a destruição das condições (apesar de precárias) desse trabalho. Sendo assim, a Covid-19 é uma pandemia de classe, gênero e raça. Enquanto governos propagam a ideia de "estamos juntos nessa", a classe trabalhadora enfrenta um dilema horrível entre continuar a trabalhar e ou parar de trabalhar e não ter condições para sobreviver. (Antunes, 2020, p.16) O capital pandêmico para Antunes (2020) tem um caráter de classe, já que afeta claramente de forma mais brutal a classe que do próprio trabalho vive. Talvez a maior contradição dessa pandemia fosse à necessidade de isolamento social, como as pessoas que depende do seu próprio trabalho poderiam se isolar para não se contaminar e contaminar o próximo se não existem condições básicas garantidas para essas pessoas. É importante ressaltar que através de números a percepção que a maior parte dos trabalhadores encontra-se em empregos informais, ou seja, sem nenhuma garantia trabalhista, o que agrava ainda mais a situação. Assim, a confluência entre uma economia destruída, um universo societal destroçado e uma crise política inqualificável converte o Brasil em um forte candidato ao abismo humano, em um verdadeiro cemitério coletivo. (ANTUNES, 2020, p. 27) Todos esses fatos ampliaram a miserabilidade da classe menos favorecida, a classe trabalhadora. Dados do IBGE do primeiro trimestre de 2020 já apresentam ampliação do desemprego, tendo 12,85 milhões de pessoas desempregadas no Brasil e 38,3 milhões de pessoas trabalhando em empregos informais. A pandemia para Antunes (2020), também impactou os trabalhadores de aplicativos digitais. Os trabalhadores que saiam do desemprego e buscavam alternativas nessa nova modalidade de emprego a uberizaçao, passam também por grandes contradições. A tecnologia é usada como forma de diminuição do trabalho vivo, ou para super explora-lo, extraindo o máximo possível da mão de obra sem os custos trabalhista de um trabalhador. Portanto diferente da fase de predomínio taylorista e fordista, que vigorou nas fábricas da "era do automóvel l" durante o século XX, neste século XXI, as empresas "flexíveis" vem impondo velozmente sua trípode destrutiva sobre o trabalho. É por isso que terceirização, informalidade e flexibilidade se tornam partes inseparáveis do léxico de 34 empresa corporativa. E o trabalho intermitente, aprovado pela contrarreforma trabalhista durante o governo terceirizado de Temer, tornou-se elemento ainda mais corrosivo em relação a proteção do trabalho. (ANTUNES, 2020, p.32) Por fim destaco que desde o processo de formação da classe trabalhadora brasileira até os dias atuais, a classe que vive do seu próprio trabalho passar por intensa exploração do sistema capitalista, e nos últimos anos, com a inserção da tecnologia esse processo vem sendo intensificado atingindo não só diretamente o trabalho em si, mas toda a vida social, econômica e política envolta dele. O capital financeiro e tecnológico que promete avanços no mundo é uma das fases mais exploratória, capturando a objetividade e subjetividade do trabalhador. Essa realidade atual do mundo do trabalho é refletida no cotidiano do exercício profissional das/os Assistentes Sociais, nos diferentes espaços sócio ocupacionais. Assim, verifica-se a reestruturação produtiva, também, na atividade laboral do Serviço Social. São desafios que estão na ordem do dia do trabalho profissional: precarização; terceirização; trabalho intermitente; ausência de programas de qualificação profissional; não efetivação da Lei das 30 horas semanais; entre outros. Esses desafios serão discutidos no próximo capítulo, a partir da análise do trabalho do/a Assistente Social na saúde, nos serviços de urgência e emergência. 35 3 – A ATUAÇÃO PROFISSIONAL DAS (OS) ASSISTENTES SOCIAIS NA UPA: UMA ANALISE SOBRE PROCESSO DE TRABALHO E DESAFIOS PROFISSIONAIS. No capitulo a seguir propõe-se uma análise sobre a política de urgência e emergência, o processo de trabalho em Serviço Social e a atuação profissional dos assistentes sociais na UPA de Parnamirim, considerando os desafios impostos pela atualidade. 3.1 Políticas de Saúde: uma análise sobre a política de urgência e emergência no Brasil. A saúde no Brasil é fruto de um longo processo de lutas, ganhos e perdas. Para entender o contexto da criação das Unidades de Pronto Atendimento, precisa-se fazer um breve resgate histórico da saúde no Brasil. No período colonial não existia saúde no Brasil, o país era conhecido como inferno tropical devido seu alto índice de doenças e a assistência médica era ligada à filantropia. Essas condições só vão melhor a partir da abolição da escravatura, pois há um novo tipo de população que necessitava de um novo cuidado para manter a mão-de-obra, além disso, o enfoque era o saneamento dos portos, tendo em vista que a economia brasileira é agroexportadora, sendo assim precisa de condições mínimas para manter os portos funcionando e a economia girando. Porém, até essa época só existiam medidas de saúde ligadas a contenção de epidemias e saneamento básico. A partir da década de 1920 e 1930 o Estado vai efetivar uma melhora considerável na saúde com surgimento do CAPs (Caixas de Aposentadoria e Pensão) que tinha um financiamento triplo, sendo ele: estado; empregadores e empregados, no qual além da aposentadoria e pensão, fornecia assistência médica. Sua problemática era que apenas trabalhadores assalariados de algumas empresas estavam assistidos, a maior parte da população não se encaixava nesses requisitos. Posteriormente na década de 1930, surgem os IAPS (Instituto de Aposentadoria e Pensão), no qual abrange um contingente maior de trabalhadores, sendo divididos porprofissões. Nos anos 1940 e 1950 o governo passa a focar seus investimentos na industrialização e deixa a saúde sem muitas mudanças. De acordo com Bertolli (2002), em 1964, com a ditadura, o governo vai ser caracterizado por um binômio de repressão e assistência, a saúde nessa época vai ter uma abertura para os projetos privados. Outro ponto importante é a criação dos INAMPS (Instituto Nacional de Assistência Médica da Previdência Social) que vai juntar todos os 36 IAPS e formar um único sistema de previdência. Após a ditadura há um processo de redemocratização e rearticulação política da classe trabalhadora, no qual o Movimento da Reforma Sanitária irá surgir e a partir disto repensar a saúde no país, é nesse ponto que surge a nova conceituação do que é saúde e depois de quase uma década de discussões e articulações conquistamos o SUS (Sistema Único de Saúde). Para refletir-se sobre o movimento da Reforma Sanitária Brasileira, se faz necessário um breve resgate histórico da cena política e econômica do país durante as décadas de 1970 e 1980. Durante o processo de redemocratização do país a situação da saúde brasileira era de disputa entre três projetos políticos ideológicos. Bravo (2007) analisa os três projetos, sendo eles: a proposta conservadora, que defendia a manutenção do modelo pluralista, no qual baseava-se na compra de serviços do setor privado, onde o setor público financiava o sistema privado de saúde, terceirizando os serviços; a proposta modernizante privatista que defendia um binômio entre setor privado e setor público, no qual o Estado tomaria conta das ações de saúde da população carente, que não estava inseridas no mercado de trabalho empresarial, com o enfoque na população rural, e o setor privado tomaria de conta da assistência a saúde as pessoas inserida no mercado de trabalho nas grandes metrópoles. Por fim, a proposta racionalizadora, defendia saúde como direito da população e responsabilidade do Estado, sendo o setor privado subordinado ao público, agindo de forma complementar. Essa proposta cria o movimento da reforma sanitária. Segundo Bravo (2007), há um acontecimento marcante para a discussão da questão de saúde do país nesse período, a realização da VIII Conferência Nacional de Saúde, que tinha como tema central: I) A saúde como direito inerente a personalidade e a cidadania; II) Reformulação do Sistema Nacional de Saúde, em consonância com os princípios de integração orgânico-institucional, descentralização, universalização e participação, redefinição dos papeis institucionais das unidades políticas (União, estado, municípios, territórios) na prestação dos serviços de saúde; III) Financiamento setorial. (Bravo, 2007, p. 88) A VIII Conferencia teve importante impacto no projeto de saúde brasileiro, que segundo Bravo (2007) foi a partir dela que se consolidou o conceito ampliado de saúde e concretizou a necessidade de reestruturação do setor de saúde com a criação do Sistema Único de Saúde. O movimento da Reforma Sanitária irá trazer uma nova leitura do conceito de saúde, não apenas a ausência de doenças, passa-se a considerar todos os determinantes sociais, econômicos e políticos que atingem os usuários e fazem parte da 37 saúde, como: lazer, moradia, educação, esporte e outros. Foi a partir dessa nova conceituação de saúde juntamente com a Constituição Federal de 1988, que irá aprovar uma série de políticas sociais, que surge o SUS (Sistema Único de Saúde). Podemos observar essas mudanças segundo o Art. 196 da Constituição Federal de 1988, no qual prevê o acesso universal às ações e serviços de saúde. Bravo (2007) ainda destaca que alguns aspectos importantes para alterar a política de saúde privatizante do país e fortalecer o setor público, sendo eles: a politização da saúde que tem como objetivo aprofundar o nível de consciência sanitária visando a inclusão das demandas de saúde na agenda do governo, a fim de garantir apoio político para a implementação das mudanças necessários; a alteração da norma constitucional, no qual a partir de toda articulação e mobilização adota um texto favorável para saúde seguindo as reivindicações do movimento da reforma sanitária e por fim, a mudança do arcabouço e práticas institucionais o que vai ser efetuado através de medidas como a universalização do atendimento, a redução do papel do setor privado na saúde, descentralização e execução dos serviços a nível local. É importante destacar que devemos entender o conceito de saúde ampliada de acordo com a Constituição Federal de 1988, e refletir que existem não só urgências biológicas ou físicas, mas também urgências sociais e que os serviços que ofertam esse aparato, as vezes são os únicos serviços que aquela população tem acesso. A partir da análise de Konder (2013) é destacado que em 1995 começa a regulamentar as primeiras iniciativas de atenção às urgências, dividindo-se em 3 etapas. O primeiro período entre 1998 e 2002 fica marcado pelas primeiras iniciativas na regulamentação das urgências; no segundo período entre 2003 e 2008 fica marcado a implantação da Política Nacional de Atenção às Urgências, com o foco no SAMU (Serviço de Atendimento Móvel de Urgência) e o terceiro período, especificamente em 2008, a criação da UPA (Unidade de Pronto Atendimento). De acordo com Konder (2013) na década de 1990 com o protagonismo federal na estruturação e regulamentação do SUS, tem como foco principal o hospital. [...]a necessidade de organizar um sistema hospitalar de atenção às urgências face à grave situação vivenciada por estes, especialmente em grandes centros urbanos justificou a instituição de incentivo financeiro variável, a depender de algumas exigências como: projeto local (municipal ou estadual) de atendimento às urgências, central de internação gerida localmente e contrapartida financeira da esfera conveniada. Para o incentivo financeiro, cabia ao gestor local a escolha dos hospitais participantes (BRASIL, 1995). (KONDER, 2013, p.23) 38 Nesse momento, apesar de já existir uma discussão sobre a atenção às Urgências e Emergências o enfoque desta política ainda tem como figura principal, o hospital. Apenas em 2002 com a publicação da Portaria n° 2.048, tem-se uma regulamentação das Técnicas dos Sistemas Estaduais de Urgência e Emergência que se tem a mudança no enfoque. Esse regulamento técnico considera 7 eixos: plano estadual de atendimento às urgências e emergências, regulação médica das UE, atendimento pré-hospitalar fixo, atendimento pré-hospitalar móvel, atendimento hospitalar, transferências e transporte inter-hospitalar e núcleos de educação em urgências (NEU). Propunha-se a organização de um sistema, desenvolvido a partir de um plano estadual, o que expressava uma retomada da regionalização na organização do SUS. As diferentes modalidades de atendimento previstas, como pré-hospitalar móvel e fixo além do já tradicional âmbito hospitalar, representaram a possibilidade de melhor distribuição espacial das unidades e da complexidade do atendimento. (KONDER, 2013, p. 24) No ano seguinte, em 2003, foi marcado pela criação do Plano Nacional de Atenção a Urgências e Emergências (PNAU) tendo sua estruturação voltada a 5 eixos fundamentais, sendo eles: [...] adoção de estratégias promocionais de qualidade de vida, organização de redes loco-regionais de atenção integral às urgências, instalação e operação das centrais de regulação médica das urgências, capacitação e educação continuada das equipes de saúde, e orientação geral segundo os princípios de humanização da atenção. (KONDER, 2013, p. 24) Konder (2013) afirma que a criação da PNAU é um processo estratégico e facilitador na regulamentação da gestão da atenção as urgências. Sua principal inovação é o protagonismo do usuário e articulação de diversas redes de atendimento. Além disso, destaca
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