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1 UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE EDUCAÇÃO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO CURSO DE DOUTORADO EM EDUCAÇÃO KARINE SYMONIR DE BRITO PESSOA VULNERABILIDADES MULTIDIMENSIONAIS PREDITORAS DO (IN)SUCESSO ESCOLAR EM UM SISTEMA DE ENSINO NATAL - RN 2021 2 KARINE SYMONIR DE BRITO PESSOA VULNERABILIDADES MULTIDIMENSIONAIS PREDITORAS DO (IN)SUCESSO ESCOLAR EM UM SISTEMA DE ENSINO Tese de Doutorado apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Educação, da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, como requisito parcial para a obtenção do título de Doutora em Educação. Orientadora: Prof.ª Dr.ª Betania Leite Ramalho NATAL – RN 2021 3 Pessoa, Karine Symonir de Brito. Vulnerabilidade multidimensionais preditoras do (in)sucesso escolar em um sistema de ensino / Karine Symonir de Brito Pessoa. - 2021. 260 f.: il. color. Tese (Doutorado) - Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Centro de Educação, Programa de Pós Graduação em Educação. Natal, RN, 2021. Orientadora: Profa. Dra. Betania Leite Ramalho. 1. Vulnerabilidades na educação - Tese. 2. Desempenho escolar - Tese. 3. Predição do insucesso escolar - Tese. I. Ramalho, Betania Leite. II. Título. RN/UF/Biblioteca Setorial Moacyr de Góes - CE CDU 37 Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN Sistema de Bibliotecas - SISBI Catalogação de Publicação na Fonte. UFRN - Biblioteca Setorial Moacyr de Góes - CE Elaborado por Jailma Santos - CRB-15/745 4 KARINE SYMONIR DE BRITO PESSOA VULNERABILIDADES MULTIDIMENSIONAIS PREDITORAS DO (IN)SUCESSO ESCOLAR EM UM SISTEMA DE ENSINO Tese apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Educação, da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, como requisito parcial para a obtenção do título de Doutora em Educação. APROVADA EM: 31/05/2021 BANCA EXAMINADORA: Profa. Dr.ª Betania Leite Ramalho Universidade Federal do Rio Grande do Norte (Orientadora) Prof. Dr. Rainer Hans-Jürgen Lehmann Universidade Humboldt de Berlim Examinador externo Prof. Dr. Robert Evan Verhine Universidade Federal da Bahia Examinador externo Profa. Dr.ª Thais Vasconcelos Batista Universidade Federal do Rio Grande do Norte Examinador interno Prof. Dr. Isauro Beltrán Núñez Universidade Federal do Rio Grande do Norte Examinador interno 5 Prof. Dr. Guilherme Mendes Tomaz dos Santos Universidade Federal do Rio Grande do Norte Examinador interno - Suplente Prof. Dr. Everton Ranielly de Sousa Cavalcante Universidade Federal do Rio Grande do Norte Examinador externo - Suplente 6 Não existe um caminho para a felicidade. A felicidade é o caminho. [Mahatma Gandhi] Dedico este trabalho a minha mãe, Francisca, por todo apoio e compreensão. Quero dizer que essa conquista não é só minha, mas nossa. Tudo que consegui só foi possível graças ao amor, apoio e dedicação que você sempre teve por mim. 7 AGRADECIMENTOS A Deus, Mestre Maior, por me ter concedido o dom da vida, mostrando o caminho a seguir, dando-me força, conhecimento e perseverança para transpor obstáculos e realizar esse estudo. À minha família, em especial, a minha querida mãe Francisca, pela dedicação quase que exclusiva, pelo amor, carinho e paciência. Às minhas irmãs Katiene e Katiane e aos meus queridos e amados sobrinhos João Vitor, Enzo Gabriel e Davi Lucas por me encherem de amor e carinho. Ao querido amigo Heitor César por todo companheirismo, paciência, palavras de incentivo, carinho e compreensão. À amiga, professora e orientadora, Betania Ramalho, pelas palavras de incentivo, pelo acompanhamento em momentos tão importante de minha vida, pela confiança, credibilidade, atenção, carinho e conhecimentos dispensados a mim, o que muito me enriqueceram, pela forma de agir e ensinar/orientar e, principalmente, pela pessoa simples que é. Meu eterno agradecimento! À professora e amiga Drª. Iloneide Ramos que sempre incentivou, acompanhou minha caminhada até aqui com carinho e atenção, além de me auxiliar com o tratamento dos dados utilizados na Tese. Aos amigos queridos Patrick Alverga e Felipe Henrique que me auxiliaram com a mineração de alguns dados. Aos amigos Ingrid, Paulo Gonçalo, Isabela Cecília, Juliana Raquel e Daniele Dias por me motivarem e não deixarem desistir. Estendo aqui minha gratidão aos demais colegas que fiz durante essa fase. Enfim, minha gratidão a todos aqueles que contribuíram direta ou indiretamente para realização desse ciclo da minha formação profissional. 8 Epígrafe E ainda que tivesse o dom de profecia, e conhecesse todos os mistérios e toda a ciência, e ainda que tivesse toda a fé, de maneira tal que transportasse os montes, e não tivesse amor, nada seria (1 Coríntios 13:2). 9 RESUMO A educação é essencial para a evolução da sociedade do conhecimento e fundamental para os avanços sociais, histórico-culturais, políticos, econômico- financeiros e tecnológicos de uma nação. É pela comunhão dessas múltiplas dimensões que se constrói uma sociedade mais democrática, justa, humana e solidária, instrumentos primordiais para o desenvolvimento da autonomia e da criticidade do sujeito cidadão. Nessa perspectiva, buscar identificar os fatores multidimensionais que podem influenciar no desempenho escolar do estudante ao longo do seu percurso escolar torna-se uma relevante premissa assumida por essa tese. É possível compreender que o estudante pode estar vulnerável em diferentes perspectivas que repercutem na sua trajetória escolar. Identificar essas vulnerabilidades e, a partir delas, identificar, com rigor científico a sua repercussão é o que julgamos ser uma contribuição para a predição do (in)sucesso escolar. A presente tese tem como objetivo desenvolver um modelo estatístico que auxilie na predição do (in)sucesso e do desempenho escolar de estudantes do ensino regular da Rede Estadual de Ensino do Rio Grande do Norte. Para tanto, foram analisados os dados do Censo Demográfico 2010, do Sistema Integrado de Monitoramento e Avaliação Institucional – SIMAIS/RN, do SIGEduc – Sistema Integrado de Gestão da Educação do RN, além de dados dos diários dos estudantes matriculados nas escolas estaduais no período 2013 a 2019. Essa mineração de dados permite identificar vulnerabilidades multidimensionais que influenciam no desempenho escolar dos estudantes, possibilitando por meio de um modelo estatístico, a predição do (in)sucesso em múltiplas perspectivas. Para análise dessas dimensões e tipificações utilizou-se análise descritiva, o teste de independência, estatística espacial, análise de clusters e o modelo linear generalizado: Regressão Logística. Os resultados apontam que menos de 12% dos estudantes conseguiram cumprir a trajetória escolar obrigatória esperada, iniciando o 7º ano do Ensino Fundamental (EF) em 2013 e concluindo a 3ª série do Ensino Médio (EM) em 2019; em média, apenas 42% dos estudantes conseguem concluir o EF II (9º ano) e ingressar no 1º ano do EM sem reprovação; as condições territoriais dos domicílios dos estudantes influenciam no insucesso escolar; apenas 3,9% dos estudantes obtiveram padrão de proficiência avançado entre aqueles do 5º e 9º ano (EF) e 3ª série do EM; nenhum dos 167 municípios do RN possuem mais de 50% dos domicílios com computadores com acesso à internet, o que demonstra o elevado nível de vulnerabilidade digital; em média, 40% dos estudantes do ensino regular da rede estadual são beneficiados com programassociais do governo federal; municípios do Seridó e Alto Oeste possuem, de forma concomitante, as melhores condições territoriais e níveis de padrões avançados de proficiência, o que significa que os estudantes conseguiram atingir um patamar considerado essencial para sua etapa de escolaridade, exigindo novos estímulos. Esses resultados georeferenciados serão produtos que ganharão maior dinamicidade ao serem integrados às plataformas potencializadoras de inovações a SGeol-Educ/IMD/UFRN e SIGEduc/SEEC/RN. PALAVRAS-CHAVE: Vulnerabilidades na Educação, Avaliação; Desempenho Escolar; Predição do Insucesso Escolar 10 ABSTRACT Education is essential for the evolution of the knowledge society and fundamental for a nation's social, historical-cultural, political, economic-financial and technological advances. It is through the communion of these multiple dimensions that a more democratic, just, humane and solidary society is built, essential instruments for the development of the autonomy and criticality of the citizen subject. In this perspective, seeking to identify the multidimensional factors that can influence the student's school performance throughout his school career becomes a relevant premise assumed by this thesis. It is possible to understand that the student may be vulnerable in different perspectives that affect his school trajectory. Identifying these vulnerabilities and, from them, identifying, with scientific rigor, their repercussions is what we believe to be a contribution to the prediction of (in) school success. This thesis aims to develop a statistical model that assists in the prediction of (in) success and school performance of students of regular education in the State Education Network of Rio Grande do Norte. To this end, data from the 2010 Demographic Census, the Integrated Monitoring and Institutional Assessment System - SIMAIS / RN, the SIGEduc - Integrated Education Management System of RN were analyzed, in addition to data from the diaries of students enrolled in state schools in the period 2013 to 2019. This data mining allows the identification of multidimensional vulnerabilities that influence students' academic performance, making it possible, through a statistical model, to predict (in) success in multiple perspectives. For the analysis of these dimensions and typifications, descriptive analysis, the independence test, spatial statistics, cluster analysis and the generalized linear model were used: Logistic Regression. The results show that less than 12% of students managed to fulfill the expected compulsory school trajectory, starting the 7th year of Elementary School (EF) in 2013 and concluding the 3rd grade of High School (EM) in 2019; on average, only 42% of students are able to complete EF II (9th grade) and enter the 1st year of MS without fail; the territorial conditions of students' homes influence school failure; only 3.9% of students achieved advanced proficiency standards among those in the 5th and 9th grade (EF) and 3rd grade of MS; none of the 167 municipalities in RN have more than 50% of households with computers with internet access, which demonstrates the high level of digital vulnerability; on average, 40% of regular school students in the state system benefit from federal government social programs; municipalities in Seridó and Alto Oeste have, concomitantly, the best territorial conditions and levels of advanced proficiency standards, which means that students have managed to reach a level considered essential for their stage of schooling, requiring new stimuli. These georeferenced results will be products that will gain greater dynamism when integrated to the platforms that enhance innovations to SGeol-Educ / IMD / UFRN and SIGEduc / SEEC / RN. KEYWORDS: Vulnerabilities in Education, Evaluation; School performance; Predicting School Failure 11 RESUMEN La educación es fundamental para la evolución de la sociedad del conocimiento y fundamental para los avances sociales, histórico-culturales, políticos, económico- financieros y tecnológicos de una nación. Es a través de la comunión de estas múltiples dimensiones que se construye una sociedad más democrática, justa, humana y solidaria, instrumentos imprescindibles para el desarrollo de la autonomía y criticidad del sujeto ciudadano. En esta perspectiva, buscar identificar los factores multidimensionales que pueden influir en el desempeño escolar del estudiante a lo largo de su carrera escolar se convierte en una premisa relevante asumida por esta tesis. Es posible comprender que el alumno puede ser vulnerable en diferentes perspectivas que inciden en su trayectoria escolar. Identificar estas vulnerabilidades y, a partir de ellas, identificar, con rigor científico, sus repercusiones es lo que creemos que es un aporte a la predicción del éxito (in) escolar. La presente tesis tiene como objetivo desarrollar un modelo estadístico que asista en la predicción del (in) éxito y desempeño escolar de los estudiantes de educación regular de la Red Estatal de Educación de Rio Grande do Norte. Para ello, se analizaron los datos del Censo Demográfico 2010, el Sistema Integrado de Monitoreo y Evaluación Institucional - SIMAIS / RN, el SIGEduc - Sistema Integrado de Gestión Educativa de RN, además de los datos de los diarios de los estudiantes matriculados en las escuelas públicas de la período 2013 a 2019. Esta minería de datos permite identificar vulnerabilidades multidimensionales que influyen en el desempeño académico de los estudiantes, posibilitando, a través de un modelo estadístico, predecir el (in) éxito en múltiples perspectivas. Para el análisis de estas dimensiones y tipificaciones se utilizó el análisis descriptivo, la prueba de independencia, la estadística espacial, el análisis de conglomerados y el modelo lineal generalizado: Regresión logística. Los resultados muestran que menos del 12% de los estudiantes lograron cumplir con la trayectoria escolar obligatoria esperada, iniciando el 7 ° año de Educación Primaria (EF) en 2013 y concluyendo el 3 ° grado de Bachillerato (EM) en 2019; en promedio, solo el 42% de los estudiantes pueden completar EF II (noveno grado) e ingresar al primer año de MS sin fallar; las condiciones territoriales de los hogares de los estudiantes influyen en el fracaso escolar; solo el 3.9% de los estudiantes lograron estándares de competencia avanzada entre los de quinto y noveno grado (EF) y tercer grado de MS; ninguno de los 167 municipios de RN tiene más del 50% de hogares con computadoras con acceso a internet, lo que demuestra el alto nivel de vulnerabilidad digital; en promedio, el 40% de los estudiantes de escuelas regulares en el sistema estatal se benefician de los programas sociales del gobierno federal; Los municipios de Seridó y Alto Oeste cuentan, concomitantemente, con las mejores condiciones territoriales y niveles de estándares de competencia avanzada, lo que significa que los estudiantes han logrado alcanzar un nivel considerado fundamental para su etapa escolar, requiriendo nuevos estímulos. Estos resultados georreferenciados serán productos que ganarán mayor dinamismo al integrarse a las plataformas que potencian las innovaciones SGeol-Educ / IMD / UFRN y SIGEduc / SEEC / RN. PALABRAS CLAVE: Vulnerabilidades en Educación, Evaluación; El rendimiento escolar; Predecir el fracaso escolar 12 LISTA DE FIGURAS Figura 1 - Dimensões da qualidade educacional .................................................................. 44 Figura 2 - Percentual de disciplinas que são ministradas por professores com formação superior de licenciatura (ou equivalente) na mesma área da disciplina nos anos finais do Ensino Fundamental por município – Brasil – 2019 ............................................................. 59 Figura 3 - - Percentual de disciplinas que são ministradas por professores com formação superior de licenciatura(ou equivalente) na mesma área da disciplina no Ensino Médio por município – Brasil – 2019 ..................................................................................................... 60 Figura 4 - Percentual de escolas que apresentam biblioteca/sala de leitura por município – Brasil – 2019 ........................................................................................................................ 62 Figura 5 - Informações sobre o SAEB .................................................................................. 77 Figura 6 - Rendimento mensal domiciliar per capita das pessoas residentes em domicílios particulares, segundo Unidade de Federação – Brasil - 2018 ............................................ 109 Figura 7 - Registro fotográfico de crianças com aulas pelo rádio ....................................... 189 Figura 8 – Divisão política-administrativa do Estado do Rio Grande do Norte ................... 211 Figura 9 – Modelo de análise para sucesso e insucesso horizontal e vertical .................... 239 13 LISTA DE GRÁFICOS Gráfico 1 - Matrículas na educação básica no Brasil segundo a rede de ensino (2015-2019) ............................................................................................................................................ 49 Gráfico 2 - Taxa de distorção idade-série do ensino fundamental e do ensino médio segundo o sexo – Brasil - 2019 .......................................................................................................... 54 Gráfico 3 - Sexo dos estudantes (2013- 2019) .................................................................. 166 Gráfico 4 - Pirâmide etária dos estudantes matriculados no Ensino Fundamental I (1º ao 5º ano), período 2013 a 2019 ................................................................................................. 168 Gráfico 5 - Pirâmide etária dos estudantes matriculados no Ensino Fundamental II (6º ao 9º ano), período 2013 a 2019 ................................................................................................. 170 Gráfico 6 - Pirâmide etária dos estudantes matriculados no Ensino Médio (1ª a 3ª série), período 2013 a 2019 .......................................................................................................... 173 Gráfico 7 - Distribuição espacial das matrículas no período de 2013 a 2018 na rede estadual de ensino na modalidade regular do Estado do Rio Grande do Norte ................................ 178 Gráfico 8 - - Distribuição espacial do local de residência dos estudantes matriculados no ensino regular estadual do Rio Grande do Norte no ano 2019 ........................................... 181 Gráfico 9 - Mapa com percentual de domicílios no município que possui computador ....... 185 Gráfico 10 - Mapa com percentual de domicílios no município que possui computador e acesso à internet ............................................................................................................... 186 Gráfico 11 - Dendrograma para o conjunto de variáveis do Censo que foram classificadas na dimensão digital ................................................................................................................. 187 Gráfico 12 - Mapa com municípios agrupados com base nas variáveis da dimensão digital .......................................................................................................................................... 188 Gráfico 13 - Mapa com percentual de domicílios no município que possui Rádio .............. 189 Gráfico 14 - Diagrama de Lexis dos estudantes matriculados no ensino regular do Estado do Rio Grande do Norte .......................................................................................................... 192 Gráfico 15 - Representação do desempenho Abaixo do Básico no 9º ano em Língua Portuguesa e Matemática no Rio Grande do Norte em 2019 ............................................. 212 Gráfico 16 - Representação do desempenho Básico no 9º ano em Língua Portuguesa e Matemática no Rio Grande do Norte em 2019 ................................................................... 214 Gráfico 17 - Representação do desempenho Proficiente no 9º ano em Língua Portuguesa e Matemática no Rio Grande do Norte em 2019 ................................................................... 215 Gráfico 18 - Representação do desempenho Avançado no 9º ano em Língua Portuguesa e Matemática no Rio Grande do Norte em 2019 ................................................................... 217 Gráfico 19 - Representação do desempenho Abaixo do Básico na 3º série do EM em Língua Portuguesa e Matemática no Rio Grande do Norte em 2019 ............................................. 219 Gráfico 20 - Representação do desempenho Básico na 3º série em Língua Portuguesa e Matemática no Rio Grande do Norte em 2019 ................................................................... 220 Gráfico 21 - Representação do desempenho Proficiente na 3º série em Língua Portuguesa e Matemática no Rio Grande do Norte em 2019 ................................................................... 221 Gráfico 22 - Representação do desempenho Avançado na 3º série em Língua Portuguesa no Rio Grande do Norte em 2019 ...................................................................................... 222 Gráfico 23 - Relação entre o desempenho em Português na escola e desempenho em português no SIMAIS - 5º português .................................................................................. 227 Gráfico 24 - Relação entre o desempenho em Português na escola e desempenho em português no SIMAIS - 5º ano - matemática ...................................................................... 228 14 Gráfico 25 - Relação entre o desempenho em Português na escola e desempenho em português no SIMAIS - 9º ano em Português ..................................................................... 229 Gráfico 26 - Relação entre o desempenho em Português na escola e desempenho em português no SIMAIS - 3ª série - português ....................................................................... 230 Gráfico 27 - Relação entre o desempenho em Português na escola e desempenho em português no SIMAIS - 3ª série - matemática .................................................................... 231 15 LISTA DE QUADROS Quadro 1 - Diretrizes do PNE (2014-2024) .......................................................................... 40 Quadro 2 - Competências gerais da educação básica ........................................................ 41 Quadro 3 - Síntese dos documentos norteadores da educação brasileira ........................... 42 Quadro 4 - Matriz de referência do 9º ano do Ensino Fundamental em língua portuguesa .. 80 Quadro 5 - Matriz de referência da 3ª série do Ensino Médio em língua portuguesa ........... 81 Quadro 6 - Matriz de referência do 9º ano do Ensino Fundamental em matemática ............ 82 Quadro 7 - Matriz de referência da 3ª série do Ensino Médio em matemática .................... 84 Quadro 8 - Padrões de Desempenho Estabelecidos pelo SIMAIS em Língua Portuguesa e Matemática .......................................................................................................................... 94 Quadro 9 - Quadro-síntese dos tipos de vulnerabilidade abordados na tese ..................... 114 Quadro 10 – Síntese dos dados utilizados ........................................................................ 128 Quadro 11- Variáveis que compõe o Perfil do estudante no Dataset do SIGEDUC ........... 130 Quadro 12 – Algumas variáveis que compõe o Dataset do Censo Demográfico realizado pelo IBGE .......................................................................................................................... 132 Quadro 13 - Classificação do coeficiente decorrelação. .................................................... 137 16 LISTA DE TABELAS Tabela 1 - Número de matrículas da educação básica por dependência administrativa – Brasil – 2015-2019 ............................................................................................................... 50 Tabela 2 - Número de matrículas da educação básica por dependência administrativa, segundo a localização da escola – Brasil – 2019 ................................................................. 51 Tabela 3 - Número de matrículas do Ensino Fundamental por dependência administrativa, segundo a etapa de ensino – Brasil – 2019 ......................................................................... 52 Tabela 4 - Número de matrículas do Ensino Médio por dependência administrativa – Brasil – 2015-2019 ........................................................................................................................... 53 Tabela 5 - Taxa de distorção idade-série por etapa de ensino e rede, segundo o sexo– Brasil – 2015-2019 ........................................................................................................................ 56 Tabela 6 - Percentual de disciplinas ministradas por professores com formação superior de licenciatura na mesma área por região, segundo a etapa de ensino – Brasil – 2019 ........... 57 Tabela 7 - Percentual de escolas com biblioteca/sala de leitura por dependência administrativa, segundo a região – Brasil – 2019 ................................................................. 61 Tabela 8 - Disponibilidade (%) de recursos relacionados à infraestrutura nas escolas de Ensino Fundamental por dependência administrativa, segundo recurso – Brasil – 2019 ..... 63 Assim, apresentamos a Tabela 9 na qual revela o percentual de recursos nas instituições de ensino brasileiras no ensino fundamental. ........................................................................... 64 Tabela 10 - Disponibilidade (%) de recursos relacionados à infraestrutura nas escolas de Ensino Médio por dependência administrativa, segundo recurso – Brasil – 2019 ................ 66 Tabela 11 - Disponibilidade (%) de recursos tecnológicos nas escolas de Ensino Fundamental por dependência administrativa, segundo recurso – Brasil – 2019 ................. 67 Tabela 13 - Disponibilidade (%) de recursos tecnológicos nas escolas de Ensino Médio por dependência administrativa, segundo recurso – Brasil – 2019 ............................................. 68 Tabela 14 - Dados Nacionais do IDEB Observado (2005 a 2019) e as Metas (2007 a 2021) para os anos finais do Ensino Fundamental. Brasil. ............................................................. 86 Tabela 15 - Dados Nacionais do IDEB Observado (2005 a 2019) e as Metas (2007 a 2021) para o Ensino Médio. Brasil. ................................................................................................ 87 Tabela 16 - Dados Nacionais do IDEB Observado (2005 a 2019) e as Metas (2007 a 2021) para os anos finais do Ensino Fundamental do RN (8ª série/9ºano) e Ensino Médio ........... 88 Tabela 17 - Dados Nacionais do IDEB Observado (2005 a 2019) e as Metas (2007 a 2021) para o Ensino Fundamental e Médio da rede estadual do RN ............................................. 89 Tabela 18 – Resultado do SIMAIS em Língua Portuguesa em 2018 .................................... 95 Tabela 19 – Resultado do SIMAIS em Matemática em 2018 .............................................. 96 Tabela 20 – Diagnóstico sobre a Taxa de Não Resposta do Perfil do Estudante no ato da matrícula ............................................................................................................................ 131 Tabela 21 – Representação para os estudantes sobre o que representa a escola .......... 142 Tabela 22 – Representação para os estudantes sobre o que representa a escola segundo a situação ao final do ano letivo ......................................................................................... 144 Tabela 23 – Religião dos estudantes matriculados na rede estadual de ensino público do RN (2013-2019) ................................................................................................................. 146 Tabela 24 – Tipos de livros que os estudantes matriculados na rede estadual de ensino pública do RN gostam de ler (2013 – 2019) ...................................................................... 147 Tabela 25 – Tipo de livro que mais lê segundo a situação ao final do ano letivo ................ 149 17 Tabela 26 – Renda mensal da família dos estudantes matriculados na rede estadual de ensino público durante o período de 2013 a 2019 ............................................................. 151 Tabela 27 – Situação de trabalho dos estudantes matriculados na rede estadual de ensino público durante o período de 2013 a 2019 ......................................................................... 153 Tabela 28 – Situação de trabalho dos estudantes matriculados na rede estadual de ensino público segundo situação de matrícula (2013 a 2019) ....................................................... 153 Tabela 29 – Tempo dedicado ao trabalho dos estudantes matriculados na rede estadual de ensino público durante o período de 2013 a 2019 que afirmaram trabalhar ....................... 155 Tabela 30 – Distribuição dos estudantes beneficiários do Programa Bolsa família no período de 2013 a 2019 .................................................................................................................. 157 Tabela 31 – Local e Tipo de casa onde reside dos estudantes (2013-2019) ...................... 159 Tabela 32 –Situação de Moradia dos estudantes (2013-2019) .......................................... 160 Tabela 33 – Número de pessoas com quem os estudantes informaram que residiam (2013- 2019) ................................................................................................................................. 161 Tabela 34 Meio de transporte que mais utiliza para se locomover (2013-2019) ................. 162 Tabela 35 – Escolaridade do pai (2013-2019)................................................................... 163 Tabela 36 – Ocupação profissional do pai (2013-2019) ..................................................... 164 Tabela 37 – Escolaridade da mãe (2013-2019) ................................................................. 164 Tabela 38 – Ocupação profissional da mãe (2013-2019) ................................................... 165 Tabela 39 - Estado Civil dos estudantes (2013-2019) ........................................................ 167 Tabela 40 – Situação ambiente remoto da SEEC-RN no ano de 2020 ............................. 184 Tabela 41 – Desempenho dos estudantes aprovados em Português e Matemática por DIREC – 2019.................................................................................................................... 203 Tabela 42- Resultado geral (5º ano, 9º ano e 3 série) de Português da Avaliação do SIMAIS no Rio Grande do Norte em 2019 ...................................................................................... 209 Tabela 43- Resultado geral (5º ano, 9º ano e 3 série) de Matemática da Avaliação do SIMAIS no Rio Grande do Norte em 2019 ......................................................................... 210 Tabela 44 – Matriz de Correlação linear de Pearson entre os resultados nas disciplinas de Português e Matemática na escola e os resultados das proficiências em Português e Matemática no SIMAIS ...................................................................................................... 225 Tabela 45 - Estimativas, erro-padrão e razões de chance das variáveis que compõe o modelo ...............................................................................................................................234 18 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO 19 1.1 Trajetória acadêmica e motivações pessoal e profissional da pesquisadora 19 1.2 O problema da investigação e os objetivos 21 1.3 A educação obrigatória no contexto dos marcos regulatórios 24 1.4 Vulnerabilidades na Trajetória dos Escolares: multidimensionalidades 27 1.5. Estrutura do trabalho 2 BRASIL: REALIDADES E CENÁRIOS DA EDUCAÇÃO BÁSICA 30 2.1 Marcos regulatórios e dispositivos legais nacionais 32 2.2 Indicadores de qualidade da educação básica 43 2.3 Sistema Nacional de Avaliação da Educação Básica: um breve histórico 71 2.4 O Sistema de Avaliação da Educação Básica – SAEB e o Índice da Educação Básica (IDEB) no Rio Grande do Norte. 78 2.5 Sistema Integrado de Monitoramento e Avaliação Institucional (SIMAIS) 91 3 PERCURSO METODOLÓGICO DA INVESTIGAÇÃO 127 3.1 FONTES de DADOS 129 3.1.1 CRÍTICA DOS DADOS 132 3.1.2 SUBGRUPO SUCESSO E INSUCESSO E O MODELO PREDITIVO 133 3.2 ANÁLISE ESTATÍTICA: ANÁLISE DESCRITIVA, DIAGRAMA DE LEXIS; ESTATÍSTICA ESPACIAL; CORRELAÇÃO DE PEARSON; REGRESSÃO LOGÍSTICA 133 4 ANÁLISE DOS DADOS E RESULTADOS 141 4.1 DIMENSÃO CULTURAL 141 4.2 DIMENSÃO ECONÔMICA 150 4.3 DIMENSÃO SOCIODEMOGRÁFICA 156 4.4 DIMENSÃO TERRITORIAL 176 4.5 DIMENSÃO DIGITAL 182 4.6 Trajetória escolar dos estudantes da rede estadual do RN: revelações do diagrama de lexis 190 4.7 Lacunas de desempenho do educando entre o sistema de avaliação interna e externa: a relação entre o desempenho em Português e Matemática na Escola com a proficiência no SIMAIS nas mesmas disciplinas 201 4.8 O sistema preditor do (in)sucesso 232 5.0 NOTAS CONCLUSIVAS 245 REFERÊNCIAS 19 1 INTRODUÇÃO A educação é essencial para a evolução da sociedade do conhecimento e fundamental para os avanços sociais, histórico-culturais, políticos, econômico- financeiros, tecnológicos de uma nação. É pela comunhão dessas múltiplas dimensões que se constrói uma sociedade mais democrática, justa, humana e solidária, instrumentos primordiais para o desenvolvimento da autonomia e da criticidade do sujeito cidadão. Essa compreensão sobre a importância da educação é confirmada ao olharmos para um passado não tão distante. Em meados do século XX, a educação como política pública passou a ser considerada essencial para o desenvolvimento e transformação de uma sociedade. Para isso, alguns países acataram essa prerrogativa e passaram a comprometer-se em ofertá-la, especialmente a educação básica, de modo gratuito (ou parcialmente) e comprometidos com a qualidade para todo e qualquer cidadão. Alguns documentos norteadores das políticas internacionais capitaneadas pela UNESCO ganharam grande expressão que, por sua vez, influencia as políticas públicas da educação, dos países membros, à exemplo do Relatório Educação um Tesouro a descobrir (1998) e do pacto global da Agenda 2030 que de forma colaborativa se propõe a criar um modelo global para acabar com a pobreza, promover a prosperidade e o bem-estar de todos. Nesse sentido, destaca-se o Objetivo de Desenvolvido Sustentável (ODS/UNESCO) número 4, referente à Educação de Qualidade que visa assegurar a educação inclusiva e equitativa e de qualidade, e promover oportunidades de aprendizagem ao longo da vida para todos até 2030. 1.1 Trajetória acadêmica e motivações pessoal e profissional da pesquisadora Um importante aspecto a ser considerado, nesta introdução, são as motivações para o desenvolvimento deste estudo, pois o mesmo pode ser considerado como resultado das experiências vivenciadas ao longo da minha trajetória como estudante no âmbito da educação básica e, posteriormente, como acadêmica ao ser aprovada no vestibular da UFRN para o curso de Estatística. 20 Engajei-me em estudos de pesquisa como bolsista de Iniciação Científica sobre temas que tratavam da Política de Acesso e Inclusão de alunos da Rede Pública em cursos da UFRN. Vivenciei momentos importantes ao participar das diversas atividades técnicas, acadêmicas na Comissão Permanente do Vestibular – COMPERVE. A partir de 2003 essa Comissão passou a realizar estudos e pesquisas, de natureza avaliativas, para melhor compreender o impacto e a repercussão dele junto aos sistemas de ensino público e privado, com foco no ensino médio. Parte desse processo de mudanças e reformas no Vestibular da UFRN foram vivenciadas por mim, quando tive a oportunidade de participar dos estudos e discussões sobre a reestruturação desse exame seletivo e da Política de Acesso e Inclusão dos Estudantes para a UFRN. Não posso deixar de destacar também a experiência que tive na iniciação científica, atuando como monitora na disciplina de Métodos Estatísticos, que contribuiu para a minha formação. Essa experiência me possibilitou ter uma visão mais ampliada sobre a universidade, seus cursos e alunos, a importância da pesquisa sobre o vestibular como “porta de entrada da UFRN”, não apenas como estudante mas também como integrante de um grupo de pesquisa. De certa forma, tive que estudar para ensinar, desde a monitoria, o que me fez compreender melhor sobre a responsabilidade de assumir a docência, embora não fosse professora da instituição, mesmo que em um nível mais elementar. Outra experiência importante que contribuiu para a escolha do tema deste estudo foi a participação em três grandes projetos desenvolvidos do Grupo de Pesquisa Formação e Profissionalização Docente e da Rede de Pesquisa Territórios Inteligente e Sustentáveis no âmbito Social e Educativo (TISSE), liderados pelos professores Betania Leite Ramalho e Isauro B. Núñez, ambos com registro no CNPq. Os citados projetos, que geraram muito conhecimento sobre a UFRN, são: “A Passagem do Ensino Médio ao Ensino Superior: acesso e inclusão de alunos da rede Pública na cultura acadêmica da universidade pública” (Edital CNPq nº 50/2006); “Tornar-se Universitário: do lugar, do sentido e do percurso do Ensino Médio e da Educação Superior” (Edital PROCAD/CAPES 01/2007), projeto desenvolvido em parceria com a Universidade Federal de Sergipe – UFS, a 21 Universidade Federal do Ceará – UFC e a Universidade do Estado da Bahia – UNEB; e o Projeto “Reformas Educacionais e Ensino Superior: impactos da globalização no acesso e na inclusão social no Brasil e na Espanha, desenvolvido em parceria com a Universidade de Valencia - Espanha” (Edital CAPES/DGU 018/2009). Dentre as atividades realizadas junto a esses projetos, destacamos nossa participação em algumas missões de estudos realizados na Universidade do Estado da Bahia – UNEB, durante os anos de 2010 a 2013, sob a orientação da Prof.ª Drª Nadia Hage Fialho, onde participamos de diversas atividades de discussão e apresentação dos trabalhos com o grupo de estudos coordenado pela citada professora, além de atividades realizadas na Secretaria de Educação do Estado da Bahia e na UNEB sobre a questão do Observatório da Vida do Estudante Universitário, projeto pioneiro desenvolvido pela equipe de pesquisadores e técnicos da COMPERVE/UFRN. Essas atividades, nas quais participei ao longo processo de minha formação na universidade, seja nos grupos de pesquisa, eventos e congressos, contribuíram para compreender os desafios da universidade no século XXI e os inúmeros dilemas vivenciados pelos estudantes no percurso trilhado entre a Educação Básica e o Ensino Superior. 1.2 O problema da investigação e os objetivos geral e específico A presente tese busca ampliar os estudos e qualificar as possibilidades para mitigar o persistente fenômeno do baixo desempenho escolar. Volta-se o foco analítico-investigativo à Educação Básica devido à prévia compreensão que, nessa etapa escolar, os esforços científicos, pedagógicos e demais perspectivas da política pública apresentam impacto significativo na vida do estudante. O lócus da investigação volta-se para a realidade da RedeEstadual de Ensino do estado do Rio Grande do Norte, situado na região Nordeste brasileira, a qual, historicamente, possui índices educacionais desfavoráveis em relação a outros estados e regiões do país. Assim sendo, com base nas argumentações sobreditas e lacunas 22 apresentadas, é apresentado o seguinte problema de investigação: Qual o impacto do desenvolvimento de um modelo preditivo de avaliação da qualidade (sucesso e insucesso) do serviço educacional do estado do Rio Grande do Norte? 1.2.1 OBJETIVOS DO ESTUDO A seguir, alicerçada na questão de pesquisa, serão apresentados o objetivo geral e os objetivos específicos da presente tese. 1.4.1.1 Objetivo geral Desenvolver um modelo preditivo de avaliação da qualidade (sucesso e insucesso) do serviço educacional do estado do Rio Grande do Norte. 1.4.1.2 Objetivos específicos: a) Caracterizar os estudantes da Rede Estadual de Ensino do Rio Grande do Norte em função das dimensões cultural, econômica, sócio demográfica, territorial e digital. b) Identificar as vulnerabilidades multidimensionais que influenciam na aprovação, reprovação ou evasão de discentes da Rede Estadual de Ensino do Rio Grande do Norte; c) Avaliar as lacunas de desempenho do educando entre o sistema educacional de avaliação interno e externo; 1.2.2 ESTRUTURA DO TRABALHO Procurou-se estruturar o estudo de maneira que o problema e os objetivos respondessem às premissas em relação ao contexto da educação do Estado do RN, no tocante ao problema do insucesso de estudantes durante a trajetória escolar. Dessa forma, pretende-se levar o leitor a compreender o percurso de uma investigação é função de todo e qualquer pesquisador, de modo a possibilitar um maior e melhor entendimento sobre o fenômeno estudado. Considerando essa perspectiva, nesse capítulo introdutório apresentamos os argumentos iniciais para direcionar o leitor para adentrar nesta investigação sobre o (in)sucesso estudantil, 23 mediante a compreensão das vulnerabilidades multidimensionais e a reflexão sobre as possíveis soluções. No que diz respeito à estrutura geral da tese, ela foi dividida em seis capítulos, da seguinte forma: No primeiro capítulo, denominado “Introdução”, apresentamos as inquietações iniciais que nos motivaram à realização desta investigação. Também situamos o leitor no contexto de alguns marcos regulatórios e dispositivos legais importantes para justificar a escolha pela temática. Além disso, expomos a estrutura geral e metodológica da tese para apresentar ao leitor quanto ao percurso realizado. No que tange ao segundo capítulo, nomeado “Brasil: Realidades e cenários da Educação Básica”, é feita uma discussão sobre a qualidade da educação no contexto nacional. O terceiro capítulo, denominado “Indicadores de qualidade da educação: um olhar à aprendizagem potiguar”, apresentamos a fundamentação teórica acerca das distintas vulnerabilidades e suas relações com a aprendizagem discente. O quarto capítulo é nomeado “Ecos da vulnerabilidade: reflexos no desempenho e aprendizagem estudantil. Nessa parte da investigação é conceituado, tipificado e abordado o impacto cognitivo da vulnerabilidade no processo ensino-aprendizagem”. No quinto capítulo, intitulado “Percurso Metodológico”, apresentamos e justificamos os caminhos que optamos para o desenvolvimento desta tese. Fundamentamos os instrumentos de pesquisa e a(s) técnica(s) de análise de dados utilizados. Também caracterizamos os sujeitos de pesquisa e o lócus analítico- investigativo. O sexto capítulo, nomeado “Análise dos Dados e discussões”, discorremos sobre os resultados das análises. Ademais é feita a discussão teórica sobre os resultados e apontamos caminhos acerca do fenômeno estudado. No último capítulo, denominado “Notas Conclusivas”, retomamos as principais discussões da tese, apresentamos as conclusões originárias do estudo e suas respectivas limitações, assim como inquietações para futuras pesquisas e proposições para a área educacional. Por fim, apresentamos as referências que serviram para embasar esta investigação. 24 1.3 A educação obrigatória no contexto dos marcos regulatórios Após um cenário pós Segunda Guerra Mundial (1939-1945), surge o primeiro marco sobre a Declaração Universal dos Direitos Humanos (DUDH). Sendo elaborada por representantes de diferentes origens jurídicas e culturais de todas as regiões do mundo, esse documento foi proclamado pela Assembleia Geral das Nações Unidas (AGNU) em Paris, em 10 de dezembro de 1948, por meio da Resolução 217 A (III) da Assembleia Geral (UNESCO, 1948) como uma norma comum a ser alcançada por todos os povos e nações. Trata-se de um marco regulatório1 que busca incentivar a manutenção da paz, da justiça social e da equidade de oportunidades para os cidadãos. Foi inspirado na Declaração de Genebra2 de 1924, tornando-se uma esperança para o mundo, de modo que se entendeu a necessidade da garantia de direitos fundamentais para o desenvolvimento dos países, bem como na restauração de cenários ofuscados pela Segunda Guerra Mundial tendo a educação como pilar basilar para esta mudança. Ressalta-se, à luz do texto da DUDH/ONU, um conjunto de normativas de elevada relevância e que praticamente muda o cenário precarizado dos direitos do cidadão. Destacam-se o Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos (AGNU, 1966a) e seus dois Protocolos Opcionais (sobre procedimento de queixa e sobre pena de morte) e o Pacto Internacional dos Direitos Econômicos, Sociais e Culturais (AGNU, 1996b) e seu Protocolo Opcional, formando a chamada Carta Internacional dos Direitos Humanos. Eles incluem a Convenção para a Prevenção e a Repressão do Crime de Genocídio (AGNU, 1948), a Convenção Internacional sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação Racial (AGNU, 1965), a Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra as Mulheres (AGNU, 1979), a Convenção sobre os Direitos da Criança (AGNU, 1989) e a Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência (AGNU, 2006), entre outras. 1 Entendido aqui como os documentos orientadores para Organismos Internacionais, países, Estados, Municípios e instituições, mas que não possuem força de lei (SANTOS, 2018; MENEGAT, 2016). 2 Marco regulatório suíço que teve por intuito apontar sobre os direitos da criança e já apontava a educação como essencial para a sociedade. Foi reafirmada pela DUDH em 1948. http://www.un.org/ga/search/view_doc.asp?symbol=A/RES/217(III)&Lang=E http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/1990-1994/d0592.htm http://ohchr.org/EN/HRBodies/TBPetitions/Pages/HRTBPetitions.aspx http://acnudh.org/wp-content/uploads/2012/08/Segundo-Protocolo-Facultativo-ao-Pacto-Internacional-sobre-Direitos-Civis-e-Pol%C3%ADticos-com-vistas-%C3%A0-Aboli%C3%A7%C3%A3o-da-Pena-de-Morte.pdf http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/1990-1994/d0591.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/1990-1994/d0591.htm http://www.ohchr.org/EN/ProfessionalInterest/Pages/OPCESCR.aspx http://pfdc.pgr.mpf.mp.br/atuacao-e-conteudos-de-apoio/legislacao/segurancapublica/convenca....crime_genocidio.pdf http://pfdc.pgr.mpf.mp.br/atuacao-e-conteudos-de-apoio/legislacao/segurancapublica/convenca....crime_genocidio.pdf http://legis.senado.gov.br/legislacao/ListaTextoIntegral.action?id=94836 http://legis.senado.gov.br/legislacao/ListaTextoIntegral.action?id=94836 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/2002/D4377.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/2002/D4377.htm http://www.unicef.org/brazil/pt/resources_10120.htm http://www.pessoacomdeficiencia.gov.br/app/sites/default/files/publicacoes/convencaopessoascomdeficiencia.pdf 25 Voltando nosso olhar para o cenário brasileiro, podemos identificar um grande avanço no entendimento da educação como um direitoa ser promovido pelo Estado, de modo gratuito e com qualidade. Tal avanço surgiu com a promulgação da Constituição Federal de 1988 (BRASIL, 1988), também conhecida como Constituição Cidadã. Nela, constam dez artigos voltados exclusivamente para a educação. O artigo 205 da Constituição da República Brasileira define ser “a educação direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho” (BRASIL, 1988). Nessa passagem, percebemos que a educação brasileira pauta-se no desenvolvimento integral da pessoa, bem como aspectos voltados para o mercado de trabalho e para a cidadania. É dizer: por meio dela, projetamos e preparamos a sociedade brasileira para um mundo melhor, de modo que a formação, escolarização e trajetória do sujeito seja permeada por um desenvolvimento da autonomia e da criticidade. Em relação aos princípios para o desenvolvimento da educação brasileira, a Constituição Cidadã de 1988 destaca sete aspectos fundamentais a respeito do processo educativo expostos no artigo 206. Vejamos: Art. 206. O ensino será ministrado com base nos seguintes princípios: I - igualdade de condições para o acesso e permanência na escola; II - liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar o pensamento, a arte e o saber; III - pluralismo de ideias e de concepções pedagógicas, e coexistência de instituições públicas e privadas de ensino; IV - gratuidade do ensino público em estabelecimentos oficiais; V - valorização dos profissionais da educação escolar, garantidos, na forma da lei, planos de carreira, com ingresso exclusivamente por concurso público de provas e títulos, aos das redes públicas; VI - gestão democrática do ensino público, na forma da lei; VII - garantia de padrão de qualidade; VIII - piso salarial profissional nacional para os profissionais da educação escolar pública, nos termos de lei federal. Parágrafo único. A lei disporá sobre as categorias de trabalhadores considerados profissionais da educação básica e sobre a fixação de prazo para a elaboração ou adequação de seus planos de carreira, no âmbito da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios. Ao observarmos os princípios mencionados no artigo supracitado, identifica- se aspectos de grande relevância para o desenvolvimento de ações educativas no 26 contexto da educação básica, por exemplo: o acesso e a permanência, a liberdade de aprendizagem e de ensinagem, bem como a pluralidade de ideias e concepções pedagógicas, educação de qualidade, entre outros. Confrontando esses aspectos, observa-se ainda que, embora avanços possam ser considerados desde a promulgação da Constituição, ainda estamos muito aquém3 da educação pública com qualidade social a ser efetivada no âmbito da educação básica obrigatória. Em 1996, surge a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – LDB – (BRASIL, 1996), a qual assume como mandamento, no artigo 1º, que “a educação abrange os processos formativos que se desenvolvem na vida familiar, convivência humana, trabalho, nas instituições de ensino e pesquisa, nos movimentos sociais e organizações da sociedade civil e nas manifestações culturais. Significa dizer que o desenvolvimento de ações educativas, dos processos de ensino e de aprendizagem ocorrem ao longo da vida do sujeito, em diferentes contextos e espaços. Esses, por sua vez, tornam-se ambientes profícuos para a formação integral do sujeito e da promoção de experiências que contribuirão para o exercício da cidadania e qualificação para o mercado de trabalho. Cabe destacar que, em 2013, por meio da Lei nº 12.796 (BRASIL, 2013), a educação básica amplia o compromisso do país no que diz respeito aos anos de escolarização obrigatória, passando a ser dos quatro aos dezessete anos, tendo como etapas a educação infantil, o Ensino Fundamental e o ensino médio. Até então, considerava-se somente o Ensino Fundamental como etapa obrigatória – dos seis aos catorze anos de idade. Esse dispositivo legal4 foi importante, uma vez que passou a incluir nessa obrigatoriedade a oferta do Ensino Médio, historicamente considerado, uma modalidade de ensino com atendimento e recursos financeiros limitados. Todavia, com essa abrangência, ampliou-se o problema da baixa qualidade, notadamente nos anos finais do Ensino Fundamental e do Ensino Médio. No que concerne ao desempenho escolar – foco principal desta tese de doutorado –, percebemos que o Brasil ainda tem muito a avançar na busca da melhoria dos indicadores de qualidade da educação básica, visto que entendemos 3 Os indicadores de qualidade da educação básica serão apresentados no próximo capítulo. 4 Entendido aqui como aquele documento que possui força de lei (SANTOS, 2018). 27 que vários são os fatores que podem contribuir para o (in)sucesso do estudante. Esses fatores podem estar (ou não) relacionados à família, ao perfil sociodemográfico, aspectos econômicos, políticos, sociais, culturais, cognitivos entre outros. 1.4 Vulnerabilidades na Trajetória dos Escolares: multidimensionalidades Nessa perspectiva, buscar identificar os fatores multidimensionais que podem influenciar na aprendizagem do estudante ao longo do seu percurso escolar torna-se uma importante premissa assumida no âmbito desse estudo. É possível entender que o estudante pode estar vulnerável em diferentes perspectivas que repercutem diretamente na trajetória escolar. Trazer à tona essas vulnerabilidades e, a partir delas, identificar com rigor científico a repercussão delas é o que julgamos ser uma contribuição para a predição do insucesso escolar. Cabe destacar que esse olhar é o que traz a originalidade da tese, já que, por meio da detecção de problemáticas evidenciadas nas bases de dados disponíveis em instituições como Instituto Nacional de Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP), Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, Sistema Integrado de Gestão da Educação (SIGEDUC5), entre outros, da realidade do estudante da rede estadual do Rio Grande do Norte, poderemos desenvolver um modelo preditivo para auxiliar na identificação e redução das vulnerabilidades. Essa proposta apresentará soluções para problemas recorrentes e históricos no âmbito do desempenho escolar na rede de ensino em tela. Tal proposta vem ao encontro da geração de informações para que as lideranças institucionais da rede em destaque, possam tomar decisões e antecipar ações e desenvolvimento de políticas públicas para melhorar a qualidade da educação estadual. Em virtude do elevado potencial dos dados disponíveis torna-se importante a projeção de um sistema preditivo para as vulnerabilidades dos 5 O SIGEduc Mobile é uma ferramenta para auxiliar o professor com as atividades de seu dia a dia como: digitar notas, registrar frequência, registrar conteúdo ministrado entre outras funcionalidades que iremos demonstrar ao decorrer deste documento, conforme descrito no endereço https://sigeduc.rn.gov.br/sigeduc 28 estudantes, visto que poderá impactar positivamente nas suas aprendizagens e na trajetória escolar, reduzindo o insucesso escolar. Pode-se perceber que o uso de dados para orientar a tomada de decisões de modo que possam ajudar a identificar, com maior abrangência, situações indesejadas no tocante ao desenvolvimento cognitivo (entre outros) de estudantes está ainda iniciando sua cultura escolar no Brasil, que iniciou essa prática há poucas décadas. São fartas as bases de dados com séries históricas que revelam a precariedade do sistema educacional de ponta a ponta do país. Notocante ao que disponibiliza o INEP, por meio do Sistema de Avaliação da Educação Básica (SAEB) ou por meio do recém-criado SIMAIS/RN, fica evidenciado que as avaliações não são compreendidas como importantes referenciais para uma autoavaliação do processo ensino-aprendizagem das redes de ensino. Essas atividades de natureza pedagógica não têm se tornado iniciativas das escolas e respectivos professores e equipes técnicas. Conforme afirmam Sousa e Ferreira (2019) tais avaliações em larga escala só poderão exercer sua plena função social quando superarem a fase dos diagnósticos e forem capazes de propiciar condições para apoiar as melhorias necessárias identificadas nos resultados. Nessa perspectiva, os professores Francesc Jesus Hernandez i Dubon e Alícia Villar-Aguilés, da Universidade de Valência que comungam da mesma inquietação a respeito do desempenho de alunos em sua trajetória acadêmica, apostaram nas potencialidades de um sistema preditivo de insucesso acadêmico criado para orientar a política educacional da Universidade de Valência, na Espanha. Conforme os autores, Um sistema de alerta foi projetado e implementado para detectar estudantes em risco de desistência. Este sistema foi obtido a partir da aplicação de um barômetro composto por dois questionários on-line curtos: oito semanas após o início do curso (questionário Q1) e no início do segundo semestre (questionário Q2). O barômetro permite identificar, previamente, estudantes com possíveis dificuldades acadêmicas, pessoais e / ou sociais com o objetivo de lançar ações relevantes para eles. É um instrumento para avaliar a evolução dos alunos em seu ano de incorporação através da análise deles obter respostas para uma previsão sobre o abandono e sua relação com as variáveis sociodemográficas, educacionais e outras que tratam da incorporação anterior dos alunos na universidade e também como as notas obtidas pelos alunos no primeiro e no segundo trimestre do ano de incorporação” (Dubon y Aguillés, 2017) 29 O sistema de predição acima apresentado para o contexto espanhol aponta para a possibilidade de se ampliar a capacidade de gerenciamento da qualidade da educação de instituições educacionais por meio da coleta de informações sobre trajetórias acadêmicas de estudantes ou a incorporação de bases de dados disponíveis. A junção de informações estatisticamente compatíveis poderá contribuir para a busca de melhorias qualitativas além de identificar, com precisão, sobre o risco de estudantes em possível situação de abandono. Pensar nessa realidade, antecipa ações para qualificar o processo de ensino-aprendizagem e ter um olhar mais individualizado para o estudante, de modo a considerar suas particularidades e possíveis vulnerabilidades. Por outro lado, considera-se também a possibilidade de redução de outros tipos de prejuízo como o financeiro, o social, o institucional, entre outros. De acordo com a passagem acima, é revelado que a utilização do sistema no contexto espanhol amplia a capacidade de gerenciamento das instituições e da busca de melhorias para a qualidade educacional, visto que se pode identificar com precisão sobre o risco de estudantes em possível situação de abandono. Essas inquietações pessoais são decorrentes de estudo anterior– dissertação de mestrado – na qual buscamos compreender os fatores que influenciavam a trajetória do estudante da rede pública de ensino durante a transição do Ensino Médio para a educação superior. Esse estudo revelou um conjunto de fatores determinantes que contribuíram para o insucesso na educação superior, como por exemplo, a ausência de backgrounds6 desenvolvidos na educação básica, bem como a relação professor- estudante, fatores sociodemográficos (PESSOA, 2014). 6 Entendidos como conhecimentos prévios que os estudantes adquirem ao longo de sua formação. 30 2 BRASIL: REALIDADES E CENÁRIOS DA EDUCAÇÃO BÁSICA Refletir sobre a educação básica em nosso país requer pensar sobre o processo de sua constituição histórico-cultural, bem como nos elementos que são fundamentais para se compreender o peso que a educação ocupa no momento atual em que vivemos. Esses elementos são orientados por princípios jurídicos, pedagógicos, sociais e históricos, culturais e constitucionais (entre outros) que compõem uma política pública tão abrangente e complexa como tem sido a exequibilidade bem-sucedida da sua oferta. Nessa linha de pensamento, Cury (2008) afirma que a educação básica é o processo formativo que busca referendar e promover o pleno desenvolvimento do sujeito, de modo a contribuir para a sua consciência cidadã. Para ele, o termo “básica” consiste como entendimento de condições de base, ou seja, conhecimentos necessários e que sejam importantes para todo e qualquer cidadão brasileiro. Compreende, ainda, a educação como um bem público, ou seja, o Estado tem o papel de promover a formação do estudante ao longo do seu processo de escolarização. Conforme Vieira (2007), a “educação básica” é um termo relativamente novo no contexto brasileiro, pois surgiu após a promulgação da Constituição Federal de 1988 (BRASIL, 1988). Para a autora, ainda não tinha sido evidenciado esse conceito no referido documento, tendo surgido após o advento da publicação da Declaração de Jomtiem (UNESCO, 1990). Nesse documento da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura – UNESCO –, fica destacado que a educação deve ser um direito de todos, uma oferta pautada na qualidade, no acesso às suas etapas fundamentais e permanência delas, de modo a desenvolvê-las no âmbito da cidadania. Nesse sentido, o Prof. Jamil Cury (2008, p. 296) reforça que A educação escolar é, pois, erigida em bem público, de caráter próprio, por ser ela em si cidadã. E por implicar a cidadania no seu exercício consciente, por qualificar para o mundo do trabalho, por ser gratuita e obrigatória no ensino fundamental, por ser gratuita e progressivamente obrigatória no ensino médio, por ser também a educação infantil um direito, a educação básica é dever do Estado. 31 Sendo assim, revela-se a cidadania como pressuposto essencial do processo educativo. É dizer que, por meio da educação básica, no plano nacional, ela está fortemente comprometida com o pleno desenvolvimento da pessoa em idade escolar e para além desta. Por meio da cidadania, desenvolve-se a autonomia do estudante, a criticidade, a reflexão, sua autonomia para compreender seu papel, seus direitos e sua compreensão sobre questões sociopolíticas, culturais, históricas, dentre outras. Desse modo, a educação básica escolar tem por função ser, essencialmente, formadora de cidadãos. O olhar volta-se para a educação com o viés da formação crítica e promotora do desenvolvimento da cidadania. Anísio Teixeira (1969) já apontava sobre a necessidade de se romper com os paradigmas escolares, os quais não valorizavam a criticidade e autonomia do sujeito. Para esse célebre brasileiro, a necessidade de se promover uma escolarização discente e um ambiente educacional que fosse favorável ao diálogo deveria ser premissa na formação integral, já que essa premissa é fundamental para a construção de uma sociedade, igualmente crítica e engajada com as demandas coletivas. Nessa mesma perspectiva, Paulo Freire (1996) destaca que a autonomia do sujeito deve ser promovida no processo educacional, de modo que este seja o ethos do processo da escolarização discente. Para o autor, a autonomia é libertadora e promove uma consciência crítica que vai além dos muros da escola, mas sim, para a vida em sociedade. Corroborando também essa visão, Miguel Arroyo (2012) destaca a importância da promoção de pedagogias libertadoras e críticas nos movimentos sociais e, especialmente, na cultura escolar. Para o autor, valorizar espaçosde discussão e momentos nos quais se considere o outro como ser crítico, deve ser o cerne da educação escolar. Para ele, a escola deve ser o lugar de promoção da inclusão para desmistificar a diversidade, visando à redução das desigualdades socioeconômicas, culturais e educacionais. Nesse sentido, quanto ao aspecto cultural e da diversidade, Ribeiro (1995) destaca sobre a pluralidade que a sociedade brasileira possui, configurando-se em diferentes “Brasis”. De acordo com o autor, essa pluralidade denota a importância de valorização de práticas sociais mais convergentes e menos excludentes. 32 Consoante a essa perspectiva, Fernandes (2008) ressalta que a sociedade brasileira ainda é excludente e, por isso, necessita buscar alternativas para a redução das desigualdades sociais. Para ele, as políticas públicas e sociais possuem papel fundamental para a diminuição das diferenciações dos sistemas de classes presentes na sociedade capitalista e dos impactos na formação da pessoa humana. Diante de tais reflexões, nesta seção apresentaremos os marcos regulatórios e dispositivos legais nacionais voltados à educação básica bem como os indicadores INEP/MEC de qualidade educacional. Ressalta-se que documentos internacionais serão aqui citados considerando haver uma forte relação entre as posições nacionais assumidas e eles. 2.1 Marcos regulatórios e dispositivos legais nacionais Refletir sobre a educação nacional brasileira, na contemporaneidade, requer um olhar para o que revelam e apresentam os marcos regulatórios e dispositivos legais do país sobre esse campo de conhecimento. Partindo-se dessa premissa, iniciamos o olhar, nesta seção, a partir da Constituição Federal do República Federativa do Brasil (BRASIL, 1988), na qual pressupõe a educação como um direito “e não como um privilégio”, como apontado por Anísio Teixeira em seu livro com esse título, cuja primeira edição se deu em 1957. A Constituição Federal (CF) também é conhecida como a “Constituição Cidadã”, por ser a primeira Carta Magna do país que reconhece a cidadania como princípio fundamental para o pleno desenvolvimento do sujeito, aponta a educação como meio de efetivá-la. De acordo com o artigo 205 (BRASIL, 1988) do presente documento, fica estabelecido que A educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho. Nesse sentido, evidencia-se a importância da educação escolar para a evolução da sociedade brasileira em âmbito individual e coletivo. Focaliza a 33 qualificação para o trabalho e o exercício da cidadania como objetivos a serem assumidos pela educação básica. No espectro do ensino, define-se na Constituição (BRASIL, 1988) os princípios nos quais devem ser ministrados no contexto nacional. Vejamos o que diz o artigo 206 do referido documento. Art. 206. O ensino será ministrado com base nos seguintes princípios: I - igualdade de condições para o acesso e permanência na escola; II - liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar o pensamento, a arte e o saber; III - pluralismo de idéias e de concepções pedagógicas, e coexistência de instituições públicas e privadas de ensino; IV - gratuidade do ensino público em estabelecimentos oficiais; V - valorização dos profissionais da educação escolar, garantidos, na forma da lei, planos de carreira, com ingresso exclusivamente por concurso público de provas e títulos, aos das redes públicas; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 53, de 2006) VI - gestão democrática do ensino público, na forma da lei; VII - garantia de padrão de qualidade. VIII - piso salarial profissional nacional para os profissionais da educação escolar pública, nos termos de lei federal. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 53, de 2006) Parágrafo único. A lei disporá sobre as categorias de trabalhadores considerados profissionais da educação básica e sobre a fixação de prazo para a elaboração ou adequação de seus planos de carreira, no âmbito da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 53, de 2006) Como pode ser observado no presente artigo da CF (BRASIL, 1998), focaliza- se a igualdade de acesso e permanência na escola. De acordo com Silva (2015), o país vem avançando nas condições de acesso à educação básica, de modo que estamos tendo um aumento nas matrículas nas instituições educativas. Contudo, ainda, precisamos enfrentar os “gargalos” presentes entre as etapas do percurso escolar, por exemplo, a transição do ensino fundamental para o ensino médio. Um dos desafios que o Brasil ainda possui, especialmente no ensino médio, é fazer com que o alunado chegue até ele e, uma vez matriculado, manter-se participativo, incluído na cultura escolar. No que concerne à liberdade de expressão, ao pensamento e a práticas pedagógicas, destacamos que vivemos em um país laico e que busca promover a autonomia institucional para o processo de ensino-aprendizagem no contexto educacional. Conforme explicitado na nossa Carta Magna, a educação deve ter esse pressuposto como ênfase nas ações desenvolvidas na educação básica e superior. http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/Emendas/Emc/emc53.htm#art1 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/Emendas/Emc/emc53.htm#art1 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/Emendas/Emc/emc53.htm#art1 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/Emendas/Emc/emc53.htm#art1 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/Emendas/Emc/emc53.htm#art1 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/Emendas/Emc/emc53.htm#art1 34 É dizer, mesmo que tenhamos um objetivo comum – o pleno desenvolvimento do sujeito – a forma como buscamos atingi-lo depende de cada contexto. Outro ponto importante a destacar sobre os princípios educacionais, pauta-se nos padrões de qualidade que devem ser assegurados no processo de escolarização dos estudantes, visto que se entende que são por meio deles que se promove a potencialidade cognitiva discente e o preparo para a cidadania. Nesse sentido, Dourado e Oliveira (2009) afirma que a qualidade no contexto educacional varia de acordo com a temporalidade e com o ambiente no qual estamos. Na sociedade brasileira, atualmente o padrão de qualidade está entendido como um direito de todos. Faz-se necessário, portanto, que o padrão de qualidade da educação seja compreendido e reivindicado como um direito de todos os estudantes, independentemente de ser aluno de uma escola pública ou privada, urbana ou rural, localizada numa área social e geográfica mais ou menos desenvolvida. Nessa direção, em 1996 surge um dispositivo legal fundamental para referendar a nossa Constituição, chamada como Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – LDB (BRASIL, 1996). A LDB assume um papel fundamental nas normativas e diretrizes da educação brasileira, de modo a efetivar o processo de ensino e aprendizagem no contexto da educação básica e superior. Estabelece princípios, de modo que contribui para a projeção da sociedade. Nesse sentido, a LDB em seu artigo 1º (BRASIL, 1996), diz que A educação abrange os processos formativos que se desenvolvem na vida familiar, na convivência humana, no trabalho, nas instituições de ensino e pesquisa, nos movimentos sociais e organizações da sociedade civil e nas manifestações culturais. A esse respeito, Paulo Freire (1996) cita que é por meio da educação que se potencializa a formação do sujeito para o pleno desenvolvimento e exercício da cidadania. Para ele, a formação ao longo da vida é essencial para todo e qualquer cidadão, de modo que ele possa construir uma autonomia para sua visão de mundo. Corroborando a perspectivade Freire (1996), expõe no artigo 2º da LDB que a educação é “[...] inspirada nos princípios de liberdade e nos ideais de solidariedade humana, tem por finalidade o pleno desenvolvimento do educando, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho.”(BRASIL, 1996). 35 Para tanto, apresentam-se os princípios nos quais o ensino brasileiro deve pautar-se para o desenvolvimento dos processos de ensino-aprendizagem em todos os níveis educativos. Vejamos: Art. 3º O ensino será ministrado com base nos seguintes princípios: I - igualdade de condições para o acesso e permanência na escola; II - liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar a cultura, o pensamento, a arte e o saber; III - pluralismo de idéias e de concepções pedagógicas; IV - respeito à liberdade e apreço à tolerância; V - coexistência de instituições públicas e privadas de ensino; VI - gratuidade do ensino público em estabelecimentos oficiais; VII - valorização do profissional da educação escolar; VIII - gestão democrática do ensino público, na forma desta Lei e da legislação dos sistemas de ensino; IX - garantia de padrão de qualidade; X - valorização da experiência extraescolar; XI - vinculação entre a educação escolar, o trabalho e as práticas sociais. XII - consideração com a diversidade étnico-racial. (Incluído pela Lei nº 12.796, de 2013) XIII - garantia do direito à educação e à aprendizagem ao longo da vida. (Incluído pela Lei nº 13.632, de 2018) Como podemos observar, houve um avanço nos princípios educacionais brasileiros em relação aos apresentados na Carta Magna, visto que se valoriza na LDB a experiência extraescolar, a relação trabalho, educação escolar e práticas sociais, bem como a diversidade étnico-racial (BRASIL, 1996). Foi se entendendo que outros fatores, como os mencionados, necessitam-se ter um olhar atento pelo viés prospector educativos, de forma a promover uma educação para todos. Outro ponto importante a destacar diz respeito ao sistema educacional. No Brasil, compreendemos pela organização do sistema, a educação básica e educação superior. Conforme o art. 22 da LDB (BRASIL, 1996), “a educação básica tem por finalidades desenvolver o educando, assegurar-lhe a formação comum indispensável para o exercício da cidadania e fornecer-lhe meios para progredir no trabalho e em estudos posteriores.”. De acordo com Cury (2008), a educação básica é a etapa formativa do sujeito que compreende os conhecimentos necessários para a sua inclusão na sociedade, de modo a prepará-lo para o exercício da cidadania. Assim, temos como etapas da educação básica: a educação infantil, o Ensino Fundamental e o ensino médio. Para isso, ressalta-se, no entanto, a necessidade de se ter um olhar atento e com previsibilidade para prospectar a efetivação dessas prerrogativas com bons http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2011-2014/2013/Lei/L12796.htm#art1 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2011-2014/2013/Lei/L12796.htm#art1 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-2018/2018/Lei/L13632.htm#art1 36 resultados esperados para todas as etapas da educação básica: da educação infantil, passando pelo ensino fundamental até chegar ao ensino médio. Esse percurso formativo da educação obrigatória que abrange as idades dos quatro aos dezessete anos, deve lidar com os conhecimentos potencializadores das habilidades e competências necessárias para a inclusão do cidadão brasileiro na sociedade, de maneira a bem prepará-lo para a vida. A educação infantil é compreendida como a primeira etapa formativa do sujeito. Segundo o artigo 29 (BRASIL, 1996) A educação infantil, primeira etapa da educação básica, tem como finalidade o desenvolvimento integral da criança de até 5 (cinco) anos, em seus aspectos físico, psicológico, intelectual e social, complementando a ação da família e da comunidade Incluída, obrigatoriamente, no nosso sistema desde 2013 (BRASIL, 2013), compreendendo a formação de crianças de quatro a cinco anos de idade. O foco da educação infantil consiste na aprendizagem de estudantes com apoio de materiais concretos, de socialização entre os pares, bem como na iniciação à leitura e à alfabetização – sem a necessidade do efetivo letramento da criança (dependendo do sistema de ensino). Já o ensino fundamental, desde 2006 (BRASIL, 2006), passou a ser de nove anos, compreendendo crianças e adolescentes de seis a catorze anos. O foco na formação consiste no desenvolvimento da cidadania. De acordo com o artigo 32 da LDB (BRASIL,1996) Art. 32 O Ensino Fundamental obrigatório, com duração de 9 (nove) anos, gratuito na escola pública, iniciando-se aos 6 (seis) anos de idade, terá por objetivo a formação básica do cidadão, mediante: (Redação dada pela Lei nº 11.274, de 2006) I - o desenvolvimento da capacidade de aprender, tendo como meios básicos o pleno domínio da leitura, da escrita e do cálculo; II - a compreensão do ambiente natural e social, do sistema político, da tecnologia, das artes e dos valores em que se fundamenta a sociedade; III - o desenvolvimento da capacidade de aprendizagem, tendo em vista a aquisição de conhecimentos e habilidades e a formação de atitudes e valores; IV - o fortalecimento dos vínculos de família, dos laços de solidariedade humana e de tolerância recíproca em que se assenta a vida social. § 1º É facultado aos sistemas de ensino desdobrar o Ensino Fundamental em ciclos. http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2004-2006/2006/Lei/L11274.htm#art3 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2004-2006/2006/Lei/L11274.htm#art3 37 Diante do exposto, podemos perceber a importância do Ensino Fundamental para a formação do sujeito, uma vez que ela busca prepará-lo para sua inclusão na sociedade de modo autônomo. Para isso, focaliza os esforços do ensino- aprendizagem para o domínio da leitura, da escrita e do cálculo. Ademais, valoriza a compreensão das tecnologias, a formação ética e cidadã, assim como a busca por melhorias nas relações família-escola e escola-família. Não obstante a isso, sabemos que essa etapa educativa ainda traz consigo vulnerabilidades que repercutem dentro do sistema educacional traduzida em dificuldades de aprendizagem, abandono escolar, transições entre os anos dessa etapa: do último ano da educação infantil para o primeiro do ensino fundamental, do quinto ano do ensino fundamental para o sexto ano e assim por diante, entre outros fatores a serem discutidos ao longo do presente estudo. Ainda que tenha havido avanços no atendimento com a quase universalização da matrícula, a qualificação dos professores, a oferta do transporte, da merenda escolar, a distribuição de livros e materiais didáticos e, por vezes, o fardamento escolar, no que diz respeito à formação com qualidade para o alunado, esse ainda é um fator que necessita de muitos avanços, sendo o tema principal desse estudo. O ensino médio é a última etapa da educação básica e compreende a formação de jovens de quinze a dezessete anos. O foco desta etapa está na consolidação dos conhecimentos para a qualificação para o trabalho e desenvolvimento da cidadania. De acordo com o artigo 35 da LDB (BRASIL, 1996) Art. 35 O ensino médio, etapa final da educação básica, com duração mínima de três anos, terá como finalidades: I - a consolidação e o aprofundamento dos conhecimentos adquiridos no ensino fundamental, possibilitando o prosseguimento de estudos; II - a preparação básica para o trabalho e a cidadania do educando, para continuar aprendendo, de modo a ser capaz de se adaptar com flexibilidade a novas condições de ocupação ou aperfeiçoamento posteriores; III - o aprimoramento do educando como pessoa humana, incluindo a formação ética e o desenvolvimento da autonomia intelectual e do pensamento crítico; IV - a compreensão dos fundamentos científico-tecnológicos
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