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ENTRE LUTAS E CANÇÕES APROXIMAÇÃO DA PSICOLOGIA COM A ARTE DE RITA LEE

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE CATALÃO
UNIDADE ACADÊMICA DE BIOTECNOLOGIA
CURSO DE PSICOLOGIA
Candace Alcântara Guimarães
ENTRE LUTAS E CANÇÕES: APROXIMAÇÃO DA PSICOLOGIA COM A ARTE DE RITA LEE
CATALÃO
2022
Candace Alcântara Guimarães
ENTRE LUTAS E CANÇÕES: APROXIMAÇÃO DA PSICOLOGIA COM A ARTE DE RITA LEE
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à Unidade Acadêmica de Biotecnologia da Universidade Federal de Catalão, como parte dos requisitos para a obtenção do título de Bacharel em Psicologia.
Orientadora: Profa. Dra. Tânia Maia Barcelos
CATALÃO
2022
Resumo
Este trabalho tem como objetivo traçar relações entre a Arte e a Psicologia. Essa demanda surgiu durante a pandemia mundial da Covid-19, em 2020 e 2021, a partir da percepção da Arte como ferramenta essencial para a manutenção da saúde mental de várias pessoas, no período de isolamento ou distanciamento social. Buscamos na música, da cantora e compositora Rita Lee, baseadas em estudos de Vygotsky, dentre outros, caminhos para tentar compreender o potencial transformador da Arte e as possibilidades de reflexão e mudanças que essa aproximação produz em nós, mulheres e estudante de Psicologia. Após destacarmos aspectos significativos nas canções da compositora, especialmente, sobre as lutas das mulheres na sociedade atual, apontamos modos de intervenções na área de Psicologia que envolvem a Arte e o acolhimento de mulheres em espaços como Presídios e Organizações não governamentais. Utilizamos referências bibliográficas a respeito do tema proposto e trabalhamos com algumas canções da Música Popular Brasileira, buscando compreender sobre a importância da aproximação entre Psicologia e Arte nos processos de atuação e intervenção profissionais, sobretudo, com as mulheres. Os caminhos metodológicos foram traçados ao longo da escrita e orientados por percepções e afetações da experiência musical.
Palavras chaves: psicologia; arte; Rita Lee; mulheres. 
Abstract
The following work has the object to outline the potential relation between Art and Psychology. The research finds its demand during the surge of the Covid-19 and a worldwide pandemic scenario in 2020 and 2021, with the perception of Art as an essencial tool for mental health maintenance when facing social distancing or isolation. We sought in Brazilian singer and songwriter Rita Lee’s music works, based in Vygotsky’s studies, ways to understand the potential transformation of Art. Herewith, we propose the possibilities of reflection and change that such approach promote in us – women and Psychology students. Afterwards, we highlight significant aspects in Rita Lee’s music, specially the fight of women in our current Society, pointing examples of ways to intervene using Art in the psychological care of women in enviornments as Female Prisons and Non-Governmental Organizations. We used relevant bibliographical references in face of the foresaid theme and also researched Brazilian Popular Music, trying to search for consciousness on the harmony between Psychology and Art in action and professional intervention processes, predominantly regarding women. The work also expands on the methodology through the research steps, and is also oriented by perception and affects of the musical experience. 
Key words: psychology; art; Rita Lee; women.
Introdução
O presente trabalho faz aproximações entre a Arte e o campo da Saúde mental, tomando como pontos de partida algumas inquietações propiciadas pela Pandemia Mundial da Covid-19. Nesse momento, principalmente no início da pandemia, houve a necessidade de fazermos distanciamento ou isolamento social, tendo em vista conter a propagação do vírus SARS-CoV-2. As medidas sanitárias exigidas levaram ao fechamento temporário de locais de convivência e lazer, fazendo com que as famílias permanecessem em casa, saindo apenas quando necessário.
No caso das pessoas contaminadas com o vírus, popularmente conhecido como Coronavírus, houve a necessidade de isolamento social, o qual exige um distanciamento mais intenso das pessoas por vários dias. Desse modo, a primeira orientação da Organização Mundial da Saúde (OMS) foi a de que elas permanecessem dentro de casa o maior tempo possível, procurando atendimento médico apenas se os sintomas agravassem. Depois de vários meses de pandemia, estudos e pesquisas, a orientação era para que as pessoas buscassem cuidados médicos logo no início do surgimento dos sintomas. 
Nesse contexto, o elevado número de mortes e as complicações decorrentes da doença geraram um cenário assustador. Muitos sofreram medo, pânico, lutos pelas perdas de entes queridos, de seus empregos e planos não concretizados; luto pela perda das formas de viver que tiveram de ser repensadas e adaptadas à nova realidade pandêmica. 
Como dito por Dimenstein, Simoni e Londero (2020), nós humanos, que sustentamos nossa existência por meio das relações sociais, encontramos uma demanda de novas formas de laços e reordenação dos pactos sociais vigentes até então. O vírus obrigou as massas a se recolherem e impôs um ritmo diferente, descompassado, em uma sociedade capitalista, que exige constante produtividade. Para os autores, a nossa maior ameaça era a possibilidade de enlouquecimento frente ao distanciamento físico, às exigências de cumprimento das medidas de proteção, à falta de perspectiva de vacinas no início e incertezas em relação ao futuro pós pandêmico. 
Em função dos impactos da pandemia, surgiram novas ferramentas de comunicação, expressão e entretenimento. A internet e os dispositivos digitais foram de grande relevância nesse momento, visto que propiciaram (a uma parcela da população que possui acesso a tais recursos) meios remotos de manutenção das atividades, como o trabalho, os estudos, o lazer e até mesmo as compras de materiais básicos de alimentação, vestuário etc.
Nesse período, o que mais me chamou atenção foi a importância das atividades artísticas para a nossa sobrevivência, como a música, a literatura, o teatro, dentre outras. Percebi que a Arte ocupou, de forma significativa, os meios digitais e possibilitou mecanismos de enfrentamento dos momentos de angústia do distanciamento social, contribuindo para a criação de momentos de lazer, fuga, expressão do sujeito e formas de interação com o outro. Exemplos disso foram as lives musicais que substituíram os shows presenciais e as plataformas de filmes online para suprir os cinemas fechados durante o período mais contagioso da pandemia.
Nesse sentido, podemos afirmar que a produção e o consumo da Arte foram fundamentais para a nossa saúde mental, permitindo outras formas de viver e interagir com os outros e com os nossos corpos. A partir dessa constatação, considero pertinente perguntar neste Trabalho de Conclusão de Curso (TCC): como a Arte pode contribuir com o campo da saúde mental em momentos de extremas dificuldades? Como fazer aproximações entre a Psicologia e a Arte? As manifestações artísticas auxiliam as práticas dos/as psicólogos/as na promoção de saúde mental? 
É nessa direção que este TCC caminha: de pensar e discutir as aproximações entre a Arte e a saúde mental, entendendo que a formação em Psicologia necessita ser ampla e aberta para outras áreas do conhecimento. Neste trabalho, escolhemos pensar a saúde mental, a partir da música, por ser a Arte mais próxima do nosso cotidiano. 
A música me chama a atenção com suas letras críticas que chocam e brincam com paradigmas e imposições sociais. Gosto do rock nacional, especialmente das composições de Rita Lee, artista que, como outros da sua geração, lutou contra as censuras morais e políticas durante a ditadura militar brasileira. Algumas letras dessa compositora criticam valores da nossa época, brincando, explicitamente, com tabus e temas considerados proibidos. Outras letras criticam o papel que se espera das mulheres na sociedade e, com bom humor, abordam questões relacionadas com a sexualidade e o feminismo. Considero que Rita Lee revolucionou, de alguma maneira, o rock nacional emostrou que a música é uma importante ferramenta para a problematização de muitos temas significativos para várias áreas do conhecimento, no nosso caso a Psicologia, que estuda a subjetividade e seus processos de constituição históricos e culturais.
Aproximações com Rita Lee
Rita Lee Jones nasceu em 31 de dezembro de 1947, na cidade de São Paulo; passou a infância e adolescência em um casarão na rua Joaquim Távora, com 4 irmãs mais velhas (Balú, Carú, Mary Lee e Virgínia Lee), sua mãe Chesa e seu pai Charles. Em sua autobiografia, Rita Lee (2016) relata que, desde a infância, demonstrava muita criatividade e apresentava esquetes variados com as irmãs no porão de casa. 
A artista iniciou sua carreira musical cantando com um pianista, Túlio, e outra garota, em apresentações semanais no auditório da Folha de S. Paulo. Após a morte de Túlio, que ocorreu em um acidente, e inspirada pelos Beatles, Rita montou um quarteto de garotas no Colégio denominado Teenage Singers. Compunham o quarteto: Jean Ellen (tecladista), Beatrice (baixista), Suely (guitarrista) e Rita (baterista), utilizando instrumentos emprestados. Segundo Rita Lee (2016), elas cantavam bem, mas tocavam mal. 
Durante sua trajetória, Rita Lee, na saga de reforçar que “mulher também sabe fazer rock” (LEE, 2016, p. 59), juntamente com as Teenage Singers, encontraram os Wooden Faces, uma banda de garotos que cantavam mal, mas tocavam bem. Decidiram, então, unir as bandas, formando um só grupo que não durou muito tempo. Do grupo, sobraram apenas Rita, Arnaldo e Sérgio, trio primeiramente batizado como Os Bruxos, nome que, posteriormente, foi substituído por Os Mutantes.
Buscando inovações, nem sempre bem aceitas, Rita Lee (2016) relata em sua autobiografia que as vaias recebidas em um festival de Música Popular Brasileira (MPB) eram uma honra, uma vez que os Mutantes eram “(...) tudo que os puristas escravocratas do violão e banquinho da MPB repudiavam como imperialismo colonizador” (LEE, 2016, p. 71). Nesse cenário da MPB da década de 1960, Rita se define como “(...) uma ET caipira que entrou de gaiata na festa dos sisudos mpbistas que se levavam demais a sério” (LEE, 2016, p. 73).[footnoteRef:1] [1: Rita Lee denomina puristas escravocratas do violão com o banquinho, os artistas da Bossa Nova que criticavam o uso da guitarra elétrica na MPB, uma vez que os instrumentos eletrônicos eram importados de países estrangeiros, como os EUA (LEE, 2016).] 
A banda dos Mutantes não chegou a fazer grande sucesso na época e, devido aos desentendimentos entre seus membros, logo acabou. Após esse episódio, Rita foi convidada por André Midani, da gravadora Philips, a iniciar uma carreira solo. Mais tarde, os Mutantes tentaram retomar a banda, porém Rita foi expulsa por não ter “calibre como instrumentista” (LEE, 2016, p. 113) e iniciou a banda Rita Lee & Tutti Frutti, sempre lutando por espaço no cenário majoritariamente masculino do Rock. “Eu queria provar a mim mesma que rock também se fazia com útero, ovários e sem sotaque feminista clichê” (LEE, 2016, p. 127). 
Durante a ditadura militar, Rita Lee foi testemunha em uma audiência contra um policial que matou um fã durante uma apresentação dos Mutantes. Três dias depois da audiência, policiais entram em sua casa procurando por cannabis. Como Rita estava grávida e não havia drogas dentro de casa, os policiais plantaram a droga no meio de seus pertences e a levaram para o Departamento Estadual de Investigações Criminais (Deic), onde foi presa grávida (LEE, 2016). Ela passou uma semana no Deic e depois foi transferida para o Hipódromo, utilizado como presídio até 1995. Ficou um mês e meio nesse lugar, onde tocava violão e cantava com suas companheiras de cela. Quando Rita saiu da prisão, seguiu sua carreira com Roberto de Carvalho, seu companheiro até hoje e pai de seus filhos. 
Rita Lee Jones tornou-se a mulher que mais vendeu discos no Brasil (SANTOS, 2013) e dividiu a opinião dos críticos. Para o jornalista Aramis Millarch (1991), Rita é esfuziante e representa alegria, deboche e sensualidade, conquistando o público infanto-juvenil com sua informalidade, bom humor e sátira. O jornalista, em 1976, a descreveu como uma superstar do rock tupiniquim que lota estádios, auditórios e consegue transmitir, em suas composições, comunicabilidade, ternura e alegria (MILLARCH, 1976). Segundo Millarch (1989), “assim é Rita: criativa, irreverente, inteligente. Tem muita gente cuja aposentadoria faria muito bem. Rita, ao contrário, abriria uma lacuna difícil de preencher. Afinal ela significa vida inteligente no rock brasileiro”[footnoteRef:2]. [2: Utilizamos textos do crítico musical e jornalista Aramis Millarch escritos, originalmente, no Estado do Paraná e, posteriormente, transcritos no blog Tabloide Digital (https://www.millarch.org) que tem por objetivo ser um acervo digital dos textos de Millarch idealizado por seu filho Francisco Millarch.] 
Segundo Okky de Souza (apud COSTA, 2016), Rita Lee introduz o rock no Brasil com um estilo bem-humorado e amistoso, quebrando o estereótipo do roqueiro agressivo. Para ele, a roqueira mostra que não precisa copiar modelos estrangeiros e renova a antiga MPB, que há tempos não lançava nada novo. Nesse mesmo sentido, Costa afirma que “(...) a imagem de Rita Lee como inovadora se dá em oposição à dos cantores tradicionais da MPB, que estariam ‘na mesmice’ e, atrelada a esse lado inovador, vem a imagem da descontração, alegria e, de certa forma, de deboche” (COSTA, 2016, n.p).
Em contraposição a esses críticos, José Ramos Tinhorão (2011) recusou escrever sobre Rita Lee. “Eu não quero escrever sobre esse negócio de rock, esses treco e tal. Pega o Tarik de Souza para escrever sobre Rita Lee e essas bostas de rock e eu escrevo só sobre disco brasileiro” (TINHORÃO, 2011). Essa posição foi criticada por Airenti (2011) que entendeu a visão de Tinhorão nesse sentido: “(...) a produção musical deveria manter-se nos trilhos da tradição brasileira e popular, não sendo admitido qualquer traço dissonante” (ARIENTI, 2011, p. 85). Para ele, Tinhorão excluía gêneros e se negava a escrever sobre algumas produções, como as de Rita Lee. 
Tárik de Souza (1979 apud RODRIGUES, 2019, n.p), crítico que escreveu sobre Rita no lugar de Tinhorão, compara as músicas dela a jingles colantes, afirmando que sua música “(...) nada mais faz do que bulir travessamente na mitologia do show-bizz como uma retardatária e deslumbrada Alice no país das maravilhas (...)” (RODRIGUES, 2019, n.p).[footnoteRef:3] [3: Crítica publicada no Jornal da República, retirada do site https://medium.com/ouvindo-coisas/a-segunda-vez-que-rita-lee-arrombou-a-festa-40065d98263a 
] 
Em entrevista com Geraldo Mayrink (1981, n.p)[footnoteRef:4] Rita Lee fala sobre as críticas recebidas até então: “(...) reclamavam por eu ser mulher, por ser gringa, por ter olhos azuis, por me chamar Jones, por ser roqueira (...). Me tratavam como peste, como inimiga, como um perigo (...)”. Apesar dos ataques, ela quis continuar e utilizou as críticas como impulso. Segundo Rita, as pessoas não deixam de ir aos shows ou comprar discos em decorrência das críticas ruins, o que a incomoda nas críticas são os delatores disfarçados de críticos. [4: Entrevista retirada do site https://geraldomayrink.com.br, projeto que visa digitar e tornar público o acervo de Geraldo Mayrink. Link da entrevista: https://geraldomayrink.com.br/entrevista/rita-lee-entrevista/
] 
O Artur da Távola. Eu não gosto dele, nunca gostei, desde que ele fazia parte dos grupos de trabalho da Polygram. Ele achava que eu devia ser séria, fazer uma carreira. Eu levava na brincadeira e ele ficava puto. Agora escreve no Globo umas coisas horríveis. Faz um bilhete para a Baby Consuelo e o Pepeu, cheio de conceitos morais, dedando o baseado. Quando o caso pegou fogo e foi parar em Brasília, pois a música O mal é o que sai da boca do homem estava para ser proibida, o juiz tinha na mesa a crítica do Artur da Távola (MAYRINK, 1981, n.p).
Rita Lee seguiu e consolidou a carreira com seu parceiro,na música e na vida, Roberto de Carvalho, até 2013, quando ela se aposentou dos palcos. De acordo com uma reportagem da Folha de S. Paulo (RITA, 2012)[footnoteRef:5], a cantora postou a seguinte declaração em seu perfil oficial na rede social Twitter. “Aposento-me de shows, da música nunca. Quem me viu ontem pode bem atestar minha fragilidade física. Saio de cena absolutamente paixonada cocês”. [5: Disponível em: https://f5.folha.uol.com.br/celebridades/1037898-aos-67-rita-lee-anuncia-que-vai-se-aposentar-dos-palcos.shtml. Acesso em: 13 dez. 2021.] 
Após se aposentar dos palcos, Rita Lee se dedicou em lançar livros infantis e autobiográficos e continua cantando ao lado de Roberto de Carvalho (MIRANDA, 2020). Além disso, em 2021, ela lançou uma megaexposição em sua homenagem, no Museu da Imagem e do Som, em São Paulo, e um novo single, intitulado Change, com Roberto de Carvalho e Gui Boratto (CRUZ, 2021).
Em maio de 2021, a cantora informou em seu Instagram oficial, o diagnóstico de um tumor primário no pulmão esquerdo e passava por tratamentos com imunoterapia e radioterapia (COELHO, 2021). Seu marido, Roberto de Carvalho, declarou ao site Aventuras na História que já existiam resultados positivos às intervenções médicas. Apesar do diagnóstico, Rita Lee continua positiva em relação à doença e disposta a enfrentar seu quadro de saúde. Em 2022, a informação divulgada na mídia é a de que Rita Lee continua em tratamento na luta contra o câncer (ZANATTA, 2022).
Após essa primeira aproximação com a história de vida e a carreira musical da cantora e compositora Rita Lee, seguimos a escrita deste trabalho, destacando duas composições que nos despertam a atenção e apontam questões importantes na interface com estudos e práticas em Psicologia no contexto da atualidade, especialmente, no trabalho com as mulheres.
Canções de Rita: não provoque, minha força não é bruta 
A primeira letra de Rita que destaco é Pagu, escrita em parceria com Zélia Duncan, em 2000, no álbum 3001. O título da canção traz Patrícia Galvão (1910-1952), conhecida popularmente como “Pagu”, uma escritora e poetisa condenada à prisão pela militância comunista que foi torturada e descrita pela mídia como uma perigosa delinquente (ROCHA; LANA, 2018)[footnoteRef:6]. Nos versos da canção Pagu, Rita Lee afirma: [6: Pagu tornou-se uma importante referência feminista no Brasil por seu ativismo político, pela beleza, determinação e, também por sua escrita.] 
Mexo, remexo na inquisição
Só quem já morreu na fogueira
Sabe o que é ser carvão
Eu sou pau pra toda obra
Deus dá asas a minha cobra
Minha força não é bruta
Não sou freira, nem sou puta
Porque nem toda feiticeira é corcunda
Nem toda brasileira é bunda
Meu peito não é de silicone
Sou mais macho que muito homem
Sou rainha do meu tanque
Sou Pagu indignada no palanque
Fama de porra louca, tudo bem
Minha mãe é Maria ninguém
Não sou atriz, modelo, dançarina
Meu buraco é mais em cima
(PAGU, 2000, n.p)
Os versos dessa canção são fortes, intensos e nos levam para a Inquisição[footnoteRef:7]. “Mexo e remexo”. Esperava uma letra divertida, somente. Mas “só quem já morreu na fogueira sabe o que é ser carvão”. Sentir no corpo e na pele feridas que queimam. Pagu conhece suas dores. Como ela mesma diz, [7: Momento histórico da idade média em que a igreja católica queimava pessoas vivas, principalmente mulheres, a fim de combater o que considerava bruxaria, heresia e/ou blasfêmia. 
] 
Estou dependurada na parede feita um quadro. 
Ninguém me segurou pelos cabelos.
Puseram um prego em meu coração para que eu não me mova
(...)
Estou com tanto frio, e não tenho ninguém (...) 
Nem a presença dos corvos. 
(SOLANGE SOHL, 1948, apud JR, 2002, p. 152-153)[footnoteRef:8] [8: Pseudônimo de Patrícia Galvão, a Pagu. ] 
Assim como Pagu, a canção de Rita Lee que leva seu nome é atravessada por indignações: “Sou pau pra toda obra” e “Deus dá asas a minha cobra”. Jogando com os sentidos das palavras (pau, mulher, cobra), Rita Lee brinca com aquilo que, supostamente, faltaria às mulheres, consideradas frágeis e não contam com a força bruta; não são freiras, putas, corcundas e nem são somente bunda. Nem uma, nem outra, sem rótulos ou representações definidas ou pré-determinadas. Como diz na canção, o buraco não é mais embaixo, mas mais em cima.
Outra canção de Rita Lee que trago é Cor de rosa choque (COR,1982), lançada em 1982, no álbum Rita Lee e Roberto de Carvalho. 
Nas duas faces de Eva
A bela e a fera
Um certo sorriso
De quem nada quer
Sexo frágil
Não foge à luta
E nem só de cama
Vive a mulher
Por isso, não provoque
É cor de rosa choque
Não provoque
É cor de rosa choque
Não provoque
É cor de rosa choque
Por isso, não provoque
É cor de rosa choque
Mulher é bicho esquisito
Todo o mês sangra
Um sexto sentido
Maior que a razão
(COR, 1982, n.p)
Eva, Bela e Fera. Duas faces. Gata borralheira, princesa, bicho esquisito. Rosa choque. Não provoque! Apesar da letra forte e intensa, a música é cantada suavemente na voz de Rita Lee que brinca com o público, sorrindo e fazendo gestos e caretas. 
Nas duas canções escolhidas acima, me chama a atenção o modo como Rita Lee trata as mulheres, não as colocando em caixas ou modelos de representação dados a priori, mas sugerindo versos que ajudam a pensar, por meio da Arte, algumas possibilidades de luta das mulheres em nosso país.
Aspectos das Lutas das mulheres no Brasil
Historicamente, mesmo antes do feminismo surgir como um movimento organizado, houve muitas lutas das mulheres em nosso país. Dentre elas, citamos: a conquista do direito ao voto, à educação, ao trabalho remunerado, aos direitos trabalhistas, ao uso das creches para as crianças enquanto trabalham e de pílulas anticoncepcionais. No ano de 2006 foi criada a Lei Maria da Penha (Lei nº. 11.340 de 07 de agosto de 2006) que trata especificamente da violência doméstica contra as mulheres, seja física, psicológica, sexual, patrimonial ou moral. 
Nos anos de 1970, contexto em que Rita Lee aparece no cenário musical, as principais questões em torno das lutas das mulheres estavam relacionadas com o fim da repressão, imposta pela Ditadura Militar, e da conquista pela liberdade. Na década de 60, com a criação e comercialização da pílula anticoncepcional, outras formas de liberdade eram reivindicadas. 
O Brasil vivenciava o momento da contracultura, definido por Capellari (2007) como um conjunto de manifestações de repúdio ao modo de viver predominante. Capellari (2007) salienta que, no período ditatorial, que proibia críticas ao governo, essas manifestações se davam por intermédio das artes plásticas, literatura e da música. 
Segundo Santos (2019), havia, através da censura, a tentativa de se manter valores e discursos conservadores. Nesse contexto, o rock brasileiro dos anos 70 se opunha ao sistema, defendendo a liberdade individual. Rita Lee, Raul Seixas, Novos Baianos, dentre outros artistas da época, utilizavam a Arte e a cultura com o intuito de contestar os discursos impostos. 
Conforme Santos (2019), é inegável a relação da atuação das mulheres na música brasileira com o processo de emancipação feminina. Mulheres que, assim como Rita, eram responsáveis pela elaboração completa do trabalho artístico e evocavam, através da Arte, o prazer feminino.
Podemos afirmar que o trabalho crítico e polêmico de Rita Lee são exemplos de como a música é também um campo de resistência às imposições do sistema dominante. Em um contexto em que as mulheres não poderiam ocupar espaços expressivos de poder na sociedade e as práticas do feminismo não tinham a força que assumem, atualmente, a postura e as canções de Rita Lee são significativas.
Como afirma Pimentel (2003), 
O feminismo foi se implantando assim através de mulheres que, artistas ou não, desautorizavam expectativas de comportamento e fazeres públicos, preparando o avanço legal e organizado que só mais adiante poderia vir a ser feito. (...) Não foram mulheres-bandeiras de discursos claros, não foram mulheres-discursos associadas a uma proposta, mas mulheres que seexpuseram e ousaram experimentar. A arte como veículo de um fazer que se construía (PIMENTAL, 2003, p. 12). 
Nesse sentido, a autora considera que o feminismo e a sexualidade de Rita Lee não se expressavam por meio de uma política feminista explícita, mas como viés político contracultural em um período de forte conservadorismo. A luta feminista no Brasil teve que se fazer, ao mesmo tempo, contra a opressão capitalista e contra a opressão patriarcal. Diferente do início do feminismo, em países como a França, que teve como “inimigo principal” o patriarcado, no Brasil havia uma dupla militância para combater os dois tipos de opressão (ANETTE GOLDBERG, 1974, apud PEDRO, 2006). Lutas contra a opressão capitalista e contra a opressão patriarcal. 
“Questões como homossexualidade e feminismo eram ignoradas como bandeira porque em seu código, o hedonismo era a primeira lei e essa realidade possibilitava todas as experiências, tanto sexuais, quanto comportamentais” (PIMENTEL, 2003, p. 17).
De acordo com Pimentel (2003), a luta de Rita Lee se faz contra o comportamento convencional, os dogmas e as hierarquias sociais. Seu instrumento de luta é a reivindicação de seu corpo, suas roupas e sua performance. Rita organiza um discurso que escreve sobre seu corpo, tornando-se assim um corpo-escritura.
“A performance é show-business, discurso político, plataforma teatral. Casamento, desejos e sexo dissociados frente à TV, destituídos de seus valores institucionais. Transgressões que emitem, no discurso das imagens, sua ambivalência rumo a novas possibilidades” (PIMENTEL, 2003, p. 18-19).
As transgressões da cantora e compositora Rita Lee reverberaram durante anos e ainda reverberam na atualidade, principalmente, em um cenário político reacionário em que cresce uma onda conservadora (ALMEIDA, 2019) e fortalece práticas de machismo, autoritarismos, violências e discriminações de todos os grupos minoritários[footnoteRef:9]. [9: Referimo-nos, aqui, ao fortalecimento dos discursos conservadores no Brasil em função de um governo de extrema direita instaurado em 2018, liderado por Jair Messias Bolsonaro (ALMEIDA, 2019).] 
Compreendemos que o trabalho de Rita Lee é bem-vindo, nesse contexto, e auxilia a reforçar discursos/práticas que fortalecem as lutas das mulheres e, também a atuação dos/as psicólogos/as nesse campo tão desafiador. Para avançar nas reflexões propostas consideramos importante trazer contribuições de alguns autores da Psicologia.
Contribuições de Vygotsky sobre a Arte e a Psicologia 
A aproximação entre Arte e Psicologia nos levou a escolher Vygostsky, pesquisador que nasceu na Bielo-Rússia, em 1896, e faleceu em 1934. O autor iniciou sua carreira após a Revolução Russa, no ano de 1917, e apresentou contribuições importantes para os estudos da pedagogia, dos processos psicológicos, do desenvolvimento, da aprendizagem, dentre outras áreas do conhecimento (COELHO; PISONI, 2012). 
Vygostsky parte de uma visão materialista, histórica e dialética, fundamentada no marxismo que concebe os indivíduos de forma ativa, sócio-cultural e histórica. Nessa concepção, os homens e as mulheres, ao produzirem a vida material, modificam a natureza e a si próprios, sob condições materiais já existentes. 
Como afirma Bock, Gonçalves e Furtado (2007), de forma resumida, na concepção materialista histórica e dialética, a realidade material das condições concretas existe independe das ideias, do pensamento ou da razão. Há contradições fundamentais inseridas na cultura e nos indivíduos. Tais contradições geram superações que são a base de um movimento de constante transformação da realidade. Só podemos compreender a sociedade e a história a partir de uma concepção materialista e dialética. A história não é constante ou imutável, suas transformações são resultantes da ação dos homens e mulheres sobre a realidade. Assim, o sujeito é constituído e constituinte, produto e produtor do contexto social no qual está inserido (BOCK; GONÇALVES; FURTADO 2007). 
Nessa perspectiva, a Arte seria um campo importante da produção cultural e de subjetividades. Para Vygotsky (1999 apud BARROCO; SUPERTI, 2014), a Arte, em constante relação com a realidade objetiva, somada à ação criativa humana, é um produto cultural mediador entre o indivíduo e seu meio. A Arte nos ajuda a compreender melhor a cultura, a sociedade e as relações sociais de determinada época. Segundo Barroco e Superti (2014), a Arte como produção cultural, que carrega um legado humano, possibilita vivenciar experiências alheias, enriquecendo o repertório do sujeito, sua visão de mundo e a humanidade. 
A arte é o social em nós, e, se o seu efeito se processa em um indivíduo isolado, isto não significa, de maneira nenhuma, que as suas raízes e essência sejam individuais [...] O social existe até onde há apenas um homem e as suas emoções pessoais [...] A refundição das emoções fora de nós realiza-se por força de um sentimento social que foi objetivado, levado para fora de nós, materializado e fixado nos objetos externos da arte, que se tornaram instrumento da sociedade (VYGOSTKY, 1999, p. 315, apud BARROCO; SUPERTI, 2014, p. 24).
A partir dos estudos de Vygostsky, Maheire (2003) argumenta que a produção artística seria uma objetivação de uma subjetividade singular inserida em um contexto, na qual o produto dessa criação carregaria o legado da humanidade em seu interior. “Nesta perspectiva, toda obra é domínio da atividade de todos os homens, destacando um caráter coletivo em qualquer invenção singular” (MAHEIRE, 2003, p. 152).
Maheirie (2003) aponta duas dimensões do sujeito: subjetivar e objetivar. O sujeito é objetividade enquanto realidade física e ação; é subjetividade pela possibilidade de transcender aquilo que é objetivado. A subjetividade permite a relação com a objetividade, produzindo sentidos a ela. Assim, o produto da criação humana dialetiza essa relação objetividade/subjetividade, possibilitando aos sujeitos, a produção constante de novas significações, a partir da construção, desconstrução e reconstrução de sentidos singulares e coletivos em contextos concretos.
Essa visão a respeito da Arte leva a compreender que a produção cultural e o momento histórico em que ela é criada mantém uma relação clara entre si. Por isso, torna-se fundamental perceber a Arte de forma contextualizada, expressando ideias, sensações, visões de mundos construídos em espaços-tempos específicos. 
Neste trabalho, essa visão da Arte nos faz perceber as canções de Rita Lee como possibilidades de expressão de sentidos e modos de pensar e agir de uma geração, de um tempo de lutas macro e micro políticas das mulheres em nosso país. Lutas por respeito, igualdade e dignidade de vida. 
Lutas de Lee e nossas de cada dia 
Conforme Santos (2019), mesmo que a sociedade brasileira tenha passado por diversas transformações na segunda metade do século XX, ampliando os direitos das mulheres, havia uma anulação do seu desejo e uma expectativa social em relação aos seus papéis desempenhados - ser mãe, esposa e dona de casa. Tal ideal de feminilidade, pautada na doçura, fragilidade e submissão, interessava à manutenção do status quo, uma vez que se interditava a potência erótica das mulheres.
Santos (2019) afirma que essa expectativa se torna frustrada no discurso insubordinado de Rita Lee, que trazia/traz uma mulher disposta a ultrapassar limites e desafiar a moral; uma mulher que se permite reafirmar seus desejos, conhecer o próprio corpo e fazer dele um instrumento e não um objeto do outro. Isso fica claro na canção Chega Mais (lançada no álbum Rita Lee em 1979) (CHEGA, 1979), a qual para Santos (2019, p. 76) “reside em, a partir da contestação do papel sociocultural da mulher, permitir que ela ultrapasse o interdito do prazer físico, lançando- se à experiência erótica”. 
A partir da leitura de Santos (2019) defendemos, neste trabalho, que a Arte de Rita Lee pode ser percebida com um instrumento cultural contestador da moralidade dominante que guia caminhos no sentido de reestabelecer o feminino no imagináriosociocultural. Ao cantar abertamente sobre o prazer feminino, a compositora mostra diferentes faces do feminino, revisando e reivindicando outros lugares sociais.
Conforme Teixeira e Pawloski (2012), a história das mulheres brasileiras na música – e, consequentemente, a de Rita Lee – aponta transformações da condição social feminina e das formas de conscientização significativas no cenário musical brasileiro. Ao assumirem o espaço da música, as mulheres passam a relatar seus desejos silenciados, seus pontos de vista e suas identidades. 
A rebeldia e a busca por igualdade de direitos e de decisões da juventude da década de 60 (séc. XX) marcam também uma mudança no comportamento da mulher, que passa a assumir sua voz num discurso de liberdade e autoafirmação presente em diferentes manifestações culturais. Entre os fatores que promovem uma ruptura com relação à identidade feminina traçada até então, podese destacar o impacto do movimento feminista, que surgiu na década de 60 (séc. XX), e o crescimento do rock, não apenas como gênero musical, mas também como movimento social e cultural que contestava a organização social e política, a sexualidade, os costumes, a moral e a estética (TEIXEIRA; PAWLOSKI, 2012, p. 99).
A roqueira Rita Lee, em suas composições, fala de tabus impostos às mulheres e choca a sociedade com suas canções, algumas chegando a ser censuradas no contexto da ditatura militar. Com sua Arte, a cantora contribui para novas significações das mulheres, outras relações e compreensões da realidade social. 
Podemos afirmar que a Arte de Rita Lee pode ser um instrumento significativo para diversas áreas do conhecimento, inclusive a Psicologia, que tem como objeto de estudo as formas de expressão da subjetividade nos contextos socioculturais em que são produzidas. A roqueira apresenta visões de mundo, suas experiências e concepções através de sua música que, quando ouvida, gera reflexões e amplia em outras mulheres as formas de se relacionar e ressignificar a realidade. 
Percebemos isso em diversos versos das canções de Rita Lee, sejam nos que já citamos aqui, sejam em outros nos quais a artista coloca em questionamento a feminilidade e a masculinidade dominantes. No verso “Dondoca é uma espécie em extinção” (COR, 1982)[footnoteRef:10], por exemplo, Rita demonstra como o padrão de feminilidade (dondoca) já não servia a muitas mulheres há vários anos. Essa expressão estava em processo de extinção para as mulheres que recusavam esse rótulo e questionavam os papéis impostos durante séculos, quebrando expectativas e estereótipos necessários. [10: Verso da canção Cor de rosa choque. O termo dondoca é popularmente utilizado para se referir a uma mulher de boa situação financeira, ociosa, que se preocupa com coisas fúteis. Também pode significar mulher que se enfeita em excesso (DONDOCA, 2022, n.p.).] 
Arte, Psicologia e Mulheres: possibilidades de intervenção 
Quase chegando ao fim deste trabalho, perguntamos como a Arte pode contribuir para os estudos, as pesquisas e as intervenções no campo da Psicologia. Para refletir sobre essa questão, trazemos autores que se baseiam em Vygotsky e, também, a contribuição de Nise da Silveira sobre a Arte no campo da saúde mental. 
Para Souza, Dugnani e Reis (2018), a Arte e a Psicologia são dialéticas, uma vez que a Arte, sendo uma linguagem que promove emoções e reflexões, demonstra uma dimensão humanizadora com potencial para alterar o sujeito em suas formas de ser, pensar e agir, promovendo a consciência de si sobre o mundo. Ao entrar em contato com a Arte, o repertório do sujeito é ampliado pela possiblidade de experienciar situações não vividas, gerando novos modos de significar a realidade e se relacionar com ela. Como afirmam as autoras, 
É possível afirmar que a obra de arte, para atuar como instrumento psicológico, precisa confundir, paralisar, dificultar a percepção da realidade, produzir estranhamento. Deve também fazer emergir as emoções contraditórias, dificultando a atribuição de significados e a configuração de sentidos, colocando o sujeito em um estado de contemplação e reflexão. A vivência da contradição é o que promove novas significações, superando a condição anterior de sentimento e pensamento, para, incorporando-os, construir novos nexos ou relações e ampliar a compreensão da realidade (SOUZA; DUGNANI; REIS, 2018, p. 380).
Nesse sentido, a aproximação com a Arte auxilia a Psicologia a lidar com outras formas de linguagem e expressão, ampliando a sua atuação, na medida em que gera contradições entre o que é produzido, o sujeito que a percebe e interage com ela e, também, o/a profissional Psi. Como exemplo, citamos as contribuições de Nise da Silveira (1905-1999), psiquiatra brasileira que trabalhou intensamente com a Arte e os pacientes psiquiátricos na segunda metade do século XX, no Rio de Janeiro. 
Nise da Silveira discordava dos métodos agressivos adotados pelos profissionais de saúde mental da sua época (como o eletrochoque e a lobotomia) e propôs atividades de terapia ocupacional para seus pacientes, por meio de ateliês de pintura e modelagem, possibilitando novas formas de tratamento psiquiátrico. 
Para Nise da Silveira (1966 apud OLIVEIRA; JÚNIOR; VIEIRA-SILVA, 2017), a Arte mostrava-se como um recurso terapêutico que propiciava condições para a expressão de ideias e emoções dos/as pacientes. Seu trabalho pautava em um tripé terapêutico, no qual a afetividade, a atividade e a liberdade seriam princípios norteadores para a reorganização psíquica e a reinserção social. Para Silveira (1966)[footnoteRef:11], a atividade é caracterizada como o exercício livre de expressar emoções e elaborar afetos. Segundo ela, atividades rotineiras, como trabalhos domésticos, industriais ou burocráticos, são canais muito estreitos para possibilitar esse escoamento às reativações do inconsciente. [11: Trecho retirado de seu artigo 20 anos de Terapêutica Ocupacional em Engenho de Dentro publicado em 1966 na Revista Brasileira de Saúde Mental. Disponível em: http://www.ccms.saude.gov.br/museuvivo/nise.php. Acesso em: 21 mar. 2022.
] 
Um dos caminhos menos difíceis que encontrei para o acesso ao mundo interno do esquizofrênico foi dar-lhe a oportunidade de desenhar, pintar ou modelar com toda liberdade. Nas imagens assim configuradas teremos autoretratos da situação psíquica, imagens muitas vezes fragmentadas, extravagantes, mas que ficam aprisionadas no papel, tela ou barro. Poderemos sempre voltar a estudá-las (SILVEIRA, 1966, n.p).
Devido à excessiva produção artístico-científica nos ateliês terapêuticos, Nise da Silveira funda em 1952 o Museu de Imagens do Inconsciente que, além de dar visibilidade às obras, é considerado um Museu Vivo, por possuir em seu interior um ateliê onde os artistas/expositores produzem as obras (OLIVEIRA; JÚNIOR; VIEIRA-SILVA, 2017). O trabalho de Nise foi continuado por uma equipe de profissionais de forma que, atualmente, o museu e o ateliê se encontram em funcionamento, 70 anos após sua inauguração.[footnoteRef:12] [12: O museu está localizado no bairro Engenho de Dentro, no Rio de Janeiro. Em 2003, o museu foi tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN). Atualmente se encontra em funcionamento e aberto ao público (O MUSEU, 2022a). ] 
Na figura 1 podemos ver o ateliê terapêutico que se encontra no interior do Museu. Trouxemos também, na figura 2 e figura 3, exemplos de obras confeccionadas por pacientes no ateliê.
Figura 1 - Ateliê Terapêutico
Fonte: (O MUSEU, 2022a).
Figura 2 - Obra 1
Fonte: (O MUSEU, 2022b).
Figura 3 - Obra 2
Fonte: (O MUSEU, 2022b).
O trabalho de Nise da Silveira é reconhecido internacionalmente por sua forma humanizada de tratar os pacientes e, neste TCC, nos auxilia a refletir sobre a importância da Arte para a área de saúde mental e a Psicologia. 
Além do relevante trabalho de Nise da Silveira, apontamos aqui, também, as contribuições dos significativos estudos de gênero para a Psicologia na atualidade. Como demonstram Fagundeset al. (2009), os estudos de gênero são categorias sociais que questionam os enquadramentos femininos e masculinos desde a gestação. Tais enquadramentos são construídos nas subjetividades e organizam as relações entre homens e mulheres, estruturando relações de poder. Para as autoras, homens e mulheres são produtos de uma sociedade patriarcal e crescem internalizando e naturalizando construções de gênero que colocam a mulher em uma posição desprivilegiada. 
Fagundes et al. (2009) afirmam que a internalização do discurso de subordinação e desvalorização das mulheres traz implicações diretas na constituição da subjetividade e reforçam a necessidade de questioná-los.
Cabe à Psicologia enquanto compromisso social com a categoria, a sociedade e os direitos humanos, quando remeter às diferenças entre homens e mulheres, não permitir que esse campo de estudo e prática seja utilizado para sustentar a inferioridade das mulheres. Deverá, de modo contrário, promover discursos alternativos que questionem o discurso dominante opressivo às mulheres, identificando e desconstruindo estruturas sociais e práticas pessoais e profissionais que sustentam o sexismo e funcionam como instrumentos de controle social (FAGUNDES et al., 2009, p. 07).
	
Esse compromisso social da Psicologia está presente no Código de Ética profissional da(o) Psicóloga(o), reformulado em 2005 (CFP, 2005), o qual ressalta a obrigatoriedade de uma atuação que contribua para a eliminação de qualquer forma de discriminação ou opressão e se baseie na igualdade. O/A psicólogo/a deverá atuar “com responsabilidade social, analisando crítica e historicamente a realidade política, econômica, social e cultural” (CFP, 2005, p. 07).
O Conselho Federal de Psicologia (CFP) (CFP, 2012) aponta também aspectos específicos do atendimento às mulheres, sendo fundamental compreender sua história de vida, a partir da sua fala, e considerar sua situação de vulnerabilidade e risco. A situação de violência à qual a mulher foi submetida não deve ser provada. Os profissionais não devem reforçar estereótipos, mas ouvir o seu relato e compreender que não há justificativa para a violência. 
As mulheres necessitam refletir sobre seu processo e seu tempo de tomada de atitude e mudança. Situações de violência podem se suceder nos contextos de vida da mulher, concomitante ao período em que se encontra em atendimento nos serviços. Esses fatos precisarão ser trazidos para o conjunto de possibilidades no atendimento, sem manifestações de julgamento, pois essa tarefa irá desencadear posicionamento ético e técnicos conscientes e adequados (CFP, 2012, p. 96).
A título de exemplo de trabalhos realizados com as mulheres por meio de atividades artísticas, que é o foco deste trabalho, citamos artigo de Ramão, Meneguel e Oliveira (2005), que discute sobre atividades desenvolvidas na Organização Não Governamental (ONG) de Mulheres negras Maria Mulher em Porto Alegre. As autoras relatam que utilizaram recursos artísticos, como pintura, confecção de máscaras, técnicas corporais e dramatizações para compreender as subjetividades de mulheres em situação de violência de gênero praticadas por seus companheiros. 
As oficinas de histórias de orixás mostraram-se capazes de instaurar processos singulares de subjetivação, agenciando linhas de fuga atravessando e constituindo novos territórios e lançando mão de recursos que mobilizaram estratégias de resistência para além do ressentimento e deixaram emergir a potência, por meio da arte, da dramatização e do ritual, sem esquecer o acolhimento, a escuta, o vínculo e os elementos do domínio da cultura popular (RAMÃO; MENEGUEL; OLIVEIRA, 2005, p. 85).
As autoras constataram que as múltiplas violências às quais essas mulheres estavam submetidas paralisavam o movimento do desejo, assim elas permaneciam submetidas aos papéis de mãe, esposa e cuidadora. A intervenção realizada, por meio da Arte com elementos da cultura popular, possibilitou a expressão e vivência de situações que geraram uma abertura de espaços para a dimensão subjetiva, a possibilidade da constituição de novos territórios para além da violência e a construção de novas formas de atenção a mulheres em situação de violência, através da escuta e da experimentação de outros fazeres. 
Além do trabalho acima citado, trazemos também o trabalho de Soares, Félix-Silva e Figueiró (2014) que relata sobre a utilização do teatro-experimentação em um presídio feminino do Rio Grande do Norte, por meio de uma estagiária do curso de Psicologia, buscando articular corpo, Arte e clínica.
A proposta desse teatro-oficina-amador era construir dispositivos – sendo ele próprio um dispositivo – para permitir que outras vozes fossem produzidas, vozes múltiplas, caóticas, paradoxais. Nosso teatro utilizava a arte em oficinas com filmes, literatura, poesia, música, pintura, teatro. A arte como dispositivo para criar acontecimentos e devires. Acontecimentos que se davam ao acaso e que geravam o novo, o singular, a diferença (SOARES; FÉLIX-SILVA; FIGUEIRÓ, 2014, p. 92).
Com o passar da prática, a estagiária responsável pelo trabalho começa a perceber ensaios paralelos, ouvindo danças e risos; a encenação e escrita de um texto coletivo como estratégia de resistência no interior do teatro-prisão, tecendo, a partir do teatro, redes de apoio, afeto e amizade (SOARES; FÉLIX-SILVA; FIGUEIRÓ, 2014). A Arte trouxe para as atrizes-presas a possibilidade de sonhar com a liberdade, de criar, pensar e inventar novas formas de vida. Como resultado desse trabalho, os autores perceberam as expressões do devir da sensibilidade das mulheres no cuidado com as colegas, na troca de palavras de afeto e a possibilidade da experimentação de outras formas de relação com o corpo e a sexualidade.
A partir da leitura e reflexão dos trabalhos realizados com as mulheres, ressaltamos a importância da Arte nas práticas de acolhimento e atendimento psicossocial em diversos campos de atuação das/os psicólogas/os, como na área de saúde, educação e assistência social. Entendemos que a Psicologia necessita de outras formas de linguagem e acesso aos sujeitos e à subjetividade, ampliando suas intervenções e contribuindo para a produção de outros modos de conhecimento e de existência em um mundo injusto, desigual, patriarcal que desvaloriza a produção artística e cultural do nosso povo. 
Considerações finais
Concluímos este artigo compreendendo que, apesar dos avanços, as mulheres ainda enfrentam violências cotidianas, as quais prejudicam a constituição da subjetividade feminina. Ressaltamos que a atuação das/os psicólogas/os no atendimento às mulheres deve possibilitar espaços de escuta e fala sobre as situações de violência cotidiana, buscando, acolher e se posicionar contra qualquer tipo de descriminação e opressão.
Consideramos que a Arte como produção cultural auxilia as/os psicólogas/os a ampliarem suas formas de intervenção; e ajudam as mulheres a expressarem a subjetividade, as suas vivências e o contexto histórico-cultural no qual estão inseridos/as. 
As músicas de Rita Lee foram importantes nesse processo de aprendizado da escrita e da minha formação em Psicologia. Pude compreender melhor o contexto em que elas foram produzidas, o que elas expressam e como as lutas das mulheres passam por diferentes maneiras de manifestação. Podemos resistir, também, pela Arte. As/Os psicólogas/os podem utilizar a Arte como um dispositivo potente, somado à escuta, possibilitando a experimentação de novas práticas, articulações e abertura de espaços para outras formas de construção subjetiva. 
Portanto, os objetivos gerais desse trabalho foram alcançados: discutimos questões da Psicologia, especialmente sobre as intervenções com as mulheres, a partir da Arte e da música de Rita Lee que apontou diversos aspectos das lutas imprescindíveis contra a opressão e a submissão de corpos femininos.
Um belo dia resolvi mudar
E fazer tudo que eu queria fazer 
[...]
No ar que eu respiro
Eu sinto prazer
De ser quem eu sou
De estar onde estou.
(AGORA, 1975)
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