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O ser humano diante das situações-limite APRESENTAÇÃO A tecnologia e a ciência avançaram no século XX e no século XXI em um ritmo muito acelerado. Houve muitas invenções que se demonstraram extremamente importantes, pois melhoraram a qualidade da vida humana. O problema é que nem sempre é isso que acontece. Muitas vezes, na ânsia de inventar algo novo, ou de descobrir a cura de uma nova doença, podem ocorrer situações em que a vida humana, de modo geral, não é respeitada na sua integralidade. É nesse contexto que Van Rensselaer Potter pensa a bioética como uma ponte entre a ética e as ciências. Nesta Unidade de Aprendizagem, você estudará sobre esse assunto, além de analisar o conceito de bioética. Esse conceito é fundamentalmente interdisciplinar, na medida em que reconhece a riqueza da pluralidade. Além disso, aprofundará os seus conhecimentos sobre dois temas centrais para a bioética: a autonomia e a vulnerabilidade. Por fim, conhecerá o posicionamento da Igreja Católica, a qual considera o direito à vida — desde a concepção até a morte — como o mais fundamental de todos os direitos humanos. Bons estudos. Ao final desta Unidade de Aprendizagem, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Conceituar bioética enfatizando a sua concepção multidisciplinar e pluralística.• Analisar a bioética a partir das situações persistentes e das situações emergentes do desenvolvimento científico e tecnológico. • Discutir sobre as “questões da vida e dos direitos humanos” à luz da revelação cristã.• DESAFIO A bioética tem quatro princípios: Autonomia: refere-se ao direito que o indivíduo assistido tem sobre si, a sua liberdade de • escolha e seu poder de decisão. Para que os profissionais de saúde exerçam esse principio é necessário respeitar o indivíduo, sua cultura, suas ideias e crenças. O profissional da enfermagem tem o dever de ser educador. A proximidade com o paciente propicia a criação de elo e confiança, o que ajuda nesse processo. Beneficência: esse princípio impõe ao profissional da área da saúde o dever de promover o bem ao paciente por meio do desempenho de suas funções. Pautado nesse princípio, o profissional deve promover atitudes, práticas e procedimentos em benefício do outro. • Justiça: esse conceito fundamenta-se na premissa de que as pessoas têm direito a terem suas necessidades de saúde atendidas, livres de preconceitos ou segregações sociais. O princípio da justiça se fortalece na Lei n.° 8.080, a qual dispõe: a saúde é um direito fundamental do ser humano, devendo o estado prover condições indispensáveis ao seu pleno exercício. • Não maleficência: esse princípio determina a obrigação de não infligir dano intencionalmente, ou seja, o desempenho das atribuições dos profissionais de saúde não devem ocasionar nenhum dano ao paciente assistido. • Quando se trata das ações em saúde, respeitar o outro significa colocar em prática os princípios da bioética. Se forem infringidos os princípios da bioética, ocorrem as infrações éticas: Imperícia: consiste na falta de conhecimento ou de preparo técnico ou habilidade para executar determinada atribuição; • Imprudência: consiste em agir com descuido ou sem cautela e causar um dano que poderia ter sido previsto e evitado; • Negligência: consiste no ato omisso de deixar de fazer o que é necessário, gerando resultados prejudiciais. • Sendo assim, tendo em mente os princípios da bioética, qual é o problema que você identifica? Como você deve proceder? INFOGRÁFICO A bioética deve estar atenta aos avanços da ciência, bem como ter sempre presente a responsabilidade pelas futuras gerações. Para tanto, é preciso que seja pluralista e multidisciplinar, contribuindo para que a ciência permaneça a serviço da melhoria da qualidade da vida humana. Neste infográfico, você vai ver quais são os objetivos do Observatório de Bioética da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB). CONTEÚDO DO LIVRO Os acelerados progressos da ciência e da tecnologia conduziram a ética a novas situações de fronteira, isto é, a buscar entender quais são os limites adequados — e que não devem ser transpostos — entre o desenvolvimento da tecnologia, o lucro e o cuidado com a vida humana. É possível perceber, na contemporaneidade, que o ser humano não tem tanta autonomia racional quanto julgava ter, e que o conceito que o define melhor é o da vulnerabilidade. A partir disso, torna-se possível pensar uma bioética global, a qual envolva a autonomia e a vulnerabilidade a partir do direito humano mais fundamental: o direito à vida plena, desde a concepção até a morte natural. No capítulo O ser humano diante das situações-limite, da obra Antropologia teológica e direitos humanos, base teórica desta Unidade de Aprendizagem, você vai entender mais sobre esse assunto. Boa leitura. ANTROPOLOGIA TEOLÓGICA E DIREITOS HUMANOS Paulo Gilberto Gubert O ser humano diante das situações-limite Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Conceituar bioética enfatizando a sua concepção multidisciplinar e pluralística. Analisar a bioética a partir das situações persistentes e das situações emergentes do desenvolvimento científico e tecnológico. Discutir sobre as "questões da vida e dos direitos humanos" à luz da revelação cristã. Introdução Neste capítulo, você vai verificar, em primeiro lugar, uma breve história da bioética, centrada nas figuras de Potter e Hellenger, responsáveis por duas formas distintas de compreender a bioética: uma em sentido macro, que ultrapassa as questões humanas e pensa também na ecologia, e outra em sentido micro, centrada no ser humano. Em segundo lugar, você vai analisar como a bioética se posiciona em relação aos avanços da tecnologia e como a bioética se torna global na medida em que não tem mais como ponto de partida o conceito de autonomia, mas o de vulnerabilidade. Ou seja, não é o fato de sermos autônomos que nos iguala, mas o fato de sermos vulneráveis. Por fim, você vai descobrir o posicionamento da Igreja Católica no que diz respeito aos progressos das biotecnologias. A posição é muito clara: o direito à vida é inegociável, porque a vida é sagrada, digna e inviolável, isto é, deve ser preservada desde a concepção até a morte natural. Origens da bioética e o seu caráter multidisciplinar O termo bioética (bio-ethik) foi cunhado pelo teólogo alemão Fritz Jahr (1895–1953) e apresentado em um artigo, publicado em 1927 na revista Kos- mos, intitulado “Bioética: uma revisão do relacionamento ético dos humanos em relação aos animais e plantas”. No artigo, Jahr considera que deve haver um “imperativo bioético”, ou seja, que os seres humanos devem reconhecer que possuem obrigações éticas com todos os seres vivos, não apenas com os outros seres humanos. Contudo, naquela época, o artigo não teve grande repercussão, sendo redescoberto apenas na década de 1990 (JAHR, 1927 apud PESSINI, 2013). O principal responsável por difundir o conceito de bioética (bioethics) foi o bioquímico americano Van Rensselaer Potter (1911–2001), por meio do artigo “Bioética: a ciência da sobrevivência” e do livro Bioética: ponte para o futuro. No livro, Potter defende a bioética enquanto “ponte” entre a ética e as ciências. Houve, ainda, uma terceira contribuição muito significativa para as origens da bioética, dada pelo obstetra holandês André Hellegers, ao utilizar, seis meses após a publicação do livro de Potter, o termo bioethics no Centro de Estudos de Ética, da Universidade de Georgetown, para nomear o Joseph and Rose Kennedy Institute for the Study of Human Reproduction and Bioethics (PESSINI, 2013). O bioeticista brasileiro Padre Leo Pessini considera que isso implica uma dupla paternidade, isto é, de de Potter e de Hellegers (seria tripla, se a inovação do neologismo bio-ethik de Jahr não tivesse afundado junto com o naufrágio donazismo). De um lado, Potter pensa na perspectiva macro, isto é, uma ética que vai além da humanidade, para pensar também as questões ecológicas. Por outro lado, Hellegers pensa em uma perspectiva micro (que não a torna menos importante), ao manter o discurso bioético nos limites da ética clínica ou biomédica. Tal pensamento dá origem ao principialismo bioético, fundado em quatro princípios (PESSINI, 2018): 1. autonomia (respeito por todas as pessoas); 2. beneficência; 3. não maleficência; 4. justiça. O ser humano diante das situações-limite2 Além disso, na Encyclopedia of Bioethics (Enciclopédia de Bioética), o conceito de bioética é definido como “[...] um estudo sistemático das dimensões morais — incluindo visão, decisão, conduta e normas morais — das ciências da vida e do cuidado da saúde, utilizando uma variedade de metodologias éticas, em contexto interdisciplinar”, conforme leciona Reich (1995, p. 21). A bioética deve estar atenta aos avanços da ciência atual, bem como ter sempre presente a responsabilidade pelas futuras gerações. Para tanto, é preciso que seja pluralista e multidisciplinar, mas sem ser dispersiva: deve ser guiada por princípios (já mencionados acima) que norteiem as questões sempre renovadas a partir dos avanços das ciências. Nesse contexto, os comitês de ética surgem para assegurar a aplicação desses princípios, garantindo a proteção e o cuidado para os seres humanos (e para os animais) que participam de pesquisas científicas. Bioética diante do progresso científico e tecnológico O desafi o da bioética está em buscar respostas que permitam, simultaneamente, o respeito pela dignidade humana e da vida em geral, acompanhando os avanços da tecnociência. Os desafi os lançados pela ciência precisam ser confrontados, levando-se em consideração a adequação de princípios gerais aos casos particulares. Pensar em princípios gerais implica em pensar na perspectiva da bioética como ética planetária, isto é, uma tentativa de unificação do pensamento em torno de um objetivo comum: não apenas buscar respostas para os problemas que se apresentam a partir do avanço da medicina, mas perceber as relações desses problemas com aqueles de ordem social, cultural e ambiental. Essa noção de ética global, ou mundial, pode ser entendida sob dois aspectos, um geográfico e outro mais voltado à área da saúde. De um lado, a bioética se estabelece na década de 1970 nos Estados Unidos, e na Europa nos anos 1980; na década de 1990, chega à América Latina, à Ásia e à África. A partir dos primeiros anos do século XXI, conforme con- sidera Pessini (2018), as discussões bioéticas alcançam, enfim, uma projeção planetária, que se pretende universal, na medida em que traz consigo as pre- ocupações que dizem respeito a todos os seres humanos, independentemente de sua religiosidade e das diferenças étnico-culturais. 3O ser humano diante das situações-limite Por outro lado, a ética médica, antes mais voltada para aspectos relativos ao seu cotidiano profissional, ganha novos desdobramentos e passa a se ocupar também com o macro, tornando-se a bioética médica. Isto é, passa a ter um campo de visão interdisciplinar, passando por todas as áreas da saúde, até chegar a outras áreas e tornar-se global, ainda conforme o exposto por Pessini (2018). Com relação a essa bioética global, destaca-se um conceito que assume um papel central na discussão para a bioética no início do século XXI: a vul- nerabilidade. Esta não deve ser pensada apenas como elemento heurístico, isto é, como propulsor para a ciência avançar e fazer novas descobertas, mas a partir de uma perspectiva da defesa da vida, em especial, da vida humana. A vulnerabilidade é um conceito que designa populações que precisam de cuidado especial: crianças, minorias raciais, idosos, mulheres, indígenas, pessoas institucionalizadas, dentre outros. O avanço global das discussões bioéticas, somado aos riscos que acompanham as pesquisas médicas e as novas tecnologias, são responsáveis por tornar o conceito de vulnerabilidade “[...] um dos princípios da ética global, na Declaração Universal de Bioética e Direitos Humanos”, conforme leciona Pessini (2018, p. 420). Observe que a Declaração Universal de Bioética e Direitos Humanos não é a mesma que a Declaração Universal dos Direitos Humanos (DUDH). A primeira data de 2005; a segunda, de 1948. Enquanto a DUDH formula princípios gerais que devem reger todas as ações e relações humanas, a Declaração Universal de Bioética e Direitos Humanos é voltada para as questões éticas oriundas da medicina e das ciências que impactam na vida humana de forma direta. A novidade apresentada por esse conceito está no fato de reconhecer, para além da autonomia do ser humano, também a sua fragilidade, tanto na dimensão corporal quanto na emocional e social. Nesse ponto, Pessini (2018) entende que o conceito de vulnerabilidade não pode ser confundido com uma mera incapacidade para a autonomia, isto é, para defender seus interesses pessoais e se autodeterminar. Para além disso, é preciso reconhecer que determinados contextos sociais também podem ser responsáveis diretos pelo pleno desen- volvimento do ser humano e de suas múltiplas capacidades. As degradações ambientais, as doenças autoimunes (como o HIV), o bioter- rorismo, as doenças que já deveriam ter sido erradicadas e que ainda devastam O ser humano diante das situações-limite4 países mais pobres, dentre outros problemas globais, são responsáveis pelo pensamento de que vivemos algo como uma vulnerabilidade universal. Considerando que todos os seres humanos podem ser vulneráveis de alguma forma (seja corporal, emocional ou social), essa nova compreensão interfere diretamente na concepção moderna de autonomia, sobre a qual a bioética do século XX se fundamentou, segundo Pessini (2018). Nesse sentido, a vulnerabilidade, à medida que se globaliza, também se torna um ponto de partida para pensar a bioética. A partir dessa linha de raciocínio, a bioética toma novos caminhos, para além da autonomia. Esta, por si só, poderia conduzir a um “individualismo bioético”, isto é, pensar que, tanto a autonomia quanto a vulnerabilidade do indivíduo dizem respeito somente a ele e a ninguém mais. A vulnerabilidade é o que iguala todos os seres humanos, na medida em que o simples fato de existir nos torna vulneráveis, dado que a vida humana é frágil. Um ponto interessante é que a nossa vulnerabilidade é o que faz nossa força. Uma vez conscientes de que precisamos de proteção, desenvolvemos instituições que nos protejam. Encontramos aí outras pessoas com as quais interagimos e nos abrimos para o mundo, somos solidários na fraqueza, e juntos nos tornamos mais fortes, conforme expõe Pessini (2018). Direito à vida e dignidade humana à luz da revelação cristã O desenvolvimento das biotecnologias e os debates acerca de temas como aborto, eutanásia, células-tronco, anencefalia e cuidados paliativos, bem como a questão da degradação da natureza, não são ignorados pela Igreja Católica. Pelo contrário, fazem parte de um conjunto de preocupações que são fundamentais. Por quê? Porque dizem respeito à vida humana, independentemente de seus estágios de desenvolvimento, e isso é um valor inegociável para a Igreja. O direito à vida fundamenta todos os direitos humanos porque, se não se respeita a primazia do direito à vida, os demais direitos se esvaziam de sentido. A esse respeito, Dom Ricardo Hoepers (CONFERÊNCIA..., 2018, documento on-line) afirma que é preciso “[...] defender a vida na sua integralidade, inviolabilidade e dignidade, desde a concepção até a morte natural”. Isso implica estar do lado dos mais vulneráveis, daqueles que podem ter sua dignidade humana ceifada pelo egoísmo de quem desconsidera o valor de cada vida humana criada por Deus. Nesse sentido, Hoepers (CONFERÊNCIA..., 2018, 5O ser humano diante das situações-limite documento on-line) considera que “[...] o direito à vida é o mais fundamentalde todos os direitos e, por isso, em primeiro lugar, não se trata de um discurso religioso ou fundamentalista por parte da Igreja”. Se não se trata de um discurso fundamentalista, como a Igreja entende ser possível assegurar efetivamente o direito à vida para todos? Buscando a melhoria das condições da vida humana desde a fecundação até a morte natural — em especial daquela parte da humanidade que ainda está alijada dos bens essenciais e que não tem sua dignidade respeitada —, como consequência das conquistas científicas e tecnológicas. É nesse sentido que se pode pensar a bioética à luz dos documentos da Igreja, como sugere Dom Antônio Augusto Dias Duarte. Para Duarte (2010, p. 16), “[...] na raiz dos documentos da Igreja que ver- sam sobre a Bioética está sempre o amor à pessoa”. Esse amor é que encoraja os líderes religiosos a proclamarem os direitos inalienáveis do ser humano. Nesse sentido, “[...] os documentos da Igreja Católica querem ser sempre essa voz afirmativa e precisa, corajosa e misericordiosa, a favor do valor da vida humana e de sua inviolabilidade”, ainda conforme expõe Duarte (2010, p. 16). João Paulo II, na Encíclica Evangelium Vitae, publicada em 1995, assevera que somente por meio da defesa da dignidade da vida humana é que se torna possível encontrar a justiça, o progresso, a verdadeira liberdade, a paz e a feli- cidade. Além disso, a Congregação para a Doutrina da Fé, no terceiro parágrafo da Instrução Dignitas Personae, reforça o posicionamento mencionado acima: A Igreja Católica, ao propor princípios e avaliações morais para a investigação biomédica sobre a vida humana, recorre à luz da razão e da fé, contribuindo para a elaboração de uma visão integral do homem e da sua vocação, capaz de acolher tudo o que de bom emerge das obras dos homens e das várias tradições culturais e religiosas, que não raras vezes mostram uma grande reverência pela vida (JOÃO PAULO II, 1995, documento on-line). Em outro documento elaborado pela Congregação para a Doutrina da Fé, denominado Instrução Donum vitae, nas considerações sobre o uso de embriões humanos em técnicas de procriação artificial, encontra-se o seguinte questionamento: “[...] existe uma presença pessoal desde a primeira aparição de uma vida humana: como um indivíduo humano não seria pessoa humana?” (LEVADA; LADARIA, 2008, documento on-line). No Documento de Aparecida, os bispos salientam que a ciência e a tecnolo- gia não devem estar a serviço exclusivo do mercado, porque, assim, perdem a sua essência, que é estar a serviço da melhoria das condições da vida humana, prolongando a expectativa de vida e sua qualidade. Além disso, no parágrafo 123 do documento, enfatizam-se os limites da ciência: a ciência e a tecnologia O ser humano diante das situações-limite6 não têm as respostas às grandes interrogações da vida humana, de forma que a resposta às questões fundamentais do homem só pode vir de uma razão e ética integrais, iluminadas pela revelação de Deus (CELAM, 2007). Nesse contexto, trazendo a discussão para o campo político, é importante salientar que, para acompanhar os desdobramentos das discussões que envolvem as questões bioéticas, o governo brasileiro criou o Sistema de Conselhos de Ética em Pesquisa (CEPs), por meio da Resolução nº. 446, de 12 de dezembro de 2012 (BRASIL, 2012). Nela, está prescrito que os conselhos de cada instituição devem ser formados por profissionais das mais distintas áreas, bem como por membros da sociedade civil, para que ocorra um diálogo efetivamente interdisciplinar. Com a intenção de acompanhar as discussões e oferecer sua contribuição com vistas ao bem integral do ser humano, a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) também instituiu, em 2009, a Comissão de Bioética da CNBB. Ademais, em 2018, a CNBB constituiu o Observatório de Bioética, com o propósito de mapear a vulnerabilidade humana e oferecer informações que colaborem com a Igreja e com a sociedade. Conforme assinala Dom Rodolfo Luís Weber, em seu artigo “Observatório de Bioética”, publicado em 2018, no site da CNBB, trata-se de “[...] um serviço à verdade, ao bem integral do ser humano, à família e à ecologia integral” (WEBER, 2018, documento on-line). BRASIL. Ministério da Saúde. Conselho Nacional De Saúde. Resolução nº. 466, de 12 de dezembro de 2012. Diretrizes e normas regulamentadoras de pesquisa envolvendo seres humanos. Diário Oficial da União, Brasília, 2013. Disponível em: http://bvsms.saude. gov.br/bvs/saudelegis/cns/2013/res0466_12_12_2012.html. Acesso em: 9 abr. 2019. CELAM. Documento de Aparecida: texto conclusivo da V Conferência Geral do Episco- pado Latino-Americano e do Caribe. São Paulo: Edições CNBB, 2007. CONFERÊNCIA NACIONAL DOS BISPOS DO BRASIL. Dom Ricardo Hoepers: “o direito à vida é o mais fundamental de todos os direitos”. CNBB, [s. l.], 2018. Disponível em: http://www.cnbb.org.br/dom-hoepers-o-direito-a-vida-e-o-mais-fundamental-de- -todos-os-direitos/. Acesso em: 9 abr. 2019. DUARTE, A. A. D. A bioética à luz dos documentos da igreja. In: CONFERÊNCIA NACIONAL DOS BISPOS DOS BRASIL. Questões de bioética. Brasília: Edições CNBB, 2010. JOÃO PAULO II, Papa. Carta encíclica: Evangelium Vitae. 1995. Disponível em: http:// w2.vatican.va/content/john-paul-ii/pt/encyclicals/documents/hf_jp-ii_enc_25031995_ evangelium-vitae.html. Acesso em: 9 abr. 2019. 7O ser humano diante das situações-limite LEVADA, W.; LADARIA, L. F. Congregação para a doutrina da fé: instrução dignitas personae: sobre algumas questões de bioética. 2008. Disponível em: http://www.vatican.va/ro- man_curia/congregations/cfaith/documents/rc_con_cfaith_doc_20081208_dignitas- -personae_po.html. Acesso em: 9 abr. 2019. PESSINI, L. As origens da bioética: do credo bioético de Potter ao imperativo bioético de Fritz Jahr. Revista Bioética, [s. l.], v. 21, nº. 1, p. 9–19, 2013. Disponível em: http://www. scielo.br/scielo.php?pid=S1983-80422013000100002&script=sci_abstract&tlng=pt. Acesso em: 9 abr. 2019. PESSINI, L. Bioética global, vulnerabilidade e agenda 2030 da ONU. In: MILLEN, M. I. C.; ZACHARIAS, R. (org.). Ética teológica e direitos humanos. São Paulo: Sociedade Brasileira de Teologia Moral, 2018. REICH W. T. Encyclopedia of bioethics. New York: Macmillan, 1995. WEBER, R. L. Observatório de bioética. CNBB, [s. l.], 2018. Disponível em: http://www. cnbb.org.br/observatorio-de-bioetica/. Acesso em: 9 abr. 2019. Leitura recomendada RATZINGER, J.; BOVONE, A. Sagrada congregação para a doutrina da fé: instrução sobre o respeito à vida humana nascente e a dignidade da procriação. 1987. Disponível em: http://www.vatican.va/roman_curia/congregations/cfaith/documents/rc_con_cfaith_ doc_19870222_respect-for-human-life_po.html. Acesso em: 9 abr. 2019. O ser humano diante das situações-limite8 DICA DO PROFESSOR Van Rensselaer Potter afirma que a bioética deve ser uma ponte entre a ética e as ciências em geral. André Hellegers, por sua vez, mantém o discurso bioético nos limites da ética clínica ou biomédica. Sendo assim, o princípio da autonomia do paciente é considerado um dos pilares da bioética. Esse princípio assevera que o paciente deve ser o responsável principal no que concerne às decisões sobre o seu tratamento. Todavia, o conceito de autonomia não é uma invenção da filosofia contemporânea e também não esgota o seu sentido no discurso filosófico. Nesta Dica do Professor, você vai ver como o filósofo Immanuel Kant propõe o conceito de autonomia como central para entender a filosofia prática, isto é, a ética. Além disso, no que concerne à autonomia em sua relação com a bioética, você vai conhecer a proposta de um dos principais expoentes do cristianismo: o bioeticista italiano e cardeal da Igreja Católica, Elio Sgreccia. Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino! EXERCÍCIOS 1) A paternidade da bioética se divide entre dois grandes autores, o bioquímico americano Van Rensselaer Potter e o obstetra holandês AndréHellegers. Qual é a diferença fundamental na forma de conceber bioética para os dois autores? A) Potter pensa a bioética no sentido macro (ecológica) e Hellegers no sentido micro (ética médica). B) Potter pensa a bioética no sentido micro (ecológica) e Hellegers no sentido macro (ética médica). C) Potter cunhou o conceito de biomedicina e Hellegers elaborou o conceito de bioecologia. D) Potter cunhou o conceito de bioecologia e Hellegers elaborou o conceito de biomedicina. E) Potter foi responsável pela criação dos comitês de ética no Brasil e Hellegers ajudou a fundar comitês de ética nos EUA. 2) Com relação à bioética global há um conceito que assume um papel central na discussão para a bioética no início do século XXI: a vulnerabilidade. Esta não deve ser pensada apenas como elemento eurístico, isto é, como propulsor para a ciência avançar e fazer novas descobertas, desde uma perspectiva da defesa da vida, especialmente da vida humana. Sendo assim, o que significa a vulnerabilidade universal? A) Que a vulnerabilidade está fundada no princípio da autonomia. B) Que a vulnerabilidade impede o ser humano de se realizar em sua plenitude. C) Que todo o universo é vulnerável. D) Que o cristianismo deseja impor seus dogmas para todos os seres humanos vulneráveis. E) Que todos os seres humanos estão sujeitos a algum tipo de vulnerabilidade. 3) O desenvolvimento de novas tecnologias e seu impacto na vida humana é um dos pontos principais da discussão bioética, da qual a Igreja também faz parte. Por que a Igreja faz questão de participar dessa discussão? A) Para se manter atualizada sobre as grandes questões discutidas pela humanidade. B) Para demonstrar que o direito à vida é o mais importante de todos. C) Para criar comitês que discutam internamente essas questões. D) Para demonstrar que o ser humano jamais será autônomo, devido à sua vulnerabilidade. E) Para elaborar documentos com prescrições que devem nortear a vida dos católicos. 4) A Igreja tem demonstrado um posicionamento firme em seus documentos sobre as questões que tangem a bioética. Que posicionamento é esse? A) Que a ciência e a tecnologia não são capazes de responder às grandes interrogações da vida humana. B) Que o simples fato de existir nos torna vulneráveis. C) Que deve haver um imperativo bioético, o qual obrigue os seres humanos a terem responsabilidade. D) Que o direito à vida está na base de todos os outros direitos. E) Que a bioética global denota um campo de visão interdisciplinar. 5) Para acompanhar os desdobramentos das discussões que envolvem as questões bioéticas, o governo brasileiro criou o Sistema de Conselhos de Ética em Pesquisa (CEPs). Quais foram os órgãos criados pela CNBB para refletir e dar um retorno para a sociedade sobre essas discussões? A) O Conselho de Ética em Pesquisa e o Observatório de Bioética. B) A Comissão de Bioética e o Observatório de Bioética. C) A Comissão de Bioética e o Conselho de Ética em Pesquisa. D) A Dignitas Personae e a Donum Vitae. E) O Instituto de Bioética e o Observatório de Ética Biomédica. NA PRÁTICA A bioética é um estudo das dimensões e das condutas morais das ciências da vida e do cuidado da saúde, utilizando uma variedade de metodologias éticas, em contexto interdisciplinar. Por conta disso, deve estar atenta aos avanços da ciência atual, bem como ter sempre presente a responsabilidade pelas futuras gerações. Neste Na Prática, você vai conhecer o trabalho do Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) da Universidade Católica de Pelotas (UCPel). SAIBA MAIS Para ampliar o seu conhecimento a respeito desse assunto, veja abaixo as sugestões do professor: Dom Ricardo Hoepers fala sobre Observatório de Bioética A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil deu início, no sul do país, ao Observatório de Bioética para pesquisas em defesa da vida. A rede interdisciplinar vai integrar universitários, religiosos e leigos engajados em estudos inéditos para a Igreja. Veja mais sobre isso no vídeo a seguir. Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino! Laudato si' Nesta encíclica, o Papa Francisco critica a ideia de progresso a qualquer custo, responsável pelo consumismo e pela degradação do meio ambiente, bem como da vida humana. O documento é dirigido a todas as pessoas do mundo e pede unidade de todos no combate às alterações climáticas e à pobreza extrema. O conceito de ecologia integral é apresentado e desenvolvido na encíclica. Para saber mais, acesse o link a seguir. Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino! A bioética e suas aplicações O desenvolvimento da ciência e da tecnologia contribuiu para avanços em diversas áreas, possibilitando melhorias na qualidade de vida humana. Contudo, qual é o limite da ciência, principalmente quando se trata de pesquisa com seres humanos? Neste vídeo, o professor Volnei Garrafa traz considerações interessantes sobre esse assunto. Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino! Carta Encíclica do Papa Paulo VI sobre a regulação da natalidade O Papa Paulo VI publicou esta encíclica em 25 de julho de 1968. Nela está descrita a orientação da Igreja Católica com relação à sexualidade humana e ao aborto. Leia mais sobre esse assunto no link a seguir. Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino! Papa rejeita aborto e eutanásia, em defesa da "cultura da vida" O Papa Francisco, durante a oração do Angelus, orienta que a vida precisa ser defendida do início ao fim, pois toda a vida humana é sagrada. O Sumo Pontífice convida a promover a cultura da vida como resposta à cultura do descarte. Veja a seguir. Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino! Evangelium Vitae O Sumo Pontífice publicou esta encíclica em 25 de março de 1995, na qual defende a dignidade da vida humana e reforça que ela deve ser defendida de forma integral, da concepção à morte natural. As principais questões discutidas neste documento são: a eutanásia, o aborto, a contracepção e as técnicas de reprodução assistida. Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino!