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2018 Ética e LegisLação em enfermagem Profª Liliani Carolini Thiesen Prof.ª Paula Dittrich Correa Copyright © UNIASSELVI 2018 Elaboração: Profª Liliani Carolini Thiesen Prof.ª Paula Dittrich Correa Revisão, Diagramação e Produção: Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri UNIASSELVI – Indaial. T439e Thiesen, Liliani Carolini Ética e legislação em enfermagem. / Liliani Carolini Thiesen; Paula Dittrich Correa – Indaial: UNIASSELVI, 2018. 168 p.; il. ISBN 978-85-515-0184-9 1.Ética da enfermagem – Brasil. 2.Enfermagem - Legislação – Brasil. I. Correa, Paula Dittrich. II. Centro Universitário Leonardo Da Vinci. CDD 174.961073 III apresentação Caro acadêmico! Seja muito bem-vindo à nossa disciplina! Este livro irá auxiliar nos seus estudos e fará compreender melhor a ética, bioética e as legislações de enfermagem. O conteúdo deste livro e suas orientações contribuirão positivamente com o direcionamento do processo de ensino e aprendizagem. A elaboração deste livro de estudos tem como finalidade direcionar você a ordenar os conteúdos e aspectos práticos e teóricos que auxiliarão no desenvolvimento global do seu estudo, agregando conhecimento e possibilitando, no final do curso, sua inserção no mercado de trabalho, através do seu mérito e dedicação. Assim, convidamos você a conhecer brevemente cada unidade que será abordada neste livro de estudos. Na Unidade 1, você compreenderá os aspectos relacionados à ética, moral e bioética e como esses assuntos se relacionam no contexto atual da vida do ser humano, conhecerá também os problemas éticos que decorrem dos avanços científicos na área da biologia e da medicina. E, por fim, estudará o Código de Ética de Enfermagem. Na Unidade 2, você estudará a lei e a sociedade, a saúde e a enfermagem no código de defesa e proteção do consumidor, o trabalho de enfermagem: normas legais de segurança e saúde, fundamentos jurídicos e ético-legais da enfermagem e, por fim, as principais legislações que regem a enfermagem. Na Unidade 3, você compreenderá como foi a evolução das práticas de saúde no decorrer da história e de que maneira surgiu a enfermagem como profissão, além de entender a importância de Florence Nightingale para a enfermagem. Delinearemos a importância da comunicação para a equipe multidisciplinar e, por fim, estudaremos a legislação do exercício da enfermagem e os órgãos da classe. Nesse contexto delineamos os assuntos importantes a serem conhecidos e, desta forma, convidamos você para se inteirar e assimilar este conhecimento. Desejamos uma ótima leitura! Bons estudos! Profª Liliani Carolini Thiesen Prof.ª Paula Dittrich Correa IV Você já me conhece das outras disciplinas? Não? É calouro? Enfim, tanto para você que está chegando agora à UNIASSELVI quanto para você que já é veterano, há novidades em nosso material. Na Educação a Distância, o livro impresso, entregue a todos os acadêmicos desde 2005, é o material base da disciplina. A partir de 2017, nossos livros estão de visual novo, com um formato mais prático, que cabe na bolsa e facilita a leitura. O conteúdo continua na íntegra, mas a estrutura interna foi aperfeiçoada com nova diagramação no texto, aproveitando ao máximo o espaço da página, o que também contribui para diminuir a extração de árvores para produção de folhas de papel, por exemplo. Assim, a UNIASSELVI, preocupando-se com o impacto de nossas ações sobre o ambiente, apresenta também este livro no formato digital. Assim, você, acadêmico, tem a possibilidade de estudá-lo com versatilidade nas telas do celular, tablet ou computador. Eu mesmo, UNI, ganhei um novo layout, você me verá frequentemente e surgirei para apresentar dicas de vídeos e outras fontes de conhecimento que complementam o assunto em questão. Todos esses ajustes foram pensados a partir de relatos que recebemos nas pesquisas institucionais sobre os materiais impressos, para que você, nossa maior prioridade, possa continuar seus estudos com um material de qualidade. Aproveito o momento para convidá-lo para um bate-papo sobre o Exame Nacional de Desempenho de Estudantes – ENADE. Bons estudos! NOTA V VI VII UNIDADE 1 – ÉTICA PROFISSIONAL E BIOÉTICA: UMA SINERGIA NECESSÁRIA ........ 1 TÓPICO 1 – ÉTICA NA ENFERMAGEM ........................................................................................... 3 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 3 2 ÉTICA ...................................................................................................................................................... 3 2.1 CONCEITO ....................................................................................................................................... 4 3 ÉTICA PROFISSIONAL ...................................................................................................................... 5 4 ÉTICA E DEONTOLOGIA ................................................................................................................. 6 5 ÉTICA E PESQUISA EM SAÚDE ...................................................................................................... 8 5.1 HISTÓRIA DA ÉTICA EM PESQUISA EM SAÚDE .................................................................. 9 RESUMO DO TÓPICO 1........................................................................................................................ 13 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 14 TÓPICO 2 – BIOÉTICA NA ENFERMAGEM .................................................................................... 15 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 15 2 BIOÉTICA .............................................................................................................................................. 15 2.1 ORIGEM ............................................................................................................................................ 15 2.2 CONCEITO ....................................................................................................................................... 21 2.3 PRINCÍPIOS ..................................................................................................................................... 22 3 DIREITOS HUMANOS E ENFERMAGEM ................................................................................... 23 3.1 HISTÓRICO DOS DIREITOS HUMANOS .................................................................................. 25 3.2 BIOÉTICA E DIREITOS HUMANOS ........................................................................................... 27 4 BIOÉTICA E BIOTECNOLOGIA EM SAÚDE ............................................................................... 28 5 BIOÉTICA E O INÍCIO E O FIM DA VIDA ................................................................................... 31 6 BIOÉTICA E CUIDADOS PALIATIVOS ......................................................................................... 35 7 BIOÉTICA E QUESTÕES ÉTICAS VIVENCIADAS PELOS PROFISSIONAIS DE ENFERMAGEM ...................................................................................................................................... 36 RESUMO DO TÓPICO 2........................................................................................................................ 38 AUTOATIVIDADE .................................................................................................................................39 TÓPICO 3 – CÓDIGO DE ÉTICA DOS PROFISSIONAIS DE ENFERMAGEM ....................... 41 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 41 2 CÓDIGO DE ÉTICA EM ENFERMAGEM ...................................................................................... 41 2.1 PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS ................................................................................................... 42 2.2 DIREITOS .......................................................................................................................................... 42 2.3 RESPONSABILIDADES E DEVERES ........................................................................................... 42 2.4 DAS PROIBIÇÕES ........................................................................................................................... 43 2.5 INFRAÇÕES E PENALIDADES .................................................................................................... 43 LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................................... 44 RESUMO DO TÓPICO 3........................................................................................................................ 47 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 48 sumário VIII UNIDADE 2 – LEGISLAÇÃO DO EXERCÍCIO DE ENFERMAGEM NO BRASIL .................. 49 TÓPICO 1 – A LEI E A SOCIEDADE ................................................................................................... 51 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 51 2 CONCEITO DO DIREITO .................................................................................................................. 51 3 ORGANIZAÇÃO DA SOCIEDADE ................................................................................................. 52 3.1 OS TRÊS PODERES ......................................................................................................................... 53 3.1.1 Poder Legislativo .................................................................................................................... 54 3.1.2 Poder Executivo ...................................................................................................................... 56 3.1.3 Poder Judiciário ...................................................................................................................... 59 4 HIERARQUIA DAS NORMAS ........................................................................................................ 60 5 NORMAS GERAIS BRASILEIRAS QUE AFETAM A ENFERMAGEM .................................. 62 RESUMO DO TÓPICO 1........................................................................................................................ 64 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 65 TÓPICO 2 – REGULAMENTAÇÃO DO EXERCÍCIO DA ENFERMAGEM 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 67 2 HISTÓRICO DA REGULAMENTAÇÃO DO EXERCÍCIO DA ENFERMAGEM .................. 68 3 ENTIDADES DE DEFESA ECONÔMICA DA CLASSE .............................................................. 72 4 CAMINHOS DA LEGISLAÇÃO DO EXERCÍCIO DA ENFERMAGEM NO BRASIL .......... 74 5 SAÚDE E ENFERMAGEM NO CÓDIGO DE PROTEÇÃO E DEFESA DO CONSUMIDOR ............................................................................................................................. 76 6 TRABALHO DE ENFERMAGEM: NORMAS LEGAIS DE SEGURANÇA E SAÚDE ........... 78 7 ASPECTOS JURÍDICOS E ÉTICO-LEGAIS DA ENFERMAGEM ............................................. 81 RESUMO DO TÓPICO 2........................................................................................................................ 83 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 84 TÓPICO 3 – PRINCIPAIS LEGISLAÇÕES PARA O EXERCÍCIO DE ENFERMAGEM........... 85 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 85 2 LEI Nº 5.905, DE 12 DE JULHO DE 1973 .......................................................................................... 85 3 LEI Nº 7.498, DE 25 DE JUNHO DE 1986 .......................................................................................... 88 4 DECRETO Nº 94.406, DE 08 DE JUNHO DE 1987 .......................................................................... 90 5 RESOLUÇÃO COFEN – 311/2007 ...................................................................................................... 91 6 RESOLUÇÃO COFEN – 370/2010 ...................................................................................................... 91 7 RESOLUÇÃO COFEN Nº 358/2009 .................................................................................................... 92 LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................................... 93 RESUMO DO TÓPICO 3........................................................................................................................ 98 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 99 UNIDADE 3 – ENFERMAGEM NO CONTEXTO SOCIAL .........................................................101 TÓPICO 1 – DESENVOLVIMENTO HISTÓRICO DA ENFERMAGEM ..................................103 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................103 2 EVOLUÇÃO HISTÓRICA DA ENFERMAGEM .........................................................................104 3 EVOLUÇÃO HISTÓRICA DO CUIDAR .......................................................................................105 3.1 TRAJETÓRIA DO ATO DE CUIDAR, NO LIVRO SAGRADO .............................................106 3.2 INFLUÊNCIA DAS CRUZADAS NO ATO DE CUIDAR .......................................................109 4 A HISTÓRIA DE FLORENCE NIGHTINGALE ...........................................................................110 5 HISTÓRIA DA ENFERMAGEM NO BRASIL .............................................................................113 5.1 QUEM FOI ANNA NERY ............................................................................................................116 6 ENFERMAGEM COMO PROFISSÃO ...........................................................................................117 IX RESUMO DO TÓPICO 1......................................................................................................................120 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................121 TÓPICO 2 – CONDUTA PROFISSIONAL .......................................................................................123 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................123 2 PROCESSO DE COMUNICAÇÃO .................................................................................................123 2.1 CONCEITO .....................................................................................................................................124 2.2 PROCESSO DE COMUNICAÇÃO .............................................................................................126 2.3 COMUNICAÇÃONA ENFERMAGEM ....................................................................................129 3 DIREITOS DO PACIENTE ...............................................................................................................130 4 DIREITO À VIDA ...............................................................................................................................132 5 LEGISLAÇÃO DO EXERCÍCIO DA ENFERMAGEM: ÓRGÃOS DE CLASSE ....................134 5.1 ABEN ...............................................................................................................................................135 5.2 COFEN ...........................................................................................................................................136 5.3 COREN ............................................................................................................................................138 RESUMO DO TÓPICO 2......................................................................................................................140 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................141 TÓPICO 3 – IMPLICAÇÕES LEGAIS ...............................................................................................143 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................143 2 SIGILO PROFISSIONAL OU RESPONSABILIDADE PROFISSIONAL ...............................143 3 REGISTRO DE ENFERMAGEM .....................................................................................................147 3.1 CONCEITO E FINALIDADE .......................................................................................................147 3.2 ASPECTOS LEGAIS ......................................................................................................................149 4 IDENTIFICANDO ERROS NA RELAÇÃO PROFISSIONAL ..................................................152 LEITURA COMPLEMENTAR .............................................................................................................156 RESUMO DO TÓPICO 3......................................................................................................................159 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................160 REFERÊNCIAS .......................................................................................................................................161 X 1 UNIDADE 1 ÉTICA PROFISSIONAL E BIOÉTICA: UMA SINERGIA NECESSÁRIA OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM PLANO DE ESTUDOS A partir desta unidade, você será capaz de: • compreender sobre ética e bioética; • conceituar ética profissional; • estudar sobre deontologia; • conhecer sobre a história da ética em pesquisa em saúde; • aprender sobre os direitos humanos; • saber que a bioética está relacionada com o início e fim da vida; • conhecer questões éticas vivenciadas pelos profissionais de enfermagem; • explorar o código de ética dos profissionais de enfermagem. Esta unidade está dividida em três tópicos, sendo que em cada um deles você encontrará atividades que o auxiliarão na compreensão dos conteúdos apresentados. TÓPICO 1 – ÉTICA NA ENFERMAGEM TÓPICO 2 – BIOÉTICA NA ENFERMAGEM TÓPICO 3 – CÓDIGO DE ÉTICA DOS PROFISSIONAIS DE ENFERMAGEM 2 3 TÓPICO 1 UNIDADE 1 ÉTICA NA ENFERMAGEM 1 INTRODUÇÃO Caro acadêmico! Seja bem-vindo a esta caminhada para estudar e compreender a ética na enfermagem. A finalidade deste estudo é para que você receba as informações e construa seu próprio conhecimento referente ao tema central, para que consiga discutir o significado de ética nas diferentes áreas, visando ao aprimoramento para sua trajetória profissional. Nos dias de hoje, a palavra "ética" é amplamente empregada nas diferentes áreas de atuação profissional, como também em situações cotidianas, na política, nas relações interpessoais, na educação, na saúde, entre outros. Além disso, a ética exige do ser humano uma reflexão crítica, envolvendo conhecimento, razão, sentimentos, emoções, vivências, bem como as heranças acumuladas e os valores adquiridos ao longo da vida. Dessa forma, a ética presume a capacidade de a pessoa decidir e optar, com base nos valores, crenças e convenções sociais. A partir de agora, estudaremos e compreenderemos o conceito e os princípios da ética, a relação da ética com o profissional, com a deontologia, com as políticas públicas e a pesquisa em saúde. Vamos aos estudos! 2 ÉTICA A ética antigamente preocupava-se quase que exclusivamente da ação individual. Hoje, devido aos avanços científicos e tecnológicos e as transformações sucedidas na sociedade, a prioridade passou a ser, não o indivíduo isolado, mas o sujeito social, com o desenvolvimento de muitas pessoas em grupos comunitários, profissionais, associações de classe e outros. Visando aos valores morais perante a sociedade, a ética prima por um comportamento correto e digno. Você já ponderou por que precisamos estar ao lado da ética? Você já ponderou que, na maioria das vezes, agimos em conformidade com padrões estabelecidos pela sociedade, do que é bom e moral? Na verdade, a ética está intrínseca ao nosso caráter, pois está diretamente ligada à maneira digna de agir, ou seja, temos que demonstrar uma conduta adequada e correta. UNIDADE 1 | ÉTICA PROFISSIONAL E BIOÉTICA: UMA SINERGIA NECESSÁRIA 4 A ética está presente primordialmente na área de saúde, mas há verdadeiramente um domínio teórico sobre a ética e suas peculiaridades por parte dos profissionais de saúde, em especial a enfermagem? 2.1 CONCEITO Caro acadêmico! Embora sejam usados como sinônimos com frequência, os conceitos de moral e ética são diferentes. Vamos agora conhecer suas particularidades! FIGURA 1 – ÉTICA E MORAL, SINÔNIMOS? FONTE: Disponível em: <http://www.ideiaseopinioes.com/moral- etica-um-nos/>. Acessado em: 12 abr. 2018. Ética é uma área da filosofia que estuda os juízos de apreciação que se referem ao comportamento humano, passível de qualificação do ponto de vista do bem e do mal. Proveniente do grego ethos, significa caráter, costume, hábito ou modo de ser. Compreende os comportamentos que caracterizam uma cultura ou um grupo, fazendo uso de valores e de uma escala de valores. Já a moral, oriunda do latim mos, moris (costume), poderia ser definida como a ciência que se preocupa com ações ou costumes do ser humano, deveres do homem individual e grupal (OGUISSO; SCHIMIDT, 2007). Segundo Adolfo Sánchez Vásquez, tanto ethos como mos denotam uma espécie de comportamento propriamente humano que não é natural, não é inato ao ser humano como se fosse um instinto, mas que é “adquirido ou conquistado por hábito”. (ARISTÓTELES, 1992; KORTE, 1999). Para Boff (2003), ética é um balizador social do comportamento humano, para estipular o que se deve fazer para alcançar a “boa vida”, o “bem-estar” das pessoas vivendo em sociedade. As instituições de saúde, entre elas os hospitais, são constituídas primordialmente por pessoas que convivem profissionalmente e tomam decisões que afetam a própria instituição, as pessoas que dela dependem direta e indiretamente e a coletividade onde está inserida. Por essa razão, deve- se compreender a existência de uma ética institucional como parte da cultura da TÓPICO 1 | ÉTICA NA ENFERMAGEM 5 organização. Ética nos remete a valores, princípios e normas que atuam como alicerces para o comportamento humano; indica-nos o que é certo, correto e justo, assim como a responsabilidade das pessoas por seus atos. Esse mesmo autor considera que os problemas e dilemas éticos enfrentados no cotidiano dos hospitais são muitas vezes de alta complexidade, exigindo que se ressaltam indagações a respeito da natureza ética das decisõestomadas e dos atos administrativos. Daí a valia dos princípios e valores como fundamentos a orientar as decisões dos profissionais da área de saúde, confrontando-se os interesses econômicos, financeiros e gerenciais com os direitos dos pacientes, o respeito à sua integridade e segurança. Basicamente, a diferença entre esses termos consiste em que a ética tem conotação filosófica na análise dos problemas, a moral tem conotação sobrenatural e, por essa razão, é reiteradamente confundida com religião. Outra concepção importante a mencionar dentro desse âmbito é a liberdade, ou seja, a faculdade ou poder de decidir ou agir conforme a própria determinação, respeitadas as regras legais instituídas. A liberdade deve compreender as faculdades de fazer ou não fazer o que se quer; de pensar livremente; de ir e vir de qualquer parte, quando e como deseja; de exceder qualquer profissão ou atividade, respeitadas as leis; de associar-se e de professar qualquer religião (OGUISSO; SCHIMIDT, 2007). Para Segre (1999), a ética é uma característica autônoma e individual do homem. A capacidade de ação e decisão tem de partir da singularidade que cada pessoa possui e não das experiências vistas e vivenciadas em seu entorno. Não deve existir a coação do meio sobre o arbítrio do fazer, permitindo à própria consciência saber o certo e o errado. Dessa maneira, conclui-se que, ainda que sejam etimologicamente similares, a moral e a ética são distintas, tendo a moral uma característica prática imediata e restrita, visto que representa um conjunto de normas que governam a vida do indivíduo e, consequentemente, da sociedade, indicando o que é bom e o que é mau, influenciando os juízos de valores e as opiniões. Em contrapartida, a ética possui um caráter de reflexão filosófica de característica universalista sobre a moral, a fim de analisar os princípios, as causas, mas também as consequências das ações dos indivíduos para a sociedade (KORTE, 1999). 3 ÉTICA PROFISSIONAL Pode-se definir ética profissional como um conjunto de padrões que governam o comportamento humano, relacionada à atividade que o indivíduo desempenha profissionalmente, com zelo ao seu próximo, não arguindo fofocas, intrigas e conluios, agindo com honestidade, assiduidade, responsabilidade, pontualidade, transparência no desempenho de suas funções. De tal maneira, a ética compreende o relacionamento de profissionais, a fim de conservar a dignidade humana e a construção do bem comum. UNIDADE 1 | ÉTICA PROFISSIONAL E BIOÉTICA: UMA SINERGIA NECESSÁRIA 6 Sá (2009) elenca uma relação de valores, dentre eles: abnegação, atitude, benevolência, coerência, disciplina, eloquência, fidelidade, gratidão, honestidade, idealismo, os quais são primordiais à realização dos serviços profissionais. Dessa maneira, Medeiros e Hernandes (2004, p. 98) esclarecem que: a ética profissional é o conjunto de princípios que regem a conduta funcional de uma profissão. Princípios esses, que são essenciais para a atuação profissional. No entanto, é importante perceber o quanto esse conjunto de normas morais se faz necessário no desempenho profissional, pois é através dos preceitos éticos incorporados nas ações individuais de cada sujeito, que se pode avaliar a conduta profissional de cada indivíduo. Quando a honestidade e a benevolência são presentes no desempenho do ambiente profissional, é possível identificar o caráter do profissional, garantindo a extensão da ética para o benefício comum de todos. 4 ÉTICA E DEONTOLOGIA A referência à ética ocorre no domínio da reflexão filosófica sobre a ação humana, o cenário deste debate é íntimo, ou seja, na consciência de cada um. No aspecto de que cada indivíduo intenta caminhar no sentido de uma vida boa, com e para os outros, em instituições justas. É a ação que realiza cada pessoa, no fundo, a questão ética trata-se da administração que cada qual faz da sua vida, para o seu próprio bem (RICOEUR, 1995; SAVATER, 2000). UNI O termo “deontologia” surgiu das palavras gregas déon, déontos, com significado de dever, e logos, que significa estudo, discurso ou tratado. É, portanto, a deontologia um estudo dos deveres do profissional. Ao referir-se à deontologia entra-se no âmbito do conhecimento sobre o dever, o adequado, o conveniente. A peculiaridade deste nível valorativo (o campo deontológico) é que não projeta julgamento sobre o proceder das pessoas enquanto tais, nem se ocupa com o ideal de uma boa vida. A “jurisdição do deontológico é sobre os membros de uma profissão, enquanto comprometidos a realizar as atividades profissionais” (SAVATER, 2000, p. 148). O que se objetiva com a deontologia não é a felicidade (supondo que este é um objetivo da jurisdição da ética), mas a conservação da ordem e a harmonia da sociedade. Pode-se dizer que estão aqui em discussão questões de procedimento, de disciplina (NUNES; AMARAL; GONÇALVES, 2005). TÓPICO 1 | ÉTICA NA ENFERMAGEM 7 A deontologia é, portanto, o tratado do dever, o conjunto de deveres, princípios e regras adotados por um determinado grupo profissional. Dentro da conceituação já exposta, de ética e de moral, poderíamos denominar a deontologia profissional como moral profissional, isto é, o conjunto das obrigações que o profissional tem, porque assumiu, com seu meio profissional (no caso dos profissionais da área da saúde): o paciente, a família do paciente, a sociedade em geral, o colega, o Estado. A deontologia, sendo pertinente à conceituação para a atuação profissional dentro de qualquer uma das prestações de serviço de saúde, será uma questão de “dever ser”, e não de “ser”, de acordo com o que definimos, e defendemos, para a conduta ética individual (SEGRE; COHEN, 1999). Considerando a deontologia como a formulação de um “dever ser profissional”, poderemos defini-la como o conjunto de normas referentes a uma determinada profissão, fundamentadas nos princípios da moral e do direito, que buscam definir as boas práticas, tendo em conta as particularidades da profissão. Assim como a moral e o direito evoluem com o passar do tempo, também as deontologias profissionais tendem a adaptar-se às circunstâncias de cada época (NUNES; AMARAL; GONÇALVES, 2005). A grande distinção entre a deontologia, a ética e a moral é proveniente da própria origem das normas, uma vez que as deontológicas são instituídas pelos próprios profissionais, depois de reflexão sobre a prática e tendo como princípio o que favorece e prejudica a profissão (NUNES; AMARAL; GONÇALVES, 2005). Sabemos que as decisões de enfermagem afetam consideravelmente a vida das pessoas, tanto no presente como no futuro, e que, no domínio da prática, se entroncam os aspectos relacionados com os parâmetros de excelência, as legis artis, o juízo deontológico, decorrente da assunção de deveres estatuídos, que acarretam a dimensão disciplinar. Dizer que existem normas significa igualmente dizer que as normas são passíveis de ameaças pelo descumprimento e de pouca utilidade seria uma deontologia amputada da capacidade disciplinar, da possibilidade de punir as violações dos deveres (NUNES; AMARAL; GONÇALVES, 2005). A deontologia demonstra, dessa maneira, duas faces, de um lado, a expressão das regras e dos deveres; do outro, o poder e a possibilidade de reconhecer mérito ou aplicar sanção. Participando de um todo complexo, os deveres emergem em conexão à moral profissional e ao direito. Expondo de outra maneira: sempre foi necessário uma medida, uma régua ou um esquadro, menos mutável que a própria realidade do cotidiano, para julgar sobre as coisas, portanto, a regra, a norma ou o cânone podem ser vistos como balizadores para o juízo (NUNES; AMARAL; GONÇALVES, 2005). UNIDADE 1 | ÉTICA PROFISSIONAL E BIOÉTICA: UMA SINERGIA NECESSÁRIA 8 5 ÉTICA E PESQUISA EM SAÚDE O avanço nos cuidados e na prevenção de doenças depende da compreensão de processos fisiológicos e patológicos e para isso são necessárias pesquisas em seres humanos. As descobertasprovenientes da pesquisa em seres humanos contribuíram de maneira significativa para a saúde humana (PESSINI; BARCHIFONTAINE, 2014). Segundo Almeida (2009, p. 14): “Além do conhecimento sobre as causas das doenças e sua evolução, essas pesquisas trouxeram a perspectiva do desenvolvimento de novas tecnologias biomédicas para o controle ou até mesmo a cura dessas doenças”. O termo “pesquisa” se refere a um tipo de atividade estruturada para desenvolver ou contribuir para o conhecimento generalizável. Esse conhecimento consiste em teorias, princípios ou relações, ou acúmulo de informações em que se baseiam, que podem ser comprovados por métodos científicos de observação e inferências aceitos. No atual contexto, “pesquisa” inclui os estudos biomédicos e de conduta relativa à saúde humana (PESSINI; BARCHIFONTAINE, 2014). A realização dos experimentos em seres humanos pode expor a saúde individual e coletiva de pessoas que indiretamente não serão beneficiadas pelos resultados da pesquisa. Nesse contexto, as questões da ética nos ensaios clínicos suscitam o interesse de pesquisadores e provocam grandes discussões. A pesquisa clínica é essencial para a melhoria da qualidade de vida das populações, mas a questão que surge é até que ponto se pode permitir a participação de pessoas em estudos dessa natureza, em função dos avanços da medicina. Visto que o limite ético das investigações e experimentos em seres humanos está entre a real necessidade da experimentação científica e a violação do direito à saúde (MORO et al., 2011). A pesquisa em qualquer área do conhecimento abrangendo seres humanos deverá ser adequada aos princípios científicos que a justifiquem e com probabilidades concretas de responder às incertezas que a antecederam, prevalecendo sempre as possibilidades dos benefícios esperados sobre os riscos previsíveis, assegurar aos sujeitos da pesquisa os seus benefícios, respeitando os valores culturais, sociais, morais, étnicos, religiosos e éticos, deverá também prever procedimentos que assegurem a confidencialidade e a privacidade dos indivíduos pesquisados, garantindo a sua proteção de imagem, a sua não censura e a não utilização das informações em prejuízo dos indivíduos e/ou das comunidades (SARDENBERG et al., 1999). Além disso, toda pesquisa em seres humanos deve ser realizada de acordo com três princípios éticos básicos: respeito à autonomia, beneficência e justiça, que serão abordados posteriormente. Por essa razão, toda pesquisa que se propõe a trabalhar com seres humanos suscita implicações éticas que precisam ser debatidas e adequadas para sua realização. No Brasil, essas implicações éticas têm que cumprir rigorosamente as TÓPICO 1 | ÉTICA NA ENFERMAGEM 9 recomendações contidas na Resolução do Conselho Nacional de Saúde (CNS) nº 196, de 10 de outubro de 1996, que estabelece padrões de conduta para proteger a integridade física e psíquica, a saúde, a dignidade, a liberdade, o bem-estar, a vida e os direitos dos envolvidos em experiências científicas (BRASIL, 1996). UNI Para conhecer a Resolução nº 196/96 do Conselho Nacional de Saúde, você pode acessar:<http://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/cns/1996/res0196_10_10_1996.html>. 5.1 HISTÓRIA DA ÉTICA EM PESQUISA EM SAÚDE A partir de agora entraremos na história da ética em pesquisa com seres humanos. Vamos ver que a história da pesquisa envolvendo seres humanos percorreu diversos caminhos. Muitas vezes foram perversos e duvidosos, apresentando episódios cercados de misticismo e crueldade. Ainda assim, houve momentos de consciência e justiça humanitária, em que se tentou estabelecer padrões adequados para o estudo em humanos. Desde a Grécia antiga já havia relatos de pesquisa em seres humanos e animais, porém não eram científicas e sim por questões morais e religiosas. Mas Hipócrates modificou isso, separou a medicina da religião e da magia, afastou as crenças sobre as doenças e fundou os alicerces da medicina racional e científica. E se fez presente a preocupação com a ética médica, como visto no Juramento de Hipócrates (PUCCI, 2009). UNI Para conhecer o Juramento de Hipócrates, você pode acessar: <http://books. scielo.org/id/8kf92/pdf/rezende-9788561673635-04.pdf>. A história também reconheceu os estudos em cadáveres. André Vesálio (1514-1564) foi um dos primeiros a quebrar o tabu teológico e moral de estudar a anatomia humana por meio de cadáveres, que na época era considerado um sacrilégio, a menos se se tratasse de um homem criminoso. Mas em 1537, o Papa Clemente VII oficializou a autorização da dissecação anatômica em cadáveres humanos (KOTTOW, 2008). UNIDADE 1 | ÉTICA PROFISSIONAL E BIOÉTICA: UMA SINERGIA NECESSÁRIA 10 A partir de então se iniciou a ciência experimental, muitos autores têm como pioneiro Galileu Galilei (1564-1642) no início no século XVI, que sempre clamava que a verdade deveria ser buscada na experimentação e na observação, e não aceita como algo imposto por escolásticos (HOSSNE, 2006). Max Weber (1864-1920) defendeu a ideia de que a ciência ganha da sociedade o encargo de solucionar alguns problemas, sendo esses resultados aplicados como prioridades também sociais, sendo a ciência então regulada por estes dois momentos sociais, eminentemente éticos, por lidar com valores (KOTTOW, 2008). Observa-se, caro acadêmico, que as questões éticas advindas e/ou relacionadas aos novos conhecimentos que surgiam a todo instante nesse período da história até as primeiras décadas do século XX, eram tratadas principalmente de acordo com a ética e virtude do próprio pesquisador (HOSSNE, 2006). Como é o caso do médico inglês Edmund Jenner (1796), que ao estudar uma vacina contra a varíola, coordenou seus estudos em seus filhos e nas crianças vizinhas, colocando-os em risco, porém, publicou seus resultados após 20 anos, devido seus deslizes ético-morais (KIPPER, 2010). Existiu também o caso do Dr. Albert Neisser (1900), cientista, que estudou a sífilis e a gonorreia, e teve papel relevante no diagnóstico diferencial dessas patologias. Foi autor do mais abrangente trabalho experimental sobre sífilis publicado na história. Relata-se que ele injetou soro de um paciente com sífilis por via subcutânea em quatro pacientes do gênero feminino com idades entre 10 a 24 anos. E também injetou por via endovenosa em quatro prostitutas de idades entre 17 a 20 anos. Todas desenvolveram sífilis, entretanto, a metodologia adotada por ele é citada como infração à bioética (LIGON 2005). Nessa época também ocorreu autoexperimentação: Friedrich Sertürner estudou em si mesmo os efeitos da morfina; John Hunter se autovinculou ao material extraído de um cancro luético; Sir Humphry Davy inalou óxido nitroso para conhecer suas propriedades; Eusébio Valli injetou uma mistura de pus variólico, Lazaro Spallanzani estudou o mecanismo da digestão, ingerindo repetidamente tubinhos com alimentos; Max von Pettenkoffer ingeriu bacilos de cólera e Frederick Alexander Lindemann injetou em si mesmo a espiroqueta da sífilis (SGRECCIA, 2009). Em 1901, Walter Reed já apontava alguns requisitos para haver um mínimo de ética em pesquisa, principalmente, com o consentimento dos participantes, bem como o pagamento em dinheiro pela participação destes nos estudos (GUILHAM; DINIZ, 2005). Sugeria ainda que em casos de publicação dos resultados deveria constar a frase “com total consentimento do sujeito”. No entanto, essas exigências foram desconsideradas por longo período (KIPPER, 2010). TÓPICO 1 | ÉTICA NA ENFERMAGEM 11 Pierre-Charles Bongrand demonstrou em 1905 uma extensa lista de experimentos e autoexperimentos biomédicos em seres humanos, chegando à conclusão de que, em prol da ciência, esses estudos, ainda que “imorais”, eram “ocasionalmente necessários”. As pesquisas eram realizadas com os moribundos, os prisioneiros e os condenados à morte, mas não as pessoas vulneráveis, como os pobres, as crianças e as mulheres grávidas, mencionando o consentimentovoluntário e a necessidade de compensações. (KIPPER, 2010). Em 1914, a Alemanha possuía um regulamento sobre procedimentos terapêuticos de experimentação humana, sendo este estabelecido pelo Ministério do Interior Germânico, visando controlar o abuso e o desrespeito à dignidade humana nas pesquisas. Com a propagação das perversidades envolvendo médicos e pesquisadores alemães da Segunda Guerra Mundial, a comunidade organizou-se para julgá-los como criminosos de guerra, no Tribunal de Nuremberg, em 1947, julgamento promovido pelos Estados Unidos da América (KIPPER, 2010). Caro acadêmico! Perceba que as atrocidades cometidas durante a Segunda Guerra Mundial impuseram o desenvolvimento de normas éticas para a realização de pesquisas com seres humanos. Após esse julgamento, foi elaborado o primeiro documento internacional sobre ética em pesquisa, o Código de Nuremberg, que englobava recomendações sobre os aspectos que deveriam guiar a realização de investigações com seres humanos (PUCCI, 2009). O código demonstrou a necessidade de uma fase pré-clínica em animais antes de se efetuar testes em seres humanos, com possibilidade de se conseguir resultados vantajosos a partir dos estudos e avaliar cuidadosamente os riscos e benefícios do estudo. Outro avanço importante foi apontar a importância do consentimento voluntário, tornando-se elemento absolutamente essencial para a inclusão do indivíduo na pesquisa e de responsabilidade do pesquisador (COSTA; OSELKA; GARRAFA, 1998). Henry Beecher, na década de 1960, publicou um artigo intitulado “Ética e pesquisa clínica”, chamando a atenção de 22 casos de pesquisas impróprias que haviam sido divulgadas por periódicos médicos de grande prestígio internacional. As pesquisas relatadas haviam sido financiadas por instituições governamentais, universidades e companhias farmacêuticas e utilizavam nos estudos pessoas debilitadas, como soldados, idosos, pacientes psiquiátricos, adultos e crianças com deficiência mental e pessoas internadas em hospitais (COSTA; OSELKA; GARRAFA, 1998; KIPPER, 2010). Vamos ver agora alguns exemplos desses casos de pesquisa imprópria, o Estudo de Tugeskee, experimento financiado e conduzido pelo Serviço de Saúde Pública dos Estados Unidos, que durou em torno de 40 anos, período entre 1932 e 1972. No estudo foram utilizados cerca de 400 homens negros portadores de sífilis, deixados sem tratamento com o objetivo de estudar a evolução natural UNIDADE 1 | ÉTICA PROFISSIONAL E BIOÉTICA: UMA SINERGIA NECESSÁRIA 12 da doença. Para eles era oferecido somente placebo, mesmo após a descoberta da penicilina, que era o medicamento utilizado para o tratamento da doença. Outro estudo inoculou o vírus da hepatite em crianças com deficiência mental, internadas na Escola Estatal de Willowbrook, e o da injeção de células cancerígenas em pacientes gravemente doentes, hospitalizados no Hospital Judeu de Doenças Crônicas de Brooklyn (KOTTOW, 2008). Após esses eventos no mundo da pesquisa, em 1964, na 18ª Assembleia da Associação Médica Mundial, foi revisto o Código de Nüremberg e aprovada a Declaração de Helsinque. Essa declaração foi aprovada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e reconheceu os experimentos em seres humanos em benefício do paciente e da ciência, estabelecendo regras éticas que devem ser cumpridas. Também, se atém aos riscos dos participantes, reforçando a necessidade do consentimento livre e esclarecido e a indicação do melhor tratamento, diagnóstico comprovado, incluindo aqueles do grupo de controle (KOTTOW, 2008). Na década de 1980, o Council for International Organizations of Medical Sciences (CIOMS) e a Organização Mundial da Saúde (OMS) elaboraram um documento mais detalhado sobre o assunto, estabelecendo as "Diretrizes internacionais para a pesquisa biomédica em seres humanos", traduzida para a língua portuguesa pelo Ministério da Saúde (COSTA; OSELKA; GARRAFA, 1998). Você acabou de ver como foi a evolução da história da pesquisa em seres humanos e como foi a implementação da regulamentação dentro desse meio. 13 Após o término deste tópico, estudamos que: • A palavra "ética" é amplamente empregada nas diferentes áreas de atuação profissional, como também em situações cotidianas, na política, nas relações interpessoais, na educação, na saúde, entre outros. • A ética está relacionada ao estudo da conduta humana, já a moral está atrelada ao conjunto de normas baseadas nos costumes e na cultura de uma sociedade. • O conjunto de padrões que regem a conduta humana é conhecido por ética profissional e está relacionado à atividade que o homem desempenha profissionalmente. • A deontologia pode ser definida como o conjunto de normas referentes a uma determinada profissão, fundamentadas nos princípios da moral e do direito, que buscam definir as boas práticas, tendo em conta as particularidades da profissão. • A pesquisa em seres humanos é imprescindível para o desenvolvimento da ciência e para aumentar a qualidade de vida da sociedade. • No Brasil, em 1996, foi criada a Resolução nº 196/96 do Conselho Nacional de Saúde, que determina padrões de conduta para proteger a integridade física e psíquica, a saúde, a dignidade, a liberdade, o bem-estar, a vida e os direitos dos envolvidos em experiências científicas. RESUMO DO TÓPICO 1 14 1 É uma área da filosofia que estuda os juízos de apreciação que se referem ao comportamento humano, passível de qualificação do ponto de vista do bem e do mal. Significa caráter, costume, hábito ou modo de ser. Compreende os comportamentos que caracterizam uma cultura ou um grupo, fazendo uso de valores. Assinale a alternativa que corresponde à afirmação: a) ( ) Ética. b) ( ) Bioética. c) ( ) Moral. d) ( ) Consciência humana. 2 Defina ética profissional: 3 Qual é a distinção entre a deontologia, a ética e a moral? 4 Toda pesquisa em seres humanos deve ser realizada de acordo com três princípios éticos básicos. Assinale a alternativa que não apresenta um desses princípios: a) ( ) Autonomia. b) ( ) Beneficência. c) ( ) Justiça. d) ( ) Igualdade. AUTOATIVIDADE 15 TÓPICO 2 BIOÉTICA NA ENFERMAGEM UNIDADE 1 1 INTRODUÇÃO Caro acadêmico! Após estudarmos o conceito e o significado de ética nas diferentes áreas, a partir de agora abordaremos a ética sob o enfoque da vida e da saúde humana, conhecida como bioética. A bioética é a parte da ética voltada para as questões da vida e da saúde humana, entendida como um conjunto organizado de reflexões construtivas, no qual cada pessoa toma posição quanto às situações conflituosas referentes à vida. Dessa forma, é necessário retomar as reflexões éticas, no que tange aos problemas éticos decorrentes dos avanços científicos nas áreas da biologia e da medicina. Neste tópico, nossa intenção é conduzir você ao conhecimento da bioética perante os avanços científicos e problemas éticos vivenciados pelos profissionais da área da saúde frente à vida, à qualidade de vida e à morte. Podemos ainda acrescentar assuntos como aborto, distanásia e ortotanásia, transplante de órgãos, sigilo profissional, suicídio assistido, reprodução assistida e experimentação com seres humanos. Vamos aos estudos! 2 BIOÉTICA “O termo bioética diz respeito ao campo de estudo sistemático, plural e interdisciplinar, envolvendo questões morais teóricas e práticas, levantadas pela medicina e ciência da vida, enquanto aplicadas aos seres humanos e à relação destes com a biosfera” (UNESCO, Elaboration of the Declaration on Universal Norms on Bioethics: fourth outline of a text. Paris, 12-14 de dezembro de 2004). 2.1 ORIGEM Segundo Pessini e Barchifontaine (2014), o movimento da bioética estabeleceu-se na década de 1970 nos EUA, na década de 1980 na Europa, no início da década de 1990 na Ásia e a partir de meados da década de 1990, nos países em desenvolvimento. UNIDADE 1 | ÉTICA PROFISSIONAL E BIOÉTICA: UMA SINERGIA NECESSÁRIA 16 No entanto, caro acadêmico, vocêsabe quem inventou o termo ‘bioética’? A criação do termo bioética atribuiu-se primeiramente a Van Rensselaer Potter, bioquímico e oncologista americano que trabalhou na Faculdade de Medicina da Universidade de Wisconsin, que cunhou o termo no artigo “Bioethics, the Science of Survival”, publicado em 1970, na revista Perspectives in Biology and Medicine e, posteriormente, no seu livro Bioethics: Bridge to the Future, publicado em 1971. FIGURA 2 – VAN RENSSELAER POTTER E SUA OBRA “BIOETHICS: BRIGET TO THE FUTURE” FONTE: Disponível em: <https://alchetron.com/Van-Rensselaer-Potter>. Acesso em: 7 abr. 2018. Na contracapa de seu livro, Potter (1971) disserta: Ar e água poluída, explosão populacional, ecologia, conservação – muitas vozes falam, muitas definições são dadas. Quem está certo? As ideias se entrecruzam e existem argumentos conflitivos que confundem as questões e atrasam a ação. Qual é a resposta? O homem realmente está colocando em risco o seu meio ambiente? Não seria necessário aprimorar as condições que ele criou? A ameaça de sobrevivência é real ou se trata de pura propaganda de alguns teóricos histéricos? [...] Esta nova ciência, bioethics, combina o trabalho dos humanistas e cientistas, cujos objetivos são sabedoria e conhecimento. A sabedoria é definida como o conhecimento de como usar o conhecimento para o bem social. A busca de sabedoria tem uma nova orientação porque a sobrevivência do homem está em jogo. Os valores éticos devem ser testados em termos de futuro e não podem ser divorciados dos fatos biológicos. Ações que diminuem as chances de sobrevivência humana são imorais e devem ser julgadas em termos do conhecimento disponível e no monitoramento de “parâmetros de sobrevivência” que são escolhidos pelos cientistas e humanistas. TÓPICO 2 | BIOÉTICA NA ENFERMAGEM 17 Para Potter, o termo bioética é a ponte entre a ciência biológica e a ética, ou seja, expressar a necessidade de equilibrar a orientação científica da biologia com os valores humanos. Expressando grande preocupação com o avanço científico crescendo de forma exponencial, sem se acompanhar de adequada reflexão sobre o seu uso e possíveis consequências para a sobrevivência do homem (LOPES, 2014; PESSINI, 2013). Entretanto, em 1997, o professor Rolf Lother, da Universidade Humboldt, de Berlim, em conferência em Tübingen, menciona Fritz Jahr, a quem credita ter cunhado a palavra bioética (bio + ethik) pela primeira vez, em um artigo publicado no periódico alemão Kosmos, em 1927. Fritz Jahr, em seu artigo “Bioética – revendo as relações éticas dos seres humanos com os animais e plantas”, caracterizou a bioética como o reconhecimento de obrigações éticas, não apenas com relação ao ser humano, mas para com todos os seres vivos (LOPES, 2014; PESSINI, 2013). Seguindo a linha do pensamento filosófico de Kant, propôs o imperativo bioético: “Respeita cada ser vivo em princípio como uma finalidade em si e trata-o como tal na medida do possível” (JAHR, 1927apud GOLDIM, 2006, p. 86). FIGURA 3 - EDIÇÃO DA REVISTA KOSMOS EM QUE FOI PUBLICADO ARTIGO SOBRE BIOÉTICA DE FRITZ JAHR FONTE: Disponível em: <https://bioamigo.com.br/category/ historia-da-medicina/>. Acesso em: 9 abr. 2018. Hans-Martin Sass (2011) reúne uma coletânea dos ensaios escritos por Jahr e apresenta um escrito sobre seu imperativo bioético de maneira sistematizada, explicitando sua visão bioética e a expansão do pensamento filosófico de Kant. Nesse sentido, Sass (2011, p. 273-275) identifica alguns aspectos sobre o imperativo bioético de Jahr: UNIDADE 1 | ÉTICA PROFISSIONAL E BIOÉTICA: UMA SINERGIA NECESSÁRIA 18 1. Uma nova disciplina acadêmica: o imperativo bioético deve ser “desenvolvido para educar e nortear as atitudes coletivas e individuais morais e culturais e exige novas responsabilidades e respeito com todas as formas de vida”. 2. Uma nova Ética de Virtude integradora e fundamental: o Imperativo Bioético baseia-se nas evidências históricas e outros indícios de que a compaixão é um fenômeno empírico estabelecido da alma humana. 3. Um novo Princípio da Regra de Ouro: o Imperativo Bioético reforça e complementa os deveres e o reconhecimento morais com os irmãos no contexto kantiano e tem de ser seguido em relação à cultura humana e obrigações morais mútuas entre os seres humanos. 4. Uma nova Regra de Cuidados com a Saúde Pessoal e Ética na Saúde Pública: o Imperativo Bioético inclui obrigações com o corpo e a alma de alguém enquanto ser vivo. 5. Uma nova Regra de Cuidados com a Saúde Pública e Ética: Jahr expressa uma visão crítica e conservadora sobre as questões de saúde pública, na qual cumprir as obrigações com alguém é também um dever com os outros e a saúde pública, realçando a estreita interação dos cuidados com a saúde pessoal e pública. 6. Uma nova Regra de Gestão Global e Ética: Jahr propõe uma regra universal ética de cuidar positivamente e proativamente da saúde e da vida deste globo como parte de um cosmos vivo, que resulta no imperativo bioético “Respeite cada ser vivo por questão de princípios e trate-o, se possível, como tal!” 7. Uma nova Regra de Gestão e Ética Corporativa: o Imperativo Bioético tem de reconhecer, guiar e cultivar a luta pela vida entre as formas de vida e os ambientes vivos culturais e naturais. 8. Uma nova Regra de Terminologia e Ética Terminológica: Jahr inventou o termo bioética, pois via a necessidade de uma terminologia clara e precisa para definir nosso relacionamento com as formas de vida da realidade como diferente em relação às formas inanimadas e estabelecer a gestão da ciência e tecnologia mais modernas e suas aplicações de modo moralmente responsável. 9. Uma nova Regra e Ética de Diferenciação: ao inventar o termo Bioética, Jahr seguiu a diferenciação da terminologia da ciência mais moderna, para analisar as formas de natureza viva a partir de outras formas de natureza inanimada. 10. Uma Nova Regra de Interação e Regra de Integração na Ética: para Jahr, a ética ao animal e a ética social são campos diferentes, mas se interagem e se integram, trazendo formas e tons diferentes do Imperativo Bioético e descrevendo a multiplicidade de obrigações éticas no século XXI. Portanto, caro acadêmico, é perceptível que o conceito desenvolvido por Jahr é mais abrangente do que o de Potter, pois estende a visão bioética a todas as formas de vida, atribuindo, assim, deveres dos seres humanos para com os animais e as plantas. Ainda em 1970, a palavra bioética teve também origem paralelamente na Universidade de Georgetown. André Hellegers utilizou esse termo para denominar os novos estudos que estavam sendo propostos na área de reprodução humana. Foi a primeira vez que se utilizou a palavra bioética no nome de uma instituição: The Joseph and Rose Kennedy Institute for the Study of Human Reproduction and Bioethcis, conhecida hoje como Kennedy Institute of Ethics (LOPES, 2014; PESSINI, 2013). TÓPICO 2 | BIOÉTICA NA ENFERMAGEM 19 Apesar de ter sua origem registrada na década de 1970, a bioética, enquanto ciência, tem sua origem em meio às profundas mudanças sociais, políticas e culturais ocorridas principalmente após a Segunda Guerra Mundial (1939-1945). Nos campos de concentração nazistas os prisioneiros eram submetidos a cruéis experimentações de fármacos, gás e venenos. Experimentos foram realizados com câmaras de descompressão para estudar os efeitos do voo a grandes alturas; para analisar os efeitos do congelamento, prisioneiros nus ou vestidos foram submetidos a temperaturas polares produzidas artificialmente, e experiências de queimaduras com gás mostarda foram feitas nos campos de concentração. Ainda eram realizados experimentos de cortes de ossos, de músculos e de nervos, injeção de vacinas contendo soros anticancerígenos, hormônios e de doenças (SGRECCIA, 2009). Em consequência das atrocidades citadas acima que aconteceram durante a Segunda Guerra Mundial por médicos e pesquisadores alemães, foi constituídoo Tribunal Militar Internacional de Nuremberg para julgamento de 24 pessoas, sendo 20 médicos. Em agosto de 1947, o mesmo tribunal divulga as suas sentenças e elabora um documento histórico chamado Código de Nuremberg (PUCCI, 2009; LOPES, 2014). FIGURA 4 – JULGAMENTO DE NUREMBERG FONTE: Disponível em: <https://culturaeviagem.wordpress.com/2014/04/02/o--filme- o-julgamento-de-nuremberg-aula-de-historia-direito-e-filosofia-para--a-humanidade- refletir/>. Acesso em: 15 abr. 2018. UNIDADE 1 | ÉTICA PROFISSIONAL E BIOÉTICA: UMA SINERGIA NECESSÁRIA 20 UNI Para conhecer o Código de Nuremberg, você pode acessar: <https://www.ufrgs. br/bioetica/nuremcod.htm>. Caro acadêmico, perceba que o Código de Nuremberg foi um marco histórico para a bioética, pois pela primeira vez um documento internacional instituía normas éticas para a realização de pesquisas com seres humanos. Esse Código estabeleceu as bases do consentimento informado e alguns princípios basilares que devem ser assegurados: 1. O consentimento voluntário do ser humano é absolutamente essencial. Isso significa que as pessoas que serão submetidas ao experimento devem ser legalmente capazes de dar consentimento; essas pessoas devem exercer o livre direito de escolha sem qualquer intervenção de elementos de força, fraude, mentira, coação, astúcia ou outra forma de restrição posterior; devem ter conhecimento suficiente do assunto em estudo para tomarem uma decisão. Esse último aspecto exige que sejam explicados às pessoas a natureza, a duração e o propósito do experimento; os métodos segundo os quais será conduzido; as inconveniências e os riscos esperados; os efeitos sobre a saúde ou sobre a pessoa do participante, que eventualmente possam ocorrer, devido à sua participação no experimento. O dever e a responsabilidade de garantir a qualidade do consentimento repousam sobre o pesquisador que inicia ou dirige um experimento ou se compromete nele. São deveres e responsabilidades pessoais que não podem ser delegados a outrem impunemente. 2. O experimento deve ser tal que produza resultados vantajosos para a sociedade, que não possam ser buscados por outros métodos de estudo, mas não podem ser feitos de maneira casuística ou desnecessariamente. 3. O experimento deve ser baseado em resultados de experimentação em animais e no conhecimento da evolução da doença ou outros problemas em estudo; dessa maneira, os resultados já conhecidos justificam a condição do experimento. 4. O experimento deve ser conduzido de maneira a evitar todo sofrimento e danos desnecessários, quer físicos, quer materiais. 5. Não deve ser conduzido qualquer experimento quando existirem razões para acreditar que pode ocorrer morte ou invalidez permanente; exceto, talvez, quando o próprio médico pesquisador se submeter ao experimento. 6. O grau de risco aceitável deve ser limitado pela importância do problema que o pesquisador se propõe a resolver. 7. Devem ser tomados cuidados especiais para proteger o participante do experimento de qualquer possibilidade de dano, invalidez ou morte, mesmo que remota. 8. O experimento deve ser conduzido apenas por pessoas cientificamente qualificadas. 9. O participante do experimento deve ter a liberdade de se retirar no decorrer do experimento. TÓPICO 2 | BIOÉTICA NA ENFERMAGEM 21 10. O pesquisador deve estar preparado para suspender os procedimentos experimentais em qualquer estágio, se ele tiver motivos razoáveis para acreditar que a continuação do experimento provavelmente causará danos, invalidez ou morte para os participantes (CÓDIGO DE NUREMBERG, 1949, p. 181-182). UNI Se você quiser conhecer mais sobre o Tribunal de Nuremberg, assista ao filme “O Julgamento de Nuremberg”, que retrata um dos acontecimentos mais emblemáticos da história, em 1947, na Alemanha. FONTE: Disponível em: <https://culturaeviagem.wordpress.com/2014/04/02/o--filme-o- julgamento-de-nuremberg-aula-de-historia-direito-e-filosofia-para--a-humanidade-refletir/>. Acesso em: 15 abr. 2018. 2.2 CONCEITO Bioética seria um ramo ou subclasse da ética, que focaliza nas questões referentes à vida humana (e, portanto, à saúde). Fundamenta-se mais na razão e juízo moral do que em uma vertente filosófica ou religiosa. Mesmo fazendo uso de princípios e valores tradicionais, buscam-se soluções novas para dilemas emergentes, como clonagem de seres vivos, experiências para alterar genoma humano ou influir no código genético, além de outros trazidos pela engenharia genética e o rápido progresso científico e tecnológico (SEGRE; COHEN, 1999; OGUISSO; SCHIMIDT, 2007). Ao contrário da Ética Médica, com seu modelo médico, a Bioética é absolutamente interdisciplinar, campo de ação e de interação de profissionais e estudiosos provenientes das mais diversificadas áreas do conhecimento humano. Médicos, biomédicos, enfermeiros, biólogos, farmacêuticos, psicólogos, psicanalistas, cientistas sociais, juristas, religiosos, filósofos, são apenas exemplos de profissionais, de diferentes formações, que têm um papel a desempenhar na UNIDADE 1 | ÉTICA PROFISSIONAL E BIOÉTICA: UMA SINERGIA NECESSÁRIA 22 discussão bioética. Refletindo a realidade de que as decisões médicas não podem mais ser baseadas exclusivamente na ciência médica (BANKOWSKI; LEVINE, 1994; OGUISSO; SCHIMIDT, 2007; SEGRE; COHEN, 1999;). Porque a bioética, debatendo a vida e a saúde humanas, não somente interessa a todos os homens, bem como exige, para esse debate, o bojo de conhecimento de todos esses profissionais (SEGRE; COHEN, 1999). Dessa forma, como uma necessidade de proteger a vida humana diante das descobertas e inovações científicas e tecnológicas, a bioética incorpora uma dimensão social, relacionada com justiça e direitos humanos, respeito pela dignidade humana, autonomia individual e respeito pelas comunidades (OGUISSO; SCHIMIDT, 2007). Justamente em razão dos temas mais em voga da bioética serem referentes à vida e à saúde de cada um dos componentes da sociedade, tem-se que essas questões devam ser abordadas e discutidas dentro da própria sociedade, com um leque de participação de pessoas tão diversificado quanto possível (SEGRE; COHEN, 1999). Pautas como a reprodução assistida, o aborto, a engenharia genética, o transplante de órgãos, o suicídio assistido e o planejamento familiar são pertinentes à pessoa, portanto, ao cidadão, sendo que sua normatização, procedida democraticamente, é um coroamento dos “direitos da cidadania”. Não serão mais colegiados de médicos ou de juízes (ou de qualquer outro grupamento corporativo) que haverão de decidir sobre pautas que são referentes aos aspectos mais íntimos da vida de cada pessoa. São todos seres humanos, atuando como sujeitos (e não como objetos) de nosso destino, que vamos nos posicionar sobre o que consideramos construtivo ou destrutivo, adequado ou inadequado, para o nosso convívio em sociedade (SEGRE; COHEN, 1999). 2.3 PRINCÍPIOS Os princípios bioéticos remetem ao Relatório de Belmont, que retrata a ética ligada à pesquisa com seres humanos, mas também para a reflexão bioética em geral. Este relatório, publicado em 1978, definiu que toda pesquisa em seres humanos deve ser realizada de acordo com três princípios éticos básicos: respeito à autonomia, beneficência e justiça. Posteriormente foi adicionado o princípio de não maleficência. Então, vamos agora conhecer os principais princípios bioéticos e suas definições. Princípio da autonomia O princípio da autonomia é aquele com o qual o ser humano (paciente) possui o direito de ser responsável por suas ações, de exercer seu direito de escolha, respeitando-se sua vontade, valores e crenças, reconhecendo-se seu domínio pela própria vida e o respeito à sua intimidade (CAMARGO, 2003). TÓPICO 2 | BIOÉTICA NA ENFERMAGEM 23 Esse princípio requer que o profissional da saúde respeite a vontade do paciente, ou de seu representante, levando em consideração, em certa medida, seus valores morais e crenças religiosas.Reconhece o domínio do paciente sobre a própria vida (corpo e mente) e o respeito à sua intimidade, restringindo, com isso, a intromissão alheia no mundo daquele que está sendo submetido a um tratamento. Princípio da beneficência O princípio da beneficência requer o atendimento por parte do profissional de saúde aos mais importantes interesses das pessoas envolvidas nas práticas biomédicas ou médicas, para atingir seu bem-estar, evitando, na medida do possível, quaisquer moléstias. Fundamenta-se na tradição hipocrática de que o profissional da saúde, em particular o médico, só pode usar o tratamento para o bem do enfermo, segundo sua capacidade e juízo, e nunca para fazer o mal ou praticar a injustiça. No que concerne às moléstias, deverá o profissional criar na prática médica o hábito de auxiliar ou socorrer, sem prejudicar ou causar mal ou dano ao paciente (DINIZ, 2009). Esse princípio baseia-se na obrigatoriedade do profissional da saúde de promover, em primeiro lugar, o bem-estar do paciente, tendo a função de fazer o bem, passar confiança e evitar danos (CAMARGO, 2003). Princípio da não maleficência O princípio da não maleficência é um desdobramento da beneficência, por conter a obrigação de não acarretar dano intencional (DINIZ, 2009). Seria o princípio de não causar mal ou danos aos pacientes. Princípio da justiça O princípio da justiça requer a imparcialidade na distribuição dos riscos e benefícios, no que atina à prática médica pelos profissionais da saúde, pois os iguais deverão ser tratados igualmente e os desiguais de maneira diferente (DINIZ, 2009). 3 DIREITOS HUMANOS E ENFERMAGEM Caro acadêmico! Você sabe o que são direitos humanos? UNIDADE 1 | ÉTICA PROFISSIONAL E BIOÉTICA: UMA SINERGIA NECESSÁRIA 24 FIGURA 5 - CHARGE SOBRE DIGNIDADE HUMANA Programa Nacional de Direitos Humanos FONTE: Disponível em: <https://saalmeida.wordpress.com/2015/09/18/a- dinamica-entre-valores-e-direitos-humanos/>. Acesso em: 28 abr. 2018. Os direitos humanos são compreendidos como um conjunto de direitos, que são indispensáveis à vida, fundamentados na liberdade, igualdade e dignidade, sendo imprescindíveis para uma vida digna. Fruto da história humana, possuímos os direitos humanos pelo simples fato de que somos humanos, intimamente ligado à dignidade humana. Conforme João Baptista Herkenhoff (1994, p. 30-31): por direitos humanos ou direitos do homem são, modernamente, entendidos aqueles direitos fundamentais que o homem possui pelo fato de ser homem, por sua própria natureza humana, pela dignidade que a ela é inerente. São direitos que não resultam de uma concessão da sociedade política. Pelo contrário, são direitos que a sociedade política tem o dever de consagrar e garantir. Este conceito não é absolutamente unânime nas diversas culturas. Contudo, no seu núcleo central, a ideia alcança uma real universalidade no mundo contemporâneo [...]. Os direitos humanos estão relacionados à condição de vida do homem e são as necessidades essenciais da pessoa humana. Trata-se daquelas necessidades que são iguais para todos os seres humanos e que devem ser atendidas para que a pessoa possa viver com a dignidade que deve ser assegurada a todas as pessoas, pois sem elas a pessoa não consegue existir (DALLARI, 2004). TÓPICO 2 | BIOÉTICA NA ENFERMAGEM 25 FIGURA 6 - FUNDAMENTOS DOS DIREITOS HUMANOS DIREITOS HUMANOS Conjunto de direitos Respeito à dignidade da pessoa humana Limite ao arbítrio e estabelecimentos de igualdade dos pontos de partida FONTE: Disponível em: <https://www.saraiva.com.br/direitos-humanos-fundamentais-15- ed-2016-9329269.html>. Acesso em: 18 abr. 2018. Os direitos humanos são necessidades sociais que têm o objetivo de contribuir para a redução do sofrimento humano. Os direitos humanos são inerentes a todas as pessoas, independentemente de sua nacionalidade, sexo, origem, cor, religião, língua, orientação sexual. Sem qualquer discriminação, todas as pessoas são titulares de direitos humanos (ONU, 2017). No âmbito da enfermagem, os valores e os compromissos éticos dos profissionais da enfermagem, assim como os direitos, partem do mesmo princípio: a dignidade humana. A dignidade humana está no cerne dos Códigos de Enfermagem, apesar de que se reconheça a sua imprecisão teórica e dificuldade de aplicação nos cuidados em saúde. Os profissionais de enfermagem lidam com questões de direitos humanos diariamente, em seu ambiente de trabalho e em todos os aspectos de sua atuação profissional. Em algumas ocasiões, podem ser pressionados a aplicar seu conhecimento e habilidades em detrimento dos pacientes. Assim, é necessário que haja um aumento da percepção da importância dos direitos humanos (ALBUQUERQUE; OLIVEIRA, 2016). UNI Conheça na íntegra o Manual de Direitos Humanos para Enfermagem. Este Manual tem como base a abordagem baseada nos direitos humanos e sua interconexão com a prática da enfermagem. Disponível em: <http://biblioteca.cofen.gov.br/wp-content/ uploads/2018/03/Manual-Direitos-Humanos-Enfermagem.pdf>. Acesso em: 20 abr. 2018. 3.1 HISTÓRICO DOS DIREITOS HUMANOS Caro acadêmico, neste tópico entraremos na história dos direitos humanos, que são fruto de um longo processo histórico de lutas por necessidades básicas essenciais. A luta pela sobrevivência levou os seres humanos a construírem UNIDADE 1 | ÉTICA PROFISSIONAL E BIOÉTICA: UMA SINERGIA NECESSÁRIA 26 formas de adaptabilidade ao meio que envolvem as dinâmicas das estruturas em vigor. Nesse sentido, as lutas e batalhas em torno dos aspectos essenciais da sobrevivência levaram os seres humanos a constantes batalhas que dizimaram civilizações inteiras em incontáveis guerras e massacres. Esses acontecimentos levaram também diversos sujeitos a pensar e construir mecanismos para evitá- los, de modo a possibilitar uma vida digna e pacífica entre todos os seres. Assim, as bases históricas dos direitos humanos começaram a ser construídas em 539 a.C., quando o exército de Ciro, o rei da Pérsia, dominou a Babilônia. Ciro libertou os escravos, declarou a possibilidade de escolha individual da religião, e estabeleceu a igualdade. Esse decreto foi registrado num cilindro de argila, conhecido como Cilindro de Ciro. Esse documento, hoje, é reconhecido como a primeira carta dos direitos humanos do mundo. FIGURA 7 – CIRO, O PRIMEIRO REI DA PÉRSIA QUE LIBERTOU OS ESCRAVOS DA BABILÔNIA EM 539 A.C. FONTE: Disponível em: <http://www. unidosparaosdireitoshumanos.com.pt/what-are-human-rights/ brief-history/..>. Acesso em: 3 maio 2018. FIGURA 8 - CILINDRO DE CIRO, RECONHECIDO COMO A PRIMEIRA DECLARAÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS FONTE: Disponível em: <http://www.unidosparaosdireitoshumanos.com. pt/what-are-human-rights/brief-history/..>. Acesso em: 3 maio 2018. TÓPICO 2 | BIOÉTICA NA ENFERMAGEM 27 E ainda, ao longo da história, outros documentos contribuíram para a construção dos direitos humanos, como a Carta Magna (1215) e a Petição de Direito (1688), que, após as revoluções inglesas, garantiram os direitos individuais e limitaram o poder e o agir do Estado na vida privada. A Constituição dos Estados Unidos (1787), que reforçou a liberdade como direito fundamental e universal. A Declaração Francesa dos Direitos do Homem e do Cidadão (1789), defendendo a ideia de que todas as pessoas possuem direitos básicos e inatos, cabendo ao Estado protegê-los, o qual foi considerado como o primeiro documento universal dos direitos humanos. Em 1945, ao fim da 2ª Guerra Mundial, por conta das atrocidades cometidas durante a guerra, 50 nações se reuniram e formaram a Organização das Nações Unidas (ONU) para proteger e promover a paz. Após três anos, elaboraram o rascunho do documento que tornar-se-ia a Declaração Universal dos Direitos Humanos. A Declaração Universal dos Direitos Humanos contém 30 artigos, formando um documento de caráter universal, que tem como objetivo proteger os direitos de homens, mulheres e crianças em todo o mundo, independentementede raça, cor ou credo religioso, e contempla vários assuntos relacionados a uma qualidade de vida digna ao ser humano. Interessante destacar que a Declaração Universal dos Direitos Humanos garante, no seu art. I, que todos os homens nascem livres e iguais em dignidade e direitos, com razão e consciência, e devem agir em relação uns aos outros com espírito de fraternidade. UNI Para conhecer mais sobre todos os direitos que constam na Declaração Universal dos Direitos Humanos, você pode acessar: <http://www.onu.org.br/img/2014/09/DUDH.pdf>. A Declaração Universal de Direitos Humanos foi um marco internacional referente a muitos direitos humanos, sendo que após a sua assinatura, muitos tratados, pactos e convenções foram realizados por vários países. 3.2 BIOÉTICA E DIREITOS HUMANOS Com o rápido progresso científico e tecnológico nos últimos tempos, nunca na história humana a ética foi tão imprescindível na medicina e na biologia. As descobertas científicas fizeram com que a moral se tornasse de interesse para todos, problema da mais alta importância e prioridade na sociedade em nível mundial (SGRECCIA, 2009). UNIDADE 1 | ÉTICA PROFISSIONAL E BIOÉTICA: UMA SINERGIA NECESSÁRIA 28 Desse modo, o enfoque da bioética foi consideravelmente ampliado, especialmente a partir de 2003, com a conclusão do Projeto Genoma Humano e o leque de novas possibilidades que trouxe para a ciência. Por conta dessas novas possibilidades, a bioética tornou-se ainda mais evidente, o que culminou com a elaboração da Declaração Universal sobre Bioética e Direitos Humanos, em 2005. UNI Conheça na íntegra a Declaração Universal sobre Bioética e Direitos Humanos. Disponível em: <http://unesdoc.unesco.org/images/0014/001461/146180por.pdf>. Acesso em: 20 maio. 2018. Segundo Volnei Garrafa (2011, p. 132), a partir dessa Declaração: [...] a bioética passou a se configurar como uma disciplina que não mais se furta à análise das questões sanitárias e ambientais e não mais se omite frente à responsabilidade do Estado na garantia dos direitos aos cidadãos; nem frente à preservação da biodiversidade e ecossistema, patrimônios que devem ser preservados de modo sustentado para as gerações futuras. A Declaração trata das questões de ética suscitadas pela medicina, pelas ciências da vida e pelas tecnologias que lhes estão associadas, aplicadas aos seres humanos, tendo em conta as suas dimensões social, jurídica e ambiental. UNI Assista ao vídeo lançado para comemorar os 10 anos da adoção da Declaração Internacional sobre Bioética e Direitos Humanos. Nele, o Dr. Volnei Garrafa, professor da UnB e coordenador da cátedra de Bioética da UNESCO no Brasil, fala sobre o papel da Organização na promoção de valores éticos e humanos na pesquisa científica: <https://www.youtube. com/watch?v=j2886GvznHc>. 4 BIOÉTICA E BIOTECNOLOGIA EM SAÚDE Atualmente, entende-se por biotecnologia o conjunto de técnicas e processos biológicos que viabilizam a utilização da matéria viva para degradar, sintetizar e produzir outros materiais. Abrange a elaboração das próprias técnicas, processos e ferramentas, como também o aperfeiçoamento e a transformação das espécies (OGUISSO; SCHIMIDT, 2007). TÓPICO 2 | BIOÉTICA NA ENFERMAGEM 29 UNI A palavra “biotecnologia”, em sua origem grega: bios (vida), techno (técnica) e logos (estudo), literalmente significa o estudo das técnicas aplicadas ao estudo da vida. Segundo Nascimento Silva (1995), a biotecnologia é a ciência que visa ao uso de sistemas e organismos biológicos para aplicações medicinais, industriais, ambientais, científicas e agrícolas. Com o seu advento, os organismos vivos começaram a ser manipulados geneticamente, permitindo-se a criação de organismos transgênicos ou geneticamente modificados (FIORILLO; DIAFÉRIA, 1999). As técnicas e os processos que possibilitam a manipulação do código genético, da molécula de Ácido Desoxirribonucleico (DNA), compõem hoje um ramo importante da biotecnologia denominada engenharia genética. Denomina- se engenharia genética a biotecnologia que trabalha diretamente com o DNA (BARCHIFONTAINE, 2014). Na engenharia genética estão incluídas noções de manipulação genética, assim como, de reprodução humana assistida, terapia gênica, diagnose genética e clonagem, pois têm a tendência de modificar o patrimônio hereditário humano (MANTOVANI, 1986). É uma tecnologia utilizada em nível laboratorial, pela qual o cientista poderá alterar o genoma de uma célula viva para a produção de produtos químicos ou até de organismos geneticamente modificados (OGM) (FIORILLO; ABELHA RODRIGUES, 1996). As novas biotecnologias que veremos a seguir, tiveram sua origem nas universidades e outras instituições públicas de pesquisa, nas quais os cientistas desenvolvem conhecimentos básicos em áreas como a biologia molecular, a química e a genética (PESSINI; BARCHIFONTAINE, 2014). Com o advento do Projeto Genoma Humano (PGH), passamos a ter a capacidade de “mapear” todo o código genético humano, reconhecer suas alterações, e assim identificar quais sequências são responsáveis por expressar determinadas proteínas. Essas alterações nas sequências de nucleotídeos, quando ocorrem, as denominamos mutações, e são a causa de mais de quatro mil moléstias hereditárias. Por exemplo, já se identificaram os genes que são responsáveis pela hereditariedade do câncer de mama e doença de Alzheimer (NUSSBAUM et al., 2008). Descobriu-se também a tecnologia do “DNA recombinante” ou “transgênico”, que é um conjunto de técnicas para localizar, isolar, alterar e estudar segmentos de DNA. O processo geral baseia-se em três enfoques experimentais principais: produção de fragmentos de DNA de fontes diversas que contenham as sequências gênicas de interesse; reunião desses segmentos em uma molécula UNIDADE 1 | ÉTICA PROFISSIONAL E BIOÉTICA: UMA SINERGIA NECESSÁRIA 30 de DNA com capacidade de replicar-se, geralmente um plasmídeo bacteriano ou em um vírus, que atuarão como vetor; transformação de células bacterianas com a molécula recombinante de modo que elas se repliquem e então se expressem. Com isso podem ser usadas bactérias munidas de genes humanos responsáveis pela expressão de insulina, fazendo com que essas bactérias sintetizem o hormônio que falta aos diabéticos (JUNQUEIRA; CARNEIRO, 2012). Outra biotecnologia é a farmacogenômica, um segmento da engenharia genética, uma mistura de farmacologia e a genômica, que consiste em correlacionar variações na sequência do DNA a identificação de subgrupos de pacientes, a respostas a tratamentos médicos e ao desenvolvimento de drogas especialmente projetadas para essa população (ZATZ, 2004). Há ainda a terapia gênica, que consiste no uso de genes para obter efeitos terapêuticos. É conhecida a capacidade que os vírus possuem para infectar as células humanas. A terapia gênica tira bom proveito disso ao modificar a composição genética desses agentes, removendo seus genes patológicos e inserindo neles o gene humano terapêutico. Dessa maneira, o vírus atua como vetor, transportando o material genético de que o indivíduo necessita. As pesquisas também procuram garantir que os vetores virais não sejam replicativos, explica Maurício Rodrigues, do centro Interdisciplinar em Terapia Gênica da Universidade Federal de São Paulo. Isso deve ser feito para que, assim que for introduzido no organismo humano, o vírus não readquira a habilidade de se replicar e causar infecção (CID, 2017). Tais biotecnologias de engenharia genética permitem identificar pessoas portadoras de genes patológicos e retirar genes que possuem alguma anomalia para serem reparados e reinseridos no organismo, possibilitando a correção do mal pela substituição do gene anômalo por outro normal, assim, impedindo a transmissão desse gene mutado para sua descendência (ESPINOSA, 1998). No entanto, haveria, nessas técnicas, verdadeira melhoria na qualidade de vida? Seriam elas, realmente, garantia de uma existência digna àsfuturas gerações? Ao fazer uso da biotecnologia, o ser humano não estaria assumindo um risco à sua saúde e sobrevivência? Estaria se respeitando a dignidade humana ao realizar experimentos com material genético humano? Acaso não estariam elas ferindo a inviolabilidade do direito de todo humano ser único e irrepetível se a clonagem humana se tornar uma realidade? Se houver violação de um patrimônio genético, como garantir a preservação de sua privacidade? (ESER, 1986). Nunca na história humana a ética foi tão imprescindível na medicina, na biologia e na sociedade: as descobertas científicas fizeram com que a moral se tornasse de interesse para todos, problema da mais alta importância e prioridade na sociedade, e da sociedade em nível mundial. Tal imprescindibilidade se tornará mais evidente e documentada se recordarmos brevemente o rápido progresso das ciências biológicas, as possibilidades que elas reservam para o futuro da humanidade e as questões éticas que apresentam à responsabilidade dos cientistas e comunidade civil (SGRECCIA, 2009). TÓPICO 2 | BIOÉTICA NA ENFERMAGEM 31 A rapidez crescente das etapas evolutivas de uma ciência que supera continuamente novas fronteiras e permite uma crescente possibilidade técnica de intervenção do homem sobre a vida atropelou a reflexão ética, as instituições do conhecimento e as instâncias legisladoras. Há perplexidade diante da constatação de inadequação dos preceitos aceitos até há pouco, sem que se vislumbre uma solução satisfatória no horizonte (PESSINI; BARCHIFONTAINE, 2014). FIGURA 9 – HOMEM INTERVINDO NA MOLÉCULA DE DNA FONTE: Disponível em: <https://www.biospectrumasia.com/news/54/ 10730/bac-to-review-stand-on-genetic-modifications.html>. Acessado em: 30 maio 2018. 5 BIOÉTICA E O INÍCIO E O FIM DA VIDA A bioética já possui enorme relevância, independentemente da definição que seja estabelecida, sendo que o início da vida humana é um de seus temas mais relevantes, controversos e desafiadores. Juntamente com a morte, o início da vida é o tema mais presente no pensamento humano de todas as épocas (MALAGUTTI, 2007). Alguns estudiosos argumentam que a vida começa quando o zigoto é formado, tendo em vista que esta célula possui potencial para originar o ser humano. Outros defendem que a vida começa após o blastocisto implantar-se na parede do útero, enquanto uma terceira vertente descreve que não é possível identificar uma vida se ela ainda pode multiplicar-se em vidas diferentes (MALAGUTTI, 2007). Pode-se alegar, também, que a vida só iniciará no começo da 3ª semana de gestação, quando surgem as células que originarão os tecidos e órgãos do embrião. É válido ressaltar que é neste estágio de desenvolvimento que se iniciam contrações cardíacas, por volta do 21º ou 22º dia (MALAGUTTI, 2007). Ao referir-se à morte, pode-se dizer que ela é uma certeza indeterminada, pessoal e intransferível, que tem um aspecto biológico, psicológico, filosófico, Parece indiscutível que uma solução aceitável deverá contar com a cooperação de especialistas das várias áreas relacionadas, enfatizando-se a contribuição da filosofia (PESSINI; BARCHIFONTAINE, 2014). UNIDADE 1 | ÉTICA PROFISSIONAL E BIOÉTICA: UMA SINERGIA NECESSÁRIA 32 espiritual e religioso, além de social e econômico. Em resumo, a morte faz parte da vida (OGUISSO; SCHIMIDT, 2007). No início do século, o que existia era a morte aguda, ou se morria ou se ficava curado. As pessoas não permaneciam “morrendo durante muito tempo”. O hiato entre o adoecer e o morrer era de aproximadamente cinco dias. Hoje esse hiato entre o momento da descoberta da enfermidade até o óbito aumentou de cinco dias para cinco anos, e mais do que se falar em morte, fala-se do processo do morrer (PESSINI; BARCHIFONTAINE, 2014). Se o nascer traz luz, felicidade e esperança, a morte traz insegurança, temor, aflição, sensação de fim e trevas (OGUISSO; SCHIMIDT, 2007). Para o moribundo, é um evento místico, repleto de sentimentos de fim e de adeus. Nesse momento, não importam os bens materiais acumulados, só importam o apoio e o consolo de seus entes queridos. É importante também a fé no sobrenatural (OGUISSO; SCHIMIDT, 2007). Entretanto, para os profissionais da saúde, a morte suscita frustrações, sentimento de derrota e de impotência, ou até mesmo, temor da própria morte. Porém, pode também significar uma nova esperança para outros pacientes que aguardam por um transplante de órgãos ou precisam do equipamento que estava sendo utilizado pelo paciente que faleceu (OGUISSO; SCHIMIDT, 2007). Antigamente, a morte mais temida era a morte súbita. Não apenas porque não havia tempo para o arrependimento, como também porque privava o homem do “acontecer” de sua morte. A morte era aguardada no leito pelo paciente que, tendo conhecimento de seu fim próximo, reunia a família e explicitava seus desejos derradeiros e se despedia de todos os entes queridos, a morte era uma cerimônia. Não se morria sem saber que se ia morrer; às vezes era apenas uma convicção íntima, outras vezes era a revelação de uma doença incurável, com prognóstico de morte. A morte era familiar e próxima. Era algo simples e havia familiaridade com a morte, que era aceita como parte do ciclo de vida (OGUISSO; SCHIMIDT, 2007). Atualmente, a morte é compreendida de uma outra maneira. Já não se morre em casa, em meio aos familiares, mas, muitas vezes, solitário, inconsciente no hospital, numa unidade de terapia intensiva (UTI). No hospital, a morte é um acontecimento técnico ocasionado pelo cessar de cuidados, declarada por decisão de profissionais especializados (PESSINI: BARCHIFONTAINE, 2014). Os que estão em torno do moribundo tendem a poupá-lo e omitir-lhe a gravidade de seu estado. A verdade começa a ser problemática. O enfermo não deve saber nunca que seu fim se aproxima. Tornou-se regra moral que o moribundo morra na ignorância de sua morte (PESSINI; BARCHIFONTAINE, 2014). O profissional que lida com o moribundo também enfrenta o medo e o remete à própria morte, o que pode levá-lo a evitar o paciente, a realizar TÓPICO 2 | BIOÉTICA NA ENFERMAGEM 33 “visitas mais rápidas” e não permitir um diálogo que possa favorecer perguntas desconfortáveis, do tipo “eu vou morrer? ” ou afirmações como “eu tenho medo de morrer, fique comigo!” Relata-se o caso de uma criança de oito anos, com diagnóstico de leucemia, internada na clínica pediátrica de um hospital em São Paulo. Uma tarde, essa criança disse: “Tia, não vai embora, fique comigo porque eu vou morrer”. E, de fato, a criança morreu naquela noite, com a presença da enfermeira, que permaneceu junto ao seu leito (OGUISSO; SCHIMIDT, 2007). A adversidade vivida pelos profissionais é: O que falar? Como falar e quando falar? Muitos não consideram que conversar com o paciente possa ter muita importância, limitando-se a administrar a terapia prescrita, até mesmo para atenuar a dor física. Mas, o paciente terminal morre sozinho e desamparado (OGUISSO; SCHIMIDT, 2007). A tendência de hoje é propiciar ao moribundo uma morte digna, o que pode significar morrer sem dor e sofrimento, recebendo conforto e toda assistência de cuidados paliativos, não morrer por escassez de recursos. A responsabilidade dos profissionais de enfermagem é atenuar o sofrimento, aliviar a dor e fazer com que o paciente se sinta o melhor possível, auxiliando-o a morrer em paz e apoiando a família (OGUISSO; SCHIMIDT, 2007). Segundo Vasconcelos Sobrinho (1984), o indivíduo que está à beira da morte, à medida que se liberta das restrições do corpo, alcança cada vez maior capacidade de percepção, podendo perceber cada palavra e, mesmo, pensamento e cada emoção que o cerca. Assim, é preciso controlar os sentimentos e emoções. É importante manter uma atitude mental de confiança e amor. As expressões fisionômicas, gestos ou atitudes da equipe de enfermagem, ou do médico, podem induzir o paciente a ter consciência de seu estado, da gravidade de sua enfermidade. Todavia,ele pode não ter conhecimento sobre a realidade de sua doença e de sua possível morte. Pode até saber que irá falecer, mas prefere ignorar o fato, ou, ainda, omitir da família. Pode não desejar compaixão (OGUISSO; SCHIMIDT, 2007). Em países desenvolvidos, na matriz curricular dos profissionais da saúde, a disciplina de tanatologia tem sua presença obrigatória e os hospitais dispõem de profissionais altamente especializados para lidar nessa área, tanatologistas. Instituições especializadas são criadas e programadas para atender às necessidades especiais dos moribundos. Que falar da formação dos profissionais da saúde no Brasil, no sentido de lidar com a morte? Praticamente não existe nada ainda de expressivo em termos curriculares que os preparem para lidar com os pacientes terminais, observando-se nesta fase crítica da vida uma desumanização assombrosa (PESSINI; BARCHIFONTAINE, 2014). É importante “tocar”, segurar a mão do paciente, não transmitindo medo, mas amor e confiança e, talvez, não falando mentiras, como “você vai sair desta”, mas palavras de consolo e, principalmente, respeitando a religiosidade do paciente, oferecendo-lhe o apoio de uma visita religiosa, de qualquer denominação. Dar ao UNIDADE 1 | ÉTICA PROFISSIONAL E BIOÉTICA: UMA SINERGIA NECESSÁRIA 34 paciente a oportunidade de resolver suas “culpas” ou de reconciliar-se com alguém, ou, ainda, dispor de seus bens como lhe convir (OGUISSO; SCHIMIDT, 2007). No processo de morrer, mesmo com prévio conhecimento, preparo e apoio, os sentimentos de temor, dor e solidão estarão presentes em maior ou menor intensidade. A crença em uma divindade e em uma vida vindoura pode mitigar tais sentimentos. É necessário saber viver para poder saber morrer com tranquilidade (OGUISSO; SCHIMIDT, 2007). MORTE NA PRIMEIRA PESSOA DO SINGULAR: UM DEPOIMENTO “Sou uma estudante de enfermagem. Estou morrendo. Escrevo isso para vocês que são, e vão ser enfermeiras, na esperança de que ao compartilhar meus sentimentos, algum dia vocês sejam mais capazes de ajudar aqueles que estiverem vivendo essa experiência. Agora estou fora do hospital. Talvez por um mês, seis meses, ou quem sabe um ano... Mas ninguém gosta de falar sobre estas coisas. Na verdade, ninguém gosta de falar muito a respeito de nada. A Enfermagem está progredindo, mas eu gostaria que progredisse mais rapidamente. Ensinaram-nos a não ser muito otimistas, a omitir a rotina do “está tudo ótimo!”, e nos saímos muito bem. No entanto, as pessoas, nessas circunstâncias, são abandonadas num solitário e silencioso vazio. Com o abandono do “tudo ótimo”, os profissionais da saúde são deixados apenas com sua vulnerabilidade e seu temor. O moribundo ainda não é visto como pessoa. Assim, torna-se impossível a comunicação. Ele é o símbolo do que teme todo ser humano, e do que todos sabemos – pelo menos academicamente – que também teremos que enfrentar algum dia. O que diziam em Enfermagem Psiquiátrica, ao considerar apenas a patologia e não o paciente? E havia tanta coisa a respeito de conhecer os próprios sentimentos, antes de poder ajudar alguém com seus próprios sentimentos... Como isso é verdade! Porém, para mim, o medo é hoje e a morte agora. Vocês entram e saem do meu quarto, dão-me remédios, verificam minha pressão. Será porque sou uma estudante de Enfermagem ou apenas um ser humano que percebo seu medo? E seus terrores aumentam o meu. Por que estão apavoradas? Eu sou a única que está morrendo! Sei que se sentem inseguras, não sabem o que dizer, não sabem o que fazer. Mas, por favor, acreditem em mim! Se vocês se importam, não podem estar erradas: isso é o que realmente buscamos. Podemos perguntar pelos porquês, mas, na verdade, não esperamos respostas. Não fujam… esperem… tudo o que eu gostaria é de ter a certeza de que haverá alguém para segurar a minha mão quando eu precisar. Estou com medo… A morte pode ser rotina para vocês, mas é novidade para mim. Vocês podem não me ver como única. Mas eu nunca morri antes… Uma vez é absolutamente única. Vocês murmuram a respeito de minha juventude. Mas quando se está morrendo, ainda se continua jovem? Tenho muitas coisas que gostaria de partilhar com vocês. Na verdade, não lhes tomaria muito tempo, pois, de qualquer maneira, vocês estão aqui mesmo. TÓPICO 2 | BIOÉTICA NA ENFERMAGEM 35 Se ao menos pudéssemos ser honestas, aceitar nossos temores. Tocar-nos. Se vocês realmente se importassem, perderiam muito de seu profissionalismo, se chorassem comigo? Como pessoa. Então, talvez não fosse tão difícil morrer… num hospital… com amigos por perto”. Este foi o depoimento deixado por uma jovem e publicado, em fevereiro de 1970, em The american journal of nursing, em tradução livre (PESSINI; BARCHIFONTAINE, 2014). 6 BIOÉTICA E CUIDADOS PALIATIVOS Os cuidados paliativos são definidos pela OMS como “os cuidados totais e ativos prestados ao paciente cuja doença não responde mais aos tratamentos curativos e, quando o controle da dor e outros sintomas psicológicos, sociais e espirituais, tornam-se prioridade” (BRASIL, 2001). Em 2002, a OMS redefiniu os cuidados paliativos enfocando mais a prevenção no sofrimento. Cuidado paliativo é uma “filosofia”, um “modo de cuidar” que visa melhorar a qualidade de vida de pacientes e suas famílias, que enfrentam problemas relacionados a enfermidades que ameaçam a vida, tendo como meta a prevenção e alívio do sofrimento pelo controle dos sintomas. Esta filosofia propõe que o atendimento seja executado por uma equipe multiprofissional, e caracteriza-se por aceitar o limite da vida, ocupando-se dos cuidados e não da cura, o que torna os profissionais de enfermagem essenciais nesse processo (WHO, 2006). Caro acadêmico, nos dias de hoje, a medicina paliativa vem se tornando uma especialidade voltada em melhorar a qualidade de vida daqueles pacientes com patologias muito avançadas e sem possibilidade de cura, por meio de técnicas que aumentem o conforto, mas sem interferirem na sua sobrevida. UNI O que são cuidados paliativos? Proteger. Esse é o significado de paliar, derivado do latim pallium, termo que nomeia o manto que os cavaleiros usavam para se proteger das tempestades pelos caminhos que percorriam. Proteger alguém é uma forma de cuidado, tendo como objetivo amenizar a dor e o sofrimento, sejam eles de origem física, psicológica, social ou espiritual. Por esse motivo, quando ouvir que você ou alguém que conhece é elegível a cuidados paliativos, não há o que temer. UNIDADE 1 | ÉTICA PROFISSIONAL E BIOÉTICA: UMA SINERGIA NECESSÁRIA 36 FONTE: Disponível em: <http://paliativo.org.br/cuidados-paliativos/ o-que-sao/>. Acessado em: 30 maio 2018. Os princípios do cuidado paliativo, que fundamentam esse modelo assistencial, podem ser descritos como: Saber quando a morte está chegando; manter o controle sobre o que ocorre; preservar a dignidade e a privacidade; aliviar a dor e demais sintomas; escolher o local da morte; ter suporte espiritual e emocional; controlar quem está presente; ter tempo para dizer adeus; partir quando for o momento (O´NEILL; FALLOW, 1997). Esses princípios inserem-se em um dos principais fundamentos da bioética, o respeito à pessoa, e reafirmam a autonomia do paciente como um dos pontos centrais na busca da excelência dos cuidados de enfermagem prestados (VIEIRA; GOLDIM, 2012). A bioética pode ser compreendida como uma reflexão compartilhada, complexa e interdisciplinar sobre a adequação das ações que envolvem a vida e o viver. A vida entendida predominantemente em sua dimensão biológica, e o viver na perspectiva da relação entre pessoas. Mesmo quando a discussão sobre a preservação da vida já não é mais o foco de atenção, o viver conserva- se como uma questão fundamental. Dessa maneira, os cuidados paliativos estão plenamente inseridos no campo da reflexão bioética, especialmente no que se refere ao processo de tomada de decisões envolvido (VIEIRA; GOLDIM, 2012). Segundo Pessini (2006), esse cuidaré fundamentado nos princípios éticos da veracidade (visando proporcionar a autonomia), da proporcionalidade terapêutica, da prevenção dos problemas pessoais e do não abandono. Está orientado para o alívio do sofrimento, focando a pessoa enferma e não a enfermidade da pessoa. 7 BIOÉTICA E QUESTÕES ÉTICAS VIVENCIADAS PELOS PROFISSIONAIS DE ENFERMAGEM A prática da enfermagem compreende conhecimentos científicos e técnicos, acrescidos das práticas sociais, éticas e políticas vivenciadas no ensino, pesquisa e assistência. Presta serviços ao ser humano no contexto saúde-doença, atuando na promoção da saúde em atividades com grupos sociais ou com sujeitos TÓPICO 2 | BIOÉTICA NA ENFERMAGEM 37 específicos, respeitando-lhes a individualidade. Consequentemente, a prática da enfermagem está inserida num contexto com grande potencial para gerar conflitos éticos, pois todas as ações e decisões profissionais implicam consequências que afetam terceiros, positiva ou negativamente (LEAL; RABUER, 2012). Além disso, os avanços ocorridos nos mais diversos campos do saber humano, com ênfase nas questões dos direitos humanos e paralelamente com as inovações tecnológicas, a biomedicina e pesquisa na biotecnologia trouxeram diversas consequências, por exemplo, as alterações nos procedimentos biomédicos e nos serviços de saúde quanto ao conceito de vida humana, as quais trazem na sua bagagem questionamentos que rompem e extrapolam substancialmente o campo dos valores conhecidos na área da saúde. (OGUISSO; SCHIMIDT, 2007). Por conseguinte, reflexões inovadoras se impõem, tais como o sentido da vida e da morte, o custo da saúde, os direitos das pessoas e o respeito à sua autonomia, ou ainda, caro acadêmico, questões mais complexas, como: qual é o sentido da autonomia na administração do existir humano? E as responsabilidades pessoais e profissionais? O progresso técnico e científico na área das ciências humanas e biomédica trouxe como consequências modificações no universo da ação da equipe de saúde, conferindo um novo poder: o de interferir na vida humana. Multiplicaram-se os instrumentos, as técnicas e as possibilidades de decisão dos enfermeiros. Aumentaram também os riscos envolvidos e as consequências destas escolhas. Devido a isso, passa- se a questionar com maior frequência e intensidade a ação da equipe de saúde em todos os níveis de atenção à saúde (OGUISSO; SCHIMIDT, 2007). Talvez daí um paradoxo origina-se: o enfermeiro não pode prescindir da ciência, da técnica e da especialização em suas atividades. Mas o conhecimento não fornece as regras éticas para o seu emprego. Desta maneira, se transforma em vítima de seu próprio poder, perde a possibilidade de aplicar a ética positiva e também tem dificuldade de aproveitar as possibilidades oferecidas pelo poder da técnica e do conhecimento científico (OGUISSO; SCHIMIDT, 2007). Os profissionais de saúde, muitas vezes de modo inconsciente, demonstram insegurança aos princípios que devem nortear as responsabilidades de cada membro da equipe. As opiniões se contradizem, não apenas na intimidade, mas em todos os níveis das relações humanas, inclusive em relação a questões que envolvem vida e morte (OGUISSO; SCHIMIDT, 2007). Para solucionar esse dilema, a enfermagem recorre à filosofia e às ciências sociais em busca de saídas. Também seria uma opção de novas perspectivas para a enfermagem buscar na ética, pois a ética é uma saída para a crise moral que vivemos. 38 RESUMO DO TÓPICO 2 Neste tópico você estudou que: • As raízes do neologismo “bioética” acontecem em dois momentos distintos: com o bioquímico Van Rensselaer Potter, em 1970, e com o teólogo alemão Paul Max Fritz Jahr, em 1927. • A bioética, enquanto ciência, tem sua origem em meio às profundas mudanças sociais, políticas e culturais ocorridas principalmente após a Segunda Guerra Mundial. • Bioética é o estudo complexo, interdisciplinar e sistemático sobre a conduta, os conflitos e controvérsias morais em torno da vida e do viver, a ética das ciências da vida. • São princípios bioéticos a autonomia, a beneficência, a não maleficência e a justiça. • A Declaração de Bioética e Direitos Humanos é reconhecida como um marco para a bioética, trata das questões pertinentes relacionadas à biomedicina, biotecnologia e das questões sanitárias relacionadas à preservação da biodiversidade e ecossistemas. • A biotecnologia é a ciência da engenharia genética que visa o uso de sistemas e organismos biológicos para aplicações medicinais, industriais, ambientais, científicas e agrícolas. • Cuidado paliativo é uma “filosofia”, um “modo de cuidar” que visa melhorar a qualidade de vida de pacientes e suas famílias, que enfrentam problemas relacionados a enfermidades que ameaçam a vida, tendo como meta a prevenção e alívio do sofrimento pelo controle dos sintomas. • A prática da enfermagem está inserida num contexto com grande potencial para gerar conflitos éticos, pois todas as ações e decisões profissionais implicam consequências que afetam terceiros, positiva ou negativamente. 39 1 Descreva os princípios bioéticos. 2 A bioética surgiu com o avanço da medicina, assim, ela estuda as relações jurídicas entre o direito e os avanços tecnológicos, bem como, questões relacionadas à vida do ser humano e à dignidade da pessoa humana. Diante dessa afirmativa, assinale a alternativa correta referente à bioética. ( ) A bioética representa o resgate da dignidade humana, frente aos progressos técnico-científicos na área da saúde. ( ) A bioética e a ética não possuem nenhuma correspondência, ou seja, cada uma segue numa direção, ou seja, os ideais são totalmente divergentes. ( ) As ciências filosóficas, econômicas, jurídicas e médicas não se envolvem com a bioética, pois esta é uma ciência que é independente. ( ) A bioética não se preocupa com o humanismo e sim com o mecanicismo. 3 Com relação à evolução histórica dos direitos humanos, podemos dizer que: ( ) Os direitos humanos surgiram gradativamente, de acordo com o desenvolvimento histórico da humanidade. ( ) Os direitos humanos apresentaram apenas uma faceta, ou seja, surgiram com o preconceito da diversidade de gênero. ( ) A universalização dos direitos humanos é utopia, pois eles surgiram apenas no Oriente Médio e depois se expandiram para a Europa. ( ) A superioridade humana, independentemente de ética ou moral, foi reconhecida como fator importante na evolução histórica. AUTOATIVIDADE 40 41 TÓPICO 3 CÓDIGO DE ÉTICA DOS PROFISSIONAIS DE ENFERMAGEM UNIDADE 1 1 INTRODUÇÃO Para se ter maior segurança sobre o exercício profissional com uma postura ética e humanística, juntamente com a regulamentação das diferentes profissões, foram criados os códigos de ética profissional. Como os códigos de ética integram a legislação que regulamenta a profissão, os princípios nele expostos têm valor de lei e os infratores podem ser punidos pelos respectivos Conselhos Regionais e Federais. Embora não se deva entender que a prática profissional ética se limita ao cumprimento dos princípios e deveres expostos nos respectivos códigos de ética profissional, eles são extremamente importantes para o exercício profissional de maior qualidade (LEAL; RABUER, 2012). Há uma impropriedade na utilização da expressão “Código de Ética” para definir o conjunto de regras às quais deve obediência o profissional de enfermagem. Há impropriedade porque a ética traduz-se no respeito ao comportamento do homem enquanto parte da sociedade, elemento do qual não cuida o referido código. A expressão correta para designar o conjunto de regras de cunho ético e de princípios que rege a conduta do homem enquanto profissional inserido na sociedade deve ser “Código de Deontologia” (SILVA PINTO). Vamos agora estudar o Código de Ética (deontologia) dos profissionais de enfermagem! 2 CÓDIGO DE ÉTICA EM ENFERMAGEM O Código de Ética dos profissionais de enfermagem é um pilar essencialpara a prática dos enfermeiros. Nele se enunciam os deveres profissionais, enraizados nos direitos dos cidadãos e das comunidades a quem se dirigem os cuidados de enfermagem, bem como nas responsabilidades que a profissão assumiu. Compete ao Conselho Federal de Enfermagem (COFEn) elaborar o Código de Deontologia de Enfermagem, o qual é fundamentado na Declaração Universal dos Direitos Humanos, a Declaração Universal sobre Bioética e Direitos Humanos, Código de Ética do Conselho Internacional de Enfermagem, Resolução do Conselho Nacional de Saúde – CNS nº 196/1996, Lei nº 11.340, de 7 de agosto de 2006, a Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990, que dispõe sobre o Estatuto da Criança e do Adolescente; Lei nº 10.741, de 1 de outubro de 2003, que dispõe 42 UNIDADE 1 | ÉTICA PROFISSIONAL E BIOÉTICA: UMA SINERGIA NECESSÁRIA sobre o Estatuto do Idoso; Lei nº 10.216, de 6 de abril de 2001, que dispõe sobre a proteção e os direitos das pessoas portadoras de transtornos mentais e redireciona o modelo assistencial em saúde mental, e a Lei nº 8.080, de 19 de setembro de 1990, que dispõe sobre as condições para a promoção, proteção e recuperação da saúde, a organização e o funcionamento dos serviços correspondentes. O código se aplica aos enfermeiros, técnicos de enfermagem, auxiliares de enfermagem, obstetrizes e parteiras, bem como aos atendentes de enfermagem. 2.1 PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS Os princípios são a base, a estrutura de uma ciência, ou legislação em que são fixadas suas raízes. Os princípios fundamentais do Código de Ética de Enfermagem se baseiam no compromisso com a saúde do ser humano e da coletividade, respeito à vida, à dignidade e aos diretos das pessoas humanas, à justiça, competência, responsabilidade e honestidade; promoção, proteção e recuperação da saúde e reabilitação das pessoas. 2.2 DIREITOS De acordo com o Código de Ética de Enfermagem, os direitos são: recusar- se a executar atividades que não sejam de sua competência; ser informado sobre o diagnóstico; recorrer ao COREN; participar de movimentos reivindicatórios; suspender atividades na falta de condições mínimas para o exercício; receber salários ou honorários; participar de entidades de classe; atualizar-se; apoiar iniciativas de interesse da classe. 2.3 RESPONSABILIDADES E DEVERES As responsabilidades e deveres dos enfermeiros, segundo o código, são: cumprir e fazer cumprir os preceitos éticos e legais da profissão; exercer a profissão com justiça, competência, responsabilidade e honestidade, prestar assistência sem discriminação; prestar assistência sem riscos de imperícia, negligência ou imprudências; garantir continuidade da assistência de enfermagem; prestar adequadas informações ao cliente e família; respeitar o direito do cliente de decidir sobre sua pessoa; respeitar o natural pudor, a privacidade e a intimidade do paciente; manter segredo sobre fato sigiloso, em razão da função; colaborar e esclarecer sobre sua saúde ao cliente; orientar e colaborar sobre os riscos dos exames e tratamentos; respeitar o próximo na situação de morte e pós-morte; proteger cliente contra danos de imperícia, negligência ou imprudências; estar à disposição da comunidade em emergência, epidemia ou catástrofes, sem pleitear vantagens pessoais; solicitar consentimento para realização de pesquisas ou atividade de ensino orientando de forma completa os objetivos, riscos e benefícios; tratar colegas com respeito; comunicar ao COREN fatos que infrinjam a lei ou sobre recusa ou demissão de cargo, função ou emprego para preservar postulados éticos e legais. TÓPICO 3 | CÓDIGO DE ÉTICA DOS PROFISSIONAIS DE ENFERMAGEM 43 2.4 DAS PROIBIÇÕES As proibições, segundo o Código de Ética, são: em caso de urgência ou emergência, negar assistência; abandonar clientes em meio a tratamento; participar de tratamento sem consentimento do cliente, exceto em risco de vida; provocar ou cooperar na prática do aborto; promover eutanásia; administrar medicamentos sem certificar-se da natureza das drogas e riscos; prescrever medicamentos ou praticar ato cirúrgico, exceto previstos em lei; executar prescrições quando contrárias à segurança do cliente; provocar, cooperar ou ser conivente com maus- tratos; determinar execução de atos contrários ao Código de Ética; determinar execução de atos contrários ao Código de Ética; pleitear cargo, função ou emprego ocupado por colega; assinar ações de enfermagem que não executou ou permitir que outro profissional assine as que você executou; denegrir imagem de colega ou membro da equipe de saúde. 2.5 INFRAÇÕES E PENALIDADES As penalidades previstas no Código somente poderão ser aplicadas, cumulativamente, quando houver infração a mais de um artigo. A pena de advertência verbal é aplicável nos casos de infrações ao que está estabelecido nos artigos: 26, 28, 29, 30, 31, 32, 33, 35, 36, 37, 38, 39, 40, 41, 42, 43, 46, 48, 47, 49, 50, 51, 52, 53, 54, 55, 56, 57,58, 59, 60, 61, 62, 65, 66, 67, 69, 76, 77, 78, 79, 81, 82, 83, 84, 85, 86, 87, 88, 89, 90, 91, 92, 93, 94, 95, 98, 99, 100, 101 e 102. A pena de multa é aplicável nos casos de infrações ao que está estabelecido nos artigos: 28, 29, 30, 31, 32, 35, 36, 38, 39, 41, 42, 43, 44, 45, 50, 51, 52, 57, 58, 59, 61, 62, 63, 64, 65, 66, 67, 68, 69, 70, 71, 72, 73, 74, 75, 76, 77, 78, 79, 80, 81, 82, 83, 84, 85, 86, 87, 88, 89, 90, 91, 92, 93, 94, 95, 96, 97, 98, 99, 100, 101 e 102. A pena de censura é aplicável nos casos de infrações ao que está estabelecido nos artigos: 31, 41, 42, 43, 44, 45, 50, 51, 52, 57, 58, 59, 61, 62, 63, 64, 65, 66, 67,68, 69, 70, 71, 73, 74, 75, 76, 77, 78, 79, 80, 81, 82, 83, 84, 85, 86, 88, 90, 91, 92, 93, 94, 95, 97, 99, 100, 101 e 102. A pena de suspensão do exercício profissional é aplicável nos casos de infrações ao que está estabelecido nos artigos: 32, 41, 42, 43, 44, 45, 50, 51, 52, 59, 61, 62, 63, 64, 68, 69, 70, 71, 72, 73, 74, 75, 76, 77, 78,79, 80, 81, 82, 83, 85, 87, 89, 90, 91, 92, 93, 94 e 95. A pena de cassação do direito ao exercício profissional é aplicável nos casos de infrações ao que está estabelecido nos artigos: 45, 64, 70, 72, 73, 74, 80, 82, 83, 94, 96 e 97. 44 UNIDADE 1 | ÉTICA PROFISSIONAL E BIOÉTICA: UMA SINERGIA NECESSÁRIA LEITURA COMPLEMENTAR ÉTICA E LEGALIDADE NA ERA DIGITAL Compartilhar procedimentos de saúde, expor acidentados ou outras situações que envolvem o atendimento profissional é apenas questão de escolha? A resposta ultrapassa o impulso de ser o primeiro a postar ou receber uma imagem impactante e chega à linha tênue entre o cotidiano e ético-legal. UNI Para visualizar o Código de Ética em Enfermagem na íntegra, acesse: <http:// www.cofen.gov.br/resolucao-cofen-no-5642017_59145.html>. As novas tecnologias facilitam o dia a dia, nos aproximam de pessoas que talvez não vejamos há anos e nos possibilitam conhecer tantas outras de forma rápida e em escala crescente. Junto com a facilidade de apenas um toque na tela do celular para falar com o mundo, vem também um dos mais novos pontos de confronto ético para os profissionais de saúde: a captura e reprodução de imagens ou de situações vivenciadas pelo paciente no momento de seu atendimento. Como ficam estabelecidas a ética e a legalidade na era da imagem digital? Não são raros os casos de exposição de acidentados, procedimentos de saúde ou de cuidados pós-morte em sites de notícias, redes sociais e e-mails. A primeira reação talvez seja a de impacto. O que fazer após isso? Caberia ao profissional de enfermagem, do ponto de vista ético e legal, replicar ou compartilhar imagens onde o indivíduo precisaria de cuidados e não de exposição? Um pensamento comum poderia ser “eu não fiz essa imagem, apenas recebi e compartilhei”. Entretanto, a ética ultrapassa esse viés de culpabilidade direta e alcança o posicionamento de interromper essa corrente ou somar-se a propagação de intimidade alheia. TÓPICO 3 | CÓDIGO DE ÉTICA DOS PROFISSIONAIS DE ENFERMAGEM 45 A ConstituiçãoFederal de 1988, no artigo 5º, inciso X, diz que “são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas, assegurado o direito a indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua violação”. O denominado direito da personalidade, de acordo com o Código Civil, no artigo 20, garante que, “salvo se autorizadas ou necessárias à administração da justiça ou à manutenção da ordem pública”, a exposição e utilização da imagem de uma pessoa podem ser proibidas, sendo possível o requerimento de indenização. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988 CAPÍTULO I - DOS DIREITOS E DEVERES INDIVIDUAIS E COLETIVOS Art. 5º - Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo- se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: X - são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas, assegurando o direito a indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua violação. Código Civil CAPÍTULO II - DOS DIREITOS DA RESPONSABILIDADE Art. 20 - Salvo se autorizadas, ou se necessárias à administração pública, a divulgação de escritos, a transmissão da palavra, ou a publicação, a exposição ou a utilização da imagem de uma pessoa poderão ser proibidas, a seu requerimento e sem prejuízo da indenização que couber, se lhe atingirem a honra, a boa fama ou a resoeitabilidade, ou se destinarem a fins comerciais. Parágrafo único - Em se tratando de morto ou de ausente, são partes legítimas para requerer essa proteção o cônjuge, os ascendentes ou os descendentes. Somado a isso, o profissional de enfermagem deve levar em consideração os critérios estabelecidos em seu Código de Ética, por exemplo, as palavras do artigo 19, “Respeitar o pudor, a privacidade e a intimidade do ser humano, em todo seu ciclo, inclusive nas situações de morte e pós-morte”. O artigo 106, do referido Código, expressa que é responsabilidade e dever do profissional “zelar pelos preceitos éticos e legais da profissão nas diferentes formas de divulgação”; e o artigo 108 proíbe “inserir imagens ou informações que possam identificar pessoas e instituições sem sua prévia autorização”. É válido ressaltar que a tecnologia é um grande suporte para a atuação dos diferentes profissionais da atualidade, inclusive aqueles da área da saúde. Mas, é imprescindível a reflexão sobre as violações dos direitos à imagem, previsto no Código Civil; à intimidade, previsto na Constituição Federal; e também do Código de Ética da Enfermagem. Em breves palavras: não é permitido fotografar e divulgar pacientes sem sua prévia autorização para pessoas não envolvidas diretamente na assistência. Na vida profissional, os direitos e as liberdades têm por limite a reputação alheia, quer tornando públicas informações sigilosas, quer desrespeitando ou expondo o paciente/cliente, quer praticando atos incompatíveis com a dignidade e direito de acesso aos cuidados de saúde. 46 UNIDADE 1 | ÉTICA PROFISSIONAL E BIOÉTICA: UMA SINERGIA NECESSÁRIA O Coren-GO acredita e defende que é dever de todos os profissionais de enfermagem zelar pela imagem da profissão e das instituições em que trabalham. De acordo com a Lei 5.905, de 1973, compete aos conselhos regionais de Enfermagem zelar pelo bom conceito da profissão e dos que a exerçam. Cabe ainda ao Conselho apurar, e se identificadas infrações, tomar as medidas cabíveis a fim de coibir abuso e afronta à imagem da enfermagem. Em consonância com as resoluções do Conselho Federal de Enfermagem (COFEn), com o Código de Ética da profissão e com as legislações pertinentes, o Coren-GO se propõe a lutar contra qualquer desgaste – velado ou publicizado – à enfermagem. FONTE: Disponível em: <http://www.corengo.org.br/etica-e-legalidade-na-era- digital_5947.html>. Acesso em: 21 maio 2018. 47 RESUMO DO TÓPICO 3 Parabéns, você chegou no final deste tópico e desta unidade com sucesso, ampliando seus conhecimentos para que no futuro possa utilizá-los com segurança, portanto, você é capaz de compreender que: • O Código de Ética dos profissionais de Enfermagem é um pilar essencial para a prática dos enfermeiros. • Compete ao Conselho Federal de Enfermagem (COFEn) elaborar o Código de Deontologia de Enfermagem. • O Código é constituído por princípios, direitos, deveres, proibições, infrações e penalidades. • O código se aplica aos enfermeiros, técnicos de enfermagem, auxiliares de enfermagem, obstetrizes e parteiras, bem como os atendentes de enfermagem. 48 1 A Resolução COFEN nº 564/2017, que aprova o novo Código de Ética dos Profissionais de Enfermagem, aplica-se para quais profissionais? Marque a alternativa correta: a) ( ) Aplica-se para enfermeiros e técnicos de enfermagem. b) ( ) Aplica-se para enfermeiros, técnicos de enfermagem, parteiras e agentes comunitários de saúde. c) ( ) Aplica-se aos enfermeiros, técnicos de enfermagem e auxiliares de enfermagem. d) ( ) Aplica-se aos enfermeiros, técnicos de enfermagem, auxiliares de enfermagem, obstetrizes e parteiras, bem como aos atendentes de enfermagem. 2 De acordo com o Código de Ética dos Profissionais de Enfermagem, administrar medicamentos sem conhecer a ação da droga e sem certificar-se da possibilidade dos riscos caracteriza: ( ) Responsabilidade. ( ) Proibição. ( ) Direito. ( ) Dever. 3 Em relação aos princípios fundamentais estabelecidos no Código de Ética dos Profissionais de Enfermagem, assinale a alternativa correta: a) ( ) O profissional de Enfermagem atua com autonomia e em consonância com os preceitos éticos e legais. b) ( ) Atua na promoção, prevenção e recuperação da saúde, estando vedada a atuação na reabilitação da saúde. c) ( ) Compromete-se com a saúde e a qualidade de vida da pessoa e família, estando vedada a atuação na saúde da coletividade. d) ( ) Atua em ações que garantam a participação da comunidade sem respeitar a vida e aos direitos humanos. AUTOATIVIDADE 49 UNIDADE 2 LEGISLAÇÃO DO EXERCÍCIO DE ENFERMAGEM NO BRASIL OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM PLANO DE ESTUDOS A partir desta unidade, você será capaz de: • compreender sobre o conceito de Direito; • conhecer as normas gerais brasileiras que afetam a enfermagem; • estudar a regulamentação do exercício da enfermagem e seu contexto atual; • conhecer os caminhos da legislação do exercício da enfermagem no Brasil; • conhecer saúde e enfermagem no Código de Defesa e Proteção do Consu- midor; • compreender as normas legais de segurança e saúde na enfermagem; • explorar os aspectos jurídicos e ético-legais da enfermagem; • conhecer as principais legislações de enfermagem. Esta unidade está dividida em três tópicos. Em cada um deles, você encontra- rá atividades que o auxiliarão na compreensão dos conteúdos apresentados. TÓPICO 1 – A LEI E A SOCIEDADE TÓPICO 2 – REGULAMENTAÇÃO DO EXERCÍCIO DA ENFERMAGEM TÓPICO 3 – PRINCIPAIS LEGISLAÇÕES PARA O EXERCÍCIO DE ENFER- MAGEM 50 51 TÓPICO 1 A LEI E A SOCIEDADE UNIDADE 2 1 INTRODUÇÃO Caro acadêmico! Seja bem-vindo a esta jornada para estudar e compreender a relação da lei com a sociedade. A Lei está presente desde que começamos a nos relacionar com outras pessoas a fim de viver em sociedade. Se não vivêssemos em uma sociedade organizada, as leis não seriam necessárias. Ainda que em uma sociedade bem organizada há discórdias e conflitos entre os indivíduos que a compõem, a lei deve propiciar uma forma de resolver tais conflitos de maneira pacífica. Assim, necessitamos da lei para assegurar uma sociedade segura e harmoniosa, na qual os direitos individuais são respeitados. Assim, as leis intentam controlar ou modificar nosso comportamento. As pessoas que infringem uma lei podem ser impelidas a pagar uma multa, ressarcir danos ou sofrer uma pena de prisão. Já no âmbito profissional, as leis ajudam os profissionais nasdecisões, pois limitam os profissionais a seus direitos e obrigações. Agir fora da lei, além de corromper a sua moralidade, também lesa sua própria ética profissional e social. 2 CONCEITO DO DIREITO O conceito mais antigo de lei não provinha de uma declaração ou decreto de um órgão legislativo ou executivo. Nos primórdios das civilizações, a lei era o que o rei ou imperador dizia, e acreditava-se que sua manifestação era divina, e, assim, possuía o direito de decidir e aplicar sanções. Essas decisões e sanções, inicialmente dos reis e posteriormente dos juízes, foram sendo acumuladas, e passaram a servir como baliza e regra para casos similares. Passaram a constituir um princípio de direito pelo uso e costume. Ainda hoje, os julgados de tribunais e decisões de juízes passaram a constituir um bojo de regras e interpretações de textos pouco claros da lei, e são conhecidos como jurisprudência (OGUISSO; SCHMIDT, 2007). A palavra direito representa um conjunto de regras que impõem à atividade humana certa direção ou a delimitam. Assim, existe um direito objetivo, que é a regra de direito imposta ao agir humano, a norma de comportamento a que a pessoa deve se submeter, o preceito que deve influenciar sua atuação. UNIDADE 2 | LEGISLAÇÃO DO EXERCÍCIO DE ENFERMAGEM NO BRASIL 52 Em contrapartida, o direito subjetivo, derivado do direito objetivo, é o poder ou prerrogativa de que uma pessoa é titular para obter determinado efeito jurídico, em virtude da regra de direito. Por exemplo, quando alguém fala sobre seu direito de crédito ou de propriedade sobre alguma coisa, está se referindo a um poder que estende e dilata seu campo de ação sobre outros indivíduos e coisas. Constitui uma faculdade reconhecida à pessoa pela lei e que lhe permite realizar certos atos. O direito objetivo subdivide-se em público e privado. O público destina-se a disciplinar os interesses gerais da coletividade, tais como o direito constitucional, direito administrativo, direito penal, direito do trabalho e direito internacional. O direito privado contém preceitos para regular as relações dos indivíduos entre si, por exemplo, o direito civil e o direito comercial (MONTEIRO, 1993). Levando em consideração que o direito pode ser um ideal de perfeição, pode-se ainda distinguir direito positivo do direito natural. O primeiro constitui todo o ordenamento jurídico, ou leis e normas, em vigor em determinado país e em determinada época; o segundo seria um ordenamento ideal, correspondente a uma justiça superior, suprema e anterior ao direito positivo. Basicamente, as fontes do direito são a lei, os usos e costumes, a doutrina jurídica e a jurisprudência (OGUISSO; SCHMIDT, 2007). UNI O símbolo do direito é representado por uma balança, objeto símbolo do julgamento, que, por sua vez, aponta para o tema da justiça e do equilíbrio. FONTE: Disponível em: <https://seeklogo.com/vector- logo/264574/simbolo-de-direito>. Acesso em: 25 jun. 2018. 3 ORGANIZAÇÃO DA SOCIEDADE A organização política de uma sociedade está fundamentada na ordem jurídica instituída pela lei, como um meio para manter o equilíbrio entre as relações do homem na sociedade, no que tange a seus direitos e deveres. Como se observa, a família é a base de qualquer sociedade, como a primeira e TÓPICO 1 | A LEI E A SOCIEDADE 53 menor democracia no âmago da sociedade. O conjunto de famílias formará os agrupamentos sociais, que formarão os municípios, e assim sucessivamente, até culminar com a formação da nação organizada. FIGURA 1 – ORGANIZAÇÃO DA SOCIEDADE União Estado Município Agrupamento Social Família FONTE: Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/reeusp/v33n2/ v33n2a09.pdf>. Acessado em: 21 jun. 2018. 3.1 OS TRÊS PODERES A Constituição Federal, objetivando, primordialmente, evitar o arbítrio e o desrespeito aos direitos fundamentais do homem, previu a existência dos Poderes do Estado, independentes e harmônicos entre si, dividindo entre eles as funções estatais e prevendo prerrogativas e imunidades para que pudessem exercê-las corretamente, bem como desenvolvendo mecanismos de controles recíprocos, sempre como garantia da existência perpétua do Estado democrático de direito (MORAES, 2003). A divisão de acordo com o critério funcional é a célebre "separação de poderes", que é a distinção entre três funções estatais, quais sejam, legislação, administração e jurisdição, que devem ser atribuídas a três órgãos autônomos entre si, que as exercerão. Assim, o Brasil, como todo país democrático, exerce sua soberania mediante três poderes: o Legislativo, o Executivo e o Judiciário (OGUISSO; SCHMIDT, 2007; MORAES, 2003). O objetivo visado pela Constituição Federal, ao estipular diversas funções, imunidades e garantias aos detentores das funções soberanas do Estado, Poderes Legislativo, Executivo, Judiciário e a Instituição do Ministério Público, é a defesa do regime democrático, dos direitos fundamentais e da própria separação de poderes, UNIDADE 2 | LEGISLAÇÃO DO EXERCÍCIO DE ENFERMAGEM NO BRASIL 54 legitimando, assim, o tratamento diferenciado estabelecido a seus membros, perante o princípio da igualdade. Portanto, estas eventuais diferenciações são compatíveis com a cláusula igualitária por existência de um vínculo de correlação lógica entre o tópico diferencial acolhido por residente no objeto, e a desigualdade de tratamento em função dela conferida, pois é compatível com interesses prestigiados na Constituição. Não há, portanto, qualquer dúvida da estreita interligação constitucional entre a defesa da separação de poderes e dos direitos fundamentais como requisito indispensável para a existência de um Estado democrático de direito. Baseando-se nisso, o legislador constituinte previu diversas imunidades e garantias para os exercentes de funções estatais relacionadas com a defesa dos direitos fundamentais e administração dos negócios do Estado, estabelecendo-as nos capítulos respectivos dos Poderes Legislativo, Executivo e Judiciário e, também, da Instituição do Ministério Público (MORAES, 2003). Não existirá, portanto, um Estado democrático de direito, sem que existam Poderes de Estado e Instituições, independentes e harmônicos entre si, assim como previsão de direitos fundamentais e instrumentos que tornem possível a perpetuidade e a fiscalização desses requisitos. Todos estes temas são intimamente ligados de tal maneira que a derrocada de um, invariavelmente, desencadeará a supressão dos demais, com o retorno do arbítrio e da ditadura (MORAES, 2003). A Carta Magna de 1988 consagrou em seu art. 2° a tripartição de Poderes, ao estabelecer que são Poderes do Estado, independentes e harmônicos entre si, o Legislativo, o Executivo e o Judiciário. Fundamentando-se nessa solene proclamação, o próprio legislador constituinte atribuiu diversas funções a todos os Poderes, no entanto, sem caracterizá-las com a exclusividade absoluta. Portanto, cada um dos Poderes exerce uma função predominante e primordial, que o caracteriza como detentor de parcela da soberania estatal, além de outras funções previstas no texto constitucional. São as denominadas funções típicas e atípicas (MORAES, 2003). 3.1.1 Poder legislativo O Poder Legislativo, em nível federal ou nacional, é bicameral e exercido pelo Congresso Nacional, que é composto pela Câmara dos Deputados e pelo Senado Federal, que se complementam, distinguindo-se dos estaduais, distritais e municipais, onde é estabelecido o unicameralismo (CF, arts. 27, 29 e 32). Em nível estadual, é exercido pela Assembleia Legislativa em cada estado, composta por deputados estaduais e, em nível municipal, pela Câmara Municipal, composta de vereadores. O bicameralismo do Legislativo Federal está intimamente relacionado à escolha pelo legislador constituinte da forma federativa de Estado, pois no Senado Federal encontram-se, de maneira paritária, representantes de todos os Estados-membros e do Distrito Federal, consagrando o equilíbrio entreas partes contratantes da Federação. O Congresso Nacional reunir-se-á, anualmente, na Capital Federal, de 15 de fevereiro a 30 de junho e de 1° de agosto a 15 de TÓPICO 1 | A LEI E A SOCIEDADE 55 dezembro. Cada legislatura terá a duração de quatro anos, compreendendo quatro sessões legislativas, ou oito períodos legislativos. O art. 57, § 6°, da Constituição Federal dispõe sobre a possibilidade de convocação extraordinária do Congresso Nacional, que poderá ser realizada, dependendo da situação, pelo Presidente da República, pelo Presidente do Senado Federal, pelo Presidente da Câmara dos Deputados, ou a requerimento da maioria dos membros de ambas as Casas Legislativas (OGUISSO; SCHMIDT, 2007; MORAES, 2003). A Câmara dos Deputados constitui-se de representantes do povo, eleitos para mandato de quatro anos, pelo sistema proporcional, em cada Estado, em cada Território e no Distrito Federal, sendo que o número total de deputados, assim como a representação por Estado e pelo Distrito Federal, será estabelecido por lei complementar, proporcionalmente à população. O sistema é proporcional quando à distribuição dos mandatos, ocorre de modo que o número de representantes em cada circunscrição eleitoral seja dividido em relação ao número de eleitores, de modo que resulte uma proporção. O sistema proporcional consiste, pois, no procedimento eleitoral que busca garantir ao Parlamento uma representação proporcional ao número de votos obtido por cada um dos partidos políticos (MORAES, 2003). O Senado Federal constitui-se de representantes dos Estados e do Distrito Federal, eleitos para mandatos de oito anos, de acordo com o princípio majoritário, sendo que cada Estado e o Distrito Federal possuirão três senadores. Sistema majoritário é aquele em que será considerado vencedor o candidato que obtiver maior número de votos (maioria simples), tendo o texto constitucional optado pelo sistema majoritário puro ou simples (um único turno) para a eleição de senadores da República. A representação de cada Estado e do Distrito Federal será renovada de quatro em quatro anos, alternadamente, por um ou dois terços do Senado Federal (CF, art. 46, § 2°). O legislador constituinte brasileiro concedeu ao Senado Federal a mesma importância e força concedida à Câmara dos Deputados (MORAES, 2003). As atribuições do Congresso Nacional estão determinadas nos arts. 48 e 49 da Constituição Federal, sendo que no art. 48 se exige a participação do Poder Executivo através da sanção presidencial, enquanto no art. 49, por se tratar de competências exclusivas do Congresso Nacional, serão tratadas somente no âmbito do Poder Legislativo, através de Decreto Legislativo. O Congresso Nacional, que possui a função de elaborar leis de interesse de toda nação e de fiscalizar a atuação do Presidente da República, aprecia os projetos apresentados pelos seus parlamentares, pelos representantes dos tribunais federais, pelo Presidente da República e por projeto de lei de iniciativa popular (OGUISSO; SCHMIDT, 2007; MORAES, 2003). A sociedade pode, portanto, diante de alguma necessidade evidenciada, encaminhar reivindicações aos seus representantes no Legislativo, que criam os projetos de lei (OGUISSO; SCHMIDT, 2007). UNIDADE 2 | LEGISLAÇÃO DO EXERCÍCIO DE ENFERMAGEM NO BRASIL 56 De acordo com Moraes (2003, p. 301), O exercício da função típica do Poder Legislativo consistente no controle parlamentar, por meio de fiscalização, pode ser classificado em político-administrativo e financeiro-orçamentário. Pelo primeiro controle, o Legislativo poderá questionar os atos do Poder Executivo, tendo acesso ao funcionamento de sua máquina burocrática, a fim de analisar a gestão da coisa pública e, consequentemente, tomar as medidas que entenda necessárias. Inclusive, a Constituição Federal autoriza a criação de comissões parlamentares de inquérito, que terão poderes de investigação próprios das autoridades judiciais, além de outros previstos nos regimentos das respectivas Casas, e serão criadas pela Câmara dos Deputados e pelo Senado Federal, em conjunto ou separadamente, mediante requerimento de um terço de seus membros, que deverá ser aprovado pela maioria, para a apuração de fato determinado e por prazo certo, sendo suas conclusões, se for o caso, encaminhadas ao Ministério Público, para que promova a responsabilidade civil ou criminal dos infratores (CF, art. 58, § 3.°)”. Já o segundo controle corresponde à fiscalização prevista nos arts. 70 a 75 da Constituição Federal. Assim, a fiscalização contábil, financeira, orçamentária, operacional e patrimonial da União e das entidades da administração direta e indireta, quanto à legalidade, legitimidade, economicidade, aplicação das subvenções e renúncia de receitas, além dos sistemas internos de cada Poder, será exercida pelo Congresso Nacional, mediante controle externo (MORAES, 2003). As funções típicas do Poder Legislativo são legislar e fiscalizar, tendo ambas o mesmo grau de relevância. Assim, se por um lado a Constituição prevê normas de processo legislativo, para que o Congresso Nacional crie as normas jurídicas, de outro, estabelece que a ele cabe a fiscalização orçamentária, financeira, contábil, operacional e patrimonial do Poder Executivo (CF, art. 70). As funções atípicas constituem-se em administrar e julgar. A primeira acontece, exemplificativamente, quando o Legislativo dispõe sobre sua organização e operacionalidade interna, provimento de cargos, promoções de seus servidores; enquanto a segunda ocorrerá, por exemplo, no processo e julgamento do Presidente da República por crime de responsabilidade (MORAES, 2003). 3.1.2 Poder Executivo O Poder Executivo constitui órgão constitucional cuja função primordial é a prática dos atos de chefia de Estado, de governo e de administração da nação, em nível federal, é exercido pelo Presidente da República, e assessorado por ministros de Estado. Pode construir hospitais, escolas, rodovias ou ferrovias e, com a anuência do Congresso, pode declarar estado de sítio, de emergência e de guerra. O governador administra o Estado, assessorado pelos secretários. O prefeito, auxiliado também pelos secretários, administra o município (OGUISSO; SCHMIDT, 2007). A chefia do Poder Executivo foi confiada pela Constituição Federal ao Presidente da República, a quem compete seu exercício, auxiliado pelos TÓPICO 1 | A LEI E A SOCIEDADE 57 Ministros de Estado. Os Ministros são auxiliares do Presidente, que os pode deliberadamente nomear ou exonerar. As funções dos Ministros são definidas pela própria Constituição, que estabelece a eles competir, como principal atribuição, exercer a orientação, coordenação e supervisão dos órgãos e entidades da administração federal na área de sua competência e referendar os atos e decretos assinados pelo Presidente da República. Além disso, deverá expedir instruções para a execução das leis, decretos e regulamentos; apresentar ao Presidente da República relatório anual de sua gestão no Ministério; praticar os atos pertinentes às atribuições que lhe forem outorgadas ou delegadas pelo Presidente da República. Os Ministros compreendem, ainda, o braço civil da administração (burocracia) e o militar (Forças Armadas), consagrado mais uma vez o presidencialismo, concentrando na figura de uma única pessoa a chefia dos negócios do Estado e do Governo. Apesar de a clássica separação dos Poderes ter sido adotada pelo constituinte de 1988, no art. 2°, ao afirmar que são Poderes da União, independentes e harmônicos entre si, o Legislativo, o Executivo e o Judiciário, foram consagradas pela Constituição Federal, como já visto anteriormente, em relação a todos os Poderes de Estado, funções típicas e atípicas, assim, inexistindo, exclusividade absoluta no exercício dos ofícios constitucionais. O Executivo, portanto, além de ter por função típica administrar a coisa pública, também legisla (art. 62 - Medidas Provisórias) e julga (contenciosoadministrativo), no exercício de suas funções atípicas (MORAES, 2003). O presidente e vice-presidente da República são eleitos pelo sistema eleitoral majoritário, que, como já vimos, consiste naquele em que será considerado eleito o candidato que obtiver maior número de votos, pelo sistema majoritário de dois turnos será considerado vencedor o candidato que obtiver a maioria absoluta dos votos válidos. Caso não obtenha na primeira votação, deverá ser realizado novo sufrágio. O Presidente da República é eleito simultaneamente com um Vice- presidente, através do escrutínio universal e pelo voto direto e secreto. A duração do mandato presidencial, atualmente, é de quatro anos, com a possibilidade de reeleição do chefe do Poder Executivo para um único mandato subsequente (CF, art. 14, § 5°) (MORAES, 2003). Sobre as atribuições do Presidente da República: Tendo adotado o sistema presidencialista, as funções de chefe de Estado e de Governo acumulam-se na figura presidencial e são descritas no art. 84, competindo-lhe, privativamente: nomear e exonerar Ministros de Estado; exercer, com o auxílio dos Ministros de Estado, a direção superior da administração federal; iniciar o processo legislativo, na forma e nos casos previstos nesta Constituição; sancionar, promulgar e fazer publicar as leis, bem como expedir decretos e regulamentos para sua fiel execução; vetar projetos de lei, total ou parcialmente; dispor sobre a organização e o funcionamento da administração federal, na forma da lei; manter relações com Estados estrangeiros e acreditar seus representantes diplomáticos; celebrar tratados, convenções e atos internacionais, sujeitos a referendo do Congresso Nacional; decretar o estado de defesa e o estado de sítio; decretar e executar a intervenção federal; UNIDADE 2 | LEGISLAÇÃO DO EXERCÍCIO DE ENFERMAGEM NO BRASIL 58 remeter mensagem e plano de governo ao Congresso Nacional por ocasião da abertura da sessão legislativa, expondo a situação do País e solicitando as providências que julgar necessárias; conceder indulto e comutar penas, com audiência, se necessário, dos órgãos instituídos em lei; exercer o comando supremo das Forças Armadas, nomear os Comandantes da Marinha, do Exército e da Aeronáutica, promover seus oficiais generais e nomeá-los para os cargos que lhes são privativos; nomear, após aprovação pelo Senado Federal, os Ministros do Supremo Tribunal Federal e dos Tribunais Superiores, os Governadores de Territórios, o Procurador-Geral da República, o presidente e os diretores do Banco Central e outros servidores, quando determinado em lei; nomear, observado o disposto no art. 73, os Ministros do Tribunal de Contas da União; nomear os magistrados, nos casos previstos nesta Constituição, e o Advogado- Geral da União; nomear membros do Conselho da República, nos termos do art. 89, VII; convocar e presidir o Conselho da República e o Conselho de Defesa Nacional; declarar guerra, no caso de agressão estrangeira, autorizado pelo Congresso Nacional ou referendado por ele, quando ocorrida no intervalo da sessões legislativas, e, nas mesmas condições, decretar, total ou parcialmente, a mobilização nacional; celebrar a paz, autorizado ou com o referendo do Congresso Nacional; conferir condecorações e distinções honoríficas; permitir, nos casos previstos em lei complementar, que forças estrangeiras transitem pelo território nacional ou nele permaneçam temporariamente; enviar ao Congresso Nacional o plano plurianual, o projeto de lei de diretrizes orçamentárias e as propostas de orçamento previstos nesta Constituição; prestar, anualmente, ao Congresso Nacional, dentro de 60 dias após a abertura da sessão legislativa, as contas referentes ao exercício anterior; prover e extinguir os cargos públicos federais, na forma da lei; editar medidas provisórias com força de lei, nos termos do art. 62, bem como exercer outras atribuições previstas na Constituição. (MORAES, 2003, p. 339). Para o indivíduo candidatar-se ao cargo de Presidente e Vice-presidente da República, a Constituição da Republica exige alguns requisitos: ser brasileiro nato (art. 12, § 3°); estar no gozo dos direitos políticos; ter mais de 35 anos; não ser inelegível (inalistáveis, analfabetos, reeleição, cônjuge, parentes consanguíneos e afins até o segundo grau ou por adoção do Presidente da República) e possuir filiação partidária (MORAES, 2003). 3.1.3 Poder Judiciário O Poder Judiciário é um dos três poderes clássicos previstos pela doutrina e consagrado como poder autônomo e independente de crescente importância no Estado de Direito, sua função não consiste somente em administrar a Justiça, sendo mais, pois seu ofício é ser o verdadeiro guardião da Constituição, com a finalidade de preservar, basicamente, os princípios da legalidade e igualdade, sem os quais os demais tornar-se-iam vazios. É exercido pela magistratura e ministérios públicos em duas ou mais instâncias, conforme mostra o quadro da Figura 2, tendo em sua base as varas cíveis ou criminais, as juntas de conciliação e julgamento, juízos federais, militares TÓPICO 1 | A LEI E A SOCIEDADE 59 etc. O órgão máximo do Poder Judiciário é o Supremo Tribunal Federal. Na Justiça Estadual existem as Varas Cíveis e Criminais em primeira instância, e os respectivos Tribunais de Justiça Estadual e o Superior Tribunal de Justiça. Na área federal, existem os Juízos Federais, também com suas Varas Cíveis e Criminais, e, em segunda instância, os Tribunais Regionais Federais. Na área trabalhista, a primeira instância é constituída pelas Juntas de Conciliação e Julgamento e, em segunda instância, pelos Tribunais Regionais do Trabalho. Na Justiça Eleitoral, também existem as Juntas Eleitorais e os Tribunais Regionais Eleitorais. A Justiça Militar pode ser estadual ou federal, cada uma com os respectivos órgãos de auditoria em primeira instância, seguidos dos Tribunais da Justiça Militar. Havendo matéria de âmbito constitucional, de qualquer uma dessas áreas, os processos são encaminhados para o Supremo Tribunal Federal (OGUISSO; SCHMIDT, 2007; MORAES, 2003). Além da função de legislar e administrar, o Estado também exerce a função de julgar, ou seja, a função jurisdicional, que consiste na imposição da validade do ordenamento jurídico, de maneira coerciva, sempre que houver necessidade (MORAES, 2003). Desse modo, a função típica do Poder Judiciário é a jurisdicional, ou seja, julgar, aplicando a lei a um caso concreto, que lhe é posto, resultante de um conflito de interesses. O Judiciário, porém, assim como os demais Poderes do Estado, possui outras funções, chamadas atípicas, de cunho administrativo e legislativo. São de cunho administrativo, exemplificativamente, concessão de férias aos seus membros e servidores; prover, na forma prevista nessa Constituição, os cargos de juiz de carreira na respectiva jurisdição. São de cunho legislativo a edição de normas regimentais, pois cabe ao Poder Judiciário elaborar seus regimentos internos, com observância das normas de processo e das garantias processuais das partes, dispondo sobre a competência e o funcionamento dos respectivos órgãos jurisdicionais e administrativos (MORAES, 2003). UNIDADE 2 | LEGISLAÇÃO DO EXERCÍCIO DE ENFERMAGEM NO BRASIL 60 FIGURA 2 - A ESTRUTURA DO PODER JUDICIÁRIO Supremo Tribunal de Justiça Supremo Tribunal Federal Tribunais Regionais Federais Tribunal Superior do Trabalho Varas Civel e Criminal Tribunal Regional do Trabalho Tribunal de Justiça Varas Civel e Criminal Tribunal Superior Eleitoral Tribunal Regional Eleitoral Superior Tribunal Militar Tribunal Militar Auditoria Justiça Militar Federal Auditoria Justiça Militar do Estado Juízes e Juntas Eleitorais Juntas de Conciliação do Trabalho FONTE: Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/reeusp/v33n2/v33n2a09.pdf>. Acessado em: 21 jun. 2018. 4 HIERARQUIA DAS NORMAS Cada uma das casas do Congresso tem uma Mesa Diretora, uma Comissãode Constituição e Justiça (CCJ), comissões permanentes e temporárias. Além da CCJ, a Câmara tem mais 12 comissões permanentes, entre elas a de Ciência e Tecnologia, Defesa do Consumidor, Direitos Humanos, Educação, Seguridade Social e Família e Trabalho, que são as que podem ter maior relação com o ensino e exercício da Enfermagem. Já o Senado tem outras seis comissões permanentes: Assuntos Econômicos, Assuntos Sociais, Educação, Relações Exteriores, Defesa Nacional e de Infraestrutura. As comissões permanentes são organizadas de acordo com a proporcionalidade dos partidos, mas também seguem critérios políticos e técnicos, pois os membros da comissão devem ter em sua formação ou experiência alguma afinidade com o assunto em pauta. As comissões temporárias tratam de um tema específico, por exemplo, a comissão parlamentar de inquérito (CPI) ou uma comissão destinada a representar a Câmara ou o Senado fora da sede do Parlamento. (OGUISSO; SCHMIDT, 2007). A hierarquia das normas resulta basicamente da posição que as normas ocupam, com uma relação de superioridade e inferioridade entre elas. Assim, as leis são válidas porque se apoiam em outras que lhes são hierarquicamente superiores. Essa disposição hierárquica das normas prevê, em princípio, três planos ou níveis: constitucional, composto da Constituição e leis complementares à Constituição; o ordinário, com as leis ordinárias; e o terceiro plano, com os regulamentos. A Constituição é a lei suprema, estabelecida pelo povo em virtude de sua soberania para servir de base à sua organização política, dispor sobre os TÓPICO 1 | A LEI E A SOCIEDADE 61 modos de criação de outras leis e estabelecer direitos e deveres de seus membros. As leis ordinárias são normas elaboradas pela autoridade investida de poder legislativo. E os regulamentos e resoluções são regras ou disposições estabelecidas para que se executem as leis, e são elaborados por autoridades que recebem das leis constitucionais e ordinárias a competência ou o poder administrativo. Existem, ainda, os regimentos que dispõem sobre a organização e funcionamento interno de um órgão público ou privado (OGUISSO; SCHMIDT, 2007). Portanto, a hierarquia das normas mostra que existe uma ordem de grandeza condicionando inclusive o espaço de aplicação, a menor ou maior abrangência da generalidade dos cidadãos. Nesse caso, na base dessa pirâmide podem ser incluídos os contratos, que têm força de lei entre as partes contratantes, e também as sentenças judiciais, que têm a menor abrangência de todas as normas por serem aplicadas pelo juiz a determinado cidadão. Acima de todas, está a lei constitucional ou Constituição, também chamada de Carta Magna, Lei Maior, Código Supremo, estatuto básico ou conjunto de regras e preceitos fundamentais estabelecidos pela soberania de um povo, para servir de base à sua organização política e firmar os direitos e deveres de cada um de seus componentes, vigente nos limites totais do Estado, para todos os indivíduos, acima de todos os órgãos da soberania e sobre todos os seus titulares. Portanto, pela sistemática jurídica, a Constituição é depositária da soberania. Não pode o Congresso Nacional, mediante lei ordinária, contrariar dispositivo constitucional. A revogação de um inciso da Carta Magna deverá seguir o rito complexo da própria elaboração constitucional (OGUISSO; SCHMIDT, 2007). De acordo com o texto da Constituição (art. 59), abaixo da Carta Magna ou Constituição estão as emendas à Constituição, leis complementares, leis ordinárias, leis delegadas, medidas provisórias, decretos legislativos e resoluções, aos quais podem ser acrescidos as portarias e, por último, os contratos e sentenças, como já referidos (OGUISSO; SCHMIDT, 2007). FIGURA 3 – PIRÂMIDE DE KELSIN C LC Leis Ordinárias Leis Delegadas Medidas Provisórias Decretos Legislativos Resoluções e Portarias Contratos e Sentenças FONTE: Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/reeusp/v33n2/v33n2a09. pdf>. Acessado em: 21 jun. 2018. UNIDADE 2 | LEGISLAÇÃO DO EXERCÍCIO DE ENFERMAGEM NO BRASIL 62 5 NORMAS GERAIS BRASILEIRAS QUE AFETAM A ENFERMAGEM Os Códigos Civil e Penal brasileiros possuem diversos artigos que afetam a enfermagem no seu exercício, especialmente no âmbito da responsabilidade civil ou penal, indenização, lesões corporais, a culpa em suas formas de imperícia, negligência ou imprudência, falsidade ideológica e outros itens que são abordados nos capítulos específicos (OGUISSO; SCHMIDT, 2007). A Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), com todas as emendas e legislação complementar, é outro diploma legal que afeta de modo direto as relações de trabalho de todos os profissionais da enfermagem, bem como de todos os trabalhadores que exercem suas atividades dentro do território nacional. De acordo com a CLT, é empregado a pessoa física que presta serviços de natureza não eventual a empregador, sob dependência deste e mediante salário. E empregador é a empresa individual ou coletiva (profissional liberal, instituições de beneficência, associações ou entidades sem fins lucrativos) que assume os riscos da atividade econômica, admite, assalariado e dirige a prestação pessoal de serviços (OGUISSO; SCHMIDT, 2007). Não obstante, a Constituição, além de garantir direitos sociais e individuais aos enfermeiros e a todo o profissional de enfermagem, na qualidade de cidadãos, também afeta todas as pessoas que exercem a enfermagem, porque ela institui, por exemplo, que cabe à União “legislar sobre as condições de capacidade para o exercício das profissões liberais e técnico-científicas”. Além disso, a Constituição da República incorporou em seu bojo uma grande parcela dos direitos trabalhistas, paralisando, de um certo modo, ou no mínimo dificultando as negociações coletivas entre empregados e empregadores, pois um certo grau de flexibilização nas negociações seria benéfico para que empresários permanecessem no negócio e os empregados mantivessem seus empregos. Os aspectos trabalhistas incorporados pela Constituição, em 1988, devido à própria euforia de aprovar uma nova Carta Magna após um vasto período de ditadura militar, influenciou legisladores a concederem muito mais direitos sociais e trabalhistas do que provavelmente se pretendia. Ainda que muitos desses direitos já estavam presentes na CLT, porém, ao serem incluídos na Constituição, tornaram-se cláusulas pétreas, portanto, inamovíveis, pela própria hierarquia das normas jurídicas. O que acarretou em dificuldades para a manutenção de empregos formais, devido ao alto custo que recai sobre o empregador, afetando não só o profissional de enfermagem ou da saúde, mas todo trabalhador brasileiro (OGUISSO; SCHMIDT, 2007). Devemos fazer menção, também, ao próprio Código de Ética (Deontologia) dos Profissionais de Enfermagem, e à Lei nº 7.498/86, que em seu art. 14 - Incumbe a todo o pessoal de Enfermagem: I- Cumprir e fazer cumprir o Código de Deontologia da Enfermagem. Há de citar-se o Código de Proteção e Defesa do Consumidor, Lei nº 8.078, de 11 de setembro de 1990, que no capítulo sobre os direitos básicos do TÓPICO 1 | A LEI E A SOCIEDADE 63 consumidor, inclui nove direitos, entre os quais, os direitos “à proteção da vida, saúde e segurança contra riscos provocados por práticas de fornecimento de produtos e serviços, considerados perigosos ou nocivos”, assim como os direitos “à informação adequada e clara sobre os diferentes produtos e serviços, com especificação correta de quantidade, características, composição, qualidade e preço, bem como sobre os riscos que apresentam”. Também afetando todos os profissionais da saúde e não apenas os da enfermagem. Um dos direitos mais relevantes do consumidor, criado a partir desse Código, foi “a facilitação da defesa de seus direitos, inclusive com a inversão do ônus da prova, a seu favor, no processo civil, quando verossímil a alegação”. Este direito foi realmente uma inovação que beneficiou todos osconsumidores, em geral, mas, na área da saúde, passou a ter um significado muito especial. Tradicionalmente, no direito afirma-se que “quem alega deve provar”, ou seja, o ônus de produzir a prova sempre recai sobre quem alega ou acusa, ou seja, na área da saúde, o paciente que se sentisse lesado ou mal assistido deveria provar essa alegação contra o profissional. Era uma missão praticamente impossível a um leigo produzir prova contra um profissional, sem mencionar um certo corporativismo que existia entre os profissionais, que se protegiam de forma mútua. O Código de Proteção e Defesa do Consumidor inverteu exatamente essa ordem, pois agora é o profissional que tem o dever de provar que a assistência prestada é a indicada, correta e de qualidade. Sendo assim, fundamentado nesse Código, é o acusado, e não o acusador, que possui o dever de provar que agiu corretamente em conformidade com as normas técnicas recomendadas, e, assim, desonerando o paciente de juntar provas para o que alega (OGUISSO; SCHMIDT, 2007). 64 RESUMO DO TÓPICO 1 Após o término deste tópico, estudamos que: • O direito representa um conjunto de regras que imprimem à atividade humana certa direção ou a encerram dentro de certos limites. • A organização política de uma sociedade está baseada na ordem jurídica instituída pela lei, como um meio para manter o equilíbrio entre as relações do homem na sociedade, no tocante a seus direitos e deveres. E o conjunto de famílias irá formar os agrupamentos sociais e assim sucessivamente até formar a nação organizada. • O Brasil, como todo país democrático, exerce sua soberania através de três poderes: Poder Legislativo, Poder Executivo e o Poder Judiciário. • Entre as normas que afetam a enfermagem, podemos elencar: Os Códigos Civil e Penal, a CLT, a Constituição Federal, o próprio Código de Ética dos Profissionais de Enfermagem, e o Código de Defesa do Consumidor. 65 AUTOATIVIDADE 1 Desenhe a pirâmide da organização da sociedade, descrevendo a formação da nação organizada. 2 O Brasil exerce sua soberania através de três poderes, assinale a alterativa CORRETA: a) Poder Executivo e Poder Legislativo. b) Poder Executivo, Poder Legislativo e Poder Judiciário. c) Poder Executivo, Poder Legislativo e Tribunal de Contas. d) Poder Executivo, Poder Legislativo e Forças Armadas. 66 67 TÓPICO 2 REGULAMENTAÇÃO DO EXERCÍCIO DA ENFERMAGEM UNIDADE 2 1 INTRODUÇÃO Caro acadêmico! É importante aprender a história para descobrir os caminhos percorridos pelas antigas gerações e entender as razões que motivaram as escolhas que hoje estão presentes no nosso cotidiano. Desde antigamente existem normas e regras para regulamentar as relações das pessoas na sociedade. Um exemplo mais antigo de normas legais escritas do mundo foi o Código de Hamurabi, estabelecido pelo rei Hamurabi, que pertenceu à primeira dinastia do Império da Babilônia. O Código de Hamurabi foi gravado em caracteres cuneiformes, com cerca de 3.500 linhas, em um enorme bloco cilíndrico de pedra negra. O Código traz 282 artigos tratando do direito da propriedade, família, sucessões, penhora e até sobre proteção ao consumidor. Previa casos de composição ou acordo entre as partes em alguns delitos patrimoniais e entre as penalidades aplicadas, permeava o princípio da Lei de Talião, "olho por olho, dente por dente" (OGUISSO; SCHMIDT, 2007). E tem como preâmbulo o seguinte texto: " - Quando o alto Anu, Rei de Anunaki e Bel, Senhor da Terra e dos céus, determinador dos destinos do mundo, entregou o governo de toda a humanidade a Marduc; quando foi pronunciado o alto nome da Babilônia; quando ele a fez famosa no mundo e nela estabeleceu um duradouro reino cujos alicerces tinham a firmeza do céu e da terra, - por esse tempo Anu e Bel me chamaram, a mim Hamurabi, o excelso príncipe, o adorador dos deuses, para implantar justiça na terra, para destruir os maus e o mal, para prevenir a opressão do fraco pelo forte, para iluminar o mundo e propiciar o bem-estar do povo. Hamurabi, governador escolhido por Bel, sou eu; eu o que trouxe a abundância à terra; o que fez obra completa para Nippur e Dirilu; o que deu vida à cidade de Uruk; supriu água com abundância aos seus habitantes; o que tornou bela a nossa cidade de Brasíppa; o que encelerou grãos para a poderosa Urash; o que ajudou o povo em tempo de necessidade; o que estabeleceu a segurança na Babilônia; o governador do povo, o servo cujos feitos são agradáveis a Anuit". UNIDADE 2 | LEGISLAÇÃO DO EXERCÍCIO DE ENFERMAGEM NO BRASIL 68 FIGURA 4 – CÓDIGO DE HAMURABI FONTE: Disponível em: <https://taisluso.blogspot.com/2018/01/o-rigor-das- leis-codigo-de-hamurabi.html>. Acesso em: 25 jun. 2018. A História da Legislação de Enfermagem também é repleta de grandes momentos, cujos feitos se refletem até os dias de hoje, e as atuais gerações podem usufruir dos inúmeros benefícios, especialmente no campo da legislação profissional e da regulamentação do exercício da profissão. O conhecimento a respeito dos marcos legais que tutelam a atuação da categoria é primordial para o constante aperfeiçoamento e respaldo da prática profissional. 2 HISTÓRICO DA REGULAMENTAÇÃO DO EXERCÍCIO DA ENFERMAGEM A partir de agora entraremos na história da regulamentação do exercício da enfermagem. Vamos ver que, ao longo da história da enfermagem, ressaltam- se os esforços e lutas que cercaram a promulgação de todos os diplomas legais de determinação do currículo mínimo de enfermagem, da regulamentação do exercício da profissão, ou de controle da classe pela própria classe. Assim, neste tópico, iremos demonstrar a evolução da enfermagem no Brasil. Historicamente, iniciou-se com a legislação para a formação da parteira, levando em conta seu vínculo com faculdades de Medicina, teve início com um decreto sem número de 8 de outubro de 1832, e a do exercício profissional com o Decreto nº 828, de 29 de setembro de 1851, que dispunha sobre o Regulamento da Junta de Higiene Pública, em que os médicos, cirurgiões, boticários, dentistas e parteiras deveriam apresentar seus diplomas na Corte e Província do Rio de Janeiro (OGUISSO, 2001). TÓPICO 2 | REGULAMENTAÇÃO DO EXERCÍCIO DA ENFERMAGEM 69 Especificamente sobre enfermagem, o primeiro dispositivo legal ocorreu somente no início da República, com o Decreto nº 791, de 27 de setembro de 1890, criando a primeira escola profissional de enfermagem, com duração de dois anos e aulas ministradas por médicos (BRASIL, 1974a). Em 1921, o Decreto nº 15.230, de 31 de dezembro de 1921, aprovou o regulamento para o serviço de saúde do exército, em que os enfermeiros são incluídos como parte do pessoal subalterno, juntamente com soldado encarregado de remover feridos do campo de batalha e outros auxiliares. No âmbito civil, o Decreto nº 15.799, de 10 de novembro 1922, aprovou o regulamento do Hospital Geral do Departamento Nacional de Saúde Pública, que já mencionava que, anexo ao Hospital, seria criada a Escola de Enfermeiras desse Departamento (BRASIL, 1974b). Mas apenas em 1923, o Decreto nº 16.300, de 31 de dezembro de 1923, ao aprovar o regulamento do Departamento Nacional de Saúde Pública e a fiscalização do exercício profissional de médicos, farmacêuticos, dentistas, enfermeiros e parteiras, também criou uma escola para enfermeiras. No que se refere ao exercício, o enfermeiro vinha agrupado junto com massagistas, manicures, pedicuros e optometristas que deveriam ser responsáveis pelo tratamento de doentes (BRASIL, 1974c). Porém, se praticassem ações sem ordem médica, sofreriam as penalidades previstas no mesmo regulamento. O Decreto nº 20.109, de 15 de junho de 1931, declarava em sua ementa que pretendia regular "O exercício da enfermagem no Brasil e fixar as condições para equiparação das escolas de enfermagem" (BRASIL, 1974, s.p.). Todavia, somente o artigo 1º tratava do exercício da enfermagem, ao estabelecer que apenas poderiam usar o título de enfermeiro diplomado, se oprofissional fosse diplomado por escola oficial ou equiparada na forma da lei e tivesse o diploma registrado no Departamento Nacional de Saúde Pública (OGUISSO, 2001). Mais adiante, o Decreto nº 20.931, de 11 de janeiro de 1932, ao dispor sobre a regulamentação e fiscalização do exercício da medicina, odontologia e medicina veterinária, regulava também as profissões de farmacêutico, da parteira e da enfermeira. No que tange à enfermagem, não havia ainda preocupação em definir o que esse profissional deveria fazer, mas era-lhe proibido instalar consultório para atendimento de cliente. O decreto estabelecia que em caso de transgressão grave, o enfermeiro poderia ser suspenso do exercício ou ser demitido, se exercesse função pública (OGUISSO, 2001). A Lei nº 775, de 6 de agosto 1949, dispunha sobre o ensino de enfermagem no país, mas incluiu um preceito referente ao exercício profissional no art. 21, dispondo que "as instituições hospitalares, públicas ou privadas, decorridos sete anos após a publicação desta lei, não poderiam contratar, para a direção dos seus serviços de enfermagem, senão enfermeiros diplomados" (BRASIL, 1974d). Esse artigo foi de imenso valor no exercício profissional da enfermagem, tendo em vista que a Lei nº 775/49 jamais chegou a ser revogada, e décadas mais tarde, líderes da enfermagem ainda utilizavam esse preceito legal. UNIDADE 2 | LEGISLAÇÃO DO EXERCÍCIO DE ENFERMAGEM NO BRASIL 70 Mas somente na década de 1950 houve a aprovação de uma lei específica que tratava efetivamente do exercício da enfermagem. Foi a Lei nº 2.604, de 17 de setembro de 1955, que definiu as categorias que poderiam exercer a enfermagem no país e revogou diversos dispositivos que tratavam de categorias que seriam posteriormente extintas, como enfermeiros práticos, enfermeiros assistentes, assistentes de enfermagem, enfermeiro militar, atendentes (BRASIL, 1974e), mas existiram por muito tempo como grupos residuais da enfermagem (OGUISSO; SCHMIDT, 2007). Em abril de 1954, uma comissão governamental que estudava o Plano de Classificação de Cargos dos Servidores Públicos Civis da União divulgou os resultados, nos quais a enfermagem havia sido classificada entre os serviços profissionais de nível médio, com vencimentos inferiores aos dos técnico- científicos, em que estavam classificados os profissionais de nível universitário. A ABEn (Associação Brasileira de Enfermagem), então presidida pela Dra. Glete de Alcântara, vinha subsidiando essa comissão e manteve encontros formais com seus dirigentes para solicitar revisão dos níveis salariais dos enfermeiros nos serviços públicos federais e autárquicos. Esse estudo, já como projeto de lei, tramitou no Congresso Nacional e acabou sendo aprovado como a Lei nº. 3.780, de 12/07/1960 (BRASIL, 1974), dispondo sobre a Classificação de Cargos do Serviço Civil do Poder Executivo, e teve uma considerável influência na enfermagem. As diversas denominações existentes na época, na enfermagem, foram reduzidas de acordo com as regras de enquadramento por similaridade de atribuições e responsabilidades. Essa Lei, apesar de não tratar especificamente da enfermagem, causou grande impacto na profissão, pois o enfermeiro foi enquadrado como profissão técnico-científica de nível superior no serviço público federal. Diante disso, abriu-se o caminho para que nos âmbitos estadual e municipal, pouco a pouco, fosse o enfermeiro também reconhecido como categoria de nível universitário, com remuneração correspondente (DORNELLES, 1995). Aproximadamente seis anos após a promulgação da Lei n 2.604/55, o Decreto nº 50.387, de 28/03/1986, veio regulamentar o exercício da enfermagem. Pela primeira vez houve uma tentativa de definição do exercício da enfermagem, no entanto essa definição estava restrita às seguintes atividades: observação e cuidado de enfermos, gestante e acidentado; administração de medicamentos e terapias prescritas pelo médico; educação sanitária; e, aplicação de medidas de prevenção de doenças. Definiu também todas as categorias que poderiam exercer de forma legal a profissão, inclusive as obstetrizes e parteiras. No entanto, havia indefinição de funções de enfermagem, entre todas as categorias existentes. O enfermeiro era diferenciado das demais categorias por quatro funções, que não eram propriamente de enfermagem. Assim, além de poder exercer "a enfermagem em todos os seus ramos", o enfermeiro poderia administrar serviços de enfermagem; participar do ensino em escolas de enfermagem e de auxiliar de enfermagem ou de treinamento de pessoal; dirigir e inspecionar escolas de enfermagem e participar de bancas examinadoras de práticos de enfermagem em concursos. Havia também artigos que tratavam dos deveres e das proibições para todo o pessoal de enfermagem (OGUISSO; SCHMIDT, 2007). TÓPICO 2 | REGULAMENTAÇÃO DO EXERCÍCIO DA ENFERMAGEM 71 Como o profissional técnico de enfermagem não existia quando da aprovação da Lei nº 2.604/55 e do Decreto nº 50.387/61, essa categoria ficaria sem função legal durante os 20 anos após sua criação, não fossem as funções definidas no Parecer do Conselho Federal de Educação nº 3.814/76 (BRASIL,1976). As funções definidas nesse parecer para o Técnico de Enfermagem e para o Auxiliar de Enfermagem têm valor histórico, porque na época o texto da legislação do exercício profissional era ainda um projeto em estudo. Mas, constata-se que as atividades específicas descritas posteriormente na Lei nº 7.498/86 (BRASIL, 2001) e no Decreto nº 94.406/87 (BRASIL, 2001) do Exercício Profissional possuem enorme similaridade com as Resoluções do Conselho Federal de Educação, mantendo-se inclusive vários de seus termos. Já o decreto regulamentador faz desdobramentos dessas funções, detalhando e explicitando as ações para cada uma dessas categorias (OGUISSO, 2001). A ABEn foi a primeira organização profissional de enfermagem a surgir, no Brasil, dentre os três tipos de entidades de classe e foi também responsável pela criação dos outros dois: Conselhos de Enfermagem e Sindicatos de Enfermeiros. A grande vitória conquistada, na década de 1970, pela ABEn foi justamente a criação dos Conselhos de Enfermagem, e em seguida, na mesma década, os Sindicatos de Enfermeiros. A proliferação de entidades de classe na enfermagem, assim como em qualquer outra profissão, é decorrente do próprio crescimento e especificação de atribuições (GERMANO, 2010). Historicamente, os enfermeiros começaram a sentir a necessidade de ver a profissão regulamentada, diante da multiplicação de diferentes grupos de pessoas, com pouco ou nenhum preparo, praticarem também atividades de enfermagem. A solução encontrada pelas enfermeiras pioneiras na época, era a criação de um Conselho de Enfermagem (OGUISSO, 2001). Após 28 anos de luta, a ABEn conseguiu tornar realidade a Lei que recebeu o nº 5.905, (BRASIL, 1973), de 13 de julho de 1973 e que criou os Conselhos Federal (COFEN) e Regionais de Enfermagem (COREN), estes em âmbito estadual. Mesmo não estando, na época, ainda regulamentadas as funções dos técnicos de enfermagem, o COFEN, fundamentando-se na legislação do ensino, criou três quadros distintos para fins de inscrição: - Quadro I, de enfermeiros e obstetrizes; - Quadro II, de técnicos de enfermagem; e Quadro III, de auxiliares de enfermagem, práticos de enfermagem e parteiras práticas (OGUISSO, 2001). A Lei nº 7.498, de 25 de junho de 1986, e o Decreto nº 94.406, (BRASIL, 2001), de 8 de junho de 1987, constituem os atuais dispositivos legais do exercício profissional da Enfermagem, e vieram substituir a Lei nº 2.604/55 e o Decreto nº 50.387/61, que vigoraram por mais de duas décadas. Na nova Lei não houve uma redefinição do que seria a enfermagem, mas estabelece as competências privativas do enfermeiro, inclusive no que se refere à consulta e prescrição da assistência de enfermagem e os cuidados de enfermagem de maior complexidade técnica, inexistentes na legislação anterior.Foram também incluídas as atribuições dos técnicos e auxiliares de enfermagem, sempre sob orientação de supervisão do UNIDADE 2 | LEGISLAÇÃO DO EXERCÍCIO DE ENFERMAGEM NO BRASIL 72 enfermeiro. Essa Lei, no art. 23, delimitava um prazo de dez anos, a contar da promulgação da mesma, isto é, 1986, para que as pessoas que estivessem executando atividades de enfermagem, sem possuir formação específica, pudessem continuar a exercer essas atividades, desde que devidamente autorizado pelo Conselho Federal de Enfermagem (COFEN). Isso significava que ao fim dos dez anos, isto é, em 1996, todos deveriam estar devidamente qualificados. Entretanto, a Lei nº 8.967 (BRASIL, 1994), de 28 de dezembro de 1994, veio modificar o texto do art. 23 da Lei nº 7.498/86, garantindo "aos atendentes de enfermagem admitidos antes da vigência desta Lei, exercício das atividades elementares de enfermagem", sob supervisão do enfermeiro. Posteriormente, foi criada uma categoria pessoal, denominada de agentes comunitários, também sem escolaridade formal em enfermagem, e esses agentes deveriam desempenhar atividades de saúde em comunidades distantes dos centros urbanos, ou onde não houvesse recursos humanos preparados (OGUISSO; SCHIMIT, 2007). 3 ENTIDADES DE DEFESA ECONÔMICA DA CLASSE As associações profissionais e os sindicatos são órgãos de finalidade econômica, de assistência, de defesa e representação da classe. A associação profissional constituiu normalmente uma fase que antecede a existência do respectivo sindicato. O sindicalismo brasileiro adotou um único sindicato para cada uma das categorias profissionais, não podendo haver outro, possuindo total privilégio legal da representação exclusiva e monopolista. A organização sindical apresenta três níveis, o sindicato de forma geral em âmbito municipal, a federação de amplitude estadual e a confederação em âmbito nacional. E é competência de o Ministro do Trabalho estabelecer a base territorial no momento da licença à associação profissional a virar sindicato, a qual deverá estar em conformidade com os requisitos exigidos pela Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) (EDITORIAL, 2006). É importante ressaltar que a associação profissional só pode representar os associados, já o sindicato representa legalmente toda a categoria profissional perante autoridades administrativas e judiciárias. Outra diferença é que somente as entidades sindicais têm competência de celebrar contratos de trabalho coletivos, bem como instaurar e homologar dissídios coletivos da categoria, impor contribuições a todos os integrantes da profissão que representa em conformidade com as regras estipuladas pela Consolidação das Leis de Trabalho (arts. 511 e 512). É facultativa a filiação do indivíduo a associação profissional ou sindical. Agora, caro acadêmico, você deve se perguntar, os profissionais de enfermagem possuem sindicato? Historicamente, o sindicalismo de enfermagem começou em 1929, com a associação dos Enfermeiros da Marinha Mercante se transformando no Sindicato Nacional dos Enfermeiros da Marinha Mercante, ao qual se filiavam somente as pessoas que desenvolviam atividades de enfermagem na Marinha Brasileira. Assim, em 1933 foi criado o Sindicato dos Enfermeiros Terrestres, que TÓPICO 2 | REGULAMENTAÇÃO DO EXERCÍCIO DA ENFERMAGEM 73 estava associado às práticas de enfermagem, aos atendentes e aos enfermeiros diplomados (DORNELLES, 1995). Entre 1945 e 1950, várias escolas foram criadas, bem como várias seções estaduais da Associação Brasileira de Enfermeiras Diplomadas (ABED). A partir de 1952, a ABED e o sindicato dos enfermeiros em hospitais e casas de saúde assumem uma postura de trabalho conjunto para defender os interesses da enfermagem. Destacam-se as reivindicações da ABED na década de 1950, pelo reconhecimento do status do enfermeiro e suas questões específicas, assim como de auxílio, no que diz respeito a salários, pagamento de insalubridade, aposentadoria aos 25 anos de serviço, reintegração do enfermeiro ao quadro de profissionais liberais, acesso do Enfermeiro ao plano de Classificação de Cargos do serviço federal e a atividade de nível superior, fiscalização e subvenção às escolas de enfermagem. Com isso, pode-se concluir que a ABED desempenha tarefas sindicais, como as reivindicações salariais (GERMANO, 2010; OGUISSO, 2001). Em 1954, a ABED transformou-se em Associação Brasileira de Enfermagem (ABEn), denominação que conserva até os dias atuais. Embora existisse sindicato dos enfermeiros, este não representava os verdadeiros interesses da categoria, assim, em 2 de setembro de 1974, a Portaria Ministerial nº 3.311/74 alterou a denominação Sindicato dos Enfermeiros e Empregados de Hospitais e Casas de Saúde, para Sindicato de Profissionais de Enfermagem, técnicos, duchistas, massagistas e empregados em hospitais e casas de saúde. Essa mudança abriu caminhos para a criação do Sindicato de Enfermagem (OGUISSO, 2001). UNI A ABEn é uma associação de caráter cultural, científico e político, com personalidade jurídica própria, de direito privado e que congrega pessoas – enfermeiros; técnicos de enfermagem; auxiliares de enfermagem; estudantes de cursos de graduação em enfermagem e de educação profissional de nível técnico em enfermagem; escolas, cursos ou faculdades de enfermagem; associações ou sociedades de especialistas – que a ela se associam, individual e livremente, para fins não econômicos. Tem número ilimitado de associados e se organiza por meio de suas seções federadas, no Distrito Federal e em cada estado da federação brasileira, sob a direção de uma diretoria nacional. É regida por estatuto nacional e estatutos estaduais. Possui normativas próprias que regulam os atos administrativos da gestão. Suas decisões, fontes de recursos e patrimônio são definidos, fiscalizados e controlados por órgãos e instâncias de deliberação, administração, execução e de fiscalização. Como Associação de âmbito nacional, é reconhecida como de utilidade pública, conforme Decreto Federal nº 31.417/52, publicado no Diário Oficial da União de 11 de setembro de 1952. Pautada em princípios éticos e em conformidade com suas finalidades, a ABEn articula-se com as demais organizações da enfermagem brasileira, para promover o desenvolvimento político, social e científico das categorias que a compõem. UNIDADE 2 | LEGISLAÇÃO DO EXERCÍCIO DE ENFERMAGEM NO BRASIL 74 Tem como eixos a defesa e a consolidação da educação em Enfermagem, da pesquisa científica, do trabalho da Enfermagem como prática social, essencial à assistência social e à saúde, à organização e ao funcionamento dos serviços de saúde. Compromete-se a promover a educação e a cultura em geral; e a propor e defender políticas e programas que visem à melhoria da qualidade de vida da população e ao acesso universal e equânime aos serviços social e de saúde. FONTE: Disponível em: <http://www.abennacional.org.br/site/a-aben/>. Acesso em: 25 jun. 2018. 4 CAMINHOS DA LEGISLAÇÃO DO EXERCÍCIO DA ENFERMAGEM NO BRASIL Caro acadêmico! Qual lei regulamenta o exercício da enfermagem? O que consiste esse exercício? Quais são suas atribuições? Quem pode exercer legalmente a profissão no Brasil? Essas respostas você encontrará nesse tópico. A Lei n° 7.498, de 25 de junho de 1986, regulamentada pelo Decreto nº 94.406, de 8 de junho de 1987, trata do exercício profissional da enfermagem. Essa Lei dispõe em seu art. 1º que "é livre o exercício da enfermagem em todo o território nacional, observadas as disposições desta Lei" (BRASIL, 2001). O Decreto n° 94.406, de 8 de junho de 1987, especifica que "o exercício da atividade de enfermagem, observadas as disposições da Lei nº 7.498/86, que define quem são cada um dos profissionais, respeitando os graus de habilitação, é privativo do enfermeiro, técnico de enfermagem, auxiliar de enfermagem e parteiro, e só será permitido exercer a profissão o profissional inscrito no Conselho Regional de Enfermagem da respectivaRegião" (BRASIL, 2001). O Decreto nº 94.406/87 também descreve as atribuições para cada uma dessas categorias profissionais de enfermagem. Para o enfermeiro são descritas as atividades privativas e as que deve realizar como integrante de equipe de saúde. Assim, aquele que não possui um desses títulos também não pode, legalmente, exercer a enfermagem (OGUISSO; SCHMIDT, 2007). Em virtude da carência de recursos humanos de nível médio nessa área, todavia, a Lei nº 7.498/86, no art. 23, permitiu que o profissional, sem formação específica, tais como os atendentes de enfermagem e agentes de saúde, que se encontravam executando atividades de enfermagem, continuassem nessa atividade desde que autorizado pelo Conselho Federal de Enfermagem (BRASIL, 2001). Porém, essa autorização foi alterada pela nº Lei 8.967, não existindo mais prazo legal que obrigasse os profissionais amparados pela Lei nº 8.967/94 a buscar uma formação específica (BRASIL, 1994). O Ministério da Saúde, preocupado com o problema a fim de melhorar a qualidade dos serviços de saúde, realizou projetos como o PROFAE (Projeto de Profissionalização dos Trabalhadores da área de Enfermagem), com objetivo de profissionalizar esses trabalhadores, inclusive os atendentes de enfermagem. Assim, a lei confere a qualificação ou o título profissional de acordo com o grau de preparo e formação. Por isso, na TÓPICO 2 | REGULAMENTAÇÃO DO EXERCÍCIO DA ENFERMAGEM 75 divisão do trabalho de enfermagem, as atividades mais complexas e de maior responsabilidade foram atribuídas aos enfermeiros, profissionais de maior preparo acadêmico (OGUISSO; SCHMIDT, 2007). O Decreto nº 94.406/87, no seu art. 8º, é muito explícito a respeito das atividades privativas de direção e liderança do enfermeiro, assim como de planejamento, organização, coordenação, execução e avaliação da assistência de enfermagem exercida nos órgãos de enfermagem, estão incluídos todos os níveis da estrutura institucional, pública ou privada, tais como coordenadorias, consultorias, auditorias, assessorias, departamentos, divisões, serviços ou seções de enfermagem. Além dessas atividades de cunho intelectual ou administrativo, compete ainda ao enfermeiro, em caráter privativo, a consulta e prescrição da assistência de enfermagem, assim como os cuidados diretos aos pacientes graves com risco de vida e os de maior complexidade técnica e que demandam conhecimentos científicos apropriados e capacidade de tomar decisões imediatas. Como integrante de equipe de saúde, o enfermeiro tem no inciso II do mesmo art. 8º, um conjunto de 17 atividades, em que ele participa na elaboração, no planejamento, execução e avaliação de programas de saúde, de assistência integral à saúde individual e de grupos específicos, particularmente daqueles prioritários e de alto risco, prevenção e controle da infecção hospitalar, de educação sanitária, de vigilância epidemiológica, de projetos de construção ou reforma de unidades de saúde, de treinamento de pessoal de saúde, assim como na prestação de assistência obstétrica e execução de parto sem complicações, em situação de emergência, entre outras funções. Os profissionais portadores do título de enfermeira obstétrica (art. 9°) ou enfermeiro obstetra (art. 12º), além das atividades já citadas, podem também: prestar assistência obstétrica a parturiente e ao parto normal, assim como identificar complicações obstétricas e tomar providências até a chegada do médico e efetuar episiotomias e episiorrafias, com aplicação de anestesia local, quando necessária. O parteiro ou parteira pode prestar assistência à gestante e à parturiente, assistir ao parto normal, inclusive em domicílio e cuidar da puérpera e do recém-nascido. Essas atividades devem ser exercidas sob supervisão de enfermeira obstétrica, quando efetuadas em instituições de saúde e, sempre que possível, sob controle e supervisão de unidades de saúde, quando efetuadas em domicílio. As funções dos técnicos e auxiliares de enfermagem estão descritas no art. 10 e 11 desse mesmo decreto, atribuindo-lhes atividades auxiliares de nível médio técnico, assim como as de assistência de enfermagem (OGUISSO: SCHMIDT, 2007). UNIDADE 2 | LEGISLAÇÃO DO EXERCÍCIO DE ENFERMAGEM NO BRASIL 76 UNI Caro acadêmico! Veja na íntegra o Decreto nº 94.406/87. Disponível em: <http://www.cofen.gov.br/decreto-n-9440687_4173.html>. 5 SAÚDE E ENFERMAGEM NO CÓDIGO DE PROTEÇÃO E DEFESA DO CONSUMIDOR O Código de Proteção e Defesa do Consumidor (Lei nº 8.078, de 11 de setembro de 1990) estipula normas de proteção e defesa do consumidor, de ordem pública e interesse social, ou seja, estabelece regras para o relacionamento entre consumidores e fornecedores ou prestadores de serviços, e para a proteção e defesa dos consumidores, como parte dos direitos da cidadania. Para o código, o consumidor é toda pessoa física ou jurídica que adquire ou utiliza produto ou serviço como destinatário final. O fornecedor é toda pessoa física ou jurídica, pública ou privada, nacional ou estrangeira, bem como os entes despersonalizados, que desenvolvem atividade de produção, montagem, criação, construção, transformação, importação, exportação, distribuição ou comercialização de produtos ou prestação de serviços. Já o serviço é qualquer atividade fornecida no mercado de consumo, mediante remuneração, inclusive as de natureza bancária, financeira, de crédito e securitária, salvo as decorrentes das relações de caráter trabalhista. O Código apresenta nove direitos básicos do consumidor, entre eles está “a proteção da vida, saúde e segurança contra os riscos provocados por práticas no fornecimento de produtos e serviços considerados perigosos ou nocivos”. Neste sentido, o profissional de enfermagem é fornecedor de serviços, no qual, de acordo com o CDC, responderá subjetivamente pelos danos causados por suas atividades. É importante ressaltar que essa responsabilidade subjetiva nãvo os exclui de observar todos os demais princípios impostos pelo CDC, como informação, transparência, boa-fé, segurança, prevenção, entre outros. O Código também prevê o direito do consumidor de receber a "informação adequada e clara sobre os diferentes produtos e serviços, com especificação correta de quantidade, características, composição, qualidade e preço, bem como sobre os riscos que apresentarem"; a proteção contra a publicidade enganosa e abusiva, a efetiva prevenção e reparação de danos patrimoniais e morais, individuais, coletivos e difusos. O dever de informar constitui direito fundamental também previsto na Constituição da República de 1988 (BRASIL, 1988), em seu art. 5º, inciso XIV: “é assegurado a todos o acesso à informação e resguardado o sigilo da fonte, quando necessário ao exercício profissional”. TÓPICO 2 | REGULAMENTAÇÃO DO EXERCÍCIO DA ENFERMAGEM 77 No que tange aos profissionais de enfermagem, o dever de informação constitui uma das suas principais atribuições. O próprio Código de Ética dos Profissionais de Enfermagem dispõe, em seu artigo 17, como dever e responsabilidade do profissional informar: “Prestar adequadas informações à pessoa, família e coletividade a respeito dos direitos, riscos, benefícios e intercorrências acerca da Assistência de Enfermagem”. Deste modo, apesar de os profissionais de enfermagem, como profissionais liberais, estarem abarcados pela exceção à regra geral da responsabilidade objetiva do CDC e, portanto, responderem subjetivamente pelos vícios e defeitos em seus serviços, não estão excluídos dos demais preceitos estampados no diploma legal. Assim, estão os profissionais de enfermagem vinculados ao dever de informação, de modo que deverão fornecer ao paciente todas as informações necessárias para a formação de sua opinião, no que diz respeito a submeter-se ou não ao procedimento, aos riscos e benefícios da intervenção, aos efeitos colaterais, às chances de êxito etc. (PREST; PAZÓ, 2014). UNI Veja na íntegra o Código de Defesa do Consumidor.Disponível em: <http:// www2.senado.leg.br/bdsf/bitstream/handle/id/533814/cdc_e_normas_correlatas_2ed.pdf>. Acesso em: 25 jun. 2018. UNIDADE 2 | LEGISLAÇÃO DO EXERCÍCIO DE ENFERMAGEM NO BRASIL 78 6 TRABALHO DE ENFERMAGEM: NORMAS LEGAIS DE SEGURANÇA E SAÚDE As Normas Regulamentadoras (NR) tratam do elenco de requisitos e procedimentos relativos à segurança e medicina do trabalho, de observância obrigatória às empresas privadas, públicas e órgãos do governo que possuam empregados regidos pela Consolidação das Leis do Trabalho. Atualmente, temos 36 NRs aprovadas pelo Ministério do Trabalho e Emprego, dentre estas, as normas 4, 5, 6, 7, 9, 15, 17 e 32 são as principais normas legais para a enfermagem. Vejamos elas: • NR 4 – Serviço especializado em engenharia e medicina do trabalho/SESMET Colima a promoção da saúde do trabalhador e a proteção de sua integridade física no ambiente de trabalho. Orienta sobre a segurança no local de trabalho, fiscaliza o uso dos Equipamentos de Proteção Individual (EPI) e assegura o cumprimento das Normas Regulamentadoras por parte dos trabalhadores. Esses serviços são atribuídos aos seguintes profissionais: médico do trabalho, engenheiro de segurança do trabalho, enfermeiro, técnico de segurança do trabalho, auxiliar de enfermagem. As empresas privadas e públicas, os órgãos públicos da administração direta e indireta dos poderes Legislativo e Judiciário, que possuam empregados regidos pela CLT, são obrigados a manter SESMET. O SESMET é responsável pela conscientização dos trabalhadores sobre a importância da prevenção de acidentes e das formas de manutenção da saúde no ambiente de trabalho. • NR 5 – Comissão Interna de Prevenção de Acidentes – CIPA A NR 5 dispõe sobre a obrigatoriedade de as empresas estabelecerem uma Comissão Interna de Prevenção de Acidentes (CIPA). O estabelecimento dessa comissão tem como objetivo a busca pela prevenção de acidentes e doenças decorrentes do trabalho. A CIPA terá como membros representantes dos empregadores e dos empregados. • NR 6 – Equipamento de Proteção Individual (EPI) A NR 6 dispõe sobre a importância e sobre as normas referentes à utilização do Equipamento de Proteção Individual (EPI). Equipamento de Proteção Individual é todo dispositivo ou produto, de uso individual utilizado pelo trabalhador e destinado à proteção de riscos suscetíveis de ameaçar a segurança e a saúde no trabalho. Além de estipular e definir os tipos de EPIs a que as empresas estão obrigadas a fornecer a seus empregados. TÓPICO 2 | REGULAMENTAÇÃO DO EXERCÍCIO DA ENFERMAGEM 79 UNI Equipamentos de Proteção Individual (EPI) utilizados pelos enfermeiros. • NR 7 – Programa de Controle Médico de Saúde Ocupacional (PCMSO) A NR 7 dispõe sobre a obrigatoriedade de se elaborar e de se implementar o Programa de Controle Médico de Saúde Ocupacional. O Programa (PCMSO) tem a função de promover e preservar a saúde dos trabalhadores. É responsável por analisar e avaliar os empregados de maneira individual ou coletiva, através de instrumentos clínico-epidemiológicos. O PCMSO possui natureza preventiva referente à saúde do trabalhador. Prevê a obrigatoriedade da realização de exames médicos para as empresas: admissional, periódico, retorno ao trabalho, mudança de função, demissional. • NR 9 – Programa de Prevenção de Riscos Ambientais (PPRA) A NR 9 dispõe sobre a obrigatoriedade de se elaborar e implementar o Programa de Prevenção de Riscos Ambientais. O Programa (PPRA) tem a função de prevenir a saúde do trabalhador, assim como sua integridade física. Essa prevenção é realizada através da antecipação, reconhecimento, avaliação e controle da ocorrência de riscos ambientais existentes ou que venham a existir no ambiente de trabalho. Vale ressaltar que esse programa (PPRA) tem o objetivo também de proteger o meio ambiente e recursos naturais. Para efeito de aplicação do PPRA considera-se riscos físicos, químicos, biológicos, ergonômicos e de acidentes. UNIDADE 2 | LEGISLAÇÃO DO EXERCÍCIO DE ENFERMAGEM NO BRASIL 80 UNI Tabela demonstrando os riscos físicos, químicos, biológicos, ergonômicos e de acidentes. RISCOS FÍSICOS, QUÍMICOS, BIOLÓGICOS, ERGONÔMICOS E ACIDENTES Grupo Riscos Cor de Identificação Descrição 1 Físicos Verde Ruído, calor, frio, pressões, umidade, radiações ionizantes e não ionizantes, vibrações, etc. 2 Químicos Vermelho Poeiras, fumos, gases, vapores, névoas, neblinas, etc. 3 Biológicos Marron Fungos, vírus, parasitas, bactérias, protozoários, insetos, etc. 4 Ergonômicos Amarela Levantamento e transporte manual de peso, monotonia, repetitividade, responsabilidade, ritmo excessivo, posturas inadequadas de trabalho, trabalho em turnos, etc. 5 Acidentais Azul Arranjo físico inadequado, iluminação inadequada, incêndio e explosão, eletrecidade, máquinas e equipamentos sem proteção, quedas e animais peçonhentos. FONTE: Disponível em: <http://www.efdeportes.com/efd186/riscos-ambientais-de- um-hospital-escola.htm>. Acesso em: 25 jun. 2018. • NR 15 – Operações e atividades insalubres A NR 15 dispõe sobre regras referentes a operações e atividades efetuadas em locais de grande exposição a riscos ambientais em um ambiente de trabalho insalubre. Ao decorrer da norma são abordados assuntos como limite de tolerância, insalubridade, laudo de inspeção do local de trabalho, dentre outros mais. • NR 17 – Ergonomia A NR 17 estabelece parâmetros de adaptação psicológica e fisiológica do trabalhador às condições de trabalho. Tem como finalidade oferecer ao trabalhador o máximo de segurança e conforto. Destina-se a evitar comportamentos inadequados e inseguros dos trabalhadores, por exemplo: postura inadequada do corpo, esforço intenso e sobrecarga de trabalho relacionada a certa execução, escada inexistente, máquinas com válvulas de acionamento difícil, entre outras. TÓPICO 2 | REGULAMENTAÇÃO DO EXERCÍCIO DA ENFERMAGEM 81 • NR 32 – Serviços de saúde A NR 32 estabelece orientações sobre a segurança e saúde no trabalho nos serviços de saúde. Tem por finalidade fixar diretrizes básicas para a implementação de medidas de proteção à segurança e à saúde dos trabalhadores dos serviços de saúde, assim como daqueles que exercem atividades de promoção e assistência à saúde em geral. Entende-se por serviços de saúde qualquer edificação destinada à prestação de assistência à saúde da população, e todas as ações de promoção, recuperação, assistência, pesquisa e ensino em saúde em qualquer nível de complexidade. Sendo assim, as NRs permitem identificar muitas irregularidades nos serviços de saúde. Dessa forma, é possível considerar que a norma auxiliará o enfermeiro a exigir da instituição de saúde em que trabalha condições adequadas de trabalho, se o mesmo conhecer e compreender estas NRs. Não obstante, é fundamental que os enfermeiros, assim como os outros profissionais da equipe, conheçam estas normas regulamentadoras a fim de que possam cumprir com os seus deveres, reafirmar seus direitos, como também possam promover a segurança no trabalho e prevenir acidentes e doenças ocupacionais. 7 ASPECTOS JURÍDICOS E ÉTICO-LEGAIS DA ENFERMAGEM Caro acadêmico! Como a Constituição, o Código Civil ou o Código Penal poderiam influenciar nos aspectos jurídicos e ético-legais no exercício da enfermagem? A Constituição Brasileira garante a todos os direitos à saúde, sob responsabilidade do Estado (art. 196), através de políticas sociais e econômicas que visem à diminuição do risco de doenças e de outros agravos, como também o acesso universal e igualitário aos serviços que visem à promoção, proteção e recuperação da saúde. Dá prioridade às ações e serviços públicos de saúde integrantes de um sistema regionalizado e hierarquizado que constituem o Sistema Único de Saúde (SUS), e permite que a iniciativa privada também possa oferecer serviços de assistência à saúde. A Constituição ainda afirma que "é livre o exercício de qualquer trabalho, ofício ou profissão, atendidasas qualificações profissionais que a lei estabelecer" (art. 5c, item XI II) (OGUISSO; SCHMIDT, 2007). A Lei das Contravenções Penais (art. 47) prevê que "exercer profissão ou atividade econômica, ou anunciar que a exerce, sem preencher as condições a que por lei está subordinado o seu exercício" constitui uma contravenção penal (infração menor que o crime), sujeita a pena de prisão simples ou multa. O elemento moral das contravenções e a simples voluntariedade da ação ou omissão, isto é, não há necessidade de dolo (intenção) ou de culpa para o reconhecimento de fato contravencional (OGUISSO, 2001). O Código Civil Brasileiro, art. 3°, dispõe que "ninguém se escusa de cumprir a lei, alegando que não a conhece". Esse dispositivo é ratificado pelo UNIDADE 2 | LEGISLAÇÃO DO EXERCÍCIO DE ENFERMAGEM NO BRASIL 82 Código Penal, art. 21 (BRASIL, 1985), que estabelece que "O desconhecimento da lei é inescusável. O erro sobre a ilicitude do fato, se inevitável, isenta de pena; se evitável, poderá diminuí-la de um sexto a um terço". Não se trata evidentemente de uma qualificação, capacidade ou aptidão física ou mental e nem mesmo técnica, mas de capacidade legal. Obviamente, capacidade legal supõe capacidade técnica e profissional, mas somente esta não é suficiente para o exercício legal da profissão. É o que acontece com as pessoas formadas em outros países, que, para exercerem a profissão em nosso país, precisam revalidar ou registrar seus títulos. Pode ocorrer também com qualquer pessoa que, estando formada, não registra seu título em órgão regulamentador do exercício (OGUISSO; SCHMIDT, 2007). É preciso ainda lembrar que a atual Constituição brasileira (art. 5°, inciso XXXI I) já previa que o Estado promoveria a defesa do consumidor, e que competia à União (art. 24, inciso VI II) legislar sobre responsabilidade por dano ao consumidor. Com isso, a aprovação do Código de Defesa do Consumidor, Lei nº 8.078, de 11 de setembro de 1990, era uma consequência da Constituição. Esse Código, visto anteriormente, estabelece que a proteção da vida, saúde e segurança constitui um dos direitos básicos do consumidor contra riscos provocados por serviços considerados perigosos ou nocivos. Neste caso, o profissional de enfermagem seria o fornecedor ou prestador do serviço e o cliente/paciente o consumidor desse serviço. Não obstante, a liberdade de exercer a profissão ou atividade, garantida pela Constituição, estará limitada pelas condições de qualificação profissional que a lei estabelecer (OGUISSO: SCHIMIT, 2007). Então, caro acadêmico, no caso da enfermagem, qual seria essa lei? 83 RESUMO DO TÓPICO 2 Após o término deste tópico, estudamos que: • O Código de Hamurabi foi um dos primeiros códigos sobre normas e regras para regulamentar as relações das pessoas na sociedade. O Código traz 282 artigos, tratando do direito da propriedade, família, sucessões, penhora e até sobre proteção ao consumidor. • A história da regulamentação do exercício da enfermagem é repleta de grandes momentos, cujos feitos se refletem até os dias de hoje, e as atuais gerações podem usufruir dos inúmeros benefícios, especialmente no campo da legislação profissional e da regulamentação do exercício da profissão. • A Lei n° 7.498, de 25 de junho de 1986, regulamentada pelo Decreto nº 94.406, de 8 de junho de 1987, trata do exercício profissional da enfermagem. • O Decreto n° 94.406, de 8 de junho de 1987, especifica que "o exercício da atividade de enfermagem, observadas as disposições da Lei nº 7.498/86, que define quem são cada um dos profissionais, respeitando os graus de habilitação, é privativo do enfermeiro, técnico de enfermagem, auxiliar de enfermagem e parteiro, e só será permitido exercer a profissão o profissional inscrito no Conselho Regional de Enfermagem da respectiva Região". E também descreve as atribuições para cada uma dessas categorias profissionais de enfermagem. • A ABEn é a Associação Brasileira de Enfermagem, criada em 1958. • O Código de Proteção e Defesa do Consumidor (Lei nº 8.078, de 11 de setembro de 1990) apresenta nove direitos básicos do consumidor, entre eles está a proteção da vida, saúde e segurança contra os riscos provocados por práticas no fornecimento de produtos e serviços considerados perigosos ou nocivos. • Atualmente, temos 36 Normas Regulamentadoras aprovadas pelo Ministério do Trabalho e Emprego, dentre estas, as normas 4, 5, 6, 7, 9, 15, 17 e 32 são as principais normas legais para a enfermagem. 84 AUTOATIVIDADE 1 De acordo com o estatuto da Associação Brasileira de Enfermagem (ABEn), a associação: a) Congrega enfermeiro e técnico de enfermagem, é vedada a participação de obstetriz e auxiliares de enfermagem. b) Congrega enfermeiros e estudantes ade curso de graduação, é vedada a participação dos demais profissionais de enfermagem. c) Congrega enfermeiros, obstetriz, técnicos de enfermagem, auxiliares de enfermagem e estudantes de cursos de graduação e de educação profissional - habilitação técnico de enfermagem. d) Tem caráter cultural, científico, político e de fiscalização do exercício profissional, com personalidade jurídica de direito privado. 2 De acordo com a Lei nº 7.498, de 25 de junho de 1986, que dispõe sobre a regulamentação do exercício da enfermagem, quem pode exercer privativamente a enfermagem? 3 As normas regulamentadoras tratam do conjunto de requisitos e procedimentos relativos à segurança e medicina do trabalho, de observância obrigatória às empresas privadas, públicas e órgãos do governo que possuam empregados regidos pela Consolidação das Leis do Trabalho. Dentre as normas, quais pertencem à enfermagem? 85 TÓPICO 3 PRINCIPAIS LEGISLAÇÕES PARA O EXERCÍCIO DE ENFERMAGEM UNIDADE 2 1 INTRODUÇÃO Os profissionais de enfermagem lidam com pessoas o tempo todo, se relacionam e vivem no cotidiano situações de urgência e de conflitos. A legislação serve como proteção à categoria e ao cidadão que recebe atendimento, assim como a atuação do Conselho de Enfermagem, que foi criado para registrar, fiscalizar e defender o exercício legal em prol da sociedade. É mister manter a postura ética, seguir normas e regras regulamentadas para o exercício profissional da Enfermagem. A partir de agora abordaremos as principais legislações para o exercício de enfermagem, trazendo as principais partes destas legislações. 2 LEI Nº 5.905, DE 12 DE JULHO DE 1973 A Lei nº 5.905 dispõe sobre a criação dos Conselhos Federal e Regionais de Enfermagem e dá outras providências. No Art. 1º são criados o Conselho Federal de Enfermagem (COFEN) e os Conselhos Regionais de Enfermagem (COREN), constituindo em seu conjunto uma autarquia, vinculada ao Ministério do Trabalho e Previdência Social. Art. 2º O Conselho Federal e os Conselhos Regionais são órgãos disciplinadores do exercício da profissão de enfermeiro e das demais profissões compreendidas nos serviços de enfermagem. Art. 3º O Conselho Federal, ao qual ficam subordinados os Conselhos Regionais, terá jurisdição em todo o território nacional e sede na Capital da República. Art. 4º Haverá um Conselho Regional em cada Estado e Território, com sede na respectiva capital, e no Distrito Federal. Parágrafo único. O Conselho Federal poderá, quando o número de profissionais habilitados na unidade da federação for inferior a cinquenta, determinar a formação de regiões, compreendendo mais de uma unidade. Art. 5º O Conselho Federal terá nove membros efetivos e igual número de suplentes, de nacionalidade brasileira, e portadores de diploma de curso 86 UNIDADE 2 | LEGISLAÇÃO DO EXERCÍCIO DE ENFERMAGEM NO BRASIL de Enfermagem de nível superior. Art. 6º Os membros do Conselho Federal e respectivos suplentes serão eleitos por maioria de votos, em escrutínio secreto, na Assembleia. Art. 8º Compete ao Conselho Federal: I aprovar seu regimento interno e os dos Conselhos Regionais; II instalar os Conselhos Regionais; III elaborar o Códigode Deontologia de Enfermagem e alterá-lo, quando necessário, ouvidos os Conselhos Regionais; IV baixar provimentos e expedir instruções, para uniformidade de procedimento e bom funcionamento dos Conselhos Regionais; V dirimir as dúvidas suscitadas pelos Conselhos Regionais; VI apreciar, em grau de recursos, as decisões dos Conselhos Regionais; VII instituir o modelo das carteiras profissionais de identidade e as insígnias da profissão; VIII homologar, suprir ou anular atos dos Conselhos Regionais; IX aprovar anualmente as contas e a proposta orçamentária da autarquia, remetendo-as aos órgãos competentes; X promover estudos e campanhas para aperfeiçoamento profissional; XI publicar relatórios anuais de seus trabalhos; XII convocar e realizar as eleições para sua diretoria; XIII exercer as demais atribuições que lhe forem conferidas por lei. Art. 9º O mandato dos membros do Conselho Federal será honorífico e terá a duração de três anos, admitida uma reeleição. Art. 10 A receita do Conselho Federal de Enfermagem será constituída de: I- um quarto da taxa de expedição das carteiras profissionais; II- um quarto das multas aplicadas pelos Conselhos Regionais; III- um quarto das anuidades recebidas pelos Conselhos Regionais; IV- doações e legados; V- subvenções oficiais; VI- rendas eventuais. Parágrafo único. Na organização dos quadros distintos para inscrição de profissionais o Conselho Federal de Enfermagem adotará como critério, no que couber, o disposto na Lei nº 2.604, de 17 de setembro de 1955. Art. 11 Os Conselhos Regionais serão instalados em suas respectivas sedes, com cinco a vinte e um membros e outros tantos suplentes, todos de nacionalidade brasileira, na proporção de três quintos de enfermeiros e dois quintos de profissionais das demais categorias de pessoal de enfermagem reguladas em lei. Parágrafo único. O número de membros dos Conselhos Regionais será sempre ímpar, e a sua fixação será feita pelo Conselho Federal em proporção ao número de profissionais inscritos. Art. 12 Os membros dos Conselhos Regionais e respectivos suplentes serão eleitos por voto pessoal secreto e obrigatório em época determinada pelo Conselho Federal em Assembleia Geral especialmente convocada para esse fim. §1º Para a eleição referida neste artigo serão organizadas chapas separadas, uma para enfermeiros e outra para os demais profissionais de enfermagem, podendo votar em cada chapa, respectivamente, os profissionais referidos no artigo 11. §2º Ao eleitor que, sem causa justa, deixar de votar nas eleições referidas neste artigo, será aplicada pelo Conselho Regional multa em importância TÓPICO 3 | PRINCIPAIS LEGISLAÇÕES PARA O EXERCÍCIO DE ENFERMAGEM 87 correspondente ao valor da anuidade. Art. 13 Cada Conselho Regional elegerá seu Presidente, Secretário e Tesoureiro, admitida a criação de cargos de Vice-Presidente, Segundo Secretário e Segundo Tesoureiro para os Conselhos com mais de doze membros. Art. 14 O mandato dos membros dos Conselhos Regionais será honorífico e terá a duração de três anos, admitida uma reeleição. Art. 15 Compete aos Conselhos Regionais: I- deliberar sobre inscrição no Conselho e seu cancelamento; II- disciplinar e fiscalizar o exercício profissional, observadas as diretrizes gerais do Conselho Federal; III- fazer executar as instruções e provimentos do Conselho Federal; IV- manter o registro dos profissionais com exercício na respectiva jurisdição; V- conhecer e decidir os assuntos atinentes à ética profissional impondo as penalidades cabíveis; VI- elaborar a sua proposta orçamentária anual e o projeto de seu regimento interno e submetê-los à aprovação do Conselho Federal; VII- expedir a carteira profissional indispensável ao exercício da profissão, a qual terá fé pública em todo o território nacional e servirá de documento de identidade; VIII- zelar pelo bom conceito da profissão e dos que a exerçam; lX- publicar relatórios anuais de seus trabalhos e a relação dos profissionais registrados; X- propor ao Conselho Federal medidas visando à melhoria do exercício profissional; XI- fixar o valor da anuidade; XII- apresentar sua prestação de contas ao Conselho Federal, até o dia 28 de fevereiro de cada ano; XIII- eleger sua diretoria e seus delegados eleitores ao Conselho Federal; XIV exercer as demais atribuições que lhes forem conferidas por esta Lei ou pelo Conselho Federal. Art. 16 A renda dos Conselhos Regionais será constituída de: I- três quartos da taxa de expedição das carteiras profissionais; II- três quartos das multas aplicadas; III- três quartos das anuidades; IV- doações e legados; V- subvenções oficiais, de empresas ou entidades particulares; VI- rendas eventuais. Art. 17 O Conselho Federal e os Conselhos Regionais deverão reunir-se, pelo menos, uma vez mensalmente. Parágrafo único. O Conselheiro que faltar, durante o ano, sem licença prévia do respectivo Conselho, a cinco reuniões perderá o mandato. Art. 18 Aos infratores do Código de Deontologia de Enfermagem poderão ser aplicadas as seguintes penas: I- advertência verbal; II- multa; III- censura; IV- suspensão do exercício profissional; V- cassação do direito ao exercício profissional. §1º As penas referidas nos incisos I, II, III e IV deste artigo são da alçada dos Conselhos Regionais e a referida no inciso V, do Conselho Federal, ouvido o Conselho Regional interessado. §2º O valor das multas, bem como as infrações que implicam nas diferentes penalidades, serão disciplinadas no Regimento do Conselho Federal e dos Conselhos Regionais. 88 UNIDADE 2 | LEGISLAÇÃO DO EXERCÍCIO DE ENFERMAGEM NO BRASIL Art. 19 O Conselho Federal e os Conselhos Regionais terão tabela própria de pessoal, cujo regime será o da Consolidação das Leis do Trabalho. Art. 20 A responsabilidade pela gestão administrativa e financeira dos Conselhos caberá aos respectivos diretores. Art. 21 A composição do primeiro Conselho Federal de Enfermagem, com mandato de um ano, será feita por ato do Ministro do Trabalho e Previdência Social, mediante indicação, em lista tríplice, da Associação Brasileira de Enfermagem. Parágrafo único. Ao Conselho Federal assim constituído caberá, além das atribuições previstas nesta Lei: a) promover as primeiras eleições para composição dos Conselhos Regionais e instalá-los; b) promover as primeiras eleições para composição do Conselho Federal, até noventa dias antes do término do seu mandato. Art. 22 Durante o período de organização do Conselho Federal de Enfermagem, o Ministério do Trabalho e Previdência Social lhe facilitará a utilização de seu próprio pessoal, material e local de trabalho. 3 LEI Nº 7.498, DE 25 DE JUNHO DE 1986 Regulamenta a Lei nº 7.498, de 25 de junho de 1986, que dispõe sobre o exercício da Enfermagem, e dá outras providências Art. 2º A enfermagem e suas atividades auxiliares somente podem ser exercidas por pessoas legalmente habilitadas e inscritas no Conselho Regional de Enfermagem com jurisdição na área onde ocorre o exercício. Parágrafo único. A enfermagem é exercida privativamente pelo enfermeiro, pelo técnico de enfermagem, pelo auxiliar de enfermagem e pela parteira, respeitados os respectivos graus de habilitação. Art. 3º O planejamento e a programação das instituições e serviços de saúde incluem planejamento e programação de enfermagem. Art. 4º A programação de enfermagem inclui a prescrição da assistência de enfermagem. Art. 6º São enfermeiros: I- O titular do diploma de enfermeiro conferido por instituição de ensino, nos termos da lei; II- o titular do diploma ou certificado de Obstetriz ou de Enfermeira Obstétrica, conferido nos termos da lei; III- o titular do diploma ou certificado de Enfermeira e a titular do diploma ou certificado de Enfermeira Obstétrica ou de Obstetriz, ou equivalente, conferido por escola estrangeira segundo as leis do país, registrado em virtude de acordo de intercâmbio cultural ou revalidado no Brasil como diploma de Enfermeiro, de EnfermeiraObstétrica ou de Obstetriz; TÓPICO 3 | PRINCIPAIS LEGISLAÇÕES PARA O EXERCÍCIO DE ENFERMAGEM 89 Art. 7º São técnicos de enfermagem: I- o titular do diploma ou do certificado de Técnico de Enfermagem, expedido de acordo com a legislação e registrado pelo órgão competente; II- o titular do diploma ou do certificado legalmente conferido por escola ou curso estrangeiro, registrado em virtude de acordo de intercâmbio cultural ou revalidado no Brasil como diploma de Técnico de Enfermagem. Art. 8º São auxiliares de enfermagem: I- o titular de certificado de auxiliar de enfermagem conferido por instituição de ensino, nos termos da lei e registrado no órgão competente; VI o titular do diploma ou certificado conferido por escola ou curso estrangeiro, segundo as leis do país, registrado em virtude de acordo de intercâmbio cultural ou revalidado no Brasil como certificado de Auxiliar de Enfermagem. Art. 9º São parteiras: II- a titular do diploma ou certificado de parteira, ou equivalente, conferido por escola ou curso estrangeiro, segundo as leis do país, registrado em virtude de intercâmbio cultural ou revalidado no Brasil, até 2 (dois) anos após a publicação desta lei, como certificado de Parteira. Art. 11 O enfermeiro exerce todas as atividades de enfermagem, cabendo-lhe: I privativamente: a) direção do órgão de enfermagem integrante da estrutura básica da instituição de saúde, pública e privada, e chefia de serviço e de unidade de enfermagem; b) organização e direção dos serviços de enfermagem e de suas atividades técnicas e auxiliares nas empresas prestadoras desses serviços; c) planejamento, organização, coordenação, execução e avaliação dos serviços da assistência de enfermagem; i) consulta de enfermagem; j) prescrição da assistência de enfermagem; l) cuidados diretos de enfermagem a acidentes graves com risco de vida; m) cuidados de enfermagem de maior complexidade técnica e que exijam conhecimentos de base científica e capacidade de tomar decisões imediatas; II- como integrante da equipe de saúde: a) participação no planejamento, execução e avaliação da programação de saúde; c) prescrição de medicamentos estabelecidos em programas de saúde pública e em rotina aprovada pela instituição de saúde; h) acompanhamento da evolução e do trabalho de parto; i) execução do parto sem distocia; j) educação visando à melhoria de saúde da população. Art. 12 O técnico de enfermagem exerce atividade de nível médio, envolvendo orientação e acompanhamento do trabalho de enfermagem em grau auxiliar, e participação no planejamento da assistência de enfermagem, cabendo- lhe especialmente: a) participar da programação da assistência de enfermagem; b) executar ações assistenciais de enfermagem, exceto as privativas do Enfermeiro, observado o disposto no parágrafo único do art. 11 desta lei. Art. 13 O auxiliar de enfermagem exerce atividades de nível médio, de natureza repetitiva, envolvendo serviços auxiliares de enfermagem sob supervisão, bem como a participação em nível de execução simples, em processos de tratamento, cabendo-lhe especialmente: a) observar, reconhecer e descrever sinais e sintomas; b) executar ações de tratamento simples; c) prestar cuidados de higiene e conforto ao paciente; instituições de saúde, públicas e privadas, e em programas de saúde, somente podem ser desempenhadas sob orientação e supervisão de Enfermeiro. 90 UNIDADE 2 | LEGISLAÇÃO DO EXERCÍCIO DE ENFERMAGEM NO BRASIL Art. 23 O pessoal que se encontra executando tarefas de enfermagem, em virtude de carência de recursos humanos de nível médio nessa área, sem possuir formação específica regulada em lei, será autorizado, pelo Conselho Federal de Enfermagem, a exercer atividades elementares de enfermagem, observado o disposto no art. 15 desta lei. Parágrafo único. A autorização referida neste artigo, que obedecerá aos critérios baixados pelo Conselho Federal de Enfermagem, somente poderá ser concedida durante o prazo de 10 (dez) anos, a contar da promulgação desta lei. 4 DECRETO Nº 94.406, DE 08 DE JUNHO DE 1987 Regulamenta a Lei nº 7.498, de 25 de junho de 1986, que dispõe sobre o exercício da Enfermagem, e dá outras providências. Art. 1º O exercício da atividade de Enfermagem, observadas as disposições da Lei nº 7.498, de 25 de junho de 1986, e respeitados os graus de habilitação, é privativo de enfermeiro, técnico de enfermagem, auxiliar de enfermagem e parteiro e só será permitido ao profissional inscrito no Conselho Regional de Enfermagem da respectiva região. Art. 2º As instituições e serviços de saúde incluirão a atividade de enfermagem no seu planejamento e programação. Art. 3º A prescrição da assistência de Enfermagem é parte integrante do programa de Enfermagem. Art. 8º Ao enfermeiro incumbe: II- como integrante da equipe de saúde: e) prevenção e controle sistemático da infecção hospitalar, inclusive como membro das respectivas comissões; g) participação na prevenção e controle das doenças transmissíveis em geral e nos programas de vigilância epidemiológica; h) prestação de assistência de enfermagem à gestante, parturiente, puérpera e ao recém-nascido; i) participação nos programas e nas atividades de assistência integral à saúde individual e de grupos específicos, particularmente daqueles prioritários e de alto risco; j) acompanhamento da evolução e do trabalho de parto; l) execução e assistência obstétrica em situação de emergência e execução do parto sem distocia; m) participação em programas e atividades de educação sanitária, visando à melhoria de saúde do indivíduo, da família e da população em geral; n) participação nos programas de treinamento e aprimoramento de pessoal de saúde, particularmente nos programas de educação continuada; o) participação nos programas de higiene e segurança do trabalho e de prevenção de acidentes e de doenças profissionais Ce do trabalho; p) participação na elaboração e na operacionalização do sistema de referência e contrarreferência do paciente nos diferentes níveis de atenção à saúde; q) participação no desenvolvimento de tecnologia apropriada à assistência de saúde; r) participação em bancas examinadoras, em matérias específicas de enfermagem, nos concursos para provimento de cargo ou contratação de enfermeiro ou pessoal técnico e auxiliar de enfermagem. TÓPICO 3 | PRINCIPAIS LEGISLAÇÕES PARA O EXERCÍCIO DE ENFERMAGEM 91 Art. 9º Às profissionais titulares de diploma ou certificados de obstetriz ou de enfermeira obstétrica, além das atividades de que trata o artigo precedente, incumbe: I prestação de assistência à parturiente e ao parto normal; II identificação das distocias obstétricas e tomada de providências até a chegada do médico; III realização de episiotomia e episiorrafia com aplicação de anestesia local, quando necessária. Art. 10 O técnico de enfermagem exerce as atividades auxiliares, de nível médio técnico, atribuídas à equipe de enfermagem, cabendo-lhe: I assistir o enfermeiro: a) no planejamento, programação, orientação e supervisão das atividades de assistência de enfermagem; b) na prestação de cuidados diretos de enfermagem a pacientes em estado grave; c) na prevenção e controle das doenças transmissíveis em geral em programas de vigilância epidemiológica; d) na prevenção e controle sistemático da infecção hospitalar; e) na prevenção e controle sistemático de danos físicos que possam ser causados a pacientes durante a assistência de saúde; Art. 11 O auxiliar de enfermagem executa as atividades auxiliares, de nível médio atribuídas à equipe de Enfermagem, cabendo-lhe: I- preparar o paciente para consultas, exames e tratamentos; II- observar, reconhecer e descrever sinais e sintomas, ao nível de sua qualificação; III- executar tratamentos especificamente prescritos, ou de rotina, além de outras atividades de enfermagem, tais como: a) ministrar medicamentos por via oral e parenteral; b) realizar controle hídrico; c) fazer curativos. Art. 12 Ao parteiro incumbe:I- prestar cuidados à gestante e à parturiente; II- assistir o parto normal, inclusive em domicílio; e III- cuidar da puérpera e do recém-nascido. 5 RESOLUÇÃO COFEN – 311/2007 Aprova a Reformulação do Código de Ética dos Profissionais de Enfermagem. No qual fica aprovado o Código de Ética dos Profissionais de Enfermagem para aplicação na jurisdição de todos os Conselhos de Enfermagem. Este Código aplica-se aos profissionais de enfermagem e exercentes das atividades elementares de enfermagem. 6 RESOLUÇÃO COFEN – 370/2010 Vem alterar o Código de Processo Ético das Autarquias Profissionais de Enfermagem para aperfeiçoar as regras e procedimentos sobre o processo ético- profissional que envolve os profissionais de enfermagem e Aprova o Código de Processo Ético. 92 UNIDADE 2 | LEGISLAÇÃO DO EXERCÍCIO DE ENFERMAGEM NO BRASIL 7 RESOLUÇÃO COFEN Nº 358/2009 Dispõe sobre a sistematização da assistência de enfermagem e a implementação do processo de enfermagem em ambientes, públicos ou privados, em que ocorre o cuidado profissional de Enfermagem, e dá outras providências. O processo de enfermagem organiza-se em cinco etapas inter-relacionadas, interdependentes e recorrentes: I – Coleta de dados de enfermagem (ou Histórico de Enfermagem) – processo deliberado, sistemático e contínuo, realizado com o auxílio de métodos e técnicas variadas, que tem por finalidade a obtenção de informações sobre a pessoa, família ou coletividade humana e sobre suas respostas em um dado momento do processo saúde e doença. II – Diagnóstico de enfermagem – processo de interpretação e agrupamento dos dados coletados na primeira etapa, que culmina com a tomada de decisão sobre os conceitos diagnósticos de enfermagem que representam, com mais exatidão, as respostas da pessoa, família ou coletividade humana em um dado momento do processo saúde e doença; e que constituem a base para a seleção das ações ou intervenções com as quais se objetiva alcançar os resultados esperados. III – Planejamento de enfermagem – determinação dos resultados que se espera alcançar; e das ações ou intervenções de enfermagem que serão realizadas face às respostas da pessoa, família ou coletividade humana em um dado momento do processo saúde e doença, identificadas na etapa de diagnóstico de enfermagem. IV – Implementação – realização das ações ou intervenções determinadas na etapa de planejamento de enfermagem. V – Avaliação de enfermagem – processo deliberado, sistemático e contínuo de verificação de mudanças nas respostas da pessoa, família ou coletividade humana em um dado momento do processo saúde e doença, para determinar se as ações ou intervenções de enfermagem alcançaram o resultado esperado; e de verificação da necessidade de mudanças ou adaptações nas etapas do processo de enfermagem. A execução do Processo de Enfermagem deve ser registrada formalmente, envolvendo: a) um resumo dos dados coletados sobre a pessoa, família ou coletividade humana em um dado momento do processo saúde e doença; b) os diagnósticos de enfermagem acerca das respostas da pessoa, família ou coletividade humana em um dado momento do processo saúde e doença; c) as ações ou intervenções de enfermagem realizadas face aos diagnósticos de enfermagem identificados; d) os resultados alcançados como consequência das ações ou intervenções de enfermagem realizadas. TÓPICO 3 | PRINCIPAIS LEGISLAÇÕES PARA O EXERCÍCIO DE ENFERMAGEM 93 LEITURA COMPLEMENTAR CÓDIGO DE DEONTOLOGIA DE ENFERMAGEM Aprovado pela Resolução COFEN-9, de 4 de outubro de 1975. O presente Código de Deontologia de Enfermagem fundamenta-se nos princípios postulados pela Declaração Universal dos Direitos do Homem, adotada e promulgada pela Assembleia Geral das Nações Unidas, em 1948, e pela Convenção de Genebra da Cruz Vermelha, de 1949, e contidos nos Códigos de Ética do Conselho Internacional de Enfermeiras (ICN), do Comitê Internacional Católico de Enfermeiras e Assistentes Médico-Sociais (CICIAMS) e da Associação Brasileira de Enfermagem (ABEN). Capítulo I Das responsabilidades fundamentais Art. 1º A responsabilidade fundamental do enfermeiro é prestar assistência de enfermagem ao indivíduo, à família e à comunidade, em situações que requerem medidas relacionadas com a promoção, proteção e recuperação da saúde, prevenção de doenças, reabilitação de incapacitados, alívio do sofrimento e promoção de ambiente terapêutico, levando em consideração o diagnóstico e o plano de tratamento médico e de enfermagem. Art. 2º São deveres do enfermeiro: I - exercer sua atividade com zelo, probidade e compreensão da própria responsabilidade, obedecendo aos preceitos da moral, da ética profissional e das leis vigentes no País; II - diagnosticar as necessidades de enfermagem dos clientes, a fim de elaborar o plano de cuidados correspondente; III - prestar assistência de enfermagem aos indivíduos dela necessitados, respeitando a dignidade e os direitos da pessoa humana, independentemente de quaisquer considerações relativas a etnia, nacionalidade, credo político, religião, sexo e condição socioeconômica; a prioridade no atendimento deve obedecer exclusivamente a razões de urgência do caso; IV - respeitar a vida humana desde a concepção até a morte, jamais cooperando em atos em que voluntariamente se atente contra a vida, ou que visem a destruição da integridade física ou psíquica do ser humano; V - respeitar os valores culturais e as crenças religiosas de seus pacientes e zelar para que não lhes falte assistência espiritual; VI - colocar seus serviços profissionais à disposição da comunidade em caso de guerra, catástrofe ou de graves crises sociais, independentemente de qualquer proveito pessoal; VII - executar as prescrições médicas, exceto quando contrárias à moral ou à ética profissional, ou à segurança do cliente; 94 UNIDADE 2 | LEGISLAÇÃO DO EXERCÍCIO DE ENFERMAGEM NO BRASIL VIII - proteger o paciente contra eventuais falhas, imprudências, negligências, omissões ou imperícia em relação ao seu atendimento, por parte de qualquer dos membros da equipe de saúde. Constatado um fato dessa natureza, discutir o assunto com o profissional faltoso e, em última instância, recorrer à chefia a fim de que sejam tomadas medidas para salvaguardar a segurança e o conforto do paciente; IX - respeitar o natural pudor e intimidade do paciente; X - respeitar o direito do paciente de decidir sobre sua pessoa e seu bem-estar. Art. 3º É vedado ao enfermeiro: I - negar assistência de enfermagem, em caso de urgência, sem que haja outro profissional para garanti-la; II - abandonar o paciente em meio a um tratamento sem causa justa e sem a garantia de continuidade de assistência; III - prescrever medicamentos a não ser em casos de extrema urgência e nos previstos na legislação vigente; IV - administrar terapêutica e colaborar em intervenções cirúrgicas e tratamentos desnecessários ou proibidos pela moral ou pela legislação vigente, ou praticados sem o consentimento do paciente, ou de seu representante legal, se se tratar de menor ou incapaz; V - praticar o aborto ou colaborar em práticas destinadas a provocá-lo; VI - praticar a eutanásia ou colaborar em práticas destinadas a antecipar a morte do paciente; VII - realizar ou participar de pesquisas em que os direitos inalienáveis do homem sejam desrespeitados, que acarretem perigo de vida ou dano à sua saúde física ou mental, ou que envolvam menores ou incapazes, sem o consentimento do responsável legal; VIII - emprestar o seu nome para propaganda de drogas, tratamentos, instrumental e equipamentos hospitalares, ou de instituições comerciais com atuação nesses ramos; IX - permitir que o seu nome conste do quadro de pessoal de hospitais, casas de saúde, ambulatórios, escolas, cursos e outros estabelecimentos, sem neles exercer as funções de enfermagem correspondentes; X - receber comissões, vantagens ou remuneração de laboratório, entidades de assistência à saúde ou de outros estabelecimentoscomerciais que não correspondam a serviços efetivamente prestados; XI - prestar serviços gratuitos ou a preços ínfimos, salvo em benefício de pessoas reconhecidamente carentes de recursos ou a instituições filantrópicas sem condições de remunerá-lo adequadamente. Capítulo II Do exercício profissional Art. 4º O enfermeiro assume responsabilidade quanto à provisão de cuidados de enfermagem e à manutenção de elevados padrões de competência profissional. Art. 5º O enfermeiro programa e coordena todas as atividades que visam o bem- estar do paciente. TÓPICO 3 | PRINCIPAIS LEGISLAÇÕES PARA O EXERCÍCIO DE ENFERMAGEM 95 Art. 6º O enfermeiro, como chefe de sua equipe, é responsável pelo aperfeiçoamento técnico e cultural do pessoal sob sua orientação e supervisão. Art. 7º O enfermeiro, no interesse de seus pacientes e de sua profissão, reprova atos dos que infringem postulados éticos ou disposições legais. Ao notar inobservância de normas éticas ou da legislação em vigor, deve discuti-la com o faltoso e, se necessário, levar o assunto ao conhecimento do Conselho Regional de Enfermagem de sua jurisdição. Art. 8º O enfermeiro tem o dever moral de notificar, por escrito, irregularidades de que tome conhecimento em função do exercício de suas atividades profissionais; em se tratando de intervenções ou tratamentos ilícitos, a notificação deverá ser encaminhada à Chefia Médica por intermédio do Serviço de Enfermagem da Instituição. Art. 9º O enfermeiro exerce julgamento ético com respeito à sua competência em aceitar atribuições delegadas e assume a responsabilidade somente por tarefas para as quais esteja capacitado. Art. 10 O enfermeiro não delega injustificadamente suas atribuições a outrem. Art. 11 O enfermeiro não permite que outro profissional assine trabalho por ele executado. Art. 12 No interesse de seus pacientes e da instituição onde trabalha, o enfermeiro deve: I - manter segredo sobre fatos sigilosos de que tenha conhecimento por ter visto, ouvido ou deduzido, no exercício de suas atividades profissionais e exigir a mesma discrição do pessoal sob sua supervisão; II - manter o prontuário do paciente fora do alcance de estranhos à equipe de saúde da instituição; III - manter em segurança os entorpecentes e psicotrópicos quando sob sua guarda e responsabilidade. Art. 13 No exercício de suas funções, o enfermeiro abster-se-á de: I - trabalhar em entidades onde não haja respeito pelos princípios éticos estabelecidos e condições de trabalho que assegurem aos pacientes uma assistência de enfermagem adequada, ou colaborar com essas entidades; II - administrar medicamentos sem nome ou fórmula, identificados por números ou códigos, sem certificar-se antes da natureza das drogas que os compõem. Capítulo III Do enfermeiro e sua profissão Art. 14 O enfermeiro preserva a honra, o prestígio e as tradições de sua profissão e as normas éticas da sociedade. 96 UNIDADE 2 | LEGISLAÇÃO DO EXERCÍCIO DE ENFERMAGEM NO BRASIL Art. 15 É vedado ao enfermeiro acumpliciar-se, por qualquer forma, com pessoa que exerça ilegalmente a profissão. Art. 16. É dever do enfermeiro: I - pertencer, no mínimo, a uma entidade da classe, da jurisdição onde exerça suas atividades profissionais; II - apoiar as iniciativas que visem o desenvolvimento cultural e a defesa dos interesses da classe; III - comunicar ao Conselho Regional de Enfermagem, no qual esteja inscrito, demissão de cargo, função ou emprego, motivado pela necessidade de preservar os interesses da profissão; IV - atualizar e ampliar seus conhecimentos técnicos, científicos e culturais em benefício dos clientes a quem assiste e do desenvolvimento da profissão; V - assumir seu papel na determinação de padrões desejáveis do exercício e do ensino de enfermagem. Capítulo IV Do relacionamento com colegas e demais membros da equipe de saúde Art. 17 O enfermeiro mantém relações de respeito e cortesia com colegas e outros profissionais e cumpre com lealdade sua parte no trabalho conjunto. Art. 18 O enfermeiro coopera com todos os profissionais da equipe de saúde e participa dos planos que visam a provisão de serviços de assistência à comunidade. Art. 19 O enfermeiro abster-se-á de: I - prestar aos pacientes serviços que, por sua natureza, competem a outro profissional, salvo em caso urgente ou de calamidade pública; II - ser conivente, mesmo a título de solidariedade, com erros, contravenção penal, ou atos praticados por colegas que infrinjam os postulados éticos que regem o exercício profissional; III - praticar atos de concorrência desleal aos colegas; procurar conseguir para si emprego, cargo ou função que esteja sendo exercido por colega; IV - aceitar emprego deixado por colega que tenha sido dispensado sem justa causa ou que haja pedido demissão a fim de preservar a dignidade ou os interesses da profissão, salvo anuência do Conselho Regional de Enfermagem no qual esteja inscrito; V - formular críticas depreciativas a colegas e outros membros da equipe de saúde, à instituição onde trabalha e às instituições de assistência à saúde. Capítulo V Da observância do Código Art. 20 O enfermeiro cumpre os preceitos deontológicos contidos neste Código e leva ao conhecimento do Conselho Regional de Enfermagem competente fatos que constituem infração às suas disposições. TÓPICO 3 | PRINCIPAIS LEGISLAÇÕES PARA O EXERCÍCIO DE ENFERMAGEM 97 Art. 21 Aos infratores do Código de Deontologia de Enfermagem serão aplicadas as penas previstas no artigo 18 da Lei nº 5.905/73. Art. 22 As dúvidas que venham a surgir na aplicação deste Código e os casos omissos serão esclarecidos pelo Conselho Federal de Enfermagem. Art. 23. O Conselho Federal de Enfermagem poderá alterar este Código por iniciativa própria ou mediante representação dos Conselhos Regionais, obedecidas normas regimentais. Capítulo VI Das disposições gerais Art. 24 O enfermeiro assume a responsabilidade civil e penal por danos causados aos clientes sob seus cuidados, por imperícia, omissão de assistência ou negligência. Art. 25. O enfermeiro responde pessoal e judicialmente pela propriedade ou impropriedade dos próprios atos; o trabalho coletivo ou em equipe não diminui essa responsabilidade. Art. 26 O enfermeiro tem direito a justa remuneração pelo seu trabalho e aceita como retribuição de seus serviços profissionais somente as prestações que lhe forem devidas por contrato ou pelo cargo ou função que preencha. Art. 27 O enfermeiro, por meio de sua atuação nos órgãos de classe, participa na determinação e manutenção de condições justas de trabalho para toda a equipe de enfermagem. Art. 28 O enfermeiro cumpre com fidelidade seus deveres cívicos e colabora com os demais profissionais e cidadãos nos programas e pesquisas que se destinam a atender às necessidades de saúde da população, em âmbito nacional e internacional. Art. 29 As disposições contidas neste Código aplicam-se, no que couber, aos outros profissionais de enfermagem. FONTE: Disponível em: <http://www.cofen.gov.br/wp-content/uploads/2012/03/resolucao_311_ anexo.pdf>. Acesso em: 28 jun. 2018. 98 RESUMO DO TÓPICO 3 Após o término deste tópico, estudamos que: • A Lei nº 5.905 dispõe sobre a criação dos Conselhos Federal e Regionais de Enfermagem e dá outras providências. • A Lei nº 7.498, de 25 de junho de 1986, dispõe sobre o exercício da enfermagem, e dá outras providências. • A Lei nº 7.498, de 25 de junho de 1986, dispõe sobre o exercício da enfermagem, e dá outras providências • A RESOLUÇÃO COFEN - 311/2007 aprova a Reformulação do Código de Ética dos Profissionais de Enfermagem, no qual fica aprovado o Código de Ética dos Profissionais de Enfermagem para aplicação na jurisdição de todos os Conselhos de Enfermagem. • A RESOLUÇÃO COFEN nº 358/2009 dispõe sobre a Sistematização da Assistência de Enfermagem e a Implementação do Processo de Enfermagem em ambientes, públicos ou privados, em que ocorre o cuidado profissional de enfermagem, e dá outras providências. •RESOLUÇÃO COFEN nº 370/2010 vem alterar o Código de Processo Ético das Autarquias Profissionais de Enfermagem para aperfeiçoar as regras e procedimentos sobre o processo ético-profissional que envolvem os profissionais de enfermagem e Aprova o Código de Processo Ético. 99 1 O mandato dos membros dos Conselhos Regionais de Enfermagem será honorífico e terá duração de: a) Um ano, sem limite de reeleições. b) Dois anos, não admitida reeleição. c) Três anos, admitida uma reeleição. d) Quatro anos, admitida uma reeleição. 2 De acordo com a Resolução COFEN nº 311/2007, é proibido aos profissionais de enfermagem: a) Comunicar ao COREN e aos órgãos competentes fatos que infrinjam dispositivos legais e que possam prejudicar o exercício profissional. b) Abster-se de revelar informações confidenciais de que tenha conhecimento em razão de seu exercício profissional, a pessoas ou entidades que não estejam obrigadas ao sigilo. c) Interromper a pesquisa na presença de qualquer perigo à vida e à integridade da pessoa. d) Administrar medicamentos sem conhecer a ação da droga e sem certificar- se da possibilidade de riscos. 3 De acordo com a Lei nº 7.498/1986, artigo 11, é correto afirmar que o enfermeiro exerce todas as atividades de enfermagem, cabendo-lhe, privativamente: a) Prevenção e controle sistemático da infecção hospitalar e de doenças transmissíveis em geral. b) Assistência de enfermagem à gestante, parturiente e puérpera. c) Cuidados diretos de enfermagem a acidentes graves com risco de vida. d) Execução do parto sem distocia. AUTOATIVIDADE 100 101 UNIDADE 3 ENFERMAGEM NO CONTEXTO SOCIAL OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM PLANO DE ESTUDOS A partir desta unidade, você será capaz de: • compreender o conceito básico sobre o ato de cuidar; • estudar a importância da enfermagem para a sociedade; • compreender o desenvolvimento da enfermagem; • diferenciar a atuação de Florence Nightingale e Anna Nery; • entender porque se comemora o dia 12 de maio, como o Dia do Enfermeiro; • conhecer como a enfermagem se tornou uma profissão; • compreender quem foi Anna Nery; • entender a contribuição de Florence Nightingale à enfermagem. Esta unidade está dividida em três tópicos. Você encontrará atividades que o aju- darão na compreensão dos conteúdos apresentados e, ao final de cada um deles, terá atividades que o ajudarão a assimilar os conhecimentos teóricos adquiridos. TÓPICO 1 – DESENVOLVIMENTO HISTÓRICO DA ENFERMAGEM TÓPICO 2 – CONDUTA PROFISSIONAL TÓPICO 3 – IMPLICAÇÕES LEGAIS 102 103 TÓPICO 1 DESENVOLVIMENTO HISTÓRICO DA ENFERMAGEM UNIDADE 3 1 INTRODUÇÃO A enfermagem como profissão surgiu através do desenvolvimento e evolução das práticas de saúde no decorrer dos períodos históricos. É interessante destacar que a origem das doenças também evoluiu com o passar dos tempos, pois em alguns momentos históricos, acreditava-se que era um fenômeno "sobrenatural", em outro contexto, que elas apareciam devido ao mau-cheiro exalado de matéria orgânica em decomposição e, por fim, depois de muitas décadas, com os estudos de Louis Pasteur, prevaleceu a Teoria da Unicausalidade, com a descoberta dos micróbios (vírus e bactérias). O que tem a ver esse breve relato com a enfermagem? É simples, porque onde existem agentes etiológicos, como vírus, bactérias e fungos, há doenças, e onde há doenças existe o ato de cuidar. Os primeiros cuidados de assistência foram atitudes voltadas somente ao cuidado de manter vivos doentes e feridos, sem noção de higiene ou assepsia, sem falar que estava associado ao trabalho feminino. Posteriormente, esse cuidado foi evoluindo, até surgir a profissão de enfermagem. Veremos neste tópico a evolução histórica da enfermagem, onde ela surgiu, como veio parar no Brasil, qual foi a primeira enfermeira legalmente constituída e de que maneira foi aceita pela sociedade. Estudaremos que Florence Nightingale contribuiu brilhantemente para a formação do enfermeiro, potencializando sua forma de cuidar, abrindo perspectivas de conhecimento em várias direções, com vistas ao desenvolvimento de atividades e serviços nas áreas do cuidado, da educação e da administração. Então vamos aos estudos! UNIDADE 3 | ENFERMAGEM NO CONTEXTO SOCIAL 104 2 EVOLUÇÃO HISTÓRICA DA ENFERMAGEM Com o decorrer do estudo, veremos que a enfermagem teve alguns marcos históricos, no que diz respeito ao seu surgimento, porém, sabe-se que ela esteve presente durante toda a história da humanidade. A enfermagem surgiu na antiguidade, quando a mãe inicialmente se responsabilizava pelo cuidado com seu bebê, enquanto o homem saía à caça, em busca de sustento para a sua família. Avançando um pouco mais na história e entrando na Idade Média, quando o cristianismo predominava como religião, as doenças que acometiam a população eram atribuídas como um castigo divino. Nesse contexto, alguns grupos religiosos surgiram com o objetivo exclusivo de cuidar dos doentes, para que os enfermos tivessem a salvação divina, por meio de suas almas. UNI No período pré-cristão, os sacerdotes e as feiticeiras acumulavam funções de médico, como curandeiros. As pessoas da época acreditavam que as doenças eram um castigo de Deus para com as pessoas e grupos, pelos seus pecados. Os curandeiros utilizavam banhos de água fria ou quente, massagens, purgativos e substâncias que provocavam náuseas. FONTE: Disponível em: <http://www.joaquimnabuco.edu.br/noticias/confira-5-curiosidades- sobre-enfermagem>. Acesso em: 31 maio 2018. A Inglaterra era o local em que predominava o cenário da caridade e cuidado dos religiosos com os doentes, porém houve um rompimento abrupto entre a Inglaterra e a Igreja, assim, todos os cuidadores deixaram os doentes à mercê do desconforto e abandono. Neste cenário caótico, o Estado interviu e o rei acabou destinando alguns elementos da população, como criminosos e viúvos, para assumir a função de cuidadores. Mesmo o rei impondo a obrigação, para determinada categoria da população cuidar dos doentes, a conotação do ato de cuidar, que estava ligada à religião, acabou tendo um significado vocacional. Nessa época o capitalismo começou a avançar, os hospitais cresciam, bem como a organização do ambiente hospitalar. TÓPICO 1 | DESENVOLVIMENTO HISTÓRICO DA ENFERMAGEM 105 FIGURA 1 - REPRESENTAÇÃO DE UM HOSPITAL NA DÉCADA DE 1960 FONTE: Disponível em: <https://noticias.uol.com.br/saude/listas/variola- colera-antraz-doencas-que-assolaram-a-humanidade-podem-voltar.htm>. Acesso em: 31 maio 2018. Como já comentamos, a enfermagem surgiu na antiguidade, porém, de acordo com seu contexto histórico, ela foi se aperfeiçoando e recebendo normas de condutas. Nesse sentido, após a Segunda Guerra Mundial e com o advento do capitalismo nos Estados Unidos, começou a surgir uma vaga conscientização sobre saúde. No século XIX, a enfermagem foi formalizada na Inglaterra, pois havia sido comprovado que, sem condições básicas de higiene, nutrição adequada, cuidados adequados com pós-operatório e procedimentos complexos, não haveria êxito em salvar vidas humanas. Em 1854, na Inglaterra, os hospitais militares não possuíam enfermeiras no seu quadro de trabalho, apenas cuidadores militares que não estavam aptos a cuidar do restabelecimento da saúde dos enfermos. Foi nesse contexto que a enfermeira Florence Nightingale recebeu convite do governo inglês para trabalhar nos hospitais militares, durante a guerra da Crimeia, onde atuou brilhantemente, reduzindo o índice de mortalidade dos soldados (GIOVANINI, 2010). 3 EVOLUÇÃO HISTÓRICA DO CUIDAR Você já percebeu que os seres animais cuidam muito bem da sua prole ao nascer? E os seres humanos? Qual é a diferença dos cuidados, se comparados com os animais? É fácil responder, podemos pensar numa leoa, quando dá à luz a uma manada de leõezinhos, a mãe cuida dos filhotes e estes são benquistos no grupo, até os 16 meses, depois seguem o seu caminho. Essa é a grande diferença com os humanos, a mãe tem a obrigaçãode cuidar, amparar, proteger e sustentar até a maioridade, mesmo assim, através dos laços familiares, os filhos normalmente têm uma ligação de afeto com os pais e o cuidado pode acontecer sempre que for necessário. UNIDADE 3 | ENFERMAGEM NO CONTEXTO SOCIAL 106 Percebe-se que algumas vezes, os pais cuidam dos filhos em várias ocasiões e não somente na vida infantil, isso acontece no nascimento dos netos, em caso de doença, no leito da morte, enfim, se os pais são ausentes, normalmente um amigo, parente ou pessoa próxima acaba prestando auxílio. Com essa reflexão, já podemos arriscar em dizer que os cuidados existem, desde a formação da vida, há muitos séculos. Também podemos deduzir que os cuidados são prestados com o objetivo de proporcionar manutenção da vida, ou seja, a luta contra a morte, proporcionando bem-estar físico e – por que não – bem-estar psíquico? Ainda estamos falando de uma pessoa que cuida de um doente sem ganhar salário em troca, para garantir a continuidade da vida. Assim, podemos nominar esta pessoa de cuidadora, pois não há objetivo de exercer nenhum ofício, nenhuma profissão. Segundo Waldow (2001, p. 61), o conceito de cuidar é: “o compromisso com o estar no mundo e contribuir com o bem-estar geral, na preservação da natureza, da dignidade humana e da nossa espiritualidade; é contribuir na construção da história, do conhecimento, da vida”. Portanto, o cuidar refere-se à dedicação e ao dispor de uma pessoa em benefício de outra, de maneira humanizada. 3.1 TRAJETÓRIA DO ATO DE CUIDAR, NO LIVRO SAGRADO Certamente, você já ouviu falar sobre histórias da Bíblia, mesmo sendo crente ou ateu, os livros de história antiga fazem referências e comparações daquela época com a atualidade. Abraão foi um exemplo de personagem que está referenciado no Velho Testamento, que conta que Deus ordenou que ele abandonasse seu povo, seus costumes e partisse para outro lugar, juntamente com sua esposa, e que através de Moisés (da sua linhagem), recebeu revelações divinas, como os Dez Mandamentos. Esses preceitos, ainda difundidos através das igrejas, são verdadeiros exemplos de ética no relacionamento humano, válidas em qualquer tempo e espaço. Se você não conhece, vamos dar uma “olhadinha” logo a seguir. TÓPICO 1 | DESENVOLVIMENTO HISTÓRICO DA ENFERMAGEM 107 FIGURA 2 - OS DEZ MANDAMENTOS FONTE: Disponível em: <http://desafioscristao.blogspot.com/2011/04/ mutilacao-dos-dez-mandamentos-catolicos.html>. Acesso em: 30 maio 2018. Moisés estabeleceu um código chamado de Mosaico, para disciplinar as práticas religiosas que englobavam características sanitárias e de saúde, bem como, formas para a prevenção de patologias, através de normas de higiene pessoal, alimentação, repouso, entre outras regras. Além desses cuidados, para Oguisso (2015), a Sagrada Escritura ainda dispõe de regras gerais para inspeção e seleção de animais para o abate, cuidados com dejetos e aviso às autoridades, em caso de descoberta de doença infectocontagiosa, a fim de providenciar isolamento e desinfecção. Na antiguidade, a lepra era uma doença que assustava e matava a população. As pessoas acometidas por esta praga eram consideradas imundas, carregadas de preconceito, associadas aos atos pecaminosos e à desonra, necessitando se afastar do convívio social, e eram jogadas à própria sorte, sem nenhum tipo de cuidado, esperando a própria morte. UNIDADE 3 | ENFERMAGEM NO CONTEXTO SOCIAL 108 FIGURA 3 - SIGNIFICADO DE LEPRA NO VELHO TESTAMENTO O que quer dizer "lepra" na Bíblia? A Bíblia, especialmente no Velho Testamento, fala muitas vezes sobre o problema de lepra. Quando se fala de pessoas leprosas, a palavra significa uma doença da pele, e pode abranger tipos diferentes de doenças. Em outros casos, a mesma palavra fala de manchas em roupas ou paredes, algo que nós poderíamos chamar hoje de fungo ou mofo. FONTE: Disponível em: <https://www.estudosdabiblia.net/bd13_01.htm>. Acesso em: 30 maio 2018. Hoje sabe-se que a lepra é uma doença infectocontagiosa, que atinge a pele e não tem idade para se manifestar. A boa notícia é que há cura, através de antibioticoterapia, e o medicamento é distribuído gratuitamente por programas aliados ao Ministério da Saúde. FIGURA 4 - SINTOMAS DA LEPRA FONTE: Disponível em: <http://www.ebc.com.br/noticias/saude/2014/01/ saude-lanca-campanha-para-diagnostico-precoce-da-hanseniase>. Acesso em: 30 maio 2018. O povo hebreu contribuiu significativamente para as gerações vindouras, com destaque à prática da hospitalidade, da visita e o ato de cuidar dos doentes, que constituiu um dever religioso. TÓPICO 1 | DESENVOLVIMENTO HISTÓRICO DA ENFERMAGEM 109 3.2 INFLUÊNCIA DAS CRUZADAS NO ATO DE CUIDAR As Cruzadas foram expedições militares cristãs, que lutaram para que Jerusalém, a Terra Santa, que estava sob domínio dos mulçumanos, retornasse para a ocupação do povo cristão. FIGURA 5 - SIGNIFICADO CRISTÃO DAS CRUZADAS FONTE: Disponível em: <http://slideplayer.com.br/slide/10640127/>. Acesso em: 31 maio 2018. Essa luta foi cheia de intempéries, falta de provisão alimentar, doenças, pobreza, miséria. Para cuidar dos doentes e peregrinos feridos, surgiram os monges cuidadores, atividade masculina, com regras rígidas de hierarquia e obediência. Para Oguisso (2015), a Igreja, com a ajuda da população, construiu hospitais, onde os monges militares começaram a cuidar dos feridos e doentes. No meio dessas pessoas havia muitas mulheres, assim, ocorreu a separação da construção de hospitais para os homens e hospitais para mulheres. Dessa forma, as Cruzadas tinham funções militares, religiosas e assistenciais de enfermagem. Aos poucos, essas ordens militares foram substituídas por instituições de acordo com a época da história. Nesse período das Cruzadas, alguns hospitais foram criados, a fim de prestar cuidados aos guerreiros, viajantes e doentes. Mais tarde, ao invés de hospitais, surgiram locais que também prestavam auxílio nos cuidados aos doentes, oferecendo conforto, administrando poções que se igualavam aos medicamentos de hoje em dia, originando posteriormente a Cruz Vermelha. UNIDADE 3 | ENFERMAGEM NO CONTEXTO SOCIAL 110 FIGURA 6 - OBJETIVO DA CRUZ VERMELHA FONTE: Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=TQlqomfYiiM>. Acesso em: 31 maio 2018. Certamente, a enfermagem sofreu influência das Cruzadas no que diz respeito à disciplina, ordem e hierarquia, para padronizar o comportamento do enfermeiro na atuação de seu papel de cuidador. 4 A HISTÓRIA DE FLORENCE NIGHTINGALE Florence Nightingale nasceu em 12 de maio de 1820, em Florença, numa família de origem inglesa abastada. Era poliglota, além de compreender história, filosofia e matemática. Nessa época, moças com condições sociais elevadas, além de estudarem, aguardavam seu pretendente, com o objetivo de casarem e de serem submissas aos maridos. UNI Você sabe que comemoramos o Dia do Enfermeiro em 12 de maio? Isso mesmo, é a data em que Florence nasceu e, como forma de homenageá-la, as comemorações pela profissão ocorrem nessa data. TÓPICO 1 | DESENVOLVIMENTO HISTÓRICO DA ENFERMAGEM 111 Florence inovou sua época, pois saiu do protocolo clássico da nobreza, dedicando-se a estudar assuntos que não eram comuns para mulheres, ela se interessou por questões sociais e políticas, relacionando-as com condições sanitárias das classes menos favorecidas. O que mais chocou seus pais foi a decisão de trabalhar com assistência aos doentes, caracterizando-a como enfermeira. Em 1851, com 31 anos, ela conseguiu vencer a oposição familiar e ir para a instituição de Kaiserswerth, na Alemanha, onde permaneceu por três meses com os fundadores. Participou de todas as aulas teóricas e práticas, inclusive realizando serviços de limpeza. Retornou à França para acompanhar as Filhas de Caridade em hospitais, realizando também suas atividades (OGUISSO, 2007). Oguisso (2007) entende que Florence se destacou pelas voltas que fazia todas as noites, apóstodas as pessoas que trabalhavam irem deitar, a fim de observar as condições dos pacientes, e sempre fazia isso com uma lamparina nas mãos. A partir de então, a lamparina se tornou o símbolo da enfermagem. FIGURA 7 - SÍMBOLO DA ENFERMAGEM FONTE: Disponível em: <https://www.pinterest.pt/pin/597641813020 917927/>. Acesso em: 31 de maio 2018. Em pouco tempo, Florence recrutou 38 mulheres entre religiosas anglicanas, leigas e até algumas católicas, apesar da rejeição de oficiais médicos, que não queriam mulheres no campo de batalha, e assim, partiram no dia 21 de outubro de 1854, designadas para a base militar de Scutari. Nessa base, um hospital havia sido improvisado com milhares de feridos que chegavam da guerra (PADILHA; MANCIA, 2005). Sua atuação na Guerra da Crimeia, em 1854, foi contemplada por elogios, Florence forneceu seus serviços às tropas inglesas, diminuindo a mortalidade dos internos de 40% para 2%, em seis meses. Por seu esforço, foi reconhecida pelo governo inglês e abriu a primeira escola de enfermagem (OGUISSO, 2007). UNIDADE 3 | ENFERMAGEM NO CONTEXTO SOCIAL 112 FIGURA 8 - FLORENCE NIGHTINGALE NA GUERRA DA CRIMEIA FONTE: Disponível em: <portuguese.blogspot.com/2010/07/florence- nightingale.html>. Acesso em: 31 maio 2018. UNI Você sabia que houve um período em que a enfermagem era considerada como um serviço que descaracterizava moralmente a mulher? Isso mesmo, pois esse tipo de tarefa era relegado às prostitutas, como forma de castigo por suas perversidades. Por meio do seu desempenho, Florence proporcionou à enfermagem excelente base, normas técnicas e princípios éticos, fortalecendo a profissão e criando oportunidades futuras. Silva (2008) afirma que Florence não se destacou apenas na organização hospitalar, mas também na humanização dos cuidados prestados aos soldados, estabelecendo melhores condições sanitárias e no tratamento dos enfermos. Com a experiência que teve na Guerra da Crimeia, através da sua coragem, persistência, ânimo e inteligência, conseguiu alcançar seus objetivos pessoais, além disso, contribuiu para relacionar pesquisa, teoria e prática. Devido à sua perspicácia, usou sua influência para fazer campanhas pela saúde pública e promover cultura e ensino, por meio de suas cartas e livros. TÓPICO 1 | DESENVOLVIMENTO HISTÓRICO DA ENFERMAGEM 113 FIGURA 9 - LIVRO ESCRITO POR FLORENCE NIGHTINGALE FONTE: Disponível em: <https://archive.org/details/ notesonhospital01nighgoog>. Acesso em: 31 maio 2018. Esse livro foi publicado em 1863 e ainda existe nas livrarias de todo o mundo para venda, inclusive no Brasil, mas não está traduzido do inglês, mas se você tiver curiosidade de folheá-lo, poderá fazê-lo virtualmente, acesse o site <https://archive.org/details/notesonhospital01nighgoog>, que conseguirá fazer o download gratuito. Aborda as histórias revolucionárias nos hospitais contadas por Florence, bem como sua experiência com feridos na Guerra da Crimeia. O principal legado de Florence Nightingale à sociedade foi sua dedicação aos doentes e feridos, a mudança que promoveu nos hospitais, objetivando privilegiar a saúde dos pacientes, e o benefício dos que prestavam cuidados. Deixou sua marca em todas as gerações, foi exemplo de luta, garra, força e determinação, trabalhou até os 80 anos de idade e faleceu em agosto de 1910, com 90 anos (SILVA, 2008). 5 HISTÓRIA DA ENFERMAGEM NO BRASIL Você sabe qual foi a primeira escola de enfermagem no Brasil? Não muito conhecida e pouco falada, mas a primeira escola de enfermagem que surgiu no Brasil foi a Alfredo Pinto. UNIDADE 3 | ENFERMAGEM NO CONTEXTO SOCIAL 114 FIGURA 10 - IMAGEM ATUAL DA ESCOLA DE ENFERMAGEM ALFREDO PINTO FONTE: Disponível em: <http://www.unirio.br/ccbs/eeap>. Acesso em: 1 jun. 2018. Esta escola de enfermagem é a mais antiga do Brasil, foi a primeira a ser criada e foi frequentada, na época, tanto por homens, quanto por mulheres, marcando o início da profissionalização da enfermagem. Apesar de ter sido fundada em 1890, ela ainda existe e está em pleno funcionamento no Rio de Janeiro, fazendo parte da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro. A organização da enfermagem na sociedade brasileira começa no período colonial e vai até o final do século XIX. A profissão surge como uma simples prestação de cuidados aos doentes, realizada por um grupo formado, na sua maioria, por escravos, que nesta época trabalhavam nos domicílios (MALISKA, 2010). Dessa forma, os cuidados de enfermagem no Brasil eram praticados como forma de prestação de cuidados aos doentes e enfermos, porém, sofreram alterações significativas no fim do século XIX. Essa inovação foi caracterizada pelo pioneirismo da Escola Alfredo Pinto, criada pelo Decreto nº 791, de 27 de setembro de 1890. Apresentou influência da enfermagem francesa, porque estava ligada aos moldes das Escolas de Salpetriere, objetivando a ação de cuidar dos pacientes (OGUISSO, 2007). Agora você já sabe qual é o nome da primeira escola de enfermagem no Brasil, mas qual é a escola de enfermagem mais conhecida no Brasil? É a Escola Anna Nery, vamos conhecer um pouco sobre ela. TÓPICO 1 | DESENVOLVIMENTO HISTÓRICO DA ENFERMAGEM 115 FIGURA 11 - ESCOLA DE ENFERMAGEM ANNA NERY NO SÉCULO XIX FONTE: Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_ arttext&pid=S0034-71672003000100001>. Acesso em: 1 jun. 2018. Antes de ter o nome reconhecido por Escola Anna Nery, possuía o nome de Escola de Enfermeiras do Departamento Nacional de Saúde. Nessa transição, os estudos práticos eram realizados na área hospitalar, chamados de estágios, e foi nesse ínterim que a Fundação Rockfeller patrocinou o projeto de organização do serviço de Enfermagem de Saúde Pública, sob a orientação de enfermeiras norte-americanas, que organizavam o ensino na Escola Anna Nery, adaptando ao modelo de ensino nightingaleano (OGUISSO, 2007) A enfermagem deu continuidade com a evolução através dos tempos e, dessa vez, essa profissão já começou a ser vista como uma forma de auxiliar os médicos em seus trabalhos diários nos hospitais. Os ensinamentos das escolas de enfermagem precisavam seguir uma conduta, ou seja, algum modelo de cuidados, como o modelo nightingaleano, demorou para surgir por questões políticas. Foi através do Decreto nº 20.109, de 15 de junho de 1931, que o modelo da própria Escola Anna Nery se tornou referência em todo o território brasileiro (MALISKA, 2010). A educação no Brasil estava em modelo de construção, com regras a serem seguidas, portanto, nesse momento de ampliação da área de enfermagem, o governo exigiu que os candidatos com interesse de ingressar nas escolas de enfermagem necessitariam ter o segundo grau completo. Além disso, essa educação obrigatoriamente precisava acontecer em centros universitários, e assim ocorreu. UNIDADE 3 | ENFERMAGEM NO CONTEXTO SOCIAL 116 5.1 QUEM FOI ANNA NERY Nasceu em Vila da Cachoeira do Paraguaçu, Bahia, no dia 13 de dezembro de 1814, casou com Isidoro Antônio Nery, quando tinha 23 anos. Seu marido era capitão da Marinha, mas fatalmente morreu a bordo do veleiro Três de Maio, no Maranhão. Ficou viúva com 29 anos e precisou criar sozinha os três filhos, Justiniano, que se formou em medicina, Isidoro, que também foi médico, e Pedro Antônio, militar (GIOVANINI, 2010). Os três filhos foram convocados para lutar na Guerra do Paraguai e o interessante aconteceu, quando Anna, sensibilizada com a dor da separação, escreve ao Presidente da Província, colocando-se à disposição para ir à guerra. Surpreendentemente, Anna parte para os campos de batalha, improvisa hospitais e não mede esforços no atendimento aos feridos (GIOVANINI, 2010). Mesmo com as condições precárias para trabalhar, devido às doenças, falta de higiene e falta de acomodação para todos os feridos, Anna se destacou por sua dedicação ao trabalho como enfermeira, pois conseguia improvisar materiais e acomodação em meio a tanta desgraça. Ela armou uma enfermariaem Assunção, capital do Paraguai, sitiada pelo exército brasileiro, que impressionou muitos que por ali passaram. Retornou ao Brasil após o término da guerra e foi condecorada pela sua bravura e presteza. Conforme Giovanini (2010), o retorno de Anna ao Brasil foi após cinco anos, sendo bem recebida pela sociedade, pelo governo, com medalhas humanitárias, e inclusive recebeu uma homenagem de Victor Meireles, que pintou sua imagem numa tela, sendo colocada no edifício do Paço Municipal. FIGURA 12 - RETRATO DE ANNA NERY FONTE: Disponível em: <http://basilio.fundaj.gov.br>. Acesso em: 1 jun. 2018. TÓPICO 1 | DESENVOLVIMENTO HISTÓRICO DA ENFERMAGEM 117 Anna Justina Ferreira Nery faleceu no Rio de Janeiro, no dia 20 de maio de 1880. Em virtude de toda sua enorme contribuição na área da saúde e em especial na área da enfermagem, Carlos Chagas batizou com o nome de Anna Nery a primeira escola oficial brasileira de enfermagem. 6 ENFERMAGEM COMO PROFISSÃO Ao fomentar e incentivar o estudo da enfermagem, Florence encabeçou a divisão do trabalho de enfermagem, nascendo as ladies nurses, que eram responsáveis pela administração da enfermagem, e as nurses para realizarem assistência direta aos pacientes. Com uma organização sem igual, acabou incrementando a organização do serviço de enfermagem, com ferramentas do processo administrativo, como o planejamento, a direção e a supervisão, explicando a importância do gerenciamento na enfermagem (SPAGNOL, 2002). Para Potter e Perry (2006, p. 5): Com a atuação de Florence Nightingale, juntamente com sua equipe na guerra da Crimeia, na metade do século XIX deu-se início à Enfermagem como uma profissão. Florence Nightingale, fundadora da Enfermagem moderna, estabeleceu o primeiro princípio da Enfermagem com base na manutenção e recuperação da saúde. A enfermagem é uma ciência humana que interage com o indivíduo em todos os aspectos, seja físico, emocional e psicológico, pois é considerada a prática do cuidar humano, tanto na prevenção da doença, quanto na sua recuperação. A enfermagem é uma profissão que envolve a arte de cuidar do paciente de uma maneira global, olhando o indivíduo como um todo, não apenas em partes, não permitindo tratar o sujeito apenas pela virtude da técnica, mas pela prática que envolve o homem sob o campo da visão holística, sem fazer acepção de pessoas, quer de ordem política, social, econômica ou questão de gênero. UNI Você sabe o significado de enfermeiro? Em português, a palavra “enfermeiro” vem do latim infirmum, que significa “aquele que não está firme”. No Brasil, infirmum foi adaptado para “enfermo”. A partir daí, surgiram as palavras enfermeiro, enfermagem e enfermaria. UNIDADE 3 | ENFERMAGEM NO CONTEXTO SOCIAL 118 Figueiredo (2005, p. 129) enfatiza o que já dizia Nightingale: Somos aqueles que criam condições para que o cliente se recupere, e a Enfermagem é uma arte, porque enquanto o escultor trabalha no mármore frio desenhando e dando forma, a Enfermagem trabalha o corpo quente vivo para que a natureza exerça sua cura. Esse conceito vem ao encontro da ideia de que os profissionais de enfermagem são verdadeiros artistas. Eles esculpem todo o cuidado prestado ao paciente, com olhar crítico e aguçado, atentos a todas as nuances do indivíduo, para captar informações diversas, principalmente as que não são exteriorizadas, respeitando os princípios éticos e científicos da profissão. Florence foi a primeira enfermeira com estudo aprimorado, técnica e visão de administradora que tivemos na história da saúde, escreveu vários livros e vivenciou, acima de tudo, a prestação do ato de cuidar. Foi ela que descreveu a primeira definição concreta sobre o papel do enfermeiro, pois foi por meio de Florence que a enfermagem passou a ser aceita como profissão, abrindo oportunidade para outros enfermeiros darem continuidade nos estudos sobre o cuidado integral ao ser humano, com bases teóricas e práticas. A Lei nº 7.498, de 25 de junho de 1986, dispõe sobre a regulamentação do exercício de enfermagem, com destaque aos artigos: 6º e 7º, os quais apresentam a classificação da categoria, ou seja, enfermeiro e técnico de enfermagem, bem como, qual a competência de cada um. A lei estabelece claramente as atribuições que o profissional deve cumprir e exercer, dentro da sua atividade (FIGUEIREDO, 2005). Atualmente, a profissão é regulada pelo Conselho Federal de Enfermagem (COFEN), composta por um plenário de 18 conselheiros federais, há ainda os Conselhos Regionais de Enfermagem (COREN) por Estado, nessa função de regulação da profissão (COFEN, 2018). Galleguillos e Oliveira (2001) relatam que, em 1986, na VIII Conferência Nacional de Saúde, foram debatidos alguns temas relevantes para a população: saúde como direito, reformulação do sistema nacional de saúde e financiamento setorial. Ficou clara a importância de uma reforma administrativa e financeira, de olhar holístico para a saúde, fortalecimento do setor público e da constituição de orçamento social. Através dos questionamentos foi definido um programa para a reforma sanitária, junto com a proposta de criação do Sistema Único de Saúde (SUS), tendo como diretrizes a universalidade, a integralidade das ações e a participação social. Percebemos, através dos tempos, que a VIII Conferência Nacional de Saúde foi vital para a saúde do Brasil, proporcionando mudanças importantes. Algumas leis também tiveram destaque, como a Lei nº 8.080 e a Lei nº 8.142, ambas de 1990 e regulamentadas no texto constitucional, bem como outras normas operacionais que surgiram (GALLEGUILLOS; OLIVEIRA, 2001). TÓPICO 1 | DESENVOLVIMENTO HISTÓRICO DA ENFERMAGEM 119 Podemos notar que a enfermagem está em constante evolução e conectada à sociedade, voltada à expansão das práticas de saúde e ligada à organização social em cada contexto histórico. A enfermagem pode ser considerada uma profissão “maleável”, pois está voltada tanto à área de prevenção, quanto à de recuperação e cura, moldando-se à necessidade de cada indivíduo ou de uma coletividade. Já estudamos que a enfermagem é definida como a arte de cuidar do ser humano em seus aspectos físico, mental e social, sendo praticada até mesmo antes de ser considerada uma ciência, quando ainda não era baseada em fatos científicos e teóricos, pois o ato de cuidar não dependia de conhecimento científico, uma vez que já estava intrínseco na conduta humana. Entretanto, com a atuação e contribuição de Florence, a enfermagem teve seu reconhecimento como ciência e sua aceitação pela sociedade. 120 Chegamos ao final deste tópico de estudos e você já é capaz de saber: • Em que momento histórico a enfermagem surgiu. • A importância do ato de cuidar. • O conceito de lepra. • A compreensão da doença lepra, na Idade Antiga. • A influência das Cruzadas no ato de cuidar. • O objetivo da Cruz Vermelha. • O significado do Dia do Enfermeiro. • Qual foi a contribuição de Florence Nightingale para a área da saúde. • Qual foi a importância de Anna Nery para a enfermagem. • Conceituar o ato de cuidar. • Oferecer definição para lepra. • Compreender o que a lepra significava na idade antiga. • Entender a influência das Cruzadas no ato de cuidar. • Descrever o objetivo da Cruz Vermelha. • Informar a data de comemoração do Dia do Enfermeiro. • Explicar qual foi a contribuição de Florence Nightingale. • Citar a primeira escola de enfermagem no Brasil. • Quem foi Anna Nery e qual foi sua contribuição para a enfermagem. RESUMO DO TÓPICO 1 121 1 Quando se fala em Guerra Santa empreendida pelos católicos contra os muçulmanos que dominavam Jerusalém e outras regiões consideradas sagradas pelos cristãos do Oriente Médio, estamos falando de qual movimento? ( ) Cruzadas. ( ) Revolução Industrial. ( ) Revolução Francesa. ( ) Queda do Império Romano. 2 A Bíblia Sagrada é um livro conhecido por todo o mundo, que faz referências e comparações de histórias de séculos passados com a atualidade,dispondo de regras e cuidados com a saúde. Nesse sentido, assinale a alternativa correta no que diz respeito à saúde coletiva. ( ) Em caso de doença infectocontagiosa, providenciar isolamento e desinfecção. ( ) Depositar o doente em solitária. ( ) Abandonar à própria sorte o indivíduo enfermo até sua recuperação. ( ) Proporcionar banho com vinagre. 3 Foi pioneira da Enfermagem no Brasil, prestou seus serviços voluntários nos hospitais militares de Assunção, durante a Guerra do Paraguai. Diante dessa afirmação, estamos falando de qual enfermeira? ( ) Anna Nery. ( ) Florence Nightingale. ( ) Antônia Regina Ferreira Furegato. ( ) Ethel Bretz. 4 Explique por que o símbolo da enfermagem é representado pela lamparina? AUTOATIVIDADE 122 123 TÓPICO 2 CONDUTA PROFISSIONAL UNIDADE 3 1 INTRODUÇÃO Você já teve contato com alguma pessoa com perda auditiva? Ou seja, que não escuta direito? A comunicação torna-se defeituosa, cansativa e muitas vezes a pessoa que recebe a mensagem entende de maneira distorcida e o diálogo ou a informação se perde, pois não se atinge o objetivo da interpretação. Já pensou se isso acontece entre um profissional da área da saúde e você? Imagine que você vai no posto de saúde para fazer a vacina contra a gripe e o funcionário entende errado e encaminha você para receber uma medicação de adrenalina? As agulhas são praticamente do mesmo tamanho, o local de aplicação é o mesmo, mas o conteúdo a ser administrado é totalmente diferente e você pode até ter uma parada cardíaca em função da comunicação, que não foi eficiente. Qual é o seu direito como paciente? Qual é sua obrigação diante de uma conduta médica? Essas respostas veremos no decorrer do estudo deste tópico. Além disso, iremos estudar quais foram os direitos conquistados pela enfermagem, no que diz respeito aos órgãos de classe. Então vamos seguir em frente com nossos estudos! 2 PROCESSO DE COMUNICAÇÃO Caro acadêmico, você já brincou de telefone sem fio? É uma brincadeira de criança, mas que sugere uma ótima reflexão para este momento. Para brincar de telefone sem fio, é necessário fazer uma fila e o primeiro indivíduo fala uma frase e vai passando essa informação no ouvido do colega, até chegar na última pessoa da fila, que fala bem alto a mensagem recebida. Mas qual é o objetivo da brincadeira? Que a mensagem chegue na última pessoa de maneira original, mas o que normalmente acontece? A informação chega de uma maneira bem distorcida. Você já encaminhou algum tipo de informação, sendo interpretada da maneira errada? Certamente, você já foi vítima desse tipo de mal-entendido. 124 UNIDADE 3 | ENFERMAGEM NO CONTEXTO SOCIAL FIGURA 13 - ILUSTRAÇÃO DO TELEFONE SEM FIO FONTE: Disponível em: <http://sabervalinhos.com.br>. Acesso em: 1 jun. 2018. A comunicação é uma condição inerente à vontade humana, pois desde os nossos ancestrais, a comunicação sempre esteve presente, seja através de sons, gestos, mímicas, desenho, choro, enfim é um tipo de manifestação, com o objetivo de sobrevivência e integração das pessoas na sociedade. A comunicação é o modo de transmitir uma informação, e a exemplo da brincadeira do telefone sem fio, essa informação deve ser transmitida de maneira clara, para que o receptor a receba sem interferência, com a finalidade de cumprir sua intenção original. 2.1 CONCEITO Comunicação é uma espécie de necessidade de sobrevivência, é um processo de aprendizagem, está presente na sociedade e deve ser utilizada de maneira harmoniosa, lembrando que cada indivíduo pode defender um ponto de vista, mas deve haver um ponto de equilíbrio, para que a opinião de cada indivíduo seja respeitada. Para Penteado (2012, p. 59), a comunicação dirige as ações do indivíduo, basta saber que a “palavra comunicação deriva do latim comunicare, que significa o mesmo que repartir”. Já Ferreira (2010) entende que comunicar é estabelecer uma relação de comunicação, com intuito de comunicar algo a alguém, estabelecendo a garantia de que o receptor receba a mensagem correta e que a entenda. Silva (2007) expressa bem seu pensamento quando diz que precisamos ser artistas, seres sensíveis e emocionais, a fim de sermos capazes de termos uma boa percepção e captar mensagens, para interpretá-las de maneira certa, esse tipo de comunicação é chamada de não verbal. TÓPICO 2 | CONDUTA PROFISSIONAL 125 A comunicação é um elo de mediação das relações interpessoais, como se fosse uma ponte, para que o indivíduo se relacione com o mundo, por este trajeto. Ela é intrínseca à condição humana, pois faz parte da nossa vida e está cheia de fatores associados, como a parte social, ética e emocional. De acordo com Schuler (2004, p. 258), “a comunicação é essencialmente um processo de interação humana, que busca o entendimento comum nas relações entre os indivíduos, fundamental para a sobrevivência e o crescimento”. Pimenta (2010, p. 41) faz uma comparação muito interessante entre a comunicação e o sistema nervoso, ele diz que: A comunicação é tão importante quanto o sistema nervoso para o corpo. Sem o sistema nervoso o corpo não se locomove, não se alimenta e não canta. Sem a comunicação, todas as relações que se estabelecem entre as pessoas e os diversos grupos humanos seriam impossíveis, sejam relações comerciais, de trabalho ou afetivas. A comunicação nunca fica estagnada, ela está sempre em constante movimento e não perde seu propósito, tem seu objetivo específico, de transmitir a informação, porém, ela se adapta em cada contexto histórico, com cenários e concepções de acordo com a necessidade da população. FIGURA 14 - EVOLUÇÃO DA COMUNICAÇÃO PRIMEIRA PALAVRA ESCRITA 140 CARACTERES. O QUE MAIS HÁ A DIZER? TWEETTWEET TIPOGRAFIA MÓVEL PUBLICAÇÃO EM MASSA TWITTER E-MAIL FONTE: Disponível em: <https://medium.com/@guilhermegomess/a-evolu%C3%A7%C3%A3o-dos- meios-de-comunica>. Acesso em: 1 jun. 2018. 126 UNIDADE 3 | ENFERMAGEM NO CONTEXTO SOCIAL A comunicação é um processo de aprendizagem que ocorre durante toda a vida de um indivíduo, sofrendo nuances da modernidade, é só lembrar que na pré-história, o ser humano começou a desenvolver as primeiras formas de linguagem, para depois partir para as pinturas nas cavernas. E hoje, como estamos? Estamos na era digital, onde conseguimos até comprar roupa e fazer compras utilizando a internet FIGURA 15 - CHARGE SOBRE A COMUNICAÇÃO NA ERA DIGITAL FONTE: Disponível em: <http://flamir.blogspot.com>. Acesso em: 2 jun. 2018. 2.2 PROCESSO DE COMUNICAÇÃO Na vida profissional de um enfermeiro, a comunicação é utilizada como ferramenta de trabalho, tanto para o paciente, quanto para os colegas de trabalho. Dessa forma, esse profissional deve ser perspicaz para analisar como o receptor está recebendo a mensagem. Conforme Heldman (2006, p. 321), “toda comunicação possui três componentes: o emissor, a mensagem e o receptor”, que são os principais elementos da comunicação, e esses itens precisam estar equilibrados e alinhados, a fim de que a mensagem seja entendida com eficiência. TÓPICO 2 | CONDUTA PROFISSIONAL 127 FIGURA 16 - ELEMENTOS DA COMUNICAÇÃO FONTE: Disponível em: <https://www.slideshare.net/dalisoaressa/elementos- da-comunicao-pronto>. Acesso em: 2 jun. 2018. Há outros elementos que compõem o processo da comunicação: veículo, codificação, decodificação, resposta, feedback e ruído, porém, vamos estudar os três principais componentes. • Emissor: é aquele que transmite uma mensagem para alguém. De acordo com Heldman (2006, p. 321), é o responsável pela apresentação das informações de modo claro e conciso; elas devem ser completas e expostas de maneira que o receptor consiga entendê-las corretamente. Suas mensagens devem ser relevantes para o receptor; mensagens inúteis não passam de um grande incômodo. • Receptor: é quem recebe a mensagem, assim, quando o receptor receber uma mensagem, ele não deve ficar inerte, pelo contrário, precisará emitir uma resposta. O processo somenteserá concluído quando o receptor conseguir interpretar a mensagem da maneira certa, conforme a intenção do receptor (STEFANELLI, 2005). • Mensagem: são informações que desejamos transmitir, as quais não são necessariamente interpretadas da forma que pretendíamos, ela pode ser de maneira escrita, verbal ou não verbal. Chaves et al. (2007, p. 121) corroboram nesse sentido e complementam informando que a “mensagem deve ser compreensível tanto pelo emissor, quanto pelo receptor e pode ser transferida através de voz, texto, desenho, movimentos, expressões faciais ou por meios eletrônicos”. Assim, a comunicação será eficiente quando todos os elementos estiverem sendo utilizados da maneira correta, e como resultado teremos um bom relacionamento entre pacientes e profissionais da saúde, execução das atividades com agilidade, confiança e transparência, sem falar da diminuição de erros, prejuízos e insatisfações. 128 UNIDADE 3 | ENFERMAGEM NO CONTEXTO SOCIAL Vale destacar que além dos elementos da comunicação estarem alinhados, para funcionarem bem, focados no objetivo central, também há a questão quanto à maneira de falar, como se expressar, de que forma oferecer uma notícia, por exemplo, por pior que seja, ao paciente. Essa estória, acadêmico, é um texto que inicialmente quer fazer um questionamento a você: o que devemos fazer para que nossas palavras sejam impactantes sem causar desconforto, dor e sofrimento? A resposta correta seria: pensar antes de falar e utilizar o poder das palavras! Você já vai entender a conotação desta resposta, então vamos à leitura! PEQUENA GRAMÁTICA SOBRE O PODER DA PALAVRA Gaudêncio Torquato Um sultão sonhou que havia perdido todos os dentes. Logo que despertou, chamou um adivinho para que interpretasse o seu sonho. – Que desgraça, senhor! Exclamou o adivinho. Cada dente caído representa a perda de um parente de vossa majestade. – Mas que insolente – gritou o sultão, enfurecido. – Como te atreves a dizer-me semelhante coisa? Fora daqui! Chamou os guardas e ordenou que lhe dessem 100 açoites. Mandou que trouxessem outro adivinho e lhe contou sobre o sonho. Esse, após ouvir o sultão com atenção, disse-lhe: – Excelso senhor! Grande felicidade vos está reservada. O sonho significa que haveis de sobreviver aos vossos parentes. A fisionomia do sultão iluminou-se em um sorriso, e ele mandou dar 100 moedas de ouro ao segundo adivinho. E quando esse saiu do palácio, um dos cortesãos lhe perguntou admirado: – Não é possível! A interpretação que você fez foi a mesma que o seu colega havia feito. Não entendo porque ao primeiro ele pagou com 100 açoites e a você com 100 moedas de ouro. – Lembra-te, meu amigo – respondeu o adivinho – que TUDO DEPENDE DA MANEIRA DE FALAR... Um dos grandes desafios da humanidade é aprender a arte de comunicar-se. Da comunicação depende, muitas vezes, a felicidade ou a desgraça, a paz ou a guerra. Que a verdade deve ser dita em qualquer situação não resta dúvida. Mas a forma com que ela é comunicada tem provocado, em alguns casos, grandes problemas. A verdade pode ser comparada a uma pedra preciosa. Se a lançarmos no rosto de alguém pode ferir, provocando dor e revolta. Mas se a envolvermos em uma delicada embalagem e a oferecermos com ternura, certamente será aceita com alegria e gratidão. Portanto, há muitas maneiras de exprimir a mesma ideia, entretanto, haverá sempre uma melhor! FONTE: TORQUATO, G. Tratado de comunicação organizacional e política. 2. ed. São Paulo: Cengage Learning, 2010. TÓPICO 2 | CONDUTA PROFISSIONAL 129 2.3 COMUNICAÇÃO NA ENFERMAGEM Para esclarecer sobre a comunicação na enfermagem, ela é um mecanismo essencial para a prestação do cuidado aos pacientes, pois se manifesta em todo o momento, em todas as ações realizadas com o paciente, seja para esclarecer, explicar, consentir, aprovar ou atender as suas necessidades vitais. Para a execução do trabalho do enfermeiro a comunicação é uma via em que o profissional opera, a fim de desenvolver e aprimorar o saber-fazer profissional. A função do enfermeiro não se fixa apenas em executar técnicas ou procedimentos, mas de executar uma ação generalizada, ou seja, dentro de uma gama de atividades, ele precisa ampliar a habilidade de comunicação. Assim, utilizando a comunicação como ferramenta básica do enfermeiro, ela se torna uma maneira de atender as necessidades do paciente. Com relação ao relacionamento entre enfermeiro e paciente, o processo de comunicação precisa ser eficaz para dispor de uma assistência com excelência e de maneira individualizada, para atender as suas necessidades. Dessa forma, o processo de comunicação com o paciente não deve se caracterizar por uma relação de submissão, mas de cuidados de saúde com atitudes de compaixão, percepção e sintonia entre ambos. Para o profissional que trabalha na saúde, a comunicação é dita como uma ferramenta de trabalho, porque, por meio de uma conversa com o paciente, se constrói um alicerce de confiança e assim a compreensão ocorre mais facilmente, objetivando atender as necessidades que o paciente requer. Stefanelli (2005) corrobora nesse sentido informando que no desempenho de suas funções, o enfermeiro precisa da comunicação para relacionar-se com as pessoas das várias equipes existentes nas instituições de saúde, bem como para estabelecer uma relação de cuidado com o paciente e sua família. Para Bordenave (2005, p. 36), a comunicação serve para que as pessoas se relacionem entre si, transformando-se mutuamente e a realidade que as rodeia. Sem a comunicação, cada pessoa seria um mundo fechado em si mesmo. Pela comunicação as pessoas compartilham experiências, ideias e sentimentos. Ao se relacionarem como seres interdependentes, influenciam-se mutuamente e, juntas, modificam a realidade onde estão inseridas. O sucesso na comunicação não depende só da forma como a mensagem é transmitida, a compreensão dela é fator fundamental, devemos lembrar que vivemos em sociedade de cultura diversificada, e o que às vezes parece certo, para os sujeitos não é tão claro assim (BORDENAVE, 2005). 130 UNIDADE 3 | ENFERMAGEM NO CONTEXTO SOCIAL O profissional de saúde tem o dever de entender a mensagem que o paciente transmite, às vezes essa mensagem é clara, outras vezes, o profissional requer habilidade para compreender o real objetivo, necessitando decifrar a intenção da mensagem, para só então estabelecer um plano de assistência. Somente com a comunicação efetiva é que o profissional poderá ajudar o paciente a conceituar seus problemas, visualizar sua participação na experiência e alternativas de solução dos mesmos, além de auxiliá-lo a encontrar novos padrões de comportamento (SILVA, 2008). Há uma gama de profissionais na área da saúde, mas o enfermeiro é um dos que mais interage com o paciente, pois presta cuidados diretos e, por estar mais próximo, necessita estar atento à utilização adequada das interfaces da comunicação interpessoal. 3 DIREITOS DO PACIENTE Atualmente há uma preocupação constante sobre os direitos que o paciente tem sobre seu corpo, sua saúde e sua vida, mas nem sempre foi assim, pois o médico era o profissional soberano e decidia, sem interferência do paciente, sobre qual decisão tomar. Apesar de a medicina avançar rapidamente utilizando o progresso em favor da humanidade e usando equipamentos de última geração para confirmar diagnósticos ou tratamentos, muitas vezes, o paciente se sente refém da ciência, pois não é atendido na sua integridade emocional, mas apenas fisicamente. Essa questão referente aos direitos do paciente chegou a entrar em colapso, pois familiares e os próprios pacientes estavam argumentando contrariamente à opinião dos médicos, até que o Código de Ética entrou em vigor em 1988, assegurando vários direitos aos pacientes, entre eles estão o acesso ao prontuário, linguagem clara e sem jargões, prescrição e receita realizadas no computador. TÓPICO 2 | CONDUTA PROFISSIONAL 131 FIGURA17 - EXEMPLO DE DIREITOS DO PACIENTE FONTE: Disponível em: <https://www.pinterest.com>. Acesso em: 2 jun. 2018. Dessa forma, o paciente tem a liberdade de acessar seu prontuário, recusar tratamento médico e intervenções cirúrgicas; em contrapartida, o paciente não pode fazer o que bem entender, pois ele também tem algumas obrigações, como a de respeitar o médico, manter um diálogo e conduta compatíveis com a moral, além de seguir a conduta e orientações médicas. Havendo respeito mútuo entre médico e paciente, ocorrendo explicações claras, precisas e convincentes, envolvendo atenção, segurança e humanização, cria-se um vínculo positivo, o que minimizará algum contratempo que possa acontecer durante o tratamento. Como este tópico aborda a comunicação, o ponto fundamental de toda a consulta médica em que o paciente é submetido tem como base a comunicação, pois caso não haja compreensão na linguagem médica para o seu tratamento, a problemática poderá ser instaurada e o médico inclusive correrá risco de ser mal interpretado, podendo ser alvo de ação judicial. 132 UNIDADE 3 | ENFERMAGEM NO CONTEXTO SOCIAL 4 DIREITO À VIDA Vamos estudar brevemente os direitos do paciente sobre a sua própria vida, sendo o elemento principal do ser humano, mas será que a autonomia da vontade é soberana para o paciente, em qualquer ocasião? Certamente há regras de conduta para a vida, então vamos entender como funcionam. Qualquer pessoa daria todos os seus bens para recuperar a sua própria saúde, certo? Talvez, mas partindo do princípio de que o ser humano tem o intuito de viver de forma digna, confortável e feliz, necessita obrigatoriamente, para cumprir esses requisitos, de uma ótima saúde. Mas, e se de repente você ou algum ente familiar é acometido por uma doença incurável, que acarreta dor, sofrimento, gastos financeiros, além do desgaste físico e emocional e, em função de todo esse esgotamento, muitas pessoas acabam desejando a morte e acabam buscando esse direito? Há uma outra questão que se refere também à preferência pela morte, no caso de Testemunhas de Jeová, que se recusam a aceitar transfusão de sangue. Podemos exemplificar um caso real, quando uma gestante deu à luz um bebê, mas teve complicações no parto e, se não recebesse bolsa de sangue, certamente entraria em choque anafilático e iria a óbito, mas, ainda consciente, informou que não aceitaria o tratamento com bolsa de sangue. O que fazer nessa hora? A paciente tem o direito de morrer? O médico tem o direito de realizar a transfusão de sangue? Vamos analisar a situação. FIGURA 18 - REPRESENTAÇÃO QUANTO À DECISÃO MÉDICA DE FAZER TRANSFUSÃO DE SANGUE OU NÃO FONTE: Disponível em: <https://lifemeetstheology.com>. Acesso em: 2 jun. 2018. TÓPICO 2 | CONDUTA PROFISSIONAL 133 O profissional médico está envolvido em um conflito de valores, de um lado a questão religiosa e, de outro, o juramento que realizou de salvar vidas. Você sabe o que deve ser feito? O comportamento prático-moral que se encontra no meio social faz com que o ser humano crie, a partir de determinados problemas, atitudes que o levem a um denominador comum e avalie as situações de uma maneira, a partir das experiências vividas dentro da sociedade em que está e das experiências e dos costumes de suas comunidades. FIGURA 19 – CONTROVÉRSIAS NA TRANSFUSÃO DE SANGUE FONTE: Disponível em: <http://veja.abril.com.br/blog/letra-de-medico/ transfusao-de-sangue-riscos-e-beneficios>. Acesso em: 2 jun. 2018. O médico poderá tomar uma conduta baseada nos valores, na moral, na ética e avaliar qual a decisão mais coerente, baseado nas experiências práticas já ocorridas, entretanto, em casos polêmicos, ele precisa se reportar à lei. Nesse caso em específico, não há lei que obrigue o profissional a fazer a transfusão de sangue e também não há lei que impeça as pessoas que são Testemunhas de Jeová de optarem por não receber a transfusão. O que o Judiciário, através de jurisprudências, sugere, é que o médico ingresse com um pedido de liminar, informando ao juízo competente a situação e solicitando o direito legal de fazer a transfusão de sangue. Mesmo que o paciente aceite os riscos que a ausência da transfusão sanguínea poderá causar, o que se busca no Judiciário é a preservação da vida, portanto, ela deve ser superior a qualquer expressão de vontade, assim, a maioria dos juízes tem autorizado o procedimento em questão. O direito à vida é o principal direito que temos e dela vem assegurados todos os demais direitos, expressos na Constituição Federal do Brasil de 1988 (BRASIL, 2018): Art. 5º caput “Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes 134 UNIDADE 3 | ENFERMAGEM NO CONTEXTO SOCIAL no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade”. A vida é resguardada pela Constituição Federal, é um bem que não pode ser violado, inclusive o legislador instituiu uma cláusula pétrea na Carta Magna, proibindo a pena de morte, salvo em caso de guerra declarada. 5 LEGISLAÇÃO DO EXERCÍCIO DA ENFERMAGEM: ÓRGÃOS DE CLASSE A enfermagem possui alguns órgãos representativos que foram criados a fim de oferecer amparo legal para esses profissionais, já que o reconhecimento dessa profissão aconteceu após séculos de cuidados realizados com o ser humano, objetivando assim condições dignas de trabalho. Os órgãos de classe são conselhos constituídos por profissionais de enfermagem, com diretorias eleitas democraticamente pelos seus representantes e que têm a principal função de registrar, fiscalizar e disciplinar a profissão de enfermagem. Os conselhos auxiliam a categoria a executar o seu trabalho de maneira digna, segura, com garantia do respeito de outros profissionais e da sociedade. Além de estabelecer direitos, os conselhos também estabelecem obrigações por parte da enfermagem, que, se não cumpridas, os profissionais são penalizados e algumas vezes acabam incidindo no Código Penal por sua contravenção ou crime. O Conselho de Enfermagem e os Conselhos Regionais foram criados pela Lei nº 5.905, de 12 de julho de 1973, com publicação no Diário Oficial da União de 13 de julho de 1973. A categoria reivindicou por melhores condições de trabalho durante muito tempo e sempre buscou amparo legal para isso, finalmente, após um processo moroso, ela conseguiu atingir seus objetivos (COFEN, 2018). Foi através da contribuição do Dr. Jurandir Lodi, por meio de suas reflexões sobre saúde e enfermagem, argumentando que haveria necessidade de criar um órgão que estabelecesse disciplina e fiscalização do exercício profissional, que em 1947, na capital paulista, durante o I Congresso Brasileiro de Enfermagem, foi recomendada a criação dos Conselhos de Enfermagem (COFEN, 2018). Após a recomendação, foi encaminhado um projeto ao Ministro da Educação e Saúde requerendo um órgão que oferecesse normas e orientações, inclusive não só voltado aos aspectos do exercício, mas também com o ensino de enfermagem. Após muitas mudanças no projeto, a lei foi promulgada e então criados os Conselhos Federal e Regionais de Enfermagem, os quais foram vinculados ao Ministério do Trabalho. TÓPICO 2 | CONDUTA PROFISSIONAL 135 Como vimos, os conselhos eram vinculados ao Ministério do Trabalho, entretanto, a partir de 1998, com a Lei nº 9.649/98, os Conselhos Profissionais passaram a ser entidades de direito privado, assim, não prestavam contas ao Tribunal de Contas da União. Portanto, a partir de 1988, os Conselhos se desvincularam do poder público. Os Conselhos atualmente são registrados como entidades sem fins lucrativos e possuem imunidade tributária (PASTORE, 1999). Muitas pessoas confundem os termos associação, sindicato e conselho, então, sem delongas na explicação, escolhemos um quadro comparativo que facilitará o entendimento com relação ao objetivo de cada termo. FIGURA 20 - QUADRO COMPARATIVO ENTRE ASSOCIAÇÃO,SINDICATO E CONSELHO FONTE: Disponível em: <https://fisioterapiaeumpoucomais.blogspot. com/2016/06/associacao-conselho-ou-sindicato.html>. Acesso em: 2 jun. 2018. 5.1 ABEN A Associação Brasileira de Enfermagem (ABEN) foi o primeiro marco a ser criado e ter representatividade na enfermagem, fundada em 1926 por duas enfermeiras que se formaram na Escola Anna Nery. Para Geovanini (2010, p. 36), “suas comissões tiveram papel relevante no desenvolvimento da Enfermagem brasileira, principalmente nos aspectos de legislação e educação”. Hoje a ABEN é uma representação de direito privado, de caráter cultural e assistencial, de filiação facultativa, sem fins lucrativos, e engloba Enfermeiros; Técnicas de Enfermagem; Auxiliares de Enfermagem; estudantes de cursos de Graduação em Enfermagem e de Educação Profissional de Nível Técnico em Enfermagem; Escolas, Cursos ou Faculdades de Enfermagem (ABEN, 2018). É regida por estatuto nacional e estaduais, possui normativas próprias que regulam os atos administrativos da gestão. Suas decisões, fontes de recursos e patrimônio são definidos, fiscalizados e controlados por órgãos e instâncias de deliberação, administração, execução e de fiscalização (ABEN, 2018). 136 UNIDADE 3 | ENFERMAGEM NO CONTEXTO SOCIAL As principais finalidades da ABEN (2018) são: • promover o desenvolvimento político, social e científico das categorias que a compõem; • defender a consolidação da educação em Enfermagem e da pesquisa científica; • promover a educação e a cultura em geral; • defender políticas e programas que visem à melhoria da qualidade de vida da população; • primar pelo acesso universal e equânime aos serviços social e de saúde. Um ponto importante a ser destacado como uma das conquistas da ABEN foi a edição de uma revista da enfermagem em 1932, chamada de Anais de Enfermagem, que sofreu alteração do nome para Revista Brasileira de Enfermagem e que, para surpresa de todos, ainda circula, com novas edições nos dias de hoje (OGUISSO, 2007), porém, desde 2016, está sendo publicada apenas na versão eletrônica. FIGURA 21 - EXEMPLAR DA REVISTA BRASILEIRA DE ENFERMAGEM FONTE: Disponível em: <http://bvsms.saude.gov.br/bvs/alerta_ eletronico/2011_04/periodicos.php>. Acesso em: 2 jun. 2018. 5.2 COFEN O Conselho Federal de Enfermagem (COFEN) foi criado em 12 de julho de 1973, pela Lei nº 5.905, esse conselho tem a responsabilidade de normatizar e fiscalizar o exercício da profissão de enfermeiros, técnicos e auxiliares de enfermagem, prezando pela qualidade dos serviços prestados e pelo cumprimento da Lei do Exercício Profissional da Enfermagem (COFEN, 2018). Possui jurisdição em todo o território nacional e sede no Distrito Federal, é composto por nove membros efetivos e nove suplentes, com diploma de curso de Enfermagem de nível superior, ao COFEN estão subordinados os Conselhos Regionais. TÓPICO 2 | CONDUTA PROFISSIONAL 137 Conforme o site do COFEN, a tabela, representada pela figura a seguir, apresenta a quantidade de profissionais, separados por auxiliares, técnicos e enfermeiros, com data-base de 2018, que estão com a inscrição ativa no Brasil. FIGURA 22 - NÚMERO DE PROFISSIONAIS DA ENFERMAGEM INSCRITOS DO CONSELHO FEDERAL DE ENFERMAGEM Quantitativo de Profissionais por Regional UF Data de Referência Total Auxiliares Total Técnicos Total Enfermeiros Total Obstetrizes Total AC 01/04/2018 649 4,756 2.125 0 7.530 AL 01/04/2018 5.372 12.003 6.051 0 23.426 AM 01/04/2018 3.387 28.620 9.252 0 41.259 AP 01/05/2018 915 9.271 1.920 0 12.106 BA 01/05/2018 14.218 73.209 33.693 0 121.120 CE 01/04/2018 14.457 36.281 19.320 0 70.058 DF 01/05/2018 3.224 31.505 12.203 0 46.932 ES 01/04/2018 4.074 25.248 8.275 0 37.597 GO 01/04/2018 5.119 34.728 14.403 89 54.339 MA 01/04/2018 4.124 33.870 12.453 0 50.447 MG 01/04/2018 22.353 106.347 46.189 1 174.890 MS 01/04/2018 3.418 12.534 6.353 1 22.306 MT 01/04/2018 2.664 15.848 8.276 0 26.788 PA 01/05/2018 8.196 45.215 11.513 0 64.924 PB 01/04/2018 4.036 21.496 11.973 0 37.505 PE 01/04/2018 13.059 59.001 21.937 0 93.997 PI 01/04/2018 5.843 18.092 9.073 2 33.010 PR 01/04/2018 23.271 46.745 24.115 0 94.131 RJ 01/04/2018 50.288 155.804 51.117 2 257.211 RN 01/04/2018 5.963 19.247 8.275 0 33.490 RO 01/04/2018 2.883 9.409 3.459 1 15.752 RR 01/04/2018 1.384 4.817 1.477 0 7.678 RS 01/04/2018 13.766 83.260 24.249 0 121.275 SC 01/04/2018 6.424 35.954 13.707 1 56.086 SE 01/04/2018 6.567 9.413 4.841 0 20.821 SP 01/04/2018 191.717 191.558 123.370 242 506.887 TO 01/04/2018 1.013 11.129 4.951 0 17.093 Total 01/04/2018 418.389 1.135.360 494.570 339 2.048.658 FONTE: Disponível em: <http://www.cofen.gov.br/enfermagem-em-numeros>. Acesso em: 2 jun. 2018. Conforme COFEN (2018), as principais funções desse conselho são: • normatizar e expedir instruções para uniformidade de procedimentos e bom funcionamento dos Conselhos Regionais; • apreciar em grau de recurso as decisões dos CORENs; 138 UNIDADE 3 | ENFERMAGEM NO CONTEXTO SOCIAL • aprovar anualmente as contas e a proposta orçamentária da autarquia, remetendo-as aos órgãos competentes; • promover estudos e campanhas para aperfeiçoamento profissional. 5.3 COREN O Conselho Regional de Enfermagem constitui-se em uma autarquia federal fiscalizadora do exercício profissional de Enfermagem, que tem por finalidade a normatização, disciplina e fiscalização do exercício da Enfermagem em observância aos preceitos legais e princípios éticos profissionais. Cada Estado do Brasil possui um COREN, mas para essa constituição é necessário que haja pelo menos 50 enfermeiros na região, sendo que pode haver com cinco a 21 membros e outros tantos suplentes, todos de nacionalidade brasileira, na proporção de três quintos de enfermeiros e dois quintos de profissionais das demais categorias de pessoal de enfermagem reguladas em lei (COREN, 2018). FIGURA 23 - SÍMBOLO DO COREN DE SANTA CATARINA Conselho Regional de Enfermagem de Santa Catarina SC FONTE: Disponível em: <http://www.corensc.gov.br/>. Acesso em: 3 jun. 2018. Conforme COREN (2018), as principais funções desse conselho são: • deliberar sobre inscrição no Conselho, bem como o seu cancelamento; • disciplinar e fiscalizar o exercício profissional, observadas as diretrizes gerais do COFEN; • executar as resoluções do COFEN; • expedir a carteira de identidade profissional, indispensável ao exercício da profissão e válida em todo o território nacional; • fiscalizar o exercício profissional e decidir os assuntos atinentes à ética profissional, impondo as penalidades cabíveis; • elaborar a sua proposta orçamentária anual e o projeto de seu regimento interno, submetendo-os à aprovação do COFEN; • zelar pelo bom conceito da profissão e dos que a exerçam; propor ao COFEN medidas visando à melhoria do exercício profissional; • eleger sua Diretoria e seus delegados eleitores ao Conselho Federal; • exercer as demais atribuições que lhe forem conferidas pela Lei nº 5.905/73 e pelo COFEN. TÓPICO 2 | CONDUTA PROFISSIONAL 139 Convidamos você, acadêmico, a assistir a um breve vídeo sobre a diferença entre COFEN e COREN, basta acessar: <https://www.youtube.com/watch?time_ continue=100&v=mDo74xlxj5w>. 140 Após o estudo deste tópico, o acadêmico será capaz de: • A comunicação é um processo de interação humana, ou seja, ela dirige as ações do indivíduo e tem o objetivo de informar algo a alguém. • Na vida profissional de um enfermeiro, a comunicação é utilizada como ferramenta de trabalho. • A função do enfermeiro não se limita apenas em executar técnicas ou procedimentos, mas ele precisa desenvolver habilidade de comunicação. • O paciente tem toda liberdade de acessar seu prontuário. • O direito à vida é resguardado pela Constituição Federal. • A enfermagem possui alguns órgãos representativos, os quais foram criados a fim de oferecer amparo legal para esses profissionais. RESUMO DO TÓPICO 2 141 AUTOATIVIDADE 1 Explique o que você entende por comunicação.2 O objetivo da comunicação é garantir que o receptor receba a mensagem do emissor e que consiga interpretar de maneira correta a intenção do emissor. Com relação à palavra comunicação, ela deriva do latim comunicare e significa: ( ) Repartir. ( ) Extorquir. ( ) Desalinhar. ( ) Omitir. 3 Com relação aos órgãos de classe da enfermagem, podemos dizer que: ( ) Os representantes eleitos têm a função de registrar, fiscalizar e disciplinar o exercício da enfermagem no Brasil. ( ) Não há eleição para compor a diretoria, pois os representantes são escolhidos pelo presidente. ( ) Não existe COREN desde 2010, pois apenas o Conselho Federal de Enfermagem é que está responsável pelo exercício da profissão. ( ) Não existe penalidade para o exercício ilegal da profissão. 4 Cite uma finalidade da Associação Brasileira de Enfermagem. 142 143 TÓPICO 3 IMPLICAÇÕES LEGAIS UNIDADE 3 1 INTRODUÇÃO A equipe de enfermagem é composta por profissionais que mais permanecem com o paciente, através do cuidado diário, dialogando e trocando informações, assim, o profissional coloca seu conhecimento e cuidados à disposição do paciente, objetivando promover o restabelecimento da saúde. Durante a comunicação é que ocorre muitas vezes a confidencialidade de informações, o que requer, dos profissionais envolvidos, seriedade e preservação do sigilo da informação, com respaldo nos princípios éticos e morais. É importante lembrar que não se pode fazer acepção de pessoas, seja em função de sexo, cor, ideologia ou outras características, o que se deve levar em consideração é a obrigação de prestar serviço profissional a quem está necessitado, com intuito de manter uma conduta íntegra, eficaz para o efetivo restabelecimento do paciente. Para que a equipe de enfermagem ofereça um atendimento embasado no conhecimento técnico-científico, é necessário empenho, estudo e dedicação, a começar pela correta evolução de enfermagem, informando o estado de saúde geral do paciente. Anotações corretas por parte dos profissionais indicam um restabelecimento seguro e coerente para a recuperação da saúde de quem está convalidado, oferecendo embasamento das condições do paciente, para que o médico possa conduzir o tratamento da forma adequada. Então vamos entender mais sobre este assunto! 2 SIGILO PROFISSIONAL OU RESPONSABILIDADE PROFISSIONAL O sigilo profissional é uma obrigação que algumas profissões carregam, como psicólogos, enfermeiros, médicos, advogados, entre outras, é um dever que está relacionado com a ética e com a moral, pois a pessoa que requer sigilo deposita sua confiança e revela segredos que outras pessoas jamais saberão. UNIDADE 3 | ENFERMAGEM NO CONTEXTO SOCIAL 144 A ética e o segredo profissional andam juntos, ou seja, um está ligado ao outro, são valores que devem ser seguidos por qualquer profissional. Mas há determinadas áreas em que o segredo profissional exige uma parceria maior, como na área jurídica e na área da saúde. Para Canavezi (2009 p. 37), a “origem da palavra sigilo vem do latim sigillum e significa selo ou segredo”. Dessa forma, podemos reportar nosso pensamento na quebra das informações confiadas a um profissional de qualquer área de conhecimento, isso pode gerar um colapso para ambas as partes, pela falta de profissionalismo. As informações confiadas ao profissional pelo seu cliente devem ser resguardadas, sob a condição de não haver revelação do segredo, a não ser que a pessoa que está solicitando segredo permita que o profissional revele as informações, mediante expressa autorização. O código de ética dos profissionais de enfermagem, no Capítulo II, que aborda sobre os deveres do Enfermeiro, expressa no artigo 52: “Manter sigilo sobre fato de que tenha conhecimento em razão da atividade profissional, exceto nos casos previstos na legislação ou por determinação judicial, ou com o consentimento escrito da pessoa envolvida ou de seu representante legal” (COFEN, 2018). O profissional que em razão do seu trabalho divulgar segredo para prejudicar alguém, terá cometido uma infração legal, sendo considerado crime, e está enquadrado no Código Penal no artigo 154, descrevendo como delito de violação de segredo profissional, que consiste no ato de divulgar, sem justificativa, segredo de que tenha tido ciência em razão de relação profissional, e cuja revelação possa causar prejuízo a alguém. Vejamos o que diz o artigo em questão (CIRINO, 2007): Art. 154 Revelar a alguém, sem justa causa, segredo de que tem ciência em razão de função, ministério, ofício ou profissão, e cuja revelação possa produzir dano a outrem: Pena - detenção, de três meses a um ano, ou multa. FIGURA 24 - DIVULGAÇÃO DE SEGREDO É CRIME FONTE: Disponível em: <http://www.tjdft.jus.br/institucional/imprensa/ direito-facil-1/violacao-do-segredo-profissional-1>. Acesso em: 3 jun. 2018. TÓPICO 3 | IMPLICAÇÕES LEGAIS 145 O sigilo profissional independe de a pessoa querer, pois está implícito na profissão. Imagine que você é casado e conhece outra pessoa na sua intimidade e acabam tendo um relacionamento extraconjugal, então essa atitude deixou você abalado emocionalmente, e você resolve procurar um psicólogo, e este profissional quebra o sigilo da consulta e conta para um amigo que conhece seu cônjuge... o “estrago” está feito! O sigilo profissional requer intrinsecamente que a informação fique resguardada, assim, o profissional deve estabelecer o fiel cumprimento de seu trabalho e juramento profissional, em não informar o assunto sigiloso. FIGURA 25 - QUEBRA DO SIGILO É CRIME FONTE: Disponível em: <http://leisenado.blogspot.com/2016/10/ quebrar-o-sigilo-profissional-e-crime.html>. Acesso em: 4 jun. 2018. Vários mecanismos legais resguardam o segredo profissional, por exemplo: a Constituição Federal brasileira, o Código Penal, o Código Civil, o Código de Processo Penal, a Lei das Contravenções Penais, o Código de Processo Civil e as leis esparsas. Oliveira (2012, p. 60) diz que o segredo profissional é conceituado como: O conhecimento íntimo e pessoal no exercício da profissão faz parte do que se denomina de segredo natural ou segredo confiado e só se pode usar para melhor prestação de serviço e não para outros fins, a não ser em casos de grave e urgente perigo para o cliente, para si, para terceiros ou para o bem comum. A relação entre paciente e o profissional deve estar alicerçada na confiança, além disso, todo profissional deve seguir e respeitar seu código de ética disciplinar, e algumas classes ainda possuem o código de deontologia, que são normas que estabelecem diretrizes para a atuação profissional. UNIDADE 3 | ENFERMAGEM NO CONTEXTO SOCIAL 146 Deontologia é um conglomerado de normas e regras que orientam a conduta do homem na vida profissional e normalmente delineia a ética e a moral como formas de determinar a conduta que o profissional deve ter no exercício do seu labor. Carlin (2007, p. 42) analisa axiologicamente a palavra deontologia e explica que: Deontologia vem de dois vocábulos gregos e significa deontas, o que é obrigatório, aquilo que é preciso fazer (são os deveres de uma profissão), e logos é o conhecimento transmitido mediante provas, é ov discurso prático sobre uma matéria (logos: ciência ou estudo). Oliveira (2012) também faz sua contribuição no que diz respeito à deontologia, informando que é necessário fazer uma reflexão no sentido de analisar a deontologia como uma ciência que determina a conduta das atividades profissionais, sob o ponto de vista da retidão moral ou honestidade, estabelecendo condutas positivas. Um elemento também importante que está alinhado com o exercício da profissão é a honestidade do profissional com o paciente, durante toda a execução do relacionamento. A falta de honestidade traz prejuízos a todos os elementos envolvidos e traz repercussões de acordo com a extensão de seus atos. Atualmente temos uma gama de legislações e normas que conduzem a vida dos profissionaisno exercício da sua profissão, é necessário estudar e se inteirar sobre essas condutas, seja código de ética, moral, código disciplinar, direitos, obrigações e sanções. Uma mudança importante, que ocorreu em dezembro de 2017, foi a reformulação do código de ética da enfermagem, portanto, hoje fala-se no novo código de ética da enfermagem, em razão dessa reformulação. UNI Convidamos você, acadêmico, para acessar o site <http://www.cofen.gov.br/ resolucao-cofen-no-5642017_59145.html> e conferir o novo Código de Ética Médica. Se você já conhece o código de ética de 2007, verá que não teve muita alteração, foi mais a questão de organização, mudança da disposição dos parágrafos e acréscimo de algumas medidas. As novas diretrizes foram adaptadas aos tempos atuais, com uma linguagem mais simples, oferecendo segurança ao exercício profissional. É interessante destacar que o COREN de alguns estados criou formulário on-line para que o profissional de enfermagem pudesse contribuir com a sua sugestão, portanto, podemos dizer que a construção do novo código de enfermagem foi realizada de maneira democrática. TÓPICO 3 | IMPLICAÇÕES LEGAIS 147 3 REGISTRO DE ENFERMAGEM Você sabe o que é registro de enfermagem? São as anotações de toda conduta terapêutica, de reabilitação e da saúde do paciente, ou seja, são todos os registros a que o paciente foi submetido. Até algumas décadas, todo o registro era realizado manualmente, nos tempos modernos, os registros também sofreram evolução e a maioria dos estabelecimentos possui softwares que facilitam o registro digital. Então vamos estudar sobre o registro de enfermagem? 3.1 CONCEITO E FINALIDADE Muitos autores oferecem definições para o registro de enfermagem, no fundo, todos os conceitos oferecem a mesma ideia. Possari (2005, p. 132) informa que [...] todos os registros das informações do cliente/paciente, das observações feitas sobre o seu estado de saúde, das prescrições de enfermagem e de sua implementação, da evolução de enfermagem e de outros cuidados, entre elas a execução das prescrições médicas. O registro de enfermagem é importante, porque traz para o prontuário a comunicação dos fatos que acontecem com o paciente, com o objetivo de manter uma história coerente e confiável, referente aos acontecimentos durante o período em que o paciente permanece sob os cuidados da enfermagem. Ainda para o mesmo autor, a comunicação entre a equipe profissional é significativa, para que os profissionais operem de maneira satisfatória, garantindo assistência com eficiência e segurança, com vistas ao atendimento das demandas do processo saúde-doença do paciente. Essa comunicação da enfermagem escrita ou digital disponibilizada à equipe de saúde, referente aos cuidados prestados ao paciente, chama-se registro de enfermagem. Essa medida acontece, porque a enfermagem tem o dever legal de fazer as anotações, após cada procedimento, para isso a linguagem deve ser clara, precisa, direta; se for escrito à mão, a letra deve ser legível e não pode conter rasuras. Canavezi (2009) diz que a finalidade de registrar as informações do paciente no prontuário objetiva a socialização da informação, para que todos os profissionais de saúde acessem as mesmas informações. Dessa forma, o prontuário deve conter todas as informações pertinentes ao estado de saúde do indivíduo e toda a equipe tem a obrigação de evoluir com fidelidade essas informações. UNIDADE 3 | ENFERMAGEM NO CONTEXTO SOCIAL 148 FIGURA 26 - FINALIDADE DO PRONTUÁRIO DO PACIENTE FONTE: Disponível em: <https://pt.slideshare.net/joselenebeatriz/relatrio- de-enfermagem-enfermeira-joselene-beatriz>. Acesso em: 4 jun. 2018. Além de oferecer a mesma informação à equipe de profissionais que trabalham com o paciente, os registros de enfermagem também possuem finalidades diversas, como pesquisa, fins de auditoria, provas para uma eventual ação jurídica, planejamento da assistência, dentre outros. Para os médicos, a evolução de enfermagem, também conhecida por este nome, é importante para que a equipe médica alinhe condutas, de acordo com a evolução ou regressão do paciente, para tomadas de decisão e resolução quanto aos problemas de saúde do paciente. A enfermagem é a categoria que mais permanece com o paciente durante sua jornada, pois é ela que presta cuidados de maneira integral, assim, o registro das condições gerais do paciente é importante para toda a equipe de saúde. Canavezi (2009) acredita que os registros de enfermagem, evoluídos da maneira correta, constituem uma forma de comunicação eficiente e asseguram a diferença na assistência, tanto para o paciente quanto para a equipe profissional, oferecendo segurança para a instituição. Em caso de ineficiência e falta de qualificação por parte do profissional de enfermagem, para fazer os registros, as falhas repercutirão negativamente na assistência direta ao paciente. Podemos exemplificar uma conduta inadequada na evolução de enfermagem, como abreviaturas, letra ilegível e terminologias incorretas, isso irá interferir na conduta dos demais profissionais, como o médico, no momento de indicar algum procedimento ou terapia ao paciente, pois o erro inicial irá gerar outro erro final. Da mesma maneira, o médico não pode fazer abreviações na prescrição do paciente para a enfermagem executar, pois também pode gerar erros durante a conduta de enfermagem. TÓPICO 3 | IMPLICAÇÕES LEGAIS 149 FIGURA 27 - OS CUIDADOS COM ABREVIATURAS NA PRESCRIÇÃO MÉDICA FONTE: Disponível em: <https://experienciasdeumtecnicodeenfermagem.com>. Acesso em: 4 jun. 2018. É importante destacar que na época de Florence Nightingale, conforme Leopardi (2002), ela valorizava a observação, a experiência e o registro de dados, fundamentais para o desenvolvimento de um bom trabalho, com repercussão positiva na resolubilidade da assistência e prognóstico do paciente. 3.2 ASPECTOS LEGAIS Há algumas normas que direcionam a conduta de um enfermeiro, uma delas é o Código de Ética da Enfermagem, publicado no Diário Oficial em 2018, em alguns dos seus artigos fala expressamente sobre o dever que tem o profissional de enfermagem de fazer os registros corretamente, conforme Brasil (2017), então vejamos: Art. 36 Registrar no prontuário e em outros documentos as informações inerentes e indispensáveis ao processo de cuidar de forma clara, objetiva, cronológica, legível, completa e sem rasuras. Além dos vários deveres e obrigações expressos no Código de Ética da Enfermagem, também constam as proibições, veremos sobre o assunto em questão: Art. 87 Registrar informações incompletas, imprecisas ou inverídicas sobre a assistência de Enfermagem prestada a pessoa, família ou coletividade. Diante de uma obrigação e proibição de condutas que o profissional de enfermagem necessita seguir, caso não haja submissão à lei, o profissional sofrerá penalidade, de acordo com a sua infração. Conforme o Conselho Regional de Enfermagem (2009), “Os Registros de Enfermagem, além de garantir a comunicação efetiva entre a equipe de saúde, fornecem respaldo legal e, consequentemente, segurança, pois constituem o único documento que relata todas as ações da enfermagem junto ao paciente”. UNIDADE 3 | ENFERMAGEM NO CONTEXTO SOCIAL 150 Dessa forma, fica evidente que o profissional de enfermagem deverá seguir a legislação pertinente à sua área, a fim de evitar danos ao tratamento, terapia ou reabilitação do paciente, caso contrário, poderá responder criminalmente ou administrativamente. Se ocorrer erro nos registros, todo o esforço para manter um padrão de qualidade perde o seu valor legal, pois descaracterizará um atendimento autêntico e correto, visto que esses registros constituem evidência sólida do padrão de atendimento prestado ao cliente. Até 2016, o enfermeiro que fazia a evolução de enfermagem tinha a obrigação de assinar e colocar o número do seu registro no COREN, para isso, somente o profissional que executou a atividade com o pacienteé que poderia assinar, pois se outro colega assinasse o registro, caracterizaria crime de falsidade ideológica. Entretanto, a partir de 2017, qualquer procedimento executado pelo enfermeiro deve estar acompanhado da sua assinatura e do carimbo. O COFEN (2018) explica que o uso é obrigatório em recibos relativos ao recebimento de honorários, vencimento e salários decorrentes da profissão, requerimentos, petições e em qualquer documento assinado pelo enfermeiro, em cumprimento ao Código de Ética dos Profissionais de Enfermagem. Falando nisso, você, enfermeiro, já providenciou o seu carimbo? FIGURA 28 - MODELO PADRÃO DE UM CARIMBO DA ENFERMAGEM FONTE: Disponível em: <http://mt.corens.portalcofen.gov.br/wp-content/ uploads/2018/02/mt-carimbo.jpg>. Acesso em: 4 jun. 2018. TÓPICO 3 | IMPLICAÇÕES LEGAIS 151 As anotações de enfermagem, no prontuário do paciente, são utilizadas também para faturamento e cobrança, auditoria interna ou externa, levantamento de informações estatísticas. Cabe destacar que para efetuar o pagamento de materiais hospitalares, medicamentos e quaisquer outros tipos de procedimento, são utilizados os registros de enfermagem. Conforme Motta (2003), no Brasil os registros de enfermagem têm sido utilizados como base para pagamentos na assistência à saúde prestada ao cliente, isso acontece pela análise dos prontuários, primando por uma cobrança justa e pagamento correto. O prontuário é um documento legal e serve como elemento na avaliação da prestação da assistência ao paciente, bem como levantando informações essenciais aos processos judiciais e operadoras de planos de saúde. FIGURA 29 - CONCEITO DE AUDITORIA FONTE: Disponível em: <https://pt.slideshare.net/walqueroliveira9/auditoria- de-enfermagem>. Acesso em: 4 jun. 2018. A auditoria é um recurso muito utilizado em instituições ligada à saúde, com o objetivo de identificar fraquezas, ou seja, deficiências nos registros de enfermagem, dessa forma, com o levantamento deficitário, ocorre uma reestruturação de atitudes e comportamentos, a fim de melhorar a assistência prestada aos pacientes. . UNIDADE 3 | ENFERMAGEM NO CONTEXTO SOCIAL 152 4 IDENTIFICANDO ERROS NA RELAÇÃO PROFISSIONAL O assunto de qualidade da assistência em saúde e da segurança do paciente sempre esteve em evidência, no sentido de assumir um significado relevante, porém, mesmo com muitas legislações, normas, auditoria, os erros de enfermagem ainda tomam posição significante. Erro de enfermagem pode ser conceituado como um acontecimento que resulta em prejuízo físico ou emocional para o paciente, algumas revistas de enfermagem já publicaram, inclusive, que muitos erros nem chegam ao conhecimento do paciente, ou seja, são mascarados, porém sempre haverá consequências negativas que repercutem à saúde de quem está enfermo. Um ponto que merece destaque é referente às normas éticas e legais que regem a profissão de enfermagem, pois não se pode pensar em exercer a vida profissional sem ter conhecimento sobre a legislação. A falta de conhecimento referente às normas e a falta de qualificação na prestação de assistência geram erros cruciais no desempenho da função, e ninguém pode se escusar de cumprir a lei, alegando que não a conhece. Ramos et al. (2013) afirmam que o ensino da ética na formação de profissionais de enfermagem representa um campo fundamental na construção do papel dos futuros enfermeiros. Na prática, tanto as questões éticas, quanto a legislação de enfermagem, não são vistas com bons olhos pelos acadêmicos de Enfermagem, pois eles preferem disciplinas práticas de estágio e visitas técnicas, a ter que estudar o código de ética e lei do exercício profissional. É importante lembrar que todas as disciplinas que compõem o curso são essenciais para o bom desempenho na vida profissional. Erros acontecem em qualquer profissão, entretanto, na assistência ao paciente os erros precisam ser superados, pois o que está em questão é a vida humana. Quando falamos em administração de medicamentos, parece que este ganha repercussão internacional, pois os erros são assustadores. Para evitar erros corriqueiros neste manejo, foi criada uma estratégia chamada de Nove certos, a fim de evitar ocorrências de eventos indesejados ao paciente. TÓPICO 3 | IMPLICAÇÕES LEGAIS 153 FIGURA 30 - NOVE CERTEZAS PARA REALIZAR UM PROCEDIMENTO FONTE: Disponível em: <http://www.socimage.net/tag/AdministracaoDeMed icamentos>. Acesso em: 4 jun. 2018. A enfermagem consegue evitar erros no desenvolvimento dos procedimentos, principalmente na aplicação de medicamentos, basta atuar com concentração e ter certeza do que está sendo feito. Além disso, os erros de medicação são passíveis de prevenção, por meio da medida dos “Nove certos”. Outra questão que costuma gerar erros no cotidiano da enfermagem é a sobrecarga de atividades, para o profissional de enfermagem, esse fator externo é uma constante no desempenho do seu trabalho. Muitas vezes, a enfermagem se responsabiliza por mais de um setor hospitalar e isso ocorre por mal dimensionamento ou por falta de colegas. Além disso, a complexidade do trabalho também é um fator de sobrecarga, sem falar da relação que se estabelece entre a enfermagem x paciente, enfermagem x familiares, enfermagem x médico. UNIDADE 3 | ENFERMAGEM NO CONTEXTO SOCIAL 154 FIGURA 31 - REPRESENTAÇÃO DE UMA ENFERMEIRA SOBRECARREGADA NA UNIDADE HOSPITALAR FONTE: Disponível em: <http://www.sindsaudepr.org.br/noticias/2/ noticias/4807/enfermagem-pede-socorro!>. Acesso em: 4 jun. 2018. Como citamos, o mal dimensionamento também é motivo para ocasionar erros na prestação de serviço, além de gerar desgaste mental para o profissional, também gera desgaste físico, surgindo queixas as mais variadas possíveis, como dores no corpo, estresse e até doenças. Podemos citar muitos canais que ocasionam erros da atuação da enfermagem, mas é interessante saber que o COREN São Paulo, em 2011, divulgou 13 tipos de erros mais comuns na enfermagem, são eles: erro de medicação, erro de prescrição, erro de dispensação, erro de omissão, erro de horário, erro de administração não autorizada de medicamento, erro de dose, erro de apresentação, erro de preparo, erro de administração, erro com medicamentos deteriorados, erro de monitoração e erro em razão da não aderência do paciente e da família. Vários autores divulgam, cada um com seu entendimento e análise, os motivos por que ocorrem os erros nos procedimentos da equipe de enfermagem, entre as causas estão: excesso de trabalho, escala mal dimensionada, tarefas em demasia, excesso de horas de trabalho, excesso de pacientes, falta de registro, falta de evolução, falta de preparo dos profissionais, mal formação acadêmica, falta de experiência, troca de prontuários, falhas de comunicação, letra ilegível na prescrição médica, ausência de conhecimento para realizar cálculos e dosagens dos medicamentos. Reason (2009) lançou a teoria do queijo suíço para explicar a ocorrência de falhas do sistema, como os incidentes que ocorrem na prestação da assistência ao paciente. Esse modelo demonstra que na ocasião de um erro, o resultado gera uma sequência de erros no processo, representados por orifícios das fatias de queijo e que raramente um erro em uma única ponta é suficiente para causar dano. Esses furos estão em constante movimento, abrindo, fechando e mudando de localização, portanto, quando estes furos são alinhados, oportunizam o perigo, a ocorrência de erro. TÓPICO 3 | IMPLICAÇÕES LEGAIS 155 O autor ainda sugere a necessidade de diminuir os orifícios do queijo suíço, para criar diversas camadas sobrepostas (barreiras), objetivando impedir o realinhamento dos buracos, evitando assim que o erro ocorra. FIGURA 32 - MODELO DO QUEIJO SUÍÇO ADAPTADO À MEDICAÇÃO FONTE: Disponível em: <http://coenfmg.com.br/noticias_detalhes.php?id_not=15>. Acesso em: 4 jun. 2018. Assim, a Teoria do Queijo Suíço traz várias reflexões e uma delas está dentro da perspectivadas falhas humanas, contribuindo para os acidentes causados pela equipe de enfermagem, porém, não há uma solução exata para os problemas, mas uma coisa fica bem evidente: que planejamento pode ser realizado, a fim de minimizar os impactos ao paciente. UNIDADE 3 | ENFERMAGEM NO CONTEXTO SOCIAL 156 LEITURA COMPLEMENTAR Caro acadêmico, trouxemos para você uma entrevista com a enfermeira Ivana Siqueira, que trabalha no Hospital Sírio Libanês, e o Dr. Dráuzio Varella. Profissão enfermagem 22 de maio de 2018 A maioria das enfermeiras do passado era treinada na prática da profissão. Aprendiam com as mais velhas a cuidar dos doentes e a portar-se de acordo com as normas e exigências que as circunstâncias e a ocasião exigiam. Eram mulheres abnegadas, experientes, mas com pouco preparo teórico que fundamentasse seu trabalho profissional. No mundo moderno, enfermagem é uma carreira que exige formação universitária. Enfermeiros e enfermeiras estudam muito, fazem cursos de mestrado e doutorado, assumem postos nas universidades e exercem funções absolutamente fundamentais nos hospitais. Não existe hospital que possa fazer medicina de ponta se não contar com um corpo de enfermagem homogêneo e bem preparado. Drauzio – Enfermagem ainda é uma profissão predominantemente feminina? Ivana Siqueira – Até alguns anos atrás, eu diria poucos anos, praticamente só havia mulheres enfermeiras. Atualmente, acredito que muitos homens estejam optando por essa profissão, motivados pelo fato de existir maior oferta de trabalho nos hospitais, não só no que se refere à assistência aos pacientes, mas também na área administrativa e de ambientação (serviço de recepção, lavanderia, auditoria etc.) e nas universidades. É importante destacar, porém, que a vocação para ser enfermeiro ou enfermeira está diretamente ligada ao cuidar dos doentes. Acima de tudo, é isso que faz as pessoas optarem por essa profissão. Drauzio – Considerando sua experiência profissional de quase 20 anos, que diferença você vê entre a enfermagem de hoje e a que existia quando você se formou? Ivana Siqueira – Atualmente, a profissão é muito mais complexa e, por conseguinte, mais complexas são as áreas educacionais que têm por objetivo preparar esses profissionais que atuam na linha de frente dos hospitais. Ser enfermeiro é uma escolha vocacional, que não mais se restringe a cuidar dos pacientes, embora esse seja um mérito primordial e louvável. Na verdade, o conceito de humanização, individualização e hospitalidade no atendimento não basta para o exercício da profissão. É preciso agregar muito conhecimento, um requisito que vem marcando o diferencial nos hospitais. TÓPICO 3 | IMPLICAÇÕES LEGAIS 157 Agora, os órgãos de saúde, a vigilância sanitária, o Ministério da Saúde estão muito mais competentes e ligados ao controle do funcionamento hospitalar. Como os enfermeiros trabalham em diversos setores dos hospitais, também participam do estabelecimento de linhas permanentes de controle para que exista uma estrutura administrativa e assistencial de qualidade. Portanto, cabe aos enfermeiros desde o cuidar assistencial até o manejo dos grupos de enfermagem que constituem quase 45% da mão de obra nos hospitais. Drauzio – Quando você cita esse número, está considerando enfermeiros, auxiliares e atendentes? Ivana Siqueira – Estou considerando enfermeiros, auxiliares e técnicos de enfermagem. Para todas essas funções existem cursos preparatórios. Para os técnicos em enfermagem, o curso dura de um ano e meio a dois anos; para os auxiliares, um ano e para os enfermeiros é exigido curso universitário com quatro anos de duração. Como já disse, esses profissionais elencam quase 40% da mão de obra dos hospitais. É um grupo numeroso que precisa ser administrado em termos de recursos humanos e estar motivado para seguir os padrões de atendimento ditados não só pela profissão, mas pela linha adotada pelo hospital. Quem comanda essa equipe são as enfermeiras nos vários níveis de hierarquia. Por exemplo, o serviço de higiene e limpeza é comandado por enfermeiras, e falar em higiene e limpeza num hospital é falar em tecnologia, em microbiologia, em conceitos novos de bioquímica. Se pensarmos, então, que já atravessamos tempos de economia conturbada e difícil no Brasil, dá para entender a preocupação com os custos dentro dos hospitais. Uma vez que para auditar uma conta, um prontuário, é preciso entender o que neles está escrito, é preciso conhecer todos os procedimentos, muitos enfermeiros são requisitados para participar dos serviços de auditoria e estabelecem uma ponte com as seguradoras e convênios médicos e até com os órgãos públicos. Drauzio – Sempre digo que o padrão de atendimento médico nos hospitais é dado pela enfermagem muito mais do que pelos médicos. Nós passamos com o doente em média 15 minutos por dia e os enfermeiros, a noite e o dia todo. Você acha que a profissão também evoluiu no sentido de cuidar do paciente, o que na minha opinião é a essência da profissão enfermagem? Ivana Siqueira – Acho que evoluímos muito em várias áreas sem perder a vocação de cuidar das pessoas. Sempre digo para as enfermeiras que trabalham comigo, que somos as zeladoras de nossas unidades. Os médicos cuidam bem do paciente, mas vão embora e ele fica sob os cuidados do grupo de enfermagem. Nossa participação é grande no que se refere ao conhecimento de suas individualidades e das de seus familiares. Seguir a orientação dos médicos e saber quais são as prescrições em termos de horários para adaptá-los ao ambiente hospitalar, tratamento, remédios, doses, hidratação, jejum, exames é responsabilidade dos enfermeiros. Na verdade, os hospitais contam com farmacêuticos, mas eles não convivem com os pacientes e somos nós que fazemos a intermediação com eles e com outros profissionais. UNIDADE 3 | ENFERMAGEM NO CONTEXTO SOCIAL 158 Hoje é dia de suspender tal remédio? Podemos adiantar o horário do banho? O paciente tem se locomovido pouco, não seria bom chamar o fisioterapeuta? A alimentação não está adequada para esse paciente, é bom entrar em contato com a nutricionista – são situações do cotidiano hospitalar resolvidas pela enfermagem. Atualmente, as equipes de trabalho são numerosas e multiprofissionais e cabe às enfermeiras alavancar os outros profissionais para participarem de forma atuante no tratamento dos pacientes. Drauzio – O conhecimento específico é cada vez mais necessário para o bom desempenho profissional da enfermagem. Em grande número de prescrições feitas pelos médicos, está escrito “se necessário”, e quem vai julgar a real necessidade do medicamento é a enfermeira que precisa estar preparada para tomar essa decisão. Ivana Siqueira – As enfermeiras têm que saber examinar os pacientes, saber auscultar, percutir o abdômen, avaliar a dor que estão sentindo. Hoje, existem réguas que tentam quantificar o nível da dor para obter números referenciais e comparativos; existem escalas que dão ideia do estado mental do paciente, de sua capacidade de locomoção e de como desenvolve as atividades diárias. Esses artefatos ajudam e o profissional de enfermagem deve utilizá-los, mas eles não substituem o conhecimento que precisam dominar. Drauzio – Seguramente, a lavagem das mãos ainda é o procedimento isolado mais importante. Ivana Siqueira – Lavar as mãos com água e sabão nos hospitais, consultórios ou em casa ainda é o recurso mais simples e eficiente para prevenir infecções, sejam hospitalares ou domésticas. FUTURO DA PROFISSÃO Drauzio – Como você vê o futuro da enfermagem? Ivana Siqueira – A enfermagem não é uma profissão com perspectivas apenas para o futuro. Já neste momento, é uma profissão para a qual existe campo de trabalho para homens e mulheres, pois deixou de ser uma atividade meramente feminina e os homens estão sendo bem recebidos no mercado de trabalho. Os hospitais estão sempre contratando enfermeiros, mas a área da educação, que está crescendo muito também,passou a absorver parte desses profissionais. Na verdade, a participação dos enfermeiros tem sido importante para a construção da qualidade da saúde em nosso país. Para mim, enfermagem é uma profissão bonita, que traz muito prazer para as pessoas com vocação para cuidar de outras. Quando agregada de conhecimento, é uma das profissões que mais oferecem retorno diário, porque é possível acompanhar de perto a evolução dos pacientes. FONTE: Disponível em: <https://drauziovarella.uol.com.br/entrevistas-2/profissao-enfermagem/ > Acesso em: 3 jun. 2018. 159 Neste tópico vimos que: • O sigilo profissional é uma obrigação que algumas profissões carregam. • O profissional que, em razão do seu trabalho, divulgar segredo para prejudicar alguém, terá cometido uma infração legal. • Um elemento também importante que está alinhado com o exercício da profissão é a honestidade do profissional com o paciente. • O registro de enfermagem representa a comunicação dos fatos que acontecem com o paciente. • O mal dimensionamento também é motivo para ocasionar erros na prestação de serviço. • Para os médicos, a evolução de enfermagem, também conhecida por este nome, é importante para que a equipe médica alinhe condutas. • Os registros de enfermagem, além de garantir a comunicação efetiva entre a equipe de saúde, fornecem respaldo legal. • As anotações de enfermagem no prontuário do paciente são utilizadas também para faturamento e cobrança, auditoria interna ou externa, levantamento de informações estatísticas. • Erro de enfermagem pode ser conceituado como um acontecimento que resulta em prejuízo físico ou emocional para o paciente. • Erros acontecem em qualquer profissão, entretanto, na assistência ao paciente os erros precisam ser superados, pois o que está em questão é a vida humana. • A Teoria do Queijo Suíço traz várias reflexões e uma delas está dentro da perspectiva das falhas humanas RESUMO DO TÓPICO 3 160 AUTOATIVIDADE 1 O sigilo profissional pode ser considerado como um direito do paciente e uma obrigação do médico em não divulgar informações colhidas ou obtidas em decorrência de seu trabalho. Com relação ao sigilo, ela deriva do latim sigillum e significa: ( ) Segredo. ( ) Cochicho. ( ) Divulgação. ( ) Omissão. 2 Explique o que você entende por segredo profissional. 3 A partir de 2017 o COFEN determinou que o profissional de enfermagem utilize um carimbo com sua identificação, além da sua assinatura. Diante disso, assinale V para alternativa correta e F para alternativa falsa, que indique a obrigação do carimbo: ( ) Recibos referentes aos honorários do profissional. ( ) Petições que não são feitas pelo enfermeiro. ( ) Evolução de enfermagem. ( ) Prescrição de enfermagem. Agora assinale a alternativa correta: ( ) V – F – V – V. ( ) F – F – V – V. ( ) V – V – V – F. ( ) F – V – V – V. 4 James Reason foi quem criou a Teoria do Queijo Suíço, que se tornou uma das teorias mais conhecidas na área da saúde e que ajuda muitos profissionais a desenvolver suas atividades de maneira eficaz e eficiente. Diante dessa alternativa, assinale a alternativa correta que indique o objetivo dessa teoria: ( ) Explicar a ocorrência de falhas do sistema, como os incidentes que ocorrem na prestação da assistência ao paciente. ( ) Punir os enfermeiros com a perda da carteirinha do conselho. ( ) Expor os erros e advertir o profissional de enfermagem, com desconto de um dia de trabalho. ( ) Aplicar multa a quem desrespeita as normas da instituição. 161 REFERÊNCIAS ABEN. Associação Brasileira de Enfermagem, 2018. Disponível em: <http://www. abennacional.org.br/site/a-aben/>. Acesso em: 2. jun. 2018. ALBUQUERQUE, A.; OLIVEIRA, M. Manual de direitos humanos para enfermagem. Brasília: UniCEUB; COFEN, 2016. ALMEIDA, C. H. Investigação científica em seres humanos: a experiência de voluntários nos ensaios clínicos de uma nova vacina. 2009. 136f. Dissertação (Mestrado em Saúde e Enfermagem) – Escola de Enfermagem, Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, 2009. ARISTÓTELES. 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