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Na boca, temos o início da digestão dos carboidratos. O amido e o glicogênio são substratos para a ação da alfa-amilase salivar, que catalisa a hidrólise das ligações do tipo (alfa 1 –> 4) presentes nesses polissacarídeos. A celulose, que possui ligações do tipo (beta 1 –> 4), não é substrato para nenhuma glicosidase, por isso, somos incapazes de digerir esse polissacarídeo. No duodeno, ocorrem as etapas �nais da digestão dos carboidratos, bem como a absorção dos monossacarídeos pela mucosa duodenal. A alfa-amilase pancreática continua com a digestão dos oligossacarídeos provenientes da digestão na boca, resultando, principalmente, em maltose. Na mucosa duodenal, existem glicosidases que catalisam a hidrólise de dissacarídeos. A maltase catalisa a clivagem da maltose, liberando duas unidades de glicose; a sacarase catalisa a clivagem da sacarose, liberando glicose e frutose; e a lactase catalisa a hidrólise da lactose, liberando a galactose e a glicose. Nesta webaula, estudaremos os conceitos mais importantes sobre os processos metabólicos dos carboidratos. Digestão e absorção de carboidratos O metabolismo é o conjunto de todas as reações químicas do organismo; são reações químicas interdependentes e coordenadas. Ele pode ser dividido em anabolismo — reações de síntese de compostos complexos a partir de compostos mais simples —, e catabolismo — reações de degradação de compostos complexos em compostos mais simples. Fonte: Shutterstock. A digestão dos carboidratos depende da ação de enzimas especí�cas: as glicosidases, que catalisam a hidrólise das ligações glicosídicas entre os monossacarídeos. Bioquímica Aplicada à Saúde Processos metabólicos dos carboidratos Você sabia que seu material didático é interativo e multimídia? Isso signi�ca que você pode interagir com o conteúdo de diversas formas, a qualquer hora e lugar. Na versão impressa, porém, alguns conteúdos interativos �cam desabilitados. Por essa razão, �que atento: sempre que possível, opte pela versão digital. Bons estudos! A glicose e a galactose são absorvidas pela mucosa duodenal com íons sódio pelo cotransportador de glicose dependente de sódio tipo 1 (SGLT-1). A frutose é captada pelas células da mucosa duodenal por meio de GLUT-5. Transporte de glicose para as células Para entrar na célula, a glicose necessita do auxílio de uma família de proteínas transmembranas, chamadas de transportadores de glicose ou GLUT (do inglês glucose transporter). Muitas isoformas de GLUT já foram identi�cadas, mas cinco delas têm importância �siológica melhor descrita. Veremos mias sobre as isoformas de GLUT a seguir. GLUT-1 E GLUT-3 GLUT-1 e GLUT-3 são as isoformas presentes em quase todas as células e responsáveis pela captação basal de glicose, independentemente da ação da insulina. GLUT-2 GLUT-2 está presente nas células beta pancreáticas e nos hepatócitos. Essa isoforma tem baixa a�nidade pela glicose, sendo ativa apenas em situações em que há hiperglicemia, como ocorre logo após as refeições. GLUT-2 hepático permite a entrada de glicose após as refeições, a �m de que seja armazenada na forma de glicogênio. Quando a glicemia diminui, os hepatócitos liberam o seu estoque de glicose, sob a ação do glucagon, para a corrente sanguínea. O fígado é o órgão central na homeostase da glicemia. GLUT-2 pancreático serve como sensor de glicemia para a liberação de insulina. Sempre que houver hiperglicemia, GLUT-2 das células beta pancreáticas são ativadas, permitindo a entrada de glicose e, consequentemente, a liberação de insulina. GLUT-4 GLUT-4 está presente nas �bras musculares e adipócitos. Sob a ação da insulina, a quantidade de GLUT-4 aumenta nessas células, o que leva ao aumento da captação de glicose por essas células. Esse é um dos mecanismos hipoglicemiantes da insulina. Metabolismo do glicogênio O glicogênio é a reserva de glicose das células animais, sendo que os hepatócitos e as �bras musculares possuem os maiores estoques desse polissacarídeo. Cabe ressaltar que: A glicogênese é a via metabólica de síntese do glicogênio. A enzima glicogênio sintase sintetiza o glicogênio a partir das unidades de glicose fornecidas pela UDP-glicose. A glicogenólise é a via metabólica de degradação do glicogênio; a enzima glicogênio fosforilase catalisa a clivagem das unidades de glicose do glicogênio. A insulina estimula a glicogênese, enquanto o glucagon estimula a glicogenólise. Glicólise A glicose, após a entrada na célula, sofre fosforilação, com gasto de energia, resultando em glicose-6-fosfato. A adição do grupo fosfato é importante para reter a glicose na célula e para desestabilizar a estrutura da glicose para as reações químicas. A glicose-6-fosfato é substrato de uma via metabólica oxidativa: a glicólise. Nessa via metabólica, que ocorre no citosol e em condições anaeróbicas, a glicose-6-fosfato sofre uma série de reações químicas que levam à sua quebra, resultando em duas moléculas de piruvato, a formação de 4 ATPs e 2 NADH. Para que ocorra a glicólise, a célula precisa investir 2 ATPs, por isso, o balanço �nal de produção de energia é de 2 ATPs. Os elétrons gerados na oxidação da glicose durante a glicólise são transferidos para NAD+, tornando-se NADH. Em seguida, NADH leva os elétrons para a cadeia respiratória para a fosforilação oxidativa. Fermentação Em situações de hipóxia ou anóxia, NADH não é regenerada nas mitocôndrias, o que acaba levando a uma diminuição da quantidade de NAD+. A consequência é a interrupção da glicólise, a única via produtora de energia de forma anaeróbica. Para evitar isso, as células utilizam uma via metabólica de regeneração de NADH a NAD+: a fermentação. Nessa via metabólica, o piruvato é convertido em lactato (ou ácido láctico). Oxidação do piruvato Após a glicólise, o piruvato é transportado para a matriz mitocondrial, onde é substrato de uma reação química oxidativa, catalisada pelo complexo da piruvato desidrogenase. Nessa reação, o piruvato perde um carbono na forma de e é convertido em acetil-CoA. Como é uma reação oxidativa, os elétrons são transferidos para NAD+, formando NADH. Gliconeogênese A glicogênese é a via metabólica em que ocorre a síntese de novas moléculas de glicose a partir de aminoácidos, glicerol e lactato, principalmente no fígado. Ela é estimulada pelo glucagon, enquanto a insulina inibe a gliconeogênese. Durante as atividades físicas intensas, a oxigenação dos músculos esqueléticos não é adequada, o que leva à ativação da fermentação e produção de lactato. Em seguida, o lactato, circulante no sangue, é removido para o fígado, onde é convertido em glicose pela gliconeogênese. Essas novas moléculas de glicose, por sua vez, são utilizadas pelas �bras musculares para a reposição do estoque de glicogênio. Esse é o ciclo de Cori. Controle da glicemia O controle da glicemia depende do equilíbrio das ações de dois hormônios pancreáticos, o glucagon e a insulina. O glucagon estimula a glicogenólise e a gliconeogênese no fígado, aumentando a oferta de glicose para o sangue (efeito hiperglicemiante). A insulina inibe a gliconeogênese hepática, estimula a glicogênese e aumenta a quantidade de GLUT-4 nas �bras musculares e adipócitos, o que acaba resultando em menor disponibilidade de glicose para o sangue (efeito hipoglicemiante). Louco como chapeleiro Você conhece a história da Alice no País das Maravilhas, do escritor inglês Lewis Carroll (1832-1898)? Caso conheça, deve se lembrar do Chapeleiro Maluco. Pois bem, o que você não deve saber é que a história do Chapeleiro Maluco tem a ver com a bioquímica. Na Inglaterra do século XIX, existia a expressão popular “louco como chapeleiro”, que se refere ao fato de que os chapeleiros apresentavam sérios problemas neurológicos, como alterações comportamentais, psicose e problemas psicomotores, o que eram vistos como loucura. Fonte: Shutterstock. Os chapeleiros da época usavam o nitrato de mercúrio para amaciar e moldar as peles de animais, uma vez que o mercúrio é inibidor do complexo da piruvato desidrogenase, o queimpede a oxidação do piruvato à acetil-CoA. Dessa maneira, a oxidação da glicose �ca restrita apenas à glicólise, o que resulta em baixa produção de energia. Os neurônios só utilizam a glicose como fonte de energia, e, contando apenas com a glicólise, a oferta de energia não atende às demandas metabólicas dessas células, como consequência, surgem as lesões nos neurônios, resultando em problemas neurológicos. Temos outros distúrbios que afetam a oxidação do piruvato, a doença de beribéri e a síndrome de Wernicke-Korsako�, ambas decorrentes da de�ciência da tiamina, a vitamina B1, que é uma das coenzimas do complexo da piruvato desidrogenase. Para �nalizar esta webaula, indicamos alguns livros de Bioquímica disponíveis na Biblioteca Virtual: Minha Biblioteca. Sugerimos o livro Princípios de Bioquímica de Lehninger, um clássico na área de Bioquímica. Você pode estudar os Capítulos 14 (Glicólise, Gliconeogênese e a Via das Pentoses-Fosfato) e 16 (Ciclo do Ácido Cítrico). No capítulo 16, a parte inicial é dedicada à oxidação do piruvato, já o restante é dedicado ao ciclo do ácido cítrico, que será visto na Unidade 3. NELSON, D. L.; COX, M. M. Princípios de bioquímica de Lehninger. 6. ed. Porto Alegre: Artmed, 2014. Caso você pre�ra um livro com mais ilustrações e esquemas, sugerimos Bioquímica Ilustrada. Os capítulos que sugerimos para leitura são: 7 (aborda a digestão e absorção de carboidratos), 8 (aborda a glicólise, GLUT e fermentação), 9 (aborda a oxidação do piruvato), 10 (aborda gliconeogênese) e 11 (aborda o metabolismo do glicogênio). FERRIER, D. R. Bioquímica ilustrada. 7. ed. Porto Alegre: Artmed, 2019. Para expandir mais os seus horizontes, sugerimos a leitura de artigos cientí�cos relacionados aos conceitos desenvolvidos nesta seção: MACHADO, U. F. Transportadores de glicose. Arquivos Brasileiros de Endocrinologia e Metabologia, [S.l.], v. 42, n. 6, p. 413-421, dez. 1998. MATTAR, R.; MAZO, D. F. C. Intolerância à lactose: mudança de paradigmas com a biologia molecular. Revista da Associação Médica Brasileira, [S.l.], v. 56, n. 2, p. 230-236, 2010. ROPELLE, E. R.; PAULI, J. R.; CARVALHEIRA, J. B. C. Efeitos moleculares do exercício físico sobre as vias de sinalização insulínica. Motriz, Rio Claro, v. 11, n. 1, p. 49-55, 2005.
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