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TEMA 2 MÓDULO 1

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AULA 2
MÓDULO 1
Norma Culta e Variação Linguística
Variação linguística: o que é?
A língua sofre variações ao longo do tempo, conforme o espaço geográfico, a estrutura social e a situação ou o contexto de uso. Isso significa dizer que uma língua está sujeita a passar por modificações no tempo e no espaço a fim de satisfazer às necessidades de expressão e de comunicação, individuais ou coletivas, de seus usuários.
Isso é o que se chama variação linguística.
Podemos abordar a variação linguística sob diversas perspectivas. Se levarmos em conta uma situação de comunicação qualquer, teremos alguns elementos que vão apontar para variedades no uso da língua.
Essas perguntas evidenciam que nossa fala pode variar de acordo com a situação ou com o contexto, conforme o falante e as pessoas que ouvem (interlocutores), o assunto tratado ou a intenção da mensagem. Perceba que a variação linguística corresponde a diferentes ocorrências de uma mesma língua.
Tipos de variações linguísticas
Sem nos preocuparmos muito com classificações técnicas e exaustivas, próprias da Sociolinguística, podemos dizer que a variação linguística pode ser de, pelo menos, três tipos:
Abordaremos cada um desses tipos a seguir.
Variação regional
Variações da língua numa perspectiva geográfica, originando os regionalismos. Manifestam-se, principalmente, pelo sotaque e por palavras ou expressões utilizadas pelos falantes de determinada região. Um exemplo desse tipo de variação são os falares ou dialetos.
Veja a diferença entre alguns falares no Brasil:
Êta que esse curso é bem arretado!
Caraca! Esse curso é muito maneiro!
Nossinhora! Esse curso é bom demais da conta, sô!
Bah, esse curso é tri!
As diferentes designações no Brasil para um mesmo referente ou aspecto da realidade é outro exemplo de variação linguística na dimensão geográfica: macaxeira no Nordeste, mandioca em São Paulo e aipim no Rio de Janeiro correspondem à mesma raiz utilizada na culinária nacional.
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Rio de Janeiro X São Paulo
O professor Luís Cláudio Dallier explora mais essas diferenças entre as cidades do Rio de Janeiro e São Paulo.
Não podemos afirmar que determinada região do país fala “o português mais correto”. Tal afirmação é falsa, pois o que há são variações da língua portuguesa.
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Exemplo
A pronúncia do cearense ou do carioca, por exemplo, não é errada ou certa, mas, simplesmente, o modo próprio de articular os sons numa determinada comunidade linguística.
Sendo o português uma língua falada por diversas nações, em diferentes continentes, é interessante lembrar que a língua também varia de um país para outro, tanto na fala quanto na escrita. Ainda que o Novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa procure padronizar a grafia das palavras, há alguns aspectos na escrita que são peculiares em Portugal e outros no Brasil.
Variação de Registro
Variações relacionadas com modalidades expressivas adotadas por um mesmo falante ou segmento social em função do contexto, do interlocutor e das expectativas sociais.
De acordo com Coseriu (1980, p. 110-111), os registros linguísticos, ou estilos, são diferentes porque as situações e os interlocutores diferem muito, bem como as expectativas sociais, influenciadas pela cultura. Por isso, podemos perceber que, além dos registros individuais, há aqueles que expressam a identidade de grupos profissionais ou biológicos (homens, mulheres, jovens, crianças).
Os registros ou estilos se classificam em pelo menos três tipos:
Grau de formalismo
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Modo
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Sintonia
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Variação Social
As diferentes formas de falar marcam os grupos sociais ou, até mesmo, a faixa etária de determinado conjunto de pessoas. Ao ouvir alguém falando “percurá” (no lugar de procurar), “iorgute” (em vez de iogurte), “os hôme” (e não os homens) ou “pra mim fazer” (no lugar de para eu fazer), certamente você associará esse falante a um grupo social com baixa ou nenhuma escolaridade.
A falta de domínio da língua padrão, prestigiada socialmente, é um indicador de pertencimento a determinado grupo social.
As gírias usadas por um falante podem revelar também a que grupo social e à qual faixa etária ele pertence. Do mesmo modo, os jargões técnicos podem indicar a atividade profissional de quem os utiliza.
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Saiba mais
Ao ouvir expressões típicas do juridiquês ou do economês, por exemplo, você deve concluir que os falantes são adultos, com alta escolaridade e pertencentes a determinado grupo profissional.
A variação em função do nível social e da escolaridade foi muito bem retratada pelo poeta modernista Oswald de Andrade (1890-1954) no poema sugestivamente intitulado Vício na fala:
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Vício na fala
(Oswald de Andrade)
Para dizerem milho dizem mio
Para melhor dizem mió
Para pior pió
Para telha dizem teia
Para telhado dizem teiado
E vão fazendo telhados
Note que o poema apresenta construções da língua portuguesa que são típicas de falantes de classes sociais menos escolarizadas, revelando pronúncias contrárias à ortoepia, ou seja, distintas do que a norma gramatical determina. As pronúncias fora da norma gramatical, no entanto, não impedem a comunicação e muito menos a construção dos telhados.
Embora se trate de uma variedade linguística desprestigiada socialmente, o poema não estigmatiza essa variante linguística, pois sugere uma valorização do trabalho das pessoas mais simples com o verso final: “E vão fazendo telhados”.
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Módulo1
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Conceito2 / 3
A linguagem da Internet
Além das variações linguísticas que você acabou de conhecer, também é importante prestar atenção às alterações que a língua portuguesa apresenta nos meios digitais.
Com a Internet e os diversos recursos para escrever e falar usando um computador ou celular, surge uma variedade linguística que recebeu o nome de internetês.
Algumas características da variedade linguística na Internet são:
Abundância de siglas e abreviaturas não convencionais, dando mais agilidade e velocidade à escrita.
Criação de palavras novas e uso de gírias, com mais liberdade para expressar novos conceitos ou adaptar termos de outras línguas.
Estrangeirismos, usando e incorporando termos de outra língua, frequentemente do inglês.
Uso de caracteres especiais (@, #) e emoticons (ou emojis) para adequação aos códigos utilizados em meios digitais ou como alternativa para expressar emoções e intuitos.
Integração ou hibridismo entre escrita, sons, imagens e outras linguagens (hipertexto, por exemplo) para maior expressividade.
A informalidade e a irreverência da linguagem na Internet acabam se distanciando da formalidade da língua que utilizamos nos documentos, nos livros, na escola ou nas relações mais formais no trabalho. Por isso mesmo, haverá inadequação no uso da língua quando escrevermos um trabalho acadêmico ou redigirmos um e-mail na empresa em que trabalhamos com a informalidade ou alguma característica do internetês.
Algumas pessoas acham que o uso despreocupado da língua portuguesa na Internet, em relação às normas gramaticais, seria um tipo de deformação que contribuiria para um empobrecimento linguístico e cultural. Quer saber o motivo por trás desse pensamento?
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Resposta
A invasão de palavras inglesas, ligadas à informática e à Internet, é vista como ameaça à língua portuguesa, levando os usuários a incorporarem expressões e valores culturais estrangeiros que redundariam em prejuízo à cultura nacional e local.
Conforme diz Saldanha (2001, p. 35), deve-se ter o cuidado de não se impor um único registro da língua, elegendo-se determinada variação ou modalidade linguística padrão para a Internet, nem tampouco se fechar temerariamente a qualquer tipo de contribuição linguística vinda de fora.
Valer-se criteriosamente da contribuição de outras línguas é, na verdade, o recomendável nessa questão; reconhecendo-se, dessa forma, uma prática histórica que ocorre no seio da língua portuguesa em relação a línguas como o grego, o italiano, o francês e outras mais desde muito tempo.
Sobre textos na Internet, Bechara fala:
A Internet, pela sua especificidade,exige ou propicia um tipo de texto especial. Também aqui a inadequação consiste em querer redigir um texto qualquer fora da Internet como se fora para ela, ou vice-versa. Todo texto – na Internet ou não –, como toda expressão linguística, deve estar adequado às ideias, ao interlocutor e às circunstâncias.
(BRECHARA, 2000, n. p.)
Constatar que a língua varia, seja em seu uso na Internet ou na diversidade de espaços e situações comunicativas, deve nos levar a reconhecer a legitimidade das diferentes linguagens e evitar o preconceito ou a estigmatização de falares, dialetos ou qualquer variedade linguística. Ao mesmo tempo, precisamos reconhecer que a língua aprendida na escola constitui a norma para comunicação e convívio no ambiente acadêmico e profissional, além daqueles espaços e das interações sociais em que a língua padrão é a mais adequada.
No próximo módulo, você conhecerá algumas características da língua padrão, também chamada norma culta, além de refletir sobre seu uso nas situações em que ela é necessária.
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