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Bioética e administração hospitalar

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1
BIOÉTICA E ADMINISTRAÇÃO HOSPITALAR 
ELMA ZOBOLI1 
 
Ao se levar em conta a razão de ser dos hospitais, fica patente a presença 
da ética no cotidiano da gestão destes serviços de saúde. É muito difícil separar a 
ética na assistência da ética na administração hospitalar, já que a proposta primária 
dos serviços de saúde é cuidar das pessoas e este cuidado pode ser afetado, 
positivamente ou negativamente, pelas decisões administrativas. 
Nas situações de dilemas e conflitos, os administradores estão frente a 
duas opções: ou fomentam o processo decisório ético ou o retardam. A 
responsabilidade deste profissional, então, torna-se crucial, pois é por seu 
intermédio que os valores, os princípios, a visão e a missão do hospital são 
circulam pela organização e são colocados em prática. 
A sociedade não vê com bons olhos os hospitais que interpõem suas 
preocupações econômicas ou políticas como empecilho para a excelência técnica e 
ética da assistência prestada à comunidade. Ao contrário, espera-se que o hospital 
tenha uma atitude de zelo na defesa das pessoas e da saúde destas. Neste sentido, o 
administrador torna-se responsável por implementar políticas e ações 
administrativas que zelem pelos direitos de cidadania dos pacientes. 
E esta responsabilidade não se concretiza apenas pela edição de normas, 
rotinas e a implantação de sistemas de avaliação e controle, mas começa pela 
maneira como os funcionários e os profissionais são tratados pela organização, 
pois isto se reflete no tratamento dispensado aos pacientes. Se os valores 
organizacionais em destaque forem os econômicos, desconsiderando-se os 
profissionais e funcionários como sujeitos e encarando-os como meros recursos 
dentre os fatores de produção, é pouco provável que se alcance o respeito à 
autonomia dos pacientes nos hospitais. 
Nos últimos anos, uma nova modalidade de gerir os sistemas e a 
assistência médico-sanitária vem avançando a largos passos e impondo uma 
reviravolta qualitativa nas discussões e reflexões acerca da ética na administração 
 
1 Docente da Escola de Enfermagem da Universidade de São Paulo, Membro da COBI 
 2
dos serviços de saúde. É o cuidado administrado ou managed care, como é mais 
conhecido por sua nomenclatura em inglês. 
Com o managed care, o elemento chave da atenção à passa a ser a 
administração, que, intencionalmente, controla os recursos estendendo sua 
influência sobre as decisões clínicas dos profissionais de saúde, especialmente os 
médicos. Assim, as escolhas que, tradicionalmente, eram feitas exclusivamente 
dentro da relação clínica são explicitamente controladas por arranjos 
organizacionais, de natureza administrativa. 
A eticidade das práticas de managed care está diretamente relacionada aos 
objetivos e aos meios empregados na persecução deste. A proposta pode incluir, 
dentre outras, distintas metas como a qualidade da assistência a um único paciente, 
o benefício pessoal do paciente, a contenção de custos, o bem da sociedade ou o 
ganho de lucros. Alguns destes objetivos parecem eticamente sustentáveis e outros 
repreensíveis. 
Em outras palavras, a questão abarca como relacionar os reclames da 
economia e as demandas da ética. Em uma situação de conflito, a ética deveria ter 
precedência sobre a economia, mas não pode esquecê-la. Isto porque esta 
possibilita à sociedade conseguir propostas almejadas com eficiência, 
produtividade e otimização no uso dos recursos, muitas vezes escassos. Entretanto, 
a economia não deveria determinar os fins e os objetivos das vidas das pessoas e 
das sociedades e tampouco prescrever se estes são eticamente corretos ou não. 
As práticas de managed care devem ser reguladas por políticas públicas 
que assegurem padrões mínimos de conduta e de fidelidade a certos valores, como 
a obrigação fiduciária de agir no interesse do paciente; a importância da 
honestidade nas relações entre os profissionais de saúde e o paciente e o direito 
deste receber informações que possibilitem a escolha entre opções clinicamente 
razoáveis. É de suma importância não impor o fardo ético das práticas de managed 
care unicamente à consciência individual dos profissionais de saúde. 
Não se pode perder de vista que um dos objetivos centrais do managed 
care é criar uma forte pressão no sentido de puxar para baixo os custos 
assistenciais através de uma diminuição no passo da inovação médica, 
 3
particularmente a incorporação de intervenções de alto custo e alta tecnologia na 
prática clínica. Tentativas de limitar serviços usualmente nascem de boas 
intenções, como eliminar os desperdícios e diminuir o consumo da assistência 
médico-sanitária, tornando-a, assim, suportável para os orçamentos. No entanto, os 
estímulos para se gastar menos podem se tornar extremamente perigosos para os 
pacientes, principalmente se não houver a contra-partida equivalente para a 
melhoria da qualidade da assistência prestada. Na prática, geralmente, os 
incentivos desencorajam o uso dos recursos de maneira ampla, inclusive daqueles 
que podem beneficiar o paciente. 
O teste ético das ações administrativas na atenção à saúde deve tomar em 
conta o impacto destas sobre a assistência prestada aos pacientes e à prática clínica 
dos profissionais de saúde. È preocupante que da forma como o managed care vêm 
sendo implementado, tem se observado o surgimento de conflitos éticos, pois a 
racionalização da prestação de serviços com base, unicamente, no custo, tem 
limitado o acesso aos procedimentos não só potencialmente benéficos, mas 
também aos imprescindíveis. 
Assim, é premente pautar a administração hospitalar por uma ética que se 
mostre capaz de harmonizar a excelência do cuidado em saúde com a excelência da 
organização, por meio do diálogo inclusivo e do manejo adequado de princípios e 
valores, como a honestidade, a autenticidade, a integridade, a coerência pessoal, a 
justiça e a equidade. 
 
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 
Childress J. Conscience and conscientious actions in the context of MCOs? 
Kennedy Institute of Ethics Journal 1997, 7: 403-411. 
Darr K. Patient-centered ethics for health services manegers. JHHRA. 1993, 16: 
197-216. 
Herranz G. El hospital como organismo ético. Vida Médica 1994, 46(4): 18-28. 
Malagón-Londoño G, Galán-Morera R, Pontón-Laverde G. Administración 
hospitalaria. Bogotá: Médica Internacional; 1996. 
Pellegrino ED. Managed care at the bedside: how do we look in the moral mirror? 
Kennedy Institute of Ethics Journal 1997; 7: 321-330. 
 4
Powers M. Managed care: how economic incentive reforms went wrong. Kennedy 
Institute of Ethics Journal 1997; 7: 353-360. 
Rodwin MA. Medicine, Money, and Morals: physicians’ conflicts of interest. New 
York: Oxford; 1993. 
Zoboli ELCP. Ética e administração hospitalar. 2ªed. São Paulo: Loyola / Centro 
Universitário São Camilo; 2004.

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