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www.cepea.esalq.usp.br • cepea@usp.br • 19 3429-8836 • PIRACICABA - SP 
O QUEBRA-CABEÇA DO PREÇO DA TERRA NO BRASIL 
 
 
Geraldo Barros1 
 
 
 “Buy land, they’re not making it any more” (Mark Twain, 1835/1910) 
 
A terra é um ativo historicamente polêmico, envolvendo fortes aspectos ideológicos, 
políticos, sociológicos além de econômicos e financeiros. No século XVIII, os fisiocratas –como 
François Quesnay - atribuíam à terra (natureza) a origem de toda riqueza (sendo a agricultura o 
mais importante setor econômico), que se distribuía de acordo com leis naturais (direito de 
propriedade). Adam Smith, na linha de Say, por outro lado, colocava a terra como um fator de 
produção, ao lado do trabalho e o capital. Para Ricardo, a terra teria de ser remunerada por causa 
de sua disponibilidade finita, tendo em conta sua qualidade. Marx, por seu turno, fazia uma 
concessão à terra, dando-lhe um lugar de destaque ao lado do trabalho: 
 
“O homem, ao produzir, só pode atuar como a natureza, isto é, mudando as formas da matéria. 
E mais. Nesse trabalho de transformação, é constantemente ajudado pelas forças naturais. O 
trabalho não é, por conseguinte, a única fonte dos valores de uso que produz, da riqueza 
material. (...) Conforme diz William Petty, o trabalho é o pai, 
mas a mãe é a terra”. 
(Marx, K. p. 118) 
 
Desde Ricardo, a terra é uma definidora de classe social indissociável da questão da 
distribuição da renda na sociedade e no meio rural em especial. No Brasil, essa associação ainda 
hoje é forte. Desde a aprovação do Estatuto da Terra em 1964, o número de beneficiários do 
programa de reforma agrária já deve estar se aproximando de um milhão e continua crescendo. 
Ainda assim, Ney & Hoffmann (2003) atribuíram às diferenças nas áreas dos empreendimentos 
rurais 10% em termos de importância na distribuição da renda das pessoas ocupadas na 
agricultura brasileira. À posição na ocupação (empregador, conta-própria ou empregado) 
associam-se outros 9,4%. Ganhando a propriedade da terra, a riqueza dos beneficiados vai 
evoluir de acordo com a evolução do seu preço, na media em eu ela tenha seu valor associado 
aos frutos (retornos) que venha a produzir ao conjunto daqueles que nela labutam. 
Analistas da atualidade ainda se esfalfam para interpretar corretamente o uso e o valor da 
terra. Desde que a idéia de custo de oportunidade foi criada elo suíço Frederich Von Wieser na 
sua obra “Valor Natural” em 1889, ficou claro que cada fator de produção teria um valor igual 
ou maior do que seu custo de oportunidade (mais alto valor em uso alternativo). Como um ativo, 
a terra pode proporcionar fluxos de renda líquida (esperada) periódicos, cujos valores 
capitalizados (atualizados) devem ser comparados. A alternativa (o fluxo de rendas) a ser 
escolhida (cana, por exemplo) é a que proporciona maior valor capitalizado. Esse valor 
capitalizado é o valor – por exemplo, maxiV - ou preço do ativo (terra). O custo de oportunidade 
será dado pelo segundo maior valor capitalizado que se possa obter de sua exploração (citros, por 
exemplo). 
 
1 Professor Titular e Coordenador Científico do CEPEA-USP 
 
 
 
 
 
www.cepea.esalq.usp.br • cepea@usp.br • 19 3429-8836 • PIRACICABA - SP 
Num outro instante qualquer, porém, a terra acha-se em uso para determinada finalidade 
(soja, por exemplo, que pode ter sido a melhor alternativa quando essa utilização teve início). 
Qual é então o valor dessa terra? É o valor capitalizado da melhor alternativa no corrente 
momento (algodão, por exemplo) - independentemente do uso (soja) que à terra esteja sendo 
dado. O preço da terra é o valor capitalizado com algodão. Caso algodão fosse a corrente 
atividade, o custo de oportunidade da terra seria o segundo maior valor capitalizado (cana, por 
exemplo). Nesse caso o preço da terra com algodão seria maior do que custo de oportunidade 
(valor da terra com cana). Ao valor da renda em excesso ao custo de oportunidade dá-se o nome 
de “renda econômica”. 
A terra (assim como os demais ativos do patrimônio) compõe a riqueza do produtor 
agropecuário. O objetivo do produtor deve ser o de maximizar sua riqueza, o que lhe garante 
maximização do seu bem-estar. Assim, deve explorar seu patrimônio – colocando-o em 
operação, ou seja, incorrendo em custos operacionais – de sorte a proporcionar receitas líquidas 
operacionais (em excesso aos custos operacionais) que satisfaçam aquele objetivo. 
Recomenda-se que ao avaliar o valor da terra proceda-se à determinação de dois valores 
auxiliares: o valor no uso corrente )( corV e o valor no melhor uso )( maxV , sendo: 

 



H
k
k
kii
ki
x
i
rE
RE
i
x
V
i
cor
V
0 )](1[
)(
)(
 (1) 
onde 
xiR receita líquida operacional (ROL) no período i com atividade x [receita total menos custo 
operacional (insumos e mão de obra)] menos remuneração do restante do patrimônio (máquinas, 
benfeitorias e culturas perenes, rebanho, etc.) no uso corrente (abaixo tratada como valor de 
arrendamento) 
ir taxa de desconto no momento i. 
iE operador da esperança matemática condicionada à informação disponível no momento i. 
 Além disso, determina-se 
 

 



H
k
k
kii
ki
y
i
rE
RE
i
y
V
i
V
0 )](1[
)(
)(max
 (2) 
 
 
onde 
yR é a ROL com a atividade y e que, por hipótese, resulta no maior valor capitalizado no 
período i. 
 O preço de mercado da terra (PT) será 
 
i
cor
V
i
VPT 
max
 
 
 Na prática é difícil separar a remuneração aos diferentes componentes do patrimônio, de 
sorte que abaixo, por simplicidade, analisam-se os preços da terra (”nua”) ignorando a 
distribuição da remuneração entre os vários ativos que o compõem. 
 Outro ponto que é freqüentemente mal abordado refere-se ao retorno à terra ( )terrar . É 
comum referir-se como sendo a relação entre R e preço (PT). Corretamente, porém, o retorno 
 
 
 
 
 
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(por período) à terra em qualquer momento será a soma da receita líquida operacional resultante 
da atividade atual mais o ganho ou perda de capital decorrente de oscilações no preço do 
momento anterior para o presente. (Nota-se que a receita operacional pode ser vista como os 
dividendos recebidos devido à propriedade do ativo). Ex post tem-se: 
 
iioper
i
ii
i
i gcr
PT
PTPT
PT
R
i
terra
r 




 1
1
1
)(
 
 
Espera-se que, em média, 

 rrterra , onde operr é o retorno operacional (com a atividade 
atual) e gc é o ganho de capital (devido à variação do preço de mercado). Qualquer combinação 
desses dois componentes do retorno à terra é possível. O produtor pode ter num período i um 
baixo operr na produção de citros, por exemplo, e um ganho elevado de capital face ao aumento 
da procura por terra para plantio de cana. O resultado pode ser um retorno satisfatório para a 
terra. Se, por hipótese, a terra, a partir de então, permanecer com esse preço elevado e, para 
simplificar, constante ( )0
 ji
gc
r para 1j , o produtor pode ter de passar a produzir cana ou 
vender sua terra. É interessante (e lamentável) notar que as normas do INCRA vedam aos 
beneficiários da reforma agrária a otimização do uso da terra2 ao coibir o plantio de cana em seus 
lotes, seja diretamente ou por arrendamento a terceiros, e a venda da terra3. 
Alterações não-antecipadas na renda, nos juros ou no preço de mercado da terra podem 
tornar rentável uma atuação dinâmica (especulativa) no mercado de terra, o que muitos 
produtores preferem não fazer. A regra é, como sempre, tentar “comprar na baixa e vender na 
alta”. Se espera-se um processo de valorização da terra, o produtor deverá considerar a 
possibilidade de vende-la – “realizando” o ganho de capital - no momento que se afigurar 
adequado, ou seja, quando: 
 
r
n
terra
rEn 1 
A terra poderá ser recomprada num próximo ciclo debaixa. 
Ao contrário o que parece acontecer com mais freqüência é o produtor vender na baixa e 
comprar na alta. Uma possível explicação estaria no fato de o produtor dispor de poupança na 
fase alta dos ciclos dos negócios, poupança essa que é usada para realizar investimento (compra 
de terra, veículos e máquinas em geral). Tais itens de investimento, na alta do ciclo, estão 
evidentemente mais caros. Quando vem a fase baixa do ciclo, o produtor pode ter necessidade de 
recursos, que obtém vendendo parte d seu patrimônio, que agora está desvalorizado. Ao fim de 
alguns ciclos, o produtor acha-se empobrecido. Evidentemente, a recomendação administrativa 
para essa “armadilha” é manter a poupança para uso em investimento na próxima fase de baixa. 
 
 
2 http://www.mda.gov.br/portal/index/show/index/cod/134/codinterno/14716 
3 Segundo art. 21 da Lei nº 8.629/93, nos instrumentos que conferem o título de domínio ou concessão de uso, os 
beneficiários da reforma agrária assumirão, obrigatoriamente, o compromisso de cultivar o imóvel direta e 
pessoalmente, ou através de cooperativas, e o de não ceder o seu uso a terceiros, a qualquer título, pelo prazo de 10 
(dez) anos. 
http://www.mda.gov.br/portal/index/show/index/cod/134/codinterno/14716
 
 
 
 
 
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A agricultura vai bem... e os agricultores? 
 
A agropecuária vem tendo um desempenho altamente elogiável seja pela produção 
eficiente de alimentos seja pela contribuição na geração de divisas que resultaram na eliminação 
do grande gargalo ao crescimento da economia que era representado pelos compromissos em 
moeda estrangeira. 
No tocante ao custo dos alimentos, a figura 1 mostra uma queda real de cerca de 60% de 
1989 a 2006. Ao mesmo tempo os preços recebidos pelos produtores caíram cerca de 20% para 
as lavouras e 60% para os produtos de origem animal. É preciso notar que no caso das lavouras a 
maior contribuição ao consumidor deu-se na década de 1980, a partir de quando os preços 
recebidos pelos produtores caíram 63% até 2006. 
 
 
Figura 1. Preços recebidos pelos produtores no Brasil e Índice de Custo de Alimentação em São 
Paulo, 1989/2006. 
Fonte: FGV e FIPE, cálculos do autor. 
 
 
Quanto à geração de divisas, a figura 2 mostra a evolução dos saldos comerciais do 
agronegócio e da economia brasileira como um todo para o período começando em 1994. Nota-
se que de 1995 a 2000, o Brasil apresentou déficits comerciais, enquanto o agronegócio em 
particular apresentava superávits entre dez e quinze bilhões de dólares por ano. Esses superávits 
continuaram a crescer nos anos 2000, no que o agronegócio foi acompanhado pelo restante da 
economia. Na década de 1990, caracterizada pelas terríveis crises financeiras nos países 
emergentes, essa contribuição foi essencial para a solvência do País. Atualmente, quando se 
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40
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1989 1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006
ANIMAL LAVOURAS CONSUMIDOR
 
 
 
 
 
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comemora a liquidação prática das obrigações externas do Brasil, é bom lembrar que o 
agronegócio de 1994 a 2006 gerou o equivalente a duzentos e setenta e três bilhões de dólares. 
 
Figura 2. Saldos comerciais do agronegócio e do Brasil, 1994/2007. 
Fonte: MDIC, CEPEA. 
 
 
Preços e Retornos da Terra 
 
Diante do comprovado sucesso é de se perguntar de que forma o produtor rural tem sido 
retribuído por essa contribuição à sociedade brasileira. Uma forma de verificar esse aspecto é 
examinar o que vem acontecendo com o principal item do patrimônio do produtor rural que é sua 
terra. Por exemplo, Barros et al (2007)4 avaliaram que na região Sul do Brasil a terra pode 
representar mais de 70% do patrimônio da propriedade rural. 
Vários autores se debruçaram sobre a questão do preço da terra no Brasil nas últimas 
décadas. Rahal (2003) revisa um grupo desses estudos. Sayad (1976) desvincula a terra de sua 
função de recurso produtivo e enfatiza a de ativo para reserva de valor, numa economia 
permeada pela insegurança no mercado financeiro. O direito conferido pela propriedade da terra 
ao crédito subsidiado também destaca-se na formação do preço. Pinheiro (1980) não encontrou 
evidências de que o preço da terá se associe à rentabilidade da agricultura: a elevação de preços 
que observou ele atribuiu a um processo especulativo relacionado ao “milagre brasileiro”. 
Rezende (1982) volta à temática do impacto de crédito subsidiado sobre o preço da terra: 
valorizando a terra e aumentando os custos, a política estava tornando a agricultura dependente 
do subsidio. Brandão & Rezende (1989) examinaram a influência de alguns fatores na formação 
do preço da terra. O subsidio do crédito tendia a ser capitalizado no valor da terra; preços 
 
4Barros, G.S.A C. et al. 2007. Gestão de Negócios Agropecuários. CEPEA-ESALQ/USP 
(monografia). www.cepea.esalq.usp.br/. 
(10.000)
(5.000)
-
5.000
10.000
15.000
20.000
25.000
30.000
35.000
40.000
45.000
50.000
1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007
AGRONEGÓCIO TOTAL
http://www.cepea.esalq.usp.br/
 
 
 
 
 
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recebidos e produtividade tinham efeito positivo sobre o preço da terra. Bacha (1989) também 
capta a influência dos preços recebidos e pagos, Brandão (1992) argumenta que o retorno via 
arrendamento supera o ganho de capital, com o que a hipótese da mera especulação ficaria 
prejudicada. O estudo de Rahal aponta os preços recebidos e pagos, o subsidio, a inflação, a 
infraestrutura e o ciclo econômico como fatores associados ao preço da terra. 
Observa-se que os estudos sobre os preços de terra para o Brasil tenderam a mover-se de 
interpretações baseadas em movimentos especulativos – ligados à inflação, a falhas nos 
mercados financeiros e distorções no crédito rural - para indicação de evidências de que o ativo 
reagia a preços e condições tecnológicas relacionados ao seu emprego como fator de produção. 
Nas considerações abaixo, relacionam-se, através de gráficos, preços da terra e seu valor 
de arrendamento a um conjunto de variáveis que parecem associar-se à duas primeiras. Trata-se 
de análise qualitativa, sem estimação de efeitos específicos e testes de significância estatística. A 
razão para não realização desses procedimentos é o reduzido número de observações – 17 – 
comparado com o número de variáveis potencialmente relevantes para a análise em apreço, 
agravada ainda pela necessidade de emprego de variáveis defasadas e diferenciação tendo em 
vista os requisitos estatísticos de estimação e teste. Entre os procedimentos empregados está o de 
comparar tendências de pares ou outros conjuntos de variáveis, de sorte a contornar oscilações 
de curtíssimo prazo, de pouco interesse nas análises. 
Como têm se comportado os preços da terra para lavouras no Brasil? Os preços médios 
de terra para lavouras no Brasil e, particularmente, em Mato Grosso e no Paraná são 
apresentados na figura 3 de 1977 a 2007. Nota-se que no Estado do Paraná as terras são mais 
valiosas: em torno de uma e meia a duas vezes a média nacional. As terras do Mato Grosso, por 
outro lado, ficaram em média de 1/3 a ½ da média nacional. Vale notar a instabilidade do preço 
da terra especialmente nos anos 1980 até o Plano Real – chama a atenção a alta havida por 
ocasião do Plano Cruzado (1986) e do Plano Real (1994). Impressiona também a estabilidade 
que adquire no que concerne a movimentos de curto prazo a partir desse Plano. Isso sugere que 
como instrumento de hedge contra a inflação, a terra era um ativo pouco eficiente. 
No que se segue foca-se mais nos anos recentes, a partir de 1989, ano que marcao fim de 
uma fase de grande apoio do setor público à agricultura, que continua, mas num nível bem 
menor5. Como mostra a figura 4, a partir da década de 1990, as terras de Mato Grosso passam 
por uma valorização mais forte, fenômeno que se acentua nos anos 2000, uma possível indicação 
de encerramento da fase da terra mais barata no Centro-Oeste. Em nível nacional, chamam a 
atenção dois picos no início dos anos 1990 (ainda resultados da instabilidade macroeconômica), 
seguidos de uma queda expressiva de preços e uma mudança de patamar para cima a partir de 
2003. 
 
 
 
5 Em apenas 2 anos (de 1987 a 1989) realizou-se um corte de 78% no programa de Abastecimento (que englobava a 
política de preços e estoques reguladores grãos, inclusive trigo, mais café e açúcar ). Entre esses mesmos 2 anos, o 
volume de crédito total à agricultura caiu 35,5%.Ver Barros (2000). 
 
 
 
 
 
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Figura 3. Preços de terra para lavouras, Brasil, Paraná e Mato Grosso, 1977/2007. (R$ de agosto 
de 1994) 
 
 
 
 
Figura 4. Índices de preços de terras para lavouras, Brasil, Paraná e Mato Grosso, 1989/2007. 
Fonte: FGV. 
0
1000
2000
3000
4000
5000
6000
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78
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81
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19
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19
85
19
86
19
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19
88
19
89
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19
91
19
92
19
93
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19
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19
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07
BR
MT
PR
 
 
 
 
 
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Na figura 5 estão: (a) o retorno operacional (rop) correspondente ao arrendamento – proxy 
para a renda líquida operacional - como percentual do preço da terra, (b) o retorno total sob 
formas de arrendamento e variação do preço da terra (rop + rgc ) e (c) o valor real da selic
6. Nota-
se que o arrendamento oscila entre 15% e 5%, ficando a maior parte do tempo abaixo de 10%. 
Entretanto, os retornos totais associados à terra são altamente variáveis: em 1991 e 1995 houve 
retorno negativo (–20%), enquanto em 1992 o ganho foi de 45%. Em média esse retorno total 
ficou entre 5% e 15%. Ao mesmo tempo a selic real média ficou entre 15% e 8%. Em média, 
porém, tanto a retorno total à terra como o arrendamento ficaram em torno de 9,5% (equivalendo 
ao simples arrendamento, indicando que em 17 anos a média de ganhos de capital foi próximo de 
zero), enquanto a selic real ficou em 12% ao ano. 
 
 
 
 
 
Figura 5. Preço e valor percentual de arrendamento de terra para lavouras e taxa de juros (selic) 
real Brasil, 1989/2007 (tendências). 
Fonte: FGV, cálculos do autor. 
 
 
A figura 6 compara as tendências do preço da terra, da área cultivada e da produtividade 
da terra (rendimento por hectare). É possível observar que tanto a área como o preço da terra 
apresentaram tendência de queda até os últimos anos da década de 1990, passando a seguir a 
 
6 Para uma revisão de estudos nos EUA, mostrando fraca interação entre preço e renda da terra , ver Flanders A. et 
al. 2004. 
 
-25
-20
-15
-10
-5
0
5
10
15
20
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30
35
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1989 1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006
rop+rgp rop selic
 
 
 
 
 
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aumentar. Nota-se, ademais que a queda do preço da terra na década de 1990 associa-se 
razoavelmente ao aumento em sua produtividade; ou seja, o preço apresenta relação positiva com 
a área (uma relação típica de demanda) e negativa com a produtividade7. Dessa forma, parece 
que, nos anos 1990, a expansão da área pressionava – via maior demanda - o preço da terra para 
cima, já a maior produtividade esfriava a demanda e contribuía para uma queda de preço. A 
partir dos anos 2000, a produtividade se 
estagna ou reflui e o aumento da produção passa a depender de mais terra, quando então os 
preços passam a crescer novamente. Ver na figura 7 que o crescimento da produção até 2000 se 
deu pelo aumento da produtividade com certo recuo da área. Depois de 2000 é a área que cresce, 
sinalizando, porém, para uma certa retração no bem no final do período. 
 
 
 
 
Figura 6. Índices de evolução da área, rendimento e preço da terra para lavouras, Brasil, 
1989/2006.(tendências). 
Fonte: FGV e IBGE, cálculos do autor. 
 
 
 
Pode-se dizer que a rentabilidade tem afetado o mercado de terra? Ou o preço da terra 
continua sob condições turbulentas que prevaleceram até o Plano Real? Mantoux em 1928 e 
Hicks em 1932 já falavam da possibilidade de inovações serem induzidas pelos preços e desde 
 
7 Uma relação negativa entre preço da terra e produtividade é estabelecida por Tabeau, A.et al. O argumento é que a 
degradação (não reposição de nutrientes) baixa a produtividade e reduz a oferta efetiva de terra, aumentando seu 
preço. 
0
20
40
60
80
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então essa hipótese tem sido testada por muitos autores sob muitas circunstâncias (Thirtle & 
Ruttan, 1987; Thirtle, Townsend & van Zyl, 1995). Em síntese, técnicas mecânicas levam a 
substituição de força humana por máquinas sob condições favoráveis de preços relativos. 
Analogamente, tecnologias biológico-químicas aumentam a produtividade média da terra, 
tornando-se mais atraentes quando a terra fica relativamente mais cara. Hayami & Ruttan (1985) 
argumentavam que o rápido crescimento da produtividade gerava-se por mudanças técnicas que 
facilitavam a substituição de fatores produtivos relativamente escassos por outros relativamente 
abundantes. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Figura 7. Índices de evolução da área cultivada, rendimento e produção de lavouras, Brasil, 
1989/2006. 
Fonte: FGV e IBGE, cálculos do autor. 
 
 
Na figura 8 apresentam-se as tendências dos preços da terra e dos insumos – fertilizantes, 
combustíveis e agrotóxicos –a partir de 1989. Nota-se que desde esse ano os preços de todos 
esses itens vêm caído em termos reais. Porém a queda do preço da terra é mais lenta e de mais 
curta duração, tendendo a se inverter de 1998/99. Uma possível interpretação é a de que, tendo o 
preço dos insumos sofrido ponderável queda, a produção passa a se expandir com redução 
relativa da demanda por terra (menor proporção terra/insumos por unidade produzida). A partir 
do final da década de 1990, os preços dos insumos se estabilizam ou começam a se levar 
moderadamente; aparentemente as dosagens por hectare atingiram o máximo em termos de 
rentabilidade e a tendência passa a ser aumentar a relação terra/insumos. Evidentemente o preço 
da terra reage. 
Fica agora a pergunta: o que tem provocado a expansão da área cultivada? A figura 9 
sugere que a cana e a soja são os puxadores no uso da terra. Na verdade, a partir da segunda 
metade dos anos 1990, a área crescia na proporção em era usada para essas duas atividades. 
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A figura 10 mostra a influência dos termos de troca por hectare (TT/ha) sobre a evolução 
do uso da terra para lavouras. Os termos de troca (TT) sãoobtidos pela divisão Figura 8. Preços 
reais da terra, combustíveis, agrotóxicos e fertilizantes.Brasil, 1989/2006 (tendências) 
Fonte: FGV, cálculos do autor. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Figura 9. Índices de evolução da área cultivada, arrendamento e preço da terra e percentagem da 
área ocupada com cana e soja., Brasil, 1989/2006. 
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Fonte: FGV e IBGE, cálculos do autor. 
dos preços recebidos pelos produtores pelo índice de preços pagos. TT é então multiplicado pelo 
índice de produtividade (rendimento) por hectare para obter TT/ha. Esse índice indica 
a rentabilidade por hectare cultivado. Essa rentabilidade teve tendência crescente até atingir seu 
pico no início da atual década, a seguir caiu e começa a se recuperar. Então, parece acontecer o 
seguinte: enquanto crescia, a rentabilidade estimulava a produção, a qual, face ao aumento mais 
rápido da produtividade, demandava menos terra; quando a produtividade se estabiliza o uso da 
terra volta a crescer e com ela seu preço (PT). 
 
 
Figura 10. Termos de troca por hectare, produtividade, área cultivada e preço da terra, Brasil, 
1989/2006 (tendências) 
Fonte: IBGE, FGV, cálculos do autor. 
 
 
A armadilha da produtividade 
 
As análises apresentadas apontam para um resultado irônico: o aumento da produtividade 
da terra – graças à adoção de novas técnicas e uso mais intensivo de insumos – acaba por 
desvalorizar a própria terra (ativo mais valioso do produtor rural). 
Há duas correntes de interpretação para essa observação. De um lado, está a teoria da 
adoção de inovação: movidos pela alteração dos preços relativos, os produtores passam a usar 
mais intensamente os recursos produtivos mais abundantes. Assim, na década de 1990, quedas 
importantes nos preços dos agroquímicos e combustíveis em relação ao preço da terra motivaram 
o uso mais intensivo desses insumos poupando a terra. Dados da FGV indicam que os preços 
relativos agroquímicos/terra e fertilizantes/terra cariam 90% entre 1989 e 2007. Os preços 
relativos combustíveis/terra caíram 75 % no mesmo período. Esses movimentos fizeram-se 
acompanhar de queda no valor real da terra, mas em intensidade menos acentuada: mais de 50% 
até o final da década de 1990 com recuperação de mais de 60% até 2007. Esse (final dos anos 
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90) é também o momento em que a produtividade atinge seu plateau. A partir de então não se 
conseguia novos aumentos de produtividade com o uso de insumos, significando poucas 
possibilidades de substituição de terra por insumos e, logo, uma retomada na demanda por (e no 
preço de) terra. 
 
 
 
Referências 
 
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Agricultura”.Estudos Econômicos.19(3):443-456. 
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In: Anais IAAE: 717-727. Buenos Aires. 
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Hopkins University Press. Baltimore. 
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