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IGREJAS E RELIGIOSIDADE NO BRASIL Me. Rogério Santos Ferreira GUIA DA DISCIPLINA 1 Igrejas E Religiosidade No Brasil Universidade Santa Cecília - Educação a Distância Igrejas e Religiosidade no Brasil Objetivo Favorecer o debate acerca da questão da religiosidade e a fé no contexto das igrejas, relacionando a igreja enquanto instituição social e sua importância no enfrentamento das questões sociais e econômicas. Debatendo e aprofundando os aspectos históricos das igrejas no Brasil. Refletindo sobre o fenômeno religioso e sua interface com as igrejas brasileiras. Conceituando religiosidade e fé. Estudando e problematizando as repercussões que a igreja opera na fé e na religiosidade da população brasileira. Problematizando a responsabilidade social das igrejas na difusão de ideais de partilha e de solidariedade e discutindo religião, igrejas e sua relação com a formação crítica da população relacionada com as expressões da questão social Introdução O debate no ambiente acadêmico é fundamental na medida em que favorece o processo de construção de conhecimento num viés crítico da realidade favorecendo um processo reflexivo. No contexto da relação entre fé e religiosidade é fundamental dialogar com os múltiplos aspectos que a religião aborda esta questão, bem como, debater e aprofundar as expressões religiosas Para tanto, compreender e rebater a formação histórica das igrejas e sua trajetória ao longo dos séculos é crucial para debater e aprofundar sua presença e influência na sociedade atual. A religiosidade no Brasil é algo inegável, pois é parte da cultura e da história deste país. A compreensão e o debate quanto as responsabilidades sociais, institucionais e relacionais que as organizações religiosas devem partilhar na sociedade, envolvem o processo de construção da humanidade numa perspectiva fraterna, solidária e ética. Sendo assim, na disciplina, o discente terá oportunidade de aprofundar, debater e compreender o processo de desenvolvimento da religiosidade brasileira e a influência das igrejas. 2 Igrejas E Religiosidade No Brasil Universidade Santa Cecília - Educação a Distância Dialogando com as múltiplas dimensões da fé e sua repercussão na vida cotidiana da população, estruturando o modo de viver em sociedade e a questão ética/moral religiosa Na disciplina, o discente terá oportunidade de aprofundar, debater e compreender a questão da religiosidade e as igrejas no Brasil. Para tanto dividimos nossa disciplina em nove temas que seguem: 1. Religiosidade – conceito, estrutura e influências 2. A religiosidade dos povos originários 3. A religião eurocêntrica no Brasil – processo histórico, estruturação e estabelecimento da Igreja Católica 4. Religiões de matriz africana - formação da identidade religiosa brasileira 5. As principais religiões contemporâneas – diversidade das igrejas brasileiras e suas ramificações 6. O poder, as igrejas e a massificação política – reflexões sobre a intensificação do fundamentalismo religioso Espero que todos aproveitem a disciplina numa perspectiva dialógica de construção de conhecimento na academia, espaço privilegiado de debate e do livre pensar. Prof. Me. Rogério Santos Ferreira 3 Igrejas E Religiosidade No Brasil Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 1. RELIGIOSIDADE – CONCEITO, ESTRUTURA E INFLUÊNCIAS “E como invocarei o meu Deus – meu Deus e meu Senhor -, se, ao invocá-lo, O invoco sem dúvida dentro de mim? E que lugar há em mim, para onde venha o meu Deus(...), Por conseguinte, não existiria, me Deus, de modo nenhum existiria, se não estivesse em mim (AGOSTINHO, 2015, p. 26) A religiosidade pode ser conceituada como uma relação intima com a divindade por meio da crença religiosa e das múltiplas formas de culto e de expressão da fé. Sendo um processo de conexão pessoal com Deus e sua mística, manifestada através da espiritualidade. (DREHER, 2016) Para ampliar o debate e relacionar com os desafios contemporâneos, faz-se necessário aprofundar a questão religiosidade e sua correlação com as religiões, na perspectiva de autores, filósofos e sociólogos que ao longo dos últimos séculos vem aprofundando e discutindo este fenômeno. Leitura do artigo científico - A religiosidade como elemento do desenvolvimento humano - Universidade Católica Dom Bosco (UCDB), Campo Grande, Mato Grosso do Sul, Brasil. Disponível em https://www.scielo.br/j/inter/a/5D44rZBWRJ5d8YCpX4GP83H/?format=pdf& lang=pt De acordo com o filósofo alemão Friedrich Schleiermacher (1768-1834), a religiosidade é o sentimento que pode ser explicitado no contato com o Absoluto, uma consciência que estrutura a religião e sua mística na concepção de Deus perante o universo. Sendo uma experiência transcendente que conecta o ser ao divino e reforça sua imensidão perante a humanidade. Schleiermacher afirma que “todo finito consiste apenas na determinação de seus limites que precisam ser como que recortados a partir do Infinito” Schleiermacher (1970, p. 30 ) Desse modo, a religião tem o papel de oferecer ao ser humano um modo de sentir no Universo um todo e não partes de seu conhecimento, ou causas https://www.scielo.br/j/inter/a/5D44rZBWRJ5d8YCpX4GP83H/?format=pdf&lang=pt https://www.scielo.br/j/inter/a/5D44rZBWRJ5d8YCpX4GP83H/?format=pdf&lang=pt 4 Igrejas E Religiosidade No Brasil Universidade Santa Cecília - Educação a Distância e consequência sobre as quais atua sua vontade simplesmente( SCHLEIERMACHER, 1970, p.30 apud CORTAT, 2018 p. 62 ) Sendo um momento em que a intuição do infinito e o sentimento do universo estão alocados em conjunto, transcendendo a razão e a emoção, numa experiência que acessa a fé no seu contexto mais profundo com o sagrado e o divino. A religiosidade pode ser conceituada como uma relação intima com a divindade por meio da crença religiosa e das múltiplas formas de culto e de expressão da fé. Sendo um processo de conexão pessoal com Deus e sua mística, manifestada através da espiritualidade. (DREHER, 2016) A conexão entre a humanidade e sua divindade numa esfera intuitiva e infinita, alimenta a religiosidade e dá sentido ao que não possui explicação racional. (DREHER, 2016) O relacionamento entre o homem e o sagrado é a busca de união e da pertença no que concerne ao significado existencial profundo. O teólogo suíço Karl Barth (1886-1968) vê a religiosidade como a crença no poder de Deus e na sua presença na vida humana. Para ele, é importante que a religiosidade seja vivida como um compromisso com Deus com a verdade e a justiça. A religiosidade deve ser expressa na concretude da vida em sociedade. Barth foi o destemido professor que enfrentou a realidade como ela está posta. Com sua coragem, colocou os homens da sua época à prova. Teólogo, pregador, profícuo escritor e professor de universidades, desceu do púlpito para as ruas, de onde trabalhou como Professor de Dogmática e Exegese do Novo Testamento em Münster e de 1930-1935 como Professor de Teologia Sistemática em Bonn. Em Bonn, emergiam as desigualdades e perseguições provocadas pelo terrível inimigo – o nazismo. (...) Barth lutou contra a desumanização, contra a tentativa de tolhimento da liberdade. Lutou contra a sectarização promovida pelo nazismo. A consciência de Barth é crítica (...) Barth sempre manifestou esse sentimento de desejo pela liberdade. Quando foi pastorear em Safenvil, no Cantão de Argóvia, os problemas sociais passam a frente dos problemas teológicos (SILVA;VIEIRA, 2021, p. 08-11) 5 Igrejas E Religiosidade No Brasil Universidade Santa Cecília - Educação a Distância Com isso, Barth estrutura sua fundamentação teológica da fé e da religiosidade num contextopolítico do surgimento e consolidação do nazismo na Alemanha e econômico/social de pobreza e desigualdade social. Ora, para o teólogo suíço, a mística da religiosidade enquanto vivência precisar estar estruturada como expressões do cristianismo na sua dimensão mais profunda relacionada com o amor, a partilha, a solidariedade e a igualdade. Sugerimos a leitura do artigo científico - Diversidade religiosa e direitos humanos: conhecer, respeitar e conviver - RIDH |Bauru, n. 4, p. 181-197, jun. 2015 – Disponível https://www3.faac.unesp.br/ridh/index.php/ridh/article/view/268/129 De acordo com o sociólogo Max Weber, ao desvelar o impacto que a religião tem de para alterar a ordem social, mediante a influência na economia, política, cultura entre outras dimensões da vida, consegue compreender a religiosidade numa perspectiva concreta do sistema econômico. Num dos seus livros mais proeminentes, "A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo", Weber reflete que a religião protestante foi crucial para o surgimento do modo de produção capitalista. Seu ensaio analisa a questão do protestantismo cristão e sua repercussão no desenvolvimento do modo de produção capitalista. o desenvolvimento da religiosidade fixada na figura de um redentor já pressupõe uma visão mais racional do mundo. O redentor é a ponte entre um plano supramundano e o plano terreno. Cristo era, ao mesmo tempo, Deus e homem. O anúncio de seu retorno funciona como garantia de futura boa sorte nesse mundo ou segurança de felicidade no outro. (...) Daí a importância dada por Weber às mudanças no cristianismo enquanto religião de salvação, trazidas a partir da Reforma Protestante, e seu impacto na formação de uma ética consoante ao espírito do capitalismo. (MARA, 2007, p. 02) Neste contexto a religiosidade oriunda das crenças e valores religiosos representa dimensão fundamental no universo da fé e do sagrado. Sendo um estado de espírito mediante a conexão com a entidade divina, buscando a aceitação através da mística da vivência transcendente e da racionalidade da escolha cristã, assumindo princípios e preceitos desta “entidade" divina e una. (FILHO, 2014) https://www3.faac.unesp.br/ridh/index.php/ridh/article/view/268/129 6 Igrejas E Religiosidade No Brasil Universidade Santa Cecília - Educação a Distância A dualidade entre o Deus homem e o divino garante a segurança quanto a dar sentido ao mundo e a vida, bem como, conforto espiritual e segurança na vida além da “morte”. Para Émile Durkheim segundo Gabatz&Zeferino a religião deve ser compreendida como, A concepção entabulada por Émile Durkheim acerca da religião é sublinhada por uma ideia bastante simples. Ela seria um produto social criado por indivíduos que agem e pensam de forma coletiva, interagindo e estabelecendo condições para que a vida em conjunto continue a existir. É por isso que a religião é capaz de retratar a vida pressupondo a compreensão do fenômeno religioso a partir de suas múltiplas manifestações em suas inumeráveis formas de vivência coletiva. (GABATZ&ZEFERINO, 2017, p. 340) A religiosidade enquanto manifestação da relação intima com o divino, nas reflexões de Durkheim perpassa pela interação coletiva religiosa. Fortalecendo a vinculação entre os afins, relacionada com o credo e sua conexão com Deus. Atribuindo sentido quando em comunidade num processo dialético quanto ao seu contato individual e coletivo. Construído enquanto produção humana relacional. Ler o artigo científico - RELIGIÃO, TOLERÂNCIA E ESTADO NA FILOSOFIA POLÍTICA DE SPINOZA - Problemata: R. Intern. Fil. v. 8. n. 2(2017), p. 237-253ISSN 2236- 8612 – Link: https://periodicos.ufpb.br/index.php/problemata/article/view/31969/18396 Para Baruch Espinosa, filosofo holandês, sua concepção de Deus é contrária a crença de uma espécie de entidade, oculta e transcendente, que atua conforme os seus desígnios e sua vontade suprema. Estrutura suas reflexões na negação da ideia de um Deus autocrático, que dirige e decide quanto a tudo e a todos, e que se refugia em algum ponto distante do universo celestial. Para o filósofo a crença em Deus está alicerçado no princípio de que Deus e Natureza são a mesma coisa. Pois, https://periodicos.ufpb.br/index.php/problemata/article/view/31969/18396 7 Igrejas E Religiosidade No Brasil Universidade Santa Cecília - Educação a Distância Spinoza, em sua explanação, entende Deus como sendo a base de sustentação e a condição subjacente da realidade como um todo. Um Deus imbuído da mais clara evidência e certeza racional, que se auto constitui como sendo a causa de si e de todas as coisas; que se move em função de uma necessidade que lhe é intrínseca e gerada de sua própria essência, a rigor: por meio de processos mecânico-causais e de leis invariáveis, responsáveis pelo total funcionamento e ordenamento do mundo. (https://www.revistabula.com/6172-o-conceito-de-deus-em-baruch-spinoza/ ) Ora, para Espinosa conhecer verdadeiramente é desvendar a causa primária. A causa de tudo é Deus. A reflexão leva o filósofo a conclusão lógica de que Deus e a Natureza são idênticos. “Tenho uma concepção de Deus e da natureza totalmente diferente da que costumam ter os cristãos mais recentes, pois afirmo que Deus é a causa imanente, e não externa, de todas as coisas. Eu digo: Tudo está em Deus; tudo vive e se movimenta em Deus”. E acrescenta, dizendo: “Por ajuda de Deus, entendo a fixa e imutável ordem da natureza, ou a cadeia de eventos naturais. (…) A partir da infinita natureza de Deus, todas as coisas (…) decorrem dessa mesma necessidade, e da mesma maneira, que decorre da natureza de um triângulo, de eternidade a eternidade, que seus três ângulos são iguais a dois ângulos retos”. Baruch Spinoza (https://www.revistabula.com/6172-o-conceito-de-deus-em-baruch-spinoza/ ) Sendo que na totalidade mais abrangente, a ação na natureza é imbuída de inteligência, e, portanto, racional e geométrica, não transcendente. A religiosidade instrumento da religião no contato com o altíssimo, para Baruch Spinoza, requer do “crente” ou “fiel” a compreensão da existência de Deus a partir da racionalidade, da relação entre causa e feito, do contato profundo tendo em vista a relação causal com a natureza, suas repercussões e sua lógica na vida. Por fim, múltiplos pensadores abordaram a religiosidade e sua interface com a religião, debatendo e questionando pressupostos dogmáticos imutáveis. Avançando ao longo dos séculos na crítica ao poder central das igrejas autoatribuídas ao “mandato divino”. Sendo assim, importante delimitar que a religiosidade enquanto experiência de intimidade profunda com a fonte de toda a existência, desperta no individuo ou no grupo, um estado de espírito, subsidiadas por crenças, símbolos e rituais, que contribuem na conexão com algo ou alguém maior do que si para encontrar sentido ou razão na complexidade e no caos da vida em sociedade. https://www.revistabula.com/6172-o-conceito-de-deus-em-baruch-spinoza/ https://www.revistabula.com/6172-o-conceito-de-deus-em-baruch-spinoza/ 8 Igrejas E Religiosidade No Brasil Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 2. A RELIGIOSIDADE DOS POVOS ORIGINÁRIOS a concentração da população indígena nas aldeias controladas pelos missionários, uma vez que favoreceu a proliferação de doenças e epidemias. Catequese e civilização eram os princípios centrais de todo o projeto de colonização, justificando o aldeamento, a localização próxima das aldeias, o uso da mão de obra nativa e a obrigatória administração jesuítica. A ação era resultado imediato da atuação da Companhia de Jesus, a qual, criada por iniciativa de Inácio de Loyola em 1534 — pouco antes de Paulo III, em sua bula papal, reconhecer os índios como homens verdadeiros, à imagem de Deus e, portanto, merecedoresde catequização —, representava o modelo de ordem religiosa nascida no contexto da Reforma católica. Enquanto na Europa os jesuítas procuravam reforçar o ensino do catolicismo, no contexto dos “achamentos” passaram a correr mundo, expandindo a “verdadeira fé” por meio da catequese. Por isso ganharam o título de “soldados de Cristo”, e se comportariam tal qual um exército de batina, sempre combatendo os demônios e prontos a defender as almas. (SCHAWARCZ & STARLING, 2015, p. 56) No período do descobrimento e colonização o território que viria a ser chamado de Brasil era ocupado por povos originários (indígenas). O restrito conhecimento daqueles povos devido fundamentalmente a ausência da escrita, foi coletado por estudiosos que vieram com os portugueses mediante a história oral. Como exemplo podemos mencionar o alemão Hans Staden que conviveu com estes povos por volta de 1540/50. Suas obras detalharam o modo de viver, a cultura, religiosidade, história e arqueologia. Importante ressaltar que segundo estudos o povoamento da América do Sul foi datado por volta de 18 a 20.000 a.C. Como fonte de pesquisa sugerimos o artigo - História, etnia e nação: o índio e a formação nacional sob a ótica de Caio Prado Júnior. • Link: http://www.scielo.org.ar/img/revistas/memoam/n16-1/html/n16- 1a04.htm http://www.scielo.org.ar/img/revistas/memoam/n16-1/html/n16-1a04.htm http://www.scielo.org.ar/img/revistas/memoam/n16-1/html/n16-1a04.htm 9 Igrejas E Religiosidade No Brasil Universidade Santa Cecília - Educação a Distância Em 1500, Pedro Álvares Cabral e suas naus chegam ao Brasil, a população foi estimada em torno de (05) cinco milhões. No universo dos povos originários foram identificados dois povos importantes: Os tupis e os guaranis e para os “descobridores” portugueses o encontro com uma “nova humanidade” foi reveladora. Schwarcz & Starling (2015) dimensionam este encontro, E o que se “achou” foi uma suposta “nova” humanidade. Afinal, logo depois do feito dos portugueses começaram a correr várias teorias curiosas sobre a origem dos índios: Para celso, em 1520, acreditava que eles não descendiam de Adão e que eram como os gigantes, as ninfas, os gnomos e os pigmeus. Cardano, em 1547, apostava que os indígenas surgiam como uma geração espontânea, a partir da decomposição de matéria morta, como as minhocas e os cogumelos. (2015, p.36) O mito do “encontro pacífico” entre os índios e os portugueses foi cunhado mediante a Carta de Pero Vaz. Quando na verdade a relação foi de violência, destruição da cultura e da religiosidade e desagregação social. Pero Vaz assim relatou o que viu: todos pardos, todos nus, sem nenhuma cousa que cobrisse suas vergonhas […] E Nicolau Coelho lhes fez sinal que pousassem os arcos. E eles os depuseram. Mas não pôde deles haver fala nem entendimento que aproveitasse, pôr o mar quebrar na costa. Somente deu-lhes um barrete vermelho e uma carapuça de linho que levava na cabeça, e um sombreiro preto. E um deles lhe deu um sombreiro de penas de ave, compridas, com uma copazinha de penas vermelhas e pardas, como de papagaio. “Carta ao rei d. Manuel, dando notícias do descobrimento da terra de Vera Cruz, hoje Brasil, pela armada de Pedro Álvares Cabral”, manuscrito de Pero Vaz de Caminha, 1º de maio de 1500, formato 29,6 x 21,2 cm, 14 f. Arquivo Nacional Torre do Tombo, Lisboa” apud (SCHAWARCZ & STARLING, 2015, p. 37) Neste processo de relação entre os portugueses e os povos originários é fundamental compreender a tônica que foi de violência e genocídio. No relato de Caminha quanto a primeira celebração da sexta-feira da Paixão de Cristo, foi descrito como um momento de aceitação pacífica do cristianismo. Por fim, na sexta-feira, primeiro dia de maio, procurou-se rio acima o melhor lugar para arvorar uma cruz: que ela fosse vista de todos os lados. Feita a cruz e a divisa 10 Igrejas E Religiosidade No Brasil Universidade Santa Cecília - Educação a Distância da monarquia, o padre Frei Henrique rezou a missa que foi seguida, ainda segundo Caminha, por “cinquenta ou sessenta deles assentados todos de joelho”, junto com os demais membros da esquadra. Na hora do Evangelho, quando todos se ergueram com as mãos levantadas, o escrivão anotou bem o mesmo gesto dos nativos. Chegaram até a comungar, espantou-se: “Um deles, homem de cinquenta ou 55 anos, ficou ali com aqueles que ficaram […] E andando assim entre eles, falando-lhes, acenou com o dedo para o altar, e depois mostrou o dedo para o céu, como se lhes dissesse alguma coisa de bem; e nós assim o tomamos! “Carta ao rei d. Manuel, dando notícias do descobrimento da terra de Vera Cruz, hoje Brasil, pela armada de Pedro Álvares Cabral”, manuscrito de Pero Vaz de Caminha, 1º de maio de 1500, formato 29,6 x 21,2 cm, 14 f. Arquivo Nacional Torre do Tombo, Lisboa” apud (SCHAWARCZ & STARLING, 2015, p. 38) Sendo assim, compreender o mito da “conquista” pacífica e de levar a “civilização e a religião de Deus aos selvagens” é fundamental para delimitar a religiosidade dos povos originários e o processo de aculturação religiosa realizada pelos jesuítas no Brasil. Sugerimos a leitura do artigo - Colonização, imigração e a questão racial no Brasil - GIRALDA SEYFERTH é professora do Departamento de Antropologia, Museu Nacional – UFRJ. Link: https://www.revistas.usp.br/revusp/article/download/33192/35930 Pois, o relato de Caminha inaugurava, também, outro mito recorrente da natureza pacífica, de uma conquista sem violência, uma comunhão que unificou a todos, num mesmo coração e religião. Estranho processo que definiria o Brasil como um país da ausência de conflito, como se os trópicos — por algum milagre ou dádiva — tivessem o poder de aliviar tensões e inibir guerras. Na Europa as lutas dividiam e sangravam nações; já no Novo Mundo, se guerras existiam, elas eram, segundo os relatos europeus, só internas. O encontro havia de ser sem igual e entre iguais, por https://www.revistas.usp.br/revusp/article/download/33192/35930 11 Igrejas E Religiosidade No Brasil Universidade Santa Cecília - Educação a Distância mais que o tempo mostrasse o oposto: genocídio de um lado, conquista de outro (SCHAWARCZ & STARLING, 2015, p. 38) Com isso, aprofundar a religiosidade dos povos indígenas quando da chegada dos portugueses ao Brasil, requer necessariamente relacionar com a violência cultural e religiosa imposta pelos “colonizadores”. A colonização levou à exploração do trabalho indígena e foi responsável por muita dizimação. É ainda na conta da colonização que se deve pôr o recrudescimento das guerras indígenas, que, se já existiam internamente, eram agora provocadas também pelos colonos, os quais faziam aliados na mesma velocidade com que criavam inimigos. Havia nesse contexto índios aldeados e aliados dos portugueses, e índios inimigos espalhados pelos “sertões”. A diferença entre “índios amigos” e “gentios bravos” gerava por sua vez uma divisão clara na legislação indigenista. Aos índios aliados era garantida a liberdade em suas aldeias, e deles dependia o sustento e a segurança das fronteiras. Para esses “índios amigos e das aldeias” o processo de contato se dava sempre de forma semelhante: em primeiro lugar eram “descidos” — transportados de suas aldeias no interior para perto das povoações portuguesas —, para depois serem catequizados, civilizados, e assim transformados em “vassalos úteis” (SCHAWARCZ & STARLING, 2015, p. 55) Pois, quando da intensificação do processo de extrativismo das riquezas naturais a relação entre os portugueses e os índios foi mais pacífica e colaborativa, posteriormente, com o aumento de imigrantes portugueses e a substituição do extrativismo pela agricultura como principal atividade econômica o tensionamento eos conflitos aumentaram. Leia o artigo - A Voz de Deus em Outros Povos1A Religiosidade Indígena na América Latina como Desafio ao Cristianismo Link: http://198.211.97.179/periodicos_novo/index.php/ET/article/view/1865/154 9 Ora, a posse da terra pelos portugueses mediante invasões e a utilização do índio como mão-de-obra escrava desencadeou conflitos que culminaram com o genocídio da http://198.211.97.179/periodicos_novo/index.php/ET/article/view/1865/1549 http://198.211.97.179/periodicos_novo/index.php/ET/article/view/1865/1549 12 Igrejas E Religiosidade No Brasil Universidade Santa Cecília - Educação a Distância população originária. Pois, a ampliação da posse da terra promoveu a expulsão dos índios de seu território. Neste contexto, é fundamental aprofundar a lógica e a posição da religião nas aldeias. O papel de intermediário com o mágico e o sagrado era executado pelo pajé ou xamã, pois, eram responsáveis por se comunicar com os seres espirituais e por realizar cerimônias e rituais para curar doenças, proteger as colheitas e garantir a harmonia entre os seres humanos e os seres espirituais. Sendo um líder supremo sobre aldeias e distritos hierarquicamente subordinados. A religião dos povos indígenas brasileiros era baseada na crença na existência de seres espirituais que habitavam o mundo natural ao seu redor, como animais, plantas, rios e montanhas. Esses seres eram vistos como sagrados e eram reverenciados em cerimônias e rituais. A religiosidade perpassava todos os setores da vida da tribo. Rituais religiosos que eram oferecidos no plantio e na caça, nos conflitos e guerras, casamentos e lutos. Os povos indígenas também acreditavam na existência de um ser supremo, que era responsável pela criação do mundo e que governava sobre todos os outros seres espirituais. Esse ser supremo era conhecido por diferentes nomes nas diferentes culturas, como Tupã, entre os Guarani, e Anhangá, entre os Tupinambá. Além da divindade suprema, muitos grupos indígenas acreditavam em espíritos, tanto benevolentes quanto malévolos, que podiam influenciar a vida dos seres humanos. Muitas vezes, esses espíritos eram associados a elementos da natureza, como rios, montanhas e animais. Os rituais religiosos dos povos indígenas também variavam bastante. Alguns grupos praticavam a dança e o canto como uma forma de entrar em contato com os espíritos ou de agradecer pela colheita ou pela caça bem-sucedida. Outros realizavam cerimônias de sacrifício de animais ou ofereciam presentes aos espíritos para obter sua proteção e bênção. 13 Igrejas E Religiosidade No Brasil Universidade Santa Cecília - Educação a Distância Vistos pelos representantes da Igreja cristã como práticas de mera idolatria e sacrifício humano, seus rituais eram entendidos como falsas religiões, praticadas por essas gentes adoradoras do diabo e que nada tinham a ver com a mensagem de salvação e sacrifício do filho de Deus, que teria redimido a humanidade. Por isso mesmo, tais cultos deveriam ser considerados retrocessos inaceitáveis; perigos potenciais e traiçoeiros para a população recém-conquistada (SCHAWARCZ & STARLING, 2015, p. 47) Um traço característico da religiosidade dos povos originários no Brasil era e antropofagia. Que estava relacionado com o canibalismo e a vida após a morte, o ritual antropofágico tinha por objetivo reverenciar os espíritos dos antepassados mortos nos conflitos entre as tribos. Quando as batalhas terminavam os prisioneiros eram mortos, a antropofagia tinha caráter espetacular, com a participação da aldeia em festa com danças e encenações. Neste contexto os colonizadores reativaram, Conceito antigo, mas reativado naquele contexto pela Coroa aliada à cristandade, a “guerra justa” seria aplicada aos povos que, sem o conhecimento da fé, nem ao menos poderiam ser tratados como infiéis. Eram várias as causas que legitimavam a “guerra justa”: a recusa à conversão, hostilidades contra vassalos e aliados portugueses, a quebra de pactos e a antropofagia. Considerada uma “ofensa à lei natural”, a antropofagia era passível de guerra, entendida como um direito e um dever para salvar almas que seriam sacrificadas ou comidas. (SCHAWARCZ & STARLING, 2015, p. 55) Com a chegada dos colonizadores europeus, a religião dos povos originários brasileiros sofreu com a perseguição e violência pelo catolicismo enquanto religião hegemônica na Europa. A proibição dos rituais e cultos indígenas deveu-se ao fato de serem consideradas demoníacas pelos missionários e jesuítas cristãos. Vistos pelos representantes da Igreja cristã como práticas de mera idolatria e sacrifício humano, seus rituais eram entendidos como falsas religiões, praticadas por essas gentes adoradoras do diabo e que nada tinham a ver com a mensagem de salvação e sacrifício do filho de Deus, que teria redimido a humanidade. Por isso 14 Igrejas E Religiosidade No Brasil Universidade Santa Cecília - Educação a Distância mesmo, tais cultos deveriam ser considerados retrocessos inaceitáveis; perigos potenciais e traiçoeiros para a população recém-conquistada (SCHAWARCZ & STARLING, 2015, p. 47) No censo demográfico de 2010 o contingente populacional indígena era de 900.000 em todo território nacional, evidenciando o massacre e o genocídio que esta etnia sofreu ao longo dos últimos cinco séculos com o advento da “colonização”. Para finalizar, elementos religiosos destes povos ainda sobreviveram ao contexto histórico violento e violador imposto pelos portugueses e os missionários cristãos, contribuindo para a formação da religiosidade brasileira. 15 Igrejas E Religiosidade No Brasil Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 3. A RELIGIÃO EUROCÊNTRICA NO BRASIL – PROCESSO HISTÓRICO, ESTRUTURAÇÃO E ESTABELECIMENTO DA IGREJA CATÓLICA “A costa atlântica, ao longo dos milênios, foi percorrida e ocupada por inumeráveis povos indígenas. Disputando os melhores nichos ecológicos, eles se alojavam, desalojavam e realojavam, incessantemente. Nos últimos séculos, porém, índios de fala tupi, bons guerreiros, se instalaram, dominadores, na imensidade da área, tanto à beira-mar, ao longo de toda a costa atlântica e pelo Amazonas acima, como subindo pelos rios principais, como o Paraguai, o Guaporé, o Tapajós, até suas nascentes. Configuraram, desse modo, a ilha Brasil (...) com seus costumes e crenças religiosas” (RIBEIRO, 1995, p. 30) A influência da Igreja Católica na Europa do século quinze era determinante, tanto no que concerne as questões sociais quanto relacionada com o poder político e bélico, participando ativamente na decisão da descoberta e colonização no novo mundo. A colonização do Brasil pelos portugueses em 1500 trouxe consigo a disseminação da religião católica no país. A Igreja Católica foi a religião oficial do Estado português durante séculos e, por isso, teve um papel central na colonização, na formação da cultura, na organização social e econômica. Atuando não apenas como instituição religiosa, mas também como um importante braço do poder colonial. Ler o artigo - ASPECTOS SÓCIO HISTÓRICOSDA IGREJA CATÓLICA NA AMAZÔNIA - Projeto História, São Paulo, v. 68, pp.319-351,Mai.-Ago., 2020 Link: https://revistas.pucsp.br/index.php/revph/article/view/46593/pdf Sérgio Buarque de Holanda, que em sua obra "Visão do Paraíso: Os Motivos Edênicos no Descobrimento e Colonização do Brasil" destaca que a Igreja Católica era vista como uma importante aliada na colonização do Brasil, uma vez que a conversão dos https://revistas.pucsp.br/index.php/revph/article/view/46593/pdf 16 Igrejas E Religiosidade No Brasil Universidade Santa Cecília - Educação a Distância indígenas ao cristianismo era vistacomo um passo fundamental para a "civilização" desses povos e aos interesses da igreja. (HOLANDA,1994) Os colonizadores foram acompanhados pelos missionários da Igreja Católica, sendo responsáveis por converter os povos originários ao cristianismo, uma vez que a Igreja Católica era a religião oficial de Portugal na época. Para isso, os missionários fundaram diversas missões pelo Brasil, onde ensinavam aos índios a doutrina cristã, a língua portuguesa e os costumes europeus. A empresa escravista, fundada na apropriação de seres humanos através da violência mais crua e da coerção permanente, exercida através dos castigos mais atrozes, atua como uma mó desumanizadora e deculturadora de eficácia incomparável. Submetido a essa compressão, qualquer povo é desapropriado de si, deixando de ser ele próprio, primeiro, para ser ninguém ao ver‐se reduzido a uma condição de bem semovente, como um animal de carga; depois, para ser outro, quando transfigurado etnicamente na linha consentida pelo senhor, que é a mais compatível com a preservação dos seus interesses. O espantoso é que os índios como os pretos, postos nesse engenho deculturativo, consigam permanecer humanos. Só o conseguem, porém, mediante um esforço inaudito de auto reconstrução no fluxo do seu processo de desfazimento. Não têm outra saída, entretanto, uma vez que da condição de escravo só se sai pela porta da morte ou da fuga. Portas estreitas, pelas quais, entretanto, muitos índios e muitos negros saíram; seja pela fuga voluntarista do suicídio, que era muito frequente, ou da fuga, mais frequente ainda, que era tão temerária porque quase sempre resultava morta (RIBEIRO, 1995, p. 32) Nas primeiras décadas da colonização, os missionários enviados pela Igreja Católica enfrentaram dificuldades para se estabelecer, devido à falta de infraestrutura e à resistência dos povos indígenas. No entanto, a chegada de mais padres e o apoio da Coroa Portuguesa contribuíram para a consolidação da presença da Igreja Católica no Brasil. A Igreja Católica desempenhou um papel importante na organização da sociedade colonial, contribuindo para a criação de instituições como as irmandades religiosas, que reuniam os fiéis para a prática de obras de caridade e devoção. Desempenhando um papel fundamental no processo de aculturação dos povos indígenas através de missões e da 17 Igrejas E Religiosidade No Brasil Universidade Santa Cecília - Educação a Distância fundação de dioceses. Construindo igrejas, capelas, escolas e hospitais. A religião católica tornou-se predominante no Brasil com reflexos até os dias atuais. (SCHAWARCZ & STARLING, 2015) No entanto, a colonização do Brasil não foi pacífica. Os povos originários foram frequentemente escravizados e subjugados pelos colonizadores, o que gerou conflitos e rebeliões em várias regiões do país. se esses índios ferozes são postos a ser vir nas lavras e lavouras, não entra aqui nenhuma injustiça clamorosa, “pois he para os sustentarmos a eles e aos seus filhos, como a nós e aos nossos” , o que, bem longe de significar cativeiro, constitui para aqueles infelizes inestimável serviço, pois aprendem a arrotear a terra, a plantar, a colher, enfim a trabalhar para o sustento próprio, coisa que, antes de amestrados pelos brancos, não sabiam fazer. É esse, segundo seu critério, o único meio racional de se fazer com que cheguem os índios a receber da luz de Deus e dos mistérios da sagrada religião católica, o que baste para sua salvação eterna, pois, observa, “em vão trabalha quem os quer fazer anjos antes de os fazer homens” (HOLANDA, 1995, p.127) A realidade do processo de cristianização do Brasil envolveu a imposição violenta da fé, bem como a supressão das culturas e tradições nativas. Isso levou a uma série de abusos e violências cometidos contra os povos indígenas. Os missionários jesuítas muitas vezes impuseram a conversão religiosa por meio da força, incluindo castigos físicos, confinamento e privação de alimentos. Além disso, eles frequentemente desvalorizavam as crenças e costumes dos povos indígenas, considerando-os inferiores e bárbaros. (HOLANDA,1995) Sugerimos a leitura do artigo - Colonialidade do poder e a violência contra os povos indígenas - Revista PerCursos. Florianópolis, v. 16, n. 32, p. 103 – 120,set./dez. 2015 Link: https://www.periodicos.udesc.br/index.php/percursos/article/view/198472461 6322015103/pdf_33 https://www.periodicos.udesc.br/index.php/percursos/article/view/1984724616322015103/pdf_33 https://www.periodicos.udesc.br/index.php/percursos/article/view/1984724616322015103/pdf_33 18 Igrejas E Religiosidade No Brasil Universidade Santa Cecília - Educação a Distância O antropólogo brasileiro Darcy Ribeiro, em seu livro "O povo brasileiro: A formação e o sentido do Brasil", também descreveu a violência cometida pelos missionários jesuítas. Ele afirma que, além dos castigos físicos, os missionários frequentemente separavam as crianças indígenas de suas famílias e comunidades, forçando-as a viver em internatos missionários onde eram proibidas de praticar suas próprias culturas e tradições. (RIBEIRO,1995) A empresa escravista, fundada na apropriação de seres humanos através da violência mais crua e da coerção permanente, exercida através dos castigos mais atrozes, atua como uma mó desumanizadora e deculturadora de eficácia incomparável. Submetido a essa compressão, qualquer povo é desapropriado de si, deixando de ser ele próprio, primeiro, para ser ninguém ao ver‐se reduzido a uma condição de bem semovente, como um animal de carga; depois, para ser outro, quando transfigurado etnicamente na linha consentida pelo senhor, que é a mais compatível com a preservação dos seus interesses. O espantoso é que os índios como os pretos, postos nesse engenho deculturativo, consigam permanecer humanos. Só o conseguem, porém, mediante um esforço inaudito de auto reconstrução no fluxo do seu processo de desfazimento. Não têm outra saída, entretanto, uma vez que da condição de escravo só se sai pela porta da morte ou da fuga. Portas estreitas, pelas quais, entretanto, muitos índios e muitos negros saíram; seja pela fuga voluntarista do suicídio, que era muito frequente, ou da fuga, mais frequente ainda, que era tão temerária porque quase sempre resultava morta (RIBEIRO, 1995, p. 32) Darcy Ribeiro, em sua obra, denuncia ainda que a violência física e psicológica imposta pelos missionários eram cruéis e desumanas, punindo-os com castigos físicos e submetendo-os a um processo de aculturação violento e opressivo. Outra questão fundamental para compreender o impacto da religião católica realizado pelos missionários, foi a destruição de lugares sagrados e objetos rituais dos povos indígenas. Isso resultou em uma perda significativa de patrimônio cultural e espiritual para esses povos. (GONÇALVES, 2001) Por fim, os abusos e violências cometidos pelos missionários cristãos e jesuítas durante a colonização do Brasil foram significativos e deixaram um legado duradouro de trauma e perda cultural para os povos indígenas. É importante reconhecer e confrontar essa história, a fim de que possamos compreender melhor o legado deixado por esses 19 Igrejas E Religiosidade No Brasil Universidade Santa Cecília - Educação a Distância personagens controversos na história do nosso país, para avançar em direção à justiça e reconciliação com os povos originários do Brasil. Assista o vídeo - Panorama | O Brasil antes de 1500 – TV Cultura Link https://www.youtube.com/watch?v=tYhcx8FPPyk&t=18s Na estruturação do catolicismo como religião predominante colonial, seus interesses eram múltiplos e incluíam desde a conversão dos povos indígenas ao cristianismo até a manutenção do poder político e econômico. A colonização eestabelecimento da Igreja Católica no Brasil foi fundamental para a formação da cultura e da sociedade brasileira. Desempenhando um papel central na organização da sociedade colonial e na formação da identidade brasileira, tendo influenciado diversos aspectos da cultura brasileira ao longo dos séculos. É importante que a realidade violenta, cruel e desumana perpetrada pelos portugueses e pelos missionários e padres católicos sejam estudadas e debatidas, a fim de que possamos compreender melhor o papel da Igreja Católica na história do nosso país, bem como, reparar o erro histórico contra a população indígena. https://www.youtube.com/watch?v=tYhcx8FPPyk&t=18s 20 Igrejas E Religiosidade No Brasil Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 4. RELIGIÕES DE MATRIZ AFRICANA – FORMAÇÃO DA INDENTIDADE RELIGIOSA BRASILEIRA No começo dos tempos estava tudo em formação. Lentamente os modos de vida na Terra foram sendo organizados, mas havia muito a ser feito. Toda vez que Orunmilá vinha do Orum para ver as coisas do Aiê, era interrogado pelos orixás, humanos e animais. Ainda não fora determinado qual o lugar para cada criatura e Orunmilá ocupou-se dessa tarefa. Exu propôs que todos os problemas fossem resolvidos ordenadamente. Ele sugeriu a Orunmilá que a todo orixá, humano e criatura da floresta fosse apresentada uma questão simples, para a qual eles deveriam dar resposta direta. A natureza da resposta individual de cada um determinaria seu destino e seu modo de viver. Orunmilá aceitou a sugestão de Exu. E assim, de acordo com as respostas que as criaturas davam, elas recebiam um modo de vida de Orunmilá, uma missão. Enquanto isso acontecia, Exu, travesso que era, pensava em como poderia confundir Orunmilá. Orunmilá perguntou a um homem: “Escolhes viver dentro ou fora?” “Dentro”, o homem respondeu. E Orunmilá decretou que doravante todos os humanos viveriam em casas. De repente, Orunmilá se dirigiu a Exu: “E tu, Exu? Dentro ou fora?”. Exu levou um susto ao ser chamado repentinamente, ocupado que estava em pensar sobre como passar a perna em Orunmilá. E rápido respondeu: “Ora! Fora, é claro”. Mas logo se corrigiu: “Não, pelo contrário, dentro”. Orunmilá entendeu que Exu estava querendo criar confusão. Falou, pois, que agiria conforme a primeira resposta de Exu. Disse: “Doravante vais viver fora e não dentro de casa”. E assim tem sido desde então. Exu vive a céu aberto, na passagem, ou na trilha, ou nos campos. Diferentemente das imagens dos outros orixás, que são mantidas dentro das casas e dos templos, toda vez que os humanos fazem uma imagem de Exu ela é mantida fora (PRANDI, 2000, p. 22) No processo de colonização brasileiro povos do continente africano foram escravizados e enviados para trabalhar nas plantações de açúcar e outras atividades econômicas. Esses escravos vinham de várias regiões da África com cultura, tradições e religiões diversas. Estima-se que entre os séculos XVI e XIX, cerca de 4 milhões de africanos foram trazidos à força para o país. A maioria deles vindos das regiões que hoje vinham da costa leste africana (oceano Índico), particularmente Moçambique, bem como, Angola e Congo. 21 Igrejas E Religiosidade No Brasil Universidade Santa Cecília - Educação a Distância O envio de escravos ao Brasil remonta a necessidade de exploração das terras recém-descobertas. A mão de obra escrava foi utilizada para a exploração do pau-brasil e posteriormente da cana-de-açúcar e outros produtos agrícolas. A “herança rural” e o passado colonial, marcado pela mão-de-obra negra escravizada e a grande propriedade monocultora, surgem numa análise sobre os desafios e a violência enfrentados pelos e contra os negros de origem africana, trazidos à força ao longo da história brasileira em capítulos como “Toma lá dá cá: o sistema escravocrata e a naturalização da violência. (ALVES, 2017, p. 425) Ao chegarem ao Brasil, esses escravos foram forçados a abandonar suas tradições religiosas e adotar o cristianismo, que era a religião oficial imposta pelos colonizadores. No entanto, muitos escravos conseguiram manter suas crenças e práticas religiosas, misturando elementos da religião africana com o cristianismo. Sugerimos a leitura da interessante reportagem: Comunidade Tradicional de Terreiro – Batuque do RS e o Racismo Religioso Link: https://www.sindjus.com.br/comunidade-tradicional-de-terreiro-batuque- do-rs-e-o-racismo-religioso/12607/ A religiosidade dos africanos escravizados no Brasil colonial era caracterizada por uma mistura de crenças, rituais e práticas religiosas africanas e cristãs. Essa mistura resultou no surgimento de várias religiões sincréticas, como o Candomblé, a Umbanda e a Quimbanda. Representando importante parte da cultura e da história afro-brasileira numa perspectiva de resiliência e resistência diante da opressão e da violência. (RIBEIRO,1995) Os negros adaptavam seus rituais religiosos e cultuavam seus orixás e entidades de forma velada, escondidos dos olhares dos senhores de engenho e autoridades da época. Eles se reuniam em segredo nas senzalas e criavam suas próprias irmandades e confrarias para manter suas crenças vivas. Desde sua formação em solo brasileiro, as religiões de origem negra têm sido tributárias do catolicismo. Embora o negro, escravo ou liberto, tenha sido capaz de manter no Brasil dos séculos XVIII e XIX, e até hoje, muito de suas tradições religiosas, é fato que sua religião se enfrentou desde logo com uma séria contradição: a própria estrutura social e familiar às quais a religião dava sentido aqui https://www.sindjus.com.br/comunidade-tradicional-de-terreiro-batuque-do-rs-e-o-racismo-religioso/12607/ https://www.sindjus.com.br/comunidade-tradicional-de-terreiro-batuque-do-rs-e-o-racismo-religioso/12607/ 22 Igrejas E Religiosidade No Brasil Universidade Santa Cecília - Educação a Distância nunca se reproduziram. As religiões dos bantos, iorubás e fons são religiões de culto aos ancestrais, que se fundam nas famílias e suas linhagens. (PRANDI, 1995, p.67) Com o passar dos anos, essas práticas religiosas foram se misturando com elementos do catolicismo, dando origem a religiões afro-brasileiras, como o Candomblé, a Umbanda e o Batuque. A partir do final do século XIX, essas religiões passaram a ser mais abertamente praticadas, mas ainda enfrentaram perseguição e discriminação. A religiosidade dos africanos escravizados no Brasil colonial era caracterizada por uma mistura de crenças, rituais e práticas religiosas africanas e cristãs. Essa mistura resultou no surgimento de várias religiões sincréticas, como o Candomblé, a Umbanda e a Quimbanda. Representando importante parte da cultura e da história afro-brasileira numa perspectiva de resiliência e resistência diante da opressão e da violência. (RIBEIRO,1995) Entre as religiões de matriz africana o Candomblé foi amplamente difundida, oriunda da África Ocidental, especificamente na região da atual Nigéria. Essa religião envolve a adoração de divindades chamadas orixás, que são considerados ancestrais divinizados. Os escravos encontraram semelhanças entre os orixás e os santos católicos e, assim, conseguiram manter suas crenças africanas enquanto praticavam o cristianismo. Relacionado com o Candomblé, O candomblé não é um único culto religioso, mas antes uma série de cultos estreitamente aparentados, à semelhança de outras religiões que possuem diversas denominações, com algumas diferenças nos preceitos teológicos e no ritual. Os vários templos e vertentes do candomblé são normalmente agrupados em “nações”, sendo a mais conhecida e disseminada nos meios de comunicação a chamada nação gueto. Juntamente com outras nações como efã, ijexá, nagô e mina-nagô, ela pertence ao tronco conhecidocomo iorubá, com origens africanas localizadas em partes da Nigéria e do Benim. Existem ainda candomblés de nações angola e jeje, entre outras menos conhecidas. O nome candomblé está historicamente associado aos cultos da Bahia, mas religiões semelhantes recebem outras denominações regionais, como xangô em Pernambuco, tambor de mina no Maranhão e batuque no Rio Grande do Sul. O termo candomblé, contudo, tem se 23 Igrejas E Religiosidade No Brasil Universidade Santa Cecília - Educação a Distância disseminado para outras regiões do Brasil e para outros países à medida que a religião ganha mais adeptos. Até por conta dessas variações, algumas pessoas preferem simplesmente denominar esse conjunto de cultos com o nome de religião dos orixás, deixando de lado as diferenças entre eles. ( http://www.museuafrobrasil.org.br/pesquisa/indice-biografico/manifestacoes-culturais/candomble ) Os praticantes do Candomblé acreditam em orixás, que são deuses africanos, e realizam cerimônias para honrar esses deuses. Conta a mitologia iorubana que o universo foi criado por Olodumare, mas, terminada a criação, ele se afastou e deixou que os orixás dessem forma ao mundo e o governassem. Por conta disso, embora os devotos do candomblé reconheçam a existência de um Deus supremo da criação, não é a ele que prestam homenagem em seus cultos de grande complexidade, sutileza teológica e beleza, mas justamente a essas outras divindades mais próximas, participantes ativos do dia a dia das atividades mundanas. (http://www.museuafrobrasil.org.br/pesquisa/indice- biografico/manifestacoes-culturais/candomble) Quanto ao batuque é originário do Rio Grande do Sul estruturado pelos escravos daquela região no século XIX. O batuque, também conhecido como nação, é uma religião afro-brasileira que tem sua origem no Rio Grande do Sul em meados do século XIX. A matriz cultural jêje- nagô (iorubá) foi que exerceu maior influência na formação da religião dos negros no Estado. Contudo, a maioria das pessoas escravizadas trazidas à região era de origem banto. A religião foi organizada em subgrupos denominados nações. Cada nação se difere da outra a partir de aspectos relacionados a suas ritualísticas, entretanto, todas elas cultuam doze orixás, a saber: Bará, Ogum, Iansã ou Oiá, Xangô, Obá, Odé, Otim, Ossanha, Xapanã, Oxum, Iemanjá e Oxalá. A história batuqueira vive, ainda hoje, um dilema que é a imprecisão de dados sobre suas origens. Não há registros sobre as primeiras casas de culto, nem datas, nem locais. Provavelmente, os primeiros templos foram fundados na primeira metade do século XIX em Rio Grande ou Pelotas, locais de grande concentração de trabalhadores escravizados. (CANDATEN,2019, p.01) Sendo uma expressão da religiosidade de matriz africana que no Brasil é conhecida como candomblé e no Rio Grande do Sul como Batuque. http://www.museuafrobrasil.org.br/pesquisa/indice-biografico/manifestacoes-culturais/candomble http://www.museuafrobrasil.org.br/pesquisa/indice-biografico/manifestacoes-culturais/candomble http://www.museuafrobrasil.org.br/pesquisa/indice-biografico/manifestacoes-culturais/candomble 24 Igrejas E Religiosidade No Brasil Universidade Santa Cecília - Educação a Distância Sugerimos como leitura a reportagem - Religiões de matriz africana: quais são e porque sofrem preconceito Por Maria Luísa Pereira Oliveira – Politize! Link: https://www.politize.com.br/religioes-de-matriz-africana/ No processo de construção da religiosidade de matriz africana ao longo do século XX foi estruturado a umbanda enquanto expressão da mistura de elementos sincréticos das religiões africanas, indígenas, orientais e europeias (catolicismo e o kardecismo). Reunindo elementos do candomblé e do kardecismo foi fundado por volta do primeiro quarto Na Umbanda os praticantes da Umbanda acreditam em espíritos que podem ajudar ou prejudicar as pessoas e realizam cerimônias para se comunicar com esses espíritos. Com a umbanda, acrescentaram-se à vertente africana as contribuições do kardecismo francês, especialmente a ideia de comunicação com os espíritos dos mortos através do transe, com a finalidade de se praticar a caridade entre os dois mundos, pois os mortos devem ajudar os vivos sofredores, assim como os vivos devem ajudar os mortos a encontrarem, sempre pela prática da caridade, o caminho da paz eterna, segundo a doutrina de Kardec. A umbanda perdeu parte de suas raízes africanas e se espraiou por todas as regiões do país, sem limites de classe, raça, cor. (PRANDI, 1995, p.69) do século XX, No Estado do Rio de Janeiro, cerca de 1920, foi fundado o primeiro centro de umbanda, que teria nascido como dissidência de um kardecismo que rejeitava a presença de guias negros e caboclos, considerados pelos espíritas mais ortodoxos como espíritos inferiores. De Niterói, esse centro foi se instalar numa área central do Rio em 1938. Logo seguiu-se a formação de muitos outros centros desse espiritismo de umbanda, os quais, em 1941, com o patrocínio da União Espírita Brasileira, promoveram no Rio o Primeiro Congresso de Umbanda, congresso ao qual compareceram umbandistas de São Paulo. (PRANDI, 1995, p.68) Atualmente, as religiões afro-brasileiras são reconhecidas e valorizadas como parte importante da cultura e história do país, mas sofrem preconceito, violência e intolerância religiosa. A influência das religiões de matriz africana na religiosidade brasileira é notável e pode ser vista em diversos aspectos da cultura e da sociedade. Possuem características https://www.politize.com.br/religioes-de-matriz-africana/ 25 Igrejas E Religiosidade No Brasil Universidade Santa Cecília - Educação a Distância próprias, mas compartilham elementos como a crença em divindades e entidades espirituais, a prática de rituais e oferendas, e a valorização da natureza e dos antepassados. Lei que cria o Dia Nacional das Tradições das Raízes Africanas Link: https://www.camara.leg.br/noticias/933101-lei-que-cria-o-dia-nacional- das-tradicoes-das-raizes-africanas-e-sancionada/ Expressa em diversas manifestações culturais brasileiras, como a música, a culinária, as festas e as artes. As músicas e danças africanas, por exemplo, influenciaram o samba, o maracatu, o axé e outros ritmos brasileiros, enquanto a culinária afro-brasileira contribuiu para a formação da gastronomia brasileira, com pratos como o acarajé, o vatapá e o feijão tropeiro. Como exemplo, a música interpretada por Maria Bethânia que dialoga com o processo de escravidão e do sofrimento do povo africano e suas expressões religiosas. Canção - Yáyá Massemba Que noite mais funda calunga No porão de um navio negreiro Que viagem mais longa candonga Ouvindo o batuque das ondas Compasso de um coração de pássaro No fundo do cativeiro É o semba do mundo calunga Batendo samba em meu peito Kawo Kabiecile Kawo Okê arô okê Quem me pariu foi o ventre de um navio Quem me ouviu foi o vento no vazio Do ventre escuro de um porão Vou baixar no seu terreiro Epa raio, machado, trovão Epa justiça de guerreiro Ê semba ê Samba á O Batuque das ondas Nas noites mais longas Me ensinou a cantar Ê semba ê https://www.camara.leg.br/noticias/933101-lei-que-cria-o-dia-nacional-das-tradicoes-das-raizes-africanas-e-sancionada/ https://www.camara.leg.br/noticias/933101-lei-que-cria-o-dia-nacional-das-tradicoes-das-raizes-africanas-e-sancionada/ 26 Igrejas E Religiosidade No Brasil Universidade Santa Cecília - Educação a Distância Samba á Dor é o lugar mais fundo É o umbigo do mundo É o fundo do mar Ê semba ê Samba á No balanço das ondas Okê aro Me ensinou a bater seu tambor Ê semba ê Samba á No escuro porão eu vi o clarão Do giro do mundo Que noite mais funda calunga No porão de um navio negreiro Que viagem mais longa candonga Ouvindo o batuquedas ondas Compasso de um coração de pássaro No fundo do cativeiro É o semba do mundo calunga Batendo samba em meu peito Kawo Kabiecile Kawo Okê arô okê Quem me pariu foi o ventre de um navio Quem me ouviu foi o vento no vazio Do ventre escuro de um porão Vou baixar no seu terreiro Epa raio, machado, trovão Epa justiça de guerreiro Ê semba ê Samba á É o céu que cobriu nas noites de frio minha solidão Ê semba ê Samba á É oceano sem fim, sem amor, sem irmão É kaô quero ser seu tambor Ê semba ê Samba á Eu faço a lua brilhar o esplendor e clarão Luar de Luanda em meu coração Umbigo da cor Abrigo da dor Primeira umbigada Massemba Yáyá Yáyá Massemba é o samba que dá Vou aprender a ler Pra ensinar meus camaradas Vou aprender a ler Pra ensinar meus camaradas 'Prender a ler Pra ensinar meus camaradas Vou aprender a ler Pra ensinar meus camaradas 27 Igrejas E Religiosidade No Brasil Universidade Santa Cecília - Educação a Distância Vou aprender a ler Pra ensinar meus camaradas 'Prender a ler Pra ensinar meus camaradas Vou aprender a ler Compositores: Joao Roberto Caribe Mendes / Capinan Por fim, a influência das religiões de matriz africana, oriunda da resistência e da luta dos escravos, é significativa sendo uma prova da resiliência e da importância da identidade cultural. 28 Igrejas E Religiosidade No Brasil Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 5. AS PRINCIPAIS RELIGIÕES CONTEMPORÂNEAS – DIVERSIDADE DAS IGREJAS E SUAS RAMIFICAÇÕES “Nós, brasileiros, marcamos certos espaços como referências especiais da nossa sociedade. A casa, onde moramos, comemos e dormimos – vivemos, enfim... A rua, onde trabalhamos e ganhamos a luta pela vida. A cada um desses espaços, onde convivemos com parentes, amigos e colegas de trabalho, devemos somar um outro, não menos referencial e crítico. Quero referir-me ao espaço do outro mundo, essa área demarcada por igrejas, capelas, ermidas, terreiros, centros espíritas, sinagogas, templos, cemitérios e tudo aquilo que faz parte e sinaliza as fronteiras entre o mundo em que vivemos e esse “outro mundo” onde, um dia, também iremos habitar. Esse mundo habitado por mortos, fantasmas, almas, santos, anjos, orixás, deuses, Deus, a Virgem Maria e Jesus Cristo, para onde todos vão e de onde ninguém retorna, ou pelo menos retorna com facilidade.”. DaMatta (1986, p. 72) O Brasil é um país diverso em termos religiosos, com várias ramificações religiosas atuando em todo o território. Dialogar com esta diversidade é compreender a sociedade brasileira na sua totalidade, bem como, os desafios e os aspectos religiosos que influem a população nas relações sociais, econômicas e políticas. “Nós, brasileiros, marcamos certos espaços como referências especiais da nossa sociedade. A casa, onde moramos, comemos e dormimos – vivemos, enfim... A rua, onde trabalhamos e ganhamos a luta pela vida. A cada um desses espaços, onde convivemos com parentes, amigos e colegas de trabalho, devemos somar um outro, não menos referencial e crítico. Quero referir-me ao espaço do outro mundo, essa área demarcada por igrejas, capelas, ermidas, terreiros, centros espíritas, sinagogas, templos, cemitérios e tudo aquilo que faz parte e sinaliza as fronteiras entre o mundo em que vivemos e esse “outro mundo” onde, um dia, também iremos habitar. Esse mundo habitado por mortos, fantasmas, almas, santos, anjos, orixás, deuses, Deus, a Virgem Maria e Jesus Cristo, para onde todos vão e de onde ninguém retorna, ou pelo menos retorna com facilidade.”. DaMatta (1986, p. 72) 29 Igrejas E Religiosidade No Brasil Universidade Santa Cecília - Educação a Distância Para tanto, será debatido e detalhado as principais igrejas e religiões e suas ramificações presentes na atualidade: Catolicismo: A Igreja Católica é uma das maiores e mais influentes instituições religiosas do planeta, com mais de um bilhão de membros. A sua influência se estende por várias áreas da sociedade, incluindo a política, a cultura e a educação. A Igreja Católica é fundamentada na vinda do filho de Deus ao mundo – Jesus Cristo. A teologia e a filosofia do catolicismo influenciaram profundamente a cultura ocidental. Os fundamentos teológicos da Igreja Católica se baseiam em vários pilares, incluindo a crença em um Deus único e trino, a doutrina da salvação pela graça divina, a crença na vida após a morte e no julgamento final. A Igreja Católica também enfatiza a importância dos sacramentos, especialmente a Eucaristia, que é vista como o centro da vida cristã. Além disso, a Igreja Católica também tem uma forte tradição filosófica que influenciou o pensamento ocidental. Pensadores como Santo Agostinho e São Tomás de Aquino foram importantes no contexto da reflexão filosófica e teológica no tocante a complexidade das questões humanas e sua ligação com o sagrado e espiritual. A filosofia católica tem enfatizado a importância da razão, da liberdade e da dignidade humana, bem como a necessidade de uma ética baseada na justiça e no amor ao próximo. Um avanço importante ao longo do século XX foi o estabelecimento da doutrina social da igreja, balizada no ensinamento de que a justiça e a solidariedade são valores cristãos fundamentais que devem orientar a ação humana. A Igreja Católica tem se envolvido ativamente em questões como a luta contra a pobreza e a defesa dos direitos humanos no contexto político e social. A análise do papel político da Igreja e da CNBB aponta, em primeiro lugar, para a complexidade da Igreja como instituição dotada de poder tradicional e, ao mesmo tempo, carismático, no sentido weberiano desses tipos ideais. Embora se constitua em fator de poder, a Igreja, diferentemente do passado, não busca exercê-lo de forma direta. (AZEVEDO, 2004, p. 118) 30 Igrejas E Religiosidade No Brasil Universidade Santa Cecília - Educação a Distância Um aspecto relevante da organização da Igreja Católica está relacionado com sua estrutura hierárquica. Sendo o Sumo Sacerdote – Papa o representante de Deus na terra herdeiro do trono de Pedro-apóstolo, considerado o líder espiritual máximo da Igreja, passando pelo colégio de cardeais, os bispos e sacerdotes diocesanos. Leitura do artigo - Para compreender a questão do “CATOLICISMO NO BRASIL CONTEMPORÂNEO” PROF. FLÁVIO MUNHOZ SOFIATI (UFG) Link: https://www.nerep.ufscar.br/pt_br/2021/05/31/catolicismo-no-brasil- contemporaneo/ No contexto do catolicismo foram fundadas ordens religiosas com sua própria organização, sempre submetidas ao poder papal, dedicam-se a missões na vida cotidiana: trabalhos de caridade, educação, meio ambiente, e imigrantes. Protestantismo: O protestantismo tem ganhado força no Brasil nas últimas décadas, com uma crescente diversidade de denominações e ramificações, incluindo igrejas pentecostais, batistas, presbiterianas, adventistas, entre outras. O protestantismo é um dos três principais ramos do cristianismo ao lado do catolicismo romano e das igrejas orientais ou ortodoxas. Essa categorização, muito ampla e abrangente, é a adotada por J. L. Dunstan (1980, p. 7) (...) protestantes seriam aquelas igrejas que se originaram da Reforma ou que, embora surgidas posteriormente, guardam os princípios gerais do movimento. Essas igrejas compõem a grande família da Reforma: luteranas, presbiterianas, metodistas, congregacionais e batistas. Estas últimas, as batistas, também resistem ao conceito de protestantes por razões de ordem histórica, embora mantenham os princípios da Reforma (MENDONÇA, 2005, p.50) Para a compreensão do contexto diverso do universo protestante será apresentado as principais correntes com suas especificidades: https://www.nerep.ufscar.br/pt_br/2021/05/31/catolicismo-no-brasil-contemporaneo/ https://www.nerep.ufscar.br/pt_br/2021/05/31/catolicismo-no-brasil-contemporaneo/31 Igrejas E Religiosidade No Brasil Universidade Santa Cecília - Educação a Distância • Igrejas Pentecostais: As igrejas pentecostais são conhecidas por seu foco na experiência direta com Deus e na prática do batismo no Espírito Santo. Algumas das igrejas pentecostais mais conhecidas no Brasil incluem a Assembleia de Deus, a Congregação Cristã no Brasil e a Igreja Universal do Reino de Deus. • Igrejas Batistas: As igrejas batistas são uma das denominações protestantes mais antigas no Brasil. As igrejas batistas valorizam a autonomia local, a liberdade religiosa e a participação ativa dos membros na vida da igreja. Algumas das igrejas batistas mais conhecidas no Brasil incluem a Convenção Batista Brasileira e a Convenção Batista Nacional. • Igrejas Presbiterianas: As igrejas presbiterianas são baseadas na tradição reformada e enfatizam a autoridade das Escrituras, a soberania de Deus e a salvação pela graça. Algumas das igrejas presbiterianas mais conhecidas no Brasil incluem a Igreja Presbiteriana do Brasil e a Igreja Presbiteriana Independente do Brasil. • Igrejas Adventistas: As igrejas adventistas são conhecidas por sua crença na iminência da Segunda Vinda de Cristo e na observância do sábado como dia sagrado. Algumas das igrejas adventistas mais conhecidas no Brasil incluem a Igreja Adventista do Sétimo Dia e a Igreja Adventista da Reforma. • Igrejas Anglicanas: As igrejas anglicanas são baseadas na tradição anglicana da Igreja da Inglaterra e valorizam a liturgia, a autoridade dos bispos e a tradição cristã. Algumas das igrejas anglicanas mais conhecidas no Brasil incluem a Igreja Episcopal Anglicana do Brasil e a Igreja Anglicana Reformada do Brasil. Essas são apenas algumas das muitas ramificações do protestantismo presentes no Brasil. Cada denominação tem suas próprias práticas e crenças, e todas contribuem para a diversidade religiosa e cultural do país. Espiritismo: O Espiritismo é uma doutrina filosófica, religiosa e científica que surgiu na França no século XIX, criada pelo pedagogo e escritor Allan Kardec. A doutrina se baseia na crença da existência de espíritos e na possibilidade de comunicação entre os vivos e os mortos. 32 Igrejas E Religiosidade No Brasil Universidade Santa Cecília - Educação a Distância Allan Kardec acreditava que os espíritos são seres inteligentes e imortais, que evoluem através de sucessivas encarnações, buscando a evolução moral e espiritual. Durante toda sua vida, Kardec defendeu a ideia ter sido tão somente o “codificador” da doutrina espírita, que, segundo ele, deveria ser entendida ao mesmo tempo como científica, filosófica e religiosa. Embora partindo de pressupostos indiscutíveis tais como a existência de espíritos e a imortalidade da alma, a pluralidade das vidas e a existência de Deus, Kardec sempre negou o caráter formal de religião que o Espiritismo pudesse ter à época. Para ele, tratava-se antes de uma doutrina filosófica de efeitos morais, doutrina decorrente de todo um conjunto de estudos e experimentações realizadas através das várias manifestações dos “espíritos”. (ARRIBAS, 2013, p.04) Segundo a doutrina espírita, a vida não termina com a morte do corpo físico, mas continua em outras dimensões ou no plano espiritual. Os espíritos podem se comunicar com os vivos através de médiuns, que são pessoas que têm a capacidade de receber mensagens dos espíritos. Através dessas comunicações, os espíritos podem dar orientações, conselhos e mensagens de esperança e consolo. O Espiritismo também tem uma visão científica, pois acredita na existência de leis naturais que estabelece a ordem e a evolução no universo. Aplica-se tanto aos aspectos físicos quanto aos aspectos morais da vida e a sua compreensão pode ajudar as pessoas a superar as dificuldades e a alcançar a evolução espiritual e a reforma intima. No Brasil, o Espiritismo teve um grande impacto a partir do final do século XIX, quando vários espíritas europeus vieram para o país para divulgar a doutrina. Sendo relevante por múltiplas razões: Primeiro, a doutrina espírita tem sido vista como uma forma de consolo para aqueles que perderam entes queridos, pois oferece a possibilidade de comunicação com os mortos e a esperança da vida após a morte. Segundo, tem uma visão moral que enfatiza a importância da caridade, da fraternidade e do amor ao próximo, o que tem sido visto como uma forma de promover a paz social e a justiça e Terceiro, contribui para aliviar o sofrimento das pessoas, pois a doutrina acredita que muitas doenças são causadas por desequilíbrios espirituais e que a cura pode ser alcançada através da prática do bem e da elevação moral. 33 Igrejas E Religiosidade No Brasil Universidade Santa Cecília - Educação a Distância Sugerimos a leitura da reportagem Evangélicos ou Protestantes? Link: https://religiaoepoder.org.br/artigo/evangelicos-ou-protestantes/ Um dos maiores expoentes da doutrina espírita no século XX foi Chico Xavier, “psicografou 451 livros. Os direitos autorais das obras publicadas foram cedidos a editoras espíritas e entidades ligadas à caridade. Os livros foram traduzidos para vários idiomas. A cidade de Uberaba, transformou-se num polo de atração de inúmeros visitantes, muitos tinham perdido pessoas queridas e buscavam consolo e ele psicografou milhares de cartas para essas famílias.” (EBC) Religiões de Matriz Africana: A religião de matriz africana é um termo que se refere a um conjunto de religiões afro-brasileiras que têm suas raízes nas tradições religiosas africanas, trazidas pelos escravos para o Brasil durante a época colonial. A presença do negro na formação social do Brasil foi decisiva para dotar a cultura brasileira dum patrimônio mágico-religioso, desdobrado em inúmeras instituições e dimensões materiais e simbólicas, sagradas e profanas, de enorme importância para a identidade do país e sua civilização. No que diz respeito à religião especificamente, os cultos trazidos pelos africanos deram origem a uma variedade de manifestações que aqui encontraram conformação específica, através de uma multiplicidade sincrética resultante do contato das religiões dos negros com o catolicismo do branco, mediado ou propiciado pelas relações sociais assimétricas existentes entre eles, e com as religiões indígenas e bem mais tarde, mas não menos significativamente, com o espiritismo kardecista. (PRANDI, 1995, p. 67) Diante disto, fica evidenciado a relevância das religiões de matriz africana no Brasil. As religiões de matriz africana incluem várias subdivisões, como: • Candomblé: O Candomblé é uma religião afro-brasileira que é mais comum na região nordeste do Brasil. É uma religião que cultua orixás, entidades divinas que representam os elementos da natureza e as forças da vida. https://religiaoepoder.org.br/artigo/evangelicos-ou-protestantes/ 34 Igrejas E Religiosidade No Brasil Universidade Santa Cecília - Educação a Distância Existem várias ramificações do Candomblé, cada uma com suas próprias tradições, ritos e orixás. • Umbanda: A Umbanda é uma religião afro-brasileira que se originou no Rio de Janeiro no início do século XX. É uma religião sincretista que combina elementos do Candomblé com o Espiritismo Kardecista e o Catolicismo. Os praticantes da Umbanda cultuam orixás, guias espirituais e entidades que são consideradas intermediárias entre o mundo dos vivos e o mundo espiritual. • Batuque: O Batuque é uma religião afro-brasileira que se originou no Rio Grande do Sul. É uma religião que cultua os ancestrais e os elementos da natureza, e tem suas raízes nas tradições religiosas africanas trazidas pelos escravos bantos para o Brasil. O Batuque tem ritos e práticas específicas que variam de acordo com a comunidade em que é praticado. • Xangô: O Xangôcultua os orixás do panteão iorubá. É uma designação mais comum na região de Pernambuco e Alagoas. O Xangô tem ritos e tradições específicas, e é uma das religiões de matriz africana mais antigas e respeitadas no Brasil. • Tambor de Mina: O Tambor de Mina é uma religião afro-brasileira que se originou no Maranhão. É uma religião que cultua orixás e entidades divinas, e tem ritos e práticas específicas que foram influenciados pelas tradições religiosas africanas e indígenas da região. PARECER - Assunto: intolerância e discriminação contra religiões de matriz africana – interpretação enquanto expressão do racismo – DPE-SP Link: https://www2.defensoria.sp.def.br/dpesp/Repositorio/39/Documentos/Pare cer%20Rel.%20Matr.%20Afr.%20v.3-convertido.pdf Essas são apenas algumas das muitas ramificações da religião de matriz africana no Brasil. Cada religião tem suas próprias práticas, ritos e tradições que foram moldados pelas experiências e contextos locais. https://www2.defensoria.sp.def.br/dpesp/Repositorio/39/Documentos/Parecer%20Rel.%20Matr.%20Afr.%20v.3-convertido.pdf https://www2.defensoria.sp.def.br/dpesp/Repositorio/39/Documentos/Parecer%20Rel.%20Matr.%20Afr.%20v.3-convertido.pdf 35 Igrejas E Religiosidade No Brasil Universidade Santa Cecília - Educação a Distância Judaísmo: O judaísmo é uma religião minoritária no Brasil, com cerca de 0,2% da população. A maioria dos judeus brasileiros vive em São Paulo e no Rio de Janeiro, e a comunidade é conhecida por sua forte presença cultural e intelectual. A luminosa interpretação de Simmel sobre o significado do estrangeiro – aquele que busca e se fixa numa nova terra – aplica-se particularmente aos percalços dos judeus, imigrantes ou não. Perseguições, expulsões, retornos marcam a história judaica seja na Inglaterra, na França, na Europa Central ou no Brasil (...) os imigrantes desembarcavam sem encontrar nenhum apoio nos portos. Alguns ficavam em Santos, outros vinham para São Paulo de trem. Da Estação da Luz, caminhavam pelas ruas próximas na esperança de encontrar alguém que falasse o ídiche ou pelo menos o alemão, que se assemelha. Eventualmente traziam o endereço de alguém do mesmo schtetl, a pequena cidade de origem . Assim que encontravam onde dormir, já no dia seguinte procuravam imediatamente trabalho para poder aprender a língua e pagar a comida, nesta ordem de importância. (BLAY, 2009, p.237) Importante ressaltar que é uma das três principais religiões monoteístas do mundo. Sendo a religião monoteísta mais antiga. Cultuam um único deus chamado Javé ou Jeová. Para o judaísmo, a onipresença, onipotência e onisciência são atributos divinos que permeiam todo o universo. Ao longo de sua história Deus se comunica com seu povo mediante a intermediação dos profetas. Jesus Cristo para o judaísmo é mais um profeta, não cabendo o papel central na religião como ocorre com o cristianismo. Essas são apenas algumas das muitas ramificações religiosas presentes no Brasil atualmente. Cada religião tem suas próprias práticas e crenças, e todas são importantes para a diversidade cultural e religiosa do país. 36 Igrejas E Religiosidade No Brasil Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 6. O PODER, AS IGREJAS E A MASSIFICAÇÃO POLÍTICA – REFLEXÕES SOBRE A INTENSIFICAÇÃO DO FUNDAMENTALISMO RELIGIOSO “compreender a força e a capilaridade do fundamentalismo, não o subestimando, assim como compreender o papel da religião para o povo latino-americano, subjetiva e objetivamente, e construir possíveis diálogos a partir da formação e educação popular que contemplem também a leitura da Bíblia – contextualizada e ecumênica - na construção de contra narrativas. Ouvir a população imersa nas contradições entre discursos e práticas fundamentalistas. Rever o discurso do Estado Laico como oposição aos fundamentalistas - é necessário que tenhamos argumentos científicos e secularizados contra a negação de direitos. (...) ocupar as mídias digitais e desenvolver linguagens possíveis, populares e criativas, visibilizando as tantas possíveis formas de viver a fé cristã” (TOSTES&CORAZZA, 2021, p. 235) A questão das relações de poder da igreja, independente da denominação religiosa, precisa ser debatida e aprofundada numa perspectiva da influência política e econômica, bem como, do fenômeno do fundamentalismo religioso enquanto processo de alienação e massificação. Leia o artigo : Igreja: carisma e poder: 40 anos Link: https://leonardoboff.org/2021/10/29/igreja-carisma-e-poder-40-anos/ As religiões, ao longo da história, têm desempenhado um papel significativo nas relações de poder da sociedade. Como exemplo, na Idade Média a Igreja Católica Romana era uma das instituições mais poderosas da Europa. https://leonardoboff.org/2021/10/29/igreja-carisma-e-poder-40-anos/ 37 Igrejas E Religiosidade No Brasil Universidade Santa Cecília - Educação a Distância Ela desempenhava um papel importante no governo e na educação, além de exercer grande influência sobre a cultura e a moralidade. Os papas eram considerados líderes espirituais e políticos, com poder sobre reis e imperadores. (BOFF,1994) Com o passar do tempo, o poder da igreja começou a diminuir em algumas áreas, mas ela ainda exerce grande influência em muitos países. Por exemplo, em alguns países, a igreja é a maior proprietária de terras, além de desempenhar um papel importante na educação e na saúde. Leitura do livro - Outra teologia é possível, outra igreja também - Vozes Link: https://plataforma.bvirtual.com.br/Acervo/Publicacao/114679 A relação do sagrado e do divino enquanto credo religioso por parte das múltiplas agremiações, pode estar atrelada as relações de poder e de influência de seus líderes e expoentes. Ora, compreender o processo de massificação contribui para desvendar o fundamentalismo religioso que certas igrejas, templos, salões e grupos, importante deixar claro que não podemos generalizar, disseminam e intensificam na sociedade. Leitura do livro - Religião e a democracia brasileira e epub Link: https://plataforma.bvirtual.com.br/Acervo/Publicacao/208461 https://plataforma.bvirtual.com.br/Acervo/Publicacao/114679 https://plataforma.bvirtual.com.br/Acervo/Publicacao/208461 38 Igrejas E Religiosidade No Brasil Universidade Santa Cecília - Educação a Distância O fundamentalismo religioso é um fenômeno que vem se tornando cada vez mais presente no Brasil, principalmente nos últimos anos. O crescimento do fundamentalismo promove uma interpretação literal e dogmática das escrituras sagradas, rejeitando qualquer outra forma de pensamento e comportamento que não esteja de acordo com seus dogmas. O fundamentalismo é uma ideologia que se apresenta como pura, autêntica e verdadeira, que nega a complexidade e a pluralidade da sociedade, e que busca impor seus valores e crenças aos outros, muitas vezes por meio da violência ou da exclusão. (MARTINS, 2022) A utilização da religião como instrumento de controle político e social é um fenômeno que remonta aos primórdios da civilização. Ainda existem muitas religiões que usam a religiosidade como meio de dominação e de manutenção do poder. A massificação e a alienação são dois conceitos que se relacionam diretamente com o poder das igrejas. A massificação se refere à uniformização dos pensamentos e comportamentos das pessoas, e a alienação é a perda da capacidade crítica e de reflexão sobre a realidade. Ambos os conceitos são frequentemente utilizados para manter o controle sobre seus seguidores, por vezes à revelia dos centros de poder das religiões enquanto estância máxima decisória.
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