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5/11/2018 DIXON, Paul - Os Contos de Machado de Assim - Mais Do Que Sonha a Filosofia - slidepdf.com http://slidepdf.com/reader/full/dixon-paul-os-contos-de-machado-de-assim-mais-do-que-sonha-a-filosofia 1/57 Paul Dixonolc~iio Machadianft Vo lume 6 OS CONTOS DE MACHADO DE ASSIS: MAIS DO QUE SONHA A FILOSOFIA . . . . .>> Movimento. . . . 5/11/2018 DIXON, Paul - Os Contos de Machado de Assim - Mais Do Que Sonha a Filosofia - slidepdf.com http://slidepdf.com/reader/full/dixon-paul-os-contos-de-machado-de-assim-mais-do-que-sonha-a-filosofia 2/57 I I 1 I' II I .. C a p o . Is abel de Azevedo Appel R~sllo Pe ter Pe l lc ns Mariano Soares Para Barbaro tnossafilha, Elizabeth. 1992 Direltos desta edi~iio reservados a E d it om Mo v im e nt o R u e B an co Ingles 252 - Pone ( 0 5 1) 2 3 3 .- 7 64 5 Morro Santa Teresa 90840-600 - Porto A legre - RS - Brasil 5/11/2018 DIXON, Paul - Os Contos de Machado de Assim - Mais Do Que Sonha a Filosofia - slidepdf.com http://slidepdf.com/reader/full/dixon-paul-os-contos-de-machado-de-assim-mais-do-que-sonha-a-filosofia 3/57 sUMAruo Nota 9 Introducso 10 1. A lei da laranja: "0 espelho" , 18 2. A lei das estrelas duplas: "Uns braces" 29 3. A lei da sorte grande: "Jogo do bicho" 36 4. A lei da homeopatia: "Cantiga de esponsais" 44 5. A lei das duas cabecas: "Missa do galo" 51 6. A lei dos escravos: "A causa secreta" •.............. S8 7. A lei das batatas: "Bvolucao" 69 8. A lei do lapso: uA igreja do diabo" 81 9. A lei do pequeno saldo: "Nolte de a lmirante" 90 10. A lei do livro falho: "A chinela turca" 99 Epflogo 108 Textos Citados 110 5/11/2018 DIXON, Paul - Os Contos de Machado de Assim - Mais Do Que Sonha a Filosofia - slidepdf.com http://slidepdf.com/reader/full/dixon-paul-os-contos-de-machado-de-assim-mais-do-que-sonha-a-filosofia 4/57 I NOTA A maior parte deste livro foi escri ta em Porto Alegre , depois de um semestre de s er vi ce c om o p ro fe ss or v is it an te pelo programa Fulbright na Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Desejo agradecer ao Departamento d e L fn gu as e Literaturas Estrangeiras da Purdue University a l icenca concedida para 0 proj eto . Tambem agradeco ao Institute de Letras d a UFRGS haver continuado a oferecer-me urn escri t6rio e varies outros recursos, depois de tenninada minha designa~o oficial. Em particular, f ico grato ao Prof. Paulo Gick por ter sido 6timo anfitriao para a minha famil ia durante nossa estada no Brasi l, e ao Prof. Vfl son Leffa , do Centro de Lingii(s tica Aplicada, pelo usc de seu computador. Na prepara~o do livre, urn fator indispensavel foi a revisio do manuscrito por varios colegas: Beatriz Amorim, Cristina Campos, Antonio Augusto Furtado, Eduardo Ostergren, Myriam Ramsey e Donalda Schuler. 0 trabalho nao foi facil, e fico muito agradecido por s ua d il ig en cia . F iz era m t od o 0 p o ss fv e l; s e restarem e rr os , s ao meus e s6 meus, Uma versso preliminar do capitulo I foi publicada em ingles na revista Rom an c e Q ua te rl y; 0 capitulo II apareceu em versao preliminar nas Aetas do primeiro congresso da Associacao Internacional de Lusi ta n is ta s ( Po i ri er , 1 988 ). Em varies lugares, traduzi cita¢es para 0 portugues, Julguei desnecessario avisa-lo em cada case, porque a lingua original ISevidente na lista de textos citados , Paul Dixon 9 5/11/2018 DIXON, Paul - Os Contos de Machado de Assim - Mais Do Que Sonha a Filosofia - slidepdf.com http://slidepdf.com/reader/full/dixon-paul-os-contos-de-machado-de-assim-mais-do-que-sonha-a-filosofia 5/57 1NTRODU~AO Os contos de M achado de Assis t~ m s id o m uito elo gia do s, mas p ou co e stu da do s. R ec on he ce -s e q ue 0 grau d e perfei~o alcancad o no s c on to s m ac ha di an os n ao e m enor do que 0do s ro mances (Cunha 23, M ay ers be rg, M ig uel P ereira 2 55 -5 7, M o is es 8 , Montello 23). E cos tume situar 0 co ntis ta b ras ileiro n a co mp an hia d e M au pass an t, P oe , J am es e o s outros m es tr es m u nd ia is d o g en er o ( Ca va lh eir o 2 6- 28 ; C un ha 24: Gomes , ..Apresentacao" 6: Nist 6). Porem a analise do s relatos n ao p as sa de art igos avulsos, e algumas introducdes a antologias. Ate agora, nenhum liv ro d e c rf tic a l ite ra ria s e d ed ic ou p re fe re nc ia lm en te a os c on to s. A fir mo is to de boa fe, nao po rque creio que este fato em si possa dar m ais cred ito a es te liv ro , m as porque 0 ach o um tan to m is terio so . Q uan do M achado d e A ss is 6 cons iderado 0 p ri m ei ro g ra nd e c on ti st a b ra si le ir o; ~~do mui to dos seus contos ja foram consagrados como obras-primas, rguais em valor ou ate s up erio res ao s m elh ores ro man ces ; q ua nd o ja e xis te u m n ur ne ro g ra nd e d e l iv ro s d ed ic ad os h analise d os r om an ce s, n ao e facil en t en der a falta d e u m liv ro analftico sobre 08 contos . D ev e ta mbe m pa re cer e stran bo a algu ns q ue 0 a uto r d es te liv re s eja ~ tr an ~e ir o, se Ii .~ 6 p o rt en to obrigado a abordar 0 ass unto d e u rn p onto d e vista distante.no q ue d iz r es pe it o a c or l oc al , Iic ultu ra e a l in g ua . S e ri a mui to mais 1 6g ic o q ue 0 trabalho fosse realizado pa r um a pessoa mais co nhec ed ora d o m un do d o au to r, . Po r outro lado , ha c er ta ju st ic a p oe tic s n es ta a no m alia , p or qu e e m m uito s as pecto s o s co nto s m ach ad ian os s ao u ma g lo rifica~ o d o estra nh o e d o in es perad o - d as sin gu lares o co rren cias , d os lap ses e d as e xc urs des m ilag ro sas , U rn se ntid o d e m is terio p en etra gran de p arte c ia obra de M ach ad o d e A ss ls , N o entan to , ha um a d i fe re n ca basica e n tr e Ma c ha d o e o s e scrito res n orm alm ente class ifica do s co mo au to res fan ta stico s, m a ra vi lh os os , o u d e m is te rio , E nq ua nto , p ar a a m a io ria d es te s, 0 terrene d o m is te rio t en de a se r ambiente, aquilo qu e rodeia os personagens, para 10 Machado 0 rein o m arav ilho so es ta d en tro d os m es mo s. A frase d o co nto "A c au sa s ec re ta ", q ue c ar ac te ri za 0 c ora< ;a o h um an e co mo urn "p oco d e m is te ri os " ( 2:5 13 ), b em p od eri a s er vi r c om o re su m o d e q ua se toda a o b ra machadiana . Q u er o c om u ni ca r 0 m es mo s en tid o d e m ar av ilh a p era nt e 0 rnundo que resiste k explicacao, ao usar 0 subtftulo "m ais do que sonha a filosofia", A frase e de uro comentario contido n o c on to "A c ar to rn an te ", que po r sua vez a lude a urn d ra m a d e S ha ke sp ea re : " Ha m le t o bs er va a H or ac io que M m ais cousas no ceu e na terra do que so nha a no ssa filo so fia". E m a m esrna explica9io que d av a a bela Rita ao moco Cami lo, numa sexta-fei ra de novembro de 1869, quando e st e r ia d ela , p er t er id o n a v es pe ra c on su lta r u m a c ar to m an te ; a d if er en ca e qu e 0 f az ia p o r o u tr as p al av ra s. [ .. .1e la , s em s ab er q ue tr ad uz ia H am le t e m v u lg ar , disse-lhe que havia rnuita cous a m i s t er i o sa e verdadeira neste mundo" (2:717~78). E n otav el q ue a "co usa m is terio sa e v erd ad eira" n o co nto D aO e a cartom ante, po is ela acaba sendo exposta com o apenas um a aguda observadora, sem capacidade psfquica, 0 verdadeiro misterio n o c on to e a m entalidade d e C am ilo , que ~ sed uzid a po r SUBS p r6pr i as e s peranca s , passando em poucos m inuto s de urn estado de agnosticism o a um a c on dic ao d e c re du lid ad e p er ig os a. P ara M a ch ad o, 0 "rnundo " o nd e ha: " mu ita c o us a m ar av ilh os a" I Sa a lm a. Co m 0 s ub tf tu lo t ar nb em d es ej o s ug er ir u m a c rf ti ca a c er ta filosofia, Propoe-se a existencia de urn s istem a d e p en sam en to cu jo sonhos s a o e xc es siv am en te I im it ad os . D e u m m o do g er al , c re io q ue n os c on to s ha ur n p ro jeto im plfcito d e m ostrar a s fraq uezas d e tal filo so fia, d e s ug erir q ue "M mais cousas noceu e na terra". Se tivessemos que identificar ur n sis tem a d e p en sa ro en to co mo alv o das crftic as d e M ach ad o d e A ssis, 0 m ais o bv io s er ia a e sc ol a r ea li sta , N o e ns ai o .. A n ov a g er a9 io ", M a ch ad o d eix a b ern cla ra a s ua an tip atia ao realis mo , ch am an do a es co la "a m ais f ra gi l d e t od as , p o rq ue I Sa n eg ac ;i io m e sm a d o p ri nc fp io da a rt e" ( 3 :8 1 3) , e c ritican do s ua in ab ilid ad e d e d istin guir en tre a "realid ad e, s eg un do a a rte ,e a r ea li da de , s eg un do a n atu re za " ( 3:8 13 ). Q ue m c on he ce a f am o sa c rf ti ca d o r om a nc e 0 prima Basilio d e E c; a de Q ue ir os , s ab e q ue a s f alh as que M achado encontra no rom ance nlio sao apenas 08 d efeito s d e c on ce pc ao e d es em p en ho d o a ut or , m as ta m be rn o s d ef eit os d o m o vim e nt o r e al is ta , C r it ic a 0 a sp ec to " im p la ca ve l, c on se qi ie nt e, 1 6g ic o" da escola (3 :904). c om o t am b em " aq ue la r ep ro d uc ao f ot og ra fi ca e s er vi l das cousas mfnimas e ignobeis" (3:904) e a acumulacao de detalhes , que ele chama 11 5/11/2018 DIXON, Paul - Os Contos de Machado de Assim - Mais Do Que Sonha a Filosofia - slidepdf.com http://slidepdf.com/reader/full/dixon-paul-os-contos-de-machado-de-assim-mais-do-que-sonha-a-filosofia 6/57 de " inventar io" (3:904) . A principal falha identif icada no romance e que os personagens sao t racados de uma mane ira exte rior e material ; sendo que nao se revelam suas paixoes, remorsos ou consciencias, sao mais "t{teres" do que pessoas morais (3:905) . Tal defei to ele atr ibui at e eerto ponto a Eca, pois menciona uma obra de Balzac, outro discfpulo do realismo, cuja caracterizacao e mais humana e profunda. Mas admire que um a parte da culpa e tambem da escola, seduzida como e p el o a sp ec to objet ivo e documental das coisas. Reconhecendo que "alguma coisa h:tno Realismo que pode ser colhido em proveito da imagina¥ao e d .a arte" (3:912) , em nome da imaginacao e c ia arte rejeita os aspectos fundarnen- tais do movimento. 0 compromisso para com a realidade e 0 que rests: "Voltemos as olhos para a realidade, mas excluarnos 0 Realisrno, assim nao sacrificaremos a verdade estetica" (3:913). Se °adversa rio mais 6bvio do autor era 0 movimento realista, nao era ° unico, nem talvez 0 principal . Bri to Broca (33-43) , Barretto Filho (Introducao 83-84~ 95-96, 121-22) e Roberto Schwarz (63-72), por exemplo, discutern sua antipatia ou pelo menos ambivalencia pela Repub lica do Brasi l, como tambem 0 vinculo entre a republica e 0 realismo, Creio que os aspec tos menos agradave is, t anto do rea lismo como da republica, sao apenas areas mais aparentes de urn corpo de ide ias mais abarcador - l inhas de frente, por assim dizer, de urn exerci to . ideolog ico , 0 cen tro deste exerc ito seria a filosof ia posi tivi sta, como elaborada por Auguste Comte, cuja influencia no Brasil do seculo passado esta bern documentada num Iivro de Ivan Lins; seria ela que daria direyao, fmpeto e forca as var ias brigadas. Ao inves de dar uma exposicao extensa do positivismo, 0que parece desnecessario Dum livro deste tipo, Iimitar-me-e i a mencionar alguns .aspectos essenciais do pensamento de Comte, que terao per tinencia para o estudo da obra machadiana: i 1. Amblcao enc lc lopedica . Segundo Cornie, a finalidade do positivismo e ap licar urn unico metodo c ientffi co ao conhecimento de todos os fenomenos - "resumir num s6 corpo de dout rina homogsnea 0 conjunto de conhecimentos adquiridos, relatives a s diferentes ordens de fenernenos naturais" (Curso 25). A filosofia visava abranger tanto as ciencias naturals, ass im como as abs tratas e as hurnanas. 2. Objetivldade. 0 positivismo adrnitia 0 papel epistemol6gico do sujei to , mas favorecia a objet ividade. Uma das quinze leis do positivismo 12 de Comte ordenava "Subordinar as construcdes subjetivas aos materiais objetivos (Aristoteles, Leibniz, Kant)" (Catec ismo 201). Outra lei afirmava que "As imagens interio res sao sempre menos v ivas e menos nftidas que as impressdes exteriores" (Cateclsmo 201). 3. Linearidade. Os fenomenos no seu aspecto dinamico eram subordinados a uma sequencia inalteravel. Por exemplo, Comte escreveu que "cada ramo de nossos conhec imentos [ ... 1passa sucessivamente por tres estados his t6ricos diferentes: estado teologico ou flctfcio, estado meta ffsico ou abstra to, estado cient ffico ou posi tive" (Curso 10), e declarou que tal processo e "uma grande lei fundamental" (Curso 9), que toda a intel igencia humana obedece "por uma necess idade invar iavel" (Curso 9). 4. Hierarquia. J a me nc io n am o s a s ub o rd in ac ao da subjetividade a objet ividade pete pensamento posit ivis ta, Na lei do processo do conheci- mento, e claro que a etapa cientffica e superior a s outras. Da s q ui nz e leis j:i rnencionadas (Catecismo 201-02), uma hierarquia des te t ipo existe, ou explicitarnente ou implicitamente, ern dez. 5. Dogma. Nos pr6prios termos de Cornte, 0 posit ivismo era urn dogma. Note-se 0 seu Catecismo positivlsta, cuj as partes incluem "Exp1ica~ao do culto", "Explicacso do dogma", e "Hist6ria geral da rel igiao", todas referentes 80 pr6prio positivismo. 0 tom geral do discurso de Comte e evangelico, tratando de verdades indiscutfveis e auto- evidentes. A visao do posit ivismo, entao, e a de uma un ica igrej a verdade ira da humanidade, cuja divulga~ao esta segura e cujos princfpios terao que ser reiv indicados mais cedo ou mais tarde . 0 movimento esta destinado a veneer: "Sua progressao posit iva rnostra-se, enf irn, capaz de satis fazer a todas as exigencias [ ... ] nao s6 quanto ao futuro, mas tambem quanta ao presente. [ ... ] Por toda parte 0 relat ive cede irrevogavelmente ao absolute, e 0 altrufsmo tende a dominar 0 egofsmo, ao passo que uma rnarcha sistematica substitui uma evolu~ao espontanea. Em uma palavra, a Humanidade substitui definitivamente Deus, sem esquecer jamais seus services prestados" (Catecismo 302). Nossa gerar;ao, acostumada a grandes doses de diivida metddica, ter ia dif iculdade, talvez, em compreender como uma pessoa intel igente poder ia aceitar afirmacfies tao arrogantes. Mas 0 Zeitge is t era outro na 13 5/11/2018 DIXON, Paul - Os Contos de Machado de Assim - Mais Do Que Sonha a Filosofia - slidepdf.com http://slidepdf.com/reader/full/dixon-paul-os-contos-de-machado-de-assim-mais-do-que-sonha-a-filosofia 7/57 s eg un d a r ne ta de do s ec ul o p as sa do , e 0 positivismo era ~ principal corrente daquele ambiente intelectual, Pretendendo mostrar, entao, 0que outros ja mostraram (Brayner, Labirin to 113; Fitz 43; Meyer 104; Moog 209; Muricy; Schiller, Plenitude 68): que naquele contexto Machado de Assis foi urn adversario, e sua voz artfs tica represents urna oposicao, Ao exarninarrnos os contos, veremos uma refutacao dos aspectos identificados com 0 positivismo; 0 d is cu rs o m a ch ad ia no s at ir iz ar a 0 pensamento enc ic loped ico dest ruira as h iera rquias, glo rificara a alinearidade e 0 subjetivismo, e pr ocla rna ra as verdades relativas. Ha ve ra um a r ei vi nd ic a- c;ao do misterio, da s "cousas no ceu ens terra" com as quais a filosofia vigente nao era capaz de sonhar , Todo 0pensador tern urna teoria, mesmo quando cri tica uma teoria alheia. Espero poder dernonstrar que nos contos de Machado 0que Flavio Loureiro Chaves (54-55) descobre em Q u in ca s B or ba : que a teoria implfcitae a antecipaeao, em muitos aspectos, da fenomenologia, A maior par te da evidencia para esta afirmacao necessariarnente sera adiada ate a ana li se dos contos indiv idual s. Porem cumpre agora deIinear algumas i d ei as ba si c as da fenomenologia, mostrando como e uma teoria adequada ao combate do positivismo. Mencionarei algumas nocoes do fil6sofofrances Maurice Merleau-Ponty, porque na sua versao da fenomenologia parece haver uma afinidade com a mentalidade do eontista brasileiro.Verernos que. nos cinco aspectos de Cornte, 0 pensamento de Merleau- Ponty e justa mente 0 contrario: 1. Critica ao pensamento enciclopedico. A versao do mundo de Merleau-Ponty e caracterizada pela fal ta essencial de continuidade ou de total idade, cujo locus e a propria co nscien cia d o ho mem . E u sou um a parte in tegra l do mundo; pore rn, s6 posso ter consciencia do mundo se deixo de ter consciencia de rnirn mesrno. A c on sc ie nc ia s er np re tern urn "ponto cego": " A qu il a q u e e1anao ve, e aquilo que ne la prepara a vi sao do resto (como a retina e cega no ponto onde irradiam as fibras quepermitiriio a visao). Aqullo qu e ela nao ve, e aquilo que faz com que ela veja" (V is {v e l 225 ). :: - I ,I' i ) 2. Intersubjetlvidade. Para Merleau-Ponty, 0 mundo objetivo e "inseparavel da subjetividade e da intersubjetividade" (Fenomenologla 17). 0 sujeito observador, fazendo parte do mundo objetivo, tern uma cumpl ic idade com a obje tiv idade . 0 mundo e engajado na subjetividade atraves do corpo do sujeito: "0 corpo pr6prio esta no rnundo como 0 ·14 coracflo no organismo: ele mantem continuamente em vida 0 espetaculo visfvel, ele 0 anima e 0 autre interiormente, forma com el e urn sistema" ( Fe no m en o lo g ia 2 1 0) . 3. Circularidade . Segundo 0 f i losof o f rances, 0 corpo par ticipa do fenomeno de "ser no mundo", um sistema de dois lades - 0 do sujeito que sente, e 0 objeto sensfvel. A consciencia do corpo, que e urn fator fundamental da existencia, e um processo em que "0 corpo Be surpreende ele mesmo do exterior , ao exercer uma func;.ao de conhecimento" (Fenomenologia 105). Tal inte r-relacso ent re os do is "lados" do corpo vivido e essencial, e essencialmente circular. 4 . O r le n ta c a o n a o -h l er d rqu ic a . A objetividade njlo pode ser superior a sub jet ividade, no pensamento de Merleau-Ponty , porque, como ja vimos, as dois se interpenetram e se comprometem. 0 fi16sofo cri tica 0 conceito tradicional da linguagem, em que a palavra e secundaria ao pensamento: "a linguagem nao esta a service do sentido e contudo Dio governs 0 sentido, Niio existe subordinacao entre uma e outre" (Sinais 120). A palavra nao deixa de ser instrumento, mas nao e passiva, pois . acaba determinando ate certo ponto 0 pensamento, sendo "um a linguagem / conquistadora que nos [introduz] em pe rs pe c ti v as e st ra nge ir as , em ve z de nos confirmar a s n o ss as " (Sinais 112). ' 5. Cetlcismo. 0 f il6sofo frances nega a possibi lidade de uma resposta absoluta aos desaf ios do mundo ou dobomem, declarando: "se:a forcoso reconhecer nao se r possfvel resolver 0problema do h om em , n ao e po ss fv e l s en s e d e sc re v er 0 homem como problema" (Sinais 307) . Para ele, 0mundo e a razfio s a o misterios por defini<;fio: "este misterio define: nao s e t ra tar i a de dissipd-Io por meio d e a lg um a 'soluyao ', pois ele esta aquem da s solucoes" (Fenomenologia 18). Nilo devemos entender, porem, que Merleau-Ponty tenda ao nii lismo au que seja contra a ciencia, pois ve a excessiva confianca na rauo como um impedimento ao pr6prio desenvolvimento racional. Quem reconhece as 1imites da ciencia, segundo ele, tern mais capacidade de realizar progresso cientif ico: "E da diivida que a certeza vira, Mais: e na propria duvida que vai revelar-se a certeza" (Slnais 312-13). Se afirmo encontrar no objeto do estudo - os coates de Machado de Assis - urn espfrito fenomenologico, e se urna ideia essencial de 15 5/11/2018 DIXON, Paul - Os Contos de Machado de Assim - Mais Do Que Sonha a Filosofia - slidepdf.com http://slidepdf.com/reader/full/dixon-paul-os-contos-de-machado-de-assim-mais-do-que-sonha-a-filosofia 8/57 fe no m en o lo g ia 6 a jm plica~o m utua de sujeito e objeto , 6 mais que n at ur al q u e ° p on to d e v is ta . d e st e e st ud o a pre se nte a lg o d e fe no m en ol o- g ic o ta m be m , E m b ora r es erv o a 0 P9 1i o de r ec orr er a o ut ra s t eo ri as q ua nd o p are ce re m p ert in en te s e i nt ere ss an te s, a cr ed it o q ue a m e to d ol og ia d es te es tu do e a teo ria q ue a info nna sao em p rincfpio fen om eno l6g icas, N ao p re te nd o m e a te r rig id am en te a e sq uem a s c om p re en siv os, se nile seguir co m flexib ilid ad e o s p Iano s g erais. Po r 'exem plo , segu nd o 0 teor ico f en om e no I 6g ic o R om a n I ng ar de n , a e x pe ri en c ia e st et ic a, e p ar i m p li ca ci io a a tiv id ad e c rftic a, c on siste e m c be ga r II . percepcao de um "centro de c ri sta li za ~o ",., u m p on to d e e nf oq ue ao redor d o qual se reunem e se h arm o niz am a s q ualid ad es e ste tic as e m v ario s e stra to s (F olk 1 48 -5 0). I ng ard en id en ti fi es e st es e st ra to s c om o 1 ) 0 e stra to s on ora , 2 ) 0 estrato d a s u n id a de s d e s ig n if ic ay a o, 3 ) ° estrato dO B a s pe c to s e s qu ema ti z ado s , e 4) 0 e st ra to d o s o b je to s r ep re se nt ad o s ( Sc h il le r, Palavra 12). Co n si de ro m u it o v a li d a a i d ei a d e i d en ti fi ca r c en tr es d e c ri st al iz ac ao q ue u ni fi qu em q ua li da de s e st eti ca s e m v ari es n fv ei s, Porem, nao vejo a n ec essid ad e d e se gu ir o s e on ce ito s e sp ec ffic os d e I ng ard en q ua nto a os r es pe ct iv o s e st ra to s , Primeiro, Da o creio que seja o brigat6 ria um a h arm o nia en tre to do s o s e stra to s e m to da s as o bra s. S eg un do , 0 esquema d e I ng ar de n p are ce u rn ta nt o a rb it ra rio , D o na ld a S ch ill er, p o r e xe m plo , n ota q ue 0 esqu em a d e In gard en po deria d ar m ais aten~ iio ao n fv el d a ' e s tr u tu r a n a rr a ti v a (Palavra 1 3). M aria L uiz a R am o s ere q u e I ng a rd e n d ev ia t er r ec oa he ci do u rn e st ra to o ti co , q ue s er ia e sp ec ia hn en te r el ev an te a p o es ia ( 43 .- 44 )~A c r ed i to q u e a s e st ra to s percebidos c om o i m p or ta n te s variam de ohm em obra; po rtanto d eve haver eerto pragm atism o na p ra tic a c rftic a, A ssim , a ce ito a leo na d e I ng ard en n o se u a sp ecto g era l, m as n ao ao p6 d a le tra . Q ua nd o fo r n ec esssrio n o c ase d e o utra s teo ria s, p re te nd o a d ot ar i gu a l a ti tu d e, - A c r{ ti~ 'fe no m en oI 6g ic a t em sid o c ha ma da "cntica da consciencia' ' (Magliola 19-27): V en do a co nd iy ao d o auto r co mo "u m ser no m un do ", varies c rfti ccs sededicam a descobri r a p ec u li ar id a de d e st a c o ns ci en c ia no -mundo,s~u 'aspecto distinto e ind iv id ual para cada autor. Ta l consc ienc i a ISes t ri t amente llterdria; n a o im p o rt am a s d ad o s b io g ra fi co s, qu e p o d er ia m p ro p o rc io n ar a c ar ac te ri za ci io da c on sc ie nc la h is t6 ri ca e p es so a l. E s ta s o u tr as c o ns id e ra 9 0e s s a o c olo ca da s "e ntre p are nte se s" e n i l o pertencem ao estudo (R am os 9-11). 0 que im porta s a o o s d ad os textuais, q ue s ao o s u ni co s capazes d e r en de r e nte nd im e nt o d a consciencia d o auto r co mo tal. E xam inand o os tex tos de um detenn inad o au tor, 0 c rftic o 'fe no m en ol6 gie o e nc on tra p ad rd es re pe tid os e d istrib ufd os n os v ar ie s n fv eis d e s ig ni fi ca do ( M ag li ol a 4 6-5 5) , q ue t en de m a d ar u m a i de ia 16 recisa da m a ne ira p ar ti cu la r p el a q ua l a c on sc ie nc ia d o a ut o r e n :am 0 ~ un do 0 c on ju nto d este s p ad ro es revel a u m a e sp ec ie d e m a ro a r eg is tra da do pr o je to l i te r sr io d o auto r - uma e ss en c ia qu e in fo rm s e t oma coerente a obra escrita com o um todo . . . ' . - e Segundo a concepcso fenomenologica, a atividade c?tlea nao i nt ei ra m en te s ub je ti va n em i nt ei ra m e nt e o b !e ti va , A _ o nt ol og ia d o te xto e c om o a s it ua ya o da partitura musical, q ue n ao ISre ali za da c om ~ um a o b ra d e m usica enq uanto nao M execu920 por parte de .um m ~lco ou um g ro po d e rm is ico s. D a m esm a fo rm a, ° t e xt o I it er a rio em Sl 6 B?meD~e u m a o br a l ite ra ri a d o rm e nte o u p o te nc ia l. A re al iz ac lio da obra ht~m~a c on si ste n o e nc on tr o e nt re 0 t ex to , q u e f or :n ec e,° ~uem a da ex~nencla e st et ic a, e o leitor, q u e c o nt ri bu i c om s ua i m agm ac ao , s eu ~Onh .e cl rn ~n ~o , e sua cap acid ad e an alftica p ara a fo rm acao d e u ma expen~ncla.est tica co erente (Ram os 19-22). Segundo esta v isso , ,enm o, a c n h ~ e _ 0 c om p lem e nt o n a tu ra l d o t ex to l it er dr io , s en d o °r eg t st ro d e uma r e al iz a ci lo da obra pela leitu ra. . ' Na m inha leitu ra dos con to s d e Machado d~ ASSIS, encontro coerencia ao identi f icar de z "le is" d o Mundo macbad la t; -o. E m bo ra e ~d a capitulo d es te liv ro se ja predominanternente uma analise d e urn U nico • 0 m anifestaco es d as m esm as leis em o utro s co nto s, e A sco n to, menc lon i' T~~ d _ v ez es f ac o r efe re nc ia s a os ro m an ce s. Q u er o d em o n st ra ~ q ue e st es p a ro es ~ - acid en tais m as que assum ern um a im po rtsncia fundam ental por na o sao. '. d I' rt a fo rca da repeticso . C ham o estes pad rfies repetid os e eis ~m pa e pa~ fazer referencia ironica ao posit ivismo. Usar 0 v o ca bu l~ no d o p ro pri o . . . d ve r s ar i o" e um d o s p ro c ed i m en to s c o ns ag ra d os da sa~lra,e e coerente a . t m achad iano Ha iron ia v isto que as leis do M undo deco m ° proJe 0 ., , M a ch ad o d e A ss is n o rm a lm e nt e s a o "anti-le is" q ue, em v ez d e ClfCUDS- crever e e xp lic ar, c ria m u rn e sp ac o p ara 0 misterio, N o e nt an to , e talv.ez p a ra d ox a lm e n te , e st e i m p ul se caotico parece ser a ch av e q ue no s pe_?IDte e nc on tra r a c oe re nc ia . A s leis. p or e stra nh as q ue p are ca m se r II . no cao d e u m s is te m a d et erm i na do po r regras , na o d eixam de ~r regras que ~o s 't u ni da de d o s c on to s e o s v fn cu lo s q ue e xis te m e ntr e vanespernu em ver a 'odas n{ • d ig nificad o. A lei prin cipal d o co nto m ach ad ian o, em qu e t veis e s , m inh blf as o utra s le is s e e nc on tra m re su m id as , e a lei d os ca, o s 0 quos . As sim , p e rs e gu i ndo 0 c ao s, p od em o s c om ec ar a d esc oh nr u rn c osm o s, 17 5/11/2018 DIXON, Paul - Os Contos de Machado de Assim - Mais Do Que Sonha a Filosofia - slidepdf.com http://slidepdf.com/reader/full/dixon-paul-os-contos-de-machado-de-assim-mais-do-que-sonha-a-filosofia 9/57 1,1, Ii, I ", .:: I-A LEI DA LA RA NJA : "0 ESPELHO" . Como parte de um a empresa anaUtica , a t i~o de Machado de Assis munas vezes recorre M tecnicas fo~is do duplo e da simetria (Dale, Hughes 27-2?). Estes recursos perrrutem ao autor dissecar ou desdobrar yan~s conceltos, a tim de examinar suas contradi~Oes, polaridades e ten.soes., Esta, tendencia se evidencia especialmente DOS contos, onde 0 estilo ,dlgresSiVO do romancista esta q uas e au sen te, e onde a arquitetum nar_rahvR ~ portanto ma~s evidente. Como Salvatore D'Onofrio ja ~mal~u , a .forma~narrat iva dos con tos muitas vezes esta baseada no princ fpio damversao. em que a antecipa9io criada no le i tor e transfer- mada em se u complemento ou 0se u oposto (13-38).0 conto "0 espelho" (Papeis avu lsos , 1882), cujo subtltulo e "esboco de um a nova teoria da a lma humana=, e urn born exemplo de tal procedimenlo. Em urn de seus nfveis, a narrativa apresenta 0que Trismo da Cunh d' u a eno~a uma aventura da consciencia"(25), que e chamada "a alma" do conto. Como observa David Haberly, " '0 espelho" e a exposicao mais completa de ~m ~odelo encontrado em varias obras , nag quais "Machado ~efin~ ca~ in div td uo como urn b in cm io " ( 74 -7 5) , consistindo numa Idenhdade ~tema e noutra externa. Discutindo a alma, 0 narrador do con to, Jacobina , declara que cada pessoa possui duas a lmas, em vez de U I n a : "Em primeiro Ingar, nao M um a 56 alma, ha duas . -Duas? . . . '. ;._ Nad a men os que duas almas. Cada criatura humana traz consigo: uma que ol~a de dentro para fora, outra que olha de fora para dentro. A a lma ~xtenor ~e se r urn e sp frito , U rn tluido, urn homem, mui tos ~omens, u~ objeto, u~ operacao, Ha casos, por exemplo, em que urn simples botao de camrsa e a alma exterior de uma pessoa: . . , - e asslm tambem a .P<Jl c a, 0 voltarete, urn liv re , u ma maquina, urn par de botas " uma ca va nn a, U rn tambor, etc." (2:346). ' Esta formula9io nos recorda as duas perspectivas mais tradiei . d !> ' !Onals e conSClcnCla. Como John Nist sa li enta, "0 espelho" e uma cntica 18 destas perspectivas, demonstrando "A lese de Pasca l de que a rea lidade absoluta nao se encontra nem inteiramente dentro nem inteiramente fora da consciencia do homem"(l5) . A alma que percebe 0exterior, desde su a inter ioridade, sugere a epistemologia do racionalismo, enquanto a alma dirigida do exterior p ar a d en tr o s ug ere 0 em pirism o. ~ expr:ss~ "~e dentro pam fora" e "de fora para dent ro" fazem expl fci ta a d irec iona li - dade e linearidade dos dois modos da consciencia. 0 racionalismo e uma linha dirigida 80 mundo exterior; as me tafo ras t r ad i c iona lmen te emprega- das para definir tal concepcjio da mente t~m sido a fon.t~,a Iftmpada, ~ sol e out ras fOf98S irradiantes (Abrams 56-61). 0 empi rismoe uma l inha dirigida do mundo (de "bo toes de camisa", "polcas", "maquinas" , e!c .) para dentro de quem percebe, e sua versao da mente tern recomdo normalmente ~ metafora 'd a t ab ul a r as a, na qual a s s en s ac fe s sao inscri ta s ou da camera ob scu ra , que recebe atraves de su a abertura as, . irnagens do mundo exterior (Abrams 57). Mas como coexistem estas direcdes opostas k maneira de "duas almas"? 0 texto sugere, neste ponto, que a cons ci enc i a IS um a e s pe ci e de corrente alternada, que ~cion~ nu~ va ivem linear da s impressi5es colhidas do mundo , e d a rm agm ac ao arremessada sobre 0mesmo. Se a teoria machadiana cia consciencia tivesse chegado a pe na s a te at, ainda ser ia merecedora de aten~o. 0 conto aparece em P a pe is a vu ls os em 1882, antecipando por uns trinta anos o s modelos fenomeno16gic~s da consciencia, com su a intersubjetividade ou irnplicaciio mutua do sujeito e do objeto. Maurice Merleau-Ponty ci a urn born resumo da capacidade da fenomenologia para efetuar a f u s a o dessas epistemologias tradicionais: . .A mais importante aquisi~o cia fenomenologia e sem duvida ter unido 0 extrema subjetivismo e 0 extrema objetivismo em suas noc;oes do mundo ou da racionalidade, [... ] 0 mundo fenomeno16gico e nao ° do ser p uro , m as 0 sentido que transcende a interseccao de minhas experienci~s com as do outro, pela engrenagem de umas sobre as outras, ele epois in separavel da subje tividade e cia intersubjet ividade, que fazem. sua unidade pela retomada de 'minhas experiencias passadas em minhas exper iencias presentes , da exper iencia do outro na rninha. [ .• . ] 0 filosofo tenta pensar 0 mundo, 0 outro e ele-mesmo, e conceber suas relacoes" ( Fe no m en o lo gi a 1 7) . A dec la racso do filosofo poderia ser um comenta rio k margem do conto "0 espelho", Em sua maneira inconfundfvel, Machado percebe que a ideia cia consciencia 6 baseada em modes dis tintos e essencialmente opostos de conhecer a realidade, Ele resume esta dicotomia em duas 19 5/11/2018 DIXON, Paul - Os Contos de Machado de Assim - Mais Do Que Sonha a Filosofia - slidepdf.com http://slidepdf.com/reader/full/dixon-paul-os-contos-de-machado-de-assim-mais-do-que-sonha-a-filosofia 10/57 e nti ~e s s ep ara da s: a s d u as " alm as ", I st o d em o n st ra a t en dfl nc ia a na lft ic a q u e I d en ti fi qu e i n o i nf cl o. AI~m des ta tendencia dis juntiva, porem, M achad o dem onstra a te nd en cia d e fu nd i~ o s c on ce ito s se pa ra do s, T al m o vim en to s in te tic o s e re ve l~ q ua nd o c on ti nu am o s a n os sa l ei tu ra d a te ori a d e J ac ob in a: E s~ cl~ ro que 0 o ffc io d essa se gu nd a a lm a e t ra ns m it ir av id a, com o a pnm eira; ~ duas com pletam 0 ho mem , q ue e , metaf is icamente f al an do , u m a ~ ar an J~ . Q u em p er de u m a da s m e ta d e s, p er de n a tu ra lm e n te m eta ?e ~ e ~ls te nC la j' e casos M ,nao raros, em que a perda d a alm a e xt eri or im p li ca a d a e xi st en ci a i nt eir a, " (2 :3 46 ) Podem 5.erse.! ' a~das a s d ua s a lm a s p ara fi ns a na ht ic os , m a s t am b em em c er to .s en t~ d o s ao i ns ep a ra v ei s, A c o ns ci en ci a d e pe n de d a c o ex is te n ci a c ia a lm a m ten or e d a ex te rio r, ta l c om o a v ia bilid ad e d a la ra nja d ep en de tan to ~ cases com o d a f ru ta n el a c on ti da , E i s, e n ta ~ , um a le i d o rnundo machadiano, a "lei da laranja": 0 objeto e 0 sujeito dependem um do outro, como afruta e a casca. . . "0 ~ lho" na o e 0 t1nico conto a d em o ns tr ar 0 funcionamento da le i c ia l,a ra tlja . "~ x c ath ed ra " se baseia quase na mesrna meta fora, F ulg en ci o, u rn r ac io na l fa na ti co , e sta c on ve nc id o d e q ue "0 e ss en c ia l d a fruta [el 0 rn io lo , D ao a c asc a" (2 :4 59 ). R eso lv e c asa r u rn s ob rin ho e u m a . a fil ha da m e di ~t~ u m a e st ra te gi a " pro fu nd ar ne nte c art es ia na " ( 2:4 60 ): c o n~ o ca r o s . dO lsjovens a um a s er ie de l i< ;:oe s ,que comecara co m nocdes g er ai s , do u ni ve rs e ~ g ra d ua lr ne n te l ev ar a I I "a n al is e d o s am or , d as c au sa s, n~sldades e efe1tos"(2:459) . 0 p la no te rn 0 resultado d ese ja do , e e p ar. cl al m en te _ p or c au sa d as l i< ;:O e s.P or em , m a is d ec is iv as q ue a s i de ia s l e clOnada s s a o a s s e ns a<; :o e s in c id e n ta ls a s m esrnas - as estrelas o bser- vadas , _urn casal d e a nd O ~n ha s, u rn pa r d e b es o ur os e, ~naturalrnente, as s e n~< i oe s r ec tp " ro c a s. d o : j o v en s , 0 c fr cu l o d e i n fl u en c ia s s u je i to - { Jb j et o e eV l~en~e em M anana, co nto em que C outinho , cu jo casam ento co m Am ,ella Ja esta m arcado , chega a saber que a escrava M ariana esta a pa lx o~ a~ p or e le , E st~ co nh ec im en to le va 0ra pa z a se p reo cu pa r c ad a ve z n : a IS co m ~ an~tJas d a escrava, 0 qu e p or su a v ez causa o s cium es da noiva e a d is so lu c so d o casamento. Tematiza-ss 0 mesmo cfrculo em "Fulano ", onde urn ho mern excessiv arnen te priv ado passa a v iv er p re oc u~ ad o c o~ su a im a ge rn p ub lic a, e m c on se qile nc ia d e u rn a rtig o q ue U rn a n u _ go " p ub lic a n o jo rn al, e lo g ia nd o s u a s v irtudes, E m "Teoria d o M ~lhao um pal aconselha 0 f il ho a v iv e r e x cl us iv a rn en te p a ra r ef le ti r e sa tisfaz er o s g os to s alh eio s, A o d ar p rio rid ad e a " al m a e xt er io r" 0 c on to r ec on he ce , p or s ug es ti io i ro n ic a, a i m po rt sn ci a d a " al m a interior", 20 "0 anel d e Po lfcratea" trata d o circuito da s i n fluenc ia s i n ter sub je t iva s , quando Xavier p ronuncia uma f rase bonita e passa 0 resto da v i da o uv in do a m esm a f rase repetida p or am igo s e ate po r pesso as d esco - nhecidas, A fu sia d as n o¢e s d e "fo ra" e "d en tro ", im p lfc ita n a le i d a la ran ja , 6 a po ia da t ex tu al m e nt e e m o ut ro comentar io de Merleau-Ponty: 0hornem 6 "uma rela<;:8.oom o s in stru m en to s e o s o bje to s - um a r e la< ; :aoque Dao consis te sO n o p en sa m en to , m a s q ue 0env olv e n o m und o d e m an eira qu e chega a te r u rn a sp ec to e xte rn o, u ma p arte d e fo ra , q ue 0 t ome 'objet ivo' ao m esm o tem po q ue 6 su bjetiv o" (Sense 130). o acrescimo d e um a l ig a <; :a o o b r ig a t6 ri a 80 mode lo binario da c o ns ci en ci a m u d a 8 fOI1IlJl d o m o de lo d e u m a b ase lin ea r ("d e d en tro p ara fo ra" o u d e "fo ra para d entro ") p ara u ma b ase circular. N este aspecto , parece-me qu e 0 mode lo de Machado antec ipa as teorias recentes da cibernetica, qu e 6 0 e stu d o d o s m e ca nis rn os autogovernantes, A ciber- n etica trab alha co m o s ch am ad os laces d e retro acao , q ue ligarn d ois o u m a is a pa re lh o s c om p lem e nt ar es (Gilbaud 2 5-2 9) . U rn e xe m plo c la ss ic o desta configuracao e a d o a qu ec ed or e 0 termostato, Ligados circular- mente , cada a p ar el ho m o d i f ic a 0 f un c io n am e n to d o outre p ar a m a nt er u m a o pe ra ca o c on tro la da e es ta ve l. U rn e le me nto c om u m n este a co pla rn en to d e m a qu in as 6 a c om p le m en ta rid ad e n o q ue d iz re sp eito a pro du cao e recepcao . O s' d ois ap arelh os sao tan to p ro duto res co mo recep to res d e in fo rm acao na fo rm a de energia, m as um e p r in c ip a lmen t e p r o du t o r, enquanto 0 outro e p ri nc ip al m en te r ec ep to r ( G il au d 2 3 -2 4 ). P ar a r ec o rr er ? l t e rm i n o log i a ma c h ad i an a , U rn s e o rie nt a " de d en tro p ara f or a" e nq ua nt o o ou tro "d e fo ra para d en tro". N o m odele aquecedor-termostato, a transferencia receptiva 6 p eq ue na , m as a su a receptividade " de fo ra para dentro" e grande. E x is te , n o e n ta n to , u rn e lem e nt o d e v e rs at il id a de n a s it ua <; :i ioh um an a q ue to rn a as coisas m u it o m a is p ro bl em a ti ca s, O s se re s humanos, em o p os i~ o a os a qu ec ed o re s e t er m o st at os , s ao e xt rem am en te variaveis , e a pto s c om o p ro du to re s e re cep ta do re s d e in fo rm a cao , A s c on sc ie nc ia s h um an as em su a in te ra ca o, p orta nto , c on stitu em u rn 1 a l 1 0 de i n te ra c ao , m as u rn 1 a9 0 q ue tern a p oten cia d e to rn ar-se u rn cfrculo v icio so o u urn laco e s tr a nh amen te t o rc i d o. S e gundo Ho f st a dt e r, "0 fe no m en o d o 'laco e st ra nh o ' o c or re q u an d o , a o su birm o s o u d esc en no s atrav es d e n fv eis d e u rn siste ma h ie ra rq uic o, d e rep ente n os en co ntram os no m esm o lu gar em qu e co mecam os" (1 0), E le cita co mo exem plo v isual e co mpacto a represen tacao fam osa d e 21 5/11/2018 DIXON, Paul - Os Contos de Machado de Assim - Mais Do Que Sonha a Filosofia - slidepdf.com http://slidepdf.com/reader/full/dixon-paul-os-contos-de-machado-de-assim-mais-do-que-sonha-a-filosofia 11/57 Escher das maos que se desenham uma a outra: "os nfveis que or- dinariamente s a o vistas num senti do h ierarq uico - aqu ele que desenha e aquele que 6 desenhado - Be invertem, criando uma Hierarquia En- rolada" (689). A ideia do desenho nos devolve a uma da a metaforas mais empregadas para descrever a consci sncia empfriea: a do instrumento p on tu d o, i m pr im i nd o -s e na mente. Voitando agora so modelo de Machado, qu e co nsiste em u ma alma orientada para dentro e outra para . fora, poderfamos dizer , em termos da analogia do instrumento pontudo, que agora temos dois implementos de inscr iyiio, em vez de sO um. A alma interior Be escreve na exterior, e a alma exte rior se escreve na inte rior, como no desenbo de Escher. As interayOes humanas estiio sujeitas a condi~o paradoxa l em que os se res, iguaImente aptos a controlar e para serem controlados, existem num unico circuito. 0 paradoxa ajuda a explicar , talvez, por que estamos sujei tos a desencontros e guerras; por que podem ocorrer batidas de carros quando cada urn tenta evitar 0outro, ou po r que pessoas muito ed ucad as s e c ho cam , em bo ra cad a u ma queria dar prefersncia a outra. Oconto "0 espelho" examina urn desses 1a908 esttanbos, que resulta . da impJicayao mutua d a s consciencias, 0 conto comeca com um a vista da s reuni5es freqiientes de urn grupo de cinco homens, "resolvendo, amigavelmente , os mais a rduos problemas do universe" (2:345). Urn membro do grupo - Jacobina, que resulta ser 0narrador d e u m a a ne do ta i nt er ca la d a - e d if er en te d o s o u tr os , p o is embora escute com entusiasmo, constantemente se r ec u sa a c o nt ri bu ir a palestra: " "Rigorosamente eram quat ro que falavam.mas havia na sa la urn quintopersenagem, calado, pensando, cochilaado, cuj a esp6rtula no debate nao passava de um ou outro resmungo de aprova~o. Esse homem tinha a mesma i d ad e d o s c ompa n he ir o s, entre q ua re nta e cinqiienta anos, era provinciano, capitalista, inteligente, n a o sem instru~o, e, ao que parece, astuto e caustico. Nao discutia nunca" (2:345). Para tomar emprestada a terminologia que ele mesmo in t roduziu , podemos dizer que Jacobina esta iaclinado a debil itar a "alma inter ior", na o se deixando falar durante os debates. Insiste em ser, quase por complete, receptor de informayao em vez de produtor. Em termos ciberneticos, Jacobina parece estar tentando "alisar" 0 1890enrolado de ret roacao em que Be encontra - tentando tornar a interayao com os a mig os m a is lin ea r do que circular. Descobrimos que Jacobina apresenta boas razces para mante r-so calado. A alma surge como 0 assunto da palestra, e 0 participante tao j, " 22 ,: 1 l i' " calado surpreende os outros por comecar uma longa exposi~Q. S~ fala, no entanto, com a condiyao de que os outros prometam o~v~r~ ... J calados" (2:346). Vemos que Jacobina ainda esta te~tando ~lDunulC a retroayao, mas que agora age num sentido conttirio. Obngando os 1 rmanece r ca l ados ele agora esta debilit ando a "alma c o e ga s ape' exter ior" ern vez da "alma interior". . . A narrayiio de Jacobina, tratando de uma expe?encla .pessoal. explica por que precise impor resistencia no cfrculo de mfiuenclas entre ele e as outras pessoas. E historia de urn laco que se tornou estranho, ou que saiu das medidas de controle. da Conta que muitos anos antes, foi nomeado alferes na guar nacional, algo que era uma honra consideravel para urn hornem de sua posiyao e idade: d "Tinha vinte e cinco anos, era pobre, e acaba~a de ser n~mea ~ alferes da guarda nacional. Na o imaginam 0 a co ~ te clm en to ( ue Isl0 fO~ Minha m a e ficou tao orgulhosa! tao contenle. Chamava em nossa casa. . . Na me 0 sel l alferes . Primos e tios, foi tudo uma alegna smcera e p~ra. f vila, note-se bern, houve alguns despeitados. [... J Em_compensar;ao, ive muitas pessoas que ficaram satisfeitas ~m !o.mea~o; e a prova e quetodo 0 fardaroento m e foi dado p or a m ig os (2.347). Aqui vemos uma situayiio em que 0nfvel de retroa~o esta bern alta. A alma interior comecou 0 ciclo, tomando-se alferes. Dal, todos os que o rodeiam constituindo a alma exterior, reagem. Alguns respondem t . amente mas a maioria reage bern favoravelmente, refot9ando a neg a IV , • dao a informa9a o inicial da alma interior. 0 fato de que os arnigos Jacobina sua farda de alferes sugere q~e eles_jliampli~ca.:am a ~en~gem original. Agora, fardado, 0jovern proJeta a mfonna<;ao alferes rnais do que nunca. . "ed' f Uma tia ao receber not icias da patente de Jacobtna, P IIIque os~e ter com ela e levasse a farda" (2:347). Ele consent~ ern ficar co m alia algum tempo, e encontra uma retroa~o ainda_mais m!ensa:"Tia Marcolina [ .. . ] escreveu a minha mae que nao me soltava antes de urn m e s pelo menos. E abra~va-me. Chamava-me tamMm 0 seu alferes . [ .. . ] Era alferes para ca, alferes para 1 : 1 , alferes a toda a hora. Eu edi-lhe que me chamasse Joaozinho, como dantes; ela abanava a cabeca, ~radando que nao. que era 0 ' senhor alferes'" (2:347). Em homenagem ao sobrinho, a mulher ~oloca no seu quarto seu mais precioso m6vel, urn espelho grande e antigo. 23 5/11/2018 DIXON, Paul - Os Contos de Machado de Assim - Mais Do Que Sonha a Filosofia - slidepdf.com http://slidepdf.com/reader/full/dixon-paul-os-contos-de-machado-de-assim-mais-do-que-sonha-a-filosofia 12/57 ,I " .: J Na c a s a , tanto vis i tantes como escravos demonstram a m e sm a e fu sa o c i a , tia MareolinaJ cr iando u rn l ac o d e r et ro a 9i io c uj a i nt en si fi ca ~a :o e c on ti nu a e a ce ba modif icando a "a lm a i nt er io r" d e J aCObi na : "0 certo is qu e todas e ss as c o is a s, c ar in h os , a te n~ 5e s, o b s~ ui os , fizeram em mim um a transform a~o , que 0 natural sen tim ento d e m o cid ad e a ju do u e c om p le to u. [ ... ] 0alferes eliminou 0h om em . D u ra nt e alg un s d ias a s d uas n atu rez as eq uilib rara m-se; m as na o tardou que a pr imi t iva ~esse A o u tr a; f ic ou -m e uma parte m in im a d e h um a ni da de o Aconteceu en tao q ue a alm a ex terio r, q ue e ra dantes 0 sol, 0 ar, 0 campo, os o lh os d as mocas, mudou a n a tu re z a, e passou a ser a cortesia e os rapap~ c ia casa, tudo 0 que m e falav a d o po sto , nada do que falava do hom em , A lln ica parte do cidadao que ficou com igo fo i aquele que e nte nd ia C Om 0 exercfcio c ia patente: a o ut ra d is pe rs ou -s e n o ar e no passado" (2:348). o "la~o estranho" do jovem Jacobina, entao , co nsiste neste paradoxo: ele na o e s6 im p re ss io na nt e c om o ta OlWm i mp re ssi on av el; n ao is s6 s en sa cio na I c om o s en s{ ve ! a s reJa<;:oesalbeias . E colocado num am biente co m p esso as q ue estao bern im pressio nad as C Om sua figu ra im peessionante, e ao m esm o tem po im pressionam sua im pres- si on ab ili da de . 0 q ue re su lta e u m circu lo , em q ue as in flu en cia s m utu as, ao -in ves d e pennanecerem num estad o d e equ ilfb rio , am plificam -se m u tu am e nte a te perder 0 controle . Tal e sta do n os faz recorda- aquele sentido com um da palavra "retroa~o", que se refere ao guincho ou z umb id o p ro d uz id o q ua nd o um mi c ro f on e amp li fi ca do se aproxima demai s de s e us a lt o -f aI a nt es . No m eio de tudo i sso, uma em erg~ncia fam iliar o briga a tia a a us en ta r~ se . L og o d ep ois d e SUa sa fda , os escravos fo gem , e 0 alferes se e nc on tra c om p le ta m en te s oz in ho , E sta nd o " vic ia do " e m m .a nife sta ~o es efusivas c ia s ua " alm a e xt er io r" , e re pe nti na m en te d esp ro vid o e e xp eri - m en ta sin to ma s d e "d esin to xica 91 o" - letarg ia, m aI-esta r e ate alucina- ~oes . A p ri nc ip io , a i ln i ca s a fda d es te e st ad o d e a ng lis tia s ao seus SOMOS: "Acho qu e posso explicar a ss im e ss e fe n6 m en o: _ 0sono, eliminan- do a neces s ic i ade de um a a lm a e xt er io r, d ei xa va atuar a a lma i nt er io r . No s S OM a S, fa rd av a-m e , o rg ulb os am e nte , n o m ei o c ia fa milia e d os a mig os q ue m e e lo gi av am 0 garbo, q ue m e c ham av am alferes; vinha u rn am ig o d e n ossa c asa, e p ro me da-m e 0 p osto d e te nen te, o utre 0 d e capim o o u m ajo r; e tu do isso fa zia -m e v iv er" (2:350). E ta passag em d em onstra o utra v ez co mo a m ente e u rn me c an ismo de au tocor r~o , DO e nta nto u rn m e ca ni sm o b em m a is fle x(v el e in ve nt iv o 24 , ti da c ia " alm a e xt eri or" ro m pe 0 18<;0 'q ue q ua lq ue r o utre a pa re lh o '. A re m e lh t u ma m aq uin a a u d eix aria d e " N E trcunstancias seme an es id de retroacao. m crrc d I' ites de c on tr o le estabeleci os.", . . igosam ente as m u , funo ionar ou sam a pen . u novo circuito artificial, que .( a mente cna mtraves do s sonhos, porcm , , . fi r m a d e e qu il fb ri o, 0 , 1 o ferece urna c erta a d J b' a e o u tr a i ns ta nc la d o e st fm u 0~ . erm anente e aco m A solucao m ars P , .( d i te d o e sp elh o n o se u quar to." t • "Flea em pc Ian . , ar t if ic ial c ia alma ex enor . "0 r 6p ri o v id e o parecia c on ju ra do c om No infcio se espanta ao ver quem P u a figura nft ida e inteira, mas vaga, ' . nao me es m po 1 b d o resto do universe: "(2'350) Mas entao, se em ra e esfum ada, d ifusa, som bra de sornbra , , . sua farda: , f d de alferes Vesti-a, aprontei-rne t odo ; "Lembrou-me vestir a ar ~h levant~i os o lhos, e [ ... J 0 vidro e com o estava defronte do espe 0, h linha de m enos nenhurn • t ral: nen um a 1 , reproduziu e ntiio a figura Ineg , If es que a ch av a, e nf im , a alm a di • era eu rnesmo, 0 a er , id contorno iverso; d do sftio dispersa e fugi a com I e nt e c om a ona , exterior. Essa a rn a aus , lho" (2'351-52). os escravos,ei-la recolhida no ~pe Au~usto Meyer (73-74) e Alfredo "0 espelho" na o e , como a Irm~m int rior" pela " a lma ex ter io r " . Bosi (447-48) 0r el at a d a d er ro ta _ d a d alm a I;r~ cesso e m q ue Jac ob in a se Pelo contrario, IS a repr~enta_<;ao C e u m do se s periodicas d es s a "alm a atingindo um equilfbrio. om cura, I t a o c ont ro l ad a : 0 e xte rio r" e fe tu a,u m a re , fa a ~ C d d ia a u ma certa ho ra, v est l a-m e d e "Dal em diante fu~outre. : :lh~' lendo, olhando, meditando: no alferes , e sentava-rne diante d? sp , Com este regimen pude t ~ horas despia-rne outra vez. fim de duas , ,r 0 0 ' solidao sem as sentir" (2:352). a travessa r mats se ts dias de 0 t Jacobina aprende qu e e tanto Homem inteligente a ~utoconsc l, en e, ionavel e q ue , portanto, esta . t a excessivamente Impress , A impressionan e com . d id ntidade qu e deseja manter . 0 sujeito a t en d en ci a d e p er de r 0 tipo ~"l te ( 'a o d e a ut oc o rr ec so , J ac o bi na ' a D em outra manlles a.. , termmar sua narra< ;: " , _ , "Quando os outros vo ltaram a SI, ' iste de novo em resishr 11 retroacao: msis ido as escad "(2'352), o narrador tinha descido as esca as " I urna aguda consciencia .. lh " Machado de ASSIS reve a Em 0 e sP ~ A 0 , m eca nism o d e autocontrole, propenso, da propria consciencia com o ~m , de n at ur ez a p si co l6 g ic a, q ua nd o rt t r uques r rus tenosos, I entretanto , a ce o s t as alm as 0 q ue p are ce sa va r d t ecruzamento en re as arm as. , se da 0 paradoxo 0 en r , A ' . . c ua h a bi li d ad e c a ra ct er fs ti ca io d t estas circunstancras c S d o e quilfbrio a men e n had iano parece ser ° sim bolo a d e auto -analise , 0 esp elho no co nto m ac 25 5/11/2018 DIXON, Paul - Os Contos de Machado de Assim - Mais Do Que Sonha a Filosofia - slidepdf.com http://slidepdf.com/reader/full/dixon-paul-os-contos-de-machado-de-assim-mais-do-que-sonha-a-filosofia 13/57 ", capacidade, atraves da introspeccso, de a homem ser 0 seu proprio e sp elh o, c ur an do -s e a s i m e sm o . Oconto IStfpico da fascinayao m a ch ad ia na p elo r el ati ve , c on ti ng en te e amb fg u o. Em conseq i lenc ia, M quem qu is e ss e ma rca r o u tr e p o nt o para varies leitores (Brayner, "Canto" 16-17 ; Coutinho 91; Miguel Perei ra 222-23; Moog 202) que encaram 0 autor brasi le iro como um amargo pessimista , Porem outros reconhecerao que esta visao relat iv is ts sugere a c ap ac id ad e d e a da pta ~o e m f ac e d e u ma re alid ad e ric am ea te complex a, talvez a~ uma regulagem precisa que se aproxima do ideal. Lufs Fernand o V id al tern m uo ao resumir 0 tema central dos coates de Machado: "to absoluto e s 1 0 e st at ic o, 1 0 i nc onm ov ib le , l a negacicn de la vida; en cambio, 10 relativo es 10 movil, l a dialectica de 10 humane" (133).Iacobina, com sua sensibilidade a retrcacao e com sua capacidade de modificar seu pr6prio modo de operacao em resposta aos sinais de erro, demonstra qu e a relat iv idade pode significar a vi ta lidade de auto- correcso, 0 que Vidal chama "la perfectibilidad humana, 5610alcanzable por.la asce tica moderaciony la duda met6d ica" (133) . A dialetica interior/exterior tern side uma constante em nossa discussso do co n to aM agora. Embora 0modelo teorico nao seja 0mesmo de Machado, e freqiiente se recorrer A m e sm a dialetica para referir-se a a sp ec to s lite ra rio s, f or ma e c on te ud o. A te a go ra confesso q ue m e d eix ei seduzir quase por completo pelo conteudo da obra, por seu aspecto interior, e ni o p o r a sp ec to s f or m al s ou " ex te rio re s" . M a s t am b em s ou u rn m ecan is me d e au to co rrecao e na o p oss o term inar se m o bs erv ar aq uele outro lado do conto. Segundo Dirce Cortes Riedel, 0 conto combina 0 discurso filos6fico com 0 discurso sobre a arte (99). Tendo trat ado do myel filosofico, pretendo ago ra to ear no o utro nfvel, Num a rt ig o s o br e Dom Casmurro, A na L uc ia G az ella d e G arcia t ra ta d o a sp e ct o a u to - re fl ex iv e c ia fi~o machad iana, c ia m an eir a c om o a obra tende arevelar SUBS estruturas e procedimentos textuais dentro c ia ac;io narrativa. Segundo e la , a o br a e espelho da pr6pria obra ("Espelho" 71-78), Mal poderfamos esperar que urn conto i ntitu la do " 0 espelho" f os se e xc ec ao d es ta r eg ra de a ut o- re fe re nc ia , e de fato na o e . N o c on to encontramos uma auto-reproducdo entre contetido e forma, a estrutura em geral do conto reproduzindo a situagao represen tada , e vice-versa. "0 espelho" e urn exemplo perfeito do chamado con to. intercaladc (Mayersberg) . Como ja fo i ind icado, a histor ia ex terior narra 0encontro de urn grupo de palestrantes, e as eventos que seguem 0 mon61ogo de Jacobina. 0 interior trata da filosofia des te sabre a conscisncia, definindo- 26 a como a conflu~ncia d e "d uas alm as" , e demonstrando a t eo ri a c or n um a anedo: ::~ conc!ntrica do conto, em que urn .cemi:rio.exterior leva t ~ '0n arrativ e q ue en tao v olta ao cen srlo extenor, reproduz a ou ro cenan , ..,.,., e to em que , 1 e ta propria narra~ao wtenor. r. 0 m om n o momento crucla , • di te do espelho na sua Jacobina, numa apIica~~ da autotderaratd~-:b~~ _ a original, e a do farda de alferes. Temos lmagens up as e a 1h elho que par forca ser ia invert ida e complementar , : e ndo 0 esp~ e~ ~ t r I D ' ediario responsavel pela duplica~o. Esta coloca~ao 6 compa. v o tn e ~ . . im agern de Jacobina e a itua a o do pr6prio conto. Primeiro verno~ uma 1 s ~ estes falam c om e nt uS la sm o , m a s a qu el e 5 6 e sc ut a. seus co 1 le gas, em qU~mo cen:irio depois da narracao intercalada, vemos Ao vo ta rmos ao m. t os outros , 'tua<ta o invertida. Agora Jacobma esta f al an d o , e nq u an 0 , a 81 'I ' s A pn'meira e a ultima parte da obra, que encatxam a o uv er n S l enciose , ao de J a cob i na , sa o espelhadas um a na outra, , ~ narra~al isomorfismo coloca a his toria de Jacobina na pOSl~~O ~e urn pos s {ve l equ iva l en t e ao proprio espelho., Uma longa tra~~ao:~~~~;a~: , cidental compara a narrat!va a urn espe 0 . ht~atura 5~ I ortanto a compara"ao do conto tern urn apoio convenclOnal (A r~dms .( )1'P Mas alem disso varies fatores textuais motivam a cornpara- conSl eruve. " , - 0 pelho da Tia Marcolina <tao. "Era um e sp el ho que the d era a rnad rinha, e que esta herd ara da _ uma das fidalgas vindas em 1808 com a corte de mae que 0 comprara a di - 0 D j - VI Nao sei 0 que havia nisso de verdade~ era a tra l"ao . . oao . , Ih . v ia-se-lhe ainda 0 ouro, lho estava naturalmente muito ve 0, ma s espe'do em part e pelo tempo, uns del f ins esculpidos de madreperola e outros caprichos do art is ta . Tudo velho , mas b om ... " (2:437~48).. ' .( , tos d e c or np ar ac ao e nt re a n ar ra tl va l it er ar ia Sugerem-se v..nos po n 'I" elho d e sc ri to a qu i. Como 0 espelho, a narrativa e rnuitas vezes e 0 esp d' ~ 1 ou pela con- da de geradio em gera<;ao, ou pela Ira icao ora ,passa"t " ). t dl H g 0 2 . a . de um ~ dos textos A n ar ra ti va e st a s uj ei ta u ra I<;ao, e ,sagra<tao . , ~ lh a narratrva e 0 estado r iv ilegiado dentro da tradicao- Como ° espe 0, , rodut~ de artistes. Na o e estritamente funcional, :as tern seus pr6pnos ~delf ins escu1pidos" e "enfei tes de madreperola ; ~m ~utros termos, , t rn a de recursos ret6ricos e convenclOnals. a pr es en ta u rn S IS e if eo canto Alem desse ponte de compara'iao, porem, yen icarnos ~u " _ c ve a fun ao do espelho por rneio de metaforas textualS: n~o me des re fi < t {t'da e 'Intei ra" (2'350) e "0 espelho reproduZlu-me estampou a igura n I ," textualmente" (2:350). 27 5/11/2018 DIXON, Paul - Os Contos de Machado de Assim - Mais Do Que Sonha a Filosofia - slidepdf.com http://slidepdf.com/reader/full/dixon-paul-os-contos-de-machado-de-assim-mais-do-que-sonha-a-filosofia 14/57 D' . A pos iyao de !8CQbina como narrador 6 id!ntica a de um autor A l~ge-~ a.ump ub li co , m as a u m p ub lic o e uja r ea s:a o i me di ata e v ed ad a . arreira imposta ent~ 0 remetente e 0 receptor is semelbante ao afas- !amento natural que existe entre 0 autor e 0 seu le i tor criado pelo feTt Oconto "0 lho"d '. ' " o. espe 0 esperta 0 Interesse, na o s6 p or s ua a na li se dos paradoxes da consci8ncia humana, como tambem pela riqueza de discurso em nfve l metali tenlrio. Ohm que espelba sua propria fo.nna:e~ conto tam~~ ~menta sobre a escritura em geral, sugeiindo sua fun980 como uma atividade hermetica em que 0 autor en's ..,.~ 6 . "I t . .. . 0.... pr pna a ma ex e~or , e sugenndo , talvez , ate um a fun<;ao autocorretiva, n a q ual 0 ~cntor, ao olhar para dentro, se cura, A imagem central do espelh ClrcUOSCreve todas las - 0 lh es sugestoes em seu proprio Iaco de re troa980. 0 espe 0 esta no conto, como tambem 0 conto esta no espelho. . '":, .'~ , 2 8 IT - A LE I DAS ESTRELAS DU PLAS: " UNS BRA«;OS " De todos os misterios celebrados na obra de Machado de Assis, talvez 0 maier se ja 0 da s relacoes entre as pessoas. Os encontros interpessoais machadianos quase sempre apresentam qualquer coisa de i m pr ed iz fv el o u de inexplicavel. Dao-nos a entender que 0 entrelacarnento de voatades e destinos, que e a rela~o entre seres, e no fundo urn grande en igma que s e r ep et e em inf indaveis permutacoes, tao singulares quanto as mesmas pessoas que dela participarn, Oconto "Uns braces" (Vadas histories, 1896) e urn exemplo formidave l daquele encontro estranho. Trata-se de Inac io, urn rapaz de quinze anos, que mora na casa de urn advogado, Borges, servindo como o seu agente, e que se enamora pelos braces da esposa de seu patrao, Observa-os acanhadamente, ate que a esposa, D. Severina, chega a sentir os seus olhares furtivos. Ela corneca a pensar nele, e acaba obcecada tambem. Certo domingo de tarde , Imido, deit ado na rede, sonha com urn encontro amoroso com D. Severina, Tendo safdo 0 advogado, D. Sever ina entra no quarto do rapaz, onde 0 espreita enquanto dorme. Num momento de ternura incontrolavel , inclina-se e beija 0 rapaz, justamente no instante em que esta sendo be ijada par ele no sonho. Como Machado conta, "Aqui ° sonho coincidiu com a realidade, e as mesrnas boeas uniram-se na imaginaciio e fora dela" (2:496) . Recuperada desse lapso, D. Severina sente tanto re rnorso que nao pode tratar do rapaz da mesma forma como antes. Sem que ele entenda por que, ela se torna cada vez mais sees e evasive: poucos dias depois, Borges despede 0jovem agente sem explicacao. Como e de se espera r dum texto machadiano, 0 conto cornunica var ias mensagens em varies nfveis. Em urn nfvel , oferece-nos uma .ideia geral sobre a casualidade e os sucessos imprevistos c ia vida. A coinciden- cia do beijo sonhado e do beijo real confi rma antecipadarnente uma tese que aparecera em D om C as mu rr o uns poucos anos mais tarde, quando Bento Santiago dira, UN a v id a h3 dessas semelhancas assim esquisitas" (1:892) . Em outro nfvel , Machado parece fazer urn comentar io psicol6- 29 5/11/2018 DIXON, Paul - Os Contos de Machado de Assim - Mais Do Que Sonha a Filosofia - slidepdf.com http://slidepdf.com/reader/full/dixon-paul-os-contos-de-machado-de-assim-mais-do-que-sonha-a-filosofia 15/57 gico e social, analisando os processes e efeitos da opressao. Tanto D. Seve~a COmoInaicio sao oprimidos pela presenca aUloritairia de Borges. Os dois recorrem A fantasia como manei ra de i ludi r esse vexame, e cada um encont ra no outro 0 sonho mais dispomvel. Em ainda outro nfvel, 0 conto apresenta uma crf tica ao ohjet ivismo posit ivis ts, vigente naquela e p o c a . Em vez da separa~o ngida entre 0 sujei to observador e 0 ohjeto observado, como postularia 0 positivismo, vemos uma sihla<;:aono conto em que 0 sujei to e 0 obj eto no conto se entremeiam e se confundem. No entrecruzamento de subjetividades e de influ!nci as, pa rece haver urna antecipa<;:ao do "paradoxo c ia carne". que sera a rticulado pelo fi16sofo Maurice Merleau-Ponty: aque le que sente nao deixa de ser sensfvel ao mesmo tempo. 0 tocador 6 tangfvel, 0 vidente vi sfvel : "quem ve n1i~ pode possuir 0 vistvel a nao ser que se ja por ele possufdo, que seja dele" (Yistve! 131). Em todos esses nfveis de s ignificado, a coincidencia e a reciproci- dade sao qualidades essenciais. Proponho aqui analisar alguns aspectos estruturais do conto que revelam as mesmas qualidades, e que criam uma harmonia entre a forma da ohm e os seus varies signifi cados. 0 p rirne iro destes e 0 duplo como principio de caracterizacao dos personagens Inacioe D. Sever ina. o duplo ou 0 s6sia e urn fenomeno quase ubfquo na Ii tera tura mundial, como varios estudosja mostraram (Keppler. Rogers, Rosenfield, Tymms) . Naturalmente, ha urna var ia~o grande ha urna percepeiio basica e essencial em que encara 0 duplo. Ha urn sentirnento no grau de semelhanea dos entes "dupl icados", Porern, cr eio que sernpre 'M uma perceP9ao basica e essencial em quem encara 0duplo. Ha urn sentimento de algo fantast ico e inexplicavef, de entender e nao entender, pois 0 duplo e Urn paradoxo por def inir ;ao. Paradoxo porque insiste na igualdade e na diferenea ao mesmo tempo (Rimmon~Kenan 151-59) . Se os personagens nao fossem iguais, nao ser iam duplos; se nao fossem unicos, tambem nao seriam, Esta igualdads dentro da diversidade , e diversidade dentro da i~ldade, nao deixa de ser urn misterio inquietante, como Freud assinalou (386-91). De modo geral, os contos de Machado de Assis dernonstram uma grande sensibilidade ao rnister io do duplo. Dois cases bern importantes em que os seres sao duplicados ou desdobrados sao .. 0 espe lho", que foi discutido no capitulo I, e "A causa secreta", que sera 0 foeo da analise do capftulo VI. Outro exernplo notavel e "Trio em la menor" que, como o romance Esau e Jaco, apresenta a s ituayiio de uma mulher narnorada 30 i ,; 1 por dois homens, e incapaz de se dec idi r en tre os dois. Mac iel . 6 jov~m e bonito, mas trivial. Miranda 6 grave e tern uma cabeca viva e in- tel igente, mas 6 velho e pouco atraente. Siioduplos complementares , ca~ urn apresentando j ustamente as qua lidades que fal tam no outro. Mana Regina nao consegue sentir-se atrafda nem por urn nem pelo outro; porem, esta apaixonada pels cornbinacdo dos dais: "Tinha ! ido [,:.J q~e ha estrelas duplas, que nos parecem urn s6 astro. [ .. . J Mana Regina VlU den tro de si a estrela dupla e unica. Separadas, va li am bastante; Juntas, davam um ast ro esplendido, E ela queria 0 astro esplendido" (2:524) . A mulher imagina que v8 umas estre las duplas. Ao dormir, sonha que "morria , que a a lma de la , l evada aos ares, voava na direyao de urna bela estrela dupla, 0 astro desdobrou-se, e ela voou para uma das duas porcoes; nao achou ali a sensar;ao primitiva e despenhou-se para outra das duas estrelas separadas. Entdo urna vo z surgiu do abismo, com palavras que ela nao entendeu: . - E tu a pena, alma cur iosa de per feicao; a tua pena 6 osci la r por toda a eternidade entre dois astros incompletos" (2:524-25). Maciel e Miranda sao esses dois astros incompletos. Igualmente, sao levados a fazer as co rtes a Maria Regina , como para sati sfaze r seu sonho impossfvel de perfeito equilfbrio, Muitos dos personagens machadianos par ticipam deste sonho, e sua parti cipacso se manifesta em duplos, rea lizando estranhos encont :os, j ogando sempre entr e igualdade e diversidade , Demonst ram urna lei do mundo machadiano, que chamarernos a " lei das estrelas duplas" : seres semelhantes/complementares se atraem, muitas yezes obedecendo aforcas inacess ive is a v o n ta d e c o n sc i en t e. "As academias de Siao" e outro conto em que os personagens principais sao duplos complementarios. 0 rei Kalaphangko tern uma alma pacff ica, enquanto sua concubina predileta, Kinnara tern uma alma belicosa. Trocam almas por algum tempo, e a harmonia de Siao e ameacada, porque 0 rei , agora agress ivo, resolve matar a companheira antes que possatomar posse da alma original. Esta, porem, anuncia 0 fu turo nasc imento de um f ilho . 0 amor paterna l do pal sa lva a vida da mulher, e restitui a harmonia an terior. Em "D, Paula", a protagonista recolhe uma sobrinha, cujo casamento esta em p:rigo porque ela se deixou enamorar por outro homem. Ouve a confissao da moca com a intencao de persuadi- la a des is tir, mas descobre que 0amante da sobrinha e filho de um ex-amante que ela teve na juventude. Fascina-se com 0 caso, porque permite a recordacao de seu proprio desvio amoroso. "Manuscri to de um sacr istso" narra 0encontro de dois primos, identicos 31 5/11/2018 DIXON, Paul - Os Contos de Machado de Assim - Mais Do Que Sonha a Filosofia - slidepdf.com http://slidepdf.com/reader/full/dixon-paul-os-contos-de-machado-de-assim-mais-do-que-sonha-a-filosofia 16/57 no sentido de set idealistas demais pam 0mundo real. Ela recusou muitos p o ss fv ei s m a ri do s , p o r nao achar em nenhum a perfei~o desej ada, Ele se fez padre, mas nao progrediu no sacerdocio, desprezando as necessidades p oh tic as . A o s e c on hec er em , eada um r ec on he ce no outro a perfei~o desejada. Porem a pr6pria o b s es s ao i d ea li st a i m p o ss ib il it a 0casamento. A estetica d e M ach ad o d e A ss is fo ge < l a s s em e lh an ea s o bv ia s, E m " Un s b ra ce s" , p or e xe m plo , a d if er en ca fundamental de sexo entre Inacio e D. Severina cria uma construcao mais sutil que muitos cases em que ba u m a e qu iv al en ci a v is ua l e ntr e o s d up lio ad os , N a te rm in olo gia d e Robert Rogers (4), os personagens em "Uns braces" s a o duplos "Iatentes" (latent) e nao "patentes" (manifest). Contribui a sutileza do t ra tamento tambem 0 fato de qu e a consciencia dos personagens des ta identidade e, quando mais, incompleta, Alfredo Bosi ve no conto a demonstracfio de u m a r eg ra g er al de d es en co ntr o e ntr e o s s er es , 0 " d es nf ve l d o s pares e a necessaria disparidade de s e us d e st in o s " (454). Tal visao, natura lmente , favorece a percepcso de diferencas no paradoxo da duplicacao. Por outro lade, s a o notaveis as sernelhancas e correlacdes entre os personagens, como se eles compartilhassem 0mesmo destine. Ja rnencionamos 0 fato de qu e ambos s a o oprimidos pelo advogado, Borges. Este grita, reclaman- do a desa tencao de ambos. D irig in do -s e a In ac io , d iz: " On de anda que nunca ouve 0 qu e lbe digo? [ .. . J E tal so no p es ad o e c on tfn uo . D e manhii "6 0 qu e se ve: primeiro que acorde e · preciso quebrar-lhe os ossos" (2:490). E mais ta rde, queixando-se de D. Severina, diz quase a mesma coisa; "Que e que voce tern? [ ... ] Parece que ca em casa anda tudo dormindo! D e ix em e st ar , que eu sei de urn born remedio para t irar 0sono aos dorminhocos" (2:493). Ambos p ar ec er n t er m e do de Borges, e Dao podem estar a vontade em sua presence. Inacio, por exemplo, "ia comendo devagarinho, nlio ousando levantar os olbos -do prato" (2:491). e Severina "apaziguava-o com des c u lp a s [ . .. J e f az ia -lh e c ar in ho s, a m e do que eles podiam irrita-lo mais" (2:493). 0 desconforto des dois e aumentado por urn forte senso de escrupulos. No caso de Inacio, "A educaeao qu e tivera nao Ihe permitia encarar os braces logo abertamente" (2:492), e no de Sever ina, imaginar que Inacio estava olhando-a "trouxe-lhe uma compl icacao moral" (2:493). Esta complicacao moral em ambos fez com que Imido "sorrate iramente olhasse" (2:492) os braces de Severina; esta, por sua vez, "mirava por baixo dos olhos os gestos de Inacio" (2:493). Imido e urn rapaz "ma l vestido" (2:490), e Severina usa mangas cur tas porque "gas tara todos os vestidos de mangas compridas" (2:491) . 32 :1 Porem, tanto D. Severina como Inacio possuem, se Dio beleza: pelo menos uma gra<;a sadia. Severina tem "vinte e sete anos floridos e solidos" (2:491) e !nJ1cio "quinze anos feitos e bem feitos" (2:490). Enquanto eada u m o bs er va 0 outre, h a um a t en d e nc i~ de f oc al iz ar e ~ uma parte do corpo e acha- la especialmente bela. Obviamente a f ixa<;ao de Inacio sao os braces da mulber. Ela parece concentrar-se na ~ca do moco: "Ela advertiu que entre 0 nariz e a boca do rapaz havl~ urn princfpio de rascunho de buco" (2:493); "viu que a ~ do mocinho, graciosa estando ealada , ni lo 0 era menos quand? ria" (2;4~4); ~ observando-o quando dorme, vi u "urn grande ar de nso e de beatitude (2:495). . _ Quante A caracterizacao dos protagonlstas, en~o,. a .obm tern uma estrutura binaria. Cada urn dos dois personagens pnncipais e 0 duplo/o- posto/complemento do outro. Segundo Freud (390-91).e Keppler (195~ 98) , a correspondencia estranha de tais personagens c?a urna atm~sfera irrea l, 0 seu encontro parece contrariar as leis normais da casualidade, e sugerir uma experiencia destinada - algo que nao d:via acont~r, e por tanto tinha que acontecer . Ir real tambem e a sugestao de narcrsrsrno na relacao. Cada urn, ao enamorar-se pelo outro, esta se apaixonando por si mesmo (Freud 387). A dupliea<;iio de personagens nao e 0 u n ic o f en o rn e no de d~dobf~- mento cornplementar da obra, Exis te tarnbem uma estrutura de s imetr ia bilateral na forma narrativa do conto. A segunda parte do enredo repete a primeira, mas a repeticao nao e na mesma ordem, senao ao rey es . 0 comeco e 0 tim da obra se reproduzem, e assim por diante ate 0 centro onde ba uma conjuntura dos dois "braces narratives" nu m ponto culminante - 0momento do beijo. Esbo¥Srei agora os motivos principals desta estrutura quiasrnica: 1) a t en ta ti va d e esconder-se, 2) 0 acanhamento, 3) 0 escape, 4) 0 segredo, 5) 0 sonho, e 6) 0 beijo. _ Inacio quer se esconder no infcio do conto, e Sevenna 0 quer no tim. ]amencionei a passagem em que Inacio janta "nao ousando levantar os olhos do prate" (2:491). Logo depois do jantar Inacio "retirou-se, como de cos tume, para 0 seu quarto, nos fundos da casa" (2:492). Como sabernos, ele quer se esconder tanto da presence tiranica do amo, como da presence sedutiva da d ona qu e the causa vergonha, No final da obra, D. Severina, vexada por tee beijado 0 rapaz e receosa de que ele 33 5/11/2018 DIXON, Paul - Os Contos de Machado de Assim - Mais Do Que Sonha a Filosofia - slidepdf.com http://slidepdf.com/reader/full/dixon-paul-os-contos-de-machado-de-assim-mais-do-que-sonha-a-filosofia 17/57 'I" desconfie de algo, se v~ COm "a cara fechada e 0 xaile que cobria os braces tao bonitos" (2:496). Quando Inacio quer se despedir dela 0 advogado I h e i n fo rms que e la " Es ta I a para 0 quarto. co m m uita d ord e cabeca" (2:496). Dando u m p as so da s e xt rem id a de s p ar a 0centro do conto, verifica- m o s a rn en ya o do v ex am e o u a ca nh am e nt o d os p ro ta go nis ta s, D iz -s e que Inac io, ao repara r nos braces da mulher , "afastava os olhos, vexado" (2:492). Nesta parte h t1 tam bem a passagem ja ci tada, sobre a e du ca c ao do rapaz que nao lhe pennite olhar a senhora francamente. Por sua vez , depois do beijo Sever ina se sente "vexada e medrosa" (2:496) . Depois 0 " ve xa me fi co u e c re sc eu " (2:496). Ain~ mais um passo adentro, encontramos no enredo ou 0 escape, ou 0 desejo de escapar, No caso de In acio , ~ um desejo nao realizado: "Deixe estar, - pensou ele ur n dia - fujo daqui e nao vol to mais" (2:492); "Von-me embora , repet ia ele na rua como nos primeiros dias" (2:494). No caso da D. Severina, chega a ser urn ato executado: "'tao depressa cumpria 0ges to [do beijo], como fugiu ate Aporta" (2:496) . Ade~trando-nos a inda urn pouco mais, podemos ver que cada pessoa se v e obrigada a guardar um segredo que the causa irri ta~o e confusao. o de Inacio ~, naturalmente, a sua paixso pela mulher do advogado: "Acordava de noite, pensando em D. Severina. Na rua trocava de -esquinas, errava as portas, muito mais que dantes, e nao via mulher, ao longe ou so perto, que lha nao trouxesse Amemor i a " (2:494). 0 segredo guardado pela D. S ever in a ~ 0 da realidade do beijo: "ela na o acabava de cre r que fizesse aqui lo; [ ... J inclinara-se e beijara-o. Fosse como fosse, estava confusa, irritada, aborrecida, mal consigo e mal com ele" (2:396). Ao chegarmos quase 80 cumulo do enredo, descobrimos que cada urn dos protagonistas aparece no sonho do outro. P ri m ei ro I na ci o e 0 objeto do sonho da mu lh er : . .S ev e ri na s en ti u b at er -l he 0 co ra~ o co m v eernencia e recuou, Sonhara de noite com ele; pode ser que ele estivesse sonhando c~m ela" (2:495) . Como sabemos, a intui~iio de Sever ina e correta: "Que nao possamos ver os sonhos uns dos out ros! D. Severin a ter-se-i s vi sto a si mesma na imaginagao do rapaz; ter-se- ia vis to diante da rede, r i sonha e parada; depois inclinar-se, pegar-lhe nas maos, leva-las ao peito, cruzando al i os braces, os famosos braces" (2:~95-96). Neste motive, talvez nao h aj a a s im e tr ia perfeita que parece existir em outros motives. o sonho em que aparece Severina, pois, comeea na primeira parte do enredo e nao na segunda, Se p en sam o s, p o rem , que este sonho continua 34 depois e portanto per tence tambem i\ segunda parte, a simetria ainda se conserva. . o be ijo, em que "a s mesmas bocas u n ir am - s e n a im ag in a cf io e fora dela" (2:496). IS0 motivo que une os dois "braces" do enredo. Assim como no beijo ha urn encontro de sonhos, de destinos, e de labios, ha tambem um encontro, em outro nfvel, de dois membros narratives, identicos mas opostos. 0 conce ito do duplo, assim, atinge varies nfveis de significado. H a u ma d up lic aca o de caracterfsticas nos protagonis tas Severina e Inacio, como ja se explicou. Mas tambem uma duplicacao entre os dois lados cia narracao. Bste isomorfismo entre a forma e mensagem sugere ainda outre tipo de s6sia - a forma do conto e duplo do conteudo,"e 0 conteudo duplo d a f or m a. "Uns braces" parace ser um tftulo perfe ito, pois a imagem encerra var ies s ignificados salientes no conto. Os braces sugerem a identidade e a nao identidade, a simetria e a oposicao. Sugerem a reciprocidade paradoxal c ia came, que Merleau-Ponty, num ensaio intitulado "0 entrelacamento, 0quiasma", identifi ca como a capac idade de sent ir, e a simultanea capacidade de ser senti do: "no 'toear ' acabamos de encontrar [ .. . ] um verdadeiro tocar 0 tocar, quando minha mao di reit a toea a m a o esquerda apalpando as coisas, pelo qual 0 'sujei to que toea' passa ao nfvel dO tocado" (Vis(vel 130). Quiasma corporal , os braces ofe recem uma misteriosa atrayao na sua mater ia intercalada. 0 narrador menciona esta importante regiso do "entre": Inacio "Cbegava a casa e nao se ia embora. Os braces de D. Severina fechavam-lhe urn parenteses no meio do Iongo e fastidioso perfodo da vida que levava, e essa ora~o intercalada traz ia uma ideia original e profunda, inventada pelo ceu unicamente para ele" (2:494). Os braces, entao. sugerem no seu "entre" 0 maravilhoso encontro, 0entrelacamento de sujeito e objeto, sonho e realidade, vontade e vontade, des tino e destino. 0 mister io das relacoes humanas e fechado e resumido numa "ideia profunda" entre os bracos e (entre parenteses) por um beijo maravilhoso, 35 5/11/2018 DIXON, Paul - Os Contos de Machado de Assim - Mais Do Que Sonha a Filosofia - slidepdf.com http://slidepdf.com/reader/full/dixon-paul-os-contos-de-machado-de-assim-mais-do-que-sonha-a-filosofia 18/57 · '" " ,': I m- A LEI DA S OR TE G RA ND E: " JO G O DO B IeR O " o m und o d e M achad o d e A ssis nao e, ex atam ente, u rn m un do d e ord em e progresso. C re io q ue a ordem tern se u Ingar, c omo tambem 0 progresso, M a s M a ch ad o se diferencia d e seus contempor i lneos , positivis- tas, pa~ quem ordem e progresso tern uma relacso estreita, 0 mundo m a o h ad ia no t am b em nao 6 de desordem e r egre s so ; Dao ex i s te de te rmin i s - m o, nem pelo Iado o tim ista nem pelo lado pessim ista , C om o para desm entir ta is program as rigid am ente lineares d e causa e efeito as m : m do s f ic t{ ~i os c ri ad o s p or M a ch ad o i nv ert em a s e le m en to s d a f6 m :u la . D a? -nos m .~ tas v ezes ordem e regresso , o u d esordem e pro gresso , ab~do a visao d o m u nd o, dando Iugar apropriado a s contingencias e aos acidentes , o mundo e ta nto ca usa l c om o c asu al. Y ig or am a o rd em e 0azar em terrenos d ife re nt es . O s s er es h um a no s, m o vld os p eZ a v on ta de , carac;eri- z am - se p e la je num m undo ordenado , au pelo desespero dos sonhos frustrados. 0s uje lt o, p o rta nto , t en de a c rl ar a rb it ra rle da de n o m ei o da o ~d ~m : e o rd em n o m ei o d a a rb it ra ri ed ad e. P o de rn o s c h am a r e st e p ad ra o d a lel.d a so rte g rand e", citan do um a p as sa ge m d e D am C as mu rr o qu e e xe ~p hfic a b ern 0 fe no m en o. B en to S an tia go re co rre a m eta fo ra d a l o te ri a p a ra d e s cr ev e r 0 c as am e nto d e s eu s p ais : " se a fe li cid ad e c on ju ga l p o d e s:r c om p ara da a so rte g ra nd e, e le s a tira ra m n o b ilh ete c orn prad o de sociedade" (1:816). Nossas metaforas slio modelos Com o s q ua is co nstrufm os um a v isao d o m un do (Lako ff 3-13, 41-44). A e sc olh a d a metafora d a l o. te ri a, p a ra S an ti ag o , e compensacao p si co 1 6g ic a q u e c ri a urn ~u n~o ~ s co mo do . T en do fracassad o seu p r6 prio casam ento , ser-Ibe-:a d i ff ci l e sc o lh e r um a metafora qu e caracterizasse a felicidade co nju gal co mo u rn sis tem a d e causas e efeito s. S e 0 c asa m en to fo ss e a c on stru cso d e u m a c asa , p or e xe mp lo , 0 n arra do r te ria q ue e xam in ar as falh~ q ue c on tri bu {~ em p ara 0 d e sr no ro n am e n to d o ediffcio, T eri a q ue ~ xa mm ar s ua s p ro p ri as f al ha s. C o nc eb en do a fe lic id ad e c on ju ga l c om o ° jo go d o acaso , e m uito m ais facil exp licar a falta de ~xito com sua e sp os a. A fe li cid ad e m a tri m on ia l e em grande parte um a questao d e 36 d ed ic a~ o, e sfo rc o e fid elid ad e, N ilo d eix a d e se r u m a q ue stiio d e so rte , ta mb em , T en do fa lh ad o n o c asa m en to , 0 n arra do r d e D om C asm urr o p re fe re e nf at iz ar e m s eu m o d el e m e ta fo ri co 0a sp ec to a rb it ra rio , fo ra d e s u a i n fl u en c ia e r es p ons e bi li d a de . N o m esm o rom ance se v ~, tam bem , 0 o u tr o la do da le i d a so rte g ra nd e. N um so nh o, B en tin ho v e P ad ua , 0 fu tu ro s og ro , "e nx ug an do o s o lh os e m ira nd o u m triste b ilh ete d e lo te ria " q ue "s afra b ra nco . T in ha 0 m im ero 4 00 4. D is se [ ... ] q ue e sta sim etria d e a lg arism o s e ra m iste rio sa e bela, e prov av elm ente a ro d a andara m al; era im po ssfvel que nao d ev esse te r a so rte g ra nd e" (1 :8 75 ). B en efic ia rio e v ftim a d o a za r, P ad ua (o u p elo m e no s 0 Padua s on ha do ) n ao d eix a d e t er e sp era nc as D um g ra nd e futu ro , e gostaria de pensar que 0 p ro gre sso d ep en de sse m a is d e leis i m ut av ei s q ue d o a ca so . P or ta nt o, n a p r6 pr ia lo te ri a, f ix a s ua s e sp er an ca s no equilfb rio geom etrico do s algarism os, im pondo urn sen tid o de d et en ni ni sm o m a te m at ic o e ate j us ti ca p oe ti ca s ob re u m a s it ua ca o d e p uro azar . o acaso e t em a p re di le to n a o b ra c on tfs tic a d e M a ch ad o . " Pri m as d e S ap uc aia !", e xe mp lo e xce le nte , c on ta v arie s e nc on tro s c asu ais e ntre 0 narrador e um a m ulher casad a, que nam ora d e longe com os o lho s. 0 n arra do r c om e ca a im a gi na -l a c om 0n o m e d e A d ri an a, e re so lv e fa ze r- lh e as co rtes n o p r6 xim o en co ntro .P orem , q uand o v e, n ao p od e segu i-la , p orq ue 6 o brig ad o a p asse ar c om u m as p rim as d e S ap uc aia q ue c be ga ra m d e v isita . A m ald ico a sua t r u 1 so rte , n a fo rm a ffsica das p rim as. M a is tarde, 0 n arr ad o r d es co bre q ue a mulhe