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Estratégias da sustentabilidade para a arquitetura Prof. Tulio Galvão Vidal Correa Descrição Ideias e metas com base na orientação da ideologia sustentável no âmbito da construção e do planejamento urbano. Propósito Conhecer diversos processos e soluções para o mercado de construção civil, avaliando as metodologias construtivas atuais e encaminhando o repertório projetual para a busca de soluções viáveis e práticas para os problemas envolvendo os critérios conforto ambiental, eficiência energética e aproveitamento de materiais, dentro do âmbito da arquitetura sustentável do século XXI. Objetivos Módulo 1 O edifício sustentável Identificar a edificação sustentável por meio da análise de dados e estratégias. Módulo 2 Sistemas construtivos e materiais Reconhecer os métodos construtivos relacionados à sustentabilidade. Módulo 3 Recursos para promover o conforto e a e�ciência energética Analisar as soluções de processos de conforto ambiental. Módulo 4 Reuso da água Reconhecer as metodologias de eficiência no uso da água nas construções. Introdução O processo projetual arquitetônico atualmente passa por uma revolução palpável de métodos e processos. Além da composição ideológica, o arquiteto do século XXI precisa estar atento aos sinais provenientes da construção e da cidade e se relacionar de maneira direta e eficiente com os dados que a compõem. Para tanto, conhecer novas tecnologias e processos incorpora ao profissional uma visão mais abrangente da sociedade contemporânea e de seu relacionamento com o objeto arquitetônico, tanto em sua habitabilidade quanto nas possibilidades de um futuro promissor e mais conectado ao meio ambiente. Para esses estudos, é preciso conhecer a dinâmica dos principais sistemas vitais de um edifício: sua estrutura, seu desenho, sua relação com a água e a energia e a forma como esses fatores influenciam sua relação com a cidade e com os vários setores que compõem a vida nas cidades, como a cidadania, o poder público e a ocupação do território. 1 - O edifício sustentável Ao �nal deste módulo, você será capaz de identi�car a edi�cação sustentável por meio da análise de dados e estratégias. Análise geral do edifício sustentável O que é construção sustentável? O processo construtivo evoluiu muito nos últimos anos. Dentro de um processo para compreender o habitante e suas necessidades básicas, surge o empenho em criar mecanismos propícios para melhores conforto e saúde do usuário da construção. Esse empenho se organiza nos diversos setores construtivos, desde a escolha e pesquisa de materiais ao ordenamento espacial de uma residência. Em um ciclo contínuo, novas possibilidades têm se apresentado ao setor de construção civil, como agregados de concreto, novas formas de vedação e materiais menos poluentes. Diante de tudo isso, o que caracteriza a construção como sustentável? Em que momento pode-se afirmar que o objeto arquitetônico possui as qualidades essenciais que a tornam oficialmente sustentável? A construção sustentável pode receber essa titulação quando, em sua concepção, agrega técnicas e materiais que se relacionem às práticas de preservação do meio ambiente e da vida, assim como melhores condições de habitabilidade e conforto aos seus habitantes e usuários, independentemente da natureza de suas funções. Podemos compreender, então, que a construção sustentável é a nova visão da arquitetura e da engenharia para a criação de um mundo mais harmonizado com a natureza e seu meio, favorecendo seu desenvolvimento. Arquitetura e bioclimatismo A natureza da edificação sustentável reflete a forma como será sua habitabilidade, ou seja, a maneira de habitar essas construções. É importante ressaltar que a habitabilidade não está apenas relacionada à residência, mas a toda função arquitetônica, tal como no setor comercial, na forma de elementos voltados ao comércio, por exemplo, lojas, galerias e salas comerciais; no setor cultural, com parques, museus e centros culturais; ou no setor industrial e dos meios de produção, com fábricas e linhas de serviços. Para compreender melhor como a construção se relaciona com o meio, é necessário entender o conceito de bioclimatismo. É um mecanismo em que a compreensão das variáveis do meio ambiente pode ser utilizada como uma forma de estreitar as relações entre os organismos vivos e os elementos construídos. No caso da arquitetura, da relação entre o ser humano e a construção. Mediante observação da natureza, é possível entender como os elementos naturais interferem na vida das pessoas. Exemplificando, é interessante entender as intempéries. Chuva, ventos e até mesmo a insolação excessiva são prejudiciais, e é por isso que, na natureza, compreende-se que devemos buscar abrigo e proteção. Porém, estudando essas intempéries, podemos fazer uso delas, por exemplo, criando mecanismos na construção em que podemos guiar o vento pela construção, estabelecer uma forma de controle térmico e ventilação, reduzir a umidade e aumentar a sensação de conforto. Portanto, dessa forma que o desenho bioclimático se organiza para favorecer as características sustentáveis da arquitetura. Um exemplo concreto é o cupinzeiro: por meio de túneis e aberturas, oferece trocas de ar e ventilação a toda a construção, oferecendo conforto e condições ideais. Tal conceito tem sido utilizado por arquitetos contemporâneos, como o malaio Ken Yeang, na tentativa de reproduzir as mesmas estratégias. O cupinzeiro é um exemplo de que a observação da natureza ajuda na compreensão de soluções arquitetônicas. As qualidades da arquitetura sustentável Até meados dos anos 1990, quando o discurso sustentável ganhou força por meio da Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente (O QUE..., 2016), a arquitetura buscava sua evolução reaproveitando processos mais industrializados, como as esquadrias em alumínio, e aproveitando de maneiras novas os materiais já conhecidos, como o uso do plástico nos mobiliários e em outros elementos arquitetônicos. A partir dessa década, quando o termo sustentabilidade foi colocado nos meios de produção na forma como o conhecemos atualmente, a arquitetura buscou meios de incorporar as diretrizes sustentáveis dentro dos projetos. Essas diretrizes buscam criar a melhor relação dos processos construtivos com o meio ambiente, mas atualmente também incorporam as relações sociais e a resposta dessa evolução na forma como ditamos a visão de um mundo mais organizado e preocupado com o futuro. As vantagens da arquitetura sustentável incluem: Melhor resposta aos elementos naturais, tais como água, atmosfera e extração mineral. Redução da poluição e a melhoria dos processos construtivos. Estreitamento das relações sociais, incorporando nos projetos políticas de relacionamento e criação de espaços destinados às práticas de sociabilidade. Respostas comerciais imediatas nos meios de produção, influenciando a busca de novos materiais. Aumento das pesquisas em tecnologia e automação, favorecendo melhor controle das unidades arquitetônicas. Uma crítica geral do edifício O edifício, de modo geral, reflete um pensamento, uma forma como a arquitetura é pensada em determinados momentos da nossa história. Um olhar mais apurado detecta traços dos modelos arquitetônicos que retratam a maneira de pensar da sociedade profissional. Até os anos 1990, um dos grandes traços da arquitetura corporativa era a torre envidraçada, que refletiu a força da indústria corporativa, típica forma de ver as grandes e dominantes empresas ao redor no mundo. Trata-se, porém, de um dos modelos arquitetônicos severamente combatidos pelos arquitetos sustentáveis. Mesmo que outros modelos de edificações tenham características em desalinho com as diretrizes sustentáveis, o edifício corporativo torna-se um exemplo, uma vez que, a partir do momento em que práticas sustentáveis não são incorporadas ao meio arquitetônico, é perceptível que o modelo não se adequa às novas tendências da arquitetura mundial.Sua forma arquitetônica não respeita o relacionamento com o entorno, em um processo construtivo antiquado e racional, não valorizando o conforto ou a eficiência energética. Se a arquitetura precisa de um exemplo de nova roupagem, o edifício corporativo é um ótimo candidato. Estratégias arquitetônicas do edifício sustentável Análise climática Entre as características mais marcantes da torre corporativa está a pele envidraçada. Essa estrutura e fechamento promove o uso indiscriminado do ar-condicionado como meio de manter sua habitabilidade controlada. Atualmente estão sendo estudadas novas formas de conter o calor e promover a ventilação natural como mecanismos sustentáveis diante desse modelo que, com as práticas sustentáveis, claramente cairá em desuso. Antes de estudar as novas estratégicas arquitetônicas, é preciso compreender algumas das variáveis mais importantes, como a análise climática. É por meio dela que se torna possível entender as ações do clima sobre as construções. Fundamentalmente, são analisados a insolação, os ventos, a precipitação e a umidade. Confira: Insolação Determina a forma como o sol e o calor interferem na escolha de materiais e na geometria da edificação, bem como a influência sobre o entorno (mediante o sombreamento e a convecção té i ) t t l térmica) e o comportamento solar. Ação dos ventos Também chamada de atividade eólica, permite compreender o movimento das massas de ar e assim guiar o vento para favorecer a ventilação ou a proteção da edificação e de partes dela. Exemplo: O edifício Bahrain World Trade Center aproveita os ventos como fonte de energia. Precipitação É a ação das chuvas sobre a construção. Analisa-se tanto as possibilidades de proteção quanto o aproveitamento das águas pluviais, que é uma das diretrizes sustentáveis. Geometria da edi�cação Após um estudo minucioso das variáveis climáticas, o projeto arquitetônico passa por uma análise de partido. Essa etapa é muito importante para a obra, pois determinará a forma como a edificação reagirá às diversas variáveis no seu local de implantação. Vale ressaltar que continuam valendo as regras de ocupação do solo, em que verificamos os parâmetros urbanísticos, disponíveis no código de obras de sua cidade. A geometria da edificação é definida como a forma dada ao projeto arquitetônico, sendo importante compreender as: fachadas; Umidade É um importante fator ambiental para o bem-estar dos habitantes e é influenciado pela insolação, ventilação e precipitação. Esse também é um fator importante das patologias construtivas, principalmente em países tropicais.Q2 aberturas; partido; altura; materiais envolvidos. O desenho arquitetônico varia conforme as necessidades do projeto e o estudo das diretrizes sustentáveis. Nesse sentido, nota-se que alguns elementos influenciam diretamente a reação do edifício aos elementos naturais. Por exemplo, edifícios em formatos mais curvilíneos reagem melhor à insolação e à ação dos ventos, não sendo tão impactados por eles. Edifícios com grandes aberturas favorecem a captação e o aproveitamento de ventilação. Telhados auxiliam na captação pluvial, por oferecem grandes superfícies coletoras. O ideal para esse tipo de estudo é a criação de modelos em escala que vão permitir estudar as diversas reações, utilizando iluminação artificial, túneis de vento e outros recursos como simuladores de condições reais. Daqui em diante, é importante incorporar aos estudos arquitetônicos um discurso mais abrangente quanto às necessidades em cada caso, já que as ações são derivadas das condições ambientais, do clima local e da região de implantação da edificação. Relacionamento com o entorno A edificação exerce uma forte influência em seu entorno, dependendo, é claro, do modelo proposto, mas sempre há uma influência. Entre as diversas estratégias para a arquitetura sustentável, as que favorecem o bom relacionamento com o local de inserção do edifício são notavelmente interessantes. Ou seja, é preciso considerar a boa relação entre: Usando como exemplo a torre corporativa, uma edificação de grande porte, com suas características monumentais, interfere em uma quadra onde as edificações são mais modestas, tradicionais e de baixo gabarito. A paisagem urbana também é uma estratégia sustentável. É por meio dessa diretriz que a edificação se encaixa ou promove as mudanças necessárias na cidade para seu desenvolvimento. De forma intuitiva, uma relação entre a cidade e o pedestre é imprescindível para promover o pertencimento, que é uma reação natural para as cidades sustentáveis. E o edifício sustentável é fundamental para criar um forte vínculo, seja pelas suas soluções arquitetônicas, como o desenho da fachada (geometria), pela tecnologia (fachadas), pela materialidade, ou mesmo pelas relações com os espaços urbanos no entorno. A questão da relação humana A relação com o pedestre Dentro da iniciativa da sustentabilidade, um dos grandes protagonistas é o pedestre. É nele que o foco acontece, organizando as soluções e estratégias para sua usabilidade. Gabaritos Partido arquitetônico Paisagem urbana O pedestre reage diretamente com o entorno, por meio da calçada, da rua e das fachadas das edificações. É nesse ambiente que seu olhar segue a base de sua percepção. A compreensão do espaço não é mais na escala urbana, mas em um raio compreensível pelo seu olhar. Notadamente, para o arquiteto sustentável, a base de preparação para a sua obra arquitetônica ser inserida no organismo da cidade é identificar quais variáveis são necessárias para incluir o pedestre na relação entre o edifício e a rua. Para o arquiteto, é fundamental compreender os seguintes pontos: Representado pela calçada e pela rua, e o corpo privado do edifício, onde é notável o nível de permissividade para os espaços e a própria noção de pertencimento das áreas comuns. Velocidade própria de trajeto, e o tempo de percepção do volume arquitetônico. Diante da necessidade da sociedade perante a cidade sustentável, uma das diretrizes é reduzir o uso do carro como principal meio de transporte. Parte dessa necessidade influencia a forma como o edifício é percebido. Tratando da velocidade de percepção, a pé o indivíduo tem maior capacidade de interpretar os detalhes das edificações e valorizar o ambiente, diferentemente de quando utiliza o carro. As cidades sustentáveis devem ser mais permeáveis e possuírem função social, permitindo a ligação forte entre edifício e indivíduo, sempre relacionando a forma como os espaços devem ser construídos. É perceptível na devolução do espaço público ao cidadão, com a criação de praças e átrios. Relação de transição entre o espaço público Relação de escala compreensível do pedestre Compreensão das barreiras arquitetônicas Interpretação da fachada da edificação pela sua usabilidade Fornecendo bases para o relacionamento com o pedestre. Essa estratégia é chamada de fachada ativa. A caminhabilidade é fundamental para as inciativas sustentáveis. Ao produzir a obra arquitetônica dentro das diretrizes sustentáveis, olhar para o pedestre torna-se essencial para permitir uma evolução mais humana ao espaço público. Organismo vivo: como o edifício respira A diretriz sustentável para a construção arquitetônica deve seguir novas regras de implantação e regularização de materialidade e soluções tecnológicas. Ao projetar, o arquiteto deve estar atento às determinações ambientais e à maneira como materiais considerados usuais, como o concreto, podem se tornar mais ecologicamente corretos. A construção tem uma tradição, mas é perceptível que estamos passando por um período de transição e que algumas soluções já não mais se encaixam. Pensar no edifício como um organismo, e não mais meramente como um abrigo, é uma das estratégias para favorecer essas soluções arquitetônicas. Para o arquiteto sustentável, as práticas de materialidade e tecnologia estão intimamente ligadas, estando ainda conectadas com o habitante,em sua vida. Como um exemplo simples, podemos citar o uso da energia elétrica. Atualmente, é claro como a utilização da energia é essencial ao humano. Diversos equipamentos do seu cotidiano precisam ser carregados diariamente, se não em uso constante. Precisamos cada vez mais de energia, e a demanda pelas usinas está cada vez mais alta. É compreensível que a evolução tecnológica produza equipamentos mais eficientes, porém também precisamos aproveitar outras formas de energia. O aproveitamento de energias limpas, como as energias solar e eólica, favorece que equipamentos e novos materiais que aumentam a eficiência sejam incorporados ao edifício. Também favorece a edificação fazer uso das estratégias bioclimáticas, que dizem respeito ao modo como o edifício se relaciona com o clima, de maneira mais formal, dentro da geometria do próprio edifício. É o caso, por exemplo, da ventilação, que produz sustentabilidade e conforto, quando feita da forma correta, sem o uso de equipamentos tecnológicos. Pode-se dizer que é a forma como o edifício, em uma comparação biológica, respira diante do lugar onde está inserido, sustentavelmente, e influenciado pela população, pelos outros edifícios, pelo entorno e pela entropia com as intempéries. A resposta dos habitantes do edifício sustentável Ainda caminhando para um hábito, o ser humano tem muito a apreender com o edifício sustentável. É preciso que algumas práticas mudem, como a forma que utilizamos a própria estrutura de circulação na edificação. Em outros pontos, é necessária a aceitação de estruturas ainda pouco convencionais, como uma fachada verde. Contudo, é no campo da manutenção e da mantenedora predial que há a maior controvérsia. O habitante da cidade do século XXI, o habitante sustentável, deve compreender que parte do ambiente, embora público, é seu. É no sentimento de pertencimento que caminhamos para uma arquitetura própria, em que a responsabilidade também recai sobre esses cidadãos. Por se tratar de um hábito, é uma das principais barreiras encontradas atualmente para a aplicação de soluções sustentáveis nas edificações. É preciso a aceitação e, considerando a evolução das cidades até o momento, torna-se uma espécie de crítica à forma como a cidade é cuidada e mantida. Compreendendo a arquitetura sustentável Confira agora de uma forma objetiva quais são as qualidades e vantagens da arquitetura sustentável e como ela pode ser importante para a mudança no mundo. Falta pouco para atingir seus objetivos. Vamos praticar alguns conceitos? Questão 1 A construção sustentável é o alicerce de uma sociedade que evolui para melhor comunicação e interação com a cidade, seus habitantes e o planeta. A construção sustentável pode ser definida como A uma edificação que tem a capacidade de se manter sozinha, ou seja, autossustentar sua existência. B a nova visão da arquitetura e da engenharia para a criação de um mundo mais harmonizado com a natureza e seu meio, favorecendo assim seu desenvolvimento. C uma construção voltada para o uso de materiais naturais, como madeiras e argila, totalmente ligados ao meio ambiente. D o processo de edificações exclusivamente voltadas para o ambiente natural ou agropecuário, ligada ao setor de desenvolvimento sustentável dos meios de produção. Parabéns! A alternativa B está correta. A metodologia de construção sustentável está intimamente ligada às mudanças de políticas globais e de meio ambiente, bem como à evolução do pensamento da sociedade. Essas mudanças estão encaminhadas para o desenvolvimento sustentável. Questão 2 Para estudar as técnicas atuais de produção arquitetônica, antes é preciso compreender algumas das variáveis mais importantes, como a análise climática. É por meio dela que se torna possível entender as ações do clima sobre as construções. Para isso, é fundamental analisar Parabéns! A alternativa D está correta. Os quatro fatores essenciais são a relação com a luz solar — insolação —, a reação aos ventos, a intensidade e o volume de chuvas e precipitações e a forma como a umidade atua na edificação. E ligada ao mercado de produtos de origem sustentável e de consumo controlado, sendo essa uma parcela destacada da produção arquitetônica da cidade. A a insolação, a radiação solar, a irradiação solar e a precipitação solar. B as chuvas, os vapores e os nevoeiros, diretamente ligados à umidade local. C a ação dos ventos, principalmente as mudanças de direção, que significam que o prédio deve se ajustar sempre. D a insolação, os ventos, a precipitação e a umidade. E a energia solar, a energia dos ventos, a coleta de chuvas e o vapor de umidade. 2 - Sistemas construtivos e materiais Ao �nal deste módulo, você será capaz de reconhecer os métodos construtivos relacionados à sustentabilidade. Metodologias construtivas sustentáveis Pensando nas estruturas A partir das estratégias sustentáveis, o arquiteto deve avaliar diversos fatores diante das necessidades de uma obra mais humana, dentro dos princípios da sociedade e da conservação do meio ambiente. Essas necessidades atingem todas as etapas construtivas, incluindo o sistema estrutural da edificação. Considerado o esqueleto do edifício, a estrutura deve responder diretamente aos princípios da sustentabilidade. Algumas dessas respostas são para a materialidade empregada, outras para o processo do canteiro de obras, que é considerado um dos grandes vilões da sustentabilidade na construção civil, em razão do alto descarte e dos processos poluentes. A estrutura, quando bem empregada e dentro dos parâmetros bioclimáticos, favorece o edifício e promove melhores reações às interações bioclimáticas. Isso porque pode ser utilizada de forma a favorecer vãos, aberturas e volumes internos, aumentado o conforto ambiental. Ainda, pode responder positivamente durante o processo construtivo, reduzindo o tempo de obra e melhorando a incorporação do edifício à cidade. Infelizmente, do ponto de vista da materialidade, não há sistemas estruturais ainda eficientes para serem considerados sustentáveis, porém o mecanismo de montagem em aço e o processo de criação modular são meios de tornar o sistema estrutural menos nocivo ao meio ambiente. O vilão da construção: o canteiro de obras Dentro do processo de construção, o canteiro de obras é o primeiro a ser montado, e deve ser planejado com cuidado e de forma estratégica. A maneira certa de usar o canteiro vai determinar se será compreendido como sustentável ou não. De certa forma, o canteiro de obras varia com o elemento a ser construído. De maneira tradicional, temos um canteiro preparado para a produção in loco, ou seja, para que o edifício seja modelado a partir do zero no terreno. Em alguns casos, é preciso até mesmo mais área do que a destinada à construção, por causa dos processos de produção de materiais, como concreto, e até mesmo de armazenagem de tábuas, vigas e outros elementos utilizados. Por que o canteiro de obras é considerado um vilão? Tradicionalmente, no Brasil, as construções são feitas por meio do sistema de moldagem em forma, o que demanda muito espaço e produz muitos resíduos, que são posteriormente descartados. Alguns desses resíduos incluem sobras de argamassas, partes de tubulações e ferragens não utilizadas, outros materiais e principalmente água, oriunda de lavagens e usos, que pode, inclusive, atingir o lençol aquífero mediante a penetração no solo. O canteiro sustentável tem seu trunfo justamente no que o processo tradicional tem de nocivo: os processos e os materiais. O canteiro de construções de obras originalmente sustentáveis é mais organizado, e seu processo construtivo favorece os usos de materiais, a pronta-montagem e o aproveitamento máximo. Uma vez que esse tipo de construção dá preferência a sistemas pré-preparados, modulares e outras tecnologias, o uso da água é mínimo, se limitando a poucos processos. Auxiliado pela indústria de produção desses elementos, há pouco descarte e parte delepode ser reaproveitado ou reutilizado. O canteiro de obras sustentável tem um planejamento que organiza os processos de forma mais eficiente. Entendemos, portanto, que a construção sustentável não se limita somente à tecnologia ou ao projeto, mas se estende a todo o processo construtivo, favorecendo a cidade e o cidadão. Bioclimatismo na prática A estratégia bioclimática é parte essencial do projeto arquitetônico e deve fazer parte da linguagem e do processo de criação. De maneira geral, o bioclimatismo trabalha em conjunto com as estratégias sustentáveis, pois é partir dessa parceria que diversas tecnologias surgiram e se aprimoraram. Um exemplo disso, entre vários, é a relação entre a fachada e a geometria com a habitabilidade da construção. Deve-se pensar sempre em conjunto com o clima e as intempéries e, a partir daí, responder com as soluções arquitetônicas. Nesse ponto, quando otimizamos soluções, percebemos como elas trazem benefícios às diretrizes sustentáveis. Para compreender melhor essa relação, vejamos um exemplo de diversas estratégias possíveis: a forma como a fachada deve ser protegida do sol. Bioclimaticamente, ao protegermos a fachada da radiação solar, usamos da forma e de mecanismos, como brise-soleils, para impedir que essa radiação aqueça o interior da edificação. Sustentavelmente, com o conforto interno aprimorado, o indivíduo tem menor uso de energia elétrica para condicionamento térmico, o que possivelmente melhora sua performance diante de atividades desenvolvidas na construção. Esse aprimoramento é resultado de soluções sustentáveis, que valorizam o meio ambiente e o aumento da eficiência desses indivíduos. rise-soleils Elementos de proteção das fachadas. Os processos de produção da arquitetura devem considerar todo o circuito produtivo, desde a utilização de matéria-prima à forma como a cidade vai funcionar. Materiais, aplicações e tecnologia Materiais construtivos ligados ao setor sustentável Atualmente, a gama de materiais sustentáveis é enorme, mas nem sempre foi assim. Por vezes, na história das grandes cidades, esses materiais foram tratados com desdém. Diante das novas políticas ambientais, entretanto, diversos deles voltaram à cena, tornando-se essenciais. Por tratar-se de um mercado em ascensão e em constante evolução, cabe compreender alguns dos grupos que sofreram ajustes severos para poderem se adequar às medidas sustentáveis e que têm se tornado chave para a criação de cidades mais humanas e ambientais. Existem alguns tipos de materiais que merecem destaque na avaliação de sua capacidade sustentável. Vejamos quais são eles! Durante muito tempo foi considerado pouco sustentável. Pensava-se que seu uso estimularia a produção de insumos plásticos, como garrafas PET. Nos dias atuais, com o aprimoramento da produção, são utilizadas diversas matérias-primas, inclusive subprodutos de descarte da indústria, com recondicionamento de peças veiculares e insumos de origens mais renováveis. O concreto, em sua produção, ainda é um material de baixo poder sustentável. Atualmente, entretanto, são utilizados na sua produção materiais que são incorporados à massa e auxiliam na resistência do concreto, chamados de agregados, que seriam descartados pela própria construção civil, como sobras metálicas, subproduto da quebra de concretos recondicionados, fibra de vidro e outros materiais semelhantes. Tal prática favorece um melhor olhar sobre esse produto. Esse material é particularmente interessante pela sua capacidade de ser compreendido como sustentável não só pela sua produção, como também por todo o ciclo de vida e uso. São peças produzidas a partir de ligas complexas, preparadas para uso e reuso em modo contínuo, ou seja, podem ser recicladas e recondicionadas várias vezes, reduzindo o impacto de descarte. Além disso, aliadas ao projeto, podem ser utilizadas de maneira modular. Isso impacta muito a própria produção, que se torna mais planejada e propicia a redução do uso de energia e das perdas. Sua produção também permite maior resistência mecânica, produzindo peças finais mais delgadas e utilizando menos volume de produção, o que gera menos impacto pela extração de sua matéria-prima. A ligas mais utilizadas são compostas por alumínio e fibra de carbono. Os substitutos: materiais que mudaram o mercado de construção civil Madeiras plásticas Agregados do concreto Peças metálicas em ligas leves Com o aumento da tecnologia tanto na produção quanto no desenvolvimento para o público final, muitos produtos da construção civil sofreram ajustes fundamentais para a arquitetura. Materiais antes considerados ideais perderam força e foram devidamente recondicionados para se adequarem a um mercado mais exigente e mais consciente de sua participação na evolução e na conservação do planeta. A madeira plástica é um dos materiais substitutos mais populares. Essa conscientização tornou possível compreender que, durante sua produção, vários insumos tinham forte peso no impacto ao meio ambiente. Contudo, tais materiais ainda eram essenciais dentro da construção civil, fosse pelo tradicionalismo, fosse pela falta de substitutos adequados. Vejamos alguns exemplos a seguir: A madeira, apesar de sua característica renovável, é um produto que demanda muita manutenção e substituição, devido à sua origem natural e vegetal e, consequente, sua fragilidade e sujeição a pragas e outras depredações. Uma vez que madeiras mais resistentes, como as chamadas madeiras de lei, são mais difíceis de serem utilizadas pois não podem ser cultivadas e demandam extrativismo natural de florestas e matas, o mercado utiliza espécies de rápido manejo e produção. Essas espécies normalmente não são de origem nacional, como o eucalipto e o pinus, e degradam o solo, exigindo manejo agronômico mais eficiente. Além disso, são madeiras mais macias, o que impede o seu uso em diversos casos, principalmente na construção civil em grandes cidades. Uma forma de substituí- las em alguns casos, principalmente em decks, mobiliários externos e brise-soleils nas fachadas, é o uso de madeiras plásticas. Solução tradicional no Brasil, o uso do concreto nas construções vem de sua capacidade plástica e de uma popularização originada nas construções modernistas. Para sua produção, são utilizados produtos oriundos da extração de rochas e minerais, além de produtos químicos nocivos. Nos canteiros de obras tem muita perda e, para o preparo da mistura, é utilizada muita água. O descarte Madeiras de uma maneira geral Lajes em concreto também é bem acentuado, sendo que boa parte desses subprodutos não são reaproveitáveis ou recondicionáveis. Assim, o concreto ainda é uma solução, mas também um vilão na construção civil. A melhor maneira de substitui-lo, principalmente na produção de lajes e fechamentos de paredes, é com o uso de painéis especiais conhecidos como painéis wall, formados por placas cimentícias e miolos em diversos materiais, sendo o mais comum a madeira. Esses painéis têm a mesma resistência mecânica do seu equivalente em concreto e são mais leves, o que também reduz o impacto na produção da estrutura da edificação. Acabamento é fundamental em todos os casos da construção civil. Embora há poucos anos uma vertente da construção tenha considerado que os acabamentos não seriam necessários, pois sua produção era poluente e desnecessária, essa prática persiste até hoje. No caso dos acabamentos, a principal substituição está na matéria-prima de sua produção: materiais com certificação sustentável, aproveitamento de materiais reciclados e melhores métodos produtivos. Tecnologia e arquitetura Inteligência arti�cial A tecnologia é essencial para nós em diversos setores e níveis, e na construção civil não seria diferente. O uso de inteligência artificial tem sido constante em nossas vidas, facilitando, organizando e, quando possível, aumentando a eficiência em nossas casas. Mas o que é a inteligência artificial? Acima da ficção cientifica,são hardwares de comunicação e interação que processam nossas escolhas diárias e respondem de acordo com elas. Está presente em praticamente todos os equipamentos eletrônicos, de celulares até chuveiros atualmente. Pinturas e revestimentos ecológicos A inteligência artificial é importante aliada da automação residencial. Mas como a inteligência artificial deixa a edificação mais sustentável? Ela pode controlar remotamente funções de maneira automática, como controle de temperatura, pesquisa de níveis de poluição ambiental, alinhamento de equipamentos de proteção predial contra intempéries, como janelas e brise-soleils automatizados, e até mesmo detectar nosso comportamento e assim ajustar iluminação artificial, robôs de limpeza e manutenção e seguranças. Cada vez mais presente em nossas casas, torna-se visível no mercado comum com o uso de assistentes eletrônicos, que além de responder às nossas perguntas mais banais, controlam equipamentos, como luminárias, televisores e aparelhos de ar-condicionado. Ainda, oferecem informações sobre clima, notícias e outras funções. Assim, podemos afirmar seguramente que nossas casas estão ficando mais “inteligentes”. Seria o edifício do século XXI cultivável? Além da inteligência artificial, novas tecnologias ligadas à produção da construção civil têm sido estudadas. Com as aplicações mais voltadas a uma linguagem que converse com o meio ambiente, alguns produtos têm se conectado mais a soluções biológicas. Um exemplo é a tinta que absorve poluição, convertendo subprodutos da queima de combustíveis fósseis em componentes químicos que podem ser absorvidos pelo solo. Outro produto inovador é o concreto regenerativo, que possui a capacidade de se recompor naturalmente após uma quebra ou rachadura. Em sua formação, existem agregados químicos que simulam certos processos regenerativos na natureza e tem um olhar bastante atencioso para a produção de edificações nas metrópoles. Ainda, processos de produção da própria edificação também estão no foco de pesquisadores. O método de produção de impressão 3D das edificações promete trazer automatização e eficiência. É como se o edifício crescesse do solo. Esse processo já está sendo utilizado na construção de casas e lajes especiais, reforçadas, com base em cálculos de geometrias complexas, mas é uma realidade em constante desenvolvimento. Metodologia modular: menos impacto, mais e�ciência Não é só de materiais que a construção civil sustentável se baseia. Os processos construtivos, de forma estudada e planejada, também estão sofrendo ajustes e sendo objeto de novas pesquisas. Uma metodologia simples e que tem demostrado muita eficiência é a construção modular. Ela se baseia no planejamento das formas arquitetônicas a partir de “peças” e encaixes especiais, permitindo que o edifício seja montado de forma rápida e com menos impacto. Esse método não é recente, entretanto, com a evolução do pensamento sustentável, a capacidade dinâmica da edificação entrou em vigor, permitindo que o edifico se adapte às necessidades da população. Assim, hospitais poderiam ter sua capacidade aumentada, escolas podem se tornar mais dinâmicas se ajustando à demanda de estudantes e edificações residenciais poderiam crescer com a família. Somado às pesquisas de novos materiais, esse método tem sido um importante aliado na construção civil. Biomimética na construção e na materialidade A biomimética tem se tornado um alvo interessante de pesquisadores da construção civil. Com sua característica de observação e interpretação dos sistemas da natureza, temos conseguido trazer cada vez mais soluções para nosso meio de construção. Alguns campos, em especial, têm se tornado objetivo de análise. Confira a seguir quais são! Fechamentos de fachadas em estruturas modulares Semelhantes ao comportamento de células vegetais, os fechamentos das edificações sustentáveis têm sido pensados em painéis dinâmicos, removíveis e de fácil instalação, permitindo o surgimento de estruturas respiráveis e adaptadas ao clima e ao funcionamento do edifício. Ou seja, dependendo da demanda climática, podem assumir diferentes formas. Revestimentos respiráveis Ainda no campo das fachadas, alguns produtos permitem a troca de gases entre os cômodos. É o caso de alguns revestimentos que possuem em sua composição a capacidade de se abrir e fechar dependendo da necessidade, diante, por exemplo, da umidade. Presentes nos vegetais, também é responsável pela respiração desses espécimes. Produtos hidrostáticos Permitem a impermeabilidade de superfícies. É muito utilizada em mobiliários urbanos e revestimentos internos e externos. Esses produtos impedem que a água se acumule nas superfícies, assim como nas carapaças da maioria dos insetos. Esses são apenas alguns exemplos da capacidade de observar a natureza e detectar possíveis soluções para a arquitetura sustentável. Falando de materiais: tecnologia no setor construtivo Confira agora as novidades envolvendo as construções mais recentes, abrangendo a evolução da tecnologia na escolha de produtos mais eficientes e sustentáveis para as novas construções. Falta pouco para atingir seus objetivos. Vamos praticar alguns conceitos? Questão 1 O canteiro de obras é considerado uma das partes do processo construtivo mais nocivo ao meio ambiente, em razão das perdas, dos dejetos e dos descartes de subprodutos da construção civil. Uma das maneiras de o arquiteto sustentável resolver parte desse problema é A revendo os processos de utilização dos materiais dentro do canteiro, para uma produção mais organizada e eficiente. B impedindo a utilização de alguns materiais na obra, mesmo que essenciais, pois poluem muito os afluentes locais. C realocando a produção desses elementos nocivos para outro sítio, deixando a responsabilidade para empresas credenciadas. D entendendo que é inevitável, pois os processos construtivos são tradicionais e não mudam conforme novas técnicas surgem. E revendo os processos, mas sabe-se que nada pode mudar, por questões legislativas. Parabéns! A alternativa A está correta. A revisão dos processos de produção e dos insumos e materiais voltados para construção civil é uma das inciativas para introduzir padrões de sustentabilidade aos métodos construtivos. Questão 2 Diversas novas aplicações voltadas à construção civil têm sido estudadas, principalmente no âmbito de desenvolvimento de novas tecnologias. Seus usos são diversos e direcionados a uma conversa com o meio ambiente e às necessidades de conforto ambiental para os habitantes das edificações. Duas dessas novas aplicações são Parabéns! A alternativa E está correta. Os sistemas automatizados e de inteligência artificial auxiliam em controles específicos para o conforto ambiental e para a proteção da edificação, prevendo e antecipando ações de controle de forma automática e programada, o que melhora a eficiência dos sistemas. A o condicionamento de ar e a impressão 3D. B os assistentes virtuais e os brise-soleils automatizados. C os novos produtos vernaculares e a inteligência artificial. D os materiais vivos e a matéria programável. E a inteligência artificial e o concreto regenerativo. 3 - Recursos para promover o conforto e a e�ciência energética Ao �nal deste módulo, você será capaz de analisar as soluções de processos de conforto ambiental. Bioclimatismo na prática Bioclimatismo versus sustentabilidade Falar de sustentabilidade na arquitetura é falar de processos. Quando nos referimos à forma como a sustentabilidade é vista dentro da construção civil, sempre devemos entender a relação com meio ambiente e a responsabilidade com a construção. Em outras palavras, ser sustentável é acima de tudo uma atitude responsável. Mas e o bioclimatismo? O bioclimatismo na arquitetura é um conjunto de estratégias voltadas para o relacionamento com o clima e as nuances do entorno. Ou seja, é direcionado para o conforto e a eficiência da construção. Ao pensarmos naarquitetura sustentável, é fundamental avaliar a característica de responsabilidade com o planeta, com a população e, acima de tudo, pensar no relacionamento com o meio. De certa forma, entender a construção sustentável é usar as estratégias bioclimáticas como parte do processo para conseguir resultados mais eficientes e voltados para o uso humano das obras arquitetônicas. Soluções bioclimáticas: intempéries Um dos maiores problemas para o arquiteto na hora de projetar é a ação das intempéries. É nesse contexto que a construção é tratada como abrigo, e a tecnologia das construções tem se inovado cada vez mais para tornar eficiente a tarefa de proteger e dar condições de conforto. Diante dessa problemática, o bioclimatismo é uma das estratégias mais interessantes. Considerando as intempéries, são pensadas a forma arquitetônica, as aberturas, os acessos e as circulações. Quando falamos de intempéries, tratamos do seguinte: Chuvas e umidade Definir a forma como o edifício reage às chuvas determina a maneira como a materialidade será aplicada para impedir que os ambientes internos fiquem úmidos demais. Se, além de proteger também aproveitar as águas pluviais, torna-se um importante aliado das estratégias bioclimáticas. Radiação solar Por agir diretamente sobre as superfícies da edificação, na definição da forma arquitetônica podem ser melhorados os fatores de proteção. Quando isso não é possível, a aplicação de elementos de fachada auxilia na filtragem, pois atuam como barreiras à radiação solar. Ventos Proteção contra ventos deve ser avaliada de acordo com o entorno e as características de clima locais. Em cada caso, deve ser analisada a maneira que haverá a captura ou o bloqueio do vento. Associada às proteções de umidade, pode ser um intenso aliado do conforto ambiental. Ruídos Normalmente associados às grandes cidades, os ruídos não são necessariamente uma intempérie, mas sua proteção deve ser pensada para se ajustar às anteriores, sempre imaginando que, em casos de ruídos, devem ser idealizadas barreiras para conforto e salubridade. As intempéries variam com o clima, a região e a forma como a combinação delas age sobre os edifícios. A geometria do edifício como estratégia bioclimática Como já mencionado, uma das mais antigas estratégias de conforto ambiental é pensar na forma da edificação. É uma das características mais marcantes da arquitetura bioclimática e também uma importante estratégia sustentável. Pensar na forma arquitetônica aumenta as chances de eficiência e, com isso, a valorização das condições energéticas envolvidas. A forma arquitetônica deve ser planejada com antecedência e segue os seguintes critérios: Parâmetros urbanos para a área Permissões legislativas de construção. Entorno de implantação Importante para compreender as nuances culturais, a paisagem urbana e o contexto arquitetônico da cidade, da vizinhança ou da rua. Condições ambientais locais R l i d di t t à i t é i d id d b f É a partir do estudo desses parâmetros que tomamos as decisões necessárias para a elaboração da forma e do partido arquitetônicos. Uma boa técnica é a criação de modelos de teste em escala reduzida que serão testados a partir de simulações das ações sobre ela. O uso de softwares específicos também auxilia a compreensão a tomada de decisões das estratégias a serem utilizadas em projeto. Os parâmetros energéticos: falando de e�ciência Entendendo a energia alternativa Quando falamos que a construção terá características voltadas à sustentabilidade, o senso comum imediatamente cria uma relação com a principal referência do tema: a energia alternativa. Mas o que são energias alternativas? Fontes de energia alternativa são todos os métodos não convencionais de geração de energia. Para ser considerada não convencional, é preciso, acima de tudo, que essa fonte venha de meios pouco comuns a determinada cultura. No mundo todo temos diversas formas de energia, variando principalmente com as considerações climáticas e relevos dos países do mundo. Relacionado diretamente às intempéries, que devem ser considerados para conceber a forma da maneira mais eficiente possível. Necessidades projetuais Compreender as necessidade e o programa arquitetônico permite fazer escolhas estratégicas para o bem-estar da população do entorno e da edificação, além de poder aumentar a sensação de conforto e eficiência energética da edificação. No Brasil, a principal fonte de energia é hidroelétrica, por meio do uso de barragens e usinas com turbinas que utilizam a força da água como motriz. Essa é considerada uma fonte convencional. Entre outras semelhantes, temos a energia nuclear e termoelétrica. A utilização de fontes renováveis e alternativas é fundamental para as iniciativas sustentáveis. As principais fontes não convencionais utilizam meios pouco invasivos ou de baixo impacto ambiental, além de fontes renováveis de energia. Estamos falando das energias: Outras fontes não convencionais incluem o uso das marés e até mesmo da energia cinética. Esta última é principalmente pensada para as grandes metrópoles, pois utiliza o próprio movimento das pessoas sobre a calçada como fonte geradora de energia. Aliada à iniciativa da sustentabilidade urbana de caminhabilidade, pode se tornar uma fonte de energia eficiente e pública para iluminação de vias e logradouros, diminuindo essa parcela das contas de energia dos habitantes. Fotovoltaicas Eólicas Geotérmicas, entre outras Padrões residenciais: energias fotovoltaica e eólica Cada fonte energética é eficiente a seu modo, variando principalmente no investimento e na sua fonte. De acordo com as diretrizes sustentáveis, o ideal é utilizar fontes de energias renováveis. Entre as principais, acessíveis ao público comum, temos as fontes energéticas fotovoltaicas e eólicas. A energia fotovoltaica usa principalmente como fonte a irradiação solar. Irradiação e radiação se diferenciam pela forma como incidem, pois a irradiação responde diretamente sobre o calor e a luz irradiada pelo sol. Essa irradiação é captada por células especiais chamada células fotovoltaicas e a energia solar é transformada em energia elétrica, aproveitada nas construções. A energia fotovoltaica é um importante aliado na busca de fontes alternativas. A fonte eólica é oriunda dos ventos. Isso significa que massas de ar precisam estar em movimento para girar potentes hélices que, com o movimento circular, acionam poderosas bobinas que convertem o movimento em energia elétrica. Ambos os casos possuem versões em escalas diferentes, tanto para alimentar uma cidade quanto uma residência. As duas fontes também sofrem do mesmo mal: a inconsistência na geração de energia. No caso da energia fotovoltaica, o problema está na fonte de luz. Além de funcionar somente em período diurno, sua maior eficiência acontece em um curto período de tempo, e ainda a perde quando o céu está nublado. No caso da energia eólica, sua inconsistência vem do próprio vento, que possui movimento fluídico e, graças a isso, não tem direção nem intensidade constantes. Mesmo diante de alguns problemas, são as melhores apostas para o uso residencial, pois normalmente se adaptam a qualquer lugar e clima. Onde �ca a economia? Quando utilizamos energias renováveis nos sistemas construtivos, estamos tomando, além de uma atitude sustentável, uma ação consciente. É um processo que deve ser incorporado às construções diante das necessidades da cidade sustentável. Contudo, estamos tratando de tecnologias novas que ainda estão em caráter de desenvolvimento. Logo, devido à sua característica de inovação, ainda possuem um custo relativamente alto. Há outro fator que tem sido constante: essas tecnologias ainda não são totalmente eficientes. Isso significa que precisamos utilizar um volume bem grande de equipamentos para suprir a demanda de uma construção. Infelizmente, nas construções urbanas, espaço é um grande problema. Então, como fica a questão do investimento? Aeconomia está vinculada à aposta. É preciso inserir esses processos aos poucos, criando uma expectativa de evolução tanto tecnologicamente quanto de pensamento sustentável. Acreditar na possibilidade é fundamental. Como incentivo ao uso da tecnologia, fornecedoras de energias convencionais tem promovido ações de reforço com o uso de créditos energéticos. É uma maneira de incorporar o uso dessas fontes em nosso cotidiano, criando o hábito de seu uso. Vegetação e conforto ambiental Uso da vegetação na arquitetura Diversas são as estratégias para a construção sustentável, algumas delas já apresentadas. Podemos listar soluções por meio do bioclimatismo, da forma e de materiais inovadores. Mas uma estratégia é pouco falada, talvez devido ao seu grau de manutenção: o uso de vegetação nas construções. O uso de vegetação é uma das características da arquitetura do século XXI. Arquitetos do mundo todo, quando idealizam a cidade do século XXI, trazem tecnologia nos transportes e nos materiais, sistemas sociais colaborativos e coletivos, eficiência na distribuição heterogênea das funções arquitetônicas e muitas vezes incorporam elementos vegetais em suas representações e projeções. Mas por quê? A relação entre o homem e a vegetação já é antiga. Trata-se de um relacionamento importante e inserido na compreensão instintiva de conforto e paz. Dentro da arquitetura sensorial, é um importante mecanismo de interação de conforto ambiental. É lógico compreender que essa relação não se quebraria facilmente. Na linguagem da paisagem urbana, as cidades têm mantido árvores e outros elementos vegetais contidos em áreas destinadas ao lazer e à contemplação, como praças e largos. Os edifícios são dominantes na paisagem metropolitana, e seria lógico supor que, nas projeções de uma cidade sustentável, ligada ao meio ambiente e à preservação e conservação da natureza, esse elemento ganharia um destaque importante. Diversas são as vantagens de seu uso, desde a percepção da paisagem urbana a fatores especiais de proteção, como contra a radiação solar e os ventos excessivos. Ainda, seu manejo permite escolher espécies especificas para filtragem da atmosfera. Em fachadas, as chamadas fachadas verdes, favorece o aumento do conforto ambiental. Parâmetros de conforto: a vida na cidade grande Uma cidade sustentável alia conforto, eficiência e responsabilidade. É no âmbito de paisagem que o urbanismo sustentável se equipara. Diante das transformações sociais e de pensamento vividas pelos habitantes das cidades contemporâneas, é natural que as suas impressões da paisagem urbana também se transformem. Com as estratégias sustentáveis da caminhabilidade e da criação de cidades heterogêneas, a relação entre a rua e o pedestre é fundamental. Essa relação demanda da linguagem da cidade para com seus habitantes e proporciona conexões de conforto fundamentais para a aceitação dessas novas formas de ver o urbanismo contemporâneo. Para as cidades tropicais, o relacionamento com o sol é o principal foco dos mecanismos de conforto e proteção, pois é preciso criar ruas mais arborizadas e propicias ao caminhar, já que o pedestre é o alvo dos arquitetos do século XXI. As espécies devem ser cuidadosamente escolhidas para que possam assumir o comportamento correto com o clima, na forma de comportamento perene ou caducifólio, que é a forma como as folhas caem no inverno. As fachadas e sacadas também são alvo dessa estratégia, sendo, para o arquiteto sustentável, vitais para a linguagem da paisagem. As edificações projetadas para a cidade sustentável possuem um intrincado relacionamento com o meio e assumem a criação de grandes cortinas verdes nas edificações, ocupando principalmente as fachadas voltadas para a maior irradiação solar. Bioindicadores: alertas da natureza para a poluição Os vegetais bioindicadores são um forte aliado na compreensão da atmosfera urbana das grandes metrópoles. Mas o que são esses vegetais? O arquiteto sustentável é responsável pela elaboração de elementos na construção que retornam dados importantes para a cidade. Quando se utiliza de bioclimatismo e fachadas verdes como estratégias da paisagem urbana sustentável, esse arquiteto se compromete a estender esse relacionamento à biologia. Bioindicadores são elementos do ecossistema que reagem a certas situações, transformações e nuances do meio ambiente. Existem representantes dessa classificação nas mais variadas classes de seres vivos, mas os vegetais bioindicadores são classificados da seguinte maneira: Possuem uma característica interessante: respondem a certos elementos presentes na atmosfera urbana, como microparticulados e gases nocivos, resultantes da queima de combustíveis fosseis. Esses vegetais os absorvem e filtram o ar. Algumas espécies reagem mudando de cor ou mesmo morrendo, o que indica altos níveis desses elementos na atmosfera. Alguns exemplos são a espada- de-São-Jorge e as árvores Ficus. Vegetais filtrantes Vegetais indicadores Esses apenas reagem a algumas características da atmosfera, como níveis de oxigênio e CO2, por meio do crescimento, de mudanças de direção ou simplesmente morrendo. Tais vegetais não absorvem os materiais nocivos, como os filtrantes, apenas não reagem bem a eles. Alguns exemplos incluem as samambaias e algumas espécies de arbustos. Plantados nas praças, indicam os altos teores de materiais poluentes. Confira um exemplo de vegetação: A vegetação é um importante aliado para detectar a poluição residual na cidade. Portanto, o uso de vegetais nas cidades não tem apenas um fator paisagístico, mas também constitui importante meio de detecção de problemas atmosféricos, que deve estimular alterações no meio urbano e a criação de mecanismos para a diminuição da poluição. Por que o edifício sustentável é tão verde? Confira agora por que as representações do edifício sustentável do século XXI normalmente são feitas abrangendo vegetação em sua constituição e de que forma seu uso é benéfico para a população e a cidade. Falta pouco para atingir seus objetivos. Vamos praticar alguns conceitos? Questão 1 As energias alternativas são métodos considerados não convencionais como fonte de energia para alimentar nossas necessidades nas habitações. Na contramão das energias convencionais, são consideradas essencialmente limpas e muito valorizadas pela arquitetura sustentável. São exemplos de energias alternativas Parabéns! A alternativa C está correta. As energias alternativas são oriundas de meios considerados não convencionais. Alguns exemplos das convencionais incluem as hidroelétricas, as usinas nucleares e as termoelétricas. As fontes solares, ou A a fotovoltaica, a solar e a hidroelétrica. B a nuclear, a solar e a termoelétrica. C a fotovoltaica, a eólica e a geotérmica. D a plasmática, a nuclear e a fotossensível. E a reativa, a acumulativa e a eólica. fotovoltaicas, as eólicas, oriundas dos ventos, e as geotérmicas, a partir de fontes subterrâneas, são consideradas limpas e ainda não convencionais. Questão 2 Na paisagem urbana, as árvores têm sido largamente utilizadas para aumentar o conforto ambiental na área pública, minimizando a ação do sol. Entretanto, para o arquiteto sustentável, existe uma vantagem a mais. Assinale a alternativa que apresenta essa vantagem do uso de árvores. Parabéns! A alternativa D está correta. Aumentando a imagem que a cidade possui de ser sustentável e preocupada com as questões ambientais, é ampliada a sensação de pertencimento ao lugar, permitindo que os habitantes compreendam as práticas de conservação. A Enquadra melhor a paisagem da cidade, melhorando a impressão da cidade para o turismo. B Determina melhor onde existem pontos de drenagem favorável, devido às raízes das arvores. C Organiza as áreas de contemplação, permitindo melhor aproveitamento da rua e do espaço público. D Aumenta a imagem de uma cidade ligada ao meio ambiente e à noção de conservação da natureza. E Impede que as construçõesantigas e nada sustentáveis sejam vistas, assim a cidade passa uma impressão de sustentável. 4 - Reuso da água Ao �nal deste módulo, você será capaz de reconhecer as metodologias de e�ciência no uso da água nas construções. Importância da água Água na arquitetura A água é o bem mais precioso do planeta. É o elemento fundamental para a vida e deve ser preservada a todo custo. A água é utilizada tanto em nossa subsistência, para consumo e lazer, quanto em diversos setores da construção, inclusive no canteiro de obras. Na arquitetura sustentável, torna-se fundamental imaginar o aproveitamento de água. Ela está presente nos principais sistemas prediais, como os que veremos a seguir: Higienização Sistemas de preparo de alimentos wave Arrefecimento de ambientes Elementos paisagísticos Sua importância é tamanha que é peça central nos estudos a respeito da construção sustentável. Considerando a etapa de construção, a água é utilizada no preparo de argamassas e de elementos construtivos. Atualmente, nesses sistemas, a perda de água é considerável. Um dos deveres de arquitetos e engenheiros sustentáveis é partilhar a preocupação de idealizar uma metodologia eficiente para seu uso. Na etapa de ocupação do edifício, a água é utilizada nos sistemas da construção e deve ser calculada de acordo com a função desempenhada na edificação. Tais cálculos preveem um uso equilibrado, porém as bases para a criação dessas estimativas são consideradas defasadas diante do comportamento sustentável, pois a intenção de reduzir perdas ou utilizar de forma eficiente minimizam seu uso. No ramo de projetos sustentáveis, diversos equipamentos têm se adaptado para utilizar cada vez menos água em seus sistemas, como nos equipamentos arrefecimento e de ar-condicionado, e em torneiras e registros, com o uso de arejadores ou redutores de pressão. Por ser uma indústria em evolução, é compreensível que novas tecnologias surjam nos próximos anos. Água na cidade Como elemento fundamental da vida, a água encontra na cidade um grande desafio. É de suma importância a compreensão de que deve ser tratada em todo o território urbano, mas a forma de construção da cidade contemporânea anda na contramão desse pensamento. Isso ocorre porque uma grande parte da superfície das metrópoles é tratada de forma impermeável. Dessa maneira, as águas pluviais devem ser encaminhadas para sistemas de coleta, onde são conduzidas como águas perdidas para sua utilização. Para as cidades, as chuvas sempre foram tratadas como um problema urbano a ser resolvido, evitando enchentes e áreas de alagamento. A água é muito importante para a percepção do ecossistema urbano. O urbanista sustentável possui uma outra visão sobre esse assunto. Para ele, as formas de aproveitamento dessas águas são inúmeras, criando meios para sua reutilização, assim como acontece em situações prediais. Diante das soluções possíveis, calhas especiais são criadas para absorver essas águas, permitindo seu aproveitamento ou mesmo as encaminhando ao solo, de modo que o penetrem e sejam devolvidas ao lençol freático. Água do mar: solução? As águas oceânicas constituem a maior parte da superfície do globo. Diante das necessidades das diretrizes sustentáveis e da imensidão dos oceanos, é natural que pensemos que a água não estaria em perda. Contudo, o uso de água do mar tem um alto custo. A água do mar possui em sua constituição uma parcela considerável de minerais essenciais à vida, porém, mesmo diante desse fato, não é uma água passível de consumo direto, nem pelo homem, nem pela construção civil. A água salgada não reage adequadamente às misturas químicas envolvidas no processo de produção de materiais para a construção civil, nem tampouco elementos ligados a ela, como a areia de praias e regiões costeiras. O sal presente em sua composição compromete a integridade de ligamentos químicos, tornando os agregados pouco ligantes entre si. Esse uso constitui um risco à construção, com possibilidade de colapso. A água doce, oriunda de lençóis freáticos, precisa ser utilizada para a lavagem desses materiais para que possam ser utilizados. Como esse é um processo de alto custo e de grande poder poluente, as areias costeiras não devem ser utilizadas para a construção civil. Consumo consciente Consumo de água A análise de consumo de água é uma das variáveis mais importantes para o projeto arquitetônico, quando do planejamento de seu uso dentro do sistema predial e do nosso dia a dia. Fato é que esse consumo é variável. Vai depender das necessidades de cada tipologia e função aplicada ao uso da construção. Analisando superficialmente, já é notável que o consumo residencial é bem diferente do consumo industrial, por exemplo. Mas diferente como? O consumo da água é calculado preferencialmente pelas atividades exercidas. Assim, dentro da usabilidade residencial, ela é pensada no preparo de alimentos, na higienização diária e na limpeza das habitações. Lazer e paisagismo são considerados acréscimos nesse cálculo. No uso comercial, ela é considerada essencialmente para a limpeza e o uso de sanitários, descartando as práticas de higiene pessoal, como banhos. Entretanto, certas práticas comerciais utilizam mais água, é o caso de restaurantes e consultórios, bem como do setor de estética. Nas indústrias, a água é consumida dentro da linha de produção. Embora as anteriormente citadas possam ser tratadas mediante estimativas, nas indústrias cada produção faz seu uso de forma diferenciada. Por isso, o arquiteto sustentável deve considerar as linhas de produção dos itens idealizados para seus projetos. Empresas de produção sustentáveis estão atentas ao processo produtivo, mas as necessidades da arquitetura variam de acordo com as necessidades das edificações. O uso de artigos que possam ser produzidos em série permite planejar melhor o uso da água na indústria e reduzir seu impacto. É por essa razão que modelos modulares de construção são mais sustentáveis do que os moldados in loco na obra. Tipos de águas dentro do ciclo de águas urbano Embora não seja exatamente uma solução, reaproveitar a água utilizada é substancialmente uma fonte importante para a sustentabilidade. Não está ligada apenas à questão de utilizar menos água do sistema, mas principalmente quanto ao descarte das águas servidas. O processo de reaproveitamento começa a partir do momento que utilizamos a água em nossos sistemas. A melhor forma de entender como essa água é aproveitada é conhecendo as três denominações básicas do ciclo de águas prediais. Água limpa É considerada a água sem tratamento, mas adequada para uso em áreas especiais da construção. Não é própria para consumo, mas pode ser utilizada para lavagens e higiene gerais. Às vezes é confundida com a água potável, porém não deve ser utilizada para preparo de alimentos ou filtragem. Água potável Determinada pela sua característica de uso primário, adequada ao consumo humano. Essa água chega às nossas instalações prediais a partir das concessionárias que fazem o tratamento e a distribuição em cada cidade do país. O consumo desenfreado e a globalização da produção industrial têm contribuído essencialmente para a poluição das águas planetárias. O movimento sustentável busca reduzir essas práticas de consumo, orientando para a conscientização e a educação ambiental. Estratégias para evitar a poluição A sustentabilidade e o movimento de desenvolvimento sustentável são os responsáveis pelas maiores lutas envolvendo a preservação dos recursos naturais e do meio ambiente. Uma das maiores estratégias de ações sustentáveis é a conscientização. Sendo essa a principal vertente de desenvolvimento para as cidades do Água cinza É a água de primeiro consumo, de uso brando, e sem a contaminação por elementos nocivos ou gorduras. Tem teor médio de poluentes. Embora inadequada para consumo humano, pode ser tratada e reutilizada em algumas instalações, como bacias sanitárias e paisagismo. Água negraÉ considerada imprópria e inadequada para consumo humano em qualquer espécie. Normalmente está associada ao esgoto doméstico, mas também é resultado de descarte pesado, de lavagens industriais e outros elementos. Precisa ser tratada antes do descarte final. Água poluente Utilizada principalmente em indústrias pesadas, áreas radioativas e hospitais, deve ser tratada e descartada de maneira consciente e correta. Não deve ser encaminhada ao lençol freático. É o subproduto do ciclo urbano de água mais difícil de tratar e normalmente está ligada aos mais significativos ativos de poluição do planeta. A taxa de vida nessas situações é zero, levando à mortandade de toda a vida em leitos de rio e lagos. século XXI, o arquiteto sustentável é um importante agente de conscientização e orientação, principalmente nas grandes cidades. Para o arquiteto sustentável, isso é demonstrado por meio do projeto consciente e do uso de recursos visuais para a compreensão da população e dos habitantes das cidades e da edificação. Na prática, essa conscientização é feita mediante a criação de ambientes adequados e propícios ao conforto ambiental, valorizando os princípios do desenvolvimento sustentável para as grandes cidades e, consequentemente, valorizando o espaço urbano. Outra forma é a criação, nas edificações, de mecanismos especiais que valorizem as estratégias sustentáveis, como o consumo consciente de água por meio de equipamentos de redução de seu uso sem comprometer o conforto. Essas estratégias visam tornar a vida sustentável um hábito. Uma das faces mais visíveis é o consumo de água, pois tanto a materialidade quando a geometria predial dependem apenas da percepção sensorial. As práticas de redução de uso da água favorecem a visibilidade e o questionamento, além de auxiliar as técnicas contemporâneas de educação ambiental. Sistemas de aproveitamento e reciclagem da água Sistema de alimentação predial Os sistemas de águas prediais funcionam de maneira cíclica, ou seja, estão ligados a um ciclo que se inicia na captação de águas e vai até o seu descarte no meio ambiente. Confira a seguir como funciona: O circuito começa na captação, a partir do leito dos rios que alimentam as cidades. Esses canais naturais fornecem a água que será encaminhada às estações de tratamento, onde serão recondicionadas para água potável. Esses rios normalmente não acompanham o crescimento das cidades. Quanto mais crescem, mais aumenta a demanda de água. É comum, em algumas metrópoles, que o fornecimento de água seja originário de vários cursos de rios e lagos próximos. Também é comum que a cidade se desenvolva em volta deles. Por vezes, vemos a cidade criar reservatórios artificiais de água, como açudes e áreas de alagamento controlado, para que sirvam de apoio e abastecimento. Após passar pelas estações de tratamento, as águas são encaminhas às edificações através de um intrincado sistema de distribuição. Esse sistema pode ter muitas variações, mas essencialmente é feito por meio da pressão natural da água, sem o uso de bombas ou subestações. Por se tratar de volume de fluido, justifica-se a fundamentação correta do cálculo de consumo predial, pois é a partir dele que as concessionárias podem encaminhar a água em volumes adequados. Esse é um dos desafios do arquiteto e do urbanista sustentável, visto que, dentro da diretriz sustentável da cidade compacta, que rege o uso heterogêneo e misto do território, devemos calcular adequadamente para várias funções ao mesmo tempo. Uma vez alimentando a edificação, deve ser encaminhada para reservatórios menores e, assim, ser distribuída no interior da edificação. Esse sistema funciona mediante a gravidade, ou seja, a água é distribuída dentro da edificação de cima para baixo. Ao passar pelas unidades prediais, ela é consumida e transformada em águas cinzas ou negras. Após transformada, ela é encaminhada para o descarte ou tratamento, por intermédio da mesma concessionária, que direciona esses dejetos para as áreas de descarte. Em regiões costeiras, normalmente estão ligadas ao descarte marítimo; em regiões dentro do território, a áreas de decantação e sumidouros. Para o arquiteto sustentável, o desafio está em intervir durante esse circuito e promover soluções que minimizem o impacto de consumo e descarte. Captação e coleta pluvial A coleta pluvial das edificações é feita por meio de coletores no topo das edificações. Esses coletores fazem parte do desenho do edifício arquitetônico e não devem ser considerados como elementos adicionais à obra. Devem ser idealizados desde o início do projeto e devidamente calculados de acordo com a climatologia da região, que determinará o grau de pluviosidade que irá incidir sobre o edifício em determinadas épocas do ano. Essa estratégia torna possível que uma parcela das águas necessárias para alimentar o edifício seja reduzida. É lógico pensar que depende do lugar onde a edificação está inserida. Há regiões no Brasil em que o índice pluviométrico é inerentemente baixo, mas com o sistema de coleta toda a água de chuva pode ser aproveitada. Sistema de coleta pluvial residencial é fundamental para um bom reaproveitamento da água. Essa água é encaminhada a um reservatório especial, diferente do reservatório vinculado à alimentação urbana. Isso é necessário pois a água pluvial, ao passar pela atmosfera urbana, carrega boa parte dos elementos poluentes em suspensão no ar. Esses elementos poluentes devem ser filtrados e a água tratada antes de entrar no sistema. Em áreas de alta pluviosidade, boa parte da água coletada acaba sendo naturalmente descartada e torna-se parte das perdidas na cidade. Toda metrópole tem um sistema de águas pluviais. A estratégia sustentável é encaminhá-la diretamente ao solo e não ao mesmo destino das águas servidas. Por isso, o urbanista sustentável precisa pensar em um meio de absorver essa água e encaminhá-la a áreas de drenagem onde ela possa ser absorvida pelo solo. Algumas tipologias de coletores incluem tanques de coleta, telhados, calhas e coletores especiais, desenvolvidos exclusivamente para cada tipo de projeto arquitetônico. Sistema de reuso e reciclagem da água servida Mais uma estratégia para a arquitetura sustentável é promover a reutilização da água. Embora pareça um sistema complexo, na verdade, é um mecanismo simples e funcional. Pode ser implantado em residências de pequeno porte até indústrias. Trata-se de um sistema organizado em quatro passos: 1. O primeiro passo é a distribuição da água da rede de distribuição urbana. Ela alimenta a primeira etapa do sistema, abastecendo os reservatórios primários, que fornecerão a água potável. 2. Após seu uso, as águas servidas normalmente são encaminhadas para descarte, passando por uma estação de tratamento e em seguida encaminhadas às redes municipais de esgoto. O segundo passo entra nesse ponto: as águas servidas são encaminhadas a um sistema de filtragem e tratamento e posteriormente reencaminhadas para outro reservatório superior, destinado somente às águas servidas. Vale ressaltar que essas águas são o resultado de irrigação primária, lavagem de alimentos, banho e higiene pessoal, quando nas edificações residenciais. 3. A partir do reservatório de águas servidas, a água é direcionada para uso em equipamentos que gerarão águas negras, como bacias sanitárias e lavagem de pisos, no caso de áreas residenciais. Essas águas ainda podem ser usadas para irrigação. Também podem constituir aqui as águas tratadas da coleta pluvial. Uma vez utilizadas, elas são encaminhadas para outra área de tratamento. 4. As águas negras, a princípio, são descartadas após tratamento inicial. Em alguns casos, com o tratamento adequado, podem ser utilizadas em áreas externas como irrigação e adubagem, porém não podem ser lançadas sem o tratamento, pois dejetos humanos não podem ser absorvidos no meio natural. É, portanto, a última etapa do ciclo. Confira a seguir um exemplo de sistema de reuso de água:Sistema de reuso da água inclui diversos processos de filtragem. Para que o sistema funcione, é necessário que o arquiteto preveja seu uso e necessidade previamente. O arquiteto sustentável já inclui essas soluções como recurso básico nas construções, com base nos princípios da cidade sustentável. Reuso da água no sistema predial Confira agora o sistema de reaproveitamento de águas de uma edificação, seu circuito e a maneira como ele deve ser feito de forma eficiente. Falta pouco para atingir seus objetivos. Vamos praticar alguns conceitos? Questão 1 Os oceanos são a maior parte da superfície do planeta e parecem ser uma importante alternativa ao uso de água nas construções. Mas tal solução não é ideal, uma vez que as águas salgadas não reagem bem à química das misturas utilizadas na construção civil. Isso ocorre porque A o sal presente em sua composição compromete a integridade de ligamentos químicos, tornando os agregados pouco ligantes entre si, o que torna esse uso um risco à construção, com possibilidade de colapso. B a água salgada é mais densa e por isso impede que a mistura de argamassa atinja o ponto de fluidez correto, impedindo uma boa distribuição na forma. C é necessária uma quantidade maior de volume de água para favorecer os agregados do concreto, em razão dos diversos minerais contidos na água do mar. Parabéns! A alternativa A está correta. O sal influencia diretamente as ligações dos agregados ao concreto, deixando a massa mais fragilizada. Além disso, os cristais de sal interferem exatamente nas ferragens, o que pode levar a construção ao risco de colapso. Essa reação vale também para elementos próximos à costa, como areias e rochas. Questão 2 Na alimentação de água predial, o sistema funciona de forma cíclica, ou seja, é necessário que a água circule pela edificação a partir da rede de abastecimento e, após utilizada, seja encaminhada para a rede de esgoto e descarte. Durante esse processo, a água passa por uma etapa imprescindível. Assinale a opção que melhor representa essa etapa. D a água salgada possui cristais de sal, que servem como agregado na argamassa, embora, na verdade, a água doce e a água salgada tenham a mesma constituição. E somente cidades litorâneas podem usar a água salgada, enquanto, em cidades do interior, é preciso adicionar sal, o que aumenta o custo da argamassa. A Sistema de bombas de acionamento remoto. B Cisterna da base de apoio de alimentação. C Reservatório superior para distribuição às unidades. D Equipamentos de coleta pluvial do edifício. E Sistema de drenagem da laje superior. Parabéns! A alternativa C está correta. Todas as edificações possuem, em seu sistema de alimentação de água, um reservatório superior que mantém a água e a distribui às unidades da edificação. Esse reservatório está presente em quase todas as edificações e em todos os edifícios verticalizados de grande porte. Cisternas não são essenciais, embora possam servir de apoio ao sistema. O sistema de bombas não é fundamental, embora possa ser utilizado em casos de baixa pressão de água. Considerações �nais Por meio dos estudos realizados aqui, percebemos como a arquitetura sustentável possui diversas variáveis ligadas aos processos de uso das edificações e também como suas soluções estão conectadas ao urbanismo sustentável e às diretrizes do movimento sustentável no mundo. É de suma importância que o profissional compreenda que essas soluções devem fazer parte do cotidiano projetual. Elas tornam-se essenciais para a habitabilidade das edificações, determinando noções de conforto e valorização dos recursos naturais, seja mediante os meios reprodução e as tecnologias inovadoras, seja por meio da atualização de sistemas de aproveitamento de recurso comuns e do cotidiano da população. O arquiteto é dos principais responsáveis por criar visibilidade para as práticas de sustentabilidade, pois agrega no ambiente o visível resultado das boas ações e compreende a maior força de modificação da sociedade, encaminhada para uma sociedade mais preocupada com a preservação do meio e da natureza. Podcast Ouça agora como o estudo do projeto arquitetônico deve trazer as questões de sustentabilidade junto com os estudos da geometria bioclimática, produzindo resultados alinhados com as diretrizes do século XXI. Referências BRASIL. Objetivos de desenvolvimento sustentável. Brasília, DF: IBGE, 2022. Consultado na internet em: 10 abr. 2022. GEHLS, J. Cidade para pessoas. São Paulo: Perspectiva, 2013. MATERIAIS inovadores – Tinta que absorve poluição. Jornal A Matéria, s. d. Consultado na internet em: 5 maio 2022. O QUE é sustentabilidade. Uniprime, Londrina, out. 2016. Consultado na internet em: 6 abr. 2022. TRIGUEIRO, A. Mundo sustentável: abrindo espaço na mídia para um planeta em transformação. São Paulo: Globo, 2005. Explore + Confira as indicações que separamos especialmente para você! Para compreender mais sobre os problemas ambientais e as necessidades de um planeta mais sustentável, assista ao documentário Nosso planeta, nosso lar, do cineasta, fotógrafo e ambientalista francês Yann Arthus-Bertrand, lançado em 2009. Esteja mais a par dos conceitos de sustentabilidade e suas vertentes por meio do estudo da Carta da Terra, documento lançado pela Comissão Mundial das Nações Unidas, que apresenta as diretivas para um mundo mais globalizado, socialmente estável e sustentável.
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