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RelatorioFinalPesquisaCNPq2011-2014

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL 
INSTITUTO DE PSICOLOGIA 
DEPARTAMENTO DE SERVIÇO SOCIAL 
Grupo de Estudos e Pesquisas sobre Formação e Exercício Profissional em 
Serviço Social – GEFESS 
Programa de Extensão e Pesquisa em Saúde Urbana, Ambiente e 
Desigualdades 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
RELATÓRIO FINAL DO PROJETO DE PESQUISA: 
DESAFIOS INTERDISCIPLINARES NOS PROCESSOS DE 
FORMAÇÃO E TRABALHO EM SAÚDE URBANA NA COMUNIDADE 
 
 
 
 
 
 
 Pesquisadora: 
 Profª. Dra. Alzira Maria Baptista Lewgoy 
 
Financiamento: 
Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico - CNPq – 
Edital nº 07/2011- CNPq/ CAPES/ 31/12/2011- Processo 402031/2011-3 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Porto Alegre 
Dezembro, 2014 
DADOS DE IDENTIFICAÇÃO 
 
NOME DO PROJETO: DESAFIOS INTERDISCIPLINARES NOS PROCESSOS DE 
FORMAÇÃO E TRABALHO EM SAÚDE URBANA NA COMUNIDADE 
 
PERÍODO DE REALIZAÇÃO: dezembro de 2011 a dezembro de 2014 
 
COORDENADORA DO PROJETO: 
Profª Dra. Alzira Maria Baptista Lewgoy – Grupo de Estudos e Pesquisa em 
Formação e Exercício Profissional em Serviço Social-GEFESS/ UFRGS. Programa 
de Extensão e Pesquisa em Saúde Urbana, Ambiente e Desigualdades/UFRGS 
 
COMPOSIÇÃO DA EQUIPE DE PESQUISA: 
Pesquisadora e supervisora da pesquisa de campo: 
Profª. Dra. Alzira Maria Baptista Lewgoy GEFESS/ UFRGS 
 
Pesquisadores da equipe: 
Alzira Mª B. Lewgoy (Serviço Social); 
Maria Inês Azambuja (Medicina); 
João Henrique Godinho Kolling (Medicina); 
Roberta Alvarenga Reis (Fonoaudiologia) – ano 2013 
Maurem Ramos (Nutrição) – ano 2013 
 
Auxiliares da pesquisa – alunos de iniciação científica: 
Elisa Leivas Waquil (Serviço Social) 
Gabriela Zanin (Serviço Social) 
Pamela Pasqualotto Rosseto (Serviço Social) 
 
Colaboração – bolsistas voluntários: 
Anely Marmitt (Serviço Social) 
Cristiano Borges Martins (Psicologia) 
Denise dos Santos (Serviço Social) 
Marília Backes (Arquitetura) 
Rafaela Faccin (Nutrição) 
 
Consultores voluntários: 
Prof. Juliana Balbinot Hilgert – PPG Odontologia Social, UFRGS (WHOQOL) 
Prof. Andrea Fachel – Curso de Política Públicas, UFRGS (WHOQOL) 
 
INSTITUIÇÕES PARCEIRAS: 
 
 Na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS): 
a) Curso de Serviço Social do Instituto de Psicologia e Curso de Psicologia do 
Departamento de Psicologia e de Personalidade; 
b) Faculdade de Medicina - Departamento de Medicina Social (Medicina e 
Nutrição) 
c) Faculdade de Odontologia - Departamento de Odontologia Social (Curso de 
Fonoaudiologia) 
d) Programa Interdepartamental de Extensão e Pesquisa Saúde Urbana, 
Ambiente e Desigualdades www.ufrgs.br/saudeurbana 
 
 Parceiros externos 
a) Unidade Básica de Saúde/ HCPA- Santa Cecília 
b) CRAS - Centro 
c) Comunidade da Vila Sossego 
 
ÓRGÃOS FINANCIADORES: 
 
 a) CNPq – órgão financiador deste Projeto de Pesquisa 
 b) MEC/PROEXT- órgão financiador do Programa Saúde Urbana, Ambiente e 
 Desigualdades, promotor do Projeto de Extensão InterSossego, base deste 
 Projeto de Pesquisa
http://www.ufrgs.br/saudeurbana
 
 
SUMÁRIO 
 
 
 
 
 
1 INTRODUÇÃO.................................................................................................06 
 
2 A PESQUISA E OS REFERENCIAIS TEÓRICOS...........................................08 
 
3 OBJETIVOS PROPOSTOS E PROCESSO METODOLÓGICO: A 
 CONSTRUÇÃO COLETIVA DA PESQUISA .................................................14 
3.1 OBJETIVOS....................................................................................................14 
3.2 O PROCESSO METODOLÓGICO DA PESQUISA QUANTITATIVA E 
 QUALITATIVA.................................................................................................15 
3.2.1 Universo e instrumentos..........................................................................17 
3.2.2 A construção coletiva da pesquisa......................................................... 20 
 3.3 QUESTÕES ÉTICAS E DEVOLUÇÕES DO RESULTADOS....................... 26 
 
4 ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DOS RESULTADOS................................... 27 
4.1 CARACTERIZAÇÃO SÓCIO-DEMOGRÁFICA DAS HABITAÇÕES 
 E DA POPULAÇÃO………………………………………………………………... 27 
4.2 A DINÂMICA DAS RELAÇÕES SOCIAS NO ACESSO AOS DIREITOS DE 
 CIDADANIA , NO CONTEXTO DA COMUNIDADE VILA SOSSEGO.......... 36 
4.2.1 Caracterização dos sujeitos pesquisados…............................................ 36 
4.2.2 Cidadão, Cidadania e participação, a compreensão dos sujeitos 
pesquisados................................................................................................ 40 
 
5 PRINCIPAIS CONTRIBUIÇÕES PARA O ESTUDO DA TEMÁTICA 
INVESTIGADA.................................................................................................. 45 
 
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS E PERSPECTIVAS………………………………... 48 
 
REFERÊNCIAS...................................................................................................... 50 
 
 
 
ANEXOS E APÊNDICES 
 
ANEXO A– Aprovação do Comitê de Ética.......................................................... 54 
ANEXO B – Ficha A adaptada pela UBS HCPA/Sta. Cecília................................55 
ANEXO C – WHOQOL Breve...............................................................................59 
APÊNDICE A - Instrumento de Pesquisa – Termos de Consentimento Livre 
Esclarecido- Questionário Domicílio e WHOQOL breve.......................................... 62 
APÊNDICE B - Instrumento de Pesquisa – Manual do Entrevistador................. 63 
APÊNDICE C - Instrumento de Pesquisa- Questionário Domicílio...................... 67 
APÊNDICE D- Apresentações da Pesquisa nos Salões de Iniciação Científica 
2013/2014............................................................................................................ 71 
APÊNDICE E – Apresentação da pesquisa no I Congresso de Geografia 
da Saúde dos Países de Língua Portuguesa Coimbra, Portugal – 2014............. 72 
APÊNDICE F- Apresentação da Pesquisa no XIV ENCONTRO DE 
PESQUISADORES EM SERVIÇO SOCIAL - ENPESS- Natal/RN- 2014........... 73 
APÊNDICE G – PUBLICIZAÇÃO DA PESQUISA NA COMUNIDADE VILA 
SOSSEGO NO JORNAL SAÚDE SOSSEGO 12º EDIÇÃO/2014....................... 74
1 INTRODUÇÃO 
 
O presente relatório tem por finalidade sintetizar o trabalho de investigação 
desenvolvido pela pesquisa intitulada “DESAFIOS INTERDISCIPLINARES NOS 
PROCESSOS DE FORMAÇÃO E TRABALHO EM SAÚDE URBANA NA 
COMUNIDADE”, realizada no período de março de 2012 a dezembro de 2014. Foi 
constituída de uma parte quantitativa de caracterização sócio-demográfica e de 
saúde e qualidade de vida da população local, e de uma parte qualitativa, voltada a 
aprofundar o entendimento sobre as demandas por direitos sociais e as formas de 
encaminhá-las coletivamente, na comunidade Vila Sossego, e, a partir deste 
entendimento, identificar os desafios postos à formação profissional e ao trabalho 
interdisciplinar em comunidades, na perspectiva da saúde urbana. 
Este projeto de pesquisa emergiu a partir de um Projeto de Extensão 
iniciado em 2011 em Porto Alegre titulado “INTEGRALIDADE E 
INTERSETORIALIDADE: TRABALHO MUTIPROFISSIONAL NUMA MICRO 
REGIÃO DA UBS HCPA /SANTA CECÍLIA”, título informalmente abreviado para 
Projeto InterSossego. O Projeto InterSossego já tem 3 anos de atividades, com foco 
em uma comunidade de aproximadamente 300 pessoas habitando irregularmente, 
há mais de 30 anos, uma área central de Porto Alegre. Em 2008, parte do território 
ocupado – área pública - foi reconhecida como Área Especial de Interesse Social 
(AEIS), ou seja, destinada a reurbanização com manutenção dos moradores no local. 
Passados seis anos, o processo de construção de moradias ainda não aconteceu. 
Os objetivos do projeto de extensão são: 1) identificar, com os moradores, 
determinantes ambientais e sociais de saúde no local ondeeles habitam; 2) 
identificar, com moradores, alunos e profissionais parceiros, as possibilidades e 
limites da prestação setorizada de serviços públicos, no que tange à modificação de 
determinantes ambientais e sociais no nível local, e 3) trabalhar, entre todos os 
envolvidos – professores, profissionais, alunos e comunidade, temas como, 
democracia, participação e autonomia, com vistas favorecer o diálogo interdisciplinar, 
intersetorial e com a comunidade, tendo como objetivos a solução de problemas 
locais e a produção de melhores condições de vida e de saúde na Comunidade 
(LEWGOY et al, 2011). 
7 
 
 Assim, a pesquisa emergiu da necessidade de entendermos a dinâmica das 
relações sociais na Vila Sossego, e a relação da mesma com a cidade, ou seja, 
como os moradores se organizam dentro da Comunidade, como a comunidade se 
relaciona com representantes de órgãos públicos, representações políticas e outras 
instituições e como se processa o encaminhamento de suas demandas sociais e a 
luta por cidadania (LEWGOY et al, 2011). 
A temática abordada é complexa e o uso de abordagens quantitativas ou 
qualitativas isoladamente pareceu-nos insuficiente para lidar com essa 
complexidade. A natureza interdisciplinar da pesquisa foi outro fator que contribuiu 
para a proposição e desenvolvimento de uma abordagem mista (CRESWEL, 2011), 
quantitativa e qualitativa, já que a equipe é composta por pesquisadores cujos 
interesses e experiências metodológicas são diferentes. Se por um lado, isso 
potencializou o conhecimento sobre a realidade local, por outro, o tempo para a 
conclusão se ampliou, tendo em vista a necessidade da negociação de consensos 
na equipe. 
Este relatório está estruturado em quatro partes. Os conteúdos abordados 
são apresentados na introdução. No segundo capítulo contextualiza-se a pesquisa e 
o referencial teórico sobre o tema. Na sequência, apresentam-se os objetivos da 
pesquisa e como esta se constituiu metodologicamente. No capítulo quatro é 
apresentada a descrição e a interpretação dos resultados obtidos a partir da 
pesquisa de campo. Por fim, busca-se avaliar quanto das metas previstas foram 
atingidas pela pesquisa, identificar as principais contribuições da pesquisa à 
temática proposta, assim como delinear o desenvolvimento futuro desta linha de 
investigação, de forma a produzir avanços científicos e sociais no campo da 
formação profissional e do trabalho interdisciplinar na perspectiva da saúde urbana. 
 
 
 
8 
 
 
2 A PESQUISA E OS REFERENCIAIS TEÓRICOS 
 
Como mencionado acima, o projeto de pesquisa nasceu da experiência de um 
ano no Projeto de Extensão Comunitária InterSossego, com o objetivo de aprofundar 
o diagnóstico sócio-demográfico e ambiental do contexto local e da organização da 
prestação de serviços, e desafiar o grupo a refletir, de forma interdisciplinar, sobre a 
adequação da formação profissional às necessidades e demandas locais, e sobre o 
papel da universidade na promoção da cidadania. 
Na pesquisa participaram, em diferentes momentos, professores e/ou alunos 
de graduação dos seguintes cursos: Arquitetura e Urbanismo, Ciências Sociais, 
Comunicação Social, Enfermagem, Fonoaudiologia, Geografia, Medicina, Nutrição, 
Odontologia, Pedagogia, Psicologia, Saúde Coletiva e Serviço Social (coordenação), 
além de profissionais médicos, enfermeiros, assistentes sociais, educadores físicos 
e agentes comunitários com atuação local. Esta investigação buscou sempre 
favorecer múltiplos olhares sobre o contexto e principalmente a troca de percepções 
entre alunos, profissionais e a comunidade (FREIRE, 2005). 
A pesquisa foi ancorada em alguns conceitos já relativamente estabelecidos, 
tais como interdisciplinaridade, território, desigualdades, formação, produção do 
conhecimento, democracia e comunidade, e estão contribuindo para a construção de 
outro – o de saúde urbana. Chama a atenção, nas áreas de formação profissionais 
de áreas mais “técnicas” como a Medicina, a Odontologia, a Enfermagem, a 
Fonoaudiologia e a Nutrição. a pouquíssima exposição dos alunos a este tipo de 
conhecimento, e seu interesse em aprender e trocar experiências com colegas das 
áreas “sociais”. As discussões no grupo interdisciplinar são desafiadoras e um 
grande aprendizado de escuta, pois o desenvolvimento interdisciplinar, intersetorial e 
comunitário dos projetos de extensão e de pesquisa exige que o grupo dialogue 
respeitando as diferenças originais de formação e da cultura de cada área que 
participa do processo. 
A pesquisa interdisciplinar engajada aponta para um panorama "[...] mais 
amplo, mais complexo, mais inseguro, desconhecido e inacabado no plano teórico, 
9 
 
constituindo maiores desafios para os investigadores que adotam.” 
(VASCONCELOS, 2002, p 171). 
Por esta razão, uma revisão de conceitos-chave e seus significados foi 
realizada com base no corpo de conhecimentos que está à nossa disposição, como 
academia, mas foco no contexto da extensão e da pesquisa na Vila Sossego, e do 
Programa Saúde Urbana a que se vincula a Extensão. 
 Por isto, iniciamos pelo conceito de saúde urbana. É uma concepção que 
envolve as diversas áreas, por partilharmos projetos comuns de extensão e de 
pesquisa na UFRGS. O grupo entende que precisamos intensificar o debate público 
sobre a saúde urbana, o meio ambiente e as desigualdades na universidade e no 
Brasil. 
 A Saúde Urbana pode ser considerada, como aborda Caiaffa (2008, p.5), 
 
[...] um ramo da saúde pública que estuda os fatores de riscos da 
cidade, seus efeitos sobre a saúde e suas relações sociais urbanas. 
Os atuais pilares da saúde urbana são: o adensamento de 
populações; o papel do ambiente físico e social como modelador da 
saúde das pessoas; a necessidade de aferir os fenômenos tendo 
como objeto as desigualdades injustas e evitáveis do ambiente físico, 
social em saúde e a governança e a governabilidade como propostas 
para as soluções para as iniquidades. 
 
 
 Neste sentido, vale lembrar trecho do documento da OMS/UNHABITAT 
denominado Hidden Cities (Cidades ocultas: desmascarando e superando as 
iniquidades em saúde nos ambientes urbanos, 2010, p.10, apud LEWGOY et al, 
2014): 
Sobrecarregados pela velocidade do crescimento, muitos governos 
não estão acompanhando a expansão continuada de necessidades 
de infraestrutura e serviços. O resultado disto e que muitas áreas 
urbanas contém – ao mesmo tempo, e nas mesmas cidades – o 
melhor e o pior para a saúde e o bem-estar. 
 
 Também o diálogo do vídeo canadense Unnatural Causes (2008, apud 
Azambuja et al, 2010), é bem explícito sobre a relação entre desigualdades na 
população (hoje majoritariamente urbana) e a saúde: 
 
 
10 
 
[...] - Blackwell: A primeira coisa necessária é reconhecer que onde 
você vive impacta na sua saúde. Que o ambiente na comunidade, o 
ambiente social e o econômico juntos, determinam se teremos ou 
não uma existência saudável. 
 
[...] - Williams: Isto significa que política de habitação é política de 
saúde. Educação é política de saúde. Política antiviolência é política 
de saúde. Políticas de melhorias nos bairros são políticas de saúde. 
Tudo que nós fizermos para melhorar a qualidade de vida dos 
indivíduos na sociedade tem impacto na sua saúde e é política de 
saúde 
 
Observa-se assim, que os fenômenos que incidem sobre os territórios e as 
comunidades resultam de diversos fatores em interação complexa e dinâmica. Por 
isso é que a aproximação, a análise e a intervenção em meio a essa realidade 
exigem dos profissionais uma série de novos requisitos, como o de permitir-se 
dialogar com as diferenças das outras profissões em equipes interdisciplinares, 
entendendo que o seu saber técnico não é o único e que ele não dispõe de todas as 
respostas. 
Historicamente fomos educados dentro de uma perspectiva de fragmentação 
do conhecimento, onde mesmo as instituições de âmbito educacional têm em sua 
base omodelo industrial, que impõe a disciplina, a eficiência e a ordem. A 
interdisciplinaridade surge como uma estratégia para entender a realidade na sua 
integralidade, a partir de diferentes óticas e áreas de saber. Segundo Paviani (2008), 
essa nova perspectiva tem sua origem na transformação dos modos de produzir 
ciência e de perceber a realidade e, igualmente, no desenvolvimento dos aspectos 
político-administrativos do ensino e da pesquisa nas organizações e instituições 
científicas. Sendo assim, ao considerar que a realidade é multidimensional, 
composta por diferentes e diversos fatores, na contemporaneidade percebeu-se que 
o modelo tradicional de disciplinarização/segmentação do conhecimento tornou-se 
insuficiente para responder todas as demandas atuais. 
 Trabalhar de forma interdisciplinar é um desafio cotidiano, pois requer 
flexibilidade, humildade, crítica e motivação (uma disposição subjetiva de aprender 
com o outro), contínua dos profissionais que compõe as equipes, processo esse que 
foi vivenciado pelos pesquisadores e bolsistas. Segundo Ferreira (1993), a 
interdisciplinaridade é uma relação de “reciprocidade, de multiutilidade que 
11 
 
pressupõe uma atitude diferente a ser assumida frente ao problema do 
conhecimento, ou seja, é a substituição de uma concepção fragmentária para uma 
concepção unitária do ser humano.” (p. 21). Mas a interdisciplinaridade não significa 
a dissolução das disciplinas num saber unificado, e sim o compartilhamento do 
saber de cada disciplina a partir de um objetivo comum (STAUDT, 2008). E é 
fundamental entender que essa perspectiva não se restringe ao “[...] diálogo entre 
conhecimentos, pois ela, antes de tudo, é uma categoria de ação” (PAVIANI, 2008, p 
19). 
Essencialmente, é preciso romper com a lógica industrial que há tempos foi 
instaurada em nossa sociedade, pois o ser humano não é fragmentado, ele constitui-
se dentro de uma totalidade e é preciso saber olhar para ela conjuntamente. Para 
isso é preciso acolher as diferenças, entendendo que não somos os protagonistas 
da intervenção, esse papel é destinado ao sujeito ao qual o nosso trabalho é dirigido. 
A interdisciplinaridade faz que as equipes de trabalho e projetos abriguem um poder 
democrático e transformador (LEWGOY; MENDES; SILVEIRA, 2008, p. 31). 
 No SUS, a diretriz de interdisciplinaridade que tem orientado as propostas de 
atenção à saúde da população é um bom exemplo de enfrentamento aos desafios a 
que nos referimos acima. Mas parece-nos que os desafios no SUS ainda são 
basicamente desafios de integração interdisciplinar setorial, com foco 
predominantemente na assistência dos usuários. Por exemplo, o Ministério da 
Saúde tem enfatizado a necessidade de os profissionais de saúde adquirirem 
conhecimento aprofundado do território de atuação de seus serviços como elemento 
fundamental para o desenvolvimento de um processo de trabalho efetivo na Atenção 
Primária (BRASIL, 2007). No entanto, parece-nos que mesmo quando a Atenção 
Primária é informada pela perspectiva espacial, o resultado pretendido limita-se à 
qualificação da oferta de serviços de assistência saúde, nos locais (LEWGOY et al, 
2014). 
A participação comunitária nas instâncias do SUS também tem limitado-se a 
discutir a assistência (mais médicos, mais dentistas, mais remédios, entre outros), 
pouco debatendo a Saúde como bem social que precisa não só ser recuperado (no 
caso de adoecimento), mas também promovido ( LEWGOY et al, 2014 ). 
12 
 
 McNamara (2011) diz que os determinantes sociais da saúde – condições da 
vizinhança, trabalho, qualidade da educação, distribuição da renda, racismo, – são 
consequências de um determinante anterior: a política. E que quando profissionais 
de Saúde Pública reconhecem que a saúde está fora das possibilidades do sistema 
de assistência , mas aceitam que ela seja suscetível à intervenção política, deveriam 
dar o próximo passo, e aceitar que a promoção da saúde seja responsabilidade de 
atores políticos. Mas quem são os atores políticos senão todos nós? ( LEWGOY et al, 
2014 ). 
 O Brasil é um dos únicos países do mundo a definirem o município - a 
entidade administrativa urbana local - como um ente federativo. Pela Constituição 
Federal, esta entidade – Município/Cidade - constitui a esfera mais local de poder 
(ao lado dos Estados e União). Embora as desigualdades intraurbanas dependam 
de processos globais, nacionais e locais, o nível urbano é o nível mais próximo 
suscetível de mediação política. E é nas cidades que vive hoje a grande maioria da 
população brasileira. Ou seja, a cidade que concentra a população e onde se 
expressa de forma mais evidente a desigualdade é também onde está o primeiro 
nível de organização capaz de, através da ação política, mudar a realidade social e 
ambiental, com impacto na saúde da população ( LEWGOY et al, 2014 ). 
 Quando se pensa a saúde a partir da perspectiva dos determinantes sociais e 
ambientais do adoecimento desigual, e se localiza espacialmente as desigualdades 
com vistas a tentar influir sobre elas através da ação política, já deixamos para trás o 
contexto meramente setorial das políticas públicas de Saúde para pensar em como 
produzir interdisciplinaridade e intersetorialidade que dê conta de modificar as 
condições de moradia, renda, trabalho, educação, e o acesso a serviços de saúde, 
com o objetivo de produzirmos mais saúde e qualidade de vida. Mas se andarmos 
ainda um passo mais para trás, na direção das causas das causas, então teremos 
que considerar os processos sociais, econômicos e políticos que fomentam e 
mantém as desigualdades ambientais e sociais - que no grupo desfavorecido se 
expressam como pobreza, assentamentos urbanos irregulares, más condições de 
trabalho, baixa qualidade da educação, e má saúde. Ou seja, precisaremos não só 
de um fazer interdisciplinar mais amplo, como também de mais integração 
13 
 
profissionais X comunidade, todos nós ao mesmo tempo produto e produtores 
destes processos políticos, econômicos e sociais ( LEWGOY et al, 2014 ). 
 Um grande desafio que se põe hoje aos pesquisadores é: Como dar uma 
dimensão transformadora à produção do conhecimento? E como produzir 
conhecimento a partir do cotidiano, do emergente? E, especialmente um 
conhecimento para desvelar os invisíveis, os sem-voz, os sem-teto, os sem-
cidadania? Yasbeck (2005) denomina este conhecimento de “contra-hegemônico”, 
um conhecimento em movimento, dirigido a um novo lugar/formato de relações e 
poder. 
 A Comissão dos Determinantes Sociais da Saúde da OMS buscou superar as 
políticas descontextualizadas de promoção da saúde ao reafirmar que as condições 
de vida físicas e sociais (contexto) – e não simplesmente os estilos de vida (escolha) 
- são os fatores determinantes do adoecimento das pessoas (WHO, 2010). E mais, 
que se estas são as causas do adoecimento, elas também têm causas – as 
chamadas “causas das causas” - que é a distribuição desigual de poder, dinheiro e 
recursos na sociedade, e que é preciso aumentar o reconhecimento deste fato pelos 
profissionais de saúde e pela comunidade em geral (WHO, 2010). 
O conhecimento deve ser transformado em ação, ou seja, ele deve servir para 
intervir na realidade (AZAMBUJA et al, 2011). Quando se fala em conhecimento, 
tem-se a impressão de unidade de um conhecimento social contemporâneo, com a 
qual nos relacionamos. No entanto, o conhecimento “[...] é uma totalidade complexa, 
que inclui em si diversidade e heterogeneidade” (BAPTISTA, 1992, p. 85). 
 A investigação sobre a saúde no contexto das cidades está hoje a desafiar a 
academia e os tomadores de decisão política em todo o mundo a produzirem 
diagnósticos e principalmente soluções para situações complexas com base em 
diálogos multi-disciplinares, intersetoriais, interinstitucionais e com as comunidades. 
O projeto aqui desenvolvido insere-se nesta perspectiva globalambiciosa, tendo 
como eixo a busca pelo aprofundamento da reflexão sobre como e com que 
perspectivas ético-políticas, teórico-metodológicas e técnico-operativas a Educação 
Superior deve avançar, considerando necessidades sempre novas (LEWGOY, 2013) 
e neste momento parece-nos que tendendo a se organizar em torno dos desafios 
14 
 
urbanos do século XXI (AZAMBUJA, 2011). 
 A comunidade como objeto de atenção deve ser entendida a partir do 
território onde se estabelece. Território pode ter gente, mas não sujeitos. O território 
materializa as articulações estruturais e conjunturais a que os indivíduos ou os 
grupos sociais estão submetidos num determinado tempo histórico. É preciso 
entender os dois sistemas que envolvem a comunidade: o físico, constituído pelas 
redes de infraestrutura e o sistema constituído pela relação entre as pessoas. 
 Nas cidades, a saúde humana é construída em estreita associação com a 
produção dos locais de moradia, das condições de trabalho, da educação, transporte 
e acessos a serviços em geral, incluindo serviços de saúde (AZAMBUJA et al, 2011). 
O papel da academia deve ser o de contribuir para o estímulo de ações que possam 
favorecer projetos para a cidade real, ampliando, assim, a interação não somente 
entre as pessoas, mas também entre as diferentes áreas de conhecimento. 
 
3 OBJETIVOS PROPOSTOS E O PROCESSO METODOLÓGICO: A 
CONSTRUÇÃO COLETIVA DA PESQUISA 
 
Compreendida a relevância da Pesquisa, foram traçados então, pelo grupo, 
os objetivos a serem alcançados, bem como estabelecido o processo metodológico 
necessário para tal, e que serão detalhados a seguir. 
 
3.1 OBJETIVOS 
 
Geral: 
 
 Conhecer como se relacionam os atores no processo de busca por 
atendimento a direitos sociais na democratização do acesso à cidadania e redução 
das iniquidades, para o fortalecimento das conexões entre a realidade e os 
processos de formação e exercício profissional. 
 
15 
 
Específicos: 
 Identificar e promover competências para o trabalho interdisciplinar diante das 
demandas da formação profissional, comunidade e das políticas públicas; 
 
 Analisar a dinâmica das relações sociais na comunidade Vila Sossego no que 
diz respeito à luta por acesso a direitos de cidadania; 
 
 Dar visibilidade às estratégias que mobilizam a comunidade da Vila Sossego 
para o acesso aos direitos de cidadania. 
 
3.2 PROCESSO METODOLÓGICO DA PESQUISA QUANTITATIVA E 
 QUALITATIVA 
 
 Para o desenvolvimento da pesquisa contou-se com uma equipe de 
pesquisadores composta pelos pesquisadores-doutores da UFRGS e pesquisadores 
associados e colaboradores de instituições parceiras, seniores (professores da pós-
graduação e da extensão (Programa Saúde Urbana)) e júnior (doutorando), bem 
como com bolsistas de iniciação científica e bolsistas voluntários e de extensão 
(acadêmicos de graduação dos cursos de Serviço Social, arquitetura, psicologia, 
nutrição). 
O processo de construção da pesquisa se estabeleceu de forma participativa 
visando incorporar a contribuição de todos os pesquisadores e instituições parceiras 
no desenvolvimento da investigação. Este processo se iniciou com a elaboração do 
Projeto de Pesquisa encaminhado e aprovado pelo Conselho Nacional de 
Desenvolvimento Científico e Tecnológico - CNPq - Edital nº 07/2011- CNPq/ CAPES 
em 31/12/2011, processo 402031/2011-3. Após aprovação no edital Universal, o 
Projeto foi submetido e aprovado pelo Comitê de Ética da UFRGS (ANEXO 1), em 
27/04 /2012. A pesquisa iniciou-se em agosto de 2012, com a inclusão de duas 
bolsitas de iniciação cientifica (CNPq e PIBIC-UFRGS) e cinco bolsistas voluntários 
que estão vinculadas ao Projeto de Extensão "Intersossego". Este estudo foi 
concluído em dezembro de 2014, com a participação de uma bolsista de Iniciação 
Cientifica (PIBIC- UFRGS). 
16 
 
O projeto de investigação original propunha como objetivo geral “Conhecer 
como se relacionam os atores no processo de busca por atendimento a direitos 
sociais na democratização do acesso à cidadania e redução das iniquidades, para o 
fortalecimento das conexões entre a realidade e os processos de formação e 
exercício profissional” (LEWGOY et al, 2013). No entanto, a dinâmica do trabalho 
intersetorial na comunidade, dada pelas parcerias com a Unidade Básica de Saúde 
Santa Cecília do HCPA e o CRAS – Centro de Referência em Assistência Social do 
distrito centro do Município de Porto Alegre e a própria Comunidade, exigiu do grupo 
que se acrescentasse uma etapa não prevista de Censo sócio-demográfico e das 
condições de qualidade de vida e de saúde da população da Vila. A justificativa para 
isto foi o reconhecimento de que os diferentes órgãos públicos e a própria 
comunidade tinham informações diferentes sobre o número de domicílios e de 
moradores na área. Julgamos que avançaríamos na integração intersetorial em nível 
local se planejássemos e executássemos em conjunto este diagnóstico inicial. E que 
esta etapa também nos auxiliaria a levar a cabo as etapas subsequentes de seleção 
de moradores para a fase de pesquisa qualitativa, processo esse que foi bem 
sucedido no desenvolvimento da investigação, conforme as narrativas no item 3.2.2 
deste relatório. Julgamos ainda interessante termos um diagnóstico das famílias que 
residem na comunidade antes do projeto de reurbanização, para eventual posterior 
comparação dos dados. 
Assim, desenvolvemos conjuntamente e aplicamos logo após o 
recadastramento dos moradores pelas agentes de saúde da UBS Santa Cecília, dois 
instrumentos de coleta de dados (familiar e individual) com questões suplementares 
às informações já previstas na ficha A (de recadastramento). Pelo fato de estarmos 
interessados em promoção da Saúde, também julgamos apropriado traçarmos um 
perfil da percepção dos moradores sobre a sua qualidade de vida, utilizando para 
isto um instrumento simplificado (WHOQOL breve) desenvolvido pela Organização 
Mundial da Saúde e bastante utilizado no Brasil para a avaliação da qualidade de 
vida de grupos de pacientes, de idosos, de trabalhadores. A este braço de 
investigação quantitativa executado em 2013, seguiu-se o trabalho de campo da 
fase qualitativa, desenvolvido ao longo de 2014. 
 
17 
 
 
3.2.1 Universo e instrumentos 
 
A pesquisa quantitativa teve como fontes de informações primárias todos os 
domicílios e respectivos moradores na Vila Sossego (censo) que tinham como 
referência de atendimento no SUS a Unidade Básica de Saúde do Hospital de 
Clínicas de Porto Alegre/Santa Cecília, ou seja, os residentes na área delimitada 
pelas ruas Veador Porto, Rua Livramento entre ruas Veador Porto e Euclydes da 
Cunha, e Rua Luis de Camões (Figuras 1 e 2). 
 
 
 
Figura 1 - Mapa da Comunidade Vila Sossego (foto de satélite obtida em maps.google.com, 
trabalhada pelo acadêmico Ícaro Epifânio de Arquitetura e Urbanismo, bolsista do projeto de extensão 
Intersossego) de forma a iluminar a área de estudo. 
 
18 
 
 
 
 
Figura 2 - Croqui da Comunidade Vila Sossego (elaborado pela acadêmica de Arquitetura e 
Urbanismo, bolsista do projeto de extensão Intersossego, Marília Backes) mostrando os limites de 
ruas e delimitação dos domicílios 
 
 
19 
 
Com relação aos instrumentos, foi utilizada a Ficha A, que é um instrumento 
padronizado de coleta de dados aplicada pelas Unidades Básicas de Saúde do SUS 
no processo de cadastramento ou recadastramento de moradores em território sob 
sua responsabilidade. No caso, à ficha original foram acrescidas questões do 
interesse da Unidade para a identificação de portadores de condições para as quais 
já havia programas ou protocolos de atendimento estruturados no SUS. 
Adicionalmente a esta Ficha A adaptada, construiu-se, em conjunto com a UBS e o 
CRAS Centro, dois questionários suplementares (domiciliar e individual) que 
complementam o perfil dessa população. A Ficha A adaptada foi aplicadapelos 
agentes de saúde da UBS, após treinamento com o grupo de pesquisa da UFRGS, 
como atividade de recadastramento dos moradores junto à Unidade Básica de 
Saúde. 
 O instrumento suplementar, com questões mais sensíveis sobre a qualidade 
dos serviços de saúde e dados de renda, foi aplicado por acadêmicos da UFRGS 
aos mesmos domicílios visitados dias antes pelas agentes comuntarias de saude, e 
enfermeiras da UBS. Na visita do grupo de pesquisa da UFRGS, todos os com mais 
de 18 anos também eram convidados a participar respondendo questionários 
individuais que completavam informações sócio-demográficas e introduziam as 
questões de qualidade de vida (WHOQOL-breve). 
 O WHOQOL breve é um instrumento da OMS desenvolvido para uma 
avaliação rápida da percepção sobre qualidade de vida. É composto por 26 
questões a serem respondidas numa escala de 5 pontos (ex. Muito ruim, ruim, nem 
ruim nem bom, bom, muito bom), a questão atribuídos escores de 1 a 5. 
 As 26 questões (ANEXO C1) foram depois agrupadas para representarem 
diferentes dimensões: geral, física, psíquica, relações sociais e ambientais. A 
tradução do instrumento na forma utilizada aqui – 5 dimensões com a distribuição 
original de variáveis proposta pela OMS – foi validado para uso no Brasil, em 2010. 
Mas há controvérsias e outras sugestões de agrupamentos de variáveis, conforme a 
população alvo estudada. 
 
1
 Fonte: http://www.scielo.br/img/revistas/csp/v29n7/a10tab01.jpg 
 
http://www.scielo.br/img/revistas/csp/v29n7/a10tab01.jpg
20 
 
Os demais instrumentos de coleta de dados foram constituídos por 
perguntas fechadas e abertas, com o objetivo de favorecer a compreensão do grupo 
sobre questões que integrariam a etapa qualitativa da pesquisa. A investigação de 
campo foi acompanhada do registro sistemático em diário de campo, com um roteiro 
orientador sobre os principais aspectos a serem observados e registrados. Os 
instrumentos utilizados na pesquisa qualitativa foram: grupo focal e entrevistas semi-
estruturadas. O grupo focal, orientado pela referência de Bauer e Gaskell (2002), 
serviu para apreensão das interações e desvendamento de como as lideranças da 
comunidade pensam e agem sobre a participação e a interação entre os agentes 
políticos na garantia do acesso aos direitos sociais. A entrevista semi-estruturada foi 
utilizada considerando ser uma forma de interação social, pelo diálogo assimétrico 
no qual uma das partes busca coletar dados e a outra se apresenta como fonte de 
informação (GIL, 1996). 
 
3.2.2 A construção coletiva da pesquisa 
 
As atividades iniciadas junto aos bolsistas consistiram primeiramente na 
leitura do projeto de pesquisa, com a finalidade de conhecimento da proposta, do 
que já foi realizado e, juntamente com a orientadora, planejamento da devida 
continuidade. Logo após seguiu-se ao levantamento de artigos nos portais da 
CAPES, CNPQ e Scielo sobre Interdisciplinaridade, Formação, Trabalho, Saúde 
Urbana e Comunidade, que são as respectivas palavras-chave do projeto. 
Posteriormente fez-se a leitura e fichamento dos artigos pesquisados seguindo com 
a realização de encontros quinzenais de debate e estudo sobre os temas propostos, 
com a orientadora e os participantes (5 bolsistas e docentes de várias áreas) do 
grupo de Extensão e de Pesquisa vinculados ao Projeto InterSossego, objetivando o 
compartilhamento de conhecimento. Estes encontros foram realizados 
quinzenalmente onde cada bolsista ficou responsável em apresentar um dos temas, 
fruto de um estudo dos temas anteriormente citados. Os demais participantes tinham 
como atribuição problematizar a temática abordada. 
Bem traçadas as diretrizes do trabalho, para fins de operacionalizar a rotina, 
elaborou-se um cronograma com todas as atividades previstas para serem 
executadas pela bolsista durante o período da bolsa, para ser constantemente 
21 
 
consultado ao longo do processo de trabalho. 
Semanalmente foram realizadas reuniões técnico-administrativas do Grupo 
que é constituído por professores e alunos da UFRGS- Professoras Alzira Maria 
Baptista Lewgoy (Serviço Social), Maria Inês Reinert Azambuja (Medicina), Maurem 
Ramos (Nutrição-2013), Roberta Alvarenga Reis (Fonoaudiologia-2013), como 
representante do Prof. Jorge Castellá Sarriera (Psicologia-2012) o doutorando 
James Moura Jr (Psicologia 2012) e os acadêmicos bolsistas do Projeto 
InterSossego, representantes da equipe 1 da UBS-Santa Cecília- Médico João 
Henrique Kolling e Enfermeira Margery Zanetello e equipe do CRAS-Centro- 
Assistente Social Márcia Santos Bento e Oscar Pereira da Silva Filho. 
Além de encontros semanais, foram realizadas mensalmente, como atividade 
do projeto de extensão associado, reuniões na UBS- Santa Cecília, onde além dos 
representantes acima citados, também participaram todos os demais integrantes de 
cada entidade. Nesses encontros, à medida que a pesquisa foi avançando, foram 
sendo elaborados os instrumentos de coleta de dados suplementares à “Ficha A”. 
Visando a capacitação da equipe e da bolsista para a realização da pesquisa, 
a mesma participou dos cursos de “Extensão de Metodologia Qualitativa em Saúde”, 
no mês de dezembro de 2012 e "Introdução ao Programa Estatístico do SPSS”, no 
mês de janeiro de 2013. Os respectivos cursos abordaram metodologia qualitativa e 
quantitativa em saúde. 
Além da participação nos cursos, a bolsista participou durante um mês, por 
um período de 4 horas semanais de vários treinamentos para a aplicação dos 
instrumentos para a coleta de dados (questionário domiciliar e WHOQOL), através 
de simulações entre o grupo de bolsista, da orientadora e demais professores 
envolvidos no projeto de pesquisa. 
Dando início à coleta de dados, a bolsista juntamente com a outra bolsista de 
iniciação científica e com o auxílio dos bolsistas de extensão, aplicou duas vezes o 
questionário piloto no Condomínio dos Anjos, uma comunidade que fica próxima à 
Comunidade Vila Sossego. O pré-teste da aplicação dos instrumentos foi realizado 
nos dias 8 e 17 janeiro de 2013, sendo que a segunda vez foi após uma 
readequação das questões do questionário domiciliar. O questionário WHOQOL não 
pode ser modificado porque é um instrumento validado, mas serviu de treinamento 
22 
 
para posterior aplicação. 
Após o pré-teste dos instrumentos e o aprimoramento do questionário, iniciou-
se no dia 21 de janeiro de 2013 a coleta de dados na Vila Sossego. Foram contados 
inicialmente 104 domicílios. Primeiramente as agentes comunitárias e os 
profissionais da área de enfermagem da UBS/ HCPA Sta. Cecília aplicavam a Ficha 
A adaptada. Cada casa visitada recebeu um código determinado pela Equipe 1 da 
UBS. A ficha e os códigos eram repassados para a coordenadora do projeto, profa. 
Alzira Maria Baptista Lewgoy, a qual inseria os respectivos materiais enviados pela 
UBS Sta. Cecília em uma Tabela de Controle da coleta de dados. Posteriormente, a 
coordenadora distribuía entre os bolsistas quais os domicílios que os mesmos 
deveriam visitar, e então a equipe de bolsistas da UFRGS saía a campo. 
Na aplicação dos instrumentos na comunidade, 7 bolsistas foram distribuídos 
em 2 duplas e 1 trio. A dupla iniciava o procedimento com uma apresentação da 
proposta do projeto aos moradores da casa visitada, de preferência ao chefe da 
família. Em seguida aplicava-se o questionário domiciliar, dando continuidade ao 
trabalho da UBS. Depois da aplicação do questionário domiciliar, a dupla passava 
para o questionário WHOQOL breve, entrevistando os moradores maiores de 18 
anos de idade. Para participar, os entrevistados deveriam assinar o Termo de 
Consentimento Livre e Esclarecido, que era lido pelos entrevistadores, antes da 
participação. 
Levando em consideração que o mês de janeiro foi temporada de recesso 
escolar e os acadêmicos tinham maior disponibilidade de horários,esse período foi 
utilizado mais intensamente no processo de coleta de dados. Na atividade de 
recadastramento foram visitadas 100 das 104 residências originalmente enumeradas 
(4 fechadas) e identificados 327 moradores, sendo 231 maiores de 18 anos. Destes, 
142 responderam os questionários adicionais, individual e WHOQOL. 
A partir de novembro de 2013 iniciou-se a coleta de informações junto aos 
moradores pesquisados na Vila Sossego, através de grupo focal e de entrevistas 
semi-estruturadas. O grupo focal, como recurso metodológico, orientado pela 
referência de Bauer e Gaskell (2002) foi realizado de novembro de 2013 a março de 
2014, no Anexo I do Campus Saúde, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, 
com a participação de seis moradores de cada vez. Esse instrumento serviu para 
23 
 
apreensão das interações e desvelamento de como as lideranças e membros da 
comunidade pensam e agem sobre a participação e a interação com os agentes 
políticos na garantia do acesso aos direitos sociais. 
 Dando continuidade a coleta de informações, de abril a setembro de 2014 
foram realizadas as 23 entrevistas semi estruturadas com moradores, em suas 
residências. Os sujeitos pesquisados foram selecionados através de indicações das 
lideranças comunitárias e dos próprios moradores, conforme os critérios 
estabelecidos por geração: jovens, adultos e idosos e em cada geração separados 
por tempo de moradia: moradores recentes, médios e antigos residentes na 
comunidade. O auxílio dos moradores foi essencial para que a seleção dos sujeitos 
pesquisados para as entrevistas fossem preenchidas. Esta coleta aconteceu 
preferencialmente aos sábados, em virtude da presença dos moradores na 
comunidade e por solicitação dos mesmos. O processo ocorreu de forma tranquila e 
cordial, não havendo rejeição ao convite a participação na pesquisa. O tempo de 
duração da coleta foi superior ao planejado, tendo em vista a conciliação de horários 
entre os sujeitos pesquisadores e pesquisados, e dos eventos esportivos ocorridos 
no país e na cidade de Porto Alegre, nos meses de junho e julho de 2014, a Copa do 
Mundo FIFA. 
As entrevistas, orientadas pelos objetivos da pesquisa, foram feitas sob 
coordenação da docente pesquisadora responsável, e contaram com a participação 
de uma bolsista de iniciação científica para auxiliar na coordenação dos trabalhos. 
Especificamente, a atividade da bolsista constou de observações diretas, seguidas 
de discussão do observado e do vivenciado, bem como posterior realização de 
algumas das entrevistas. Os Termos de Consentimento Livre Esclarecido foram lidos 
e entregues para os sujeitos pesquisados de forma a serem explicitados os objetivos 
e os procedimentos metodológicos. Os participantes concordaram em ter suas falas 
gravadas e utilizadas para fins deste estudo. O ambiente das gravações foi motivo 
de preocupação aos pesquisadores, para que o material coletado tivesse qualidade 
para posterior transcrição das verbalizações, sendo bem sucedido esse 
procedimento. As entrevistas foram gravadas e as falas transcritas. As informações 
obtidas foram analisadas conforme as seguintes categorias teóricas: cidadania; 
cidadão; direitos e deveres; participação e dificuldades enfrentadas pela comunidade 
24 
 
no acesso aos direitos. 
 É importante destacar que as ações desenvolvidas pelo projeto de extensão 
Intersossego foram concomitantes a esta pesquisa, o que oportunizou o 
acompanhamento e a aproximação de ambos os projetos, de extensão e de 
pesquisa. Entende-se ser essa uma das formas de qualificação da pesquisa e da 
extensão, qual seja, a partir da investigação propor novas intervenções. Nesta 
perspectiva foram feitas reuniões objetivando, a devolução gradual das informações 
para construção de novas intervenções, baseadas nas informações da pesquisa. 
Podemos constatar que esta troca proporcionou a elaboração do Projeto 
paisagístico de requalificação de espaço público degradado no território da Vila 
Sossego, a partir dos dados da pesquisa (APÊNDICE H). 
 Esta investigação pode ser potencializada, também, através da discussão dos 
achados da pesquisa de campo, durante as reuniões do Grupo de Extensão 
InterSossego, constituído por professores de extensão e pesquisa da UFRGS, e nas 
reuniões junto ao Grupo de Estudos e Pesquisa sobre formação e trabalho 
profissional (GEFESS/UFRGS); e pela elaboração coletiva e socialização de 
artigos, em abril de 2014 no “I Congresso da Saúde dos países de Língua 
portuguesa" A geografia da saúde no cruzamento de saberes” na Universidade de 
Coimbra, Portugal, e em final de novembro e inicio de dezembro no XIV Encontro 
Nacional de pesquisadores de Serviço Social, em Natal - RN. 
Em síntese, apresentamos a seguir as etapas construídas coletivamente, no 
período de 2012 e 2014, junto ao grupo de professores, bolsistas de Iniciação 
cientifica e voluntários (oriundos do projeto de extensão), e dos profissionais da 
Unidade Básica de Saúde Santa Cecília/HCPA: 
 reuniões intersetoriais para consensos sobre as questões e a 
metodologia de aplicação da pesquisa; 
 desenvolvimento dos instrumentos para abordagem da pesquisa 
quantitativa e qualitativa; 
 encaminhamento do projeto de Pesquisa à Comissão de Ética da 
Universidade Federal do Rio Grande do Sul ; 
 reuniões entre as equipes da UFRGS, UBS e CRAS/ Centro; 
 desenvolvimento de um manual de procedimentos para os 
25 
 
pesquisadores para aplicação do Censo, na Vila Sossego; 
 assessoria de especialistas sobre o WHOQOL e sua aplicação; 
 assessoria de especialistas ao grupo de pesquisa e alunos sobre a 
construção de bancos de dados relacionados; 
 teste dos instrumentos no campo; 
 reformulação de metodologias e questões em função dos resultados no 
campo; 
 estabelecimento de equipes de coleta de dados, supervisores de 
campo e coordenação, na UFRGS e na UBS, e grupos co-responsáveis na 
coleta de dados; 
 estabelecimento de rotinas para a comunicação dos domicílios já 
recenseados pela UBS e a disposição dos pesquisadores e bolsistas da 
UFRGS; 
 revisão dos questionários por equipe conjunta; 
 procedimentos adicionais de normatização de respostas a questões 
abertas; 
 entrada de dados duplicada; 
 curso de extensão em SPSS para bolsitas de pesquisa e bolsistas de 
extensão voluntários para a pesquisa; 
 limpeza dos bancos, padronização e início da análise descritiva; 
 seminários de revisão de literatura sobre temas interdisciplinaridade, 
áreas especiais de interesse social, participação, políticas públicas, saúde 
urbana, educação e outros; 
 curso de pesquisa qualitativa e atlas-ti para bolsistas de pesquisa; 
 discussão dos informações qualitativas, coletadas na pesquisa de 
campo, nas reuniões junto ao Grupo de extensão InterSossego, constituído 
por professores de extensão e pesquisa da UFRGS, e nas reuniões junto ao 
Grupo de Estudos e Pesquisa sobre formação e trabalho profissional 
( GEFESS/UFRGS); 
 realização de um grupo focal junto a seis moradores da Vila Sossego, 
no anexo I Saúde, na Universidade Federal do Rio Grande do Sul; 
 realização de entrevistas semi- estruturadas junto aos moradores da 
26 
 
Vila Sossego, em suas residências, cujo total foi de 22 moradores dos 27 
selecionados; 
 transcrição das gravações e análises preliminares das informações 
coletadas do grupo focal e das entrevistas; 
 elaboração e apresentação de artigo no “I Congresso da Saúde dos 
países de Língua portuguesa. - A geografia da saúde no cruzamento de 
saberes” na Universidade de Coimbra, Portugal, conforme APÊNDICE F; 
 elaboração do Projeto paisagístico de requalificação de espaço público 
degradado no território da Vila Sossego, a partir dos dados da pesquisa 
devolvidos ao grupo de bolsistas de extensão ; 
 elaboração da matéria sobre os resultados da pesquisa para 12ª 
edição do jornal “Saúde,Sossego” de 2014, conforme APÊNDICE H; 
 acompanhamento das ações desenvolvidas pelo projeto de extensão 
para devolução dos resultados da pesquisa e requalificação das intervenções 
junto a comunidade; 
 apresentação da pesquisa no XVI Encontro de Pesquisadores em 
Serviço Social -ENPESS em Natal RN, conforme APÊNDICE G 
 
 3.3 QUESTÕES ÉTICAS E DEVOLUÇÃO DOS RESULTADOS 
 
A pesquisa cumpriu todos os aspectos que envolvem os procedimentos 
éticos, tendo sua aprovação no Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade 
Federal do Rio Grande do Sul (ANEXO A). Os questionários aplicados e as 
entrevistas semi-estruturadas realizadas na sua maioria, foram agendadas, assim, 
buscou-se in loco os sujeitos da investigação, que foram informados sobre os 
objetivos da mesma. Na ocasião, também foi apresentado os termos de 
consentimento livre e esclarecido (APÊNDICE A ), o qual foi lido e, após o seu 
consentimento, assinado pelo entrevistado. Também foram divulgados os resultados 
obtidos na investigação através de reuniões junto a comunidade, de artigos 
publicados em Anais de Eventos realizados dentro e fora do Brasil, no jornal da 
comunidade distribuído trimestralmente, bem como um vídeo com acesso a 
população da comunidade Vila Sossego. 
27 
 
4 ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DOS RESULTADOS DA PESQUISA 
 
4.1 CARACTERIZAÇÃO SOCIO-DEMOGRÁFICA DAS HABITAÇÕES E DA 
 POPULAÇÃO 
 As tabelas a seguir apresentam alguns resultados da análise descritiva reali-
zada a partir de informações coletadas através da Ficha A (recadastramento), do 
questionário suplementar e do WHOQOL. A etapa de coleta através da Ficha A a-
brangeu 101 domicílios dos 105 inicialmente contados (4 domicílios fechados). Dos 
101 domicílios, em 88 houve aquiescência dos moradores sobre a participação na 
coleta de dados com o questionário suplementar. Nestas residências, todos os adul-
tos com mais de 18 anos foram convidados a responder o WHOQOL. Como indica-
do nas tabelas, a base de respondentes varia conforme o fonte da informação (ficha 
A ou questionário suplementar e WHOQOL). 
 
Tabela 1 - Informações Sócio-demográficas Domiciliares obtidas pela aplicação da 
ficha A 
Variáveis N 
Numero de Domicílios 
 
próprios 
alugados 
de tijolo 
com até 4 cômodos 
com banheiro interno 
luz com relógio exclusivo do domicílio 
com relógio de uso compartilhado 
sem relógio (gato) 
 água 
 ligação DMAE 
 relógio entre 3 e 4 pontos dentro do domicílio 
 esgoto ligado diretamente à rede 
 fossa 
 presença de animais domésticos 
 
 Utilização de meios de comunicação no domicílio 
 TV 
 NET 
 Rádio 
 Jornais 
 
 Participação social/comunitária 
 Grupo/atividade religiosa 
101 
 
77 
10 
87 
50 
93 
31 
21 
47 
98 
71 
74 
95 
4 
61 
 
 
90 
38 
65 
38 
 
 
18 
28 
 
 Cooperativa 
 Associação 
 Atividade de grupo na UBS 
 
 Meio de transporte 
 Onibus 
 Carro 
 Caminhão 
 Carroça 
 Em caso de doença, a família 
 procura o hospital 
 consulta na UBS 
 benzedeira 
 farmácia 
 igrejas 
 
Número de moradores por domicílio 
 1 
 2 
 3 
 4 
 5 
 6 
 7 
 8 
 
0 
8 
3 
 
 
89 
23 
1 
0 
 
50 
72 
 1 
 4 
 5 
 
 
 
12 
24 
26 
18 
12 
2 
6 
1 
 
 
Tabela 2 - Informações demográficas – base, 333 residentes em 101 domicílios 
 
Raça/cor 
 
 
Sexo 
 
 
Idades 
< 1 ano 
1 a 4 
5 a 9 
10 a 14 
15 a 19 
20 a 29 
30 a 39 
40 a 49 
50 a 59 
 
Brancos 
Pretos/pardos 
 
Homens 
Mulheres 
 
Homens 
4 
7 
19 
16 
12 
30 
17 
12 
13 
 
59% 
41% 
 
43,3% 
56,7% 
 
Mulheres 
2 
14 
9 
15 
19 
31 
25 
22 
25 
 
 
 
 
 
 
 
Total 
6 
21 
28 
31 
31 
61 
42 
34 
38 
29 
 
60 a 69 
70 e mais 
ign 
Total 
 
 
7 
3 
4 
144 
 
 
16 
9 
2 
189 
 
 
23 
12 
6 
333 
 
 
 
Tabela 3 Demografia social / educação – Base, 224 residentes com mais de 18 anos de um 
total de 333 moradores – ficha A. 
 N 
Escolaridade dos Maiores de 18 anos (208/224, 16“missing”) 
 Sem escolaridade formal 
 Até primeiro grau completo 
 Segundo grau incompleto até segungo grau completo 
 Terceiro Grau incompleto ou completo 
 
18 a 30 (77/78, 1 “missing”) 
 Sem escolaridade 
 Até primeiro grau completo 
 segundo grau em andamento ou completo 
 terceiro grau em andamento ou completo 
 
31 a 50 ((70/75, 5 “missing”) 
 Sem escolaridade 
 Até primeiro grau completo 
 segundo grau em andamento ou completo 
 terceiro grau em andamento ou completo 
 
51 e mais (63/71, 8 “missing”) 
 Sem escolaridade 
 Até primeiro grau completo 
 segundo grau em andamento ou completo 
 terceiro grau em andamento ou completo 
 
 5 
118 
 75 
 10 
 
 
1 
35 
33 
8 
 
 
2 
36 
32 
0 
 
 
2 
47 
12 
 2 
 
2,4 
56,7 
36,1 
4,8 
 
 
1,4 
45,4 
42,8 
10,6 
 
 
2,8 
51,4 
45,7 
0 
 
 
3,1 
74,6 
19,0 
3,1 
 
 
Tabela 4 - Domicílios - informações selecionadas do questionário complementar 
(n=88/101) 
Variáveis N % 
Numero de domicílios total 
Número de domicílios com informações coletadas por 
questionário complementar 
 
Residências com crianças de 0-6 anos 
 Número de crianças de 0 a 6 anos 
 
Escolaridade do chefe da família (N=87) 
 até primeiro grau completo 
101 
 
88 
 
 
26/88 
34 
 
61 
 
 
 
 
 
29,5 
 
 
70,1 
30 
 
 segundo grau em andamento ou completo 
 terceiro grau em andamento ou completo 
 
Numero de domicílios com 
 Qualquer benefício social (N=88) 
 Aposentadoria INSS 
 Auxílio doença 
 BPC-LOAS 
 Pensão por morte 
 Bolsa família 
 Seguro Desemprego 
 Auxilio natalidade 
 Numero total de benefícios 
 
 Renda domiciliar de benefícios sociais ( n = 45/56 ben.) 
 Mediana 630,00 P25 141,00 p75 670 
 (intervalo de variação – R$ 70,00 a 4000,00) 
 
 Renda domiciliar total (n = 87 dom) 
 Média R$ 1.444,00 
 Mediana R$ 1.185,00 
 (intervalo de variação - R$ 70,00 a 6.000,00) 
 
 Renda Familiar em SM (n=87 dom) 
 0 
 1 a 2 
 2 a 3 
 3 e mais 
 Classe socioeconômica conforme Classificação da ABEP 
(n=88 dom) 
 B1 
 B2 
 C1 
 C2 
 D 
 E 
 
20 
 7 
 
 
52 
18 
5 
1 
8 
24 
1 
0 
57 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
23 
26 
21 
17 
 
 
2 
11 
37 
26 
10 
2 
 
22,9 
 8,0 
 
 
59,1 
20,5 
 5,7 
 1,1 
 9,1 
27,3 
1,1 
0 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
26,4 
29,8 
25,2 
19,5 
 
 
 2,3 
12,6 
42,0 
29,5 
11,3 
 2,3 
 
 
 
31 
 
 
Tabela 5 - Informações sobre morbidade nos domicílios e número de pessoas 
afetadas – FICHA A 
 N domicílios N indivíduos 
Universo 
Gestantes 
 
Asma Brônquica 
Hipertensão 
Diabetes 
Obesidade 
Infarto do miocárdio prévio 
Outras D. Coração 
AVC (Derrame) 
Fumo 
Álcool 
Ansiedade 
Depressão 
Esquizofrenia 
Hiperatividade 
Problemas de comportamento 
Problemas na Escola/aprendizagem 
Insônia 
Uso de drogas 
Outras condições psiquiátricas 
Dores nas costas 
Dores nos ombros 
Dores nos braços 
Dores articulares 
Hepatite BC 
Epilepsia 
Def. Física 
Def. Mental 
Acamado 
Tuberculose 
Chagas 
Malaria 
Hanseníase 
Outros 
101 
 4 
 
31 
49 
20 
19 
10 
5 
7 
37 
6 
28 
25 
0 
10 
12 
16 
28 
3 
4 
48 
41 
25 
38 
6 
2 
7 
2 
4 
4 
2 
0 
0 
13 
 
333 
4 
 
36 
57 
24 
27 
10 
6 
7 
54 
6 
33 
27 
0 
10 
12 
16 
36 
3 
5 
6249 
32 
44 
6 
2 
9 
2 
4 
7 
2 
0 
0 
16 
 
 
 
 
32 
 
Os resultados do WHOQOL ainda precisam ser mais explorados, mas a análise 
inicial é apresentada na discussão, em gráficos. 
 
Discussão 
Serão discutidas aqui apenas quatro das várias informações propiciadas pelos resul-
tados, ainda não completamente analisados: 
1- Esta é uma comunidade com renda média domiciliar em Jan-Fev 2013 de R$ 
1444,00 (mediana de R$ 1.185,00), a maior parte dos domicílios enquadráveis na 
classe C da classificação da ABEP. Esta é uma classificação que leva em conta 
a escolaridade do chefe da família (no caso, 70% com até o primeiro grau com-
pleto, o que puxa o indicador para baixo), uma lista de bens de uso familiar (rá-
dios, televisão, carro, etc,.) e a terceirização de serviços domésticos (empregada 
doméstica) como forma de mensurar o padrão de consumo (e assim estimar a 
renda) das famílias. Na Sossego, 71% seriam classificados na classe C e 12 % 
na classe B. )Tabela 4). Em 2013, o Datafavela ouviu 2000 pessoas em 63 fave-
las de 10 regiões metropolitanas brasileiras e encontrou uma renda média salari-
al de 1068,00 e a maior parte enquadrável na classe C (FOLHA DE SÃO PAU-
LO, 2014). 
Ainda, mais da metade dos domicílios recebia algum tipo de benefício social ou 
previdenciário. No computo geral, o total de benefícios recebidos acresce signifi-
cativamente à renda mediana mensal da comunidade, pois representa, nos do-
micílios que os recebem (mais da metade), um valor mediano de RS 630,00, (va-
lor aproximado do salário mínimo na época – RS 678,00) sendo que a mediana 
de renda do conjunto da comunidade é R$1185,00. Dos 88 domicílios com infor-
mação, 24 (27%) recebiam bolsa família. (Tabela 4). 
2. Com relação à educação (Tabela 3), a proporção de moradores com 18 anos e 
mais com escolaridade de no máximo primeiro grau completo é muito grande – 
quase 70% entre os chefes de família e 59% no total de adultos. Mas nota-se que 
a proporção de adultos entre 18 e 30 anos com no máximo o ensino fundamental 
está se reduzindo, embora de forma mais lenta do que o desejável: É de 46,8% 
hoje, contra 54% nos com entre 31 e 50 anos e 74% nos com mais de 50 anos. A 
proporção de pessoas com 18 anos e mais com mais do que o primeiro grau (cur-
sando ou tendo concluído o segundo grau ou o terceiro graus) aumentou de 22% 
33 
 
nos com mais de 50 anos, para 45,7% nos com 31-50 anos e para 53,4% nos 
com 18-30. Neste grupo mais jovem ocorreu uma expressivo aumento de ingres-
santes no terceiro grau (0 nos com 31 a 50 anos e 10,6% nos com entre 18-30 
anos. Os dados sugerem uma polarização: alguns investindo em educação e 
chegando ao terceiro grau mas muitos ainda com déficit educacional significativo, 
maior ainda se considerarmos que moram em área central muito bem servida de 
recursos educacionais. 
 3- A figura abaixo mostra as médias do WHOQOL nas 5 dimensões avaliadas pelo 
instrumento. 
Figura 3 - Médias de escores em cada dimensão do instrumento WHOQOL breve 
da OMS, respondido por 142 moradores com mais de 18 anos da Vila Sossego, 
__ 
 No caso da Vila Sossego, vemos que a dimensão com pior escore foi a de 
ambiente e a de melhor a de relações sociais, mas de modo geral as médias dos 
escores de 142 moradores de mais de 18 anos na Vila Sossego sobre a percepção 
sobre sua qualidade de vida não são ruins, avaliação semelhante à relatada na 
pesquisa realizada pelo DATAFAVELA mencionada anteriormente (Folha de São 
Paulo, 2014). 
A figura 4 a seguir mostra como estes escores se distribuem dentro de cada uma 
das 5 dimensões (ver detalhes na figura 2 e no ANEXO C). 
amblienterelsocdompsidomfisdimgeral
4,00
3,00
2,00
1,00
0,00
M
ea
n
34 
 
 
 
Figura 4 – Escores médios para cada questão das 5 dimensões avaliadas pelo 
WHOQOL. Pesquisa Vila Sossego, PoA, Jan-Fev 2013. 
 
Os achados sugerem que a dimensão ambiente deva ser desdobrada em duas 
categorias o ambiente urbano mais geral – transporte, serviços de saúde.... – e o 
ambiente local (condições de moradia), que recebeu escores visivelmente mais 
baixos, como seria de se esperar (ver a seguir). Estes resultados são corroborados 
na fase da pesquisa qualitativa (ver adiante), que mostra moradores relativamente 
bem integrados na cidade (área central) mas insatisfeitos com as condições locais 
de moradia. 
 
35 
 
4- A tabela 5 com a lista de problemas de saúde mais frequentemente percebidos 
pelos moradores também é muito interessante, e corrobora o recentes achados da 
primeira pesquisa nacional da saúde realizada pelo IBGE (PNS 2014): Nas duas 
pesquisas, as condições mais prevalentes foram a hipertensão arterial e as dores 
osteomusculares, sendo que na Sossego as condições oseomusculares superaram 
a HAS em número de casos, especialmente se considerarmos que há programa e 
busca ativa de hipertensos pelo SUS e nenhum programa do ministério voltado à 
identificação e tratamento de dores osteomusculares crônicas, condições 
frequentemente incapacitantes, ao contrário da HAS (PNS, 2014). 
 
 Ainda há muitos resultados a serem explorados nos bancos de dados gerados 
pela pesquisa, que vão permitir um diagnóstico coletivo, social, econômico, 
ambiental e de saúde – que esperamos que ajude a comunidade a entender suas 
circunstâncias e os serviços e a Universidade a se aproximarem dos problemas 
como eles se fazem presentes, e não como oferta prescrita de serviços, 
desvinculado do contexto local. 
36 
 
4.2 A DINÂMICA DAS RELAÇÕES SOCIAIS NO CONTEXTO DA COMUNIDADE 
VILA SOSSEGO NO ACESSO AOS DIREITOS DE CIDADANIA – etapa qualitativa 
 
 
4.2.1 Caracterização dos sujeitos pesquisados 
 
 Os sujeitos pesquisados foram vinte e nove (29) moradores da Vila Sossego. 
A determinação dos participantes deu-se através de indicações dos próprios 
moradores, caracterizando-se uma amostra em cadeia ou redes (SAMPIERI, et all, 
2013). Destes, seis moradores que já exerceram e ou exercem atividades de 
lideranças na comunidade, participaram do grupo focal inicial, através do qual 
obtivemos informações sobre as relações sociais da comunidade. Posteriormente, 
selecionou-se 23 moradores para as entrevistas semiestruturadas. Estes sujeitos 
foram divididos por gerações, jovens (de 13 até 20 anos), adultos (de 25 até 60) e 
idosos (a partir de 60) e em cada geração separados por tempo de moradia: 
moradores recentes (até 10 anos de moradia), médios (de 10 até 25 anos de 
moradia) e antigos (a partir de 25 anos de moradia). Umas das dificuldades no 
processo da pesquisa qualitativa foi encontrar moradores com pouco tempo de 
moradia para participar das entrevistas. 
 A amostra de entrevistados foi predominantemente de mulheres. Essas 
moradoras tiveram uma boa relação com o projeto de pesquisa e de extensão 
Intersossego. Foram peças fundamentais para abertura , consolidação da presença 
da universidade na comunidade. 
As entrevistas propiciaram desvelar a percepção dos moradores, através 
sobre cidadania, cidadão e a participação da comunidade no acesso aos seus 
direitos. Tinha-se como pressuposto as condições vulneráveis de saúde dos 
moradores da Vila Sossego, em virtude dos desafios postos a essa comunidade 
tendo em vista residirem em área de interesse social (AIES) e estarem aguardando 
a reurbanização por um período de seis anos, o que resulta em fragilização do 
movimento dos moradores no processo de luta para tal investimento. Ayres ( 2003) 
lembra que as nossas fragilidade – ou nossa capacidade de enfrentar os desafios – 
depende de um conjunto integrado de aspectos individuais, sociais e institucionais. 
37 
 
 Os dados fornecidos pelo censo, realizado na 1ª fase da pesquisa, através da 
abordagem quantitativa revelam que a população da Vila Sossego não está em um 
nível de vulnerabilidade social elevado, o que é reafirmadoe explicitado, na 
abordagem qualitativa, pelos sujeitos entrevistados. Exemplificando, ilustraremos tal 
afirmativa através do depoimento de uma moradora ao verbalizar que “(...) aqui na 
Sossego não tem ninguém carente, todo mundo tem um teto, quase todos 
trabalham” .A vila Sossego é uma comunidade heterogênea, em sua maioria, as 
famílias não são extremamente pobres e de acordo com a ABEP (Associação 
Brasileira de Estudos Populacionais) 72% das famílias se enquadrariam na classe C, 
enquanto apenas 13,7% das famílias estariam nas classes D e E. 
 O termo vulnerabilidade tem sido bastante empregado nos últimos anos, 
expressando distintas perspectivas de interpretação .No âmbito da pesquisa em 
saúde urbana, o conceito é importante, pois está relacionado, intrinsecamente, à 
distribuição de determinantes sociais e ambientais do adoecimento , e busca, como 
diz Caiafa (2008), mobilizar para a “[...] necessidade de aferir os fenômenos tendo 
como objeto as desigualdades injustas e evitáveis do ambiente físico, social em 
saúde e a governança e a governabilidade como propostas para as soluções para as 
iniquidades (CAIAFFA, 2008). 
 Segundo Ayres ( 2003), no plano social, a vulnerabilidade está relacionada a 
aspectos sócio-políticos e culturais combinados, como o acesso a informações, grau 
de escolaridade, disponibilidade de recursos materiais, poder de influenciar decisões 
políticas, possibilidades de enfrentar barreiras culturais etc. A vulnerabilidade social 
pode ser entendida, portanto, como um espelho das condições de bem-estar social, 
que envolvem moradia, acesso a bens de consumo e graus de liberdade de 
pensamento e expressão, sendo tanto maior a vulnerabilidade quanto menor a 
possibilidade de interferir nas instâncias de tomada de decisão. 
 Na vila Sossego constata-se que há um déficit no grau de escolaridade dos 
jovens adultos, tendo em vista que 42% dos jovens com 18 a 30 anos referem ter 
apenas o primeiro grau ou menos. Mas este nível de escolaridade mostra um 
avanço em relação às gerações anteriores e, por outro lado, 15% já estão cursando 
ou concluíram o terceiro grau. Durante as entrevistas, os jovens mostraram a 
pretensão de ingressarem no ensino superior no futuro. Todavia, relataram que não 
38 
 
recebem informações suficientes para conduzi-los a este objetivo., revelando-nos 
uma lacuna na comunicação, na medida em que há uma ampla divulgação pelo 
Ministério de Educação sobre o acesso dos jovens a educação superior. Fica-nos a 
incumbência de divulgação deste dados junto aos jovens desta comunidade, bem 
como, pensar alternativas para o alcance desta pretensão. 
 Outro sentimento expresso pelos jovens adolescentes foi o desejo de saírem 
da Vila Sossego, apesar das vantagens que reconhecem na localização em área 
central de Porto Alegre: […] “aqui é bairro centro, né. Aqui é super bem localizado, 
valorizado [...]” (AA4), bem como na qualidade da atenção à saúde que recebem 
dos profissionais da Unidade Básica de Saúde Santa Cecília/HCPA: “[...] O HCPA, 
o posto, os agentes de saúde, nós temos várias ajudas aqui. A atenção é sem 
palavras. Os professores da UFRGS então, os alunos, uma equipe que tá sempre 
conosco [...] ” Contrariando esta ideia, a população dos adultos e dos idosos antigos 
afirmam que não se vem em outro lugar a não ser na Vila Sossego, por ser o local 
que residiram uma boa parte de sua vida. 
 No que se refere aos moradores recentes, adultos ou idosos, residentes na 
Vila Sossego, a comunidade possui um número muito reduzido de moradores novos, 
sendo, portanto, uma comunidade constituída em sua maioria pelos moradores mais 
antigos, solidificada desde o seu estabelecimento. Constatou-se que não há 
presença de idosos que residem na Vila Sossego há menos de 15 anos, e que os 
moradores jovens, em sua maioria, estão lá desde o seu nascimento na Vila, desde 
o fim da década de 80 e início da década de 90. O grupo de moradores recentes é 
representado por adultos na faixa etária de 25 a 60 anos. 
 Considerando território um espaço em que significados e ressignificações vão 
sendo construídos pelos sujeitos em torno de suas experiências de vida naquele 
local, onde há prevalência do aspecto relacional sobre o aspecto racional, contradi-
toriamente constata-se que os moradores da Vila estão mais vinculados e inseridos 
na cidade do que no seu território. Nesse sentido, percebe-se uma ausência de iden-
tidade territorial que contemple todos os moradores, conforme explicitado pelos su-
jeitos “[...] E aqui é bairro centro, né. Aqui é super bem localizado, super valorizado. 
Não a comunidade, porque aqui ela não é valorizado" (AA2. Aqui, na verdade, é um 
beco, mas é perto de tudo, a gente vira pra todos os lados tem ônibus e se não tem 
39 
 
dinheiro e quer ir até o centro a pé consegue. Eu acho que a gente tá muito bem 
localizado" (AA3). "[...] É um lugar nobre, perto de tudo, maravilhoso".( AA1). " [...] Tô 
há 30 anos aqui, vim com 11 anos pra cá. Aqui tem muitas coisas boas, o posto (de 
saúde), tem ônibus e a gente tem conhecimento. É bom, é maravilhoso, eu gosto 
daqui porque é bem no centro, que é uma coisa que a gente necessita. Quando eu 
morava em Viamão era difícil de conseguir médico, aqui a gente tem o HCPA, o pos-
to, os agentes de saúde, nós temos várias ajudas aqui. Tudo que a gente precisa a 
gente consegue" (AA5). "[...] Apesar de isso aqui ser uma vila é perto de tudo, é per-
to do centro, do colégio, é um ponto muito bom, é bem localizado. Tu tem tudo perto, 
hospital e tal".(JA5) "[...] 
 Observou-se também a preservação de uma ligação afetiva entre os sujeitos 
construtores e precursores da comunidade, moradores antigos, sendo este círculo a 
representatividade do território para eles. Verifica-se uma dificuldade de interação 
entre os moradores antigos e recentes. "[...] Em vim morar aqui em 1989, faz 25 
anos. Meu marido era o presidente da associação daqui. A gente morou aqui, era 
muito bom, isso aqui era maravilhoso. Não tinha barulho, pouquíssimas pessoas. 
Um vizinho cuidava do outro. Eu tinha galinha aqui! Depois fui embora, fiquei muito 
tempo longe e voltei. Minha filha não nasceu aqui, meu filho sim. Não tinha nada 
aqui, eu desbravei tudo que tu vê aqui. Amizades que eu tenho aqui são Pessoas 
velhas: a T, a D. a M a MM, a JJ e a Ma, mas muitos morreram.. E o resto é gente 
nova, não conheço, não sei quem são(AA1). "[...] moro na vila, mas eu sou individua-
lista também. Porque eu não converso muito. Saio pra trabalhar, na Corte Real, é 
pertinho vou a pé, volto pra casa, fecho o portão e fico na minha. Cumprimento as 
pessoas, mas não converso muito"(AA3) 
 Um aspecto territorial presente entre os moradores é o compartilhamento da 
idealização de uma nova Vila a partir da obtenção das moradias prometidas. O que 
se constata pelas verbalizações dos moradores que esta expectativa fica nas mãos 
dos órgãos governamentais, tornando-se uma gincana burocrática, transformando-
se para a comunidade em uma angústia coletiva, não somente as expressões mais 
imediatas e concretas das realidades vividas, como também conter elementos apa-
rentemente invisíveis, mas significativos, que dizem respeito aos valores, sentimen-
tos, perspectivas que rodeiam as vidas da população. Estes aspectos objetivos da 
40 
 
realidade vivida e mencionadas pela população, envolve igualmente a dimensão 
subjetiva dos moradores, que aparece de forma concreta através das manifestações 
de sofrimentos, desejos, e expectativas. [...] Eu até entendo o lado da comunidade, 
chega um ponto que são muitas promessas e nenhuma é cumprida. Tá há uns 15 
anos pra sair e não saem as casa. Por isso que vão só 4, 5 pessoas nas reuniões. 
As pessoas desistem.( JA2) " [...] O problema aqui eu acho que é as pessoas. Eu 
sempre disse e digo que aqui não tem união. E a união faz a força,né. Se a gente 
fosse unido com certeza aqui já estaria bem melhor. As pessoas não vão na reuni-
ão. Acho que falta muito incentivo. Se eu fosse burguesa nunca que ia morar aqui ( 
AA3) . 
 
 
4.2.2 Cidadão, Cidadania e participação: a compreensão dos sujeitos 
pesquisados. 
 
 As informações obtidas foram analisadas conforme as seguintes categorias 
teóricas: cidadania; cidadão; direitos e deveres; participação e dificuldades 
enfrentadas pela comunidade no acesso aos direitos. 
 A população da Vila Sossego apresentou-se heterogênea e tal 
heterogeneidade corresponde a graus diferenciados de consciência social. Os 
adultos moradores antigos da comunidade, ao serem questionados sobre o 
entendimento do conceito de cidadania, definiram como sinônimo de “coletividade” e 
como um direito consolidado, mas que atualmente está sendo desvalorizado. 
Atribuem ao conceito de cidadão "o ser humano": "Cidadão é o ser humano, 
cidadania é população, é a cidade, é todo mundo junto. Cidadania não significa 
muito pra mim porque hoje em dia não existe muito isso daí. Tem cidadania mas não 
é uma coisa unida. Hoje em dia tem muito descaso com o cidadão." (AA3). 
 A cidadania é vista também como direito e ao mesmo tempo merecimento. 
Contudo, nos indagamos: Direito é merecimento? De acordo com Coutinho (1999) 
os indivíduos não nascem com direitos. Os direitos são fenômenos sociais, são 
resultados da história. Considerando esta concepção, constata-se através dos 
depoimentos que houve momentos em que os moradores da Vila exerceram a sua 
cidadania, pois lutaram para possuir alguns de seus direitos. São exemplos citados 
41 
 
por eles: “[...] quando nós moradores mais antigos, durante o estabelecimento da 
Vila, batalhamos para garantir saneamento básico […] a gente buscou esgoto e 
água foi devido a nossa luta [...].” (AA4). Outra manifestação referenciada foi sobre a 
microepidemia da dengue, ocorrida em 2013 “[...] “Tudo em função da dengue. É, foi 
uma coisa que me marcou, sim. Isolaram aquele terreno. Quando se une, dá 
resultado [...] ” (AA2). 
 Entretanto, também foi referenciado pelos sujeitos entrevistados uma não 
visualização nas conquistas alcançadas, ou seja, uma ausência de inscrição dos 
sujeitos em estruturas portadoras de um sentido. Em outras palavras, verifica-se que, 
muitas vezes, mesmo participando de movimentos que caracterizam a busca por 
direitos e por cidadania, os moradores não enxergam tais ações como relevantes, 
entendendo-as como desprovidas de caráter social, não relacionando este fato um 
ato de cidadania. 
 De acordo com a constituição brasileira de 1988, a concepção de cidadania 
reivindica o acesso, inclusão, participação e pertencimento a um sistema político já 
dado. Aristóteles, definiu que cidadão é aquele que tem o direito e 
consequentemente também o dever de contribuir na formação das decisões que 
envolvam a coletividade, penetrando nas decisões que dizem respeito às suas 
condições básicas de existência. 
 Assim como o filósofo, os adultos moradores antigos da Vila Sossego que 
estão há mais de 30 anos na Vila, consideram também que o cidadão tem direitos e 
deveres, conforme verbalizações: " [...] cidadania é assim: tu tens que cumprir teus 
deveres e alguém tem que retornar isso de alguma forma. Tu tem que ser solidário, 
pagar teus impostos. É uma troca. Eu pago e o governo me dá a luz que tá aqui.[...]” 
( AA1). Como direitos destacaram: [...] "ter moradia digna, luz digna, uma educação 
de qualidade, saúde. Professores e médicos bem pagos. Tudo fiscalizado, porque na 
constituição é tudo uma maravilha, mas nada funciona. Envolve direito de ter 
liberdade, estudo, saúde, Cada um tem o seu dever, mas eu acho que o governo, a 
prefeitura tem um dever com a população, com a cidadania. A liberdade de estar na 
rua e saber que tu estás bem, que não vai ser assaltada. Ter mais compromisso e 
botar mais segurança na rua. Tu poder ter a liberdade de caminhar, voltar a hora que 
quiser, ter oportunidades. Respeitar os outros. Direito de moradia, de saúde, de 
42 
 
transporte, de vida." Como deveres atribuem este ao estado "dever do governo para 
nós. E nosso direito é cumprir com as obrigações. gente precisa lutar, não receber 
tudo de mão beijada, que tudo os outros tem que dar. A gente tem que ir à luta e. 
Dever com a população. não pisotear nas pessoas. estar junto com a comunidade." 
 Em relação aos jovens antigos da comunidade, o conceito sobre cidadania 
não foi definido com precisão. Alguns consideram, entretanto, cidadania como 
sinônimo de luta, mobilização por direito, sendo, também, uma forma de coletividade. 
Outros, não definem cidadania, mas definem a palavra cidadão como um indivíduo 
que precisa fazer por merecer " [...] E eu acho que onde a gente mora influi muito. 
Porque não adianta andar bonita, bem vestida e depois dizer que mora num beco 
sujo. E eu acho que se eu for merecedora vou morar melhor( AA3), ou que merece 
reconhecimento, que tem uma existência civil. Alguns sujeitos relataram 
experiências pessoais de exercício de cidadania, evidenciando diversos 
entendimentos sobre o tema. 
 No discurso de alguns participantes, encontramos falas que apontavam no 
sentido de a cidadania ser um “ato de solidariedade” ou de “amor ao próximo”, 
mostrando uma visão assistencialista de promover o bem-estar do outro como um 
ato de caridade, através do entendimento de cidadania restrito a responsabilidade 
moral privada. O descrédito com a democracia representativa, visível nas falas dos 
moradores, é perceptível neste relato: “[...] No Orçamento Participativo eles querem 
que a comunidade trabalhe pra eles, que a comunidade fiscalize, mas isso é coisa 
que o governo deve fazer. É uma coisa muito eleitoreira. E foi por isso que eu me 
retirei. Mas eu acho que quem tem fé e persistência, como a Terezinha, 
importante[...].” (AA1). 
 Aristóteles também refere-se aos direitos do cidadão, na concepção de 
“direitos naturais”, qual seja, direitos que pertencem aos indivíduos independentes 
do status que ocupam na sociedade em que vivem. Nesta perspectiva, os 
moradores mostram-se não sentirem-se contemplados pelos direitos naturais, pois o 
direito precisa ser conquistado, conforme relatos a seguir “[...] to lutando, é pelas 
nossas unidades habitacionais. Eu acho que é uma luta e eu to há anos, eu faço 
parte do Orçamento participativo há uns 8 a 10 anos.. Eles não acreditam porque, 
vem em uma reunião escutam uma coisa, vai em outra reunião escutam outra e as 
43 
 
pessoas não acreditam. Acho que eles não tem razão porque vão em uma reunião, 
não acompanham todas” (AA2) “[...] Uma expectativa. Porque estamos bem sem 
sonhos. Tanta gente aqui que vem aqui falar, prometer e não fazem nada que eu 
acho que daí isso acaba com os sonhos[...].” (AA3) “[...] Acho que se vierem na 
reunião e disserem que vão arrumar a vila (fazer as casas) amanhã, as pessoas 
vem. A partir de qualquer mudança as pessoas vão se mexer. Quando tem uma 
reunião “forte” que vem alguém mais importante, todo mundo vai.” (AA5). “Eu acho 
que se viessem e dissessem uma coisa certa, gente isso vai acontecer. Um exemplo 
assim: Gente vai começar os apartamentos, vai acontecer no dia tal e naquele dia 
começa a acontecer. Entendeu, pras pessoas acreditarem, olha as máquinas vão 
estar lá pra começar as obras.” (AA6) “A gente ver que tá conseguindo.” (AA4). 
 Em síntese, a compreensão sobre cidadão e cidadania pelos sujeitos 
entrevistados é diferenciada. Não há um consenso. Constata-se concepções desde 
a ideia de cidadania como um direito constitucional e de conquistas pela coletividade 
e para a coletividade, bem como a apreensão pelo merecimento através de ações 
individualizadas que visem uma retribuição para o cidadão pelo dever cumprido. 
 Evidencia-se

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