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Brasília-DF. História da anatomia Elaboração Igor Duarte de Almeida Produção Equipe Técnica de Avaliação, Revisão Linguística e Editoração Sumário APRESENTAÇÃO .................................................................................................................................. 6 ORGANIZAÇÃO DO CADERNO DE ESTUDOS E PESQUISA ..................................................................... 7 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 9 UNIDADE I REFLEXÃO ......................................................................................................................................... 11 CAPÍTULO 1 ORAÇÃO AO CADÁVER ........................................................................................................ 11 UNIDADE II ETIMOLOGIA ...................................................................................................................................... 13 CAPÍTULO 1 A ANATOMIA ......................................................................................................................... 13 UNIDADE III 1O PERÍODO ...................................................................................................................................... 14 CAPÍTULO 1 PRÉ-HISTÓRIA ........................................................................................................................ 14 CAPÍTULO 2 OS SUMÉRIOS ....................................................................................................................... 17 CAPÍTULO 3 OS BABILÔNIOS .................................................................................................................... 18 CAPÍTULO 4 OS CHINESES ........................................................................................................................ 19 CAPÍTULO 5 OS EGÍPCIOS ........................................................................................................................ 20 CAPÍTULO 6 OS GREGOS ......................................................................................................................... 24 CAPÍTULO 7 OS ROMANOS ...................................................................................................................... 30 CAPÍTULO 8 DA VINCI .............................................................................................................................. 33 CAPÍTULO 9 MICHELÂNGELO ................................................................................................................... 37 UNIDADE IV 2O PERÍODO ...................................................................................................................................... 44 CAPÍTULO1 VESALIUS .............................................................................................................................. 44 CAPÍTULO 2 EUSTÁQUIO ........................................................................................................................... 46 CAPÍTULO 3 FALÓPIO ............................................................................................................................... 48 CAPÍTULO 4 FABRÍCIO.............................................................................................................................. 49 UNIDADE V 3O PERÍODO ...................................................................................................................................... 51 CAPÍTULO 1 HARVEY ................................................................................................................................ 51 CAPÍTULO 2 ROLFINK ............................................................................................................................... 53 CAPÍTULO 3 PECQUET .............................................................................................................................. 54 CAPÍTULO 4 RUYSCH ................................................................................................................................ 55 CAPÍTULO 5 MALPIGHI ............................................................................................................................. 56 CAPÍTULO 6 FAMÍLIA BARTHOLIN ............................................................................................................... 58 CAPÍTULO 7 IMPORTANTES ANATOMISTAS .................................................................................................. 60 UNIDADE VI 4O PERÍODO ...................................................................................................................................... 63 CAPÍTULO 1 CHARLES DARWIN ................................................................................................................. 63 CAPÍTULO 2 PIRIGOV ............................................................................................................................... 66 CAPÍTULO 3 SOBBOTA .............................................................................................................................. 67 CAPÍTULO 4 ANATOMIA NO BRASIL ........................................................................................................... 68 UNIDADE VII TECNOLOGIA .................................................................................................................................... 72 CAPÍTULO 1 FERRAMENTAS ATUAIS ............................................................................................................ 72 UNIDADE VIII DICIONÁRIO ...................................................................................................................................... 76 CAPÍTULO 1 ETIMOLOGIA ......................................................................................................................... 76 REFERÊNCIAS .................................................................................................................................... 95 6 Apresentação Caro aluno A proposta editorial deste Caderno de Estudos e Pesquisa reúne elementos que se entendem necessários para o desenvolvimento do estudo com segurança e qualidade. Caracteriza-se pela atualidade, dinâmica e pertinência de seu conteúdo, bem como pela interatividade e modernidade de sua estrutura formal, adequadas à metodologia da Educação a Distância – EaD. Pretende-se, com este material, levá-lo à reflexão e à compreensão da pluralidade dos conhecimentos a serem oferecidos, possibilitando-lhe ampliar conceitos específicos da área e atuar de forma competente e conscienciosa, como convém ao profissional que busca a formação continuada para vencer os desafios que a evolução científico-tecnológica impõe ao mundo contemporâneo. Elaborou-se a presente publicação com a intenção de torná-la subsídio valioso, de modo a facilitar sua caminhada na trajetória a ser percorrida tanto na vida pessoal quanto na profissional. Utilize-a como instrumento para seu sucesso na carreira. Conselho Editorial 7 Organização do Caderno de Estudos e Pesquisa Para facilitar seu estudo, os conteúdos são organizados em unidades, subdivididas em capítulos, de forma didática, objetiva e coerente. Eles serão abordados por meio de textos básicos, com questões para reflexão, entre outros recursos editoriais que visam a tornar sua leitura mais agradável. Ao final, serão indicadas, também, fontes de consulta, para aprofundar os estudos com leituras e pesquisas complementares. A seguir, uma breve descrição dos ícones utilizados na organização dos Cadernos de Estudos e Pesquisa. Provocação Textos que buscam instigar o aluno a refletir sobre determinado assunto antes mesmo de iniciar sua leitura ou após algum trecho pertinente para o autor conteudista. Para refletir Questões inseridasno decorrer do estudo a fim de que o aluno faça uma pausa e reflita sobre o conteúdo estudado ou temas que o ajudem em seu raciocínio. É importante que ele verifique seus conhecimentos, suas experiências e seus sentimentos. As reflexões são o ponto de partida para a construção de suas conclusões. Sugestão de estudo complementar Sugestões de leituras adicionais, filmes e sites para aprofundamento do estudo, discussões em fóruns ou encontros presenciais quando for o caso. Praticando Sugestão de atividades, no decorrer das leituras, com o objetivo didático de fortalecer o processo de aprendizagem do aluno. Atenção Chamadas para alertar detalhes/tópicos importantes que contribuam para a síntese/conclusão do assunto abordado. 8 Saiba mais Informações complementares para elucidar a construção das sínteses/conclusões sobre o assunto abordado. Sintetizando Trecho que busca resumir informações relevantes do conteúdo, facilitando o entendimento pelo aluno sobre trechos mais complexos. Exercício de fixação Atividades que buscam reforçar a assimilação e fixação dos períodos que o autor/ conteudista achar mais relevante em relação a aprendizagem de seu módulo (não há registro de menção). Avaliação Final Questionário com 10 questões objetivas, baseadas nos objetivos do curso, que visam verificar a aprendizagem do curso (há registro de menção). É a única atividade do curso que vale nota, ou seja, é a atividade que o aluno fará para saber se pode ou não receber a certificação. Para (não) finalizar Texto integrador, ao final do módulo, que motiva o aluno a continuar a aprendizagem ou estimula ponderações complementares sobre o módulo estudado. 9 Introdução Seria presunçoso de nossa parte querer ter histórias completas de como foi anatomia quando há pouco mais de cem anos começava a jornada para a unificação da terminologia e consequentemente, padronização do estudo. Temos a intenção apenas de fazer alguns comentários específicos sobre os aspectos históricos, a importância que se tinha em conhecer o corpo humano, as crenças, os mistérios e a ciência por trás da anatomia. A anatomia humana é a base de conhecimento para todos os estudantes das ciências da saúde (medicina, odontologia, psicologia, farmácia, educação física) e acompanha o aluno universitário desde o primeiro ano até a plena formação acadêmica e desempenho das atividades laborais. Anatomia é a ciência da estrutura e função do corpo. Um excelente e amplo conceito de anatomia foi proposto em 1981 pela American Association of Anatomistas: anatomia é a análise da estrutura biológica, sua correlação com a função e com as modulações de estrutura em resposta a fatores temporais, genéticos e ambientais. Para Dângelo, Fattini (1984) a anatomia é a ciência que estuda macroscopicamente e microscopicamente a constituição e o desenvolvimento dos seres organizados. Para o professor José Carlos Prates (2010) a anatomia é pode ser dividida em 5 fazes principais: a primeira pertence à antiguidade; a segunda apareceu com a decadência do Império Romano que teria afetado a ciência, a arte e a anatomia; a fase da restauração é a terceira fase e data do renascimento das ciências na Itália; a quarta fase está relacionada com a introdução do microscópio e a quinta fase refere-se à anatomia e embriologia comparadas. Souza (2010) diz que a anatomia é dividida em 4 períodos: o primeiro período data da pré-história até a dissecação realizada por Vesalius (1543); o segundo período vai de Vesalius até o advento da fisiologia científica proposto por Willian Harvey (1628); o terceiro período vai de Harvey até a demonstração da unidade da unidade da vida proposto por Charles Darwin (1859) e o quarto período vai até os dias atuais. A anatomia procura compreender a forma e a constituição do homem desde o início de sua existência e visa à compreensão dos princípios arquitetônicos da construção dos organismos vivos, a descoberta da base estrutural do funcionamento das várias partes e a compreensão dos mecanismos formativos envolvidos no desenvolvimento destas (DUARTE 2009). Esse estudo se baseará na proposta de Souza (2010) considerando os quatro períodos iniciando pelo desenvolvimento da anatomia. Pode-se dizer que começou no princípio da humanidade, apesar de inicialmente estar cheia de pequenas ideias não científicas influenciadas por aspectos religiosos e culturais. O desejo natural de conhecimento e as necessidades vitais levaram o homem, desde a pré-história a se interessar pela anatomia. A dissecação de animais para sacrifícios antecedeu a de seres humanos. A anatomia como ciência foi freada bruscamente na idade média pela sacralidade 10 que religiosos afereciam ao corpo. Esses religiosos proibiam qualquer prática que agredisse a constituição do corpo por considerá-lo sagrado (GARDNER, OSBURN 1980). No século IX o estudo do corpo humano voltou a interessar os sábios graças à escola médica de Salerno, na Itália. Logo depois outros médicos medievais enfatizaram a afirmação de que o conhecimento anatômico era importante para o exercício da cirurgia. Então todos os estudos feitos nesse período eram considerados clandestinos e contrários à regra. Atualmente, o estudo anatômico do corpo humano e o material utilizado é o cadáver ou as peças cadavéricas. O conhecimento deve ser transposto diretamente para a utilização prática e clínica do estudante, tornando-se viável a utilização de modelos anatômicos sintéticos e softwares aproximando o conteúdo básico do específico (NOBESCHI 2010). Objetivos » Fornecer informações sobre o princípio e a trajetória da anatomia desde os primórdios até a atualidade. » Abordar temas relevantes sobre a mística e a ciência que envolve essa fascinante matéria. » Compreender os aspectos históricos e evolutivos da anatomia. » Conhecer a linguagem técnica anatômica. 11 UNIDADE IREFLEXÃO CAPÍTULO 1 Oração ao cadáver Você conhece Karl Von Rokitansky? Talvez este nome não lhe seja familiar, mas se você estudou algum curso de nível superior na área da saúde com certeza conhece uma obra escrita por ele. A famosa reflexão ao cadáver desconhecido. Karl Von Rokitansky foi um renomado médico patologista nascido aos 19 de fevereiro de 1804 na cidade de Hradec Králóve, Replública Tcheca e faleceu em 28 de julho de 1878 em Viena, Austria (NOBESCHI 2010). Estudou medicina na cidade de Praga e adquiriu o título de doutor em 06 de março de 1828 pela Universidade de Viena. Dentre suas pesquisas, desenvolveu o método conhecido como a técnica de autópsia que ainda é um dos métodos padrões usado hoje. Conta-se que Rokitansky supervisionou cerca de 70.000 autópsias, e conduziu pessoalmente cerca de 30.000 uma média de 2 por dia durante 45 anos. Ele foi o criador da famosa Oração ao Cadáver Desconhecido. Trata-se de uma reflexão ao respeito que se deve ter ao corpo já sem vida. Os corpos que em muitas das vezes não lhe foram concedidos o devido valor e respeito, tiveram um fim muitas vezes indigno e desumano, porém sua participação para a evolução da ciência pode ajudar as pessoas que a eles negaram a ajuda correspondendo a um verdadeiro paradoxo da vida. Permitir a desintegração de seu corpo pelo estudo reforça a teoria de que a vontade de ajudar, independente da forma e o amor ao próximo são mais fortes do que a própria morte. Em países desenvolvidos o estudo de anatomia é preconizado com cadáveres oriundos de doações com o aval familiar. Entretanto, no Brasil, essa prática está longe de ser uma realidade e o meio de estudo se dá quase sempre é por meio de cadáveres de pessoas de rua desconhecidas. A oração ao cadáver desconhecido Ao curvar-te com a lâmina rija de teu bisturi sobre o cadáver desconhecido, lembra-te que este corpo nasceu do amor de duas almas, sorriu e sonhou os mesmos sonhos das crianças e dos jovens. 12 UNIDADE I │ REFLEXÃO Por certo amou e foi amado e sentiu saudades dos outros que partiram. Acalentou e esperou um amanhãfeliz, e agora jaz (morto) na fria lousa, sem que por ele se tivesse derramado uma lágrima sequer, sem que tivesse uma só prece. Seu nome só DEUS o sabe, mas o destino inexorável (duro) deu-lhe o poder e a grandeza de servir a humanidade que por ele passou indiferente. Aqui é o lugar onde a morte se compraz (alegra) em socorrer a vida. Tu que tiveste teu corpo perturbado por nossas mãos ávidas de saber, e desvendar os mistérios do corpo humano, o nosso agradecimento e o nosso respeito. Karl Von Rokitansky 1804-1878 Talvez a intenção do autor fosse de homenagear o indivíduo desconhecido que está cumprindo o seu papel de cidadão. Não se sabe ao certo o que motivou o autor a escrever tal obra. O que se sabe é que nas aulas iniciais de anatomia, os professores leem o material para que o aluno reflita sobre a falta de oportunidade que o dono daquele corpo teve e que a única forma que encontrou para colaborar com a humanidade foi se doar para o estudo. Após essa reflexão, o aluno terá um mínimo de respeito para com aquele corpo que do seu passado nada se sabe, mas que no presente está ajudando o aluno a se tornar um grande profissional da saúde. Figura 1. Karl von Rokitansky. Autor da reflexão ao cadáver desconhecido. Fonte: <radiographics.rsna.org> 13 UNIDADE IIETIMOLOGIA CAPÍTULO 1 A anatomia O verbete etimologia tem seu significado no dicionário como o estudo da origem da palavra. A palavra anatomia é a derivação de duas palavras de origem gregas ANA e TOMEIN que significam EM PARTES e CORTAR. O termo TOMEIN está relacionado com um tipo de exame de imagem bastante atual. A fusão dessas duas palavras nos deu a palavra utilizada hoje ANATOMIA. Significa separar ou isolar naturalmente as estruturas das várias regiões do corpo para estudo pelo método de dissecação. O dicionário português nos dá o seguinte significado: estudo da forma e estrutura dos seres organizados. O termo dissecação tem o mesmo significado de anatomia, porém sua origem etimológica não relaciona- se com a língua grega e sim com o latim DISSECARE. Assim temos; DIS e SECAR que significam EM PARTES e CORTAR. O termo dissecar é mais utilizado para referir à técnica comum mais utilizada no estudo da anatomia. O dicionário português nos dá o seguinte significado: isolamento, pelo uso de instrumental apropriado, de parte de um corpo ou de um órgão, para estudo anatômico, em intervenção cirúrgica. Uma palavra bastante presente no estudo de anatomia se refere ao corpo a ser estudado CADÁVER. O dicionário português diz que o termo CADÁVER significa corpo morto. Essa palavra também de origem latina tem sua origem etimológica o acróstico latino CARO, DATA e VERMIBUS e se escrevê-las em ordem crescente formamos a palavra cadáver. CARO DATA VERMIBUS O termo caro data vermibus significa carne dada aos vermes. 14 UNIDADE III1O PERÍODO CAPÍTULO 1 Pré-história O início da anatomia De acordo com Souza (2010) o primeiro período da anatomia humana surgiu nos primórdios da civilização quando o ser humano conhecido como homo sapiens, termo latino de significado homem sábio, possuia características anatomicamente modernas e originaram-se na África há cerca de 200 mil anos, atingindo o comportamento moderno há cerca de 50 mil anos. Nessa época, os homens primitivos já viviam em comunidade e a necessidade de comunicação era evidente. O homem já era desenvolvido fisicamente para a produção da fala, daí veio também um significativo desenvolvimento da linguagem e posteriormente a fala. Este desenvolvimento também se deve um pouco à intersecção de duas culturas (neandertal e o homo sapiens) e como tal a necessidade de comunicação entre elas, pois durante uns tempos, ambos viveram na Terra. Antes da fala, o homem primitivo nos deixou também outro legado, as pinturas rupestres realizadas na sua maioria nas paredes de cavernas e feitas com sangue de animais, argila e seiva de plantas (TRINKAUS, ZIMMERMAN 2005). A ciência anatomia começava a dar seus primeiros passos já nos primórdios da história humana. O homem pré-histórico já observava em sua volta a existência de seres que apresentavam diferenças significantes de seu corpo e isso despertou o interesse por esses seres cujas diferenças visuais eram consideráveis. Esses seres eram animais como veremos na imagem a seguir. Nossos ancestrais passaram a desenhar nas paredes das cavernas e fazer esculturas das formas que viam. É importante ressaltar que não se desenhava um único modelo, mas eram variados. Com isso passou a notar detalhes, que hoje nos permitem identificar as espécies de animais descritas. Estas representações indicam não somente que a pintura pré-histórica nasceu há muito tempo, mas que o interesse pelo conhecimento do corpo humano relacionava-se com a necessidade de desenvolvimento de técnicas mais aprimoradas para caça e abate dos animais. Os primórdios do conhecimento anatômico determinavam os órgãos vitais para abater a caça e as formas mais fáceis e eficientes de retirar a carne do animal. Os seres humanos desse período também sabiam os locais mais vulneráveis em seus próprios corpos e os protegia mais adequadamente tornando-os menos 15 1o PERÍODO │ UNIDADE III vulneráveis ao ataque desses animais. A anatomia é, possivelmente, a mais antiga ciência que pode ser relacionada à medicina. A Cirurgia é a mais primitiva das atividades reconhecidas como médicas por ter como substrato a manipulação do corpo humano. Acredita-se que no início era orientada para tratamento de pequenos ferimentos, drenagens e alívio da pressão. Figura 2. A imagem rupestre pintada na rocha mostra 6 elefantes e cerca de 15 homens. Fonte: <geschichteinchronologie.ch> A primeira cirurgia O arqueólogo americano Ephraim George Squier encontrou um crânio que apresentava um pequeno orifício retangular na região frontal datado por volta de 1500-1400 a.C. Devido às características do orifício, concluiu que havia feito por mãos humanas. O crânio descoberto em 1865 constitui um divisor de águas com relação a uma nova interpretação dos crânios trepanados descobertos em culturas pré-históricas e essa descoberta levou a uma busca por outros crânios trepanados produzidos por outras culturas. De fato, diversos crânios com as mesmas características foram identificados em sítios arqueológicos do período neolítico na França, muitos deles datados de cerca de 4.000 a 5000 a.C. (CLOWER, FINGER, 2001; MUNRO,1891). Especialistas afirmam que o procedimento cirúrgico de nome trepanação era realizado principalmente em jovens para o tratamento de convulsões simples e associadas a possessões demoníacas. Dessa forma, atribuía-se a uma função religiosa, propondo que a trepanação teria a capacidade de libertar demônios que estariam atormentando o doente (CLOWER, FINGER, 2001; MUNRO,1891). 16 UNIDADE III │ 1o PERÍODO Figura 3. Crânio encontrado por Squier no Peru, com abertura do osso frontal e datado de 1500-1400 a.C. Fonte: Castro, Landeira-Fernandez (2008). É bem possível que os doentes tinham algum tipo de pressão intracraniana e quando abria- se o crânio diminuía a pressão e consequentemente o paciente tinha um alívio do sintoma. Após o procedimento, acreditava-se na libertação de um espírito ruim que estaria atormentando a cabeça do doente. <https://www.youtube.com/watch?v=T4TzZ00CzHY> 17 CAPÍTULO 2 Os sumérios Berço da civilização A área da antiga mesopotâmia é a região localizada entre os rios Tigre e Eufrates no sudoeste da Ásia. Embora seus limites variassem durante diferentes períodos da história, de modo geral, a região da mesopotâmia abrangia o território do atual Iraque e parte da Síria. Muitos grupos étnicos dominaram sucessivamente essa região em diferentes períodos, como os Sumérios, os Assírios e os Babilônicos. Atribui-se aos Sumérios o desenvolvimento, por volta de 4000-3500 a.C., da escrita cuneiforme, na qual os símbolos eram cunhados em placas de barro (OPPENHEIM 1964). Esses escritos fazem dos Sumérios um povocom importância histórica pelos escritos em placas de argila encontradas por arqueólogos, as quais eram usadas pelos sacerdotes da época. Essas que contém escritos médicos importantes. Eles acreditavam que o sangue era a fonte de todas as funções vitais e o órgão fígado o centro da distribuição do sangue. Portanto, o centro da vida. A partir dessa informação sabemos o motivo pelo qual esse povo recorria ao órgão para previsões (OPPENHEIM 1964). Figura 4. Modelo em argila de fígado de carneiro, possivelmente utilizado para hepatoscopia utilizado na formação de sacerdotes Fonte: Castro, Landeira-Fernandez 2008 18 CAPÍTULO 3 Os babilônios Anatomia na babilônia Cerca de 1500 anos depois, os acádios dominaram as cidades Sumérias e fundaram a Babilônia. Os Babilônios, como outros povos, tinham a necessidade da previsão do futuro e praticavam tal previsão pelo órgão fígado dos animais principalmente carneiro. Os Babilônios teriam catalogado detalhadamente pedacinhos de fígado e correlacionado com divindades ou até mesmo acontecimentos. Essa prática estava presente como parte do ensinamento na formação dos seus sacerdotes. Era uma tecnologia usada ao mais alto nível, até vedada ao povo comum, de tão poderosa que a jugavam ser. Não existem evidências de como eles faziam tais previsões nem a forma como adquiriam este conhecimento, mas é importante ressaltar que os Babilônicos foram um dos primeiros praticantes da ciência anatomia. Esse povo teria encontrado um pedaço de fígado correto para cada deus, daí o interesse pela anatomia veterinária que dominavam. Anatomia bíblica Porque o rei de babilônia parará na encruzilhada, no cimo dos dois caminhos, para fazer adivinhações, aguçará as suas flechas, consultará as imagens e atentará para o fígado. Ezequiel 21:21 O texto bíblico faz mensão ao rei Nabucodonosor que teria ido à guerra após recorrer ao fígado como adivinhação para então atacar a cidade de Jerusalém. O conhecimento anatômico do povo babilônico se restringia meramente a aspectos religiosos e as doenças eram vistas ou associadas à ação dos deuses. Quando estes deuses deixavam de proteger uma pessoa, ela ficava vulnerável à ação dos demônios ou espíritos malignos que poderiam agir sobre seu corpo e sua mente. Por essa razão, tanto a doença quanto a cura eram explicadas a partir de uma complexa relação entre deuses, seres humanos e espíritos que assombrariam os vivos (OPPENHEIM, 1964). 19 CAPÍTULO 4 Os chineses Anatomia na China Na antiga China, as teorias anatômicas também nasceram de especulação e dedução de pensamento em vez de observações diretas. Devido às doutrinas de Confúcio (551- 479 a.C.), as dissecções de cadáveres foram proibidas até o início do século XVIII. Até então, as ilustrações anatômicas se referiam apenas ao sistema vascular porque os chineses valorizavam a localização dos pulsos para o diagnóstico e estabelecimento do prognóstico de inúmeras doenças (SOUZA 2010). Anatomia na acupuntura Por sua relação com a acupuntura, os vasos e canais, reais ou imaginários, foram atentamente considerados pelos médicos chineses. Como a cosmologia, o saber anatômico fisiológico da antiga China ficou presidido pelo número cinco: cinco elementos básicos (ar, água, terra, fogo e madeira), cinco órgãos principais (coração, pulmão, rim, fígado e baço). A relação presente entre os órgãos é de amizade ou inimizade de acordo com seu papel na dinâmica do Yin Yang: o coração (fogo) tem seu inimigo, o rim (água) e seu amigo o fígado (a madeira). Até recentemente, o chinês manteve- se conservador em suas crenças e por isso, as culturas ocidentais não foram muito influenciadas pelo saber da China. As maiores contribuições chinesas para a anatomia humana e para medicina ficaram praticamente restritas às técnicas de acupuntura (SOUZA 2010). 20 CAPÍTULO 5 Os egípcios Anatomia egípcia A antiga cultura egípcia desenvolveu-se a oeste da Mesopotâmia, onde foi aperfeiçoada a ciência do embalsamento dos mortos do que nós conhecemos como múmias. Não se buscava o conhecimento do corpo humano para tratamento de doenças ou mesmo adquirir conhecimento sobre anatomia, já que embalsamar era estritamente religioso e reservado para a realeza e para os ricos a fim de prepará-los para uma vida depois da morte. Para os egípcios, a imortalidade da alma se conservava no corpo, daí o motivo pelo qual o povo desenvolveu métodos de preservação dos cadáveres. O coração não era retirado do cadáver por acreditavam que era o local onde residia a alma. Aliás, o coração era o local onde se armazenavam os delitos cometidos pelo morto. Era medido e pesado e se o valor ultrapassasse as medidas padrões, esse era condenado ao inferno. Assim, quanto mais pesado seu coração, mais pecados se tinha o condenado. O coração e a crença Os egípcios consideravam o coração como o centro da emoção, pensamentos e por todas as demais funções hoje associadas ao sistema nervoso central. Esse povo acreditava na existência de um nervo localizado no 4o dedo da mão (digitus cordis) que se dirigia diretamente ao coração e, portanto, era via direta de comunicação. Então os casais egípcios passaram a usar argolas no 4o dedo para que os corações permanecessem unidos. Essa prática foi incorporada ao cristianismo que introduziu como tradição o uso de argolas de ouro nos dias atuais. Os antigos egípcios acreditavam que o coração era o centro do organismo e que estava conectado com os demais órgãos do corpo por meio de uma rede de canais chamados de METU. Essa rede seria formada por canais que partiriam do coração onde não haveria apenas sangue. Assim, não só os vasos sanguíneos eram considerados METU, mas também o trato respiratório, os dutos glandulares e os músculos e consequentemente, não era feita distinção entre artérias, veias, tendões, nervos ou ligamentos (WILLERSON, TEAFF 1996). 21 1o PERÍODO │ UNIDADE III Figura 5. Imagem mostra o coração sendo pesado pelo deus anúbis. Segundo a mitologia egípcia, era o deus dos mortos e quem determinava o local para onde deveria ir o suposto condenado, cujo coração se mostrasse mais pesado que uma pena. Fonte: <fascinioegito.sh06> As múmias A mais famosa múmia encontrada é a do faraó Tutankámon, encontrada no começo do sec. XIX em um sarcófago com uma máscara de ouro. Tutankámon é conhecido como o faraó menino e nasceu em 1346 e morreu aos 19 anos de idade em 1327 aC. Foi faraó do Egito antigo entre os anos de 1327 e 1336 aC. Era filho do faraó Akhenaton. Esse achado atesta a tecnologia avançada nos estudos do corpo humano principalmente, na conservação. Os egípcios retiravam os órgãos do corpo e o desidratavam com salitre, após era enfaixada como as múmias que conhecemos de filmes e desenhos. Figura 6. As imagens correspondem ao jovem faraó que possivelmente morreu de malária aos 19 anos. À direita mostra a parte de seu caixão feito inteiramente em ouro. Os egípcios dominavam as técnicas de conservação. A múmia de Tutankámon se manteve conservada por milhares de anos. Fonte: <sobreegito.com> 22 UNIDADE III │ 1o PERÍODO Mumificação A análise do termo múmia no dicionário revela que um dos seus significados seria: qualquer cadáver enterrado em local muito seco e quente que passando pelos processos endurecimento não entra em estado de putrefação. Perceba que esta definição engloba as múmias naturais que podem ocorrer devido às condições do ambiente. As mais famosas múmias foram produzidas artificialmente por meio de técnicas de embalsamamento. A ligação de múmias com o povo egípcio é tanta que no mesmo dicionário há referências apenas a este povo desconsiderando o fato de haver inúmeras citações na bibliografia de múmias de outras civilizações inclusive mais antigas que as do próprio povo egípcio. Contudo, a expressão múmia não é de origem egípcia, mas na verdade, deriva da palavra árabe mumiyah que significa corpo preservado por cera ou betume (CHEMELO 2006). Ao contrário do que possase pensar, a mumificação egípcia pouco contribuiu para o avanço do conhecimento Anatômico, pois a técnica era puramente religiosa e sem registros acerca dos aspectos corporais, mesmo os egípcios tendo uma verdadeira lição de anatomia. Aproveitavam o momento para aprender as relações das estruturas internas do corpo humano. O processo de mumificação contribuiu muito para a medicina e justifica o destaque que os egípcios antigos possuíram nesta área. Naquele tempo já existiam médicos, os quais eram chamados de SUNU, equivalente a Doutor. Dentre os três tipos de categorias de SUNUS, merece destaque uma que atendia as pessoas em espécies de consultórios, parecido com o que acontece hoje. O mais interessante disto tudo é que eles eram especialistas em determinadas áreas do corpo como o exemplo do mais antigo SUNU do Egito antigo, Hesy-Ra que viveu por volta de 3000 a.C. e só cuidava de dentes. O médico egípcio Menés teria escrito o primeiro manual de anatomia que se tem registro histórico (VAN DE GRAAFF, 2003; CHEMELO, 2006). Os egípcios acreditavam que a alma da pessoa necessitava de um corpo para a vida após a morte. Portanto, devia-se preservar este corpo para que ele recebesse de forma adequada, a alma. Preocupados com esta questão, os egípcios desenvolveram um complexo sistema de mumificação. Todo o ser humano, segundo os egípcios, possuía uma força espiritual, uma força vital e um corpo. Na morte, quebrava-se o vínculo entre estes três elementos. Para renascer e viver para sempre em uma terra em que todos permanecessem jovens, ágeis e belos a força vital e a força espiritual de uma pessoa tinham que reconhecer seu corpo e se unir novamente a ele. A felicidade no além dependia da habilidade do embalsamador. O cadáver era aberto na região do abdome e tinha suas vísceras retiradas espaço deixado era preenchido com linho. Esta prática é comprovada pela existência de inúmeros recipientes para vísceras encontrados em túmulos. Estes apresentavam a forma de quatro jarras com tampas em forma de cabeças humanas, realizados em pedra ou cerâmica (SPENCER,1991). O corpo era lavado com essências e água. O coração era mantido e os outros órgãos colocados em jarras canópicas. O cérebro também era extraído, mas era tratado com desdém e seus fragmentos não tinham nenhum valor. Em seguida, o corpo era empacotado e coberto com natro, um tipo de sal, e deixado para desidratar durante 40 dias. Após esse período era empacotado com linho ensopado de resina, natro e essências aromáticas. As cavidades do corpo eram tampadas e finalmente era coberto de resina e enfaixado como as múmias dos filmes. Durante o ritual, os sacerdotes colocavam amuletos entre as camadas de faixas, sempre acompanhado de orações e encantamentos. Todo esse processo levava cerca de 70 dias (STARNEWS, 2001). 23 1o PERÍODO │ UNIDADE III Figura 7. Imagem representa o processo de mumificação Feito pelos antigos egípcios. Fonte: Chemelo, 2006. 24 CAPÍTULO 6 Os gregos Anatomia comparada Os gregos arcaicos quase nada conheciam sobre a anatomia interna e a fisiologia humanas. Seus conhecimentos anatômicos restringiam-se à traqueia tida como um tubo condutor de ar para o interior do organismo, a garganta como um órgão de entrada da bebida e do alimento, o coração como um órgão pulsátil, o reto como o segmento distal do tubo digestivo e eliminador das fezes e a bexiga como o reservatório de urina. Acredita-se que o conhecimento a respeito da maioria dos órgãos deu-se por observações da anatomia interna de animais que eram sacrificados (BARBOSA, LEMOS 2007). Antes de Hipócrates, os gregos já haviam fundado escolas de medicina com Heráclito 500 a.C. e Empédocles 490 a.C. Esse último personagem da história de anatomia era conhecedor do labirinto auditivo. Todos adquiriram conhecimento por dissecação de animais. Os gregos tinham uma ideia semelhante à dos egípcios e usavam argolas produzidas com metais magnéticos no mesmo 4o dedo para que os corações dos casais (centro das emoções) sempre estivessem atraídos e com isso o amor sempre estaria presente. Aliás, foi na Grécia antiga que a anatomia, inicialmente, ganhou maior aceitação como ciência e foi Aristóteles (384-322 a.C.) quem teria sugerido que o coração era o centro das emoções. Aristóteles é considerado o pai da zoologia devido a um profundo estudo do reino animal e fundou a escola Liceu com estudos voltados para a fauna e flora. Seu pai, Nicômaco, era médico e talvez isso tenha influenciado seu interesse pela biologia. Aristóteles estudou, com grande riqueza de detalhes, as estruturas anatômicas de mais de 500 espécies. Dentre suas contribuições, além de ter sido pioneiro na classificação de diferentes tipos de animais, o filósofo grego criou eficientes métodos de análises comparativas, adotados até os dias, como o conceito de anatomia comparada. Figura 8. Aristóteles é considerado o pai da anatomia comparada. Fonte: <aforismi.lv> 25 1o PERÍODO │ UNIDADE III O pai da medicina Platão (427- 347 a.C.) conhecia a propagação do som pelo ar, penetrava pelo ouvido e chegava até a alma por meio do cérebro e do sangue e tinha como o destino o fígado. Outro personagem grego histórico e ligado à anatomia foi Hipócrates (460-372 a.C.). Considerado como o pai da medicina devido aos seus estudos sobre doenças. Sua maior façanha foi tirar dos deuses o poder da cura e empregá-lo aos homens. Por isso o nome de Hipócrates é bem difundido no meio acadêmico, principalmente por estudantes de medicina, já que devem fazer o juramento Hipocrático, ao serem diplomados médicos (SOUZA 2010). Juramento Hipocrático Eu juro por Apolo médico, por Esculápio, Higeia e Panacéa e tomo por testemunhas todos os deuses e todas as deusas, cumprir, segundo meu poder e minha razão, a promessa que se segue: estimar, tanto quanto a meus pais, aquele que me ensinou esta arte, fazer vida comum e, se necessário for, com ele partilhar meus bens, ter seus filhos por meus próprios irmãos, ensinar-lhes esta arte se eles tiverem necessidade de aprendê-la sem remuneração e nem compromisso escrito, fazer participar dos preceitos, das lições e de todo o resto do ensino, meus filhos, os de meu mestre e os discípulos inscritos segundo os regulamentos da profissão, porém, só a estes. Aplicarei os regimes para o bem do doente segundo o meu poder e entendimento, nunca para causar dano ou mal a alguém. A ninguém darei por comprazer, nem remédio mortal nem um conselho que induza a perda. Do mesmo modo não darei a nenhuma mulher uma substância abortiva. Conservarei imaculada minha vida e minha arte. Não praticarei a talha, mesmo sobre um calculoso confirmado. Deixarei essa operação aos práticos que disso cuidam. Em toda a casa, aí entrarei para o bem dos doentes, mantendo-me longe de todo o dano voluntário e de toda a sedução sobre tudo longe dos prazeres do amor com as mulheres ou com os homens livres ou escravizados. Àquilo que no exercício ou fora do exercício da profissão e no convívio da sociedade, eu tiver visto ou ouvido, que não seja preciso divulgar, eu conservarei inteiramente secreto. Se eu cumprir este juramento com fidelidade, que me seja dado gozar felizmente da vida e da minha profissão, honrado para sempre entre os homens. Se eu dele me afastar ou infringir, o contrário aconteça. Acredita-se que foi escrito pelo próprio Hipócrates ou algum discípulo. Este texto tornou-se um tributo à sabedoria grega representada pela figura de Hipócrates que tempos depois seria considerado pai da medicina. O juramento de Hipócrates é uma síntese bem elaborada dos preceitos éticos e morais que devem nortear a profissão medicina e manter a dignidade desta. 26 UNIDADE III │ 1o PERÍODO Hipócrates escreveu técnicas de anatomia relacionadas ao pericárdio como uma membrana que reveste o coração (SOUZA 2010). As escritas de vários filósofos gregos tiveram um forte impacto no pensamento científico futuro como Homero, em Ilíada que descreveu com precisão a anatomiadas feridas ocorridas em batalhas, aproximadamente 800 a.C. Como mencionado anteriormente, os termos anatomia e dissecar são derivados de palavras gregas devido à sua importância na história da anatomia (BARBOSA, LEMOS 2007). Figura 9. Hipócrates desvinculou a medicina do misticismo. Fonte: culturasclassicas Teorias de Hipócrates Hipócrates foi bem disciplinado na popular teoria humoral de organização do corpo. Esta teoria reconhecia quatro humores no corpo, e cada um deles se associava com um órgão em particular: sangue com o fígado, cólera ou bile amarela com a vesícula biliar, fleuma com os pulmões e melancolia ou bile preta com baço. Imaginava-se que uma pessoa com saúde teria um equilíbrio dos quatro humores. O conceito dos humores há muito tempo foi abandonado, mas dominou o pensamento médico durante mais de 2000 anos. A visão hipocrática do sistema nervoso foi inovadora. Ficaram conhecidas as meninges e na medula espinhal, se vê um prolongamento do cérebro. Os nervos foram confundidos com tendões e com os vasos. A alma foi considerada parte do corpo. Grosseiros erros anatômicos foram registrados, como a comunicação direta entre estômago e rim entre a traqueia e as vias urinárias. Tanto Hipócrates quanto Aristóteles imaginavam que o coração era a sede do intelecto. 27 1o PERÍODO │ UNIDADE III Hipócrates teria descrito que o centro do cérebro era oco, sendo a primeira vez que alguém se referia aos ventrículos cerebrais (SOUZA 2010). O pai da anatomia Certamente, nenhum outro estudioso grego teve tanta responsabilidade no estudo de anatomia quanto Herófilo (335 – 280 a.C.), nascido em Calcedônia ficou conhecido como o primeiro anatomista da história. É considerado por muitos como o açougueiro de homens por sua prática cruel de estudar em vivos. Ele praticava vivissecção em criminosos da prisão real. Estima-se que ele esfolou vivo mais de 600 seres humanos, muitas vezes em demonstrações públicas (SOUZA, 2010). A história remete a dois cientistas que procuram comprovar a teoria de que ao beber o sangue de um animal, o homem adquiria a característica moral deste. Ao tomar o sangue de uma aranha o homem desenvolveria o dom da música. Em nome da ciência, Stroibus e Pítias matam lentamente milhares de ratos. Teriam adquirido a característica dos ratos de roubar. Roubaram importantes livros da biblioteca e pretendiam fugir, mas foram capturados por Ptolomeu e condenados. Aí Herófilo sugeriu a Ptolomeu conforme diz o livro de Machado de Assis (1884): — Tenho me limitado até agora a escalpelar cadáveres, mas eles me dão a estrutura e não a vida. Eles me dão órgãos e não as funções. Senhor, eu preciso das funções e da vida. — Queres estripar os ratos de Stroibus? — Não senhor. Peço- lhe alguns homens vivos. — Vivos não é possível, disse Ptolomeu. — Vou convencê-lo que só não é possível, mas até legítimo e necessário. As prisões egípcias estão cheias de criminosos e esses ocupam uma escala inferior na escala humana. Já não são cidadãos, nem mesmo pode-se dizer homens, porque a razão e a virtude que são as principais características humanas, eles perderam infringindo a lei e a moral. Além disso, uma vez que têm de expiar a morte por seus crimes, não é justo que preste algum serviço à verdade e a ciência? Ptolomeu achou o argumento plausível e ordenou que os criminosos fossem entregues a Herófilo. Nenhum criminoso sabia do seu fim. Já haviam sido escalpelados cerca de 50 homens até chegar a vez de Stroibus e Pítias. A intenção era saber se o nervo do latrocínio residia na mão ou nos dedos. Stroibus foi o primeiro sujeito à operação. Compreendeu tudo, desde que entrou na sala e pediu-lhes que poupassem a vida de um filósofo. Herófilo disse-lhe mais ou menos isto: — Ou é um aventureiro ou o verdadeiro Stroibus. No primeiro caso, tens aqui o único meio para resgatar o crime de iludir a um príncipe esclarecido, presta-te ao escalpelo; no segundo caso, não deves ignorar que a obrigação do filósofo é servir à filosofia e que o corpo é nada em comparação com o entendimento. 28 UNIDADE III │ 1o PERÍODO Dito isto, começaram pela experiência das mãos, que produziu ótimos resultados. As mãos de Pítias foram rasgadas e minuciosamente examinadas. Os infelizes berravam, choravam, suplicavam, mas Herófilo dizia-lhes pacificamente que a obrigação do filósofo era servir à filosofia e que para os fins da ciência eles valiam ainda mais que os ratos, pois era melhor concluir do homem para o homem e não do rato para o homem. E continuou a rasgá-los fibra por fibra durante oito dias. No terceiro dia arrancaram-lhes os olhos para desmentir praticamente uma teoria sobre a conformação interior do órgão (MACHADO DE ASSIS 1884). Embora cruel, esse método dava à anatomia uma base realmente concreta e desvendou muitos mitos até então tidos como verdade inabalável como a presença de ar nas artérias. Herófilo analisou o olho, crânio e o cérebro identificando o último como o centro do sistema nervoso e a sede da inteligência. Também descreveu as meninges, o cerebelo e 4o ventrículo. Distinguiu os nervos motores dos sensitivos e demonstrou que a aorta e artérias continham sangue. Identificou e nomeou o duodeno além de descrever os vasos linfáticos e o intestino (SINGER, 1996). Figura 10. Herófilo estudou anatomia em criminosos vivos. Fonte: <loffit.abc.es> Herófilo e anatomia sistêmica Após Herófilo, o estudo da anatomia tornou-se mais descritivo do que especulativo. Herófilo tornou-se o pai da anatomia humana, sendo o primeiro a dissecar cadáveres com o propósito de caracterizar o percurso da doença. Foi talvez o primeiro cientista que estudou sistematicamente a anatomia humana. Pouco se sabe sobre a sua vida e seus escritos, mas seus livros sobre anatomia 29 1o PERÍODO │ UNIDADE III (três volumes) foram destruídos juntamente com a biblioteca de Alexandria. Além das descrições anatômicas, outra contribuição importante de Herófilo e Erasístrato deixada na Faculdade de Alexandria foi um par de esqueletos completos e montados. Esses esqueletos foram provavelmente os primeiros destinados para o estudo da osteologia. Estes ossos persistiram séculos durante os quais serviram de referencial para gerações de médicos. A despeito das evidentes contribuições de Herófilo e Erasístrato, muitas delas foram eclipsadas pelos trabalhos de Galeno (SINGER, 1996). 30 CAPÍTULO 7 Os romanos Célsus Depois de grande pausa histórica sobre anatomia, encontramos Aurélius Cornélius Célsus (30 a.C. – 45 d.C.). Existem dúvidas se era médico ou apenas colecionador de obras médicas. O saber de Célsus está relacionado às obras de Alexandria, embora a medicina hipocrática também o tenha influenciado. A sua maior obra é a De Re Medica fragmento de uma obra mais vasta de Artibus escrita entre 25 e 35 anos da era Cristã. A maior parte do que se conhece sobre a escola médica da Alexandria baseia-se nas escrituras do enciclopedista romano Cornélius Célsus. Ele compilou estas informações em um trabalho de oito volumes. Contudo, Célsus, teve influência apenas limitada em seu próprio tempo, provavelmente por causa do uso do latim em lugar do grego. O enorme valor de sua contribuição não foi reconhecido até o Renascimento (SOUZA 2010). Constituída por múltiplas partes das quais destacamos as seguintes: história da medicina e das escolas, generalidades, doenças de cada parte do corpo, medicamentos, fraturas e luxações. Juntamente com a obra de Hipócrates é considerada uma das mais importantes da antiguidade. Dá ênfase à alimentação, cirurgia e farmácia. Célsus considerava que as doenças deveriam ser classificadas de acordo com o tratamento: alimentação, exercícios físicos, trabalho e banhos (SOUZA 2010). Figura 11. Célsus é o primeiro nome em anatomia da era Cristã. Fonte: LEITNER et. al. 2007. 31 1o PERÍODO │ UNIDADE III Galeno Claudio Galeno (131 – 201 d.C.) nasceu em Pergamo, cidade grega hoje região da Turquia. É provavelmente o escritor médicode maior influência de todos os tempos. Ele produziu diversos textos que perduraram determinando o conhecimento médico-anatômico por cerca de 1500 anos. Tendo feito apenas duas ou três dissecações humanas durante toda sua vida, seus conhecimentos advinham da dissecação de animais, assim, se sujeita a muitos equívocos quando não considera as características anatômicas variáveis das espécies, e quando pretende ser a palavra final nos aspectos que discute. Sua obra somente é refutada por Andreas Vesalius em 1543. Médico de Marcus Aurélius Antonius, concluiu seus estudos em Alexandria e regressou à cidade natal onde trabalhou como médico até 164 d.C., depois se estabeleceu em Roma até sua morte. Galeno dividiu os nervos espinhais de acordo com sua região e os nervos cranianos foram divididos em sete partes: óptico, oculomotor, troclear, trigêmeo, palatino, acústico, facial, grupo vagal e hipoglosso. (MARGOTA, 1998). Galeno conhecia o infundíbulo da hipófise que acreditava comunicar-se com a cavidade nasal, as cartilagens da laringe e teria batizado a cartilagem tireoide de Chondros Thyreoides pela sua suposta semelhança ao escudo dos gregos que ia do queixo ao tornozelo. Galeno comparava o movimento do sangue com o movimento de fluxo e refluxo das marés. Parte do sangue voltava ao sistema de vasos depois de atingir os vasos e se coagular para formar a estrutura do corpo. Para ele, o sangue se movimentava num sistema aberto, tinha um princípio e um fim, passava uma só vez pelo coração e a produção pelo fígado era incessante (PORTO 1994). Figura 12. Galeno não provou, mas sugeriu que as moléculas de ar chegam até o coração por meio dos pulmões Fonte: <drmarcosgomes.com.br> 32 UNIDADE III │ 1o PERÍODO Ao lado dos seus conhecimentos sobre o sistema nervoso, entre outras descobertas, destaca-se sua teoria sobre a origem da asma. Galeno, assim como Hipócrates, acreditava que a respiração se originava no cérebro e que a cavidade craniana possuía comunicação com a nasofaringe. Sua teoria era baseada na observação de que os odores, que se supunha serem percebidos pelo cérebro, passavam através desta via. Outras observações, como a de que cheiros fortes poderiam causar dificuldades respiratórias em alguns indivíduos e de que a dispnéia frequentemente era associada com secreções nasais de muco espesso, reforçavam suas conclusões. Galeno atribuía a causa da asma a uma obstrução intermitente da respiração secundária a secreções que pingavam do cérebro no pulmão (PORTO 1994). SOUZA, C. S. Lições de anatomia: manual de esplancnologia. Salvador: EDUFBA, 2010. 500 p. 33 CAPÍTULO 8 Da vinci Renascença As mudanças materiais ocorridas na Europa a partir do século XI resultaram em um movimento cultural que recebe o nome de Renascimento, pois foi encarado como uma volta à rica cultura da grega e romana antigas. A arte tenta representar fielmente a natureza e para isso o artista deve estudar as ciências naturais, como a anatomia, para melhor representar o corpo. Começa-se a prática da dissecação e suas representações. Leonardo da Vinci é o melhor representante desta época onde o artista e o cientista se fundem. É o primeiro artista a fazer dissecações e representá-la visualmente com maestria. A Renascença foi um período marcado por uma intensa produção artística e também pelo choque entre ideais humanistas e os dogmas da igreja. Os artistas deste período trazem a ideia do ser humano valorizado, ressaltando o corpo e exaltando o belo. Neste período surgem nomes importantes da arte como Leonardo da Vinci e Michelângelo (GOMES et. al. 2009). Leonardo da Vinci Leonardo Da Vinci (1452-1519) começou um dos mais impressionantes levantamentos de anatomia para entender o funcionamento de órgãos, do esqueleto, dos músculos e tendões. Esta é a história pouco conhecida do artista-anatomista italiano que, além de pintor, escultor, músico, cientista, arquiteto, engenheiro e inventor, também atuou na medicina. Ao longo de 15 anos (de 1498 a 1513), Leonardo desenhou órgãos e elementos dos sistemas anatomofuncionais do corpo humano em um estudo que começou pela leitura das obras de autores da medicina pré-renascentista, como Galeno. Ele também participou de dissecações do corpo humano e de diversos animais. Porém, jamais terminou e publicou a obra que, segundo pesquisadores, poderia ter revolucionado a medicina mais de 20 anos antes que o belga Andreas Vesalius publicasse seu livro De Humani Corporis Fabrica, em 1543, obra que marca a fase inicial dos estudos modernos sobre anatomia. Desenhou muitos estudos sobre o esqueleto humano e suas partes, bem como os músculos e nervos, o coração e o sistema vascular, os órgãos sexuais e outros órgãos internos. Ele fez um dos primeiros desenhos científicos de um feto no útero. Como artista, Leonardo observou e registrou cuidadosamente os efeitos da idade e da emoção humana sobre a fisiologia, estudando em particular os efeitos da raiva. Ele também desenhou muitas figuras importantes que tinham deformidades faciais ou sinais de doença, estudando e desenhando também a anatomia de animais diversos, dissecando vacas, aves, macacos, ursos e rãs, comparando seus desenhos em sua estrutura anatômica com a dos seres humanos (GOMES et. al. 2009). 34 UNIDADE III │ 1o PERÍODO Homem Vitruviano Certamente lembrarão-se da última ceia pintada por Leonardo da que representa Jesus e os discípulos antes da traição e posterior crucificação, Monalisa ou a teoria do helicóptero projetado por este. Mas outras obras foram e são importantes para a história da anatomia, pois representam uma nova modalidade de representação das partes anatômicas jamais vistas até então. Das obras anatômicas temos O Homem Vitruviano que da Vinci desenhou e acompanhava os escritos em um de seus diários. Figura 13. O desenho é considerado um símbolo da simetria básica do corpo humano. Observe que a área total do círculo é igual à área total do quadrado. Fonte: <www.actafisiatrica.org.br> Ossos e músculos A imagem a seguir evidencia algumas estruturas bem conhecidas por anatomistas atualmente como a articulação sinovial gínglima talocrural e a articulação sinovial condilar metatarsofalangeana do hálux. Músculos do dorso e membro superior como o trapézio, deltoide e esternocleidomastoideo. 35 1o PERÍODO │ UNIDADE III Figura 14. Os escritos anatômicos de da Vinci concentravam-se em osteologia e músculos superficiais. Fonte: Os Cadernos Anatômicos de Leonardo da Vinci Coração Leonardo da Vinci também dedicou seus estudos sobre o coração e fez considerações importantes como a trabécula supramarginal do ventrículo direito à qual batizaram de corda de Leonardo. 36 UNIDADE III │ 1o PERÍODO Figura 15. Desenhos de cardilogia Fonte: Os Cadernos Anatômicos de Leonardo da Vinci Embriologia Seus desenhos também se referiam ao estudo da embriologia. Num de seus manuscritos, encontrava- se a imagem de um útero gravídico. Figura 16. Desenhos de embriologia. Fonte: Os Cadernos Anatômicos de Leonardo da Vinci 37 CAPÍTULO 9 Michelângelo Artista anatomista Michelangelo Buonaroti (1475-1564), Michelângelo universalmente conhecido por suas magníficas pinturas e esculturas, foi arquiteto, escultor, pintor e poeta. Nasceu em Caprese na Itália e com apenas 13 anos e contra a vontade de seu pai Ludovico, ingressou no atelier de pintura do renomado Domenico Ghirlandajo em Florença onde efetuou o seu aprendizado artístico. Com seu notável talento destacou-se frente aos outros aprendizes sendo indicado por Domenico Ghirlandajo para estudar na escola mantida por Lorenzo de Médice, no palácio dos Médice, local onde se concentravam artistas de toda a Itália, filósofos e também médicos renomados que despertaram em Michelangelo através das sessões de dissecação, o interesse pela Anatomia. Michelângelo adquiriu vasto conhecimento em anatomia. Fato que é confirmado pela perfeição em que o ser humano é representado em suas obras. Este fatochama a atenção de estudiosos de diversas áreas relacionadas com o estudo do corpo humano para ser interessado em sua arte. Michelângelo retratou no teto da capela sistina no vaticano várias passagens bíblicas como a famosa em que Deus toca o dedo de Adão. Desde então nada se falou sobre essas obras a não ser estarem relacionadas à arte contemporânea da época. A partir de 1990 discute-se a possível presença da representação de estruturas anatômicas incluídas nas obras de Michelângelo. Nesse ano, o anatomista americano Frank Linnashberger sugeriu muita semelhança entre a imagem citada anteriormente e o corte sagital do encéfalo. Figura 17. Após a criação, o Criador estaria transferindo o intelecto para adão. Fonte: <pandawhale.com> 38 UNIDADE III │ 1o PERÍODO A primeira interpretação Linnashberger (1990) chama a atenção para a semelhança entre as imagens. Quiasma óptico, glândula hipófise, e artéria vertebral são algumas das semelhanças, além do dorso e os membros de um anjo representarem o tronco cerebral. A cabeça e as costas do anjo representam o mesencéfalo e a ponte, o bumbum do anjo representa o bulbo e a coxa e as pernas representam a medula espinhal. Figura 18. Semelhanças entre a imagem e o corte sagital do encéfalo. Fonte: <pandawhale.com> Interpretação das imagens No ano 2000 o Dr. Garabed Eknoyan publicou o que segundo ele seria um rim inserido no manto de Deus na pintura em que separa a água. Segundo o cientista, Michelângelo estava interessado na função renal uma vez que ele sofria de pedras nos rins durante a sua vida adulta. Figura 19. Semelhança entre a imagem de Deus e o órgão. Fonte: Eknoyan (2000). 39 1o PERÍODO │ UNIDADE III Depois de mais de 500 anos teriam descoberto uma intrigante semelhança entre a imagem da criação de adão e o encéfalo humano. Isso chamou a atenção dos médicos brasileiros Gilson Barreto e Marcelo G. Oliveira que lançaram um livro em 2004 sobre a presença de outras representações anatômicas em pinturas na capela sistina. Figura 20. A imagem representa o pecado original onde Deus, Adão e Eva estão no paraíso. Fonte: BARRETO, OLIVEIRA (2004). Para os autores do livro A arte secreta de Michelangelo: uma lição de anatomia na Capela Sistina; muitas, senão todas as pinturas têm representações anatômicas escondidas. A pintura anterior teria um pulmão esquerdo no manto de Deus, além dos 3 segmentos que representam a árvore brônquica. Figura 21. Semelhança entre o manto de Deus e o pulmão esquerdo. Fonte: BARRETO, OLIVEIRA (2004). 40 UNIDADE III │ 1o PERÍODO Para Barreto, Oliveira (2004), Michelângelo aponta onde está escondida a peça anatômica em todas as suas obras. Para isso, deve observar o contexto da imagem. A imagem a seguir mostra o profeta Joel provavelmente, lendo um manuscrito, com dois anjos atrás dele. Observe que um deles aponta para uma região que provavelmente será representada na obra. Figura 22. Profeta Joel e sua leitura apesenta uma peça anatômica. Fonte: <pandawhale.com> O anjo à direita da imagem figura de Joel aponta para a região lateral da cabeça do outro anjo, justamente a região onde encontra-se o osso temporal. Veja a suposta coincidência ou intenção do artista em representar o osso lateral do crânio na figura que representa um personagem bíblico. Figura 23. Suposta imagem do osso temporal na figura do profeta Joel. Fonte adaptado de: <pandawhale.com> 41 1o PERÍODO │ UNIDADE III Segundo os autores, algumas estruturas do osso temporal estariam representadas na imagem pintada na capela sistina: o processo mastoide, o meato acústico, a parte escamosa e o processo zigomático que estaria representado pelo pergaminho onde o Profeta faz sua leitura. A imagem a seguir apresenta uma interpretação plausível dos autores brasileiros com relação ao osso hioide representado pelo tórax e braços de Deus. Figura 24. Imagem onde o Criador separa a luz da escuridão. Fonte: BARRETO, OLIVEIRA (2004). Existe uma perspectiva de o osso hioide estar embutido na imagem do teto da capela sistina em que Deus separa a luz das trevas. Figura 25. Osso hioide na figura que representa Deus. Fonte: BARRETO, OLIVEIRA (2004). 42 UNIDADE III │ 1o PERÍODO As letras a, b e c representam os respectivos acidentes do osso hioide: corno maior, corno menor e corpo do osso hioide. Os respectivos acidentes ósseos correspondem aos braços, ombros e tórax da pintura que representa Deus separando a luz das trevas. Além dessa possibilidade, Ian Suk e Rafael Tamargo, especialistas em neurociências da Universidade de Johns Hopkins em Baltimore, Maryland encontraram o que acreditam ser órgãos do tronco cerebral no pescoço da pintura que representa Deus e a medula espinhal no centro do tórax e abdome. Figura 26. Suposta semelhança com o tronco cerebral Fonte adaptado de Suk, Tamargo 2010 Figura 27. Estruturas do tronco cerebral na imagem de Deus. Fonte adaptado de Suk, Tamargo 2010 43 1o PERÍODO │ UNIDADE III A imagem refere-se aos órgãos que compõem o tronco cerebral, parte do cérebro, cerebelo e quiasma óptico. A parte da barba logo abaixo da orelha estaria representando o lobo temporal do cérebro. A laringe da imagem refere-se ao bulbo com sua fissura representada pelo sulco media anterior separando as pirâmides bulbares. Se prestar atenção na figura completa verá a medula espinhal no tronco e abdome de Deus. Michelângelo levou 4 anos para pintar a capela sistina e conseguiu esconder seus conhecimentos anatômicos por séculos. Hoje sua obra encanta a todos, inclusive os cientistas de anatomia pela audácia e acima de tudo pelo conhecimento sobre essa importante disciplina que é a anatomia humana. BARRETO, G. OLIVEIRA, MG. A arte secreta de Michelangelo: uma lição de anatomia na Capela Sistina. São Paulo: ARX, 2004. <https://www.youtube.com/watch?v=5r7btMnbpvM> » A anatomia surgiu nos primórdios quando o homem teve a necessidade de se comunicar e conhecer os animais para facilitar o abate e descarne. » As primeiras cirurgias eram realizadas para libertar demônios da cabeça dos jovens. O procedimento é conhecido por trepanação. » Sumérios e babilônios usavam o fígado para preverem o futuro. » Dos anatomistas gregos, Herófilo foi o mais importante e escalpelou mais de 600 homens vivos. » Galeno foi o mais importante anatomista da história com relevantes estudos sobre o aparelho respiratório. » Leonardo da Vinci foi o primeiro a estudar embriologia e desenhou um útero gravídico. » Michelângelo pintou órgãos humanos no teto da igreja romana. 44 UNIDADE IV2O PERÍODO CAPÍTULO1 Vesalius O reformador da anatomia Segundo Souza (2010) o segundo período da anatomia começa com o importante anatomista Andreas Vesalius. Vesalius nasceu em Bruxelas em 1514. Considerado como primeiro anatomista moderno da renascença, graduou-se em medicina pela Universidade de Pádua na Itália em 1537 e em 1538 publicou seu primeiro trabalho: As Tabulae Sex, um conjunto de seis desenhos de anatomia feitos por ele próprio. Demonstrou que as descrições anatômicas de Galeno referiam-se a macacos e não a homens. Sua principal obra foi: De Humanis Corporis Fabrica Libri Septem que significa: sobre a construção do corpo humano, considerado o mais bem acabado livro publicado na renascença, dividido em sete volumes, com várias ilustrações. Em 1546 sua reputação estava firmemente estabelecida, levava consigo um esqueleto sobre o qual fora convidado a dar suas demonstrações. Tinha grande conhecimento de osteologia principalmente ossos do carpo e tarso (SINGER, 1996). Figura 28. Vasalius em estudo dos músculos do antebraço Fonte: <unicamp.br> 45 2o PERÍODO │ UNIDADE IV Segundo suas próprias declarações, ele saqueava os cemitérios e roubava da forca, cadáveres de criminosos que conservava escondidos debaixo da sua cama e só trabalhava neles durante a noite. Conta a história que Vesalius caiu em desgraça durante a corte e o clero por ter dissecado o cadáver de um nobre cujo coração aindapulsava. Teria um de seus assistentes reclinado para ter uma melhor visão do procedimento quando se desequilibrou e apoiou sobre o cadáver e fez com que o sangue venoso entrasse no átrio. Por esse crime foi condenado a peregrinar para a Terra Santa. Na volta sofreu um naufrágio na ilha de Zante, Grécia, onde morreu na miséria. Seu corpo foi encontrado por um ourives italiano, na casa de um camponês, que deu a ele um enterro em Santa Maria (SINGER, 1996). 46 CAPÍTULO 2 Eustáquio Bartolomeu Eustáquio Bartolomeo Eustáquio nasceu em San Severino, Itália, aproximadamente em 1510. Foi anatomista contemporâneo de Vesálio, com quem compartilha a reputação de ter criado a ciência da anatomia humana. Filho de médico, estudou medicina em Roma e começou a clinicar em 1540. Tornou- se professor de anatomia no Archiginnasio della Sapienza, em Roma, o que lhe proporcionou a possibilidade de obter cadáveres humanos para dissecção. A reverência religiosa ao corpo fez com que, durante muitos séculos, a dissecção de cadáveres humanos fosse proibida pela Igreja Católica. Depois da epidemia da Peste Negra, contudo, os papas permitiram a autópsia das vítimas da peste, pois queriam saber a causa da doença. Mas somente 200 anos depois é que o Papa Clemente VII, em 1537, permitiu as dissecções nas aulas de anatomia. É interessante notar que a Peste Negra atingiu a Europa em 1348. Em 1552 Eustáquio e um artista amigo, elaboraram uma série de matrizes de cobre gravadas, ilustrando as dissecações de Eustáquio. Somente oito dessas ilustrações foram publicadas durante sua vida. As outras 39 só foram descobertas no século XVIII e só foram publicadas em 1714. A razão pela qual elas não foram publicadas é que Eustáquio temia ser excomungado pela Igreja Católica. Se essas ilustrações tivessem sido publicadas conjuntamente com as oito primeiras, Eustáquio teria sido tão famoso quanto Vesálio e a anatomia teria atingido o nível de perfeição do século XVIII duzentos anos antes. O fato do livro de Eustáquio ter sido um best seller por mais de um século após a sua morte nos mostra a extensão das restrições religiosas através do Renascimento. Figura 29. Eustáquio teve seu nome inserido na anatomia a partir da descoberta do canal auditivo Fonte: <wikimedia.org> 47 2o PERÍODO │ UNIDADE IV No início da década de 1560 Eustáquio publicou trabalhos sobre os rins, os órgãos associados à audição e aos dentes. Seu livro De Renum Structura foi o primeiro dedicado aos rins. Seu livro sobre os dentes – De Dentibus – descrevia o número de dentes nos bebês e nos adultos e a sua estrutura interna e externa. Ele contribuiu para o conhecimento do ouvido interno, descrevendo a cóclea. Descreveu com precisão a tuba auditiva, que se tornou conhecida durante séculos como trompa de Eustáquio. Descreveu, também, os músculos do martelo e do estribo. Descobriu as glândulas adrenais. Além da pesquisa anatômica, investigou, também, a estrutura dos órgãos, muitas vezes utilizando lentes de aumento. Eustáquio faleceu em Roma no dia 27 de agosto de 1574. 48 CAPÍTULO 3 Falópio Gabriel Falópio Falópio (1523 – 1562) anatomista italiano nascido em Modena. Filho de Geronimo e Caterina Falópio serviu como cânone na catedral da cidade. Após a morte de seu pai e as dificuldades financeiras que se seguiram, foi direcionado para uma carreira na igreja, tornando-se sacerdote em 1542 e serviu como um cânone na catedral de sua cidade natal. Com a melhora nas finanças da família, virou-se para a medicina estudando em Modena sob Niccolo Machella e de acordo com os registros teria dissecado um corpo para seu professor em dezembro de 1544 Prates (2010). Ele estudou medicina em Ferrara e depois de uma viagem pela Europa, tornou-se professor de anatomia naquela cidade. Somente um tratado de Falópio apareceu durante sua vida, ou seja, o Observationes anatomicae (Veneza, 1561). Seus trabalhos, genuina Opera omnia, foram publicados em Veneza em 1584. Foi discípulo de Vesalius e professor de anatomia em onde acumulava as cadeiras de anatomia e cirurgia. Segundo Prates (2010) Falópio teria aprendido o efeito de venenos em criminosos condenados. Era um grande crítico de Galeno e combateu os galenistas. Sucedeu a Vesálio em Pádua, onde realizou estudos metódicos, dos quais fez claras descrições do canal do nervo facial, ligamento inguinal, tuba uterina e acreditam que teria mencionado a válvula ileocecal, o osso etmoide e suas células, o ducto lacrimal, e o seio esfenoidal. Fez descrições precisas dos pares de nervos cranianos, principalmente dos 3 ramos do trigêmeo. A descrição de Falloppio do aparelho auditivo foi superior ao de Vesalius e inclui a primeira descrição clara das janelas redonda e oval, a cóclea, os canais semicirculares e a rampa vestibular e timpânica. Figura 30. Falópio morreu em Pádua no dia 9 de outubro de 1562 de causas desconhecidas fonte: <nndb.com> 49 CAPÍTULO 4 Fabrício Geronimo Fabricius Hieronymus Fabricius (1537) foi aluno do grande mestre anatomista Falópio. Foi professor de outro personagem histórico da anatomia humana William Harvey, nasceu na aldeia de Aquapendente na Itália central no território governado na época da República de Veneza. A família de Fabricius vivia bem, embora não fossem ricos, pertencia à nobreza. Fabricius recebeu uma educação de classe superior e no final da adolescência começou seus estudos avançados na Universidade de Pádua, onde estudou grego, latim, lógica e filosofia. Na escola de medicina o professor mais influente foi Falópio, professor de anatomia que ele ajudou a dissecção e acompanhado durante a sua participação sobre os enfermos. Fabricius formou-se em medicina e filosofia. Foi excelente médico e cirurgião de rara habilidade. Cuidou dos mais ricos personagens da República de Venesa e se recusava sempre a aceitar a menor remuneração em dinheiro, mas foi alvo de inúmeros e maravilhosos presentes. Foi o fundador do anfiteatro anatômico de Pádua (PRATES 2010). Figura 31. Fabrício foi aluno de Falópio e professor de Willian Harvey Fonte: <fineartamerica.com> Fabrício chamava a atenção de seus alunos para a importância do estudo de anatomia humana, responsável pelos conhecimentos básicos indispensáveis aos cirurgiões. Segundo Frabrício, praticar a medicina sem conhecimentos de anatomia era como navegar sem bússola (PRATES 2010). 50 UNIDADE IV │ 2o PERÍODO » Vesálio foi o reformador da anatomia e antagonista às teorias de Galeno. Por acidente descobriu que o sangue venoso seguia para o átrio direito. » Eustáquio descobriu a tuba auditiva e descreveu os músculos do martelo e do estribo. » Falópio descreveu o canal do nervo facial, ligamento inguinal, tuba uterina, válvula ileocecal, osso etmoide, o ducto lacrimal, seio esfenoidal e os pares de nervos cranianos. » Fabricius afirmou que clinicar sem conhecer anatomia é como navegar sem bússola. 51 UNIDADE V3O PERÍODO CAPÍTULO 1 Harvey Willian Harvey O estudo da Anatomia tinha se tornado bem estabelecido no final da Renascença. Diversos anatomistas eternizaram seus nomes criando uma série de epônimos particularmente para estruturas do membro superior. No final do século XVIII, o interesse na Anatomia sofreu um arrefecimento. A atenção da maioria dos estudiosos se voltou para a o estudo da patologia, embriologia e anatomia comparada. A nova Anatomia do renascimento exigiu uma revisão da ciência. O médico inglês William Harvey (1578-1657) educado em Pádua combinou a tradição anatômica italiana com a ciência experimental que nascia na Inglaterra. Em 1628, publicou Exercitatio anatomica de motu cardis et sanguinis em animalibus (Um estudo anatômico da movimentação do coração e do sangue em animais) (SOUZA 2010). O livro é um tratado de anatomofisiologia. Ao lado de problemas de dissecação e de descrição de órgãos isolados, o livro de Harvey estuda a mecânica da circulação do sangue comparando o corpo humano a uma máquina hidráulica. O autor explica como o sangue é bombeadoe rebombeado por um circuito endovascular, o qual inicia e termina no mesmo ponto, o coração. Ele mostrou que o pulso resulta do enchimento de artérias com sangue. Na sístole o ventrículo direito bombeia sangue para a circulação pulmonar e o esquerdo para a sistêmica (SOUZA 2010). William Harvey nasceu em Folkestone em 2 de abril de 1578. Tive oito irmãos, dos quais cinco do sexo masculino, estes se dedicaram ao comércio e conseguiram invejáveis situações financeiras em várias cidades da Inglaterra. Somente William, o mais velho, invencivelmente atraído pelas ciências naturais tentou a medicina. Não foi rico como seus irmãos, mas conseguiu a glória de ligar seu nome a uma das mais imortais descobertas da fisiologia, descoberta que nem sequer podia ele imaginar quando embarcou para a Itália onde deveria seguir, em Pádua, o curso de Fabrício. Foi em Pádua que no ano de 1602 se formou em Medicina depois de cinco anos de estudo. De volta à Inglaterra, achou que seria uma honra ser médico e para defender uma tese totalmente britânica, passou dois anos em Cambridge (SENET 1958). 52 UNIDADE V │ 3o PERÍODO Harvey descreve as válvulas das veias e afirma que a distância que as separam é variável de pessoa para pessoa. Aparecem ao longo da parede da veia, voltadas para cima, para a raiz da veia e para o seu lúmen. Pela maior parte dispostas aos pares, uma em face da outra, tocam-se e aderem rapidamente pelas bordas livres, de modo a impedir completamente o sangue de passar da raiz da veia para os seus ramos ou de uma veia grande para outra menor. (SOUZA, 1996). Figura 32. Harvey foi o primeiro grande anatomista da era moderna não italiano. Responsável pelo estudo de fisiologia em conjunto com anatomia. Seus estudos foram relevantes para o avanço da cardiologia Fonte: <medicinajoven.com> A importância do trabalho de Harvey não pode ser sobrepujada. Os princípios de fisiologia que ele estabeleceu, levaram a uma compreensão da pressão sanguínea primeiramente medida em um cavalo em 1733, pelo clérigo Stephen Habes e que mais tarde teve seu uso na clínica de cateterização cardíaca por grandes clínicos como Werner Forssman, Andreas Cournand e Dickenson Richards e a prática da cirurgia do coração por Robert Grass, Elliot Cutler, Charles Hufnagel, Alfred Blalock e muitos outros. Harvey passou o resto de sua vida buscando identificar os capilares e embora não os tivesse visto, previu sua existência. Quatro anos após a morte de Harvey, em 1657, Marcello Malpighi conseguiu ver pela primeira vez os capilares sanguíneos em um preparado de pulmão de rã. Juntos, os trabalhos de Vesalius e Harvey promoveram bases intelectuais para muitos avanços na anatomia humana, fisiologia, clínica e cirurgia que se seguiram durante o milênio. Harvey afirmou que o coração de um homem bate em média 72 vezes por minuto e a cada batida ejeta cerca de 60 cm³ de sangue (SINGER 1996). 53 CAPÍTULO 2 Rolfink Werner Rolfink Rolfink (1599 – 1673) foi um médico alemão, cientista e botânico. Estudou medicina em Leiden. Adquiriu seu mestrado pela Universidade de Wittenberg sob supervisão de Daniel Sennert e seu doutorado em 1625 na Universidade de Pádua sob a orientação de Adriaan van den Spiegel (PRATES 2010). Figura 33. Atribuiu grande importância nos estudos de Harvey Fonte: <wickpedia.org> Ele dissecou dois criminosos recém-executados. Teve grande importância no estudo da catarata e afirmou que as descobertas de Harvey foram tão importantes quanto à descoberta da América por Colombo. Com autópsias e os seus pontos de vista anatômicos, foi responsável por introduzir a faculdade de medicina na Universidade de Jena. 54 CAPÍTULO 3 Pecquet Jean Pecquet Pecquet (1622 – 1674) ainda estudante de medicina em Montpellier, descreveu o Receptaculum chylii descoberta num estudo em um cão. Descreveu os tais vasos qualíferos terminando num saco ou reservatório situado próximo à artéria aorta na frente da coluna vertebral denominada por muitos anos de cisterna de Pecquet em sua homenagem, atualmente conhecida por cisterna do quilo conforme a nomenclatura anatômica internacional. Também descreveu um ducto saindo desse reservatório e dirigindo-se para a parte superior da coluna vertebral. Era o ducto torácico. No homem, a cisterna de Picquet foi descrita por Olaus Rudbek em 1650 e apresenta uma descrição minuciosa dos vasos qualíferos (PRATES 2010). Figura 34. Pecquet fez importante descoberta sobre o sistema linfático Fonte: <cafepress.com> 55 CAPÍTULO 4 Ruysch Frederick Ruysch Ruysch (1638 – 1731) foi um médico com interesses diversos igualmente à mão para fazer as drogas, o cultivo de plantas exóticas, o aconselhamento de parteiras e o mais importante, investigando a anatomia humana. Ele combinou atividades científicas com uma paixão pelas artes com excelentes desenhos, pinturas e gravuras. Professor de anatomia em Amsterdan e descreveu as válvulas dos ductos linfáticos e demonstrou a circulação linfática (PRATES 2010). Foi um grande mestre na arte da injeção e fez muitas peças anatômicas como as artérias coronárias. Em seu museu, possuía cerca de 1300 peças conservadas em líquidos. Atribui-se a ele a primeira descrição dos vasos bronqueais da parte torácica da artéria aorta. Aperfeiçoou o método de introduzir massas coradas nos vasos, método iniciado na Itália por Desmanes (PRATES 2010). Figura 35. Ruysch conservou centenas de peças anatômicas em seu museo Fonte: <wickpedia.org> Coleção anatomia do ruysch encheu cinco salas com inúmeras garrafas alinhadas nas prateleiras, oferecendo uma vista deslumbrante para todos os visitantes que se reuniram para ver suas coleções. Dentre muitas peças destacavam-se uma garrafa com órgãos auditivos de um bebê e outra do bebê monstruoso que parecia veludo. 56 CAPÍTULO 5 Malpighi O microscópio O microscópio só surgiu ao final do século XVI, quando em 1590 Johannes e Zacharias Jansen construíram na Holanda, um aparelho rudimentar para ampliar imagens. Tal aparelho se transformou em luneta por Galileu Galilei (1564 – 1642). O equipamento foi melhorado pelo físico inglês Robert Hooke (1635 – 1703) e também por Anton Leeuwenhouek (1632 – 1723). Este foi um naturalista holandês que contribuiu para o estudo da anatomia microscópica associada à coloração em 1714 e também descobriu o espermatozoide e os glóbulos do sangue (PRATES 2010). Marcellus Malpighi Em 1661 Marcellus Malpighi (1628 – 1694) nasceu no dia 10 de março em Crevalcore perto de Bolonha, Itália. Ingressou na Universidade de Bolonha com a idade de 17 anos. Foi professor de anatomia na mesma Universidade de Bologna, utilizando o microscópio (recém-inventado). Publicou o trabalho em 1664 De Externo Tactus Organo (Epístola sobre o órgão do tato), no qual descreveu as estrias elevadas e as várias figuras que apareciam na superfície da pele. Ele relata as estrias desenhadas em presilhas e espirais na ponta dos dedos. No entanto não fez nenhuma referência sobre a utilização das impressões digitais como método de identificação. Uma camada da pele foi chamada de camada de Malpighi como homenagem a sua descoberta (FIGINI et. al. 2003). Figura 36. Malpighi introduziu o microscópio em seus estudos Fonte: <wickpedia.org> 57 3o PERÍODO │ UNIDADE V A melhora do microscópio acrescentou uma dimensão inteiramente nova para a anatomia e consequentemente conduziu às explicações das funções básicas do corpo. A microscopia ajudou Malpighi a provar a teoria de Harvey, sobre a circulação do sangue, e também a descobrir a estrutura mais íntima dos pulmões, baço e rins (SOUZA 2010). 58 CAPÍTULO 6 Família bartholin Thomas Bartholin Thomas Bartholin (1616 – 1680) foi um anatomista dinamarquês importante pelas descobertas referentes à comunicação entre o aqueduto do mesencéfalo, o 3o ventrículo e o forame obturado do osso do quadril (forame de Bartholin). A família de Thomas Bartholin foi famosa pela sua propensão para a ciência já que nada menos do que doze dos seus membros
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