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Olá! Me chamo Laís, sou assistente social, sou representante do GTM aqui em Arco Íris e vou contar pra vocês alguns dos caminhos que percorri para ir (re)conhecendo o território do município aqui onde eu trabalho. O município retomou o trabalho do PIM esse ano e o prefeito tinha a intenção de contratar 11 visitadores. Daí descobrimos que era importante que essa definição fosse pautada no Diagnóstico Situacional da Primeira Infância e nos reunimos para realizá-lo. Eu moro em outra cidade aqui perto, mas antes de assumir o concurso aqui, há 1 ano, eu conhecia já um pouco do município, porque tenho uma prima que mora aqui. No entanto, ao me deparar com algumas informações, fiquei pensando que tem algumas coisas que a gente não sabe às vezes nem sobre o lugar onde a gente mora. Algumas coisas me chamaram muita atenção ao olhar para o mapa: a extensão da área rural que é bem maior do que a área urbana, embora tenha uma certa concentração de pessoas na cidade. Também me chamou atenção que tem uma comunidade indígena na fronteira com o município vizinho. Mas o que me surpreendeu mesmo foi saber que apenas 12% do município tem esgotamento sanitário adequado e que mais de 15% das crianças estão em situação de trabalho infantil. Além disso, nosso município já teve 3 casos de sífilis congênita e 3 óbitos infantis no ano de 2019. A enfermeira, que faz parte do GTM comigo, estava falando que isso é um aspecto importante para pensarmos no acesso e na qualidade do pré-natal, assim como nas condições de parto. 01 Andanças e olhares do PIM nos territórios Sentamos junto ao pessoal das unidades de saúde e do CRAS e procuramos identificar no mapa quais os territórios de maior vulnerabilidade, observando os aspectos apontados no DSPI e então definimos que, para iniciar o trabalho, iremos encaminhar para habilitação e contratação 4 visitadoras e visitadores: uma atenderá na área indígena, então faremos processo seletivo para visitadores indígenas; uma atenderá na área rural, na linha 7, que concentra maior número de gestantes e crianças beneficiárias do Bolsa Família; e duas atenderão na área urbana em um território que tem uma lista de espera para creche. Nós, do GTM, separamos um dia para visitar e conhecer estes territórios junto a Alexandra, agente comunitária de saúde. Saímos pela manhã cedinho, ainda tinha uma neblina cobrindo as árvores na praça central. Buscando olhar de novo pra esse território, conhecer ele de um outro jeito, observando como a vida das pessoas acontece, a partir dele e em relação com ele, uma das primeiras coisas que me chamou atenção foi que na praça não há lugar específico para as crianças brincarem. A escola municipal é aqui pertinho, ouço barulho de crianças correndo e brincando, mas a praça não é pensada para estas. “Bom dia, dona Joana!” Caminhando nas ruas do centro a vida já estava acontecendo num ritmo mais acelerado: pessoas indo para o trabalho, crianças e adolescentes chegando na escola, o ônibus escolar apontando logo ali na rua, uma mulher varrendo a calçada. Fazendo a volta na quadra está a unidade de saúde e do outro lado da rua o CRAS. Caminhamos um pouco e logo pegamos o carro para ir para o “interior”. Marcos, o motorista da secretaria de saúde, avisou que seria mais difícil andarmos pela zona rural a pé, como fizemos na cidade. Com o vidro do carro aberto, fui sentindo a mudança no ar, ficando mais fresco. Logo o asfalto deu lugar à estrada de chão. Ao longe avistei uma casa com um senhor sentado na varanda. “Bom dia!”, falou, abanando para o carro. 02 Alexandra explicou que deste lado do município nenhuma casa tem esgotamento sanitário considerado adequado. Tem bastante pequeno produtor, que planta hortaliças e milho, e a Emater tem um papel importante por aqui. Fui adentrando e imaginando a vida das pessoas ali: a hora que as crianças precisam acordar para pegar o ônibus até a escola, como fazem pra ir trabalhar, onde se encontram. Subindo a estrada avistei uma igreja, com um galpão ao lado. Estava tendo um brechó comunitário ali: algumas mulheres se encontrando para organizar o espaço, algumas pessoas chegando para visitar, alguém passando o chimarrão. No turno da tarde, nos organizamos para visitar a comunidade indígena. A combinação para a visita foi feita entre Alexandra, o Cacique e a enfermeira da Estratégia de Saúde da Família deste território. Fomos recebidas com uma mistura de alegria e desconfiança, enquanto algumas crianças brincavam no açude. O Cacique, liderança indígena, foi logo falando que há tempos vem tentando junto a gestão municipal implantar o PIM na comunidade e que por isso fica satisfeito em nos receber, mas também foi logo avisando que quer garantir que as visitadoras que vão atender naquela área sejam visitadoras da própria comunidade, isto é, visitadoras indígenas do povo kaingang. Fomos caminhar pelo território, área que estão ocupando com muita resistência e luta pela demarcação. O Cacique foi mostrando as casas dos “parentes”, o espaço onde costumam se reunir, onde fica a escola... Eu fui observando a rua, a estrada de chão, as casas bem próximas umas das outras, as áreas mais arborizadas, as áreas que parecem ter sido desmatadas em algum momento da história.. Fui imaginando, quais brincadeiras são comuns nessa cultura? E pensando na importância daquilo que diz no objetivo do PIM, de partirmos da cultura e experiência das famílias: aqui todos são “parentes”, uma grande comunidade/família, quais membros da família colocaremos no formulário? Onde os 03 atendimentos do PIM acontecerão? Também me lembrei do que escutei na formação do programa, que as crianças indígenas e negras ainda são as que mais morrem no Brasil.. Enfim, foi um longo dia de andanças, caminhadas, encontros e diálogos pelo e sobre esse território vivo aqui do nosso município de Arco-Íris. Terminei o dia abastecida de conhecimentos, e também de vontade de agir por uma infância que seja digna para todas as crianças. Temos bastante trabalho pela frente! Nosso próximo passo será ir na rádio falar um pouquinho sobre o PIM, sobre essa retomada que estamos fazendo no município e principalmente sobre o porquê é tão importante atuarmos todas e todos nós - famílias, estado e comunidade - nas questões relacionadas à primeira infância! Texto de Gabriela Dutra Cristiano e narração de Janine Serafim 04
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