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AULA 1 ENGENHARIA ECONÔMICA Prof. Nelson Pereira Castanheira 2 TEMA 1 – ENGENHARIA ECONÔMICA Ao tratarmos da engenharia econômica, nós estudaremos, primeiramente, a microeconomia e, na sequência, a macroeconomia e, finalmente, os custos. A microeconomia é baseada em duas importantes teorias: 1. a teoria do consumidor; 2. a teoria da firma. Cada um de nós, como consumidores, nos deparamos com situações em que fica a dúvida se devemos ou não comprar determinado produto ou adquirir determinado serviço, no que tange ao custo desse produto ou serviço. É comum que um consumidor, ao perceber que um produto que costuma utilizar está com preço mais baixo do que aquele comumente praticado pelo mercado, resolva adquirir uma quantidade maior de itens daquele produto. Mas a mesma situação pode ocorrer quando ele tem a sua renda aumentada, pois se sente momentaneamente mais rico. É importante, portanto, conhecermos o comportamento do consumidor perante o mercado de bens e de serviços. 1.1 Microeconomia Primeiramente, precisamos saber o que é economia. Segundo Montella (2009), economia é a ciência que estuda a produção, a circulação e o consumo dos bens e serviços. Como toda produção implica um custo, os bens advindos daí não são oferecidos de graça: eles têm um preço. Nós dividiremos a nossa abordagem sobre economia em microeconomia e macroeconomia. Iniciaremos nossos estudos pela microeconomia. Mas, o que é isso? A microeconomia é a parte da economia que estuda a determinação dos preços dos bens e serviços, se fundamentando, para isso, nas leis do mercado. É nesse contexto que precisamos conhecer a teoria do consumidor e a teoria da firma, que nos permitem analisar o cenário do mercado para a tomada de decisões. Para isso, há conceitos importantes que devemos conhecer neste momento: bens, preço e mercado. O que são bens? São todas as coisas que têm utilidade e que satisfazem as necessidades humanas. Observe que tais coisas podem ser divididas em bens econômicos, que são aqueles bens considerados raros ou escassos; e bens não econômicos, que são aqueles que são livres ou abundantes, com oferta ilimitada. 3 Um bem econômico é algo tangível, como um automóvel, um imóvel ou uma maçã. Um bem não econômico não é tangível, como o ar que respiramos, a água dos oceanos – constituem os chamados bens gratuitos, aos quais não faz sentido atribuirmos um preço. E preço, o que vem a ser? É uma expressão monetária do valor de um produto ou de um serviço transacionado no mercado. Só faz sentido a atribuição de um preço a um bem econômico e precisamos negociar em um mercado, para adquirir esse bem. E o que se entende por mercado? Mercado é um local em que compradores (lado da procura) e vendedores (lado da oferta) realizam transações. É a interação entre as forças de oferta e de procura. Observe que esse local pode ser um ambiente físico ou um ambiente virtual. Nesse mercado, em que produtos ou serviços são buscados pelos consumidores, os preços a eles atribuídos funcionam como um indicador para a economia. TEMA 2 – COMPORTAMENTO DO CONSUMIDOR: A CURVA DE INDIFERENÇA Sabemos que um consumidor tem suas preferências por determinados produtos, determinadas marcas, determinados serviços. Então, precisamos definir o que denominamos cesta de mercado como o conjunto de mercadorias que satisfazem as necessidades de um consumidor, sabendo que cada consumidor tem a sua própria cesta de mercado. Há, nisso, algumas premissas que devem ser observadas: a. os consumidores podem comparar e ordenar as diferentes cestas de mercado de acordo com as suas preferências; b. essas preferências são transitivas, isto é, se o consumidor prefere A a B e B a C, logo, A é preferível a C; c. os consumidores sempre preferem levar uma quantidade maior (em vez de uma quantidade menor) da mesma mercadoria; d. as preferências dizem respeito à satisfação dos consumidores e, por isso, não levam em conta os preços das mercadorias. As preferências dos consumidores podem ser representadas em uma curva: a curva de indiferença (veja a Figura 1). Nessa curva, são representadas todas as cestas de mercado que, igualmente, satisfazem as necessidades de um 4 consumidor, ou seja, proporcionam o mesmo grau de satisfação ao consumidor. Vamos representar essa curva pela função U = f(x , y), onde: x e y são os bens (produtos ou serviços) que compõem a cesta de mercado; U é a função utilidade (ou grau de satisfação) do consumidor. Figura 1 – Curva de indiferença com cinco cestas de mercado y A D B E C U (função utilidade) x Observe que qualquer ponto sobre a curva da Figura 1 representa uma cesta de mercado que dá a um consumidor o mesmo grau de satisfação. Por essa razão, a curva é denominada curva de indiferença. Nesse exemplo, as cestas A, B, C, de maneira indiferente, dão ao consumidor o mesmo grau de satisfação. Nessa curva de indiferença, a cesta D é preferível à cesta A e a cesta A é preferível à cesta E, dada a premissa de que uma quantidade maior de um bem é sempre preferível a uma quantidade menor desse mesmo bem. Quanto mais longe estiver a cesta da origem dos eixos, maior será a preferência do consumidor. Caso representemos num mesmo par de eixos várias curvas de indiferença, teremos um mapa de indiferença, pois maior satisfação o consumidor terá. Veja a Figura 2. 5 Figura 2 – Mapa de indiferença com três curvas de indiferença y U3 U2 U1 x Observe, na Figura 2, que o grau de utilidade (ou de satisfação) U1 é menor que U2, que é menor que U3. E assim por diante. Consistem em propriedades das curvas de indiferença: a. As curvas de indiferença são negativamente inclinadas (são decrescentes). Cestas com maior quantidade de bens proporcionam maior satisfação ao consumidor. b. As curvas de indiferença não se interceptam. A cesta na curva U2 proporcionaria satisfação maior que uma cesta na curva U1, pois a curva U2 contém mais bens. c. As curvas de indiferença são convexas em relação à origem. Para um mesmo nível de satisfação, o consumidor deve abrir mão de quantidades cada vez menores do bem y, em troca de uma unidade a mais de x. 2.1 Restrições orçamentárias e linha de orçamento Vimos que uma curva de indiferença mostra as preferências do consumidor, mas tal curva não leva em consideração os preços dos bens e serviços que compõem uma cesta de mercado, bem como não leva em consideração a renda que o consumidor precisa ter para adquiri-los. Vamos então analisar, agora, o orçamento do consumidor. Ou seja, precisamos saber qual é a renda de um consumidor e vamos supor, para fins de análise, que toda essa renda será necessária para a aquisição da cesta de mercado que é constituída pelos bens x e y correspondentes. Vamos chamar a renda de R, de qx a quantidade 6 adquirida de x, de qy a quantidade adquirida de y, de px o preço de x e de py o preço de y. Então: px . qx + py . qy = R (ou seja, gasto total = renda total) Graficamente, teremos a denominada linha de orçamento ou isorenda. Veja a Figura 3. Figura 3 – Linha de orçamento ou isorenda qy R/ py px . qx + py . qy = R 0 R/ px qx Importa salientar que se presume para isso que o consumidor gastará sempre o mesmo montante para adquirir as diferentes quantidades de x e de y que compõem a sua cesta de mercado. Vale lembrar que, quando x = 0, teremos qy = R/py;e que, quando y = 0, teremos qx = R/px. Quando x = 0, o consumidor gastará toda a sua renda (R) adquirindo a cesta (0, R/py). Quando y = 0, o consumidor gastará toda a sua renda adquirindo a cesta (R/px, 0). Como exemplo, suponha os dados da Tabela 1 a seguir. Tabela 1 – Linha de orçamento com qx + 4 . qy = 200 CESTAS Gasto = Renda (R) Unidades de x (qx) Unidades de y (qy) A 200 0 50 B 200 20 45 C 200 40 40 D 200 60 35 E 200 80 30 F 200 200 0 7 2.2 Mudança no preço dos bens No exemplo anterior, a nossa linha de orçamento era qx + 4 . qy = 200. Suponhamos, agora, que o preço do bem x caia de 1 para 0,5. A linha de orçamento passa a ser, então, 0,5 . qx + 4 . qy = 200, e sua inclinação da linha sofre um deslocamento. Veja a Figura 4. Figura 4 – Mudança no preço de um dos bens qy 50 1 2 0 200 400 qx É possível que ambos os preços tenham variado. Nesse caso, aumentará o consumo dos bens cujos preços caíram e diminuirá o consumo dos bens cujos preços subiram. Os gráficos assumem, nesse caso, diferentes configurações. TEMA 3 – EFEITOS DE ALTERAÇÕES NA RENDA DO CONSUMIDOR Vamos supor que a renda do consumidor se altera e os preços de x e de y permanecem constantes. Com isso, a linha de orçamento terá um deslocamento paralelo à linha original, ou para a direita, ou para a esquerda, se a renda aumentou ou diminuiu, respectivamente. Como não houve rotação na linha, a inclinação é a mesma e tg permanece constante. Por exemplo, vejamos um cenário em que a renda do consumidor mudou de 200 para 400, em que a linha inicial é representada por L1 e a linha depois da mudança é representada por L2 (Figura 5). 8 Figura 5 – Alterações na renda do consumidor qy y2 y1 L2 L1 0 x1 x2 qx Tínhamos qx + 4 . qy = 200. Então, quando qx = 0, temos que 4 . qy = 200. Logo, qy = 50. Quando qy = 0, temos que qx = 200. Ao aumentar a renda de 200 para 400, temos que qx + 4 . qy = 400. Então, quando qx = 0, temos que 4 . qy = 400. Logo, qy = 100. Quando qy = 0, temos que qx = 400. Observe, no exemplo, que o consumo tanto dos itens x quanto dos itens y aumentou, não porque os preços tenham diminuído, mas porque o consumidor aumentou a sua renda. 3.1 A decisão do consumidor Falamos muito sobre a cesta de mercado. Mas, qual a cesta que dá a maior satisfação a um consumidor? A princípio, é aquela que tem o maior número de itens x e y, mas não podemos nos esquecer de que há um fator limitante: a renda do consumidor. Lembremos que, para a aquisição da cesta de mercado, o consumidor consome totalmente a sua renda, mas nem falta nem sobra rendimento. Vamos então analisar, na Figura 6, qual é a cesta de mercado que maximiza a satisfação do consumidor. 9 Figura 6 – Três diferentes cestas de mercado e uma linha de orçamento qy A• • C B • U3 U2 L1 U1 0 qx Considerando a linha de orçamento L1, observe qual será a sua decisão. Temos três curvas de indiferença: U1 (contendo a cesta A), U2 (contendo a cesta B) e U3 (contendo a cesta C). Sem levar em conta o orçamento ao qual está restrito, o consumidor escolheria a cesta C, pois é aquela que se encontra sobre a curva de indiferença mais distante da origem dos eixos, ou seja, a cesta que contém maiores quantidades de x e de y. A cesta A não é a melhor escolha do consumidor, pois, se ele redistribuir seus gastos, comprando mais de x e menos de y, logo ele alcança a cesta B e esta lhe oferece maior satisfação que aquela, já que está sobre U2. A cesta C não será a escolhida porque, embora ofereça um grau de satisfação maior que as cestas A e B, não pode ser adquirida pelo consumidor em função de sua restrição orçamentária (a cesta C está além da linha L1). Logo, a decisão da compra recairá sobre a cesta B, pois é a que oferece o maior grau de satisfação e está compatível com a realidade orçamentária do consumidor. TEMA 4 – A CURVA DE DEMANDA INDIVIDUAL São os consumidores os geradores de demanda de determinado produto ou serviço. Precisamos, então, conhecer a curva de demanda individual de um consumidor, lembrando que já percorremos um caminho: analisamos a teoria do consumidor. Nessa trajetória, analisamos a curva de indiferença e a linha do orçamento. Na sequência, analisamos, na Figura 6, qual é a escolha ótima de 10 um consumidor. É muito importante você observar que a escolha ótima é a cesta que está no ponto em que a reta de orçamento tangencia a curva de indiferença no plano cartesiano qx x qy. Se supusermos, agora, uma variação no preço de um dos bens, por exemplo, em px, sabemos que haverá uma rotação da linha de orçamento em torno do intercepto daquele bem cujo preço não variou (no caso, em torno de y). Para cada nova linha de orçamento, haverá uma nova cesta ótima de consumo. A união dos diferentes pontos de escolha ótima que surgem depois de ocorridas variações no preço de um dos bens dá origem à curva de preço-consumo, como mostrado na Figura 7. Figura 7 – A curva de demanda individual qy • A Curva de preço-consumo • B C • U3 U2 L1 L2 U1 L3 0 qx1 qx2 qx3 qx px px1 • A px2 • B px3 • C D 0 qx1 qx2 qx3 qx 11 Quando os dados da curva de preço-consumo são projetados para o plano qx x px, ou seja, para o plano cartesiano que contempla a quantidade do bem cujo preço variou e todas as possibilidades de variação do seu preço, encontramos a curva de demanda. Em outras palavras, a curva de demanda registra a quantidade de x que será adquirida em função do nível de preços de x. A curva de demanda é negativamente inclinada, mostrando que, quanto maior o preço, menor será a disposição do consumidor em adquirir x; e, quanto menor o preço, maior será essa disposição. A isso denominamos lei geral da procura. TEMA 5 – DETERMINANTES DA DEMANDA A demanda ou procura por determinado bem x (Dx) é a quantidade desse bem que os compradores desejam adquirir, em determinado período de tempo. Além do preço do bem x (px), a demanda por determinado bem é influenciada por uma série de outros fatores, sendo que os mais relevantes são: a. a renda do consumidor; b. o preço dos bens substitutos do bem x; c. o preço dos bens complementares ao bem x; d. os hábitos e gostos dos consumidores. Tendo em vista que todos esses fatores variam simultaneamente, o que torna difícil a avaliação do efeito de cada um individualmente, assumiremos para a análise da demanda de um bem x apenas seu preço (px), supondo, nesse momento, que todos os demais fatores permanecerão constantes. Assim, temos que: Dx = f (px). Vale observar que variações no preço do bem provocam mudanças na quantidade demandada, sem alterar a curva de demanda. Assim, falar em demanda significa referir-se a toda a curva, sendo que a quantidade demandada diz respeito somente a determinado ponto dessa curva. 5.1 Efeito substituição e efeito renda Verificamos que, se um bem x qualquer obedece à lei geral da procura, sua curva de demanda é negativamente inclinada, evidenciando o fato de que o preço e a quantidade demandada caminham em sentidos contrários. Sempre que o preço de um bem cai, o consumidor, embora sua renda fiqueinalterada, fica relativamente mais rico, já que pode comprar mais daquele bem. A quantidade 12 que ele compra a mais de x, simplesmente porque esse produto ficou mais barato, chama-se efeito substituição. Por que substituição? Porque ele deixa de comprar algumas unidades de y para aproveitar o baixo preço de x. Graficamente, precisamos traçar uma linha de orçamento imaginária (L’1) para entender o quanto o consumidor está disposto a abrir mão de y para aproveitar o bom momento de comprar x, sem nos deixarmos influenciar pelo aumento relativo na sua renda. Veja a Figura 8. Figura 8 – Efeito substituição e efeito renda qy Curva de preço-consumo qy1 • A B qy2 • q’y1 • C U2 L1 L’1 U1 L2 0 qx1 q’x1 qx2 qx Efeito substituição Efeito renda Efeito total px px1 •A px2 •B D 0 qx1 qx2 qx 13 Com o recurso L’1, vemos que o consumidor aumenta seu consumo de x de qx1 para q’x1 e, para não sair da curva de indiferença U1, ele deve abrir mão de alguma quantidade de y, trocando a cesta A pela cesta C. Mas o movimento de demanda não acaba aí. Como o consumidor fica, de fato, relativamente mais rico depois que px cai, ele não só aumenta sua quantidade demandada de x (de q’x1 para qx2), como também aumenta sua quantidade adquirida de y (que passa de q’y1 para qy2). A passagem da cesta C para a cesta B representa o efeito renda. O efeito total da variação em x corresponde à soma dos efeitos substituição e renda e é representado graficamente pela troca da cesta A (escolha inicial) pela cesta B (escolha final). Ocorrem, porém, casos em que a curva de demanda, embora seja decrescente, é bem mais inclinada. Isso significa que, embora o bem em questão atenda à lei geral da procura, seu efeito renda é negativo, ou seja, à medida que o consumidor fica mais rico, ele consome menos do bem que ficou mais barato (no caso, o x) e mais do outro (no caso, o y). Um caso extremo ocorre quando o efeito renda não só é negativo, como também é mais forte do que o efeito substituição, ou seja, o consumidor não substitui um bem que ficou mais caro por outro, cujo preço não tenha se alterado. Quando isso acontece, a curva de demanda deixa de atender à lei geral da procura e passa a ser positivamente inclinada. Os bens cuja quantidade demandada aumenta quando o preço do bem aumenta são chamados bens de Giffen. 5.2 Mudança na renda dos consumidores Sob a ótica da renda, os bens são classificados em normais e inferiores. Um bem é normal quando o aumento na renda dos consumidores aumenta a demanda por esse bem. Um bem é dito inferior se, havendo um aumento na renda, para um mesmo nível de preços p, os consumidores desejarem consumir quantidades menores desse bem. Isso acontece, por exemplo, com carne de segunda. Fenômeno inverso ocorre quando há uma diminuição no rendimento do consumidor. Nesses casos, a curva de demanda se desloca paralelamente. Lembremos que, ao estudarmos o mapa de indiferença, verificamos que, quanto mais distante a curva estiver da origem dos eixos, maior será a satisfação do consumidor. 14 5.3 Mudança nos preços de outros bens De maneira semelhante à variação na renda dos consumidores, movimentos podem ocorrer na demanda quando variam os preços de outros bens, que representaremos por pz. A relação entre o bem x e o bem z pode ser uma das três seguintes formas: 1. z é substituto de x; 2. z é complementar de x; 3. z é um bem de consumo independente de x. Quando x e z são independentes, o preço de z (pz) nada tem a ver com a demanda de x. Por exemplo: feijão e automóveis. Existem bens, entretanto, em que o consumo de um deles exclui o consumo de outro (mesmo que parcialmente). Por exemplo: manteiga e margarina. Quando x e z são substitutos, o aumento no preço de z (Δpz > 0) tornará seu consumo menos atrativo do que o do bem x, fazendo aumentar a demanda por este último. Nesse caso, a curva de demanda do bem x se deslocará para a direita. Analogamente, uma diminuição no preço de z (Δpz < 0) o tornará mais atrativo, deslocando a curva de demanda do bem x para a esquerda. Os bens x e z podem, ainda, ser complementares. Por exemplo: caderno e caneta, pão e manteiga, cama e colchão. Nesse caso, o aumento no preço de z provocará uma diminuição no seu consumo; como o consumo de z está associado ao de x, a demanda deste também diminuirá, deslocando sua curva para a esquerda. Assim, caso o preço de z diminua, a curva de demanda de x se deslocará para a direita. 5.4 Mudança nos hábitos e gostos dos consumidores Muitas vezes, um bem deixa de ser consumido não porque está caro, mas porque não faz parte dos hábitos dos consumidores. Esses hábitos podem ser estimulados ou desestimulados, sobretudo por meio de propagandas e campanhas de publicidade. Sendo assim, um estímulo positivo à compra de determinado bem acrescentará um deslocamento para a direita da curva de demanda e um estímulo negativo provocará um deslocamento para a esquerda. 15 5.5 Deslocamento da curva de demanda A curva de demanda se desloca em relação à sua posição original quando uma daquelas variáveis que supusemos exógenas ao modelo (renda do consumidor, preços dos outros bens e hábitos e gostos) mudar de valor. Quando a mudança no valor de uma dessas variáveis aumentar a demanda por x, a curva Dx se deslocará para a direita. Analogamente, quando a mudança na referida variável diminuir a demanda, a curva Dx se deslocará para a esquerda. Uma síntese dos deslocamentos da curva de demanda pode ser vista no Quadro 1 a seguir. Quadro 1 – Deslocamentos da curva de demanda AUMENTO DA DEMANDA DIMINUIÇÃO DA DEMANDA • Aumento da renda do consumidor • Aumento no preço dos bens substitutos • Diminuição no preço dos bens complementares • Mudança favorável nos hábitos e gostos • Diminuição na renda do consumidor • Diminuição no preço dos bens substitutos • Aumento no preço dos bens complementares • Mudança desfavorável nos hábitos e gostos Assim, verificamos que a primeira teoria na qual se baseia a microeconomia é a teoria do consumidor. Nosso próximo passo será estudar a teoria da firma, que leva em conta o outro lado, ou seja, o agente responsável por produzir bens e serviços. 16 REFERÊNCIAS MONTELLA, M. Micro e macroeconomia: uma abordagem conceitual e prática. São Paulo: Atlas, 2009. AULA 2 ENGENHARIA ECONÔMICA Prof. Nelson Pereira Castanheira 2 TEMA 1 – FATORES DE PRODUÇÃO Anteriormente, estudamos a teoria do consumidor e informamos que a microeconomia se baseia em duas teorias: a do consumidor e a da firma. A teoria do consumidor nos permitiu determinar a curva de demanda por um certo bem, seja ele um produto ou um serviço. Agora, nesta etapa, estudaremos a teoria da firma, que nos permitirá a determinação da curva de oferta. Mas o que é uma firma? Segundo Montella (2009), “A firma é o agente responsável por produzir bens. Antes, contudo, de entender o que se passa dentro das firmas (ou empresas), há que se ter claro o conceito de fatores de produção e de períodos de tempo”. Os fatores de produção são os elementos que, combinados, permitem a produção dos bens. Em economia, classificam-se em: a. Terra (terras cultiváveis, terrenos, florestas e minas); b. Trabalho (mão de obra); c. Capital (máquinas, equipamentos, instalações e matérias-primas).Os fatores produtivos são limitados e, por isso, devem ser combinados de diferentes formas em função do local onde se encontram e da situação histórica. 1.1 Prazo ou período de tempo Em economia, o prazo (ou período) de produção não diz respeito só ao intervalo de tempo, mas, sobretudo, à flexibilidade dos fatores de produção. Usualmente, o prazo é classificado em curtíssimo, curto e longo, da seguinte maneira: a. Curtíssimo prazo é aquele em que todos os fatores de produção são fixos; b. Curto prazo é aquele em que pelo menos um fator de produção é fixo; e c. Longo prazo é aquele em que todos os fatores são variáveis. Aqui, interessa-nos a determinação da curva de oferta no curto prazo. Logo, é a esse período que vamos nos ater. 3 TEMA 2 – ANÁLISE DA FIRMA NO CURTO PRAZO Os fatores de produção, como vimos, são três: terra, trabalho e capital. Para a análise da firma no curto prazo, entretanto, suporemos apenas dois fatores: o trabalho (N) como fator de produção variável e o capital (k), incluindo a capacidade instalada, como fator fixo. Assim, a função de produção pode ser representada por: q = f(N , k) Mas, como o capital é fixo, a função de produção pode ser descrita como: q = f(N) Vamos definir produto total (PT) como o volume produzido em determinado período e em determinado tempo. PT = q Vamos definir, também, produto marginal (PMg) como sendo a variação total proveniente do acréscimo de uma unidade no fator de produção variável (o trabalho). PMg = N PT Observar que, no limite, PMg é igual à derivada primeira da função de produção (PT) em relação à mão de obra (N). Finalmente, vamos definir produto médio (PMe) como a relação entre a quantidade produzida e a quantidade de insumos necessária a essa produção. PMe = N PT Geometricamente, a curva de produção total (PT) cresce até atingir seu máximo (ponto C) e depois decresce como ilustrado na Figura 1. O ponto C é o ponto crítico da curva de produção total. Nesse ponto C, ponto máximo da curva, a derivada primeira da PT é igual a zero. Logo, tendo em vista que a PMg é igual à derivada primeira da PT, quando PT for máxima, a PMg será igual a zero. Antes do ponto C, qualquer acréscimo na mão de obra (N) implicará o aumento da produção (k). Depois desse ponto, qualquer acréscimo na mão de 4 obra implicará a diminuição da produção, uma vez que a capacidade instalada é fixa e não poderá adaptar-se a tanta mão de obra. Figura 1 – Curva de produção total q C B • A• 0 N Observe, na Figura 1, que o ponto A é o ponto de inflexão da curva de produção total, ponto no qual a derivada primeira de PT é máxima e a derivada segunda de PT é igual a zero. 5 Figura 2 – Relação entre as curvas de produção total e de produção marginal q C B • A• 0 N PMg 0 PMg N Tendo em vista que a produção marginal é a derivada primeira da produção total, no ponto A, a PMg será máxima e a PT estará em seu ponto de inflexão, como ilustrado na Figura 2. Antes do ponto A, acréscimos na mão de obra (N) aumentam a produção com retornos crescentes. Depois do ponto A, acréscimos na mão de obra continuarão aumentando a produção, mas com retornos cada vez mais decrescentes. Isso se deve à Lei dos rendimentos marginais decrescentes, que discutiremos a seguir. 2.1 Lei dos rendimentos marginais decrescentes Se adicionarmos quantidades iguais de um fator de produção variável a uma quantidade fixa de outro, os acréscimos na produção total serão inicialmente crescentes e depois decrescentes, podendo assumir, inclusive, 6 valores negativos. Geometricamente, a relação entre a curva de produção total e a curva de produção marginal fica como ilustrado na Figura 2. Comparando a curva superior da Figura 2 com a curva inferior, vemos que, da origem até o ponto A, a firma obteve retornos crescentes. Do ponto A ao ponto C, os retornos continuam positivos, porém decrescentes. Isso pode ser visto na curva inferior, onde se observa a inversão da concavidade da curva de produção total (PT), bem como também se observa a inversão de concavidade da curva de produção marginal (PMg). A partir do ponto C, os retornos passam a ser negativos, pois mesmo que aumentemos a mão de obra, a produção total irá cair, e a produção marginal será negativa. Como a produção média (PMe) é a relação entre o produto total (PT) e a quantidade de insumos (N), ela também obedece à Lei dos rendimentos decrescentes. Observa, na Figura 3, que a PMe aumenta à medida que N aumenta (N é o fator variável), atinge seu máximo e depois cai mesmo com N ainda aumentando. Entretanto PMe nunca se tornará negativa, pois ela é a relação entre duas unidades positivas (PT e N). Ou seja, a PMe se aproximará do eixo horizontal à medida que N aumenta, mas sem jamais tocá-lo. Na Figura 3, o ponto máximo da PMe é representado pelo ponto B, ponto no qual a PMe se igual à PMg (ponto de interseção do gráfico inferior). Saiba mais Rendimento decrescente não é o mesmo que prejuízo. Quando o rendimento é decrescente, ele está caindo, mas não é negativo. O prejuízo, por sua vez, é um rendimento negativo, prejudicial. Vamos analisar a Tabela 1. Estamos supondo uma empresa operando no curto prazo e estamos supondo que suas máquinas e suas instalações são fixas. Lembre-se de que a nossa variável é a mão de obra, ou seja, podemos aumentar ou diminuir o número de funcionários. Qual é a consequência do aumento da mão de obra na produção? Em que estágio uma empresa deve produzir? Para o entendimento, analise a Tabela 1 em conjunto com a Figura 3. 7 Tabela 1 – Produção com um fator de produção fixo PONTO S (figura 3) Capit al (k) Mã o de obr a (N) Produt o total (PT) Produto margin al (PMg) Produt o médio (PMe) 10 0 0 - - 10 1 10 10 10 10 2 30 20 15 A 10 3 60 30 20 B 10 4 80 20 20 10 5 95 15 19 10 6 108 13 18 10 7 112 4 16 C 10 8 112 0 14 10 9 108 –4 12 10 10 100 –8 10 O aumento na mão de obra provocará a seguinte variação na produção: a. no ponto A, quando três funcionários são contratados, a produção marginal é máxima e a produção total passa pelo seu ponto de inflexão, ou seja, de 0 a 60 a produção total aumenta com intervalos crescentes, e de 60 a 112 a produção aumenta, mas com intervalos decrescentes. Nesse ponto, a produção obtida com a entrada de mais um funcionário (ou seja, a produção marginal) ainda é maior que a média produzida (ou seja, a produção média); 8 Figura 3 – Análise do estágio em que a empresa deve produzir q C PT B • A• 0 N PMg PMe PMe 0 PMg N b. no ponto B, quando N = 4, cada funcionário produz, em média, 20 unidades (PMe = 20). Nesse ponto, a PMe é máxima e é igual à PMg. A partir desse ponto, a produção marginal torna-se menor do que a produção na média, ou seja, a PMg assume valores inferiores ao da PMe; c. no ponto C, quando N = 8, a produção total atinge seu máximo e a produção marginal (que é a derivada primeira da produção total) iguala- se a zero. O comportamento da firma pode ser dividido em três estágios: a. o primeiro estágio inicia-se na origem dos eixos e termina no ponto em que PMe é máxima, ou seja, PMe = PMg (ponto B do gráfico). Nesse estágio, está incluído o ponto de inflexão da curva PT, que corresponde ao ponto onde a PMg é máxima. O ponto de inflexão marca o início do 9 retorno (ou rendimento) decrescente daPT. Como nesse estágio a PMe é menor do que a PMg, ele é considerado irracional. A empresa produzindo nesse estágio estará deixando de ganhar. A política a ser adotada nesse caso é a de incrementar o uso do fator de produção variável; b. o segundo estágio inicia-se no ponto em que a PMe é máxima e igual à PMg (ponto B) e termina no ponto C, em que a PMg é igual a zero (ou que a PT é máxima). A PMe passa a ser maior do que a PMg e por isso esse estágio é considerado racional. Nele encontra-se o ponto de otimização da produção; c. o terceiro estágio inicia-se no ponto C, em que a PMg é zero (ou que a PT é máxima). A PMg passa a ser negativa e por isso esse estágio é considerado irracional. Além disso, a PMe continua decrescendo, embora não corte o eixo das abscissas. A empresa produzindo nesse estágio estará perdendo dinheiro. A política a ser adotada é a de diminuir o uso do fator de produção variável. TEMA 3 – TEORIA DOS CUSTOS COM UM FATOR DE PRODUÇÃO FIXO Vimos que a produção engloba não só os fatores de produção, mas também o prazo. Vimos também que, para os bens econômicos, precisamos atribuir um preço. A teoria dos custos relaciona a quantidade produzida, a quantidade de fatores de produção e o preço desses fatores. Continuaremos supondo apenas dois dos fatores de produção: o capital (k) e o trabalho (N). Por se tratar do curto prazo, continuaremos considerando as máquinas e as instalações como fixas e o número de funcionários variável. Qual é o custo total para uma empresa, para determinada quantidade produzida? Numa forma bem simples, o custo total (CT) será igual à soma do custo dos fatores de produção variáveis (ou custo variável, CV), ao custo dos fatores de produção fixos (ou custo fixo, CF). Assim: CT = CV + CF É importante lembrar que os custos variáveis dependem da quantidade produzida. Os custos fixos, não. Veja a Figura 4. 10 Figura 4 – Custo total, custo variável e custo fixo CT CT CV CF CV CF 0 q A Figura 4 ilustra o custo total, o custo variável e o custo fixo, de onde devem ser notadas as seguintes questões: a. quando a empresa não produz nada (q = 0), o custo variável é zero; mas mesmo não produzindo nada (q = 0), a empresa tem que arcar com seus custos fixos, ou seja, para qualquer valor de q, CF é maior que zero; b. a distância vertical entre CT e CV é igual ao valor de CF, ou seja, é igual à distância vertical entre a reta do custo fixo e o eixo horizontal, já que CT = CV + CF; c. a ondulação de CV vem da lei dos rendimentos decrescentes (ou lei dos custos crescentes). Isso quer dizer que num primeiro momento, os custos crescem a taxas decrescentes, e depois a taxas crescentes; d. o CT acompanha a inclinação do CV e o CF é o mesmo, independentemente da quantidade produzida (q). Os custos unitários ou médios de uma empresa que opera no curto prazo podem ser obtidos dividindo-se os componentes da fórmula CT = CV + CF pela quantidade produzida, isto é: q CT = q CV + q CF ou 11 CTMe = CVMe + CFMe Graficamente, temos a Figura 5. Figura 5 – Custo total médio em função do custo fixo médio e do custo variável médio CTMe CVMe CFMe CTMe CVMe CFMe 0 q A Figura 5 ilustra o custo total médio, o custo fixo médio e o custo variável médio. Devem ser notadas as seguintes questões: a. o CFMe é a relação entre uma constante (CF) e uma variável (q). À medida que essa variável (q) aumenta, o CFMe vai diminuindo. Por isso, a curva de custo fixo médio é decrescente; b. as curvas CVMe e CTMe têm formato de U, evidenciando a Lei dos rendimentos decrescentes (ou Lei dos cutos crescentes). Quando a quantidade produzida for infinitamente grande (q = ∞), o CFMe tenderá a zero. Em consequência, CTMe = CVMe. Por isso, na Figura 5, a distância vertical entre as curvas de CTMe e de CVMe vai diminuindo quando a quantidade aumenta Então: q CT = q CV + q CF q → ∞ ou CFMe → 0 12 CTMe = CVMe 3.1 Custo marginal O custo marginal (CMg) corresponde à variação do custo total (CT) proveniente da produção de uma unidade extra do produto. CMg = q CT Em termos matemáticos, CMg é a derivada primeira do CT em relação à quantidade produzida. Assim: CMg = dq dCT = dq CFCVd )( + Como CF é uma constante, um acréscimo na quantidade produzida não altera seu valor. Logo, a derivada do custo fixo em relação a q é igual a zero, e a derivada do custo total torna-se igual à derivada do custo variável: CMg = dq dCT = dq dCV Por conta dessa igualdade, não é necessário distinguir custo total marginal e custo variável marginal. Dizemos apenas custo marginal. A Figura 6 ilustra a curva do custo marginal. Figura 6 – Curva do custo marginal CTMe CMg CVMe CTMe CMg CVMe 0 q 13 TEMA 4 – RELAÇÃO ENTRE PRODUÇÃO E CUSTOS NO CURTO PRAZO Vamos agora analisar a relação entre produção e custos considerando, ainda, o curto prazo. Veja a Figura 7. Quando N = N1, dN dPT (ou PMg) é máxima dq dCT (ou CMg) é mínimo 2 2 dN PTd = 0 (inflexão da PT) 2 2 dq CTd = 0 (inflexão do CT) A relação entre a produção marginal (PMg) e o custo marginal (CMg) pode ser vista por meio do seguinte desenvolvimento: PMg = dN dPT = dN dq (1) ou dq dN = PMg 1 (1’) CMg = dq dCT = dq dCV (2) porque dq dCF = 0 CV = W . N (3) sendo W o salário pago por trabalhador Substituindo (3) em (2), temos: CMg = dq NWd ).( (4) ou CMg = W . dq dN (4’) Substituindo (1’) em (4’), temos: CMg = W . PMg 1 14 Figura 7 – Relação entre produção e custos no curto prazo q CT q3 PT q2 q1 0 N1 N2 N3 N CV CT CF CV CF 0 q1 q2 q3 q PMg PMe PMe PMg CTMe CMg CMg CTMe 0 N1 N2 N3 N 0 q1 q2 q3 q Quando N = N2, PMe é máxima CMe é mínimo PMe = PMg CMe = CMg A relação entre a produção média e o custo variável médio pode ser vista por meio do seguinte desenvolvimento: PMe = N PT = N q (1) ou q = PMe . N (1’) CVMe = q CV (2) 12 CV = W . N (3) sendo W o salário pago por trabalhador. Substituindo (1’) e (3) em (2), temos: CVMe = NPMe NW . . (4) ou CVMe = W . PMe 1 Quando N = N3, PT é máxima dN dPT = PMg = 0 CMg = ∞ A relação entre a produção total (PT) e o custo marginal (CMg) pode ser vista através do seguinte desenvolvimento: CMg = W . PMg 1 (5) Quando PT for máxima PMg = 0 (6) Substituindo (6) em (5), temos: CMg = W . 0 1 ou CMg = ∞ Acrescentando aos dados da Tabela 1, o valor da mão de obra, podemos encontrar a estrutura dos custos da referida empresa, como mostraa tabela 2. 13 Tabela 2 – Produção e custos com um fator de produção fixo PONTOS (Figura 3) Mão de obra (N) Produto total (PT) Produto marginal (PMg) Produto médio (PMe) Salário/ mês (W) Custo variável (CV) Custo marginal (CMg) Custo médio (CMe) 0 0 - - 100 0 - - 1 10 10 10 100 100 10,00 10,00 2 30 20 15 100 200 5,00 6,67 A 3 60 30 20 100 300 3,33 5,00 B 4 80 20 20 100 400 5,00 5,00 5 95 15 19 100 500 6,67 5,26 6 108 13 18 100 600 7,69 5,55 7 112 4 16 100 700 25,00 6,25 C 8 112 0 14 100 800 ∞ 7,14 9 108 -4 12 100 900 - 8,33 10 100 -8 10 100 1000 - 10,00 Saiba mais O ponto máximo de qualquer curva é aquele a partir do qual seus valores decrescem. Logo, o ponto mínimo é aquele a partir do qual seus valores crescem. Assim, aparecendo dois valores iguais, consecutivamente, o mínimo será aquele cujo valor seguinte é maior (e não igual a ele próprio). Pelos valores da Tabela 2, temos que: a. no ponto A, quando três funcionários são contratados (N = 3), a produção marginal é máxima (PMg = 30); a produção total passa pelo seu ponto de inflexão (PT = 60); o custo marginal é mínimo (CMg = W . 1/PMg = 3,3). Nesse ponto, a produção obtida com a entrada de mais um funcionário (ou seja, a produção marginal) ainda é maior que a média produzida (ou seja, a produção média). Isso é o mesmo que dizer que o custo assumido com a produção de mais uma unidade do produto (ou seja, o custo marginal) ainda está abaixo da média (ou seja, o custo médio); b. no ponto B, quando N = 4, cada funcionário produz, em média, 20 unidades (PMe = 20). A PMe é máxima e é igual à PMg. Nesse mesmo ponto, cada unidade produzida custa, em média, $5,00 (CMe = CV/PT = 5,00). O CMe é mínimo e é igual ao CMg; 14 c. no ponto C, quando N = 8, a produção total atinge seu máximo (PT = 112), a produção marginal iguala-se a zero (PMg = 0) e o custo marginal tende a ser infinitamente grande (CMg = ∞). TEMA 5 – CURVA DE OFERTA DA FIRMA Na Figura 5 (curva de custo médio) e na Figura 6 (curva de custo marginal), vimos que as três curvas têm formato de U. Isso se dá por obedecerem à Lei dos rendimentos decrescentes. Vimos, também, que o CMg corta o custo total médio e o custo variável médio em seus pontos mínimos. Vamos adicionar ao gráfico os preços defrontados pela firma. Antes, contudo, atente-se para o fato de que essa é uma firma em concorrência perfeita, o que significa dizer que ela é pequena demais para interferir nos preços. Os preços (p1, p2, p3) já vêm predefinidos do mercado. Veja a Figura 8. Caso os preços subam, a empresa desejará produzir mais para vender mais e consequentemente aumentar a sua receita. A curva do custo marginal nada mais é do que o custo adicional que a empresa incorre justamente por estar aumentando a quantidade produzida. Figura 8 – Curva do custo marginal Custos (p) CMg p3 CTMe CVMe p2 p1 0 q1 q2 q3 q Como analisar a Figura 8? O preço p1 estimula uma produção q1, que custa CMg1. Um preço maior p2 estimulará uma produção maior q2, que custará CMg2. E assim sucessivamente. Ao final, podemos verificar que: 15 a. os preços e os custos marginais têm o mesmo valor para os respectivos níveis de produção; b. a curva de oferta (S) coincide com a curva de custo marginal. Veja a Figura 9. Figura 9 – Curva de oferta (S) Custos (p) S CMg CTMe CVMe 0 q Observe que a curva de oferta (S) inicia no ponto mínimo do CVMe, pois, caso contrário, a firma estaria ofertando sua produção por um preço menor do que custou para produzi-la, o que não faria sentido. 5.1 Determinantes da oferta A oferta de determinado bem x (Sx) é a quantidade desse bem que os vendedores desejam oferecer por determinado período. Mas a oferta não é influenciada apenas pelo preço do bem x (px). Há outros fatores a considerar, dentre os quais: a. preço dos insumos utilizados na produção (pi): alterações nos preços das matérias-primas, da energia e de outros insumos alteram a quantidade de x a ser ofertada no mercado; b. tecnologia (T): inovações tecnológicas que reduzam o custo de se produzir x ou que propiciem sua produção em maiores quantidades ao mesmo custo tornam sua oferta mais abundante; 16 c. preço de outros bens (pz): o agricultor, por exemplo, ao considerar quanto produzirá de milho levará em conta não apenas o preço dele, mas também o preço de uma cultura alternativa, tal como a do feijão. Se o preço deste estiver maior, a oferta de milho certamente diminuirá. Considerando, entretanto, a oferta de um x apenas em relação ao seu preço, temos que: Sx = f (px) Vimos, na Figura 9, que a curva de oferta é positivamente inclinada. Simplificadamente, consideraremos a oferta somente como uma reta. Veja a Figura 10. A curva de oferta é positivamente inclinada, evidenciando a Lei geral da oferta, segundo a qual quando o preço de um bem aumenta, a quantidade ofertada desse bem aumenta, e quando o seu preço diminui a quantidade ofertada também diminui. Como no caso da demanda, variações no preço do bem provocam mudanças na quantidade ofertada, com a curva de oferta permanecendo inalterada. Afinal, falar em oferta significa referir-se a toda a curva, enquanto que falar em quantidade ofertada refere-se a dado ponto dessa mesma curva. Figura 10 – Curva de oferta representada por uma reta px S px2 • B px1 • A 0 qx1 qx2 qx 5.2 Deslocamentos da curva de oferta Analogamente à curva de demanda, a curva de oferta se desloca em relação à sua posição original quando uma daquelas variáveis que supusemos 17 constantes (preço de insumos, tecnologia, preços dos outros bens etc.) muda de valor. Assim, quando a mudança no valor da variável aumentar a oferta, a curva se deslocará para a direita. Quando a alteração no valor da variável diminuir a oferta, a curva se deslocará para a esquerda. Uma síntese dos deslocamentos da curva de demanda pode ser vista no Quadro 1 a seguir. Quadro 1 – Deslocamentos na curva de oferta AUMENTO DA OFERTA DIMINUIÇÃO DA OFERTA • Diminuição no preço dos insumos; • Diminuição no preço dos bens substitutos na produção; • Aumento no preço dos bens complementares na produção; • Mudança tecnológica favorável. • Aumento no preço dos insumos; • Aumento no preço dos bens substitutos na produção; • Diminuição no preço dos bens complementares na produção; • Mudança tecnológica desfavorável. 18 REFERÊNCIAS ANKIW. N. G. Introdução à economia: princípios de micro e macroeconomia. 2. ed. Rio de Janeiro: Campus, 2001. MONTELLA, M. Micro e macroeconomia: uma abordagem conceitual e prática. São Paulo: Atlas, 2009. STIGLITZ, J.; WALSH, C. E. Introdução à microeconomia. Rio de Janeiro: Campus, 2003. TEBCHIRANI, Flávio Ribas. Princípios de economia: micro e macro. 2. ed. Curitiba: Ibpex, 2008. VASCONCELLOS, M. A. S. Economia: micro e macro. 3. ed. São Paulo: Atlas, 2002. VASCONCELLOS, M. A. S.; GARCIA, M. E. Fundamentos de economia. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 2004. AULA 3 ENGENHARIA ECONÔMICA Prof. Nelson Pereira Castanheira 2 TEMA 1 – ISOQUANTA OU ISOPRODUTOEstudamos na microeconomia as curvas de demanda e de oferta, considerando uma firma operando no curto prazo. A partir deste momento, vamos estudar a firma no longo prazo, considerando que ela esteja numa situação de concorrência perfeita. Também tendo em vista o curto prazo, estudamos a teoria dos custos, levando em conta dois fatores de produção: o trabalho (N) como fator variável e o capital (k) como fator fixo. Agora, no longo prazo, não há fatores fixos. Todos poderão variar, mas manteremos a ideia de apenas dois fatores de produção: trabalho e capital. A função de produção de longo prazo, também chamada de isoquanta ou isoproduto, pode então ser representada por: q = f(N , k) sendo N e k variáveis endógenas ao modelo, ou seja, ambas podem variar. E o que é a isoquanta? É a curva que contém todas as combinações dos insumos N e k que resultam em um mesmo voluma de produção (q). A Figura 1 ilustra uma isoquanta. Figura 1 – Isoquanta ou isoproduto k q1 0 N Fonte: Montella, 2009. 3 Cada isoquanta representa um nível de produção (q). Portanto, para diferentes níveis de produção, teremos diferentes isoquantas, que constituem um mapa de isoquantas, como mostrado na Figura 2. Observe que, quanto mais distante estiver a curva da origem dos eixos, maior será o nível de produção. Figura 2 – Mapa de Isoquantas k q3 q2 q1 0 N Fonte: Montella, 2009. A quantidade produzida q1 é menor do que q2, que é menor do que q3, e assim por diante. 1.1 Propriedades das isoquantas Três são as propriedades a considerar nas isoquantas: 1.1.1 Isoquantas são negativamente inclinadas Observe na Figura 3 que as combinações de insumos A, B e C são capazes de gerar a mesma quantidade produzida (q). Combinações à direita (como a D) contêm mais insumos; logo, geram mais produtos. Combinações à esquerda e com menos insumos (como a E) geram menos produtos. 4 Figura 3 – Inclinação das isoquantas k • A • D • B E • • C q 0 N Fonte: Montella, 2009. Se a isoquanta fosse positivamente inclinada, uma combinação envolvendo mais insumos, como a D, geraria o mesmo volume de produtos que uma combinação com menos insumos, como a B. 1.1.2 Isoquantas não podem se interceptar Observe a Figura 4 e perceba que as combinações de insumos A, B e C são capazes de gerar uma quantidade produzida q1 e as combinações D, E e F, por conter mais insumos, são capazes de gerar sempre uma quantidade q2 (maior do que q1), pois elas não se interceptam. 5 Figura 4 – Mapa de isoquantas Fonte: Montella, 2009. 1.1.3 Isoquantas são convexas em relação à origem Ao percorrermos a curva de uma isoquanta de cima para baixo, a produtividade marginal do trabalho vai diminuindo, o que caracteriza uma curva convexa em relação à origem. Na Figura 5, por exemplo, precisamos abrir mão de uma quantidade cada vez menor do fator capital (Δk1 > Δk2 > Δk3) em troca de uma unidade a mais de trabalho, se quisermos manter o nível de produção. Figura 5 – Isoquantas convexas em relação à origem k Δk1 Δk2 Δk3 q 0 N Fonte: Montella, 2009. 6 TEMA 2 – TAXA MARGINAL DE SUBSTITUIÇÃO TÉCNICA (TMST) E RENDIMENTOS DE ESCALA Há situações em que um gestor precisa considerar a possibilidade de substituir um insumo por outro, quando temos dois insumos que podem ser variados, ou seja, utilizar mais de um insumo e menos de outro. A proporção de troca entre insumos é o que denominamos de taxa marginal de substituição técnica (TMST). Em termos matemáticos, a TMST corresponde à inclinação da isoquanta em cada ponto. Como a inclinação é a derivada primeira da curva no ponto, temos: TMSTkN = N k ou TMSTkN = dN dk Ou seja, a TMSTkN é a quantidade de trabalho (N) necessária para substituir uma determinada quantidade de capital (k) sem alterar o volume de produção (q). Observe: a. A TMST é sempre menor que zero porque o aumento no uso de um fator implica na diminuição do outro; b. Em módulo, a TMST diminui sempre que percorrermos a isoquanta no sentido decrescente. Isso, porque à medida que a mão de obra é adicionada ao processo produtivo, sua produtividade (eficiência) diminui. Logo, o gestor abre mão de uma quantidade cada vez menor de capital para obter uma unidade a mais de trabalho. Vamos analisar um exemplo. Suponha uma empresa que produz 500 unidades de determinado produto e que está interessado em encontrar a melhor relação entre capital e trabalho. Observe a Tabela 1 e a Figura 6. Tabela 1 – Produção com dois fatores de produção variáveis PONTOS Produto Total (q) Mão de obra (N) Capital (k) TMST (dk/dN) A 500 1 5 – 7 B 500 2 3 – 2 C 500 3 2 – 1 D 500 4 1,3 – 0,7 E 500 5 1 – 0,3 Figura 6 – Taxa marginal de substituição técnica (TMST) k TMST = – 2 TMST = – 1 TMST = – 0,7 TMST = – 0,3 q = 500 0 1 2 3 4 5 N Observe que, nos pontos de A até E, mantivemos a produção em 500 unidades do produto, mas a TMST, em módulo, diminuiu. 2.1 Rendimentos de escala Quando analisamos uma firma trabalhando no longo prazo, isso pressupõe que ela pode alterar a quantidade de todos os fatores de produção, incluindo o tamanho de suas instalações, se for necessário. Quando a quantidade de insumos aumenta e a produção também aumenta, na mesma proporção, dizemos que o processo produtivo da firma apresentou rendimentos constantes de escala. Quando a produção aumenta numa proporção maior que o aumento da quantidade de insumos, dizemos que o processo produtivo da firma apresentou rendimentos crescentes de escala. Finalmente, quando a produção aumenta numa proporção menor que o aumento na quantidade de insumos, dizemos que o processo produtivo da firma apresentou rendimentos decrescentes de escala. 8 Dizemos que houve economia de escala quando o custo caiu e dizemos que houve rendimento de escala quando a produção aumentou. Observe na Figura 7 que, da curva q1 à curva q3, prevalecem os rendimentos crescentes de escala. Isso, porque os fatores de produção dobram (passam de N = 5 para N = 10 e k passa de 1 para 2) e a produção triplica (q passa de 10 para 30). Da curva q3 até a curva q6, prevalecem os rendimentos constantes de escala, dado que os insumos dobram (com N passando de 10 para 20 e k passando de 2 para 4) e a produção dobra também (q passa de 30 para 60). A curva q6, por fim, marca o início dos rendimentos decrescentes de escala, uma vez que de q6 até q8 a mão de obra e o capital dobram (N passa de 20 para 40 e k passa de 4 para 8) e a produção aumenta apenas em 1,33 (q passa de 60 para 80). Figura 7 – Rendimento de escala k 8 q8 = 80 q7 = 70 4 3 q6 = 60 2 q5 = 50 q4 = 40 1 q3 = 30 q2 = 20 q1 = 10 0 5 10 15 2040 N Fonte: Montella, 2009. 9 2.2 Teoria dos custos com todos os fatores de produção variáveis Cada firma, ou seja, cada empresa tem a sua própria escala. Em outras palavras, tem o seu tamanho. Para cada tamanho da firma há uma diferente estrutura de custos. Quando analisamos uma firma trabalhando no curto prazo, ela não tem a opção de escolher com qual curva de custo médio deseja operar. Em outras palavras, ela só pode escolher qual a melhor quantidade a ser produzida em função da sua estrutura de custos. Mas estamos agora analisando uma firma operando no longo prazo, ou seja, com todos os fatores de produção podendo variar, inclusive o tamanho da sua planta. Nesse caso, a firma pode escolher qual é a curva de custo médio que deseja assumir, mas certamente há uma curva ideal. A curva ideal, no caso, é aquela cujo ponto mínimo coincide com o ponto mínimo da curva de custo médio de longo prazo, também chamada de curva envoltória, por envolver as várias curvas de curto prazo. TEMA 3 – ESTRUTURAS DE MERCADO Em conteúdos anteriores, por várias vezes mencionamos a palavra mercado. Naquela ocasião, definimos o que vem a mercado da seguinte maneira: “Mercado é um local em que compradores (lado da procura) e vendedores (lado da oferta) realizam transações. É a interação entre as forças de oferta e de procura. Observe que esse local pode ser um ambiente físico ou um ambiente virtual”. E o que vem a ser a estrutura de mercado? São as características de cada mercado em função do número de compradores e de vendedores, da diferenciação ou homogeneidade dos produtos transacionados, dentre outras características. 3.1 Concorrência perfeita No início desta etapa, mencionamos uma firma que trabalha numa situação de concorrência perfeita. Isso significa que a firma está operando em um mercado em que há infinitos compradores e infinitos vendedores, de tal forma que um deles, isoladamente, não consegue afetar o preço do mercado. A concorrência perfeita pressupõe, ainda, que todos os produtos, de todas as empresas, são homogêneos, ou seja, são padronizados. Há livre entrada e 10 saída de empresas e, dada a transparência do mercado, há pleno conhecimento, pelos compradores e vendedores, de tudo o que se refere às fontes supridoras, ao processo de produção em si, aos níveis de oferta etc. Trata-se, portanto, de um cenário totalmente teórico. As estruturas de mercado vão da concorrência perfeita ao monopólio, num crescente controle competitivo, como mostra a Figura 8. Ainda na concorrência perfeita, existindo um grande número de vendedores e o produto sendo homogêneo, nenhum vendedor conseguirá vender o seu produto por um preço maior do que o preço de mercado, porque o comprador simplesmente fará a aquisição numa outra empresa concorrente. Analogamente, existindo um grande número de consumidores, nenhum comprador conseguirá comprar o produto por um preço inferior ao de mercado, porque o vendedor sabe que, se não vender para ele, venderá para outro. Figura 8 – Grau de controle competitivo das estruturas de mercado pequeno elevado Quando se fala em concorrência perfeita, há que se lembrar ainda da mobilidade dos fatores de produção, os quais estão livres para se mover de uma empresa para outra, o que significa que não há privilégios ou maiores dificuldades para a obtenção de matérias-primas e que as habilidades exigidas dos trabalhadores podem ser facilmente adquiridas, sem grandes custos de aprendizado. 3.2 Monopólio O monopólio é a estrutura de mercado que se encontra no extremo oposto da concorrência perfeita. Sua principal característica é a existência de uma única firma vendendo um produto que não tenha substitutos próximos. Nesse caso, o único vendedor tem poder absoluto para fixar o preço que lhe for mais GRAU DE CONTROLE COMPETITIVO MONOPÓLIO E MONOPSÔNIO OLIGOPÓLIO E OLIGOPSÔNIO CONCORRÊNCIA MONOPOLÍSTICA CONCORRÊNCIA PERFEITA 11 conveniente. Outra característica do monopólio é a existência de barreiras que impedem o surgimento de competidores que possam abalar a posição do monopolista. Essas barreiras dizem respeito: a. à existência de economias de escala; b. ao controle sobre o fornecimento de matérias-primas; c. à posse de patentes; e d. à concessão, em alguns casos, do status de monopólio legal. 3.3 Monopsônio O monopsônio é uma estrutura de mercado análoga ao monopólio, em que existe apenas um único comprador. Por exemplo, imagine uma região em que há um número expressivo de pequenos produtores de leite e apenas uma grande usina onde esse leite pode ser pasteurizado. A usina será a única opção de venda para os produtores. Assim, ela terá condições de impor os preços de compra que lhe convém. 3.4 Oligopólio O oligopólio é a situação de mercado em que existe um pequeno número de vendedores ou em que, apesar de existir um grande número de vendedores, uma pequena parcela destes domina a maior parte do mercado. Por exemplo, a indústria automobilística e a indústria de bebidas. Quanto ao controle sobre os preços, os oligopolistas, por serem poucos, podem se unir para evitar a concorrência entre eles e para impor um preço ao mercado. 3.5 Oligopsônio O oligopsônio é uma estrutura de mercado análoga ao oligopólio, sendo que o domínio do mercado está nas mãos de um pequeno número de compradores. A indústria automobilística, por exemplo, que é constituída por um pequeno número de empresas, tem um poder oligopolista em relação à indústria de autopeças, uma vez que é responsável por um grande volume de compras da produção desta última. 12 3.6 Concorrência monopolística A concorrência monopolística, por fim, é uma estrutura que mescla o grande número de vendedores (típico da concorrência perfeita) com a diferenciação do produto (típica do monopólio). TEMA 4 – EQUILÍBRIO DA FIRMA Dizemos que um agente econômico está em equilíbrio quando ele se encontra em uma situação confortável e dela não pretende sair. De forma análoga, dizemos que uma firma está em equilíbrio, quando consegue maximizar o seu lucro total (LT). No ponto em que o Lucro Total alcançar seu valor máximo, o Lucro Marginal (LMg) será igual a zero. Lembrar que, em termos matemáticos, o Lucro Marginal corresponde à derivada primeira do Lucro Total. Assim: LT é máximo q LT = LMg = 0 Quando uma firma atinge seu nível máximo de lucro, uma unidade produzida a mais proporciona um lucro menor do que o obtido anteriormente. O Lucro Total corresponde a tudo o que a empresa recebeu pela produção e pela venda de seus produtos, menos tudo o que ela gastou para produzi-los, ou seja, o Lucro Total é igual à Receita Total menos o Custo Total. LT = RT – CT Se considerarmos a receita e o custo relativos à produção de mais uma unidade do produto, encontraremos seus valores marginais: q LT = q RT – q CT ou LMg = RMg – CMg A quantidade ótima a ser produzida pela firma corresponde àquela em que a firma maximiza seu Lucro Total, ou seja, àquela que torna o Lucro Marginal igual a zero. Pela equação anterior, quando LMg for igual a zero, RMg será igual a CMg. LT é máximo LMg = 0 RMg = CMg 13 TEMA 5 – CURVA DE DEMANDA PARA UMA FIRMA EM CONCORRÊNCIA PERFEITA Ainda em conteúdos anteriores, estudamos a curva de demanda por um bem, seja ele um produto ou um serviço. Vale lembrar que por demanda de um bem se entende a quantidade desse bem que os compradores desejam adquirir em função do seu preço. Pela lei geral da demanda, quanto mais caro estiver um bem, mais difícil será encontrar pessoas dispostas a pagar por ele. Em outras palavras, quando o preço de um bem sobe, a quantidade demandada diminui, e quando o preço cai, a quantidade demandaaumenta. Por isso, a curva de demanda (D) é negativamente inclinada, como na Figura 9. Figura 9 – Curva de demanda negativamente inclinada p D 0 q Anteriormente, estudamos a curva de oferta de um bem, ou seja, a curva de oferta dos produtos e serviços que as firmas desejam vender em função do seu preço. Pela lei geral da oferta, quanto mais alto estiver o preço de um bem, maior será o lucro da firma que o produz. Em outras palavras, quando o preço de um bem sobre, a quantidade ofertada sobe, e quando o preço cai, a quantidade ofertada cai. Por isso, a curva de oferta é positivamente inclinada, como na Figura 10. Figura 10 – Curva de oferta positivamente inclinada p S 0 q 14 Ao colocarmos as duas curvas, demanda e oferta, em um mesmo par de eixos ortogonais, temos que o equilíbrio de mercado, em concorrência perfeita, é dado pela interseção das forças de oferta e de demanda (ponto E), como na Figura 11. Figura 11 – Equilíbrio de mercado em concorrência perfeita p S E D 0 q Vimos que uma firma em concorrência perfeita, em separado, não consegue alterar o preço que foi estipulado pelo mercado. Isso, porque ela é tão pequena quanto um átomo diante do universo e, por isso, o mercado em concorrência perfeita é também chamado de mercado atomizado. Nesse caso, de concorrência perfeita, uma firma analisada individualmente tem como curva de demanda uma reta horizontal, correspondente ao preço praticado pelo mercado, paralela ao eixo horizontal. Veja a Figura 12. Figura 12 – A demanda para a firma individual p p S p E p D D 0 q 0 q O equilíbrio de uma firma em concorrência perfeita será aquela posição de conforto para a firma, ou seja, aquela posição da qual a firma não deseja sair. MERCADO FIRMA INDIVIDUAL 15 REFERÊNCIAS MANKIW. N. G. Introdução à economia: princípios de micro e macroeconomia. 2. ed. Rio de Janeiro: Campus, 2001. MONTELLA, M. Micro e macroeconomia: uma abordagem conceitual e prática. São Paulo: Atlas, 2009. STIGLITZ, J.; WALSH, C. E. Introdução à microeconomia. Rio de Janeiro: Campus, 2003. TEBCHIRANI, F. R. Princípios de economia: micro e macro. 2. ed. Curitiba: Ibpex, 2008. VASCONCELLOS, M. A. S. Economia: micro e macro. 3. ed. São Paulo: Atlas, 2002. VASCONCELLOS, M. A. S.; GARCIA, M. E. Fundamentos de economia. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 2004. AULA 4 ENGENHARIA ECONÔMICA Prof. Nelson Pereira Castanheira 2 TEMA 1 – AGENTES ECONÔMICOS E POLÍTICA ECONÔMICA Estudamos bastante a microeconomia, a parte da economia que estuda a determinação dos preços dos bens e serviços. A partir de agora vamos estudar a macroeconomia. Mas o que é macroeconomia? É a parte da economia que estuda o montante da produção dos bens e serviços e a distribuição da renda por entre os agentes econômicos. Veremos que, pelo foco da macroeconomia, o bem-estar material será tanto mais elevado quanto mais perto estiver a economia da utilização plena de seus recursos (pleno emprego). 1.1 Agentes econômicos Agentes econômicos são os atores envolvidos nas atividades de produção, circulação, distribuição e consumo dos bens e serviços. Classificam-se em empresas, famílias, governo e resto do mundo. As empresas são as pessoas jurídicas encarregadas de produzir os bens e serviços. A produção é realizada por meio da combinação dos fatores produtivos que pertencem às famílias e que são cedidos por estas mediante uma remuneração (Reis, 2020). As famílias são as pessoas físicas, donas dos fatores de produção, que utilizam a renda originária da cessão desses fatores para comprar os bens e serviços que as empresas produzem e que satisfazem às suas necessidades (Reis, 2020). O governo inclui todas as organizações que estão sob o controle do Estado, nas suas esferas federal, estadual e municipal e que prestam serviços tais como os de defesa da soberania nacional, de administração da justiça, de educação gratuita, segurança, saúde etc. (Reis, 2020). O governo não tem por objetivo auferir lucro com esses serviços e, por isso, as empresas públicas e as sociedades de economia mista, das quais o Governo seja sócio ou acionista, por visarem ao lucro, são incluídas entre as empresas. O resto do mundo ou setor externo é composto por todas as pessoas e instituições não residentes com que os residentes transacionam (Reis, 2020). Em outras palavras, o resto do mundo é composto pelas famílias, empresas e governo dos outros países. 3 1.2 Rendas Na matemática financeira, definimos rendas como uma sucessão de pagamentos, de recebimentos ou de depósitos (Castanheira, 2005). Em economia, rendas tem outra conotação: segundo Montella (2014), são os preços pagos pela utilização dos fatores de produção (terra, trabalho e capital). Com esse conceito, verificamos que os proprietários de terra e de seus recursos têm o direito de receber aluguéis. Os trabalhadores (ou seja, a mão de obra) recebem salários. Os donos de capital emprestam dinheiro e recebem juros, assim como aqueles que gerenciam empresas recebem os lucros (Montella, 2014). Conforme Tebchirani (2008), enquanto a microeconomia amplia detalhes de mercados específicos para analisá-los, a macroeconomia simplifica particularidades e analisa suas inter-relações, procurando visualizar o conjunto. A macroeconomia analisa como se determina a produção total de bens (produtos ou serviços) e o emprego total dos recursos. A macroeconomia ainda analisa as variáveis agregadas, tais como índices de preços, nível de produção, nível de emprego, o que influencia na flutuação dos índices, bem como relações funcionais: a relação entre o nível de salários e a aquisição de bens de consumo, o nível da taxa de juros e a determinação do volume de investimentos em máquinas e equipamentos, a influência da taxa de câmbio no nível de importação e exportação, dentre outros. 1.3 Política econômica A política econômica envolve uma série de ações tomadas pelo governo e que visam o atingimento de metas, seja no município, no Estado, no Brasil ou internacional. Essas medidas, dentre outras coisas, pretendem melhorar o padrão de vida da população, visando o crescimento sustentável e uma estabilidade na economia, como a geração de empregos ou o aumento da produção ou o controle da inflação. São as chamadas variáveis macroeconômicas e algumas flutuam juntas, como a produção e o emprego. Alguns conflitos inevitáveis são enfrentados ao se tomar uma medida macroeconômica. Por exemplo, ao se aumentar a produção em determinado período, poderemos gerar pressões por aumentos de preços, geralmente nos setores fornecedores de insumos básicos como o aço e as embalagens. Dessa forma, as decisões macroeconômicas 4 devem contemplar a manutenção das taxas de crescimento da produção, com elevação dos preços ou a redução do crescimento para conter as pressões inflacionárias. Cabe à análise macroeconômica estabelecer relações de causa e efeito, além de estimar custos e benefícios de cada alternativa de política econômica. Entretanto, segundo Mankiw (2001), a decisão final sobre o curso de ação a ser seguido, diante de várias prioridades é uma questão política, Os principais objetivos da política macroeconômica são: a. Alto nível de emprego; b. Estabilidade dos preços; c. Crescimento da produção; d. Distribuição equitativa da renda (Mankiw, 2001). Questões relativas ao nível de emprego e à estabilidade dos preços são consideradas conjunturaisou de curto prazo, enquanto o crescimento da produção e a distribuição da renda (equidade) envolvem aspectos estruturais de longo prazo (Vasconcellos, 2002). 1.4 Instrumentos de política macroeconômica A política macroeconômica tem instrumentos que auxiliam no alcance dos quatro objetivos citados anteriormente. São quatro as políticas a considerar: a. Política Fiscal – controle do orçamento público (receitas e gastos do setor público); b. Política Monetária – controle da moeda, do crédito e da taxa de juro; c. Política Cambial – controle do ingresso e da saída de moeda estrangeira, bem como da formação da taxa cambial; d. Política Comercial – definição das práticas de comércio internacional, dos mecanismos de incentivo às exportações e do relacionamento comercial com os demais países. TEMA 2 – ESTRUTURA DA ANÁLISE MACROECONÔMICA Ao estudarmos a microeconomia, vimos o que vem a ser mercado. De forma simples, o mercado é a interação entre as forças de oferta e de procura. Naquele momento, estudamos o mercado de bens. 5 Agora se trata da macroeconomia, e o mercado a ser estudado não é único, por isso estudaremos também o mercado de fatores de produção, o mercado monetário e o mercado de divisas. Ainda segundo Mankiw (2001), as principais variáveis macroeconômicas são determinadas nos quatro principais mercados: o de bens e serviços, o de trabalho, o financeiro e o de câmbio. O que levamos em conta no mercado de bens e serviços? Nesse mercado consideramos o nível de produção, o índice geral de preços, a capacidade instalada em uma firma, o nível de emprego e o comportamento não só dos consumidores, mas também da firma, do governo e do setor externo. O que levamos em conta no mercado de trabalho? Nesse mercado é importante considerar o nível de emprego, o nível de produção desejado, qual é a população economicamente ativa e quanto recebem de salário os trabalhadores dos diversos setores da economia. O que levamos em conta no mercado financeiro? Nesse mercado é importante variável a taxa de juros, o volume de transações nacionais e internacionais, o Banco Central e os bancos comerciais. O que levamos em conta no mercado de câmbio? Temos as taxas de câmbio, as exportações e o ingresso de capital estrangeiro, bem como as importações e a saída de capital estrangeiro. 2.1 Do PIB ao PNB De forma alternativa, a produção pode ser medida pela estatística dos bens e dos serviços produzidos em determinado período. Nesse caso, o valor da produção nacional é avaliado em relação aos preços de mercado, isto é, inclui o valor dos impostos indiretos (ICMS, IPI) incidentes sobre as transações, correspondendo ao que denominamos produto interno bruto (PIB). Por meio de diversas metodologias, são também calculados os índices de preços (IPCA, INPC, IGP-M, IGP-DI), que medem variações médias de preços. E o que é o PIB? O produto interno bruto representa a soma, em valores monetários, de todos os bens e serviços finais produzidos numa determinada região, seja ela uma cidade, um estado, uma região geográfica, ou um país, num determinado período, seja ele um mês, um trimestre, um ano ou qualquer outro intervalo de tempo. O PIB é, portanto, em macroeconomia, um indicador utilizado para mensurar a atividade econômica de uma região. 6 Observe que a contagem do PIB nós só consideramos os produtos finais. Ou seja, excluímos todos os bens de consumo intermediário (os insumos), para não contarmos duas ou mais vezes um mesmo valor que foi gerado na cadeia de produção. Um determinado país recebe e envia fluxos de recursos de/para outros países, gerando o que denominamos de fluxos internacionais de rendimentos fatoriais (remessas e ingressos de lucros, juros e outros rendimentos). Ao valor líquido dessas rendas denominamos renda líquida do exterior (RLE). RLE = renda recebida do exterior – renda enviada para o exterior Somando o RLE ao valor do PIB, obtemos o valor do produto nacional bruto (PNB), isto é, a renda (produção) de brasileiros, não importando onde tenha sido gerada: PNB = PIB + RLE Portanto, o que diferencia o PNB do PIB é a RLE. Assim, caso um país possua empresas atuando em outros países, mas proíba a instalação de transnacionais no seu território, terá uma renda líquida enviada ao exterior negativa. Pela fórmula: PNB = PIB – RLE 2.2 Valores nominais do PIB O PIB nominal é medido em relação aos preços do momento em que a renda é obtida, sendo expresso normalmente em períodos anuais. Levando-se em conta a inflação (aumento dos preços), o valor do PIB nominal é ajustado para diferentes períodos, a preços que prevalecem em uma determinada data, o que exige a aplicação de índices médios de preços, divulgados em jornais e revistas especializadas (INPC, IPCA, IGP-M, IGP-DI). Veja a Tabela 1. Tabela 1 – Produto Interno Bruto (PIB) nominal no Brasil de 2011 a 2021 Ano PIB nominal (em trilhões de Reais) 2011 2,616 2012 2,465 2013 2,473 7 2014 2,456 2015 1,802 2016 1,796 2017 2,064 2018 1,917 2019 1,878 2020 1,445 2021 8,0 (*) (*) Previsão do Ipea. Fonte: IPEA, [S.d.]. Percentualmente, nesse período de 2011 a 2021, quanto cresceu ou quanto decresceu o PIB no Brasil? Veja a resposta na Tabela 2. Tabela 2 – Produto Interno Bruto (PIB) no Brasil (%) de 2011 a 2021 Ano PIB brasileiro 2011 3,97 2012 1,92 2013 3,00 2014 0,50 2015 - 3,55 2016 - 3,31 2017 1,06 2018 1,12 2019 1,14 2020 - 4,1 2021 4,5 (*) (*) Previsão do Ipea. Fonte: IBGE, [S.d.]. O valor do PIB considera uma estimativa de atividades informais, mas omite algumas informações, as quais tornariam os dados mais realistas. Embora de difícil praticidade, pois não se trata de bens e serviços transacionados no mercado, estimativas do valor da poluição, da deterioração do meio ambiente, de trabalhos domésticos e de atividades não declaradas e mesmo de lazer são dados 8 relevantes e não considerados, ou considerados de forma limitada (Mankiw, 2001). 2.3 Determinação da renda Como podemos perceber nas Tabelas 1 e 2, o PIB brasileiro vem apresentando acentuadas oscilações ao longo dos anos. A taxa de desemprego, por sua vez, que apresentava tendência de queda até 2014, apresentou crescimento de 2015 a 2020, agrado pela pandemia do coronavírus, acarretando um motivo de grande preocupação para a sociedade. Acredita-se que, a partir de 2021, a tendência é que haja novamente uma queda gradativa do percentual de desempregados no Brasil. Veja a Tabela 3. Tabela 3 – Taxa de desemprego no Brasil de 2011 a 2021 Ano % de desempregados 2011 6,0 2012 7,0 2013 6,9 2014 6,7 2015 8,5 2016 11,7 2017 13,2 2018 12,8 2019 12,6 2020 13,4 2021 11,6 (*) (*) estimado. Fonte: IBGE, [S.d.]. Durante muitos anos do pós-Segunda Guerra, a economia brasileira apresentou vigorosas taxas de crescimento. A partir da década de 1980, porém, passou a demonstrar resultados insatisfatórios, com repercussões negativas sobre a ocupação de mão de obra. Como causas desse baixo desempenho, podemos apontar a inadequada gestão macroeconômica, os desequilíbrios nas 9 contas externas, a instabilidade do câmbio, os déficits no orçamento público, as altas taxas de inflação e as descontinuidades provocadas por violenta modificação nos padrões tecnológicos e organizacionais das empresas, entre outras (Goldberg, 2004). Por que existe flutuação na produção e na taxa de emprego? Dois paradigmas procuram explicar esse fenômeno: a. O paradigma clássico-liberal, voltado às questões estruturais de longo prazo relativas à determinação da oferta agregada; b. O paradigma keynesiano, com perspectiva de curto prazo, direcionado às questões conjunturais determinantes da demanda agregada. TEMA 3 – ECONOMIA CLÁSSICA DO PLENO EMPREGO Mencionamos que há dois paradigmas que
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