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EBOOK_HISTORIA_DO_FEMINISMO_parte4

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E - B O O K B P A H I S T Ó R I A D O F E M I N I S M O
1
CURSO 
“A HISTÓRIA DO FEMINISMO”
 COM PROFESSORA ANA CAMPAGNOLO
De acordo com o senso comum, o feminismo surgiu como um 
movimento legítimo que buscava igualar os direitos de homens e 
mulheres, tendo se pervertido somente depois.
Ao olharmos para o passado, não é esta a história que ele nos con-
ta. Nesta aula, Ana Campagnolo corrige esta situação ao explicitar 
uma série de mitos e mentiras que foram disseminadas a respeito 
do início do feminismo. 
Ao final desta aula, espera-se que você saiba: como as mulheres 
adentraram na vida política; quais movimentos marcaram a luta 
pelo direito ao voto feminino; quais são os dois grandes mitos a 
respeito da luta pelo voto. 
BONS ESTUDOS! 
AULA 04 - SINOPSE
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
#44
E - B O O K B P A H I S T Ó R I A D O F E M I N I S M O
3
Sejam todos bem-vindos à nossa quarta aula do curso sobre femi-
nismo. Para poder encerrar na aula de hoje o assunto da primeira onda do 
movimento feminista, vamos recapitular juntos o conteúdo visto até aqui. 
Na primeira aula, nós tratamos do protofeminismo, o qual antecedeu 
o feminismo definido com exatidão. Nós começamos a nossa análise em 
1792. Desta época, abordamos principalmente as obras de Mary Wollstone-
craft e outros revolucionários sexuais, como Marquês de Sade e William 
Godwin, marido de Mary. Além disso, discutimos como a origem do mov-
imento feminista está inteiramente relacionada com a revolução sexual, a 
ponto de podermos dizer que ambas são a mesma coisa. Desde os seus 
primeiros passos, do período da Revolução Francesa até hoje, o movimento 
está intrinsecamente ligado às questões de moralidade, de combate à 
religião, de um comportamento anti-clerical e anti-casamento.
Na nossa segunda e terceira aulas, nós nos concentramos na inserção 
da mulher nos espaços públicos, no mundo do trabalho. A partir da presente 
aula, também veremos como ocorreu a sua inserção no mundo da política. 
Esses três encontros são dedicados à primeira onda do movimento femi-
nista, que começa em 1848 - mesmo ano em que Marx publica o “Manifesto 
Comunista” -, com a primeira Conferência de Mulheres em Seneca Falls, 
nos Estados Unidos, que visava discutir os direitos femininos. Este é um ano 
importante porque marca bem o início da primeira onda do movimento 
feminista, que, de acordo com o senso comum, buscava o reconhecimento 
de direitos civis. 
Na aula de hoje, vamos estudar a questão do sufrágio, da luta das 
mulheres pelo direito ao voto. Em outros termos, nós nos focaremos em 
compreender como aconteceu a inserção da mulher no mundo político. 
Apenas para lembrar, nós já tratamos da inserção da mulher no 
mundo do trabalho. Na segunda aula, expus principalmente quais foram 
INTRODUÇÃO
E - B O O K B P A H I S T Ó R I A D O F E M I N I S M O
4
as razões que levaram as mulheres a adentrar o mundo do trabalho, esta-
belecendo uma comparação resumida entre a situação do labor desde 
a Antiguidade até a Revolução Industrial. Na nossa terceira aula, revimos 
esse mesmo contexto de inserção da mulher no mercado de trabalho, mas 
enfocamos o pensamento marxista e o casamento desta ideologia com a 
ideologia feminista, representado de uma forma excepcional pela pessoa 
da Alexandra Kollontai, a qual defendia uma revolução feminista, o fim da 
família e uma sociedade socialista-marxista. Também elenquei o pensa-
mento de Lênin, Trotsky, Stalin, essas personalidades envolvidas na questão 
de acabar com a família, e por que isto é a luta do movimento feminista. 
Novamente, continuaremos a tratar da revolução sexual pois um dos 
objetivos deste curso é demonstrar como o movimento feminista apresenta 
mais relação com a revolução moral, com a revolução nos costumes, com 
a revolução sexual propriamente dita, do que com a conquista de direitos 
civis ou com a luta das mulheres contra violência. A conquista de direitos 
civis e a luta das mulheres contra a violência são bandeiras marginais, em 
alguns momentos, até dispensáveis, dentro do movimento feminista.
2. SOBRE O TRABALHO
Para findar o tópico do trabalho, quero trazer uma citação de um 
dos melhores livros para entender como as mulheres sempre estiveram 
em relativa condição de vantagem a respeito do universo laboral. O livro, 
que se chama “Sexo Privilegiado: O fim do mito da fragilidade feminina”, 
foi escrito por Martin L. Van Creveld, um israelense, historiador de Guerra. 
Embora a guerra seja seu tema predileto, Creveld acabou escrevendo essa 
obra em que compara a situação dos homens e das mulheres ao longo 
do tempo, desde a Antiguidade até os dias de hoje. O livro foi publicado 
nos anos 2000 e infelizmente não há mais novas edições. Na página 162, 
na conclusão do capítulo sobre trabalho - que também será o fim da nossa 
E - B O O K B P A H I S T Ó R I A D O F E M I N I S M O
5
exposição sobre trabalho, para podermos falar sobre política e voto -, Martin 
nos diz o seguinte:
“As mulheres casadas, em menor grau, as solteiras, tendem a desem-
penhar tarefas mais fáceis quando se trata de trabalhar. O que acontece 
quando as mulheres não têm esses privilégios pode ser ilustrado pelo des-
tino dos kibutz ou da União Soviética. No último caso, o país literalmente 
entrou em colapso”. 
Nós comentamos sobre o que aconteceu na União Soviética após a 
inserção da mulher no mercado de trabalho e a vigência de uma legislação 
feminista. O resultado foi a proliferação de prostitutas e de meninos de rua. 
A situação atingiu um nível de calamidade que forçou Stalin a intervir e ret-
roceder nas reformas que haviam sido feitas. Os kibutz eram comunidades 
israelenses que viviam de subsistência da agricultura, nas quais homens e 
mulheres eram tratados de forma igual. Os kibutz também não prosper-
avam, vieram a falir. Esses são alguns exemplos que coadunam com o que 
já comentamos sobre o trabalho. 
Martin prossegue:
“No que diz respeito ao trabalho, as mulheres sempre desfrutaram 
de mais privilégios que os homens. A raiz dessa diferença de tratamento 
está nas características biológicas de ambos os sexos. Enquanto o trabalho 
era considerado um fardo, as mulheres, como os homens, faziam o possível 
para evitá-lo, mas, ao contrário dos homens, contavam com a ajuda dos 
parentes do sexo masculino”. 
Os homens costumavam não ter essa opção. Na verdade, até hoje 
costumam não tê-la. Os pensadores socialistas e as feministas declaram 
que o trabalho é um direito e um privilégio, mas a situação permanece fun-
damentalmente a mesma. Martin complementa: 
“Compreensivelmente, a maioria das mulheres compelidas a tra-
balhar por circunstâncias econômicas continua a encarar o trabalho como 
um fardo. Como as estatísticas mostram, as mulheres costumam aproveitar 
E - B O O K B P A H I S T Ó R I A D O F E M I N I S M O
6
a primeira oportunidade para fugir do trabalho.”.
Isso significa que, se a mulher puder trocar um trabalho de 40 horas 
semanais por outro de 20 horas, fará isso. As mulheres que podem trocar 
um trabalho mais difícil por outro mais fácil, sempre fazem isso. Mais do 
que isso: quando podem, em situações de maior privilégio e vantagem, 
simplesmente param de trabalhar e passam a ser sustentadas por seus 
maridos. Esta é uma condição que se estende desde a Antiguidade e per-
siste até hoje, e, evidentemente, é uma possibilidade que existe muito mais 
para as mulheres do que para os homens. Os homens apresentam uma 
chance bem mais remota de parar de trabalhar. Aliás, parece que já nascem 
sabendo que terão de trabalhar até a aposentadoria e que, mesmo na apo-
sentadoria, terão que pensar na esposa, nos filhos, nos netos. 
Martin ainda afirma que:
“Quanto às mulheres que trabalham sem precisar, em sua maioria, 
elas também mantiveram os privilégios. A saber: desempenhar tarefas 
leves e em menor quantidade, o direito de abandonar o empregoquando 
bem entender, o direito de se aposentar mais cedo, e como cereja do bolo, 
o direito de afirmar hipocritamente que, ao contrário dos homens, o que 
lhes interessa no trabalho não é o dinheiro, mas as oportunidades de cresci-
mento pessoal.”. 
Para encerrar de vez este tópico do trabalho, vou listar algumas per-
guntas para que você possa pensar a respeito deste tema. Na aula ante-
rior, eu recomendei a leitura de três livros do Chesterton para entender a 
condição das mulheres nas décadas de 1910 e 1920. Uma das obras era “O 
que há de errado com o mundo”. Se você a leu, está mais inteirado acerca 
do tema para responder as perguntas que vou fazer agora. 
1) Homens e mulheres apresentam a mesma capacidade em relação 
a todos os tipos de trabalho? Homens e mulheres conseguem fazer tudo 
exatamente igual, com mesma força, velocidade e condição? Ou, ainda, isso 
depende da área?
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7
2) De todas as relações humanas que você conhece, quem costuma 
sustentar quem? Os homens costumam sustentar as mulheres ou as 
mulheres costumam sustentar os homens? Ou, ainda, é mais ou menos a 
mesma coisa, é empatado? 
3) Como fica a vida de trabalho da mulher quando lhe falta o homem 
e como fica a vida de trabalho do homem quando não tem uma mulher? 
4) Sustentar os outros é um privilégio ou uma desvantagem? 
5) Quando há um casamento, quem costuma desembolsar o din-
heiro? Seja para festa, seja para lua de mel. 
6) Quem costuma pagar depois do divórcio?
7) Quem costuma sustentar familiares do cônjuge, como sogra, 
sogra, cunhados e filhos?
8) Quem contribui mais para o orçamento familiar?
9) Quem gasta mais do orçamento familiar?
10) Quem recebe mais pensões?
11) Quem recebe mais assistência social e benefícios do governo no 
nosso país? 
12) Seja na rua como mendigo, seja como vítima de violência, seja 
como pai/mãe solteiro (a), quem desperta mais solidariedade das pessoas? 
13) Para quem estão voltadas as prioridades dos programas do 
Estado? 
Estamos em uma época de pandemia. Reflita: para quem está vol-
tada a maior parte dos benefícios econômicos da assistência social? Mesmo 
se tratando de políticas públicas implementadas por Bolsonaro, um presi-
dente considerado de direita, machista, homofóbico. 
Se pensar sobre isso e ler o livro do Chesterton, você saberá as res-
postas sobre quais as vantagens e desvantagens de ser homem ou mulher 
no mundo do trabalho. 
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8
3. OS PRIMÓRDIOS DA PARTICIPAÇÃO POLÍTICA
 
Estar inserido no mundo do trabalho é uma das formas de participar 
da vida pública, mas existe uma segunda: a participação política. Sendo a 
primeira característica da primeira onda do movimento feminista a inserção 
no mundo do trabalho, a segunda, é a luta pelo sufrágio. Na verdade, 
estamos compreendendo juntos que a ideia de que o movimento feminista, 
no começo, era liderado por mulheres cristãs que defendiam a família e a 
vida e só queriam direitos civis é um grande mito. Para o senso comum, a 
primeira onda se concentra no direito de trabalhar e no direito de votar, mas 
não é bem assim. De qualquer forma, é importante entender como se deu 
essa construção tanto no mundo do trabalho quanto no mundo político. 
3.1. O MOVIMENTO ABOLICIONISTA
Para tornar a compressão da primeira e da segunda ondas do mov-
imento feminista mais didática, vamos usar como ano de referência 1848. 
Podemos sinalizar que o movimento sufragista surgiu nesse ano, nos 
Estados Unidos. Em 1848, ocorreu a Primeira Convenção de Mulheres em 
Seneca Falls. Essas pioneiras na participação política estavam muito ligadas 
aos movimentos abolicionistas. 
Era uma questão bastante desumana permitir que os negros contin-
uassem a ser explorados e escravizados e as mulheres, bem como homens 
de todos os espectros políticos, até mesmo conservadores, perceberam 
essas injustiças e começaram a combatê-las. Assim, surgiram movimentos 
abolicionistas em todos os países em que havia algum tipo de sociedade 
escravocrata ou que usava a escravidão. Algumas mulheres simpatizaram 
com essas causas e se introduziram em reuniões e eventos abolicionistas, 
sendo esta uma das primeiras formas com que as mulheres se inseriram na 
política. 
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Em seu livro “Política Sexual”, em que faz um resumo do ponto de 
vista feminista e da trajetória do movimento, Kate Millett, que é uma escri-
tora de segunda onda, nos diz que as feministas aprenderam boa parte do 
que sabiam sobre luta política envolvidas nesses movimentos sufragistas. 
É importante pontuar alguns aspectos acerca do início do movi-
mento. Por vezes, temos a impressão de que era um movimento, de certa 
forma, religioso, pois aconteceu em igrejas e contava com a adesão de mul-
heres cristãs. Entretanto, é preciso considerar que, nessa época, no final do 
século XIX e início do século XX, a maior parte das pessoas se declarava cristã. 
Até hoje, a maior parte das pessoas se diz cristã, apesar de serem péssimos 
cristãos, de serem incoerentes e de, às vezes, se declararem feministas e 
cristãos. É fundamental ter em mente que as pessoas realmente se iden-
tificavam ainda mais com a confissão de fé cristã. Por isso, é evidente que 
quase todos os envolvidos em quase todas as causas eram cristãos, mesmo 
que o movimento anticlerical, antiDeus, anti-Igreja tenha começado na 
Revolução Francesa, que é o ápice do movimento iluminista ateísta. Enfim, 
as pessoas já tinham se assentado na sua fé religiosa, a ponto de desprezar 
a revolução de Marquês de Sade e William Godwin. Então sim, havia muitas 
mulheres envolvidas na luta pelo voto que eram cristãs, exatamente porque 
muitas pessoas eram cristãs. 
Embora muitas mulheres tivessem um grande apreço pela causa 
abolicionista, não podemos dizer que a recíproca era verdadeira. Muitos movi-
mentos abolicionistas não deram espaço para as mulheres. Elizabeth Stanton, 
Lucretia Mott e Lucy Stone são algumas das principais personagens na luta 
pelo sufrágio e já eram consideradas delegadas das causas das mulheres. 
Apesar disso, as duas primeiras foram paradas em um evento abolicionista. 
Em 1840, se não me engano, na Inglaterra, elas foram para uma reunião do 
movimento abolicionista, em que queriam falar inclusive sobre a luta das mul-
heres. Todos concordavam que os homens negros deveriam votar e ser livres, 
mas nem todos concordavam que as mulheres também deveriam votar. 
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3.2. A CONFERÊNCIA DE SENECA FALLS
Nessa época, o movimento das mulheres era pequeníssimo. Hoje, 
vemos aquelas fotos em preto e branco de uma ou outra marcha e as femi-
nistas tentam construir a impressão de que havia uma enorme mobilização 
social, como se as mulheres estivessem muitíssimo preocupadas com a 
questão do voto. Isso não é verdade. 
Ao serem vetadas do evento, Elizabeth Stanton e Lucretia Mott se sen-
tiram muito discriminadas e resolveram abandonar a luta dos abolicionistas 
para se preocupar mais com as mulheres, afinal, muitas pessoas estavam 
preocupadas com a questão dos negros, mas poucas com a questão das 
mulheres. Foi por isso que, em 1848, em Seneca Falls, realizaram a Primeira 
Conferência de Mulheres para discutir seus direitos civis, que reuniu cerca 
de trezentas pessoas. O mais impressionante é que essas mulheres não 
foram recebidas nem nos movimentos abolicionistas, nem nos partidos 
políticos. Quem as recebeu, cedendo um espaço para debaterem acerca 
de suas pautas, foi uma igreja wesleyana dos Estados Unidos. Ou seja, uma 
Igreja protestante. De uma certa forma, um pouco da culpa do movimento 
feminista ter crescido tanto nos Estados Unidos é dos protestantes, os quais 
ajudaram que os eventos dessas mulheres acontecessem. 
A princípio, essas mulheres vendiamuma imagem de serem cristãs. 
Quando procuraram o reverendo da Igreja, Elizabeth Stanton e a Lucretia 
Mott utilizaram argumentos cristãos para convencê-lo de que aquele era 
um evento decente e justo. Isso realmente sensibilizou o referendo da Igreja, 
que autorizou a conferência. O argumento primário usado foi de que Deus 
nos fez todos iguais. Portanto, se somos todos iguais, brancos e negros, 
homens e mulheres, devemos todos ter os mesmos direitos. Elizabeth 
Stanton e a Lucretia Mott também se basearam na Declaração dos Direitos 
do Homem e na Constituição que havia se desenvolvido na formação dos 
Estados Unidos. 
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Essas motivações de fato parecem cristãs. Por isso, vemos em muitos 
lugares, até mesmo no livro “O outro lado do feminismo”, escrito por Phyllis 
Schlafly e Suzanne Venker, duas ativistas conservadoras americanas, que o 
movimento feminista no começo não era ruim, era cristão e tinha ligação 
com direitos justos e legítimos, vindo a descarrilar-se depois. 
Eu quero que vocês prestem atenção nesses fenômenos dos pri-
meiros passos do movimento feminista nos Estados Unidos. Ninguém 
queria receber essas mulheres. Os religiosos foram os mais condescen-
dentes e compreensivos com suas pautas. E isso aconteceu em diversas 
situações. Na página 85 do meu livro, lemos o seguinte: 
“As mulheres puderam contar com o apoio das comunidades reli-
giosas, conscientes de que, apresentando sua causa como digna diante de 
Deus, a exibiriam digna também diante dos homens. Aquelas mulheres 
realmente pareciam membros comuns de uma Igreja tradicional, pareciam 
buscar algo justo diante de Deus. Elas mesmas evocaram essa autoridade 
[...]”
Em outros termos, essas mulheres evocaram a autoridade divina de 
serem filhas de Deus. 
 “[...] e se hoje os movimentos feministas se ouriçam em achincalhar 
o cristianismo, certamente não o faziam quando viam nele o único terreno 
possível para as suas queixas.”.
Em 1850, as principais pessoas interessadas em ajudar as mulheres 
nessas causas, que pareciam justas, eram os religiosos. Os abolicionistas 
não estavam interessados nelas e os revolucionários estavam interessados 
somente na revolução sexual. Na mesma página 85, cito o argumento reli-
gioso usado por essas mulheres da Conferência de Seneca Falls de 1848:
“Consideramos estas verdades como evidentes: que todos os homens 
e mulheres são criados iguais, que são dotados por seu Criador de certos 
direitos inalienáveis, que entre esses estão a vida, a liberdade e a busca pela 
felicidade.” 
E - B O O K B P A H I S T Ó R I A D O F E M I N I S M O
12
3.3. O MOVIMENTO PELA TEMPERANÇA
Há outras razões para interpretarmos que esse movimento inaugural 
de mulheres da primeira onda apresentava uma forte ligação cristã. Além 
dos Estados Unidos, outros países também contavam com organizações 
ligadas às Igrejas protestantes mais radicais, como os quakers e os calvini-
stas, que também tinham algumas movimentações de mulheres. 
Em 1846, na Inglaterra especificamente, surgiu um Movimento pela 
Temperança, que era basicamente masculino. Sublinho que os homens 
eram pioneiros de todas as pautas que discutimos de movimento feminista 
até aqui, em todas as aulas. Primeiro, os homens fizeram uma revolução 
pela República e conseguiram o direito de votar, depois, as mulheres. Na 
causa do fim do casamento, do fim da monogamia, do fim da Igreja, os 
homens também foram pioneiros. Da mesma forma, os homens foram 
pioneiros no Movimento pela Temperança e, somente depois, as mulheres 
passaram a utilizá-lo. 
Temperança quer dizer que você é moderado, que você sabe tem-
perar as coisas, ou seja, que você as utiliza na quantidade correta. Esse mov-
imento cristão inglês pretendia que os homens buscassem essa virtude da 
temperança, que é uma virtude cristã. Mas buscar a temperança de que 
forma? O foco principal desse grupo era combater o alcoolismo ou o excesso 
do consumo de bebidas alcoólicas. Esses homens tinham uma atividade 
política-religiosa bem forte contra o consumo de bebidas alcoólicas. 
Passado um tempo, o Movimento pela Temperança acolhe mulheres 
e vai se repaginando. Em 1873, acontece a Cruzada das Mulheres, uma das 
primeiras grandes manifestações públicas de mulheres, que pretendia con-
vencer que era moralmente errado os homens viveram bêbados por isso. 
Esta foi uma ação pública muito engraçado, porque as mulheres fizeram 
piquetes de oração. É bem diferente do que vemos hoje, quando mulheres 
saem às ruas vilipendiando símbolos cristãos. Depois dessa cruzada, as 
E - B O O K B P A H I S T Ó R I A D O F E M I N I S M O
13
mulheres criam a WCTU, a União das Mulheres de Temperança Cristã ou, 
em uma tradução alternativa, a União das Mulheres Cristãs pela Temper-
ança. Trata-se de uma repaginação do Movimento pela Temperança que 
os homens haviam criado em 1846. A partir de 1874, a WCT foi liderada por 
Frances Willard. 
Embora estivesse inserida em um mov-
imento aparentemente cristão, Frances era 
trabalhista e tinha uma ótima relação com os 
socialistas fabianos. Isto é algo que vimos desde 
a primeira aula e que sempre se repete. Quando 
investigamos quem são as principais person-
agens por trás desses movimentos, encontramos 
uma ligação com socialistas ou marxistas. 
Quais eram as principais pautas desse 
movimento inglês de mulheres cristãs lideradas 
por uma socialista fabiana? Essas mulheres afir-
mavam que o consumo de bebida alcoólica eram 
muito prejudicial em vários aspectos. Além de ser imoral e de ferir as regras 
religiosas, o consumo de bebidas alcoólicas fazia com que os homens se 
tornassem mais luxuriosos, mais adúlteros, que chegassem mais tarde em 
casa e que dissipassem o dinheiro da família. As mudanças provocadas 
pela Revolução Industrial eram recentes e as famílias ainda estavam se 
adaptando com o trabalho assalariado. Portanto, era importante ser mod-
erado nos gastos e fazer uma reserva de dinheiro. Esses interesses são 
comuns às mulheres de hoje. Uma mãe tradicional também os tem. Assim, 
são sentimentos e intuições quase que femininas, que ali foram elaboradas 
em um programa. 
O combate ao consumo de bebidas alcoólicas uniu as mulheres em 
uma causa política que chamaram de Mulheres Cristãs pela Temperança. 
 Frances Willard, Educadora 
(1839 - 1898)
E - B O O K B P A H I S T Ó R I A D O F E M I N I S M O
14
Com passar do tempo, esse também acabou se tornando um movimento 
pacifista, que era contra a entrada dos países nas guerras. Do mesmo modo, 
começou a pleitear o sufrágio feminino, ou seja, o direito das mulheres de 
votar, tudo isso embasado em um discurso de home protection, de defesa 
do lar. Neste caso, o mais importante é o lar, é a família. 
Os argumentos dessa primeira onda realmente eram diferentes 
daqueles apresentados por Alexandra Kollontai. Alexandra Kollontai queria 
que as mulheres fossem trabalhar a fim de acabar com a família. Kollontai 
era a única pessoa que estava sendo sincera e expondo o que verdadei-
ramente pensava. Outros movimentos que reuniam mulheres na política 
declaravam não almejar a destruição da família. Contudo, todas essas 
sufragistas, Frances, Elizabeth, Lucy, no final das contas, desviaram-se 
desses propósitos e foram se inclinando para pautas antifamília. 
3.4. O CAPITALISMO É QUEM MANDA
Com o Movimento pela Temperança, as mulheres começaram a 
simbolizar uma ameaça para as indústrias de bebidas alcoólicas. Por isso, 
ao mesmo tempo em que surgem movimentos pelo sufrágio feminino, 
também surgem outros que se opõe à concessão do direito ao voto para 
as mulheres. Essa oposição não estava calcada na ideia de que as mul-
heres eram indignas para votar ou de que não eram merecedoras, mas 
no patrocínio das indústrias de bebidas alcoólicas que avaliaram como 
perigosa para sua receita a possibilidade do crescimentodo Movimento 
pela Temperança e do voto feminino. As indústrias entenderam que se o 
movimento de mulheres cristãs pela temperança crescesse e as mulheres 
pudessem votar, provavelmente, os homens iriam consumir menos bebida 
alcoólica. Portanto, por um interesse meramente capitalista, não convinha 
que isto acontecesse. 
Contudo, todos esses esforços foram em vão. Em 1911, a Lei Seca foi 
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15
aprovada nos Estados Unidos. Durante quase duas décadas, o consumo de 
bebida alcoólica caiu muito. Neste mesmo ano, surgem os primeiros grupos 
para combater o sufrágio feminino. Sete anos depois, em 1918, a Primeira 
Guerra Mundial já estava em curso. Esse contexto demandava patriotismo, 
economia, temperança, coragem. A proibição do consumo de bebidas 
alcoólicas era útil, porque o cenário em que o mundo se encontrava pedia 
responsabilidade, não farra e festa. 
As pessoas começaram a nutrir um sentimento patriota relacionado 
ao Movimento pela Temperança das mulheres porque viam as fábricas de 
cerveja alemãs como inimigas. Menciono isso para que vocês percebam 
como elementos que não são costumeiramente citados por feministas con-
tribuem para essas causas políticas. A inserção das mulheres no mercado 
de trabalho e o direito ao voto feminino não estão relacionados exclusiva-
mente com um movimento feminista organizado. Há fenômenos históricos 
de crise, de guerra, de variados episódios acontecendo ao mesmo tempo, 
que conduzem a humanidade para certos caminhos. 
Durante a vigência da Lei Seca, o consumo de bebidas alcoólicas 
foi desincentivado. De uma certa forma, as pessoas se tornaram mais 
responsáveis. Foi justamente nesse período, de 1911 até as duas próximas 
décadas, que as mulheres mais obtiveram direitos. Seria possível fazer uma 
pesquisa psicológica para analisar se existe uma relação entre o fato de os 
homens consumirem menos bebidas alcoólicas e as mulheres terem conse-
guido vários direitos nas décadas de 1910, 1920 e sucessivamente. O ponto é 
que, nessa questão, assim como em todas as demais, não se trata de um 
movimento feminista obtendo conquistas como protagonista máximo da 
história. 
Assim como, em 1911, as indústrias de cerveja ficaram muito preocu-
padas com o avanço da democracia, com a concessão do direito ao voto 
para as mulheres, porque as bebidas alcoólicas poderiam ser deixadas de 
lado, da mesma forma, em 1929, a indústria do tabaco começou a incentivar 
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16
o consumo deste pelas mulheres. Em ambos os casos, trata-se de um inter-
esse econômico. Nas décadas de 1920 e 1930, o consumo de tabaco estava 
declinando. Como os homens estavam consumindo menos, por interesses 
capitalistas, teve início uma campanha para que as mulheres passassem 
a fumar. Contei essa história em uma das aulas, quando abordamos a 
importância da propaganda para mobilizar as massas. Estamos falando 
de interesses capitalistas, de interesses industriais, de interesses marxistas, 
que são muito maiores do que um pequeno grupo de mulheres fazendo 
uma passeata em prol de A ou B. 
A página 380 do meu livro aborda exatamente esse episódio da pro-
paganda tabagista. 
“No dia 1º de abril, o New York Times publicou uma reportagem intit-
ulada ‘Grupo de meninas tragam cigarros como gesto de liberdade’.”
Essa notícia era uma referência à marcha Tochas da Liberdade, pro-
movida no dia 31 de março de 1929, na páscoa. Essa marcha dava a impressão 
de que as mulheres estavam quebrando um tabu, porque, na época, dizia-se 
que as mulheres que fumavam eram prostitutas ou indecentes. A marcha 
das Tochas pela Liberdade, no meio da pácoa, parecia um grande avanço 
feminista. Entretanto, na verdade, esse evento foi patrocinado pelo propa-
gandista da indústria de tabaco. Com a queda do consumo por parte dos 
homens, a indústria do tabaco resolveu vendê-lo também para as mulheres. 
Ninguém estava preocupado com a liberdade das mulheres, mas sim com 
a venda de cigarros. 
Igualmente, no movimento antissufrágio de 1911, ninguém estava 
preocupado com o direito da mulher de votar ou não, mas sim com impedir 
que fosse aprovada uma Lei Seca. Em todos os avanços e retrocessos, pre-
cisamos analisar vários fatores. Quando uma feminista afirma que as só 
podem votar e trabalhar graças ao movimento feminista, está mentindo. Em 
que época da história ou em que tipo de fenômeno histórico apenas uma 
agente conquistou alguma coisa? Isso não existe. Mesmo em revoluções, 
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17
como a Revolução Russa, a Revolução Americana, são vários agentes, con-
textos e situações interferindo sobre um mesmo aspecto, sobre um mesmo 
fenômeno. 
Esses dois movimentos aparentemente cristãos, o Movimento pela 
Temperança e a Conferência de Mulheres, provavelmente abarcavam mul-
heres genuinamente cristãs que estavam em busca de bons objetivos. No 
entanto, de forma geral, podemos dizer que os protestantismos europeu 
e americano caíram em uma cilada, porque a proposta apenas parecia 
decente, mas não era. 
3.5. O QUE AS MULHERES QUEREM?
Em 1848, Elizabeth Stanton e Susan Anthony foram coautoras de um 
documento que foi apresentado na Igreja wesleyana, em que todas as mul-
heres estavam reunidas. Neste documento, lido dentro de uma igreja, em 
frente a um referendo e à comunidade cristã, estava escrito que: 
“O homem permite à mulher, na Igreja, assim como na sociedade, 
uma posição subordinada, afirmando autoridade apostólica para sua 
exclusão do Ministério numa aplicação pervertida das Escrituras.”
No primeiro evento permitido pela igreja para que as mulheres 
pudessem debater sobre seus supostos direitos civis, Elizabeth Stanton 
e Susan Anthony apresentaram um documento contestando a ordem 
eclesiástica. Na Igreja Católica, seria praticamente impossível isso acon-
tecer. Primeiro, porque as mulheres não fariam esse evento dentro da Igreja. 
Segundo, porque não conseguiriam chegar nesse ponto. Dentro da Igreja 
protestante, as mulheres estavam ocupando o espaço da própria Igreja para 
contestar a ordem eclesiástica, para afrontá-la. 
Um dos princípios cristãos que conhecemos de longa data, desde a 
epóca de Jesus, é que o sacerdócio, dentro da Igreja, é uma atividade exclu-
sivamente masculina. Só há padres, bispos, cardeais e papas homens, não 
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18
há mulheres ocupando esses cargos. Percebam como essas duas femini-
stas, Elizabeth Stanton e Susan Anthony, que se declaravam cristãs, estão 
dentro da própria Igreja afrontando-a, apesar de ser o primeiro evento que 
as recebeu para debater os direitos femininos. 
Outra informação fundamental sobre a conferência é que Elizabeth 
Stanton e Susan Anthony circularam uma lista com doze reivindicações para 
sempre aprovadas pelos presentes. Destas, uma única reivindicação não foi 
aprovada: o direito ao voto das mulheres. Também constavam na lista o 
direito à herança e o direito à propriedade, mesmo depois de a mulher estar 
casada. As mulheres e os homens presentes concordaram com absoluta-
mente todas as demais onze resoluções. Percebam: as próprias mulheres 
presentes votaram contra o direito ao voto. As mulheres foram consultadas 
e não gostaram dessa pauta. Friso: as mulheres foram contra incluir o 
sufrágio feminino. 
Essa negativa foi ignorada por Elizabeth Stanton e Susan Anthony, 
que continuaram a lutar pelo sufrágio. Além disso, desde o início, incutiram 
em todas as suas pautas agendas anticlericais, que atacavam a ordem e os 
costumes da Igreja ou até mesmo dos membros da Igreja. 
3.6. QUEM LIDERA O MOVIMENTO?
É verdade que, dentre aquelas trezentas pessoas presentes à primeira 
Convenção, pudesse haver cristãos genuínos. Isso é muito provável. Entre-
tanto, o caso específicoda Elizabeth Stanton, uma das primeiras protago-
nistas na luta pelo direito ao voto feminino nos Estados Unidos, demonstra 
que, enquanto líder, era anticlerical e anticasamento, algo que nós veremos 
se repetir em todas as líderes do movimento feminista, até mesmo aquelas 
ditas cristãs. 
Na página 52 do livro “Feminilidade Radical”, de Carolyn McCulley, 
que trata desse movimento das mulheres, consta que: 
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 “Misturado àquelas reformas sociais necessárias [o direito à proprie-
dade, a mulher poder receber herança mesmo depois de casada] estava 
um desafio para o cristianismo: o governo da Igreja, o ensinamento bíblico 
e o culto público.”
Em outras palavras, nesta primeira convenção, Elizabeth estava 
afrontando o governo da Igreja, o ensinamento bíblico e o culto público. 
“O desafio à Igreja que foi levantado nesse documento levou, por 
fim, à destruição de conceitos biblicamente definidos de Deus, pecado, dif-
erenças de sexo, diferenças de gênero, matrimônio e outros”. 
Carolyn é uma ex-feminista que também começou a estudar a 
história do movimento desde a primeira onda. Em seu livro, ela denuncia 
exatamente o que estamos propondo neste curso: que o movimento femi-
nista sempre foi anti-Igreja, antifamília e antimatrimônio. 
Nas páginas 86 e 87 do meu livro, também há uma curta referência 
sobre isso:
“Por declarações como essas, não se pode dizer que a primeira onda 
foi um movimento cristão, embora tenha surgido por conivência e descuido 
de muitos bispos e igrejas protestantes. A insistência feminista em renegar 
o cristianismo e o casamento, culpando-os pelas frustrações pessoais de 
cada militante, é marca do movimento desde a sua origem.”
Há mais uma citação que gostaria de compartilhar, porque esclarece 
como Elizabeth Stanton, líder desse movimento sufragista dos Estados 
Unidos, era na verdade uma anticristã. Em 1898, Elizabeth chegou a publicar 
a primeira Bíblia Feminista. Só por isso, já demonstrou sua falta de respeito 
pelo cristianismo, porque se trata de uma alteração da Bíblia. Evidente-
mente, o respeito pelo fé que dizia representar naquele dia, não existia. 
Na página 87 do meu livro, sobre Stanton, está escrito:
“Começou com a reforma do casamento e do sufrágio e, então, 
migrou para a religião. Stanton desenvolveu suas crenças ateístas quando 
ainda jovem. Ela escreveu: ‘Vejo como piores crimes do mundo obscurecer a 
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mente dos jovens com superstições tenebrosas e com temores do descon-
hecido e daquilo que não pode ser conhecido’.”
O que são as superstições tenebrosas? O Inferno, o Céu, o pecado, 
a vida eterna. Stanton era uma mulher que desprezava o cristianismo. Por 
isso, quando afirmam que o primeiro movimento sufragista e a primeira 
onda do movimento feminista eram compostas por mulheres cristãs em 
defesa da família, estão incorrendo em erro ou mentindo. Poderíamos ficar 
somente no caso da Elizabeth Stanton, mas já citamos também o caso da 
Frances, líder do Movimento pela Temperança que era ligada aos socialistas 
fabianos. 
Em 1898, quando escreveu a Bíblia Feminista, Stanton não estava 
mais preocupada em fingir que respeitava o cristianismo. Ela já tinha assu-
mido suas características ateístas. 
Resumidamente, podemos dizer que os protestantes ligados ao 
movimento sufragista acabaram sendo usados ou, de certa forma, enga-
nados. 
4. MITOS DESFEITOS
Há duas informações fundamentais acerca do movimento sufragista 
que eu quero que você leve desta aula. São duas verdades que desmisti-
ficam muitas mentiras a respeito da luta pelo sufrágio que são ditas pelas 
feministas. 
4.1. As Antissufragistas
A primeira, é que existia um enorme movimento de mulheres contra 
o voto. Quando contam a luta pelo direito ao voto, as feministas dão a 
impressão de que se tratava de um movimento gigantesco que gozava do 
apoio de todas as mulheres, como se todas concordassem que estavam 
sendo injustamente impedidas de votar. Na realidade, havia um número 
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enorme de mulheres que eram conscientemente contra o voto, a ponto de 
se organizaram em partidos políticos para lutar por essa posição. 
Se isto lhe parece inverossímil, quero que você pense nas mulheres 
que você conhece. Quantas dessas mulheres possuem engajamento 
político e se preocupam com o tema? Caso tenha ficado na dúvida, você 
pode conversar com elas e perguntar por que elas acham importante votar, 
o que o voto significa para elas. Mesmo já desfrutando do direito ao voto, há 
uma quantidade incrível de mulheres que nunca pensou a respeito disso. 
Até mesmo hoje as mulheres apresentam uma resistência muito grande 
com a participação política, tanto que, no Brasil, existe uma lei que obriga os 
partidos políticos a receberem 30% de mulheres como candidatas e todos 
os partidos têm dificuldade em preencher essa cota. Os partidos políticos 
são forçadas a ir em busca e implorar para que mulheres sejam candidatas, 
porque estas não querem. O número de mulheres interessadas em política 
é infinitamente inferior comparado ao dos homens. 
Algumas pesquisas demonstram isso de uma forma mais sutil. Por 
exemplo: a maior parte dos usuários do Youtube é masculino. É claro que há 
vídeos sobre muitos temas diferentes no Youtube, mas é uma plataforma 
que disponibiliza conteúdos relacionais à política, a notícias, à história com 
muito mais amplitude do que o instagram. As publicações do Instagram 
estão mais vinculados à aparência e à beleza e, nesta plataforma, a maior 
parte dos usuários é mulher. 
São pequenos detalhes, sutilezas de pesquisas de todos os lados, que 
demonstram que as mulheres, embora não queiram abrir mão do direito 
ao voto, uma vez que já o têm, sequer pensam a esse respeito. Se hoje, em 
2020, poucas mulheres pensam a esse respeito e levam isso a sério, imagem 
em 1850 ou em 1910. Mais: se você pensar em quantas mulheres morreriam 
pelo direito ao voto, quantas iriam para guerra por ele, veria essa quanti-
dade diminuir ainda mais. É exatamente assim, indo para guerra, lutando, 
disputando, que se conquista o direito ao voto. Essa é a primeira informação 
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que eu quero que você guarde. 
4.2. Concessão Sim, Conquista, Não
A segunda informação de vital importância é que a obtenção do 
sufrágio feminino foi mais uma concessão do que uma conquista. O 
sufrágio feminino foi um episódio em que um grupo de pessoas concedeu 
a outro um direito, uma possibilidade. Mais do que uma conquista, foi uma 
concessão. 
Iremos explorar essas duas informações aos poucos. 
Existia um número enorme de mulheres 
contra o sufrágio. Grande parte das mulheres 
não estava interessada nisso. A própria Susan 
Anthony, uma das sufragistas mais importantes, 
responsável por organizar o evento de mulheres 
em busca do voto, escreveu que:
“Na indiferença, na inércia e na apatia das 
mulheres encontra-se o maior obstáculo para 
sua emancipação”. 
Anthony não está dizendo que o maior obstáculo para emancipação 
das mulheres é o machismo, o patriarcado, a Igreja. Para Susan Anthony, 
o maior impedimento para o progresso do alcance do sufrágio feminino 
é justamente a indiferença, a inércia e o desinteresse das mulheres. Além 
de uma parcela considerável das mulheres simplesmente estar desinter-
essada, havia outro grupo que se interessava pelo assunto, mas para lutar 
contra o direito ao voto. 
A escritora Grace Duffield Goodwin escreveu um livro chamado 
“Antissufrágio: dez boas razões” (Anti-suffrage ten good reasons). A obra 
faz um resgate histórico de quem eram as principais líderes do movimento 
Susan Anthony, Escritora 
(1920 - 1906) 
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antissufragista. Pelaprimeira vez, apresentou-se ao mundo uma obra que 
não debochou das antissufragistas, mas que abordou seriamente o tra-
balho destas. Na página 91 do meu livro, eu falo um pouco sobre isso:
“Em 1912, nesta publicação antissufrágio, nós vemos que as mul-
heres estavam isentas da responsabilidade política e legal, como servir ao 
Exército ou se sentar em júris. Muitas responsabilidades pesadas como 
prover para a família, pagar dívidas e ir para a cadeia por crimes menores 
são poupadas do sexo feminino. Se uma esposa se envolve em negócios 
ilegais, a lei responsabiliza o marido, e não ela”. 
Essas são apenas algumas das razões, citadas por Grace em seu 
livro, pelas quais as mulheres da época se negavam a aderir ao movimento 
sufragista. Inclusive, na Inglaterra, existia um partido político antissufrágio. 
Na página 89 do meu livro, lê-se:
“As antissufragistas defendiam principalmente que as mulheres 
trabalhassem e ajudassem com a filantropia e voluntarismo, mas que não 
assumissem cargos de poder público e liderança. As mulheres antissu-
fragistas compunham uma liga com mais de 42 mil membros e eram tão 
numerosas quanto as mulheres favoráveis ao voto, chegando a ser maioria 
em algumas localidades.”
Isso significa que existia sim um movimento organizado antissu-
frágio, que não estava baseado na ignorância das mulheres. Essas mulheres 
não eram contra o voto porque eram ignorantes ou por não terem estudado 
nada a respeito. Elas tinham argumentos para serem antissufragistas. Elas 
não queriam ser inseridas na vida pública. 
Essas duas características, o desinteresse da maior parte das mul-
heres o interesse de uma pequena parcela de mulheres em ser contra o 
sufrágio, eram duas forças muito grandes operando contra o movimento 
sufragista. Não se trata de machismo e não pode ser assim considerado. As 
mulheres simplesmente não estavam interessadas. Ambas as informações 
são negligenciadas pelo movimento feminista quando tratam da luta pelo 
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24
sufrágio feminino. 
4.3. Quem Teve de Morrer? 
Agora, podemos nos focar no segundo ponto, de que não houve luta 
ou conquista do direito ao voto, mas sim uma concessão. No que se baseia 
essa perspectiva? Havia vários nichos da população que não tinham direito 
ao voto. Desde o surgimento da democracia, desde a Roma Antiga, apenas 
alguns grupos usufruíam do direito ao voto. Este não era compartilhado por 
todos. Em alguns casos, para votar, era preciso ter nascido na cidade ou ser 
filho de alguém nela nascido. Também havia critérios de exclusão baseados 
na renda ou na cor das pessoas. Portanto, esses homens não nasceram com 
o direito ao voto, tiveram que conquistá-lo. Para tanto, lutaram contra a 
monarquia absolutista. Eles tiveram que fazer revoluções, como a Revolução 
Americana e a Revolução Francesa. Em quase todos os países, os homens 
pegaram armas, facões, machados, o que tinha disponível, e foram lutar 
para conquistar o direito ao voto. Ou seja, para eles, o direito de votar valia a 
vida deles. Esses homens levavam isso tão a sério que estavam dispostos a 
morrer por isso, assim como estavam dispostos a morrer por suas mulheres, 
por sua família, por sua pátria. 
Em muitos casos, como a Primeira Guerra Mundial, por exemplo, 
homens que foram para a guerra para defender a Inglaterra não tinham o 
direito de votar. Veja quantas injustiças eram cometidas contra os homens. 
Homens que arriscavam sua vida pela pátria nos campos de batalha, quando 
sobreviviam à guerra e voltavam para o seu país, não tinham o direito de 
votar. Os homens não tinham esse acesso universal ao voto. Para conse-
gui-lo, tiveram de lutar. 
Também é racional, esperado e lógico o fato de que, na maior parte 
dos países, o direito ao voto estava associado ao dever de defender e de 
servir à pátria. Para ser um cidadão pleno, você possui direitos e deveres. No 
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25
caso do voto especificamente, o que este significa? Quando você se casa e 
faz um voto, por exemplo, o que isso significa? Significa que, a partir daquele 
momento até a morte, você está devotando a sua vida inteira para aquela 
outra pessoa com quem você está se comprometendo. Quando você vota, 
você está se comprometendo com a pátria e a pátria, em contrapartida, está 
se comprometendo com você. Quando você vota em um presidente, está 
declarando que morreria por ele, pois ele pode decretar Estado de Guerra 
contra um país vizinho. 
Existe uma responsabilidade muito grande ligada ao voto. O voto é 
um direito atrelado a um dever. Em todos os países, os homens que tinham 
o direito de votar tinham igualmente o dever de servir ao Exército. E, em boa 
parte dos países, muitos homens que serviam ao Exército, que tinham este 
dever, não tinham o direito de votar. Consta no portal da Suprema Corte dos 
Estados Unidos:
“O serviço militar obrigatório é compatível com um governo livre e 
com as garantias constitucionais.”
Ou seja, um Estado livre, um país livre como os Estados Unidos pode 
normalmente exigir o serviço obrigatório. 
 “Na verdade, não se pode duvidar de que a própria concepção de 
um governo justo e seu dever para com o cidadão inclui o dever do cidadão 
de prestar serviço militar em caso de necessidade e o direito do governo de 
obrigá-lo.” 
Se você confia no seu país, na sua pátria e quer viver num país justo, 
é esperado e justo que o país exija de você que sirva ao Exército. Em contra-
partida, você vai receber a segurança de que, se houver uma guerra, todas 
as pessoas do país irão lutar nela junto com você. Existe uma contrapartida 
do voto. O voto não é um presente, o voto não é fetiche. 
No livro “O que há de errado com o mundo”, Chesterton inclusive diz: 
“Eu não sou nem tão contra o voto assim, eu só estou questionando se as 
mulheres que estão lutando pelo voto sabem o que significa um voto.”.
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Você mulher que está assistindo a esta aula: você já parou para pensar 
o que significa um voto? O que é um voto para você? Qual é a importância 
do voto? A maior parte das mulheres não pensava sobre isso. Essa era uma 
das razões, de acordo com Elizabeth Stanton, para a luta sufragista não ter 
tanta adesão e ainda ter pessoas lutando contra o direito ao voto feminino. 
Ainda mais porque, parecia muito injusto em um país como a Ingla-
terra, em que homens enviados para a guerra não tinham direito ao voto, 
que as mulheres tivessem esse direito. As pessoas entendiam que o direito 
ao voto estivesse atrelado ao dever de lutar. Os homens lutaram antes de 
conquistar o voto. O que se exigia das mulheres não era nem isso, era que 
pelo menos passassem a ter de lutar depois. Entendia-se que, se ganhassem 
o direito ao voto, as mulheres depois teriam de ir para a guerra. E é muito 
óbvio que as mulheres não quisessem servir ao Exército. Para elas, não era 
uma troca justa, não era bom. Não valia a pena ter de servir ao Exército 
para votar. Essa era a resposta de muitas mulheres. Inclusive, quando tra-
mitou nos Estados Unidos uma proposta de emenda dos direitos iguais, 
a Phyllis Schlafly foi uma das grandes ativistas contra esta, pois as mul-
heres não queriam o direito igual de servir ao Exército. Existem inúmeras 
participações de mulheres contra a igualdade, porque não consideravam 
que fosse vantajoso para elas. Esse sentimento era partilhado por muitas 
mulheres na Inglaterra e nos Estados Unidos.
4.4. A Visão de um Conservador
Para isso ficar mais claro, quero compartilhar com vocês um trecho 
do livro “O que há de errado com o mundo”, de Chesterton, que viveu esse 
momento histórico e escreveu suas obras em torno de 1910. Chesterton 
era antissufrágio feminino naquele contexto. Ele explica que não era por 
ser especificamente contra as mulheres votarem, pois não havia maldadenenhuma nisso. Ele estabelece uma comparação dizendo que, para ele, 
também não havia maldade nenhuma no socialismo, no desejo de as pes-
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soas dividirem os bens, compartilhando tudo. Assim, também não parecia 
ruim que as mulheres trabalhassem. Para Chesterton, o problema não é 
o que se propõe, mas o que está por trás do que está sendo proposto. No 
caso do direito ao voto, o argumento dele é até um pouco engraçado. Ches-
terton se declarou contra a luta das mulheres pelo sufrágio justamente por 
não existir luta. De uma forma mais ácida, ele está dizendo o mesmo que a 
Susan Anthony, que era uma sufragista. Susan afirmou que o maior prob-
lema era a indiferença das mulheres. Chesterton diz o mesmo, só que com 
muito mais força e firmeza. Na página 99, ele diz o seguinte:
“A objeção às sufragistas não se deve a serem sufragistas militantes. 
Ao contrário, deve-se a não serem militantes o suficiente. Uma revolução é 
algo militar. Ela tem todas as virtudes militares, dentre as quais, a virtude de 
chegar ao fim.”.
Todas as revoluções ou guerras apresentam uma finalidade. Para 
chegar a este objetivo, são travadas guerras, pessoas morrem, coisas ruins 
acontecem. Entretanto, todos os acontecimentos ruins só ocorrem porque 
as pessoas envolvidos, os lutadores, os guerreiros, os membros do Exército, 
entendem que a finalidade a que se propuseram vale a sua vida. Esses 
homens se esforçam até a morte por aquilo, mas, em algum momento, a 
guerra termina. Esse é o momento em que se alcança o objetivo. Chesterton 
está nos dizendo que as mulheres não têm esse sentimento militar de dar 
a vida pelo que estão pedindo. Essas mulheres estão pedindo o direito ao 
voto, mas, se tivessem que lutar por ele com armas, será que fariam isso? 
Provavelmente, não fariam e, se fizessem, perderiam, porque seria uma 
guerra de homens contra mulheres. 
“Dois grupos combatem com armas mortais, mas, sob certas regras 
de honradez arbitrária, o grupo que vence se apossa do governo e começa 
a governar.”
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Foi o que aconteceu, por exemplo, na Revolução Americana. Foi 
por isso que os homens americanos conquistaram o direito ao voto. Eles 
lutaram até a morte. Eles passaram a governar a Nova Inglaterra, que era 
uma colônia inglesa, e essa Nova Inglaterra passou para a mão daqueles 
homens que ganharam a guerra. Por isso eles definiram as regras do jogo, 
afinal, eles conquistaram o território. 
“Ora, as sufragistas não podem empreender uma guerra civil nesse 
sentido militaresco e decisivo. Em primeiro lugar, porque são mulheres. Em 
segundo lugar, porque são pouquíssimas.”
Novamente essa informação. São poucas mulheres sufragistas. 
“A guerra é algo pavoroso, mas comprova com agudeza e de maneira 
irrefutável duas coisas: os números e um valor não-natural. Na guerra, desco-
brem-se duas questões urgentes: quantos rebeldes estão vivos e quantos 
estão dispostos a morrer.”. 
A questão aqui sobre o sufrágio é: quantas mulheres estão dispostas 
a morrer pelo direito ao voto? Mesmo as sufragistas esvaziariam as fileiras 
do movimento se fosse preciso morrer, porque o movimento sufragista, em 
tese, consistia apenas em pedir, fazer cartazes, passeatas, às vezes, fazer um 
piquete e, no máximo, quando havia um movimento como o da Emme-
line Pankhurst, que era mais radical, colocar fogo num automóvel de um 
político e jogar pedras na casa de alguém. Esse foi o máximo à que o movi-
mento sufragista chegou e Chesterton está nos dizendo que, numa guerra, 
não é isso que acontece. Para conquistar as coisas, você dá a sua vida se 
necessário. 
“Se, por exemplo, todas as mulheres resmungassem por um voto, 
elas conseguiriam em um mês”. 
Os homens estão tão inclinados a conceder coisas às mulheres que 
se vissem que todas queriam votar, iriam conceder isso. Mas, o argumento 
do Chesterton é que somente um número muito pequeno de mulheres 
quer votar e isso dificulta o argumento do movimento sufragista. 
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“Mas, novamente, há que lembrar que seria necessário fazer com que 
todas as mulheres resmungassem e isso nos leva ao termo da superfície 
política da questão. A objeção à filosofia das sufragistas é simplesmente a 
de que a maioria dominante das mulheres não concorda com elas.”.
E a pergunta final do Chesterton:
“As sufragistas estão praticamente dizendo que as mulheres podem 
votar sobre tudo, exceto sobre o sufrágio feminino”. 
Na Primeira Convenção de Mulheres, foi posto em votação o direito ao 
voto feminino e as mulheres responderam que não o queriam. Chesterton 
está nos dizendo que essas sufragistas que conhecia, da década de 1910, 
declaravam que as mulheres tinham o direito de votar sobre tudo, mas que, 
quando questionaram as mulheres se queriam votar e estas responderam 
que não, simplesmente as ignoraram. O principal argumento de Chesterton 
é que são poucas mulheres que pleiteiam o direito ao voto feminino e que 
mesmo as líderes do movimento sufragista não respeitam as mulheres, 
porque estas estão claramente dizendo que não querem obter esse direito. 
5. UM DIREITO CONCEDIDO
Apesar de todas essas discussões, em 1920, praticamente todos os 
estados dos Estados Unidos haviam aprovado o direito ao voto. Este foi con-
quistado principalmente por políticos conservadores, que apresentaram 
emendas à Constituição para que as mulheres pudessem votar. As mulheres 
finalmente conseguiram o direito ao voto e puderam votar. Entretanto, 
como dizem Chesterton e até mesmo Simone de Beauvoir, nada disso se 
refere a uma conquista, mas sim a uma concessão. Os homens concederam 
esse direito às mulheres, pois estas não teriam condições militares, físicas 
e de organização de tomar o voto. As mulheres não teriam condição de 
tomar o voto à força. Obviamente, elas receberam uma concessão. Sempre 
que eu digo isso, as feministas ficam muito irritadas e me acusam de estar 
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deturpando as frases de Simone de Beauvoir. No livro “Segundo Sexo: Fatos 
e Mitos”, nas páginas 15 e 16, esta feminista de segunda onda afirmou que: 
“A ação das mulheres nunca passou de uma agitação simbólica [...]”.
O que é uma agitação simbólica? O que são coisas simbólicas? Uma 
passeata, por exemplo, é algo simbólico. Uma manifestação, uma carreata, 
uma exposição de cartazes ou colocar os seios para fora, para reivindicar 
seja lá o que for, invadir o Vaticano, invadir uma igreja e sujar com tinta 
vermelha, todas essas são ações simbólicas. A Simone de Beauvoir está 
dizendo:
 “A ação das mulheres nunca passou de 
uma agitação simbólica, só ganharam o que os 
homens concordaram em lhes conceder. As mul-
heres nada tomaram, elas receberam [...]”.
Isso está no livro da Simone e é uma 
referência que cabe perfeitamente na questão 
do voto, pois as mulheres o receberam. Inclusive, 
é importante dizer que a Simone de Beauvoir é 
francesa. 
 
A França é um dos países mais esquerd-
istas da Europa e foi um dos últimos a reconhecer 
o direito ao voto das mulheres. Inclusive, foi na 
França que se condenou à morte a primeira fem-
inista sufragista, a Olympe de Gouges. 
 
Quem foi que mandou matar a primeira 
feminista sufragista no final do século XVIII? 
Robespierre, um ditador de esquerda. 
Simone de Beauvoir, Escritora 
(1908 - 1986) 
Olympe de Gouges, Dramaturga 
(1748 - 1793) 
E - B O O K B P A H I S T Ó R I A D O F E M I N I S M O
31
5.1. O Caso da Suíça
Temos alguns casos emblemáticos que 
ajudam a perceber como essa questão do voto 
foi uma concessão e não uma conquista. É o caso 
da Suíça, que aprovou o direito ao voto feminino 
somente em 1971, ainda depois da França. A Suíça 
não é um país subdesenvolvido, de terceiromundo, 
é um país muito bonito, bom de morar, moderno, 
democrático. A Suíça é um país tão democrático 
que lá, se existe uma iminência de guerra, a chance 
de ir para guerra, é feito uma espécie de plebiscito, uma consulta popular 
em que os homens votam. 
Agora, eu quero que vocês pensem comigo: por que será que os 
homens da Suíça votam se o país deve ou não ir para guerra? Obviamente, 
porque quem vai para guerra são os homens que estão indo votar. Então, 
é algo muito justo e deveria funcionar da mesma forma em quase todos 
os países. Uma vez que é o homem que vai morrer, porque terá de ir para 
guerra, é justo que vote se o país deve ou não participar do conflito. 
A Suíça é um país bastante democrático. Os homens votavam sobre 
tudo, inclusive sobre a participação deles na guerra. Em inúmeros episódios, 
foram realizados plebiscitos sobre a inclusão da mulher como cidadã plena, 
com o direito de votar. Nesses plebiscitos, não houve consenso a favor das 
mulheres. Várias vezes se colocou em votação o direito ao voto feminino e 
as mulheres perderam. Em 1971, o direito ao voto feminino foi aprovado no 
país. 
Comente que quando existia uma iminência de guerra, os suíços 
tinham que decidir se iriam para guerra ou não. Agora, questione-se: quem 
deve votar esta questão, somente os homens ou as mulheres também?É 
justo que as mulheres votem se haverá guerra ou não sendo que não 
lutarão? Neste caso, teríamos que restringir determinadas votações aos 
 Maximilien de Robespierre, Político 
francês (1758 - 1794)
E - B O O K B P A H I S T Ó R I A D O F E M I N I S M O
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homens e outra, às mulheres. É uma complicação democrática. 
Por que essa questão é difícil de resolver? Porque não é justo, porque 
se as mulheres estão votando, deveriam também servir ao Exército, para 
que nós estivéssemos falando de direitos iguais. Para falar de direitos iguais 
no tocante ao voto, deveríamos falar de direito e de dever. O que aconteceu 
no Brasil e na maior parte dos países não foi a conquista de um direito igual, 
mas sim a concessão de um privilégio, o qual consiste no direito de votar 
sem o dever de arcar com as consequências. 
Esther Vilar é o nome fictício de uma feminista, que usou para pub-
licar seus livros. 
No seu livro que se chama “O Homem Domado”, que foi publicado em 
1971, no mesmo ano em que foi aprovado o sufrágio, ela nos diz o seguinte:
“Na Suíça, um dos países mais desen-
volvidos do mundo, as mulheres não possuem 
um direito de voto geral [ela escreveu o livro um 
pouco antes da aprovação]. Há pouco tempo, em 
determinado cantão suíço, pediram às mulheres 
para votar sobre a introdução do direito ao voto 
e a maioria decidiu-se contra. Os homens suíços 
ficaram atônitos, pois julgavam que essa situação 
indigna era resultado da sua tutela centenária.”
Até os homens ficaram pensando: gente, o que está acontecendo? 
Nós achávamos que a culpa das mulheres não votarem fosse nossa, porque, 
afinal, somos machistas e estamos impedindo as mulheres de votar. Pois, 
fizeram um plebiscito e as mulheres não quiseram votar. Eles ficaram sem 
entender nada. 
Esther Vilar, Escritora (1935 - ) 
E - B O O K B P A H I S T Ó R I A D O F E M I N I S M O
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5.2. O Caso Brasileiro
Para terminar, vamos falar do caso do Brasil. O caso do Brasil é ainda 
mais claro para explicar para nós como o voto foi uma concessão e não 
uma conquista. Aliás, não se poderia esperar que as mulheres brasileiras 
fossem para a guerra para conquistar o direito ao voto, porque nem os 
homens brasileiros fizeram isso. Como vocês devem ter estudado na escola, 
a República, a democratização do Brasil, foi um golpe militar orquestrado 
contra a monarquia, tudo no calar da noite, no canetaço. Não houve um 
confronto específico, uma guerra, como aconteceu, por exemplo, na Rev-
olução Americana, em que houve dez anos de confronto com a coloniza-
dora, Inglaterra, para conseguir o direito ao voto. Evidentemente que, se no 
Brasil, nem os homens conquistaram o direito ao voto guerreando, muito 
menos as mulheres fariam isso. Nós temos o exemplo de uma brasileira que 
deixa claro como o voto foi uma concessão. No Brasil, isso é indiscutível e 
diga-se mais: o voto aqui no Brasil foi reconhecido por um ditador fascista 
chamado Getúlio Vargas. 
Não é verdade o que a militância feminista fala, 
de que “as mulheres só podem votar e serem votadas 
graças ao movimento feminista”. Eu só posso votar 
e ser votada graças ao fascista Getúlio Vargas, no 
caso específico do Brasil. Vamos nos localizar sobre 
o porquê de podemos votar. Nós podemos votar 
porque Getúlio Vargas concedeu o direito ao voto. 
Getúlio Vargas não tinha nem medo dos homens 
brasileiros, muito menos teria de uma passeata com 
cartazes femininos. 
Nas páginas 94 e 95 do meu livro, comento o caso brasileiro, de 1927, 
que é o caso da Celina Guimarães. A Celina Guimarães é primeira mulher da 
América Latina a conseguir um título de eleitor. Aí você pensa: “Meu Deus, 
 Getúlio Vargas, ex-Presidente 
do Brasil (1882 - 1954)
E - B O O K B P A H I S T Ó R I A D O F E M I N I S M O
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ela deveria ser uma superativista feminista. A Simone de Beauvoir do Brasil”. 
A Celina Guimarães nos conta que o marido dela era muito simpático 
à causa dos direitos das mulheres, então um dia saiu de casa, foi ao cartório 
e pegou um título de eleitor para sua mulher. Simples. Ele chegou em casa 
com o título de eleitor e assim Celina conquistou o 
direito ao voto. Depois que isso aconteceu, as fem-
inistas começaram a procurar a Celina Guimarães, 
que era uma mulher comum. Queriam colocá-la em 
revistas, fazer entrevistas, queriam colocá-la para 
falar na rádio, enfim, queriam explorar a imagem 
dela, como se fosse uma grande militante da luta 
sufragista, coisa que não era. Só para você ter uma 
ideia, aqui no Brasil, quem liderava o movimento do 
sufrágio era Bertha Lutz, que nasceu em 1894.
 
Bertha Lutz, a grande líder do movimento feminista, só conheceu a 
Celina Guimarães depois que esta já tinha o título de eleitor. Como a Celina 
conseguiu um título de eleitor? O marido dela foi lá e pediu um título de 
eleitor para ela no cartório, algo muito simples. E como foi assiduamente 
procurada para dar entrevistas, ela acabou concedendo algumas. Vejam o 
que a Celina Guimarães diz:
“Eu não fiz nada! Tudo foi obra de meu marido, que empolgou-se 
na campanha de participação da mulher na política brasileira e, para ser 
coerente, começou com a mulher dele, levando meu nome a roldão. Sou 
grata a tudo isso que devo exclusivamente ao meu saudoso marido.”.
Ela nem sabia quem era Bertha Lutz do movimento feminista sufrag-
ista. Ela não procurou por ninguém, não fez passeata nenhuma. Lembrando 
que isso aconteceu em 1927. A partir da década de 1930, o direito ao voto das 
mulheres foi reconhecido pelo nosso ditador Getúlio Vargas. 
Bertha Lutz, Ativista Feminista 
(1894 - 1976)
E - B O O K B P A H I S T Ó R I A D O F E M I N I S M O
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Nós temos o caso da Celina como um exem-
plo-chave que encerra a questão de como o voto foi 
concedido às mulheres em quase todos os países. 
Nós poderíamos falar também, mas eu vou deixar 
para você pesquisar depois que encerrar a aula, sobre 
a Emmeline Pankhurst, que é uma personagem da 
Inglaterra, líder do movimento sufragista.
 Emmeline Pankhurst foi de esquerda, 
colocou as filhas no movimento do sufrágio e brigou 
com elas por causa deste. No fim da vida, Emmeline 
acabou entrando para o partido conservador, que foi onde conseguiu, ped-
indo, o que não tinha conseguido antes fazendo algazarra. Pesquise um 
pouco sobre a Emmeline Pankhurst. Veja que ela criou o movimento mais 
radical de sufrágio que conhecemos da época. Ela fazia barricadas, jogava 
bomba na casa dos políticos. Tudo isso que fez por décadas não levou a 
nada. Depois da Primeira Guerra Mundial, Emmeline decidiu abandonar 
essesmétodos e resolveu aliar aos políticos conservadores, os quais tinham 
a simpatia do povo. Ela articulou a conquista do direito ao voto basicamente 
conversando. Não precisa fazer barricada e soltar bomba, porque, como 
diria o Chesterton, que também era inglês, bastava pedir que os homens 
concedessem. 
Essa é brevemente a história do direito ao voto. Nós vimos algumas 
países: Suíça, Brasil, Estados Unidos. O caso da Inglaterra, vou deixar para 
vocês pesquisarem quem eram as sufragetes e as sufragistas, dois movi-
mentos diferentes. As sufragetes eram as mais violentas, as mais radicais, 
e as sufragistas, as mais moderadas. Tudo isso para você ter uma noção 
de como aconteceu a marca principal da primeira onda. Ouvimos o tempo 
todo que a primeira onda do movimento feminista consiste na luta pelos 
direitos civis e pelo direito ao voto, mas isso não é verdade. 
E é assim que vamos encerrar a aula hoje, demonstrando como, na 
Emmeline Pankhurst, Autora 
(1858 - 1928) 
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verdade, a questão do voto e a questão do trabalho foram conquistadas, 
concedidas, desenvolvidas por uma série de outras forças, sejam capitalistas, 
sejam de guerras, sejam por partidos políticos, que estavam além do mov-
imento feminista. Demonstramos, também, que não existe essa distinção 
entre feminismo bom de primeira onda e feminismo ruim de segunda 
onda. Se você começar a ler alguns livros antifeministas traduzidos, como 
esse “O outro lado do feminismo”, vai ver que as autoras chegam várias 
vezes a dizer que o movimento feminista foi muito importante, mas agora 
não é mais. Eu mesma já ouvi um padre, de quem sou muito fã, falando em 
algum momento que o movimento feminista foi muito importante para 
conquistar certos direitos, mas que hoje já não é mais. Isso não significa 
que a pessoa está sendo desonesta, mentirosa ou esquerdista, mas que 
simplesmente não estudou com detalhes ou não percebeu a história da 
primeira onda. 
Na primeira onda do movimento feminista, todas as grandes líderes 
já apresentavam um pensamento revolucionário. Elas eram ligadas aos 
movimentos de socialismo fabiano, de marxismo, leninistas, trotskistas, 
como Alexandra Kollontai. Desde sempre, essas mulheres que lideravam 
as demais estavam ligadas aos movimentos de esquerda. E não existe, por-
tanto, essa distinção de feminismo bom e de feminismo ruim. Feminismo, 
para nós que somos conservadores, cristãos, de direita, sempre foi ruim. 
No livro “O outro lado do feminismo”, lemos um encerramento que 
Phyllis Schlafly faz, em que tira uma conclusão. Quero compartilhar só para 
que vocês vejam como esse pensamento é recorrente:
“As sufragistas lutaram e venceram em 1920 pelo direito de voto 
das mulheres em todos os cinquenta estados americanos, mas elas eram 
mulheres que se baseavam na família e não tinham vontade de erradicar 
a natureza feminina. Definitivamente, elas também eram contra o aborto.”
Quem está dizendo isso para a gente? Phyllis Schlafly, que é uma 
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ativista conservadora antifeminista. Mesmo ela está com essa ideia na 
cabeça. Olha o que Phyllis Schlafly nos diz:
“[...] não tinham vontade de erradicar a natureza feminina. Definitiv-
amente, elas também eram contra o aborto.” 
Não é verdade, nós vamos ver isso adiante. As mulheres abortistas 
já estavam presentes na primeira onda. As mulheres antifamília, também. 
Elizabeth Stanton, por exemplo, que escreveu a Bíblia feminista, odiava o 
casamento. Ela praguejava, dizia que o casamento e a maternidade eram 
escravidão. Eram mulheres que não defendiam a feminilidade de forma 
alguma. E a Phyllis Schlafly continua:
“As feministas dos anos 1960 [...]” vejam como faz uma divisão aqui, 
como se de 1960 para trás fossem boas pessoas e, daí para frente, pessoas 
ruins. 
“As feministas dos anos 1960 e posteriormente, por outro lado, não 
eram a favor da família. Além de enxergar o aborto como uma questão de 
‘direitos’ das mulheres, elas veem o lar como uma prisão.”
Essa é uma declaração da Phyllis Schlafly. Por mais maravilhoso que 
seja esse livro, e por mais bem intencionada que ela seja, é uma informação 
que não é verdadeira. As mulheres da primeira onda, até mesmo as mul-
heres protofeministas que antecederam a primeira onda, já eram mulheres 
antimonogamia, anticasamento, anti-Igreja Católica e, em alguns contextos, 
antiprotestantes também. Todas as primeiras sufragistas e as protofemini-
stas, todas as grandes líderes, eram mulheres revolucionárias. Na página 
138 do meu livro, faço mais uma citação para reforçar esse pensamento: 
“Embora a divisão entre ‘boa onda’ e ‘má onda’ feminista tenha sido 
assumida por quase todos os críticos, parece-me evidente que nenhuma 
mulher de boa índole teve destaque na liderança do movimento desde que 
ele surgiu. Do protofeminismo, Olympe era facilmente confundida com uma 
dançarina noturna e Mary Wollstonecraft queria ter um relacionamento 
poliamoroso com Henry Fuseli. Elizabeth Stanton, famosa na primeira onda, 
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tinha uma visão obscura do casamento e abandonou cedo a formação e a 
fé cristã que teve. Mais do que isso, inúmeras pesquisas apontam que uma 
mudança acentuada no comportamento sexual já vinha ocorrendo desde 
o início do século XX, décadas antes do advento da segunda onda. Ou seja, 
o feminismo já nasceu com as más pretensões que só foram explicitadas 
tardiamente. A maior das eugenistas e abortistas, que é Margaret Sanger, 
por exemplo, já estava em plena atuação quarenta anos antes da rebelde 
década de 1960. O protofeminismo de Wollstonecraft já dava os primeiros 
passos em direção à ideologia de gênero e tinha em sua musa um exemplo 
do desregramento sexual ainda no século XVIII.”
Todas essas grandes líderes que vimos eram anticonservadoras, anti-
família. Nós citamos a última aqui, que é Margaret Sanger. 
 
Margaret Sanger é uma feminista de pri-
meira onda. Só para você ter uma ideia, a atuação 
de Margaret Sanger, que é uma das mulheres 
mais importantes da primeira onda, aconteceu 
nas décadas de 1910, 1920 e 1930. Ela viveu quatro 
décadas antes de Simone de Beauvoir publicar o 
“Segundo Sexo”, antes de começar a segunda onda 
e é uma das maiores eugenistas e abortistas que 
existe no movimento feminista. Isto está presente na 
primeira onda. Então não existe essa divisão entre o 
bom feminismo e o mau feminismo. O que existe é a atuação de mulheres 
isoladas que evidentemente poderiam ser sim boas mulheres, mulheres 
cristãs, como o caso da Celina Guimarães, que conquistou o direito ao voto 
sem estar ligada a movimento nenhum. 
Essa é uma outra falácia que nós temos que tirar da nossa cabeça 
de uma vez por todas, de que o movimento feminista é um movimento 
que representa todas as mulheres e que as mulheres só podem ser rep-
Margaret Sanger, Enfermeira 
(1879 - 1966)
E - B O O K B P A H I S T Ó R I A D O F E M I N I S M O
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resentadas se o forem pelo movimento feminista. Nós vamos ver agora, 
na nossa próxima aula, um pouquinho sobre quem foi a Margaret Sanger 
para entrarmos na segunda onda. A segunda onda, que abarca os anos de 
1960 em diante, é completamente focada nas questões sexuais. Na nossa 
última aula, vamos falar sobre revolução sexual, afinal, essa é a única pauta 
relevante e verdadeiramente imutável do movimento feminista, desde que 
nasceu até hoje. Na terceira ou quarta onda, já enfrentamos os problemas 
da ideologia de gênero.

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