Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
1 2 SUMÁRIO Apresentação ................................................................................... 07 Introdução ....................................................................................... 08 Prefácio ........................................................................................... 14 Capítulo 1 - PRINCÍPIOS GERAIS DA PSICANÁLISE ............................... 15 Capítulo 2 – TIPOS PSICANALÍTICOS DE PERSONALIDADE ..................... 17 Estrutura da Personalidade ................................................................ 18 Tipologia Traçada por Freud ............................................................... 19 A Teoria da Técnica Psicanalítica ......................................................... 19 Capítulo 3 – OS MÈTODOS DE EXPLORAÇÃO DO INCONSCIENTE ............. 21 Capítulo 4 – REAÇÕES TRANSFERENCIAIS ........................................... 23 Contra-Transferência ........................................................................ 24 Aliança Terapêutica .......................................................................... 24 Capítulo 5 – AS RESISTÊNCIAS ................................................. 26 O Paciente Está Silencioso ................................................................ 27 O Paciente „Não Está com Vontade de Falar‟ ......................................... 27 Afetos Indicando a Resistência ........................................................... 27 Capítulo 6 – PROCEDIMENTO ANALÍTICO ..................................... 29 A)Confrontação ............................................................................... 29 b) Esclarecimento ............................................................................. 29 c) Interpretação ............................................................................... 29 d) Elaboração ................................................................................... 30 3 Capítulo 7 – OS MÉTODOS DE EXPLORAÇÃO DO INCONSCIENTE ............. 31 1) O Método Associativo .................................................................... 31 2) Sentido ....................................................................................... 39 3) O Método Simbólico ...................................................................... 65 Capítulo 8 – SEXOPATOLOGIAS (Perversões Sexuais) E NEUROSES ......... 72 Perversões Sexuais ........................................................................... 72 As Neuroses .................................................................................... 74 Capítulo 9 – A TÉCNICA E A PRÁTICA DA PSICANÁLISE CLÍNICA 77 (Primeiros Passos à Técnica Psicanalítica) ............................................ Primeiro Procedimento – Confrontação ................................................ 77 Segundo Procedimento – Esclarecimento ............................................. 78 Terceiro Procedimento – Interpretação ................................................ 78 Quarto Procedimento – Elaboração ..................................................... 79 Capítulo 10 – ALIANÇA DE TRABALHO ................................................. 80 Capítulo 11 – ABRANGÊNCIA DA PSICANÁLISE ..................................... 82 Análise de Experiência ....................................................................... 83 Capítulo 12 – RESISTÊNCIA ............................................................... 85 O Reconhecimento das Transferências ................................................. 86 O Paciente Está Silencioso... .............................................................. 86 Resistências ..................................................................................... 87 O Paciente Está Entediado ................................................................. 89 Atuação .......................................................................................... 89 O Paciente Tem um Segredo .............................................................. 89 Fatores Destacados por Freud ............................................................ 89 Capítulo 13 – A TEORIA DA RESISTÊNCIA ............................................ 90 4 As Resistências ................................................................................ 91 Capítulo 14 – O PERIGO E A EVOLUÇÃO PSICOTRAUMATOSUGESTIVA 92 ..... Medo do Abandono ........................................................................... 92 Medo da Aniquilação Física ................................................................. 92 Medo de Não Se Sentir Amado ........................................................... 92 Medo da Castração ........................................................................... 93 Medo da Perda da Auto-estima ........................................................... 93 Repetição ........................................................................................ 94 Resistência e Regressão .................................................................... 94 Classificação das Resistências ............................................................ 95 Elementos da Fase Anal ..................................................................... 95 Depressão e Resistências Orais .......................................................... 95 Repressão e Isolamento no Processo Analítico ...................................... 96 Atuação e Resistências de Caráter ...................................................... 96 Resistência Transferencial .................................................................. 97 A Categoria dos Diagnósticos ............................................................. 97 Capítulo 15 – NEUROSES TRANSFERENCIAIS PREDOMINANTES .............. 98 As Histerias ..................................................................................... 98 Neuroses Obsessivas ......................................................................... 98 Depressões Neuróticas ...................................................................... 98 Neuroses de Caráter ......................................................................... 98 Dicotomia entre Resistências Egodistônicas e Egossintônicas .................. 99 Capítulo 16 – ALGUMAS DOENÇAS REVERSÍVEIS PELA CLÍNICA 102 PSICANALÍTICA ................................................................................ Técnica para Análises Resistenciais ..................................................... 102 5 Dinâmica da Situação de Tratamento .................................................. 103 Forças que são Favoráveis ao Psicanalista, aos Processos e aos 103 Procedimentos Psicanalíticos .............................................................. Capítulo 17 – COMO O PSICANALISTA ESCUTA? ................................... 105 O Esclarecimento da Resistência ......................................................... 106 Procedimentos Gerais na Análise das Resistências ................................. 107 O Paciente Determina o Assunto da Sessão .......................................... 108 Resistências Secundárias ................................................................... 108 Perda das Funções do Ego ................................................................. 108 Transferência ................................................................................... 109Definição Prática .............................................................................. 109 Quadro Clínico: Características Gerais ................................................. 109 Elementos de Transferência ............................................................... 110 Aliança de Trabalho .......................................................................... 115 Capítulo 18 – VISÃO DA LITERATURA EM RELAÇÃO À ALIANÇA ............... 116 O Relacionamento Real Entre Paciente e Analista .................................. 116 Problemas na Visão do Psicanalista ..................................................... 116 Os Problemas São Inversamente Proporcionais à Capacidade de Quem os 117 Administra ....................................................................................... Capítulo 19 – CLASSIFICAÇÃO GERAL DAS REAÇÕES E 119 TRANSFERÊNCIAS Tipos de Reações Transferenciais ........................................................ 119 A Técnica de Analisar a Transferência .................................................. 124 O Que a Técnica Psicanalítica Deve Abranger ........................................ 124 Análise de Transferência .................................................................... 125 Os Níveis de Intensidade ................................................................... 126 Algumas Modificações e Elaborações ................................................... 126 Novas Compreensões Internas ........................................................... 127 6 Afetos Internos ................................................................................ 127 Repetições ....................................................................................... 128 Semelhanças ................................................................................... 128 Simbolismo ...................................................................................... 128 Associações-chave ............................................................................ 129 Medidas Técnicas ao Analisar a Transferência ....................................... 129 Silêncio e Paciência ........................................................................... 129 O Uso da Evidência ........................................................................... 130 Esclarecimento da Transferência ......................................................... 130 Procurando o Desencadeador da Transferência ..................................... 131 A Interpretação da Transferência ........................................................ 131 Busca da Origem dos Antecedentes da Figura ....................................... 131 Investigação das Fantasias Transferenciais .......................................... 132 Elaboração das Interpretações Transferenciais ...................................... 132 Considerações Teóricas ..................................................................... 132 Procedimentos Técnicos: a Busca e a Reconstrução ............................... 132 Problemas Especiais ao Analisar as Reações Transferenciais ................... 133 Capítulo 20 – O QUE A PSICANÁLISE EXIGE DOS PSICANALISTAS .......... 135 Compreensão do Inconsciente ............................................................ 135 A Comunicação com o Paciente .......................................................... 136 Capítulo 21 – O PSICANALISTA .......................................................... 141 Componentes Básicos da Psicanálise ................................................... 142 CONCLUSÃO .................................................................................... 157 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ......................................................... 159 7 INTRODUÇÃO No dia 6 de maio de 1856, nascia o fundador da psicanálise o neurologista austríaco Sigmund Freud (1856 - 1939). Confundido na maioria das vezes como psiquiatra, Freud foi responsável por fundar uma área de conhecimento científico baseada na investigação e no estudo do psiquismo humano por meio dos conteúdos inconscientes. A “psicanálise” área que Freud considerava como uma parte da psicologia, por isso muitos ou a chamam de psicologia profunda. Também considerada a mãe das psicoterapias. Freud desenvolveu sua própria teoria de que os humanos têm uma mente consciente e inconsciente, e seu comportamento é afetado por forças externas à sua consciência. Como parte de seus estudos, Freud iniciou uma análise intensiva de si mesmo em 1897. Três anos depois, publicou sua principal obra A Interpretação dos Sonhos - 1900, que analisava os sonhos em termos de desejos e experiências inconscientes. Em 1896, passou a estudar a natureza sexual dos traumas infantis e a delinear uma de suas principais teorias, o Complexo de Édipo. 10 anos depois, juntou-se aos intelectuais Adler, Jung, Jones e Stekel, que em 1908 se reuniram no primeiro Congresso Internacional de Psicanálise, em Salzburg. No ano seguinte, foram convidados a dar conferências nos EUA, na Clark University, em Worcester. Em 1910, por ocasião do segundo congresso internacional de psicanálise, realizado em Nuremberg, o grupo fundou a Associação Psicanalítica Internacional. Entre 1911 e 1913, ocorreram diversas divergências teóricas que resultaram na separação dos pesquisadores. Foi especialmente marcante o afastamento com Jung, com quem nutria intensa amizade. Acreditava que sua teoria ajudava a explicar o comportamento humano, mas quando o médico establishment discordava de sua criação da psicanálise, um método para tratar doenças mentais, trouxe à tona pensamentos e sentimentos reprimidos (ou seja, conscientizando o inconsciente). 8 Freud sempre foi um visionário, a frente do seu tempo mostrou para sociedade que a sexualidade era responsável pelas desordens mentais. Nesta convecção continuou a estudar, atender diversos pacientes e a publicar seu conhecimento teórico e clínico, teve muitos amigos, e diversos inimigos. Em 1902, Freud foi nomeado professor na Universidade de Viena, cargo que ocupou por 36 anos. Em 1923 Freud publicou The Ego and the Id (o Ego e o ID) obra incrível em que o criador da psicanálise fala mais aprofundado sobre o processo de formação do EGO e do ID e seu funcionamento no aparelho do psiquismo humano propondo um novo modelo estrutural da psique, o conhecemos como (ID, EGO e SUPEREGO.) Naquele ano, ele também foi diagnosticado com câncer na mandíbula, pelo qual passou por mais de 30 operações na próxima década e meia. Em 1938, Freud, um judeu, sua esposa e um de seus seis filhos fugiram para Londres depois que os nazistas anexaram a Áustria. Segundo a Enciclopédia Britânica, seus livros foram queimados na Alemanha nazista como frutos de uma "ciência judaica". Freud morreu de câncer em 23 de setembro de 1939. Ele é lembrado como uma das mentes mais influentes - e controversas - dos tempos modernos. Deixou uma extensa obra, traduzida em cerca de 30 línguas, composta por 24 livros, 123 artigos, 5 grandes casos clínicos (Dora, Pequeno Hans, Schereber, Homem dos Ratos e Homem dos Lobos), prefácios, necrológicos, intervenções diversas em congressos, contribuições para enciclopédias e aproximadamente de 20 mil cartas. Além de deixar um legado para diversos psicanalistas que atuam com a psicanálise no mundo. 9 Como dissemos acima embora o nome de Freud tenha muito rapidamente sido associado à ideia de sexo, poucas vezes o sentido que é atribuído por Freud à sexualidade é resgatado corretamente. Isso porque a concepção que Freud introduz sobre a sexualidade é inteiramente nova e não pode ser confundida com as noções que lhe atribui o senso comum, muitas vezescamuflado sob uma máscara de pseudocientificidade. De fato, a noção de sexualidade em Freud só possui um valor particular se referenciada aos seus postulados fundamentais sobre o recalque e o inconsciente. Diversos psicanalistas que são referência té hoje em psicanálise tiveram a responsabilidade de se aprofundarem nas obras de Freud e criarem a partir dela suas contribuições teóricas e clínicas. Qualquer um que se dedique, hoje, ao estudo da psicanálise não pode deixar de abordar a obra de Jacques Lacan. Esta se reparte entre seus escritos, em sua maior parte reunidos em um único volume, e seu seminário, proferido durante aproximadamente trinta anos, primeiro para um grupo restrito de psicanalistas franceses e, depois, tornado lugar de frequência da intelligentsia parisiense. Lacan fez um retorno a Freud com. “Bion desenvolveu pesquisas sobre a formação de fenômenos de grupo, entre outros assuntos. Iniciou seus trabalhos no exército inglês e deu prosseguimento aos mesmos em grupos do Instituto Tavistock, constituídos de pessoas com formações diversas. Muitos dos conceitos desenvolvidos em sua pesquisa se tornaram relevantes para a compreensão de grupos de trabalho e dos fenômenos emocionais subjacentes a eles, influenciando gerações futuras de pesquisadores em diferentes áreas do conhecimento, como já havia sido mostrado por Maria Tereza Leme Fleury e pesquisadores associados”. “Do ponto de vista teórico, suas principais influências são a psicanálise freudiana com destaque para os trabalhos de Freud e seus interlocutores sobre a psicologia das massas: a teoria das três pulsões do Dr. Hadfield (da clínica Tavistock), e as contribuições kleinianas. Do ponto de vista empírico, suas principais fontes são os grupos terapêuticos que desenvolveu em diversas instituições”. Uma extraordinária dama, mais conhecida como Madame Klein, Melanie Klein, nasceu em l882 e faleceu em l960. Estudo, Pesquisa e Transmissão da Psicanálise Kleiniana, editado por um psicanalista sempre em formação, nos faz conhecer Madame Klein, que não era psicanalista, mas, graças à sua capacidade de observação, pesquisa e organização do pensamento, criou a psicanálise denominada psicanálise kleiniana (kleinismo), que não é 10 uma simples corrente psicanalítica. É muito mais do que isto, pois é reconhecidamente uma das mais importantes escolas, comparável ao lacanismo. Assim como os lacanianos, os kleinianos também são freudianos. A característica é que todos se reconhecem na psicanálise enquanto o que se afasta de Freud não é mais psicanálise. Os que praticam a psicanálise tem, em comum, conceitos como o inconsciente, a transferência, um certo tipo de tratamento. Se não se trata mais de psicanálise, então se trata de psicologia, psicoterapia etc. “Esta mulher, que reconheceu inteiramente a contribuição de Freud, inclusive a pulsão de morte, esteve na origem tanto do fundamento analítico da prática dos tratamentos com crianças quanto de uma corrente da psicanálise, em que a clínica do narcisismo chegou ao seu auge”. Klein modificou inteiramente a doutrina e a clínica freudianas, cunhando novos conceitos e instaurando uma prática original da análise, da qual decorreu um tipo de formação didática diferente da do freudismo clássico. Outra importante escola psicanalítica é a de Sandor Ferenczi (1873-1933), médico psiquiatra, psicanalista húngaro, originário de uma família de judeus poloneses imigrantes, e o clínico mais talentoso da história do freudismo. Estava ligado a Freud, desde 1906, sendo o discípulo favorito e um dos seus raros amigos. Com E. Jones e K. Abraham, é um dos maiores colaboradores para o desenvolvimento da psicanálise na Áustria. O sucesso das idéias freudianas na Hungria permitiu que Ferenczi abrisse uma clínica e, até mesmo, durante a curta duração do governo Bela Kun, possibilitou que ensinasse psicanálise na Universidadede de Budapest. Porém, a partir de 1923, começam a surgir divergências entre Freud e Ferenczi, alimentadas pela complexidade dos vínculos afetivos existentes entre eles. Foi no plano técnico que Ferenczi desenvolveu suas contribuições mais originais. A fim de evitar que uma parte demasiado grande da energia psíquica encontrasse satisfações substitutivas, o que iria entravar o tratamento, ele propôs uma “técnica ativa” que proibiria tais satisfações, mas que também poderia incitar a enfrentar as situações patológicas. Diante das dificuldades ligadas a essa técnica, que, amiúde, reforçava as resistências, ele modificou por completo sua técnica, que irá se assemelhar a uma forma de relaxação. Finalmente, chega a conceber uma espécie de análise mútua, destinada a impedir que os desejos inconscientes do analista interfiram no tratamento. Hoje, suas soluções quase não são retomadas, mas suas 11 perguntas constituem a prova de uma consciência aguda de sua responsabilidade como terapeuta. No plano teórico, as pesquisas de Ferenczi objetivam a constituição de uma nova ciência, a bioanálise, que é uma extensão da teoria psicanalítica à área da biologia, ou à psicanálise das origens, segundo a qual a existência intra-uterina seria a repetição de formas anteriores de vida, cuja origem é marinha. O nascimento é a perda do estado originário, ao qual todos os seres vivos aspiram retornar. Assim como os lacanianos os annafreudianos também são freudianos. Anna Freud (1895-1982), psicanalista britânica, de origem austríaca, foi a caçula dos seis filhos de Sigmund e Martha Freud. Presidente do Instituto de Formação Psicanalítica de Viena refugiou-se com o pai em Londres, em 1938, onde fundou, em 1951, a Clínica Hampstead, centro de tratamento, formação e pesquisas em psicoterapia infantil. Suas concepções irão se opor às de M. Klein, em particular do lado da exploração do complexo de Édipo. Anna Freud temia a deterioração das relações da criança com seus pais, se fossem analisados seus sentimentos negativos a respeito deles. A divisão entre o kleinismo e o annafreudismo, que se superpõe à divisão entre psicose e neurose, passa pela questão da psicanálise de crianças. Foi a corrente kleiniana e pós- kleiniana, com efeito, que estendeu o tratamento psicanalítico, centrado na neurose e no complexo de Édipo, a crianças pequenas, aos “borderlines” e à relação arcaica com a mãe, enquanto os annafreudianos concebiam o tratamento das psicoses a partes das neuroses, introduzindo nele uma dimensão social e profilática que está ausente da doutrina kleiniana, a qual só leva em conta a realidade psíquica ou o imaginário do sujeito. Jacques Lacan nasceu em l901. Seriam precisos apenas 25 anos para que começassem a despontar no palco do mundo os efeitos do seu nascimento. Após 1920, Freud introduziu o que irá chamar de segunda tópica: uma tese que torna o “eu” (ego), uma instância reguladora entre “isso” (id – fontes das pulsões), o supereu (superego – agente das exigências morais) e a realidade (lugar onde se exerce a atividade). Pode surgir, no neurótico, um reforço do eu, para “harmonizar” essas correntes, como uma finalidade de tratamento. Ora, Lacan faz sua entrada no meio psicanalítico com uma tese completamente diferente: o eu, escreveu ele, constrói-se à 12 imagem do semelhante e primeiramente da imagem que me é devolvida pelo espelho – este sou eu. O investimento libidinal desta forma primordial “boa”, porque supre a carência de meu ser, será a matriz das futuras identificações. Assim, instala-se o desconhecimento em minha intimidade e, ao querer forçá-la, o que irei encontrar será um outro; uma tensão ciumenta com esse intruso que, por seu desejo, constitui meus objetos, ao mesmo tempo em que os esconde de mim, pelo próprio movimento pelo qual ele me esconde de mim mesmo. É como outro que sou levado a conhecer o mundo: sendo, desta forma, normalmente constituinte da organização do “jê” (euinconsciente, Isso, Id), uma dimensão paranóica. O olhar do outro devolve a imagem do que eu sou. O bebê olha pra a mãe buscando a aprovação do Outro simbólico. O artigo “O Estádio do espelho como formadora da função do „jê‟” (eu) foi apresentado, em l936, ao Congresso Internacional de Psicanálise, sem encontrar outro eco senão o toque de campainha de E. Jones, interrompendo uma comunicação demasiado longa. Sua reapresentação em Paris, em 1947, não suscitou maior entusiasmo. O termo “Estádio do espelho” teria sido inventado por Henry Wallon. Lacan, entretanto, o apresentou com uma outra forma. Ele inicia com um mito e apóia-se na idéia de que o ser humano é um ser prematuro no nascimento com uma incoordenação motora constitutiva. A idéia é que o bebê só conseguirá encontrar uma solução para tal estado de desamparo por intermédio de uma “precipitação” pela qual ele “antecipará” o amadurecimento de seu próprio corpo, graças ao fato de que ele se projeta na imagem do outro (figura materna) que se encontra como que por milagre diante dele. Essa precipitação na imagem do outro é que leva o bebê a sair da sua prematuração neonatal. O movimento de precipitação, neste outro, leva o bebê a uma alienação. O bebê tem (é obrigado) que se “alienar” para que se constitua um sujeito. O “falo” (falus, falta) da mãe é completado com o nascimento do filho. A mãe deseja ter um filho (dá-lhe um nome), engravida. Reconhece que seu filho é um ser humano e este chora porque está com fome e lhe dá o “objeto seio” para a satisfação da oralidade (leite/alimento e a catexia da libido oral), passando o bebê da natureza (instinto-animal) para a cultura (pulsão- homem). Estabelece uma “linguagem” com o 13 “simbólico” mãe. Este passa por um processo de “alienação” para se construir como sujeito com o fim da fase oral (canibalesca, de 0 a 1,5 anos). O bebê antes do “Estádio Espelho” ( 6 a 18 meses) não se vê como um corpo unificado, sente-se como um corpo fragmentado. Sua mãe/seio faz parte dele e ela (mãe, “boca de jacaré”) sente como se ele (filho/falo) fosse parte dela. Com o princípio prazer/desprazer verificamos que a energia é maior no desprazer: o bebê busca o prazer através do seio materno (leite e libido oral). Porém só quando o bebê perde o objeto do seu desejo (mãe/seio) é que ele verifica que sua mãe não faz parte do seu corpo e não é completa (completude). Melanie Klein fala ainda sobre alienação que tem o sentido de que o bebê não tem uma unificação, e ele se constitui como sujeito devido ao resultado do efeito que esse outro (mãe) tem no bebê. Nessas condições o bebê (eu, sujeito), é senão a imagem do outro. É no outro e pelo outro que aquilo que quero me é revelado. Meu desejo é o desejo do outro. Não sei nada de meu desejo, a não ser o que o outro me revela. De modo que o objeto de meu desejo é o objeto do desejo do outro. O desejo é, acima de tudo, uma seqüela dessa constituição do eu no outro. O “sujeito”, que define a alienação constitutiva do ser, no encontro com o espelho, verifica o “rapto” que esse outro opera nele. É no espelho que a criança vê seu corpo unificado, deixando de ser fragmentado. No espelho a criança vê que ele existe e não é o outro (mãe), existindo duas pessoas distintas. Neste momento identifica a “falta”, a separação da mãe e não é a constituição do “sujeito falante”. Sigmund Freud (1856-1939) foi médico neurologista judeu-austríaco, criador da psicanálise. Nasceu em Freiberg, Morávia (hoje Pribor), quando pertencia ao Império Austríaco. Interessou-se pela histeria e, tendo como método a hipnose, estudou pessoas que apresentavam esse quadro clínico. Mais tarde, com interesse pelo inconsciente e pulsões, entre outros, foi influenciado por Charcot e Leibniz, abandonando a hipnose em favor da associação livre e da interpretação dos sonhos. Estes elementos tornaram-se as bases da psicanálise. Freud, além de ter sido um grande cientista e escritor (Prêmio Goethe, 1930), possui o mérito, assim como Darwin e Copérnico, de ter realizado uma revolução no âmbito humano: a idéia de que somos movidos pelo inconsciente. 14 Freud, suas teorias e sua forma de tratamento com seus pacientes foram controversos na Viena do século XIX, e continuam a ser muito debatidos hoje. Suas idéias são frequentemente discutidas e analisadas como obras de literatura e cultura geral em adição ao contínuo debate ao redor delas no uso como tratamento científico. Freud inovou em dois campos. Desenvolveu, simultaneamente, uma teoria da mente e da conduta humana, e uma técnica terapêutica para ajudar pessoas comprometidas psiquicamente. Alguns de seus seguidores afirmam estar influenciados por um, mas não pelo outro campo. Provavelmente a contribuição mais significativa que Freud teve para o pensamento moderno é a de tentar dar ao conceito de inconsciente um status científico (não compartilhado por várias áreas da ciência e da psicologia). Seus conceitos de inconsciente, desejos inconscientes e repressão foram revolucionários: propõem u‟a mente dividida em camadas ou níveis, dominada, em certa medida, por vontades primitivas que estão escondidas sob a consciência e que se manifestam nos lapsos e nos sonhos. Como parte de sua teoria, Freud postula também a existência de um préconsciente e o inconsciente (o termo subconsciente é utilizado popularmente, mas não é parte da terminologia psicanalítica). A repressão em si tem grande importância no conhecimento do inconsciente. De acordo com Freud, as pessoas experimentam repetidamente pensamentos e sentimentos dolorosos que não podem suportar. Freud criou uma vasta terminologia: associação livre, auto-erotismo complexo, complexo de castração, de Édipo e de Electra, contratransferência da condensação, fixação, histeria, id, ego, superego, inconsciente, narcisismo, neurose, pré-consciente, princípio do prazer, psicologia analítica, psicossomatismo, repressão e trauma. Freud procurou uma explicação para a forma de operar do inconsciente, propondo uma estrutura particular. No primeiro tópico de sua teoria ele estava preocupado em estudar o que levava à formação dos sintomas psicossomáticos (principalmente a histeria e, para isso, apenas os conceitos de inconsciente, préconsciente e consciente eram suficientes). Quando sua preocupação se virou para a forma como se dava o processo da repressão, passou a adotar os conceitos de id, ego, e superego. O id representa os processos primitivos do pensamento e constitui, segundo Freud, o reservatório das pulsões. Dessa forma toda energia envolvida na atividade humana seria 15 advinda do id. Inicialmente, considerou que todas as pulsões seriam ou de origem sexual, ou que atuariam no sentido de auto-preservação. Posteriormente, introduziu o conceito das pulsões de morte que atuariam no sentido contrário ao das pulsões de agregação e preservação da vida. O id é responsável pelas demandas mais primitivas e perversas. O ego permanece entre ambos, alternando necessidades primitivas e nossas crenças éticas e morais. É a instância na qual se inclui a consciência. Um eu saudável proporciona a habilidade para adaptar-se à realidade e interagir com o mundo exterior de uma maneira que seja cômoda para o id e o superego. O superego é a parte que contra-age ao id, e representa os pensamentos morais e éticos internalizados. Finalmente, Freud também acreditava que a libido amadurecia nos indivíduos por meio da troca de seu objeto (ou objetivo). Argumentava que os humanos nascem “polimorficamente perversos”, no sentido de que uma grande variedade de objetos pode ser uma fonte de prazer, sem ter a pretensão de se chegar à finalidade última. De acordo com a área na qual a libido está mais concentrada: a etapa oral (exemplificada pelo prazer dos bebês ao chamar a chupeta, que não tem nenhuma função vital, mas apenas de proporcionarprazer); a etapa anal (exemplificada pelo prazer das crianças ao controlar sua defecação); e logo a etapa fálica (que é demonstrada pela manipulação dos órgãos genitais). Até então percebe-se que a libido é voltada para o próprio ego, ou seja, a criança sente prazer consigo mesma. O primeiro investimento objetal da libido, segundo Freud, ocorre no progenitor do sexo oposto. Esta fase caracterizada pelo investimento libidinal em um dos progenitores chama-se complexo de Édipo. A criança passa então a amar a mãe e a experienciar um sentimento antagônico de amor e ódio com relação ao pai. Ela percebe que tanto o amor vivido com a mãe como o ódio vivido com o pai são proibidos. O complexo de Édipo é então finalizado com o surgimento do superego, com a desistência da criança com relação à mãe e com a identificação do menino com o pai. Por que Freud? Porque de todos os pensadores que nos últimos duzentos anos modelaram a nossa compressão da natureza humana, sem dúvida Freud se encontra ao lado de Platão, Newton, Darwin e Karl Marx. 16 Mas o que dá a Freud tal importância? Simplesmente pelo fato de ele ter dissociado a psicologia humana do senso religioso comum, que era a teologia cristã, tendo-a trazido para o ponto de convergência da natureza humana. É lógico que Freud sofreu a influência do movimento empírico da sua época em que se buscava a razão do processo do conhecimento, afastando, assim, o estigma religioso. No entanto, ainda encontramos hoje publicações psicológicas e até psicanalíticas abrangendo o ponto religioso, obras como Psicanálise e Judaísmo, Psicanálise e Espiritismo, dentre outras do gênero. A importância de Freud é que modificou a perspectiva religiosa que existia desde então. O todo da vida humana torna-se mais importante do que o sentido da alma. A psicanálise deixa o “homem nu” perante si mesmo. Concluindo, agradeço a todos que me inspiraram nesse trabalho e que é fruto de muita leitura, seminários, conferências, anotações de aulas, pesquisas, congressos, etc., e sem dúvida alguma, o resultado de uma exaustiva compilação do que há de melhor dos ícones transmissores do conhecimento e da escuta psicanalítica. Destaco, entre muitos o Dr. Ralph R. Greenson, muitíssimo citado nesse trabalho, devido ao seu grande conhecimento desta ciência, de sua técnica e a prática da psicanálise. CAPÍTULO 1 PRINCÍPIOS GERAIS DA PSICANÁLISE A palavra “Psicanálise” é usada para designar três coisas e poderemos muito naturalmente perguntar como será isso possível, uma vez que as três coisas são de natureza bem diferente. “Psicanálise” significa um método especial de tratamento concebido por Sigmund Freud, de Viena, para a cura de certa classe de desarranjos nervosos. Este sentido restrito foi aquele em que, pela primeira vez, foi usada a expressão. Significa também uma técnica especial de investigação das camadas profundas da mente. Finalmente, esta palavra é 17 empregada para descrever a extensão de conhecimento que se adquiriu pelo exercício deste método e, neste sentido, é praticamente sinônimo de “ciência do inconsciente” (Ernest Jones). A atividade psicanalítica não se subordina ao Conselho Federal de Medicina, nem ao Conselho Federal de Psicologia, mas atua de forma interdisciplinar com a Medicina e a Psicologia na promoção do bem estar da saúde humana. O Conselho Federal de Medicina estabelece procedimentos para a classe médica, e o Conselho Federal de Psicologia, para psicólogos. Poderíamos dizer ainda que “a Psicanálise é um processo de investigação sobre o funcionamento do inconsciente cujos resultados são terapêuticos”. A Psicanálise baseia-se na suposição de que os significados das experiências vividas pelos seres humanos permanecem, em grande parte, desconhecidas por eles próprios. Estes significados inconscientes exercem um papel muito importante sobre os sentimentos e sobre o comportamento humano, gerando sofrimentos ou distúrbios que variam de um simples desajustamento ocasional até graves distúrbios da personalidade e do contato com a realidade, inibição de diversas funções psíquicas ou dificuldades diversas no relacionamento pessoal e emocional. O tratamento psicanalítico, na medida em que traz estes significados inconscientes à tona, permitindo que eles sejam analisados pelo paciente junto com o analista, abre um campo novo de perspectivas para o indivíduo ajudando-o a lidar melhor consigo próprio e com as realidades da vida. A análise implica em um relacionamento íntimo durante o qual o paciente revive com o analista seus conflitos inconscientes na experiência do dia-a-dia, nas fantasias e nos sonhos. Por esse motivo, a análise demanda tempo, continuidade e precisa se dar em um ambiente de acolhimento, isenção, respeito confiabilidade, ambiente cujas regras e limites o analista aprende durante o longo período de sua formação analítica. Mas a análise não é apenas um método de conhecer a mente. Ela é, também, uma teoria geral sobre o comportamento humano que influenciou, como nenhuma outra disciplina do século XX, as ciências humanas em geral. A Medicina , a Psicologia, a Pedagogia, a 18 Antropologia, a Sociologia, a História, a Filosofia, a Lingüística, as artes e a cultura, de um modo geral, foram ficaram profundamente marcadas pelos seus postulados. A teoria psicanalítica interessa-se tanto pelo funcionamento mental normal como pelo psicológico. Mesmo sendo os pacientes da Psicanálise mentalmente enfermos, as teorias se referem tanto ao normal quanto ao anormal. A Psicanálise nos apresenta o determinismo psíquico e o fenômeno psíquico. Determinismo psíquico é o princípio que na mente humana afirma que nada acontece por acaso ou de modo aleatório. Cada evento psíquico é determinado por outros que os precederam. Sempre existe uma razão para todos. Os fenômenos psíquicos e os fenômenos mentais necessitam de um elo entre eles. Nenhum deles é acidental. Sempre existirá também uma razão que justifique sua existência. Na Psicanálise não existem “casualidades”. Cada evento pode parecer independente, mas o é apenas na aparência. Por ter sentido em especial, ele acontece porque foi causado por um desejo ou uma intenção da pessoa envolvida. Como há um elo entre um evento e outro, não existem casualidades na vida mental. Tudo tem uma explicação. Damos nomes às manifestações comuns do sono. Dá-se o nome de sonhos quando a imagem, em cada sonho, mantém uma relação coerente e significativa com o restante da vida psíquica daquele que sonha, sendo conseqüências de outros eventos psíquicos. Freud descobriu que o sonho segue o mesmo princípio do determinismo psíquico. Descobriu também que cada sonho com sua imagem distinta mantém íntima ligação com a vida mental da pessoa. Durante vários anos Freud desenvolveu uma técnica chamada Psicanálise, pela simples razão de ter sido capaz, com a sua ajuda, de entender e descobrir os processos psíquicos de uma pessoa quer sã ou enferma. E isto foi de extrema importância. O sonho oferece importante material para análise. Freud descobriu através da técnica psicanalítica que por detrás de todo sonho existem pensamentos e desejos inconscientes ativos. Pode, assim, demonstrar que quando se produzem sonhos, estes são provocados por atividades mentais inconscientes para a pessoa que sonha e assim permaneceriam a não ser que seja utilizada a técnica psicanalítica. 19 Acrescentou ainda que o instinto, quando em ação, produz um estado de tensão ou excitação psíquica. Esta tensão leva o individuo para a ação ou atividade. Esta atividade no individuo é, de um modo geral, geneticamente determinada, mas pode ser consideravelmente alterada pela experiência individual, e levará à cessação da excitação ou tensão ou, ainda, à gratificação. Indicando uma característica da ação do impulso, diríamos que háuma seqüência que é característica da ação do impulso, por exemplo: necessidade, atividade motora, gratificação. Essa seqüência trabalha diretamente com elementos de experiência subjetiva. Sobre os impulsos, há dois exemplos: a) impulso sexual – refere-se ao que, grosso modo, falamos relativo ao sexo. Este impulso dá origem ao componente erótico das atividades mentais; b) mpulso agressivo – refere-se à agressividade. Este impulso dá origem ao componente destrutivo. Freud definiu o impulso como um estímulo da mente, proveniente do corpo. Capítulo 2 TIPOS PSICANALÍTICOS DE PERSONALIDADE As fases do desenvolvimento psicossexual da criança: 1º Estágio - Fase Oral - Este período do desenvolvimento da personalidade é assim chamado porque a maior parte das necessidades e interesses da criança está concentrada na porção superior do trato digestivo. Quer dizer, seus impulsos são satisfeitos principalmente na área da boca, esôfago e estômago, ou melhor, a libido está intimamente associada ao processo de alimentação. É o período de aproximadamente um ano que segue ao nascimento. 2º Estágio - Fase Anal - A criança passa, aos poucos, de uma posição predominantemente passiva e receptiva para uma posição predominantemente ativa. Durante o segundo e terceiro ano de vida, a região do ânus adquire uma importância fundamental na formação da personalidade. Neste período a energia libidinosa está centrada na porção posterior do trato digestivo e a satisfação anal ocupa uma posição de destaque. A criança obtém prazer pela estimulação da mucosa retal e das partes adjacentes. Precursores do superego. Desenvolvimento psicossocial: Autonomia X vergonha e dúvida. É o período de transição de um ano para p segundo e que segue aos três anos de idade. 20 3º Estágio - Fase Fálica - Corresponde ao período que vai dos três anos aos cinco ou seis anos de idade. O termo fálico, relativo ao pênis, usado para esta fase, provém do fato da libido concentrar-se nos órgãos genitais que passam a ser a zona erógena predominante. O complexo de Édipo e o complexo de castração bem como o desenvolvimento psicossocial: Iniciativa X culpa. Veremos mas profundada essa fase na próxima disciplina o importante é você fixar esses conceitos que são muito utilizado na sua formação e no seu exercício profissional. 4º Estágio - Fase de Latência - Período que vai, aproximadamente, dos cinco aos dez anos. Este período caracteriza-se por uma aparente interrupção do desenvolvimento sexual, em que os impulsos eróticos exercem menor influência na conduta e o ego encontra uma trégua para os conflitos emocionais que vinham se desenrolando nas fases anteriores. Afastando-se temporariamente dos interesses sexuais, a criança utiliza a energia psíquica para o fortalecimento do ego. Vamos nos referir mais objetivamente a esses tipos psicanalíticos de personalidade: Personalidade Oral – esta reflete as experiências infantis durante o estágio oral da libido. As tendências caracterológicas para a prepotência, domínio sobre os outros, voracidade, cobiça e inveja estão radicadas no impulso primitivo da criança para incorporar oralmente a mãe (objeto total) ou o seio materno (objeto parcial). O otimismo é considerado um produto psicogênico de uma amamentação abundante e sem restrições. Personalidade Anal – reflete as experiências infantis durante a aprendizagem do controle da defecação. As tendências caracterológicas para a vaidade, desconfiança, ambição e generosidade sem amor estão associados ao prazer da evacuação. As tendências para a meticulosidade, parcimônia, amor à ordem e ao método, obstinação e avareza estão radicadas na retenção das fezes. Sendo um prazer ambivalente (evacuar pode significar, para a criança, expelir um mau objeto interno ou oferecer à mãe um mau objeto interno que pode envenená-la ou destruí-la). Tais tendências caracterológicas podem combinar-se no tipo de personalidade anal. Quando excessivamente acentuada, a personalidade anal pode resultar em uma fixação infantil, em virtude de a criança não ter sido capaz de conciliar os prazeres anais com as exigências sociais (por exemplo, o treino de toillete, a disciplina da higiene pessoal). 21 Personalidade Fálica – reflete as experiências marcadas pelo interesse e sentimentos associados ao pênis (para a mulher, o símbolo equivalente). As tendências caracterológicas para a ostentação generosa ou benemerente, o narcisismo, a camaradagem, a afiliação e atividades lúdicas (jogos, competições esportivas etc.) estão associadas à primazia fálica. São estes os três padrões básicos de personalidades originados nos estágios pré- genitais do desenvolvimento psicossexual. A fase culminante do desenvolvimento sexual em que a pessoa estabelece relações verdadeiramente afetivas com o parceiro sexual corresponde, na caracterologia adulta, à personalidade genital, à síntese dos impulsos psicossexuais medidos não só pela potência fisiológica, mas também pela capacidade de amor em termos adultos. É o padrão equilibrado e maturo da personalidade adulta. Estrutura da Personalidade • Id • Ego • Superego Id – Segundo o conceito freudiano de estrutura da personalidade, o id é o componente arcaico e inconsciente de energias mentais (psiqué) que dinamiza o comportamento humano. Do id promanam os impulsos cegos e impessoais devotados à gratificação do instinto sexual (libido), estreitamente vinculado às necessidades primárias das pessoas (comer e não ter fome). Temos, pois, que o id é o verdadeiro inconsciente ou a parte mais profunda da psiqué. Ignora o mundo exterior, com quem não está em contato, e o objeto único de seus interesses é o corpo, sendo suas relações com ele dominadas unicamente pelo princípio do prazer. Freud descreveu, ainda, a hegemonia total dos instintos do prazer nas fases primitivas do desenvolvimento mental, como decorrência direta do fato de as duas atividades básicas da criança pequena – mamar e defecar – terem provocado a sexualização (libidinização) da boca e do ânus, zonas erógenas. Ulteriormente, Freud ampliaria, com algumas modificações, esta sua primeira teoria (Para além do Princípio do Prazer) e a libido deixaria de identificar-se exclusivamente com o instinto sexual e o princípio do prazer, para ser eros – o instinto da vida e da auto-preservação, no qual o componente sexual estava logicamente incluído. 22 Ego – Segundo o conceito psicanalítico da estrutura da personalidade, enunciado por Sigmund Freud, o ego constitui o componente intermediário das energias mentais (entre o id – inconsciente – e o superego – ego ideal ou consciência). O ego exerce o controle das experiências conscientes e regula entre a pessoa e o meio ocupando, portanto, a posição de um centro de referência para todas as atividades psicológicas e qualidades egocêntricas. É através do ego que aprendemos tudo sobre a realidade externa e orientamos nosso comportamento no sentido de evitar os estados dolorosos, as ansiedades e as punições. Superego – Na estrutura teórica da personalidade descrita por Freud, o superego é a mais recente formação ou componente do sistema de energias mentais e foi correlacionado com o declínio e dissolução do Complexo de Édipo. A noção do superego foi inspirada nos estudos de introjeção de Sandor Ferenczi (a progressiva introjeção pela criança dos eventos em seu meio vital) e suas relações com o desenvolvimento de uma instituição moral a partir do ego. O superego é o representante de uma natureza superior que no eu (Freud) atua no sentido de evitar punições por transgressões morais ou fomentar ideais moralmente aceitos. Ele pode reprimir e criticar as idéias, impulsos e sentimentos inconscientes que afetam o comportamento moral e judicativo da personalidade (atividade a que se dá, usualmente, o nome de consciência, que pode apoiar a realização deuma natureza superior ou ideal). Assim, os três componentes básicos do sistema encontram-se permanentemente empenhados numa interação que é uma batalha constante: o id em busca de sua satisfação irracional, o ego procurando ajustar as exigências e impulsos do id ao mundo da realidade, e o superego tentando reprimir ou apoiar o impulso que for moral e socialmente reprovável ou louvável. Escreveu Freud: “O superego não é apenas o depositário das anteriores opções objetais; representa também uma enérgica formação de reação contra essas opções. Sua relação abrange a proibição: você não deve ser como tal (consciência)”. São duas as características inconscientes da atividade do superego: a) Lei de Talião – é a punição por uma maldade ou um crime aplicado ao malfeitor, fazendo-o sofrer o mesmo dano a quem ele o infringiu. É o célebre “olho por olho” e “dente por dente”. Em sentido psicanalítico, são as punições inconscientes que o superego 23 impõe ao individuo, por suas ações que foram reprovadas pelo superego, mas que foram praticadas, produzindo um conceito de justiça, comum na criança pequena. b) Falta de Discriminação entre Desejo e Ação – na investigação psicanalítica é lugar comum que o superego ameaça castigar tão severamente tanto o desejo ou impulso como a ação praticada. Tipologia Traçada por Freud Freud traçou uma tipologia como causa da carreira criminosa. É a psicopatologia da vida cotidiana: são fenômenos da vida mental como os enganos, erros, omissões e lapsos da escrita e de linguagem. Estes fenômenos são comumente conhecidos por acidentes. Antes de Freud os descobrir eram conhecidos como ocorrências intencionais que seriam conscientes por parte do individuo. Freud descobriu tratar-se de ações propositais e intencionais do individuo cuja intenção era inconsciente. É necessário esclarecer a interpretação do significado inconsciente do lapso. O lapso esconde um desejo que o superego reprovou. O ego, portanto, reprimiu por longo tempo este comportamento ou desejo para o psicanalista por meio de associações que são feitas com a vida do indivíduo. A Teoria da Técnica Psicanalítica A terapia psicanalítica é uma terapia causal; ela procura desfazer as causas da neurose. É seu objetivo solucionar os conflitos neuróticos do paciente, incluindo a neurose infantil que serve de núcleo à adulta. Solucionar os conflitos neuróticos significa juntar ao ego consciente aquelas parcelas do id, superego e ego inconsciente que ficaram excluídas dos processos de amadurecimento da parte restante saudável da personalidade total. Segundo Freud, o psicanalista aborda os elementos inconscientes através de seus derivativos. Todos os componentes reprimidos do id e do ego produzem derivativos – “meio- irmãos”. Não estão conscientes e, mesmo assim, estão muito bem organizados de acordo com o processo secundário e acessíveis ao ego consciente. 24 O principal procedimento que o psicanalista exige do paciente é a associação livre. Charles Ricroft inicia afirmando que “a tradução equivocada de Brill da “Freier Einfall”, de Freud, versão que, no entanto, se tornou termo aceito em inglês. Einfall significa “irrupção”, idéia repentina, e não “associação”; o conceito refere-se a idéias que nos ocorrem espontaneamente, sem esforço. Quando utilizada como termo técnico, associação livre descreve o modo de pensar incentivado no paciente pela recomendação do analista de que deve obedecer à “regra básica”, isto é, comunicar seus pensamentos sem reserva e não tentar concentrar-se enquanto assim procede. A técnica da associação livre apóia-se em três suposições: a) que todas as conseqüências de pensamento tendem a conduzir ao que é significante; b) que as necessidades terapêuticas do paciente e o conhecimento de que está em tratamento conduzirão seus associados no sentido do que é significante, exceto na medida em que a resistência operar; c) que a resistência é minimizada pelo relaxamento e maximizada pela concentração. Foi a adoção, por Freud, da técnica da associação livre que lhe permitiu abandonar a hipnose. A resistência manifesta-se durante as sessões por falhas na capacidade de o paciente associar livremente. Algumas descrições da técnica analítica fazem-na depender inteiramente da associação livre e do resultante do surgimento do “material” patogênico pertinente; isso, porém, constitui um exagero de simplificação, uma vez que: a) o analista faz interpretações e as elocuções seguintes do paciente são associações à intervenção daquele, e não livres; b) as intervenções do analista obrigam o paciente a examinar atentamente suas associações livres em identificação com o analista, isto é, o paciente faz duas coisas simultaneamente, ou em rápida oscilação: associação livre e reflexão. Uma formulação alternativa é que o paciente oscila entre ser o sujeito e o objeto de sua experiência, em determinado momento, deixando os pensamentos fluírem e, no seguinte, examinando-os. 25 Capítulo 3 OS MÉTODOS DE EXPLORAÇÃO DO INCONSCIENTE São dois os métodos de exploração do inconsciente: o associativo e o simbólico. O associativo visa a um duplo resultado: o desrecalcamento e a interpretação. Solicita-se ao paciente que use o máximo de sua capacidade, que tente deixar as coisas surgirem em sua mente e verbalizá-las sem se importar com a lógica e a ordem. Mesmo que lhe pareça não terem importância ou até mesmo serem aparentemente vergonhosas ou indelicadas a serviço do ego e os derivados, do ego inconsciente, do id e do superego tendem a vir à superfície. Sabemos que o paciente deseja recuperar-se porque está sofrendo de uma neurose, mas, existem forças dentro dele que são opostas à mudança pretendida, forças que defendem a mudança e o statu quo. Estas forças que se opõem ao processo de tratamento são conhecidas por resistências, termo que quando utilizado como termo técnico, é a oposição que se verifica existir durante o tratamento psicanalítico, contra o processo de tornar conscientes os processos inconscientes. Diz-se que os pacientes se encontram em estado de resistência caso se oponham às interpretações do analista, e que têm resistências fracas ou fortes conforme achem fácil ou difícil permitir que seus analistas os compreendam. A resistência é uma manifestação de defesa; uma possível exceção é a „resistência do inconsciente‟ à compulsão e à repetição (Charles Ricroft. Dicionário Crítico de Psicanálise). Portanto, uma das características da Psicanálise é que se pede ao paciente que inclua suas associações quando narra seus sonhos ou outras experiências. A livre associação tem prioridade sobre todos os outros meios de produção de material na situação analítica. É preciso estar atento para que a associação livre não seja usada erradamente para ajudar a resistência. O analista tem por tarefa analisar tais resistências para restabelecer o uso adequado da associação livre. 26 A associação livre é o método mais importante para a produção do material na Psicanálise. É utilizada em momentos pré-estabelecidos naqueles tipos de psicoterapia que buscam certa dose de volta do reprimido, as assim chamadas „psicoterapias orientadas psicanaliticamente‟. Não é empregada nas terapias antianalíticas, de apoio ou de encobrimento do reprimido. O que acabamos de dizer sobre o método associativo, nos permitirá examinar brevemente o método simbólico. Voltaremos à esse mesmo tema, posteriormente. Nunca se deve perder de vista: Freud muitas vezes repetiu que o método simbólico desempenha em Psicanálise um papel absolutamente secundário. É de admirar que apesar dos protestos reiterados do mestre de Viena, o público, mesmo científico, vê na Psicanálise muitas vezes apenas uma chaves dos sonhos. Relembremos que a simbolização, no sentido estrito freudiano, não deveser confundida com a dramatização. Na dramatização, há passagem de uma idéia abstrata para uma imagem. Na simbolização, há passagem de uma imagem para outra imagem, além disso, o símbolo tem um valor coletivo. O exame da validez do método simbólico comporta duas fases. É preciso, em primeiro lugar, procurar saber como se estabelece uma lista de símbolos. Em segundo lugar, é preciso fixar quais são os critérios que justificam a interpretação simbólica num determinado caso. Objetar-se-á talvez que invertemos a lógica dos problemas. É preciso, primeiro estabelecer a validez da interpretação simbólica num certo número de casos concretos e só em seguida se poderá generalizar. Esta objeção repousa numa grave confusão, que importa dissipar. Uma relação de causalidade pode ser conseguida de duas maneiras muito diferentes. No primeiro caso, a reação de causalidade tem um valor inteligível e impõe-se diretamente à razão. Basta comparar a marca deixada por um pé humano nu sobre a areia úmida e a forma desse pé para apreender intuitivamente a relação de causalidade, mesmo se se dispõe apenas de um único espécime de marca. Vimos que, em condições favoráveis, o método associativo conduz a uma certeza desse gênero. 27 Num segundo caso, a relação de causalidade não é compreensível diretamente, sua existência só pode ser demonstrada estatisticamente. Assim é que os médicos gregos reconheceram que a orquite podia ser uma complicação da cachumba. Ela não acompanha sempre a cachumba, nem apenas a cachumba, mas sua freqüência nos homens em geral. O redator do Primeiro Livro das Epidemias, da coleção hipocrática, não fala explicitamente no princípio lógico da comparação das freqüências, não deixando esse princípio porém de ser o fundamento de sua asserção. Aqui a causalidade é apreendida graças à lei dos grandes números, mas poder-se-ia percebe-la com certeza com um único exemplo. Capítulo 4 REAÇÕES TRANSFERENCIAIS A transferência é a vivência de sentimentos, impulsos, atitudes, fantasias e defesas dirigidas a uma pessoa no presente, sendo que essa vivência não se coaduna com a pessoa e constitui uma repetição, um deslocamento de reações surgidas em relação a pessoas importantes na infância primitiva. A transferência pode ser positiva ou negativa. Transferência positiva – A transferência positiva implica as diferentes formas de anseios sexuais, tais como o gostar, o amar e o respeitar o analista. Transferência Negativa – A transferência negativa implica algumas variações da agressividade sob a forma de raiva, aversão, ódio ou desprezo pelo analista. Deve ter-se sempre em consideração que todas as reações transferenciais são essencialmente ambivalentes. Clinicamente, o que aparece é apenas a superfície.[1] As pessoas que se recusam a regredir da realidade são riscos indesejados para a Psicanálise. Freud dividiu as neuroses em dois grupos, baseado no fato de o paciente conseguir ou não desenvolver e manter um conjunto relativamente coerente de reações transferenciais e, mesmo assim, agir na análise e no mundo externo. Os pacientes com uma “neurose de transferência” conseguiam fazê-lo, ao passo que os pacientes sujeitos a uma “neurose narcísica” não o conseguiam. http://br.mg4.mail.yahoo.com/dc/blank.html?bn=157.18&.intl=br&.lang=pt-BR#_ftn1 http://br.mg4.mail.yahoo.com/dc/blank.html?bn=157.18&.intl=br&.lang=pt-BR#_ftn1 28 A teoria da transferência é uma das mais importantes contribuições de Freud à ciência e também o pilar do trabalho psicanalítico. Ela precisa ser entendida como um falso enlace, que tem, em princípio, dois objetivos, ambos inconscientes: a) satisfazer as necessidades propriamente inconscientes, confundindo a pessoa do psicanalista com as pessoas que faltaram ou faltam na vida do paciente; b) evitar a subida do mundo inconsciente ao consciente, funcionando, desse modo, como resistência, como dissimulação, com o fim de direcionar as energias mentais para um lado que abarque a manifestação do universo inconsciente. Não importando o caso, a transferência poderá ser encarada como uma fraqueza de caráter, como “safadeza” do paciente, porém algo inevitável às pessoas mais sérias. É sempre um problema da personalidade no que diz respeito às neuroses, carências etc. As pessoas que sufocam as manifestações transferenciais conseguem plasmar mais uma carência, fortalecendo assim o patrimônio neurótico. Contra-transferência Podemos definir contra-transferência, como as atitudes, sentimentos e fantasias que o psicanalista experimenta, muitas das quais provêm, aparentemente de modo irracional, de suas próprias necessidades e conflitos psíquicos e não de circunstâncias reais de suas relações com o paciente. A contra-transferência pode ser, como deduzimos da definição, conseqüência de carência do psicanalista em si. Nesse caso é “uma resposta emocional do psicanalista aos estímulos que provêm do paciente, como resultado da influência do analisado sobre os sentimentos do profissional” (Etcheroyen). Se na transferência temos que estar atentos para interpretá-la, de igual maneira precisamos estar atentos aos nossos sentimentos e sempre dispostos a autointerpretação, sob pena de ficarmos vendidos no relacionamento e impedidos de trabalhar em benefício do paciente. 29 Como abordaremos no item relativo à aliança terapêutica que deve ser uma evolução da transferência, a própria transferência racional, de certa forma postulamos o mesmo para a contra-transferência. Neste caso, quando interpretamos, quando identificamos os motivos dessa afetividade etc., transformamos esse sentimento intenso no correspondente a aliança terapêutica que chamamos descendente. A aliança terapêutica descendente, que vem do psicanalista, é igualmente um importante instrumento do processo, porque liga o psicanalista ao paciente, sem interdependência em nível de sentimento. Aliança Terapêutica Este delicado assunto, por muitos é confundido com transferência. A transferência ocupa uma parte definida do universo psicanalítico. Nem tudo o que ocorre na situação analítica é transferência. Devemos, contudo, reconhecer que a linha divisória entre aliança terapêutica e transferência é muito tênue. Como defini-la? Segundo Zetzel, aliança terapêutica é uma espécie de transferência racional. A transferência racional se caracteriza sobretudo por não ter o aspecto de neurose que é a neurose de transferência. A diferença está na intensidade, racionalidade, consciência de que os afetos que surgem não são frutos de paixão, mas, sim, do relacionamento. Por outro lado, a transferência se reveste de irracionalidade, envolvimento afetivo que não permite ao paciente distinguir os níveis de sentimento. Podemos situar melhor a aliança terapêutica em relação à transferência, do seguinte modo: a aliança terapêutica é favorável, colaboradora do processo, enquanto a transferência, embora fundamental para a cura – em princípio opera negativamente – tende a atrapalhar. Aparece como embaraço que deve ser interpretado e, se persistir, o tratamento será inviabilizado. A experiência nos tem ensinado que a aliança terapêutica não necessita de interpretação, nem teríamos de fazê-lo. Precisamos confessar, entretanto, que a diferença entre a neurose de transferência e a aliança não é absoluta. É mais uma diferença de compreensão do paciente do que de sentimentos. Em suma, o que o paciente sente, em ambos os casos, é a mesma coisa. Mas a posição pessoal do paciente difere. 30 Uma outra situação importante é que, na transferência, a luta do psicanalista é para interpretá-la, afastá-la, dando lugar à possibilidade da instalação da dinâmica interpretativa. Na aliança terapêutica ocorre exatamente o contrário: o psicanalista a reforça. Ele precisa da manutenção desse clima para sustentar a confiabilidade. Finalizando,diremos que o ideal da transferência é que se transforme ou evolua para aliança terapêutica. Uma coisa não se encontrará ao mesmo tempo em um paciente. Outra coisa se discute: pode existir aliança terapêutica sem o processo inicial da transferência? Capítulo 5 AS RESISTÊNCIAS Álvaro Cabral define resistência em Psicanálise como a oposição a qualquer tentativa de revelação de um conteúdo inconsciente. A maior ou menor intensidade da luta travada pelo paciente contra o analista que o ameaça pôr a descoberto esse conteúdo oculto constitui sempre uma medida de força repressora, isto, é da resistência. Álvaro Cabral fala, ainda, sobre resistência inconsciente: em psicoterapia, é a retenção intencional de informações por parte de um paciente, causada pela vergonha, medo de rejeição, temor de perder a consideração do analista, etc. Aceita-se que, subentendida na resistência consciente, haja sempre motivos inconscientes. A terapia psicanalítica se caracteriza pela análise sistemática e completa de resistências. É trabalho do analista descobrir como o paciente resiste, a que está ele resistindo e por que ele age assim. A causa imediata de uma resistência é sempre evitar algum afeto doloroso como a ansiedade, culpa ou vergonha. Por trás deste motivo encontraremos um impulso instintual que disparou o afeto doloroso. No final das contas, descobrir-se-á que é o medo de um estado traumático que a resistência está tentando evitar. Ralph R. Greenson em seu livro A Técnica e a Prática da Psicanálise, de uma forma empírica e prática, define resistência como oposição. Mais explicitamente, “resistência são todas aquelas forças” dentro do paciente que se opõem aos procedimentos e processos da análise, que impedem a associação livre, que bloqueiam as tentativas para recordar, obter e 31 assimilar a compreensão interna (insight), que agem contra o ego racional do paciente e contra seu desejo de mudar; todas as forças devem ser consideradas resistências (Freud, 1900, p. 517). A resistência pode ser: a) consciente; b) pré-consciente; c) inconsciente. Elas podem ser expressas por meio de emoções, atitudes, idéias, impulsos, pensamentos, fantasias ou ações. A resistência, em essência, é uma força opositora no paciente, agindo contra os procedimentos e processos analíticos. Já em 1912 Freud havia reconhecido a importância da resistência ao afirmar: A resistência acompanha o tratamento em todos os seus passos. Toda e qualquer associação, todo o ato da pessoa em tratamento deve contar com a resistência e ela representa um compromisso entre as forças que estão lutando pela recuperação e as forças opositoras (Freud, 1912a, p. 103). Em relação à neurose do paciente, as resistências favorecem uma função defensiva. As resistências defendem a neurose e se opõem ao ego racional do paciente e à situação analítica. Visto que todos os aspectos da vida mental podem auxiliar uma função defensiva, todos eles podem ajudar os objetivos da resistência. Para analisar uma resistência temos de conhecê-la. Ela aparece de formas variadas, complexas e sutis, em combinações ou em formas misturadas, e os exemplos individuais e isoladas não constituem a regra. O Paciente Está Silencioso É a forma mais comum de comportamento que encontramos na prática psicanalítica. Significa que o paciente não está disposto, consciente ou inconscientemente, a transmitir seus pensamentos ou emoções ao analista. Ele pode estar cônscio de sua má vontade ou pode 32 perceber apenas que não há nada em sua mente. Apesar do silêncio, algumas vezes o paciente pode revelar, involuntariamente, o motivo do seu silêncio, pela postura, movimentos ou expressão facial. Virando a cabeça para não ser visto, cobrindo os olhos com as mãos, contorcendo-se no divã, enrubescendo – tudo isso pode indicar embaraço. O silêncio, contudo, pode também indicar outros significados, como uma repetição de um fato passado no qual o silêncio desempenhou um papel importante. Pode descrever a sua reação à cena primária. Nessa situação o silêncio não é apenas uma resistência, mas também o conteúdo de parte de uma recordação. Existem muitos problemas complexos ao redor do tema silêncio. De modo geral e por objetivos bem práticos, o silêncio é uma resistência à análise e tem que ser manejado como tal. O Paciente ‘Não Está com Vontade de Falar’ Esta é uma variação da situação anterior. Ele não está totalmente silencioso, mas está cônscio de que não está com vontade de falar. O estado de „não sentir vontade de falar‟ tem uma ou mais causas. O trabalho do analista consiste em fazer o paciente trabalhar a respeito destas causas. É, basicamente, tarefa semelhante à investigação de “alguma coisa” inconsciente que provoca o “nada” inconsciente na mente do paciente silencioso. Afetos Indicando a Resistência Do ponto do ponto de vista das emoções do paciente, a indicação mais típica de resistência será notada quando o paciente se comunica verbalmente, mas existe uma ausência de afeto. Suas observações são secas, insípidas, monótonas e apáticas. Tem-se a impressão de que o paciente está alheio e desligado do que está relatando. Isto é particularmente importante quando a ausência de afeto diz respeito a fatos que deveriam estar cheios de profunda emoção do que ele está relatando. Em geral a inexistência da emoção é um sinal bem impressionante de resistência. Há uma qualidade bizarra no que o paciente diz quando a ideação e a emoção estão de acordo. Capítulo 6 33 PROCEDIMENTO ANALÍTICO O procedimento analítico mais importante é a interpretação. Todos os outros procedimentos estão a ela subordinados, na teoria e na prática. Todos os procedimentos analíticos ou são medidas que levam a uma interpretação ou medidas que tornam eficiente uma interpretação (E. Kibring, 1954; Gill, 1954; Meninger, 1958). O termo “analisar” é uma expressão compacta que abrange as técnicas que aumentam a compreensão interna (insight). Em geral, inclui quatro procedimentos diferentes: a) Confrontação; b) Esclarecimento; c) Interpretação; d) Elaboração. a) Confrontação É o primeiro passo a ser dado para a análise de um fenômeno psíquico. O fenômeno em questão tem que se ter tornado evidente, tem que ter ficado explícito ao ego consciente do paciente, e resume-se em interpretar o motivo que possa ter um paciente para evitar um determinado assunto. O analista deve, primeiro, fazer com que o paciente enfrente o fato de estar evitando alguma coisa. b) Esclarecimento Somos levados ao esclarecimento, que é o próximo passo, pela confrontação que é o primeiro passo. Estes dois procedimentos se confundem, mas é importante separá-los porque há circunstâncias em que cada um deles pode causar problemas díspares. Os detalhes importantes precisam ser desenterrados para esclarecer todos os fenômenos psíquicos. 34 c) Interpretação É o terceiro passo da análise. É este processo que distingue a Psicanálise de todas as outras psicoterapias porque, em Psicanálise, a interpretação é o instrumento decisivo e fundamental. Todos os demais preparam para a interpretação e, interpretar significa tornar consciente um fenômeno inconsciente. Mais objetivamente, significa tornar conscientes o significado, a fonte, a história, o modo ou a causa inconsciente de um determinado fato psíquico. É muito comum um esclarecimento levar à interpretação que conduz novamente a um esclarecimento posterior (Kris, 1951). d) Elaboração (working through) É o quarto procedimento na análise. Abrange um conjunto complexo de procedimentos e processos que ocorrem depois que há uma compreensão interna (insight). O trabalho analítico que possibilita que uma compreensão interna provoque uma mudança é o trabalho da elaboração (Greenson, 1965b). Além de ampliar e aprofundara análise das resistências, as reconstruções também têm uma importância especial. A elaboração põe em movimento uma variedade de processos circulares nos quais a compreensão interna (insight), a memória e a mudança de comportamento se influenciam reciprocamente (Kris, 1956a, 1956b). Capítulo 7 OS MÉTODOS DE EXPLORAÇÃO DO INCONSCIENTE Roland Dalbiez apresenta dois métodos de exploração do inconsciente: 1) O Método Associativo O método associativo visa a um duplo resultado: a) o desrecalcamento; 35 b) a interpretação. Quando comparamos a exposição que dele fazem os diversos psicanalistas, verificamos que alguns insistem exclusivamente no desrecalcamento e outros na interpretação. Nenhum desses dois aspectos do método deve ser desprezado em detrimento do outro. A interpretação só não basta. Isto é claro quando há inconsciência das causas. Embora seja um sintoma dependente de uma lembrança esquecida da infância a reconstrução do conteúdo dessa lembrança por meio da inferência causal é um processo absolutamente original. Assim como a sensação é caracterizada pela referência intuitiva à existência atual do seu objeto, a lembrança implica no que se poderia chamar a referência intuitiva à existência passada de seu objeto. Pode parecer paradoxal falar de intuição do passado, mas se reflete acerca do problema das certezas existenciais. Quer se refiram ao presente ou ao passado, ter-se-á a noção de que elas formam um mundo à parte. As existências presentes se verificam e não se demonstram ou, se se demonstram, é somente na condição de apoiar-se numa premissa essencial, a qual foi por sua vez é verificada e não demonstrada. Este caráter de verificação do presente no próprio fato de sua existência é transmitido pela sensação à lembrança. Por isso um abismo separa o rememorado reconstruído. A lembrança que tenho de um eclipse que vi, e o conhecimento que me fornece o cálculo astronômico de um eclipse que se realizou dois mil antes de meu nascimento são impossíveis de mensuração. É de admirar que se desconheça tal evidência. Ninguém a teria retido, se não estivesse ligada à discussão entre o realismo e o idealismo. A noção de tempo sempre foi uma pedra de toque para os sistemas idealistas. Lembremos especialmente que a aceitação da irredutibilidade da lembrança conduz a uma concepção realista da memória e do inconsciente. É precisamente esse realismo que alguns filósofos criticam na Psicanálise. Queremos simplesmente relembrar o fundamento filosófico das asserções repetidas por Freud sobre a insuficiência da interpretação e a necessidade do desrecalcamento. “O que nós sabemos do inconsciente” – escreve o psiquiatra vienense – absolutamente não coincide com o que dele sabe o doente; quando lhe comunicamos o que sabemos, ele não substitui seu inconsciente pelo conhecimento assim adquirido, mas coloca-o ao lado do que permanece mais ou menos inalterado (Roland Dalbiez). A primeira condição de exploração do inconsciente é, pois, a realização do desrecalcamento ou, se preferirmos, da libertação funcional. As funções psíquicas superiores 36 controlam normalmente as funções inferiores. Trata-se de fazer cessar momentaneamente esse controle, de modo a obter a emersão no campo da consciência do psiquismo inferior. O vocabulário de Pavlov permite definir essa operação com uma precisão perfeita. A provocação artificial da inibição interna do psiquismo superior acarreta necessariamente a desinibição externa do psiquismo inferior. Para obter a inibição interna do psiquismo superior podem empregar-se três processos: a) Agentes farmacodinâmicos (somente médicos habilitados na forma da lei poderão utilizá-los); b) A hipnose; c) Suspensão temporária da inibição interna do psiquismo superior que consiste em suspender voluntariamente o exercício da autocrítica e da autocondução. O primeiro processo realiza-se através de agentes farmacodinâmicos e somente o médico poderá aplicá-lo. Um psicanalista, sem a devida formação médica, não poderá fazê-lo. O segundo processo, a hipnose, permite desencadear a inibição interna através das funções psíquicas superiores. É provocada pela repetição monótona de excitações fracas. A doutrina de Pavlov nos é de grande ajuda para compreender os fatos. Mesmo que a inibição interna seja desencadeada por um tóxico ou por uma estimulação repetida ótica, acústica ou táctil, o fenômeno fundamentalmente permanece o mesmo e varia só o agente externo que o suscita. Cabe a Pierre Janet o mérito imperecível de ter sido o primeiro a mostrar ao mundo científico o valor da hipnose para a exploração do psiquismo inconsciente. Esta parte da obra do grande psicólogo francês parecia comprometida em conseqüência da crítica de Babinski e das negações radicais de Dupré. Durante alguns anos a hipnose foi considerada – na França pelo menos – como fenômeno inautêntico. Pierre Janet escrevia: 37 Há vinte anos, expunha-me ao desprezo ao dizer que a sugestão hipnótica não era tudo e hoje vou tornar-me risível dizendo que ela é alguma coisa. Pouco importa. Esta posição modesta parece-me mais interessante, para chegar à descoberta de algumas verdades e, se meu estudo não é lido hoje, o será um dia, quando a moda tiver mudado e trouxer os tratamentos pela sugestão hipnótica, como trouxe à popularidade os chapéus de nossas mães. A predição de Janet começa a realizar-se. Psiquiatras como D. Hollander, na Bélgica, e Nathan, na França, admitem, em certos casos, o recurso à hipnose. Eis uma antiga observação de Janet que mostra bem qual é o papel que pode exercer o hipnotismo na exploração do inconsciente. Entre outros sintomas histéricos, Maria apresentava uma cegueira absoluta e contínua do olho esquerdo. No estado de vigília, pretendia que isto era assim desde o nascimento. Janet a hipnotizou e soube que na idade de seis anos Maria havia sido forçada, apesar de seus gritos e protestos, a deitar com uma criança de sua idade que tinha um eczema em todo o lado da face esquerda. (Janet, A. P., p. 439-440) O terceiro processo para realizar a inibição interna do psiquismo superior consiste em suspender voluntariamente o exercício da autocrítica e da auto-condução. É característico da Psicanálise. Vê-se imediatamente em que a técnica de Freud difere das técnicas farmacodinâmicas e hipnóticas, sendo, no entanto, estreitamente aparentada com elas. A inibição do psiquismo superior realizada voluntariamente é, em geral, mais fraca que a exploração psicanalítica que se realiza no estado de vigília. Esta asserção é inexata. O estado mental do paciente analisado varia de uma a outra sessão e mesmo no curso de uma mesma sessão ele oscila do nível do pensamento lógico a um nível muito vizinho do da hipnose ou do sonho. Kretschmer descreveu muito bem o estado de inibição psíquica realizado pela suspensão voluntária da autocrítica e da auto-condução. Tanto mais complexo é o relaxamento psíquico, quanto mais a associação livre, no estado de repouso passivo, se aproxima do modo de pensar, que caracteriza o sonho e a hipnose. A ligação mercê de proposições começa a desagregar-se, a expressão verbal das idéias cede visivelmente às imagens reais, à contemplação direta e intuitiva das cenas e figuras 38 vivas que surgem interiormente. Ao mesmo tempo em que não percebe o caráter absolutamente passivo de suas experiências internas, o paciente perde noção do tempo: sente como atuais lembranças relacionadas com o passado e desejos relativos ao futuro. Pode-se dizer, uma vez esse grau alcançado, que o paciente se encontra no limite extremo do pensamento desperto. À medida que o desafogo, que o relaxamento psíquico se acentua, a consciência se torna mais perturbada e mais crepuscular; o paciente, que já perdeu a noção do tempo, perde também a noção de espaço; deixa-se insinuar entre
Compartilhar