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Ética e Deontologia na Educação Física Professor Esp. Cleber Henrique Sanitá Kojo Professor Esp. Guilherme França Fusco EduFatecie E D I T O R A EQUIPE EXECUTIVA Editora-Chefe Profa. Dra. Denise Kloeckner Sbardeloto Editor Adjunto Prof. Dr. Flávio Ricardo Guilherme Assessoria Jurídica Profa. Dra. Letícia Baptista Rosa Ficha Catalográfica Tatiane Viturino de Oliveira Zineide Pereira dos Santos Revisão Ortográfica e Gramatical Profa. Esp. Bruna Tavares Fernandes Secretária Geovana Agostinho Daminelli Setor Técnico Fernando dos Santos Barbosa Projeto Gráfico, Design e Diagramação André Dudatt www.unifatecie.edu.br/ editora-edufatecie edufatecie@fatecie.edu.br Reitor Prof. Ms. Gilmar de Oliveira Diretor de Ensino Prof. Ms. Daniel de Lima Diretor Financeiro Prof. Eduardo Luiz Campano Santini Diretor Administrativo Prof. Ms. Renato Valença Correia Secretário Acadêmico Tiago Pereira da Silva Coord. de Ensino, Pesquisa e Extensão - CONPEX Prof. Dr. Hudson Sérgio de Souza Coordenação Adjunta de Ensino Profa. Dra. Nelma Sgarbosa Roman de Araújo Coordenação Adjunta de Pesquisa Prof. Dr. Flávio Ricardo Guilherme Coordenação Adjunta de Extensão Prof. Esp. Heider Jeferson Gonçalves Coordenador NEAD - Núcleo de Educação à Distância Prof. Me. Jorge Luiz Garcia Van Dal Web Designer Thiago Azenha Revisão Textual Beatriz Longen Rohling Carolayne Beatriz da Silva Cavalcante Geovane Vinícius da Broi Maciel Kauê Berto Projeto Gráfico, Design e Diagramação André Dudatt 2021 by Editora Edufatecie Copyright do Texto C 2021 Os autores Copyright C Edição 2021 Editora Edufatecie O conteúdo dos artigos e seus dados em sua forma, correçao e confiabilidade são de responsabilidade exclusiva dos autores e não representam necessariamente a posição oficial da Editora Edufatecie. Permi- tidoo download da obra e o compartilhamento desde que sejam atribuídos créditos aos autores, mas sem a possibilidade de alterá-la de nenhuma forma ou utilizá-la para fins comerciais. Dados Internacionais de Catalogação na Publicação - CIP K79e Kojo, Cleber Henrique Sanitá Ética e deontologia na Educação Física / Cleber Henrique Sanitá Kojo, Guilherme França Fusco. Paranavaí: EduFatecie, 2022. 91 p. : il. Color. ISBN 978-65-80055-70-8 1. Educação Física. 2. Ética profissional. I. Fusco, Guilherme França. II. Centro Universitário UniFatecie. III. Núcleo de Educação a Distância. III. Título. CDD : 23 ed. 174.9 Catalogação na publicação: Zineide Pereira dos Santos – CRB 9/1577 EduFatecie E D I T O R A UNIFATECIE Unidade 1 Rua Getúlio Vargas, 333 Centro, Paranavaí, PR (44) 3045-9898 UNIFATECIE Unidade 2 Rua Cândido Bertier Fortes, 2178, Centro, Paranavaí, PR (44) 3045-9898 UNIFATECIE Unidade 3 Rodovia BR - 376, KM 102, nº 1000 - Chácara Jaraguá , Paranavaí, PR (44) 3045-9898 www.unifatecie.edu.br/site As imagens utilizadas neste livro foram obtidas a partir do site Shutterstock. https://orcid.org/0000-0001-5409-4194 AUTORES Professor Esp. Cleber Henrique Sanitá Kojo ● Especialista em História e Geografia pela Faculdade Integrada do Vale do Ivaí; ● Especialista em Gestão Escolar, Supervisão e Orientação pela ESAP - Faculda- des Integradas do Vale do Ivaí; ● Especialista em Educação de Jovens e Adultos pela ESAP – Faculdades Inte- gradas do Vale do Ivaí; ● Licenciado em História pela UNESPAR – FAFIPA, Paranavaí; ● Licenciado em Sociologia pela UNAR - Centro Universitário de Araras “Dr. Ed- mundo Ulson”; ● Docente da educação básica (Fundamental e Médio) da SEED, PR; ● Docente da educação básica (Médio) do Colégio Fatecie Premium; ● Docente do ensino superior nos cursos de Arquitetura, Administração e Ciências Contábeis na UniFatecie; ● Supervisor de tutoria e Tutor da EAD UniFatecie. ● Ampla experiência como docente da educação básica (ensinos fundamental e médio); ● Professor de cursinhos pré-vestibulares em história e filosofia e prática docente na educação à distância. Professor Esp. Guilherme França Fusco ● Especialista Personal Trainer pela UNESPAR - FAFIPA; ● Licenciatura Plena pela UNESPAR - FAFIPA; ● Mestrando de didática e metodologias – UNESPAR – FAFIPA; ● Docente da educação básica (Fundamental e Médio) da instituição privada. ● Docente e orientador da Educação Tecnológica da Rede Federal de Ensino no IFPR – Campus Paranavaí. ● Ampla experiência como docente na educação básica (fundamental e médio); ● Professor de ensino médio integrado da Rede Federal de Ensino. APRESENTAÇÃO DO MATERIAL Seja muito bem-vindo(a)! É uma enorme satisfação recebê-lo em nosso curso de Ética e Deontologia na Educação Física. A partir de agora, iniciaremos uma viagem ao tempo para esmiuçar, nas experiências filosóficas, algumas explicações para a formação moral pessoal, social e profissional, buscando, é claro, entender nossa formação profissional, ou seja, um olhar para um horizonte futurístico, depositando nele nossa aprendizagem como uma forma de expectativa. Em nossa viagem filosófica, a procura desses espaços de experiências da forma- ção ética e moral, iremos iniciar, logo na unidade I, a busca do entendimento sobre o que é ser ético, pois na nossa sociedade muito se fala sobre ter uma conduta ética, mas não se tem uma formação correta desse conceito: muitos se dizem éticos profissionalmente, mas sequer sabem o que é ser ético. Assim, você conhecerá os conceitos de ética e moral. Em seguida, você entenderá que o ser humano é feito de desejos e vontades e que isso compreende a uma responsabilidade humana, pois sabemos que temos um dever a cumprir e, por muitas vezes, exigimos nossa liberdade sem saber o que ela é de fato. Já na unidade II desta apostila, conheceremos alguns filósofos importantes com suas ideias para formação do indivíduo. Apresentaremos os conceitos básicos da filosofia moral de Sócrates e de Aristóteles, além da compreensão da ideia de dever e de intenção do cristianismo na moral humana. Apresentaremos, ainda nessa unidade, o conceito de natureza humana proposta por Rousseau e a moral da razão prática de Immanuel Kant. Vale ressaltar que você irá conhecer perspectiva hegeliana e de Bérgson de cultura e de dever humano, além da visão ética e liberdade proposta por Espinosa. Nas unidades III e IV, retomaremos o fascínio sobre o assunto desta disciplina, observando, lendo ou estudando as unidades I e II, pois é o início de um grande desafio que vamos triunfar juntos. Proponho uma construção conjunta sobre a ética, os esportes e a educação física. Vale ressaltar que iremos verificar os Valores Éticos e Morais no Sistema CONFEF/CREFs (Conselho Federal e Regional de Educação Física), além do código de ética profissional, exercício profissional e vida profissional do indivíduo, identificando, as- sim, os valores para o estudo do esporte para o indivíduo e para sociedade. Conheceremos também a ética e a docência, além de como o fair play e o “olimpismo” fazem parte de nossa profissão. Ressaltaremos ainda a importância do docente dentro dos conselhos de classe embasados na sua profissão. Ao fim dessa apostila, espero que seu horizonte de expectativas seja modificado, uma vez que todos nós, seres humanos e profissionais, somos frutos de uma formação moral e ética de uma determinada sociedade e, dessa forma, devemos agir com responsa- bilidade dentro da profissão e da sociedade vigente. Muito obrigado e bom estudo! SUMÁRIO UNIDADE I ...................................................................................................... 7 Os Valores e a Moral UNIDADE II ................................................................................................... 24 Teorias Morais UNIDADE III ..................................................................................................47 Ética, Esportes e Educação Física UNIDADE IV .................................................................................................. 69 Conselhos de Classe e Participação 7 Plano de Estudo: • Os Valores e a Moral • O Caráter Histórico, Social e Pessoal • A Espécie do Ato Moral • A Estrutura do Ato Moral • Desejo e Vontade • Responsabilidade, Dever e Liberdade Objetivos de Aprendizagem: • Conhecer os Conceitos e Definições de Moral e Ética; • Entender a Valorização: Valores e diferenças culturais; • Contextualizar todo o processo histórico, social e pessoal de Ética e Moral; • Estabelecer os pontos do ato moral e suas divisões; • Compreender a diferença de desejo e vontade humana, além da responsabilidade, dever e liberdade. UNIDADE I Os Valores e a Moral Professor Especialista Cleber Henrique Sanitá Kojo 8UNIDADE I Os Valores e a Moral INTRODUÇÃO Seja muito bem-vindo (a)! Prezado (a) estudante, preste muita atenção, pois se em você ocorreu um despertar ou um fascínio sobre assunto desta disciplina, observando a profissão escolhida, é o início de um grande desafio que vamos triunfar juntos. Proponho uma construção conjunta sobre a ideia de ética e moral, visto que em nossa sociedade se fala muito do ser ético, mas não se tem uma formação correta desse conceito, muitos se dizem éticos profissionalmente, mas não sabem nem o que é ser ético. Vamos conhecer os conceitos de Moral e ética e suas subdivisões para interpretarmos os componentes que a constroem, uma vez que, em nosso dia a dia, indicamos valores as pessoas, e vamos entender em qual momento devemos usar e identificar esse processo. Dentro desse desafio, iremos conhecer muito além da ética e moral, considerando que o ser humano é feito de desejos e vontades, o que nos faz perceber, através do senso comum, que isso compreende a responsabilidade humana, além de sabermos que temos um dever a cumprir e que, por muitas vezes, exigimos nossa liberdade sem saber o que é liberdade de fato. Por fim, vamos conhecer o processo da liberdade humana e todo seu ato moral. Assim, esperamos um docente com um posicionamento ético e social de maneira positiva e construtiva na sociedade, tornando-se um profissional exemplar e que some no desen- volvimento social e humano. Muito obrigado e bom estudo! 9UNIDADE I Os Valores e a Moral 1 OS VALORES E A MORAL Em pleno século XXI, ainda confundimos ética, moral, valores, entre outras pala- vras e/ou conceitos. Vale ressaltar que, constantemente, encontramos o uso ambíguo de palavras como “moral e ética”, “valores e ética” e “valores e normas”. Você consegue rapi- damente diferenciar e definir cada uma delas? Caso você conheça, é um passo gigantesco para estudo de nossa disciplina. No entanto, precisamos diferenciá-las para não causar confusão em nossa vida. Assim, você poderá melhorar sua comunicação e a elaboração do pensamento. Qual o código de ética de sua profissão? Esperamos que embarque nessa viagem filosófica para que se crie um profissional reflexivo, crítico, responsável com a so- ciedade, com as normas legais e compreendendo melhor seu papel social. Antes de começar diretamente os debates sobre valores, moral e ética, tema este muito discutido e pouco conhecido verdadeiramente pelas pessoas, empresas e, até mesmo, por profissionais em plena atuação de suas funções, quero compartilhar um pensamento adquirido no decorrer do tempo, do senso comum, do conhecimento científico, entre outros, ou seja, destaco que vivemos numa sociedade na qual os valores morais são levados em consideração em vários setores da sociedade, principalmente em uma época onde as redes sociais são repletas de pessoas que acreditam ter conhecimento de tudo, seja em relação à posição política, religiosa, entre outros. Porém, a maioria não sabe ou não compreende o verdadeiro significado de valores, moral e ética. 10UNIDADE I Os Valores e a Moral Diante disso, precisamos compreender Moral e Ética, pois vale ressaltar que am- bas se completam e, assim, podemos debater como, por exemplo, os valores. No dicionário Aurélio online (2014), a definição das palavras Ética e Moral são as seguintes: (ÉTICA, 2020): substantivo feminino: Segmento da filosofia que se dedica à análise das razões que ocasionam, alteram ou orientam a maneira de agir do ser humano, geralmente tendo em conta seus valores morais. [Por Extensão] Reunião das normas de valor moral presentes numa pessoa, sociedade ou grupo social: ética parlamentar; ética médica. (MORAL, 2020): Preceitos e regras que, estabelecidos e admitidos por uma sociedade, regulam o comportamento de quem dela faz parte. Leis da ho- nestidade e do pudor; moralidade. [Filosofia] Parte da filosofia que trata dos costumes, dos deveres e do modo de proceder dos homens nas relações com seus semelhantes. Já etimologicamente, o termo “moral” vem de More (latim) e significa costume, enquanto “ética” é Ethos (Grego), também significando costume. Você sabe dizer o significado da palavra costume? De onde vêm os costumes? Os costumes de cada sociedade originam-se dos valores instituídos por ela e orientam o agir das pessoas, promovendo, assim, uma convivência saudável entre os indivíduos, ou seja, os valores são características morais que todos os seres humanos possuem. Servem ao indivíduo para orientar seus comportamentos e ações, na satisfação de determinadas necessidades. Após compreendermos os costumes, temos que dar um passo à frente em nosso estudo e adentrarmos nas características morais, complementando filosoficamente nosso futuro conceito de ética e moral. Observe a imagem abaixo: Figura 1 - Características Morais Fonte: o autor. 11UNIDADE I Os Valores e a Moral Podemos afirmar, portanto, que valores como os citados acima norteiam o homem e seu agir em sociedade, tornando-a uma sociedade onde a convivência é totalmente pos- sível e norteando até mesmo suas leis. Um ponto de extrema importância para a compreensão dos valores é entender que eles podem variar de acordo com a sociedade, ou até mesmo entre grupos sociais diferentes. Por exemplo, se perguntar a uma brasileira o que ela acharia da ideia caso seu marido lhe fizesse a proposta de ter várias mulheres, provavelmente, ela teria a atitude de se separar, ao passo que em países muçulmanos é normal o homem ter várias esposas. Da mesma forma, é normal, nos países muçulmanos, o uso da burca e, para nós, o uso de biquínis, ou seja, em uma sociedade, o cobrir o corpo ou não depende de cada cultura adquirida através de sua moral formando os valores de um grupo de indivíduos. Portanto, o que é moral para mim pode ser imoral para outros. Diante disso, podemos afirmar que os valores morais são baseados em vários fatores, como cultura, tradição, religião, convivência diária, entre outros de um determinado grupo ou de um povo. Vale ressaltar que a manutenção dos valores morais de uma socie- dade vem determinar comportamentos e a orientação de como agir do grupo em questão, garantindo, assim, a ordem e a existência de uma sociedade. 12UNIDADE I Os Valores e a Moral 2 CARÁTER HISTÓRICO, SOCIAL E PESSOAL Num primeiro momento, podemos afirmar que os valores morais citados acima são herdados, pois, quando nascemos, já existe uma cultura determinada na sociedade e, com isso, aprendemos desde cedo as suas regras, seguindo-as e absorvendo-as sem perceber e identificando como agir moralmente ou imoralmente. Nesse determinado ponto, devemos diferenciar a Ética da moral, pois, segundo Comte-Sponville (1998. Pg 14), “A Moral ordena; a Ética aconselha. A Moral responde à pergunta: “o que devo fazer?”; a Ética, à pergunta: “como devo viver?”. Assim, podemos afirmar que a moral não é algo definido cientificamente, mas objeto desse algo científico e a ética estuda os atos humanos, atos estes que devem ser “Conscientes, Livres e Voluntá- rios”, pois, assim, podemos confirmara afirmação de Comte-Sponville acima. No cotidiano ouvimos a afirmação de que alguém foi imoral, porém você já parou para pensar sobre o conceito de imoral? Já ouviu falar em amoral? E no não moral? Qual a diferença de imoral, amoral e não moral? Talvez você já deva estar pensando que agora começamos com a “chatice” e complicação. No entanto, estas dúvidas são de fácil entendi- mento e compreensão, como nas definições abaixo: ● A Moral é o ato que está de acordo com uma norma ética ou indicação de conduta social; ● Já o Imoral é o ato que fere uma norma ética ou uma conduta estabelecida pela moral social ou individual. É o ato pelo qual se dão os anti valores: da injustiça, do mal, etc. (vai contra a introjeção da norma); ● Amoral é o ato que não pode ser avaliado do ponto da ética ou da moral, pois nele não se dão as condições transcendentais para a moralidade (não há introjeção); ● Não-moral é o ato em que não estão envolvidos diretamente os valores morais, como, por exemplo, assistir a um jogo de futebol ou ir à praia. Observe a imagem abaixo, criada no powerpoint para auxiliar na compreensão do tema: 13UNIDADE I Os Valores e a Moral Figura 2 - Diferença entre ética e moral Fonte: o autor. Com o texto e a imagem acima, podemos compreender melhor os atos morais e entender que eles são uma espécie de ponto final. Assim, para facilitar esse processo de se agir moralmente, também chamado de “atos morais”, e analisá-los enquanto fenômenos, vamos dividi-los em duas categorias: as espécies e a estrutura e agir moralmente ou atos morais. I. Espécies de atos morais: divididas em três categorias que estudamos acima, os chamados de atos morais (positivos), atos imorais (negativos) e atos amorais (não sabe qual a moral da sociedade vigente); II. Estrutura dos atos morais: é formada pela soma de três elementos – a forma- ção, a motivação e a situação. Podemos acrescentar ainda que, dentro do caráter histórico da moral, temos sua formação em vários períodos históricos, seja no período feudal na Idade Média, da moral burguesa na Idade Moderna, entre outros. Assim, afirmo que a moral pode ser considerada um fato histórico que, para o momento, é instituído, mas pode ser modificada com o tempo sem cometer anacronismos, considerando cada moral em cada período. Segundo Adolfo Sanchez Velasquez (2017, p. 80), esse historicismo moral no campo da reflexão ética tem três direções fundamentais a ser respeitada. 14UNIDADE I Os Valores e a Moral a) DEUS COMO ORIGEM OU FONTE MORAL: No caso as normas morais deri- vam de um poder sobre-humano [...]. Logo, as raízes morais não estariam no próprio homem, mas fora e acima dele. b) A NATUREZA COMO ORIGEM OU FONTE MORAL: A conduta moral do ho- mem não seria senão um aspecto da conduta natural, biológica. [...] Teriam origem nos instintos, e, por isso, poderiam ser encontradas não só naquilo que o homem é como ser natural, biológico, mas inclusive nos animais, pois Darwin chega a afirmar que os animais experimentam sentimentos humanos como o amor, a felicidade, a lealdade entre outros. c) O HOMEM COMO ORIGEM OU FONTE MORAL: O homem é dotado de uma essência eterna e imutável inerente a todos os indivíduos [...]. A moral cons- tituiria um aspecto dessa maneira de ser, que permanece e dura através das mudanças históricas e sociais. Essas três concepções históricas têm origem fora do homem como um ser histórico, pois, na primeira, presenciamos um ser superior, onipotente, onipresente e onisciente, que não precisa do homem, já o segundo, no mundo natural, seguido do terceiro, baseia-se no homem abstrato, fora da sociedade e da história. Assim, todas afirmam que a moral inde- pende do homem, mesmo que constituída desde sua origem, pois as sociedades instituem sua moral independentemente do indivíduo e do tempo. Você talvez compreendeu com facilidade, pois na história temos o surgimento da propriedade privada que elimina a moral comunal existente anteriormente. Você pode compreender que, na atualidade, as morais que seus avós possuíam já mudaram com o tempo e você sente todos os dias no seu cotidiano. Assim é na história, com a moral aplicada na divisão do trabalho, na sociedade escravista, entre outras. Para exemplificar, podemos afirmar que era normal descartar o ne- gro como um ser humano simplesmente pela sua cor, pois acreditavam ser superiores pela cor da pele, o Darwinismo social aplicado e aceito em um determinado período histórico. Será que você aceitaria a moral inserida na sociedade medieval, onde reinava o Teocentrismo, no qual Deus era o centro do universo e o homem era desprezado até o aparecimento do antropocentrismo e da ascensão da sociedade burguesa? Historicamente, a moral vai sendo construída com a evolução da sociedade, pois tínhamos a divisão do trabalho e o desprezo humano na revolução industrial com explora- ção desacerbada do trabalho infantil, feminino, chegando ao ponto de incendiar uma fábrica com as mulheres dentro, dando origem ao dia das mulheres e à valorização feminina. 15UNIDADE I Os Valores e a Moral Também temos o movimento feminino, que busca a igualdade moral até hoje. Para exem- plificar, podemos citar as tribos dos pigmeus, onde o sexo e o casamento são liberados aos 10 anos de idade, ou em tribos africanas, onde as mulheres têm seu órgão genital mutilado, pois o prazer é exclusivo ao sexo masculino. Vale ressaltar que esse processo histórico da moral vem sendo construído e consti- tuído dependendo dos atos morais implantados em diferentes sociedades. Por isso, iremos falar agora das espécies de atos morais. 2.1 Espécies de Atos Morais Para se entender melhor os atos morais, vamos apresentar a você a divisão destes nas três vertentes citadas acima, ou seja, os chamados atos morais, imorais e amorais. Iremos começar pelos chamados atos morais, que consistem em quando afirmamos que são os atos nos quais o indivíduo possui conhecimento e entendimento, ou seja, ele tem “ciência” das regras da sociedade e das normas para convivência coletiva, escolhendo livremente segui-las, reconhecendo e compreendendo a importância das regras sociais impostas. Já os chamados de atos imorais são parecidos com os atos morais. No entanto, o indivíduo faz a opção de não aceitá-las ou obedecê-las, ou seja, os atos imorais são aque- les em que o indivíduo sabe que existem regras de convivência coletiva e toma a decisão individual de não segui-las, pois ele não aceita que essas regras impostas têm validade ou importância social. O mais simples dos três são os atos amorais, pois o indivíduo não possui ciência alguma da existência de normas e regras vigentes da sociedade. Por exemplo, um de- terminado indivíduo chega a um novo país e tem comportamentos proibidos para aquele determinado território sem ter compreensão disso. 2.2 Estrutura do Ato Moral Para iniciarmos e implantarmos o mundo moral, precisamos ter uma consciência crítica, também chamada de consciência moral, que avalia todas as normas e regras vi- gentes na sociedade, orientando assim o agir humano. Vale ressaltar que a escolha é a consciência humana chamada para que ocorra o discernimento entre o valor moral e atos morais. Podemos analisar e entender que a filosofia em si estuda toda a ética e moral humana, indicando se você é um sujeito moral, imoral ou amoral de uma determinada sociedade. Assim, podemos afirmar que, para complementar essa teoria filosófica, temos 16UNIDADE I Os Valores e a Moral o chamado ato moral, que apresenta dois aspectos: o chamado de normativo e o fatual, ou seja, o normativo consiste em todas as regras que devem ser seguidas, já o fatual apresenta a decisão humana de segui-las ou não. Destacando ainda que o normativo são as normas ou regras de ação, o que explica o “dever ser”, Já o fatual são os atos humanos enquanto se realizam efetivamente. Segundo Adolfo Sanchez Velásquez (2017,p. 80), o ato moral é ligado a um sujeito real que pertence a uma determinada comunidade humana historicamente determinada com normas ou regras, como a citação abaixo: O ato moral como ato de um sujeito real que pertence a uma comunidade humana, historicamente determinada, não pode ser qualificado senão em relação com o código moral que nela vigora. Mas seja, qual for o contexto normativo e histórico-social no qual o situamos, o ato moral se apresenta como uma totalidade de elementos – motivo, intenção ou fim, decisão pes- soal, emprego de meios adequados, resultados e consequências – numa unidade indissolúvel. Assim, podemos dizer que o ato será moral quando estiver de acordo com as regras estabelecidas pela sociedade vigente. 17UNIDADE I Os Valores e a Moral 3 DESEJO E VONTADE Após compreender que a Moral é um conjunto de regras que norteiam e orientam as pessoas, devemos acrescentar que isso só funciona se ocorrer a aceitação dessas normas, mesmo elas sendo exteriores ao indivíduo. Vale ressaltar que o ser humano evolui com o tempo, cresce em “graça” e estatura, pois a palavra graça, aqui, quer dizer a maturidade. Quando o homem abandona a infantilidade e passa a ter uma maior consciência de seus atos, passa a tomar decisões que fazem parte de seu ser, como os desejos e vontades. Você já parou para pensar na diferença entre desejos e vontades? Como saber agir contra os desejos? Você precisa saber distinguir a diferença entre desejo e vontade, pois afirmo que será impossível dominar nosso corpo de emoções implícitas ou explícitas e ter um ótimo controle sobre nossa vida. Vale ressaltar que a definição de desejo consiste nas necessida- des do corpo, o chamado “tesão” sem controle, um instinto humano. Já a vontade consiste em quando você decide algo, uma ação pela qual você deixou a mente vencer corpo, as situações que a mente domina, como, por exemplo, a vontade de comer chocolate, ou seja, ela é mais calma e tranquila, enquanto o desejo envolve compulsão. Importante salientar ainda que o desejo pode estar atrelado a sonhos e fantasias, enquanto a vontade está ligada à ânsia. Desejo são relacionados também a sentimentos e emoções, enquanto a vontade está ligada à lógica e à razão. Para agir contra os desejos, precisamos nos lembrar de tudo que foi estudado sobre a moral e praticá-la rotineiramente. Será que conseguimos entender a relação entre desejos e vontades e suas diferenças? Para exemplificar melhor a diferença observe o quadro abaixo: Quadro 1 - Diferenças Entre Desejo E Vontade DESEJO VONTADE * Provêm de estímulos dos sentidos * Provêm do pensamento e da razão. * Precisa se consumir. * Precisa se realizar. * Satisfaz caprichos e fantasias. * Satisfaz necessidades na luta pela vida. * Prevalecem as forças do instinto. * Prevalecem as forças da razão e da lógica. * É tênue e indireto. * É firme e direta. * De regra, depende do consentimento. * Só depende da própria criatura e do seu de outras criaturas. “Querer”. * Utiliza artifícios e artimanhas. * Vai direta ao alvo. * Leva aos vícios da conduta. * Não contamina nem leva aos vícios. * É impulsivo e de difícil controle. * É racional, controlada pelo pensamento. 18UNIDADE I Os Valores e a Moral * Não fortifica o caráter. * Realça e fortalece o caráter. * Coloca pouca força na consumação. * Exige força e luta para vencer. * É aleatório, inconstante, variável. * Ajusta-se às circunstâncias e objetivos. * É quase sempre imediatista. * É persistente e exige paciência. Fonte: Samel (2010). 3.1 Responsabilidades, Dever e Liberdade Após estudarmos toda consciência moral, imoral e amoral acima, podemos considerar aparentemente confusa a ideia de relacioná-las com liberdade, não é? Como ser livre e ser moral ao mesmo tempo? Parece confuso. Entretanto, podemos construir a compreensão juntos, pois o conflito ou da retórica utilizada acima ou a consciência humana é uma das principais razões que nos separa dos animais, nos permitindo a racionalidade e o desenvolvimento do saber, além da separação do verdadeiro ou falso. Essa “graça” é transformada em consciência moral, que nos permite a observação de nossa própria conduta e, assim, formular juízos sobre nossos atos, tanto no passado quanto no presente e no futuro. Logo, ao analisarmos e julgarmos nossas ações, podemos fazer escolhas que nortearão a vida. Essa possibilidade de escolher sua vida, podemos chamar de liberdade. A liberdade vem atrelada às nossas escolhas, que nem sempre são as ideais, pois, através da coerção, podemos determinar ações que às vezes não são livres, como, por exemplo, quando bandidos sequestram um membro da família e exigem que tomemos atitudes não éticas, tirando-nos a liberdade e fazendo com que, nesse período de sequestro, nos esqueçamos da consciência moral. Claro que, quando somos livres para decidir e fazer nossas escolhas, nos tornamos responsáveis por nossas ações, ou seja, assumimos as ações dos atos conscientemente, respondendo pelas consequências praticadas. Vale ressaltar que o comportamento moral é livre e responsável, além de obrigatório dentro da sociedade vigente, criando em você, em mim e em nós o que chamamos de dever. Desse modo, quando somos responsáveis e cumprimos nosso dever, somos livres, cumprindo nosso dever moral. É importante destacar que, assim, o dever moral não vem de uma causa externa, mas, sim, através da norma livremente assumida. Ainda podemos afir- mar que essa responsabilidade não deve ser interpretada como defesa de um relativismo, onde todas as formas de conduta podem ser aceitas livremente. Os direitos do homem, tais como em geral têm sido enunciados a partir do século XVIII, estipulam condições mínimas do exercício da moralidade. Por certo cada um não deixará de aferrar-se à sua moral; deve, entretanto, aprender a conviver com outras, reconhecer a unilateralidade de seu ponto de vista. E com isso está obedecendo à sua própria moral de uma maneira 19UNIDADE I Os Valores e a Moral especialíssima, tomando os imperativos categóricos dela como um momento particular do exercício humano de julgar moralmente. Desse modo, a mo- ral do bandido e a do ladrão tornam-se repreensíveis d ponto de vista da moralidade pública, pois violam o princípio da tolerância e atingem direitos humanos fundamentais (GIANOTTI, 1992, p. 245). A responsabilidade vai criar um dever comportamental moral, pois o compromisso humano é a obediência da decisão tomada por cada ser humano. SAIBA MAIS “Vontade distingue-se de desejo. O desejo não depende de escolha, surge involunta- riamente em nós. Já a vontade supõe a disposição consciente para agir e depende do poder de reflexão para satisfazer ou não o desejo. Seguir o impulso do desejo sempre que ele se manifesta é negar e moral e a possibilidade de qualquer vida em comum”. Fonte: Aranha (2003). REFLITA Na sua obra a República, Platão relata a lenda sobre um anel que tornaria invisível quem conseguisse virar o engaste para dentro. Foi o que teria acontecido ao pastor Gi- ges, que vivia a serviço do rei da Lídia. Após ter se salvado de um terremoto, ele retirou de um cadáver o referido anel. Ao perceber que podia ficar invisível sempre que quises- se, entrou no castelo, seduziu a rainha, tramou com ela a morte do rei e obteve o poder. Esse mito nos faz pensar sobre os motivos que estimulam ou coíbem uma ação. Se pu- desse ficar invisível em uma loja, você roubaria um celular, por exemplo? Ou o que seria determinante para que, mesmo invisível, você roubasse? Fonte: Aranha (2003). 20UNIDADE I Os Valores e a Moral CONSIDERAÇÕES FINAIS Caro acadêmico (a), chegamos ao final dessa unidade e, no decorrer dela, con- templamos diversas temáticas sobre a relação entre ética e moral e suas vertentes. Você consegue se lembrar? Espero que nesse momento do processo de ensino/aprendizagem você esteja encantado ou fascinado, sabendo diferenciar ética de moral, valorese moral, desejo de vontade, além de identificar a responsabilidade, dever e liberdade. Você aprendeu que, em nosso cotidiano, valorizamos as pessoas sem entender a ideia de valores. Agora, sabendo o que são valores, você poderá identificar melhor essa di- ferença, afirmando que uma pessoa corajosa, respeitosa e humilde é uma pessoa virtuosa. Demonstramos o caráter histórico, social e pessoal da moral e, com isso, apren- demos desde cedo que as regras da sociedade são impostas. Com isso, passamos a agir moralmente ou imoralmente, conhecendo até mesmo o ser amoral. Acredito que ler trechos sobre a espécie da moral e a estrutura da moral tenha acarretado em você um entendimento da formação moral do indivíduo, fazendo com que você se reconheça nesse processo. Além disso, conhecemos as diferenças de desejos e vontades com exemplos de comparações para que o indivíduo se torne um ser moral em todos os aspectos, entenden- do que a liberdade tem em sua composição a responsabilidade e o dever. Por fim, quero agradecer a você por esse tempo de estudos que passamos juntos, com a certeza de que o conhecimento adquirido acerca dos valores e da moral vão promo- ver em você uma corrente de expansão desse conhecimento, pois, durante o processo, foi descortinada toda beleza e riqueza desse processo de formação humana. Enfim, sucesso e nos vemos no próximo capítulo. Obrigado! 21UNIDADE I Os Valores e a Moral WEB COMPLEMENTAR Leia também: FIGUEIREDO, A. M. Ética: origens e distinção da moral. Saúde, Ética & Justiça. 2008. Disponível em: http://www2.fm.usp.br/gdc/docs/iof_83_1-9_etica_e_moral.pdf MATERIAL COMPLEMENTAR LIVRO • Título: Moral e Ética: Dimensões Intelectuais e Afetivas (Portu- guês) • Autor: Yves de la Taille • Editora: Artmed - 1ª edição • Sinopse: a obra reúne as leituras, pesquisas e reflexões de Yves de la Taille, professor no Instituto de Psicologia da USP, ampla- mente reconhecido por seus estudos sobre a chamada Psicologia Moral – ciência preocupada em desvendar por quais processos mentais uma pessoa chega a intimamente legitimar, ou não, re- gras, princípios e valores morais. Neste texto, são apresentados conceitos de moral e ética; saber fazer, a dimensão intelectual; querer fazer, a dimensão afetiva, o despertar do senso moral e a personalidade ética. LIVRO • Título: Ética e Moral - A Busca dos Fundamentos. • Autor: Leonardo Boff • Editora: Vozes - 9ª edição • Sinopse: contra a apatia dominante acerca do que é bom ou mau, certo ou errado em termos éticos e morais, Leonardo Boff apresenta reflexões que visam criar clareza e motivações para um comportamento ético e moral responsável e à altura dos desafios contemporâneos. 22UNIDADE I Os Valores e a Moral LIVRO • Título: Moral - Uma Introdução À Ética. • Autor: Bernard Williams • Editora: Wmf Martins Fontes - 1ª edição • Sinopse: este ensaio notável sobre a moral, escrito por Bernard Williams, trata do problema de se escrever sobre filosofia moral e oferece uma alternativa animadora àquelas abordagens mais sistemáticas que, não obstante, parecem deixar de lado todas as questões importantes. Williams distingue, analisa e explica uma série de posições morais significativas, desde o puro amoralismo até as noções de moralidade a coerência de cada uma elas e somente depois começa então a tratar da natureza do «bem» e de sua relação com as responsabilidades e decisões, os papéis, os critérios e a natureza humana. Os capítulos finais constituem uma fascinante investigação sobre a natureza da moral, levando em conta não só a felicidade, mas também outras metas e ideais humanos. FILME/VÍDEO • Título: O Mundo de Sofia • Ano: 1999 • Diretor: Erik Gustavson • Sinopse: adaptação cinematográfica do romance homônimo escrito por Jostein Gaarder, publicado em 1991. O livro foi escrito originalmente em norueguês, mas já foi traduzido para mais de 50 línguas, tendo sua 1ª edição em português em 1995. Sofia, quando está prestes a completar 15 anos, recebe duas mensagens anônimas em sua caixa de correio (Quem é você? De onde vem o mundo?), bem como um cartão postal dirigido a ‘Hilde Moller Knag, a/c Sofia’. Pouco depois, também recebe um curso de filosofia. Com essas comunicações misteriosas, Sofia se torna uma aluna do misterioso filósofo Alberto Knox. Ele começa totalmente anôni- mo, mas, conforme a história continua, ele revela cada vez mais sobre si mesmo. Os papéis acabam de fato sendo dele, mas o cartão postal não: ele vem de uma outra pessoa chamada Albert Knag, um major das forças de paz da ONU no Líbano. Juntos, enredam em diversas aulas e aventuras pela história, passando pela Grécia de Sócrates, a Idade Média, o Iluminismo, a Revolução Francesa e a Revolução Russa. Enquanto viajam pelo Mundo da Filosofia, História e das Artes, investigam quem é Hilde Moller Knag, que tem a mesma idade de Sofia. 23UNIDADE I Os Valores e a Moral FILME/VÍDEO • Título: O Jardineiro Fiel • Ano: 2005 • Diretor: Fernando Meirelles • Sinopse: uma ativista (Rachel Weisz) é encontrada assassinada em uma área remota do Quênia. O principal suspeito do crime é seu sócio, um médico que encontra-se atualmente foragido. Pertur- bado pelas infidelidades da esposa, Justin Quayle (Ralph Fiennes) decide partir para descobrir o que realmente aconteceu com sua esposa, iniciando uma viagem que o levará por três continentes. FILME/VÍDEO • Título: Laranja Mecânica • Ano: 1971 • Diretor: Stanley Kubrick • Sinopse: no futuro, o violento Alex (Malcolm McDowell), líder de uma gangue de delinquentes que matam, roubam e estupram, cai nas mãos da polícia. Preso, ele recebe a opção de participar em um programa que pode reduzir o seu tempo na cadeia. Alex vira cobaia de experimentos destinados a refrear os impulsos destru- tivos do ser humano, mas acaba se tornando impotente para lidar com a violência que o cerca. 24 Plano de Estudo: • A Filosofia moral de Sócrates e de Aristóteles; • A ideia de dever e de intenção do cristianismo; • A Natureza humana de Rousseau; • As leis da razão Kantiana; • A Perspectiva hegeliana e de Bérgson de cultura e de dever; • A Ética de Espinosa; • A Concepção contemporânea de virtude e Racionalismo ético. Objetivos de Aprendizagem: • Conhecer a Filosofia moral de Sócrates e de Aristóteles; • Entender a ideia de dever e de intenção do cristianismo; • Compreender a Natureza humana de Rousseau; • Conhecer a moral da razão prática proposta por Kant; • Entender Perspectiva hegeliana e de Bérgson de cultura e de dever; • Conhecer a Ética de Espinosa; • Conhecer e comparar a concepção contemporânea de virtude e o Racionalismo ético. UNIDADE II Teorias Morais Professor Especialista: Cleber Henrique Sanitá Kojo 25UNIDADE II Teorias Morais INTRODUÇÃO Seja muito bem-vindo(a)! Olá, caro(a) amigo(a)! Vamos continuar nossa viagem filosófica sobre ética e Moral. Espero que tenha ocorrido em você um despertar sobre o tema com a unidade anterior, te deixando ansioso pelo nosso próximo encontro e/ou nosso próximo capítulo. Acredito que o fascínio apresentado no início da unidade anterior tenha sido atingido com excelência e despertado uma nova forma de se pensar. Venho, então, propor uma continuidade do assunto desta disciplina, sugerindo uma viagem ainda maior, pois, a partir de agora, co- nheceremos as teorias de alguns filósofos que permearam a formação moral e ética de muitas sociedades, tanto no passado quanto no presente, passando, ainda, a transportar conhecimentos discutidos por grandes pensadores atuais em todos os ambientes sociais, seja nas instituições de ensino superior, até nas rodas cotidianas, sem falar do meio virtual, como em canais de vídeos, debates e até mesmo em redes sociais, fazendo com que suas teorias sejam entendidas e absorvidas por várias sociedades.. Proponho a você o entendimento de conceitos básicos da filosofia moral de Sócra- tes e de Aristóteles, além da compreensão da ideiade dever e de intenção do cristianismo na moral humana. Devemos, então, continuar essa viagem pelo conceito de natureza humana proposta por Rousseau e a moral da razão prática de Immanuel Kant. Vale ressaltar que passaremos também pela perspectiva hegeliana e de Bérgson de cultura e de dever humano. Também é válido destacar que essa viagem passará, ainda, pela visão ética e liberdade proposta por Espinosa. Dentro desse desafio da viagem, conheceremos muito além de conceitos de ética e moral, pois passaremos pela concepção contemporânea de virtude e do racionalismo ético, finalizando o trajeto na contribuição da psicanálise à ética humana. Espero que esteja preparado. Assim partiremos agora! Muito obrigado e bom estudo! 26UNIDADE II Teorias Morais 1 A FILOSOFIA MORAL DE SÓCRATES E ARISTÓTELES Por que estudar as diferentes correntes teóricas sobre a Ética? Por que começar- mos por Sócrates e Aristóteles? Talvez você se pergunte: o que pode me acrescentar essas teorias? Podemos começar afirmando que essas correntes teóricas poderão construir um profissional ético e responsável na sociedade atual e, com certeza, essa viagem come- çando pelo berço da civilização pode nos nortear a condução ética e moral de nossas vidas. Vale ressaltar que, quando estudamos a história da filosofia, percebemos que não existe uma ética existente, mas, sim, éticas, pois, com o passar do tempo, essas teorias são aproveitadas e debatidas por outros pensadores que formulam novas ideias éticas e morais que conduzem a sociedade e, assim, essas teorias podem constituir em nosso “ser” e nossa formação, podendo tornar nossas afirmações éticas e consistentes nos diálogos cotidianos e em nossa formação e de várias outras pessoas dentro da sociedade. Podemos, então, começar nossas reflexões sobre o mundo grego, que é conside- rado o berço da civilização atual e onde podemos buscar a compreensão moral humana, pois, se fizermos uma viagem além do proposto no título do capítulo, podemos começar afirmando a importância de Sócrates para filosofia, pois a filosofia é dividida no momento histórico como antes e depois de Sócrates, ou seja, temos filósofos pré-socráticos e pós-so- cráticos. Parece confuso, mas não é: os filósofos pré-socráticos embasaram seus estudos no princípio de tudo, a origem das coisas, a cosmologia, ou seja, Tales de Mileto, por exemplo, dizia que o princípio de tudo era a água, quanto Anaximandro nos dá a definição 27UNIDADE II Teorias Morais Arché e Apeíron, onde o princípio de tudo seria o indeterminado; já Anaxímenes afirma que o princípio de tudo era o ar, ou seja, os filósofos pré-socráticos não se preocuparam com o homem em si, mas com o princípio de tudo. Vale ressaltar que a partir de Sócrates passamos a ter a análise do ser, do homem e assim nascem os conceitos de ética e moral. Vamos começar conhecendo um pouco de Sócrates, que era filho de um escultor e de uma parteira, herança essa que o leva a “esculpir”, ou seja, fazer uma representação autêntica do homem, pois uma das críticas ferrenhas de Sócrates seriam os sofistas – ter- mo traduzido como “sábios”. É importante destacar que Sócrates não gostava dos Sofistas, afirmando que eles não se interessavam pela autenticidade humana, ou seja, ele intitulava os sofistas como mercenários do saber, defensores apenas do que lhes interessava, come- çando, assim, a desvendar o que posteriormente seria intitulado de moral e ética. Um grande ponto a ser destacado é que Sócrates saía nas Ágoras, (praças públi- cas) conversando com as pessoas e dando demonstrações de que era preciso unir o saber e o fazer, a consciência intelectual à consciência prática, ou seja, a moral em si. Assim, Sócrates entra em uma das principais críticas aos sofistas, a questão da consciência moral, afirmando que o autoconhecimento é o ponto necessário para a ação humana e a moral, originando a célebre frase inscrita no oráculo de Delfos: “Conhece-te a ti mesmo”. Sócrates tendia, ainda, a um diálogo crítico, também chamado de dialética, criando, assim, duas ideias básicas que nortearam seus pensamentos, a chamada de Ironia e Maiêutica. Para exemplificar melhor, podemos apresentar as ideias de ética e moral para o Só- crates. Vamos começar então pelo conceito de moral de Sócrates, pois ele foi o fundador da ciência moral e da ideia da racionalidade humana, identificando assim a ação racional que vai nortear a moral humana. Já a Ética socrática afirmava que o homem deveria obedecer às leis impostas, pois só assim ele seria identificado como ser humano, pois, para Sócrates, essa obediência era o divisor de águas entre o que chamamos de civilizatório e de barbárie. Para ele, devemos respeitar as leis, atingindo, assim, o ápice que é a coletividade. Vale ressaltar que Sócrates, para valorizar seu pensamento sobre moral e ética, não dava im- portância à questão social, buscando o autoconhecimento, o que contrariava a sociedade na época e resultou em sua acusação por “corruptor da juventude”, sendo injusto com os deuses da cidade. Assim, Sócrates foi condenado pelos gregos a beber cicuta – veneno feito com a planta de mesmo nome. Entretanto, mesmo condenado, ele não negou suas ideias, apresentando uma força moral de quem não teme algo por ser ético. Algum de vós poderia talvez altercar-me: “Sócrates, não te envergonhas de haveres exercido tal atividade, que agora coloca em risco tua vida? Eu res- ponderia a este: “Não falas bem se pensa que alguém tendo capacidade de fazer algum bem, mesmo sendo pequeno, deva calcular os riscos de vida ou 28UNIDADE II Teorias Morais de morte e não deva olhar o injusto e se pratica as ações de homem honesto e corajoso ou de infame e mau. Estás enganado, se pensas que um homem de bem deve ficar pesando, ao praticar seus atos, sobre as possibilidades de vida ou de morte. O homem de valor moral deve considerar apenas, em seus atos, se eles são justos ou injustos, corajosos ou covardes.” (PLATÃO, 2008, p. 80). Assim como Sócrates e seu discípulo Platão, temos Aristóteles, que sofreu tantos com os sofistas quanto por não ser grego. Talvez você se pergunte: Como assim? Aristóte- les foi aluno de Platão, discípulo direto de Sócrates, não assumindo, por ser macedônico, a academia filosófica no lugar de Platão, tendo que abandonar a Grécia, retornando no período de dominação macedônica sobre os gregos. Aristóteles foi mentor direto de Ale- xandre Magno (Alexandre o Grande), tornando-se respeitado e podendo fundar sua própria escola, o chamado “Liceu”. Podemos afirmar que Aristóteles tem grandes obras a serem estudadas. No en- tanto, precisamos saber que ele era filho de um médico chamado Nicômaco e uma de suas principais obras foi em homenagem a seu pai, ou seja, Ética a Nicômaco, através da qual Aristóteles aprofunda a discussão sobre as questões éticas do mundo, dizendo que a Ética é a parte do estudo filosófico que nos ajuda diretamente a refletir sobre as práticas humanas, afirmando também que tudo o que fazemos deve alcançar o bem ou o que pareça o bem naquele momento, ou seja, devemos alcançar a filosofia moral chamada por ele de “Eudamonia”, termo grego de vida feliz, vida boa. Dessa forma, segundo ele, o homem pode atingir a “Felicidade e a Virtude”, isso utilizando-se da razão. Tais afirmações também estão em sua obra intitulada de metafisica. Para concluir a felicidade tão importante para ética de Aristóteles, iremos citar um pequeno trecho do Journal of Ancient Philosophy Vol. II 2008 Issue 2, que diz o seguinte sobre a virtude e a felicidade em Aristóteles: “Dado que a felicidade é certa atividade da alma segundo perfeita virtude, deve-se investigar a virtude, pois assim, presumivelmente, teremos também uma melhor visão da felicidade. (FRATESCH, 2008, p.05). Revista acadêmica da Unicamp (EN I 13 1102ª5-10)). REFLITA Aristóteles, fiel aos princípios de sua filosofia especulativa,e após ter feito uma análise e um estudo da psicologia humana, verifica que em todos os seus atos o homem se orienta necessariamente pela ideia de bem e de felicidade e que nenhum dos bens comumente procurados (a honra, a riqueza, o prazer) preenche esse ideal de felicidade. Daí a sua conclusão: primeiro, a felicidade humana deverá consistir numa atividade, pois o ato é superior a potência; segundo, deverá ser uma atividade relacionada com a faculdade humana mais perfeita que é a inteligência […]” (COS- TA,1994, p. 67). 29UNIDADE II Teorias Morais 2 A IDEIA DE DEVER E INTENÇÃO DO CRISTIANISMO Em nossa vida é comum encontrarmos seguidores da religião cristã em todos os setores da sociedade, desde a pessoa com menos recursos financeiros até a mais rica. Temos também indivíduos com o mínimo de conhecimento científico até os intitulados intelectuais. Mas qual é o fascínio dessa religião? Por que tantos seguidores? Talvez você e eu somos cristãos e não entendemos seu surgimento e até a sua importância filosófica. Devemos, então, abandonar qualquer tipo de preconceito religioso existente e analisar sua importância para a construção filosófica. Você analisará essa evolução e importância neste tópico. Vamos lá? Para iniciar esse debate filosófico, vamos resgatar o contexto do surgimento dessa religião no mundo, pois, historicamente, o homem sempre teve sua vida ligada ao misticismo e, na maioria das vezes, essas religiões tinham um caráter político, com uma dominação nacional e territorial. Vale ressaltar que o cristianismo nasce aproximadamente no século I, digo aproximadamente porque estudiosos afirmam que o calendário gregoriano cristão possui um erro de alguns anos. Enfim, o cristianismo nasce com os ensinamentos deixados por Jesus Cristo e se espalha pelo mundo através de seus seguidores que afirmavam a existência de um único Deus, contrariando as religiões existentes até o momento, com exceção do Judaísmo, que também acredita em um único Deus. Se, na antiguidade, a religião era ligada a um território ou a uma comunidade social, no cristianismo era ligada às pessoas que possuem “fé”, nos que creem. Isso pode ser explicado quando afirmamos 30UNIDADE II Teorias Morais que a vida, a ética e a moral do cristão não são definidas por sua relação com a sociedade, mas, sim, na sua única e íntima relação com Deus. A religião cristã se espalha pelo mundo através dos discípulos de Jesus, que pas- sam a contar seus legados para o mundo, dentre eles Paulo e João. Paulo era filho de um tecelão e de alta posição no império romano, pois adquiriu sua cidadania romana e passou a ter uma visão cruel em relação aos cristãos, ou seja, perseguia os seus seguidores. Após sua conversão, Paulo andou por vários e vastos territórios espalhando os conceitos básicos do cristianismo, até sua morte. Com base nessas afirmações, vamos abordar aqui o que chamamos de “Filosofia Patrística”, ou seja, trabalharemos uma corrente filosófica cristã que resultou do esforço fei- to pelos dois apóstolos intelectuais (Paulo e João) e pelos primeiros Padres da Igreja, pois essa filosofia recebeu tal nome devido aos primeiros teólogos do cristianismo, os Padres da igreja, que traduzido significa “Pais da Igreja” (Padre = Pai). O cristianismo com a filosofia patrística ganhou uma forma de conciliação entre o pensamento filosófico dos gregos e romanos e, com essa conciliação, ocorreu uma ade- são dos pagãos e essa religião. A filosofia patrística liga-se, portanto, à tarefa religiosa da evangelização e à defesa da religião cristã contra os ataques teóricos e morais que recebia dos antigos. Nos primeiros séculos da era cristã, os escritos de Aristóteles e Platão haviam desaparecidos e, com isso, o cristianismo absorveu ideias das escolas helenísticas e greco-romanas, como o estoicismo e do neoplatonismo apresentando a ideia do uno, do qual emanariam todas as realidades, começando pelo Logos. O cristianismo, por sua vez, baseia-se na fé, na bíblia, criada no concílio de Niceia, pois a bíblia vem da palavra grega biblion, que significa conjunto de livros – como a palavra biblioteca, que remete a um local de muios livros –, ou seja, a bíblia é um conjunto de livros unificados a um único livro. É de importante destaque que a bíblia foi dividida entre antigo testamento, que é a Torá (o livro sagrado dos judeus), e nos livros sagrados deixados pelos seguidores diretos de Jesus. Assim, podemos afirmar que a origem do cristianismo está em acreditar nos ensinamentos da palavra revelada, pois para os cristãos a verdade vem direto do Espírito Santo, ou seja, os filósofos não precisam mais se dedicar na busca da verdade, pois ela já foi revelada. Enfim, começamos então o maior desafio filosófico que é conciliar a fé e a razão. A partir desse desafio, nos é proposto que a ética cristã vai tomar um lugar impor- tante na sociedade, pois vamos encontrar o lado espiritual através da fé e o lado humano através da caridade cristã. É importante salientar que a obediência à palavra revelada vai 31UNIDADE II Teorias Morais formar, no campo da moral, a ideia de dever, uma norma de conduta moral e ética. Você consegue reconhecer um cristão através de sua conduta ética? Talvez nessa sociedade atual com tantas manipulações seja um pouco difícil, mas não deveria, pois o verdadeiro cristão segue essa ideia filosófica e deveria ser fácil reconhecer, pois o seu seguidor tem um dever a cumprir. Já quando se fala do interior humano, da interioridade falamos de in- tenção, que deve ser julgada eticamente, pois Deus é onipotente, onipresente e onisciente e conhece sua intenção ética e moral. Dessa forma, podemos verificar na fala de Marilena Chauí abaixo que o primeiro contato ético se estabelece através dessa relação com Deus A primeira relação ética, portanto, se estabelece entre o coração do indivíduo e Deus, entre a alma invisível e a divindade. Como consequência, passou-se a considerar como submetido ao julgamento ético tudo quanto, invisível aos olhos humanos, é visível ao espírito de Deus, portanto, tudo quanto acontece em nosso interior. O dever não se refere apenas às ações visíveis, mas também às intenções invisíveis, que passam a ser julgadas eticamente. Eis por que um cristão, quando se confessa, obriga-se a confessar pecados co- metidos por atos, palavras e intenções. Sua alma, invisível, tem o testemunho do olhar de Deus, que a julga (CHAUÍ, 2003, p. 37). Assim, podemos demonstrar a formação ética absorvida pela relação com Deus, apontando toda questão do sobrenatural que forma a origem de nossas atitudes e práticas na sociedade, ou seja, tudo que nos torna um ser ético na sociedade. SAIBA MAIS Você já ouviu falar em Santo Agostinho? Junto com São Tomás de Aquino, é considera- do um dos mais célebres doutores da igreja, sendo valorizado em várias religiões, com frases que norteiam a vida cotidiana até os dias atuais. Vale ressaltar que suas obras guiaram o pensamento cristão medieval e suas obras como as Confissões são conside- radas trabalhos a serem seguidas por filósofos, historiadores, entre outros autores de diversas áreas. Você conhece alguma de suas frases? Que tal essa: “A medida do amor é amar sem medidas”? Santo Agostinho. Fonte: Santo Agostinho (2002). 32UNIDADE II Teorias Morais 3 A NATUREZA HUMANA DE ROUSSEAU Rousseau é um filósofo nascido na cidade Genebra que, em seus estudos, tentou analisar o homem e apontou alguns problemas na relação sociedade e indivíduos, afirmando que a sociedade é perversa e corrompe o homem. Sendo assim, ele propunha ao indivíduo uma busca ao sentimento para resgatar sua natureza que seria boa. Ele acredita que a natureza é um estado primitivo que tem origem na sociedade, ou seja, que ela é espon- tânea, liberta de toda escravidão, pois, de acordo com ele, a sociedade impõe ao homem uma forma fútil de agir e de se relacionar,promovendo nele um estado de inércia no qual os deveres humanos são esquecidos, o que torna o homem um ser orgulhoso e cheio de vaidades. Vale destacar que, para ele, o homem primitivo vive de acordo com as necessida- des, atingindo a tão importante felicidade, sem angústias e sem desespero, evitando fazer o mal para outros indivíduos. Um ponto importante em relação ao homem destacado por Rousseau é que ele deve valorizar a liberdade, pois ela não é só um direito adquirido, mas, sim, um dever da natureza humana que deve promover a convivência harmoniosa da sociedade, pois a natureza do homem, quando pura e sem interferência da sociedade, pode promover uma sociedade comum e sem individualismos. Você já parou para pensar nas pessoas que ficam paradas em sinais de trânsito pedindo alguma ajuda? Pensou em pessoas que passam fome e matam, roubam, sequestram, entre outros? Vale apontar que, se você e eu voltássemos à 33UNIDADE II Teorias Morais natureza humana, ao primeiro amor, ao estado natural primitivo, resgataríamos a essência natural humana. Nós estamos presos a uma sociedade egoísta e individualista que nos exclui uns dos outros. Você conseguiu entender a ideia proposta por Rousseau? Esse pensador acre- dita na bondade humana e que a sociedade afasta o homem de sua verdade, promovendo sentimentos que os destroem, uma vez que, com o processo de socialização, o homem cria o senso moral, desnecessário no mundo natural. Rousseau acredita, ainda, que a razão leva o homem para fora de si, de sua natureza, por isso ele propõe um contrato social para que ocorra uma vontade geral da sociedade, apresentando todos as falhas do homem que foge de sua natureza. Assim, a proposta é que tudo seja harmonioso. A comunhão com a natureza é a única forma de preservação da verdadeira essência do homem. Um retorno ao arquétipo, as origens. Uma transposição da ordem social para a ordem natural que tem como consequência a recon- quista da verdadeira liberdade e felicidade. Mas as leis eternas da natureza e da ordem existem [...]. Elas estão escritas no fundo de seu coração pela consciência e pela razão; é a estas que ele deve sujeitar-se para ser livre […]. A liberdade não está em nenhuma forma de governo, ela está no coração do homem livre, ele a carrega por toda parte com ele […] (BARROS, 2018, p. 199). Sendo assim, podemos entender a base do seu pensamento através do contrato social, tornando a relação e a convivência em sociedade algo viável e harmonioso. 34UNIDADE II Teorias Morais 4 A MORAL DA RAZÃO PRÁTICA DE KANT Você já se desafiou em sua vida? Já criticou o que pensa ou pensou? Já parou para tentar superar algo que está em duas frentes? Que tal tentar responder a essas perguntas ou a perguntas como “o que posso saber? O que posso esperar? O que devo fazer?”. Tais dúvidas são constantes na vida de algumas pessoas, ao passo que são total- mente desnecessárias para outras. Porém, existiu um filósofo que se preocupou em buscar soluções para dúvidas parecidas com essas: esse filósofo era chamado de Emanuel Kant, um filósofo alemão, professor universitário, considerado por vários pensadores como um dos filósofos mais influentes dos tempos modernos. Sua filosofia tem uma grande crítica na relação entre racionalismo e empirismo e, com suas propostas, procura superar esse tema destacando a Razão através da crítica pura para saber seus limites. Superando a ideia na capacidade plena da razão, sem analisá-la ou criticá-la, podemos afirmar ainda que Kant faz a crítica ao chamado dogmatismo, que é quando a razão acredita em algo sem discutir, sem debater, acreditando e pronto, como, por exemplo, alguns dogmas da igreja católica, nos quais aquilo não se discute, ou seja, o dogmatismo pode ser considerado um limite para razão pura, um conhecimento conveniente. Kant escreveu duas obras importantes: a chamada “Crítica da Razão Pura e Crítica a Razão Prática”, na qual ele nos aponta uma razão teórica e uma prática que se comple- mentam como diz Höffe (2005, p. 187): 35UNIDADE II Teorias Morais [...] a razão prática não é nenhuma outra que a razão teórica; só há uma razão, que é exercida ou prática ou teoricamente. De modo geral a razão significa a faculdade de ultrapassar o âmbito dos sentidos, da natureza. A ultrapassagem dos sentidos pelo conhecimento é o uso teórico da razão, na ação é o uso prático da razão. A razão pura também é chamada por Kant de filosofia transcendental, aquela que ocorre quando temos conceitos, definições puras que atingimos através de análises da própria razão. Já a razão prática procura nos apontar um princípio para a moralidade, pois, para ele, a moral não vem da experiência, o que tornaria a moral fraca e sem sentido. Segundo Andrade (2011), a filosofia prática de Kant busca a implantação de uma lei moral que seja um princípio prático universal a ser seguido. Essa parte da filosofia kantiana traz o que podemos chamar de uma fundamentação da moralidade, encontrando uma lei central para determinar o agir com moralidade entre os homens, respeitando a vontade, o dever e a liberdade, temas esses abordados em outros momentos de nossa disciplina. Para prosseguir o raciocínio, responda a pergunta a seguir para você mesmo: você se acha livre? Você pode ser livre e ético ao mesmo tempo? Assim que responder a si mesmo, poderemos prosseguir com a ideia de Kant, pois, para ele, a razão prática diz que somos livres e essa razão que tomamos e utilizamos nos dá o conceito real para decidirmos entre ser moral ou imoral. Vale ressaltar que a razão prática nos dá autonomia em relação à liberdade, ao agir, determinando nossas ações concretas. A moral proposta por Kant nos leva a definir o chamado dever, que, por sua vez, não diz respeito a um indivíduo ou a outro, mas, sim, a todos os seres humanos, pois temos a partir daí uma razão moral com princípios racionais, uma vez que o próprio Kant (2008) dizia que a “virtude é a força da máxima do homem em sua obediência ao dever”. 4.1 As Leis da Razão Kantiana Você respeita as regras sociais? Sempre agiu dentro das leis da sociedade? Como seres racionais que você e eu somos, agimos dentro das regras e leis sociais, pois, segundo Kant, temos razão e, por isso, respeitamos o que nos é imposto. Mas que leis são essas? Como analisá-las? Kant diz a você que essas leis podem ser categóricas ou hipotéticas. Observe o quadro a seguir para melhor compreensão: 36UNIDADE II Teorias Morais Quadro 1 - Imperativo Hipotético E Categórico IMPERATIVO HIPOTÉTICO IMPERATIVO CATEGÓRICO Faz isso, mas na verdade quer fazer aqui- lo. Faz isso e pronto. Cumpra tudo o afirma, ou o que prometeu, isso se você quer receber olhares de apro- vação na sociedade. Cumpra tudo o afirma, ou o que prometeu. Você pode ser acostumado, condicionado se.... Você pode ser desacostumado, incondicio- nado se.... O comando é o meio de se atingir o obje- tivo. O comando é o objetivo em si. A vontade vem de algo exterior a você. A vontade tem autonomia, ou seja, vem de si, de você. Independente da Razão Dependente da Razão. Fonte: O Autor. Para explicar melhor a proposta kantiana e a tabela acima, devemos afirmar que o imperativo hipotético visa um fim direto, te condiciona a esse fim. Já o chamado de impera- tivo categórico é uma imposição, um dever imposto pela razão. Assim, podemos ter noções morais utilizando a razão e abandonando o que está pronto e acabado, ou seja, não acreditamos em tudo. Um exemplo clássico dessa afirmação seria utilizarmos a razão e, assim, jamais compartilhar as chamadas “fake news” nas redes sociais, uma vez que procuraremos analisá-las racionalmente, não acreditaremos no pronto e acabado. 37UNIDADE II Teorias Morais 5 A PERSPECTIVA HEGELIANA E DE BÉRGSON DE CULTURA E DE DEVER Nos itens anteriores, estudamos a filosofia kantiana e também as ideias de Rous- seau, que, por sua vez, buscarama conciliação sobre o dever humano e a natureza humana, isso relacionado à moral. No entanto, não deixam claro a relação de ética, cultura e dever. Hegel vem investigando essa problemática e afirma que temos que superar as propostas de Rousseau e Kant, pois ambos analisaram somente o homem e a natureza humana, se esquecendo de olhar com calma para relação homem e cultura, sem falar das relações pessoais entre os indivíduos, como entre as famílias, por exemplo. É importante frisar que essas relações pessoais entre os indivíduos determinam a moral e a ética dessas pessoas: imagine você que, desde pequeno, ouviu de seus pais “devolva esse lápis. Não é seu.”, ou seja, ouviu seus responsáveis ensinando-o o certo e o errado, o correto e o incorreto, o justo e o injusto. Como desprezar essa relação familiar e pessoal no exercício da vida ética? Apesar de conhecer a importância dos estudos kantianos e de Rousseau, Hegel afirma que somos sujeitos históricos e culturais, ou seja, construímos nossa moral e, nesse processo de construção, todas as instituições que compõem nossa sociedade são importan- tes, pois é através delas que formamos o que estudamos no primeiro capítulo: os valores. A formação ética vai além de nossas vontades, ou seja, essas instituições apontam para além de nossa vontade individual, criando a ideia que chamamos de dever. Outro ponto a ser destacado é que não devemos cometer anacronismos, pois apesar de for- marmos nossa moralidade na cultura de uma sociedade, essa sociedade pode ter novas 38UNIDADE II Teorias Morais partes culturais com o passar do tempo, ou seja, as normas morais da época dos seus avós podem não ser as mesmas propostas a você. Por isso, Hegel considerava que, cumprindo o dever imposto pela sociedade em que vivemos, podemos ser livres e seguir as normas morais da sociedade, respeitando toda sua influência. Outra afirmação importante destacada por Hegel é que, utilizando a razão, pode- mos perceber essa mudança de uma sociedade para outra e até mesmo dentro de uma sociedade. Isso ocorre quando começamos a transgredir as regras morais vigentes. Você já deve ter ouvido seus avós ou seus pais dizendo “na minha época, só de meu pai olhar, eu já sabia que depois tinha uma surra”. Talvez ouviu também “ai de mim se passasse pelo meio da conversa de pai e a visita sem pedir licença”. Diante disso, perce- bemos que, sendo verdade ou uma fantasia do seu responsável, essas falas nos ensinam a compreender que a sociedade muda culturalmente e nos molda moralmente. No século XX, Bergson, complementa a filosofia hegeliana da relação do dever e o tempo/cultura, apontando o que ele chama de moral aberta e moral fechada. A moral fechada é o acordo entre os valores e os costumes de uma so- ciedade e os sentimentos e as ações dos indivíduos que nela vivem. É a moral repetitiva, habitual, respeitada quase automaticamente por nós. Em contrapartida, a moral aberta é uma criação de novos valores e de novas condutas que rompem a moral fechada, instaurando uma ética nova. Os criadores éticos são, para Bergson, indivíduos excepcionais – heróis, santos, profetas, artistas -, que colocam suas vidas a serviço de um tempo novo, inaugurado por eles, graças a ações exemplares, que contrariam a moral fechada vigente. (CHAUÍ, 2000, p. 40). Já Hegel, diria que a moral aberta bergsoniana só pode acontecer quando a moralidade vigente está em crise, prestes a terminar, porque um novo período histórico- -cultural está para começar. A moral fechada quando sentida como repressora e opressora, e a totalidade ética, quando percebida como contrária à subje- tividade individual, indicam aquele momento em que as normas e os valores morais são experimentados como violência e não mais como realização ética (CHAUÍ, 2000, p. 41). Assim, podemos afirmar que tanto Hegel quanto Bergson nos aproximam ainda mais do ser moral com suas críticas e seus complementos. 39UNIDADE II Teorias Morais 6 A ÉTICA DE ESPINOSA O filósofo holandês Baruch Espinosa viveu no século XVII e deixou uma ideia destacada por vários estudiosos, sendo considerado por muitos um dos grandes nomes do debate sobre ética e liberdade. Espinosa (2017) considera que Deus não é um ser transcendente separado daquilo que criou, ou seja, é uma substância que criou o universo inteiro e não se separa da matéria, por isso do termo “Deus sive Natura”: Deus ou Natureza. Para Espinosa, todos os seres têm uma ligação com o ser divino e ele dá a essa ligação o nome de Conatus, ou seja, uma força vital que expressa o corpo e a alma juntos. Parece loucura esse início de conteúdo, mas não é. Para ele, há as paixões alegres e paixões tristes, que não se separam e que crescem de acordo com cada uma, como, por exemplo, os desejos e vontades, que surgem mais das alegres do que das tristes. Se você ainda não entendeu, vamos começar explicando como elas nascem. Desejos nascidos da tristeza: “[...] (inveja, ódio, medo, orgulho, ciúme, vingança) são mais fracos por que impedem o crescimento, corrompem as relações e as orientam para as formas de exploração e destruição” (ARANHA, 2013, p. 194). Desejos nascidos da alegria: [...] (amor, amizade, generosidade, benevolência, gratidão) são mais fortes porque aumentam nossa capacidade de agir e de pensar, permitem o de- senvolvimento humano, facilitam o encontro de pessoas (ARANHA, 2013, p. 194). 40UNIDADE II Teorias Morais Enfim, podemos afirmar, em outras palavras, que a alegria faz o corpo e alma expandirem seus talentos, fazendo com que o ser humano se afaste das coisas tristes. Vale destacar seu pensamento diferente dos outros filósofos estudados que classificam a razão superior aos sentimentos, não cabendo a ela o controle dos afetos humanos. Para Espinosa (2017), os desejos jamais serão dominados por uma ideia ou uma vontade, mas somente por outro sentimento mais forte. Mas onde entra a liberdade nisso? De acordo com ele, a liberdade não pode ser corrompida por nada se houver as paixões tristes que reservam o ser humano e não os torna escravos. Devemos, pois, nos dedicar, sobretudo, à tarefa de conhecer, tanto quanto possível, clara e distintamente, cada afeto, para que a mente seja, assim, determinada, em virtude do afeto, a pensar aquelas coisas que percebe clara e distintamente e nas quais encontra a máxima satisfação (ESPINOSA, 2017, p. 217). Espinosa foi excomungado de sua religião e, a partir daí, começou a desenvolver suas teses, nas quais ele valoriza a felicidade humana, descartando a tradição cristã que, para ele, faz com que o homem se torne fraco e sem valor. O autor afirma que ninguém é totalmente livre e sempre é ligado a algo na vida, não podendo agir como quer ou como bem entender, pois sua ética afirma que o homem acaba tornando-se escravo das paixões. Para Espinosa (2017), Deus é uma força, um ser, grande e poderoso que não tem tempo para voltar o olhar aos insignificantes humanos, ou seja, Deus, para ele, não é responsável pelo que acontece com você, pois você é fruto das suas próprias escolhas. Absorvendo a Ética de Espinosa, o homem tem paz, pois passa acreditar que sua salvação nasce do conhecimento próprio. SAIBA MAIS A liberdade é, provavelmente, a maior conquista humana e, com isso, temos diversos filósofos que passaram a estudar e publicaram várias obras abordando a liberdade em si. Entre eles, podemos citar Marx, Sartre, Descartes, Kant e outros. Por exemplo, Des- cartes afirmou que a liberdade é motivada pela decisão humana e, muitas vezes, essa vontade depende de outros fatores, como dinheiro ou bens materiais. Fonte: Santos (2017). 41UNIDADE II Teorias Morais 7 A CONCEPÇÃO CONTEMPORÂNEA DE VIRTUDE E O RACIONALISMO ÉTICO A concepção contemporânea de virtudes é repleta de fatores sociais e lógicos, uma vez que devemos considerar e focar na virtude e no caráter humano, o que nos possibilitaentender melhor as profissões e suas características básicas. Adaptando o que diz Solomon (2006), a vida corporativa para profissão, e, por fim seu sucesso, vai depender do caráter e da personalidade do profissional. Vale ressaltar que as virtudes profissionais vão depender do local e da cultura onde se aplicam, pois os valores adquiridos pelo profissional vão nortear toda a instituição representada por ele. Ainda de acordo com Solomon (2006), Aristóteles considera que as virtudes são definidas com a prática humana na sociedade e do próprio ser humano em questão. Assim, a soma das virtudes do indivíduo e da instituição que ele exerce sua profissão satisfaz as necessidades da sociedade, pois contempla todos os desejos humanos e as relações interpessoais. Podemos afirmar que, até o momento, conhecemos diversas teorias sobre ética, nas quais algumas se completam e outras se diferem, mas podemos chegar à conclusão de que ela, bem como suas virtudes, é extremamente necessária para que ocorra uma ótima convivência em sociedade. Toda profissão e instituição precisam de indivíduos com virtudes capazes de somar, contemplando a missão proposta por ambas. Pergunto, então, a você: quais as virtudes você tem ou pode adquirir para se somar a sua profissão e/ou para instituição em que vai 42UNIDADE II Teorias Morais oferecer e/ou exercer seu trabalho? Pense e reflita na importância da sua virtude, pois, na contemporaneidade, temos muitos desafios para sua virtude – desde o consumo do álcool até mesmo as redes sociais podem demonstrar a virtude humana desenfreada. A partir daí você pode utilizar a Razão, ou o racionalismo ético, isso em todas suas vertentes, pois temos definições diferentes de razão também, que se completam. Observe abaixo algumas explicações para as diferentes formas de racionalismo: I. No sentido metafísico, doutrina segundo a qual nada existe que não tenha sua razão de ser, de tal maneira que por direito, senão de fato, não há nada que não seja inteligível. II. Doutrina segundo a qual todo conhecimento certo provém de princípios irrecusáveis, a priori, evidentes, de que ela é consequência necessária, e por si sós, os sentidos não podem fornecer senão uma ideia confusa e provisória da verdade. (Descartes, Espinoza, Hegel) III. Doutrina segundo a qual só nos devemos fiar na razão (sistemas de princípios universais e necessários) e não admitir nos dogmas religiosos senão o que ela reconhece como lógico e satisfatório segundo a luz natural. (Teólogos, definição dominante até século XIX). IV. A experiência só é possível para um espírito que tenha disciplina intelec- tual: fé na razão, na evidência e na demonstração; crença na eficácia da luz natural. (Kant). GOMES, W. B. Relações entre Psicologia e Filosofia: A psicologia filosófica. Psicologia/Filosofia, Porto Alegre, [S.I.], 2003. Disponível em: http://www. ufrgs.br/museupsi/dicotomia.htm. Acesso em 20/01/2019. Mesmo com tantas definições acima, você pode entender o racionalismo ético, mesmo que superficialmente, associando-se à virtude contemporânea debatida em vários momentos e compreender que você precisa se encontrar na sociedade, fazendo suas es- colhas para ser um profissional de excelência. http://www.ufrgs.br/museupsi/dicotomia.htm http://www.ufrgs.br/museupsi/dicotomia.htm 43UNIDADE II Teorias Morais CONSIDERAÇÕES FINAIS Caro acadêmico (a), chegamos ao final de mais uma unidade e, no decorrer dos estudos, contemplamos diversas temáticas sobre ética e moral, englobando vários pensa- dores. Você consegue se lembrar? Lembra-se da Filosofia moral de Sócrates e Aristóteles? Espero que nesse momento do processo de ensino/aprendizagem você se reconheça inserido na sociedade, contemplando a filosofia moral estudada. Espero que tenha se encantado com a formação da moral cristã durante a história. Continuamos nossa viagem pelo conceito de natureza humana proposta por Rous- seau e a moral da razão prática de Immanuel Kant. Você conheceu também a perspectiva hegeliana e de Bérgson de cultura e de dever humano. Além disso, essa viagem apresentou a visão ética e liberdade proposta por Espinosa. Será que agora depois de tudo você se sente livre? O desafio proposto a você durante nossos estudos foi o de conhecer muito além de conceitos de ética e moral, analisando e se conectando a concepção contemporânea de virtude e do racionalismo ético. Espero que esteja preparado para o conhecimento de sua profissão nos próximos capítulos. Enfim, sucesso e nos vemos no capítulo seguinte! Obrigado! 44UNIDADE II Teorias Morais MATERIAL COMPLEMENTAR LIVRO • Título: “Crítica da razão prática” • Autor: Immanuel Kant • Editora: Vozes - 4ª edição • Sinopse: crítica da razão pura, principal obra de Immanuel Kant, divide a história da filosofia em duas: antes e depois da Crítica. Num momento em que a filosofia dividia-se em racionalistas de um lado e empiristas de outro, procurou Kant demonstrar que o nosso conhecimento é, necessariamente, tanto empírico como racional, inaugurando, com isso, uma posição singular no debate filosófico, criando as bases para a Teoria do Conhecimento como disciplina filosófica. Entrar no universo da Crítica da razão pura é aceitar o desafio, colocado pelo próprio Kant, de evitar o dogmatismo sem cair no relativismo; evitar o absoluto sem cair no nada. LIVRO • Título: “Ética” • Autor: Spinoza • Tradutor: Tomaz Tadeu • Editora: Vozes – 2ª edição • Sinopse: a publicação da Ética, do filósofo holandês Benedictus de Spinoza, em nova tradução, constitui-se em um marco para a Autêntica Editora, que completa, neste ano de 2007, uma década de existência. Ela consolida o nosso projeto de publicar traduções de obras, antigas ou modernas, consideradas clássicas, iniciativa que teve início com O Panóptico, de Jeremy Bentham. A importân- cia que lhe concedemos é assinalada não apenas pela decisão de publicá-la em edição bilíngue, mas também pela especial preocu- pação com os aspectos gráficos. Dada a constante remissão de Spinoza a passagens anteriores do texto (proposições, definições, axiomas, etc.), buscou-se dar-lhe um formato que facilitasse o movimento de ir e vir da leitura. É, entretanto, o cuidado com o trabalho de tradução que deve, acima de tudo, ser ressaltado. O princípio normativo foi o da produção de um texto que, sem deixar de ser fiel à expressão de Spinoza, estivesse mais próximo do léxico e da sintaxe da língua presentemente utilizada do Brasil. O que podemos assegurar é que a tradução que ora entregamos aos leitores é o resultado de um trabalho demorado e meticuloso, que se beneficiou da confrontação com traduções para outras línguas, da consulta a comentaristas de variadas orientações filosóficas e dos indispensáveis recursos fornecidos pela informática. 45UNIDADE II Teorias Morais LIVRO • Título: “Ética a Nicômaco” • Autor: Aristóteles – Edson Bini • Editora: Vozes – 4ª edição • Sinopse: uma das mais expressivas e fecundas obras do pen- samento grego e uma das que mais influenciaram a posteridade do mundo ocidental. Ética a Nicômaco revela o mais produtivo e laborioso filósofo da antiguidade às voltas com a conceituação e a investigação dos elementos fundamentais da ciência do caráter e dos costumes. Trata-se de texto de referência indispensável e obrigatório a todos os estudantes e cultivadores da filosofia, das artes e das ciências humanas, destacadamente o direito, a psico- logia, a antropologia, a sociologia e a política. FILME/VÍDEO • Título: Feitiço do Tempo Título original: Groundhog Day • Ano: 1993 • Diretor: Harold Ramis • Roteirista: Harold Ramis e Danny Rubin • Sinopse: este filme apresenta as duas pontas da ética kantiana. Phil Connors, um homem egoísta, começa a experimentar o mesmo dia uma e outra vez na aldeia Punxsutawney no dia de Groundhog. A resposta inicial de Connors às novas circunstâncias é repleto de hedonismo. Ele
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