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Livro Eletrônico Aula 05 Direito Administrativo p/ AFRFB - 2014 Professor: Cyonil Borges Curso Teórico de Direito Administrativo Prof. Cyonil Borges Profº. Cyonil Borges www.estrategiaconcursos.com.br 1 Oi Pessoal, A parte de serviços públicos sempre foi tranquila! “Sempre” do verbo a partir de agora as coisas estão diferentes... Os concursos públicos atuais estão mais interessantes. Outrora a concorrência era entre você e outro candidato. Hoje, a concorrência é entre você e a banca organizadora. Por isso, preparei uma aula do tipo jogo de xadrez, cercando por todos os lados. Não deixei qualquer chance de surpresa por parte da i. banca organizadora. Ah! Esta parte é só de serviços públicos e concessões comuns. Haverá outro bloco para tratarmos das PPPs e dos Consórcios Públicos. VQV! Cyonil Borges. 0 Curso Teórico de Direito Administrativo Prof. Cyonil Borges Profº. Cyonil Borges www.estrategiaconcursos.com.br 2 Sumário 1. Noções Gerais ............................................................................................................ 3 2. Conceito ..................................................................................................................... 9 3. Classificações .......................................................................................................... 12 4. Competência ............................................................................................................ 21 5. Formas de Prestação e Meios de Execução ............................................................. 24 6. Concessões de Serviços Públicos ............................................................................ 26 6.1. Princípios ........................................................................................................... 28 6.2. Direitos e Obrigações ........................................................................................ 36 6.2.1. Poder Concedente .......................................................................................... 37 6.2.2. Concessionária ............................................................................................... 38 6.2.3. Usuários ......................................................................................................... 43 6.3. Formas de Remuneração e Política Tarifária ................................................ 44 6.4. Permissão X Concessão X Autorização .......................................................... 48 6.5. Subconcessão ..................................................................................................... 53 6.6. Formas de Extinção .......................................................................................... 55 6.7. Intervenção ........................................................................................................ 62 6.8. Licitações e Contratos ...................................................................................... 63 0 Curso Teórico de Direito Administrativo Prof. Cyonil Borges Profº. Cyonil Borges www.estrategiaconcursos.com.br 3 SERVIÇOS PÚBLICOS 1. Noções Gerais Segundo entendimento doutrinário dominante, a atividade em si não permite concluirmos se um serviço é ou não público, uma vez que há atividades essenciais, como a educação, que são desempenhadas por particulares, independentemente de delegação pelo Poder Público. Por outro lado, há serviços totalmente dispensáveis, a exemplo das loterias, de titularidade do Estado e reconhecidos como serviços públicos. O Direito Administrativo não é um dos mais digeríveis, especialmente em razão de ser só parcialmente codificado, distintamente do que ocorre com as matérias de Direito Constitucional, de Direito Penal, de Civil e tantas outras em que há uma reunião sistematizada das regras em um único texto. Nesse contexto, nem a Constituição Federal e sequer outras normas infraconstitucionais trazem o conceito do que é serviço público. No entanto, o conceito de serviço público, atualmente, não é só de fundo doutrinário, tendo o Decreto Federal 6.017/2007 (ato infralegal) trazido a seguinte definição (inc. XIV do art. 2º): “atividade ou comodidade material fruível diretamente pelo usuário, que possa ser remunerado por meio de taxa ou preço público, inclusive tarifa”. Na verdade, pouco importa se a doutrina não caminha em uma única direção ou se a jurisprudência é discordante, a respeito do conceito que ora se trata. Para os concursos públicos, o que vale é o pensamento das bancas organizadoras, e, nesse ponto da disciplina, os examinadores costumam ser bem literais. Ressalvada a definição do Decreto Federal 6.107/2007, conclui-se que não há, efetivamente, uma definição infraconstitucional ou constitucional para serviços públicos. E, nesse ponto, o texto constitucional “andou bem”, pois o que hoje é serviço público pode não ser amanhã. É instituto em constante mutação. QF-1 – Analista – TCU – Cespe – 2007 - A Constituição Federal não traz expresso, em seu texto, o conceito de serviço público, nem tampouco as leis o fazem, no Brasil. Assim, a conceituação do serviço público deve ser buscada na doutrina. (Certo/Errado)1 Comentários: O conceito do que é serviço público não é dado pela Constituição ou por qualquer Lei. Fica o registro da existência, na esfera federal, de definição em Decreto. 1 Gabarito: CERTO. 0 Curso Teórico de Direito Administrativo Prof. Cyonil Borges Profº. Cyonil Borges www.estrategiaconcursos.com.br 4 Nesse instante, a cabeça do concursando lampeja: afora o Decreto Federal, onde encontrar a definição de serviços públicos? O conceito é essencialmente doutrinário, como boa parte do Direito Administrativo. Antes da apresentação dos critérios doutrinários para a definição de serviços públicos, serão explorados alguns detalhes constitucionais e legais sobre a disciplina. A Constituição é de onde brotam todas as sementes dos demais ramos do Direito. E do texto constitucional, mais precisamente do art. 175, que se encontra uma primeira previsão quanto aos serviços públicos. O segundo normativo fundamental para o assunto é a Lei 8.987/1995, a qual traça as regras gerais em matéria de concessões e permissões de serviços públicos, sem que, no entanto, seja apresentada qualquer conceituação para serviços públicos. Tome Nota! A Lei 8.987/1995 foi editada pela União dentro de sua competência privativa para estabelecer normas gerais, sendo, portanto, válida para todos os Entes da Federação. Porém, a lei não se aplica aos serviços de radiodifusão sonora e de sons e imagens (o art. 41). No que se refere à prestação efetiva dos serviços públicos, dentro de um critério formal, a Constituição Federal (art. 175) dispõe que o Estado é o titular dos serviços públicos (sem abrir qualquer exceção). No entanto, a execução de tais serviços não precisa ser necessariamente a partir do próprio aparato estatal. Em outros termos, a prestação pode ser indireta, por meio de concessão ou permissão, sempre precedidas de licitação. A seguir, o dispositivo constitucional que fundamenta a afirmação: Art. 175. Incumbe ao Poder Público, na forma da lei, diretamente ou sob regime de concessão ou permissão, sempre através de licitação, a prestação de serviços públicos. Parágrafo único. A lei disporá sobre: I - o regime das empresas concessionárias e permissionárias de serviços públicos,o caráter especial de seu contrato e de sua prorrogação, bem como as condições de caducidade, fiscalização e rescisão da concessão ou permissão; 0 Curso Teórico de Direito Administrativo Prof. Cyonil Borges Profº. Cyonil Borges www.estrategiaconcursos.com.br 5 II - os direitos dos usuários; III - política tarifária; IV - a obrigação de manter serviço adequado. Da leitura do art. 175 da CF/1988, podem ser extraídas algumas conclusões. A primeira é a de que a menção a Poder Público inclui tanto a Administração Direta como Indireta. Alguém duvida que a Empresa de Correios e Telégrafos preste serviços públicos, embora detenha a natureza de empresa pública? Claro que, nesse caso, o Estado outorga os serviços públicos mediante lei, transferindo-se, além da execução material, a titularidade do serviços. A prestação continua sendo DIRETA, porém, com a participação da Administração INDIRETA. Tome Nota! Na outorga (prestação direta), a descentralização dos serviços ocorre mediante lei, transferindo-se a titularidade e a execução; enquanto na delegação (prestação indireta), precedida da celebração de ato ou contrato, transfere-se apenas a execução. No entanto, esclareça-se que essa é uma lição puramente doutrinária. Na Lei 8.987/1995, fala-se, expressamente, em OUTORGA de serviços públicos para concessionárias. QF-2 – SEAD/AP - FGV – 2010 - Na prestação de serviço público, é característica do serviço outorgado: a) a transferência do serviço por prazo certo. b) a transferência do serviço via lei. c) a execução transpassada a terceiro. d) a possibilidade de ser anulado por ato administrativo. e) a presunção de transitoriedade.2 Comentários: As delegações podem ser legais ou negociais. As legais são chamadas, doutrinariamente, de outorga (serviço outorgado). As negociais, por sua vez, são denominadas delegação (serviço delegado). Enquanto a outorga dá-se por lei, transferindo-se titularidade e execução (caráter mais permanente); a delegação viabiliza-se por contrato ou ato administrativo (natureza mais transitória), transferindo-se unicamente a execução dos serviços. 2 Gabaritoぎ ノWデヴ; さBざく 0 Curso Teórico de Direito Administrativo Prof. Cyonil Borges Profº. Cyonil Borges www.estrategiaconcursos.com.br 6 Como observado, apesar da distinção doutrinária entre serviço outorgado e delegado, a Lei 8.987/1995 menciona, em mais de um momento, o termo “OUTORGA” para se referir às concessões. Vejamos: Art. 5o O poder concedente publicará, previamente ao edital de licitação, ato justificando a conveniência da outorga de concessão ou permissão, caracterizando seu objeto, área e prazo. Art. 16. A outorga de concessão ou permissão não terá caráter de exclusividade, salvo no caso de inviabilidade técnica ou econômica justificada no ato a que se refere o art. 5o desta Lei. Então, diante desta disparidade entre “delegação” e “outorga”, como proceder em prova? Fácil! Se a questão versar expressamente sobre serviço outorgado e delegado, você deve se lembrar da distinção de fundo doutrinário. Agora, se o enunciado faz registro genérico à Lei 8.987/1995, esqueça-se que outorga se dá por lei. QF-3 – FUB – Cespe – 2008 - Serviço público é a prestação que a administração efetua de forma direta ou indireta para satisfazer uma necessidade de interesse geral. (Certo/Errado)3 Comentários: A Constituição dispõe que o Estado é titular dos serviços públicos (sem abrir qualquer exceção), no entanto, a prestação não precisa ser necessariamente direta, ou seja, não há necessidade de o Estado se socorrer dos próprios órgãos e agentes. Em outros termos, a prestação pode ser indireta, sendo neste último caso efetuada por meio de concessão ou de permissão. Outra importante observação é a de que, além das concessões e permissões, o Estado pode prestar indiretamente serviços públicos mediante autorização. Esta não está prevista no art. 175 da CF/1988, sendo prevista, por exemplo, no inc. XII do art. 21 da CRFB. Graficamente, a disposição constitucional pode ser assim sintetizada: 3 Gabarito: CERTO. 0 Curso Teórico de Direito Administrativo Prof. Cyonil Borges Profº. Cyonil Borges www.estrategiaconcursos.com.br 7 De antemão, assinala-se que as autorizações de serviços públicos são formalizadas, de regra, por ato administrativo, diferentemente das concessões e permissões, celebradas por contratos administrativos. Além disso, a CF/1988 dispõe que apenas as concessões e as permissões serão precedidas de licitação, ou seja, as autorizações dispensam, de regra, procedimento prévio de licitação.4 QF-4- PMP – INSS – Cespe – 2010 - A delegação do serviço público pode ser feita sob as modalidades de concessão, permissão e autorização. (Certo/Errado)5 Comentários: Apesar da divergência doutrinária sobre a natureza da autorização, perceba que a banca organizadora considerou a autorização uma das formas de delegação de serviços públicos do Estado a particulares. Por fim, perceba que as concessões e permissões são sempre precedidas de licitação. Sobre o tema, o STF declarou a inconstitucionalidade (ADI 3521) de lei estadual que pretendia prorrogar indefinidamente os contratos administrativos, a seguir: 1. O artigo 42 da lei complementar estadual afirma a continuidade das delegações de prestação de serviços públicos praticadas ao tempo da instituição da agência, bem assim sua competência para regulá-las e fiscalizá-las. Preservação da continuidade da prestação dos serviços públicos. Hipótese de não violação de preceitos constitucionais. 2. O artigo 43, acrescentado à LC 94 pela LC 95, autoriza a manutenção, até 2.008, de "outorgas vencidas, com caráter precário" ou que estiverem em vigor com prazo indeterminado. Permite, ainda que essa prestação se dê em condições irregulares, a manutenção do vínculo estabelecido entre as empresas que atualmente a ela prestam serviços públicos e a Administração estadual. Aponta como fundamento das prorrogações o § 2º 4 O inc. XII do art. 2º da Lei 12.815/2013 (Lei dos Portos) dispõe que a autorização é a outorga de direito à exploração de instalação portuária localizada fora da área do porto organizado e formalizada mediante contrato de adesão. 5 Gabarito: CERTO. 0 Curso Teórico de Direito Administrativo Prof. Cyonil Borges Profº. Cyonil Borges www.estrategiaconcursos.com.br 8 do artigo 42 da Lei federal n. 8.987, de 13 de fevereiro de 1.995. Sucede que a reprodução do texto da lei federal, mesmo que fiel, não afasta a afronta à Constituição do Brasil. 3. O texto do artigo 43 da LC 94 colide com o preceito veiculado pelo artigo 175, caput, da CB/88 --- "[i]ncumbe ao poder público, na forma da lei, diretamente ou sob regime de concessão ou permissão, sempre através de licitação, a prestação de serviços públicos". 4. Não há respaldo constitucional que justifique a prorrogação desses atos administrativos além do prazo razoável para a realização dos devidos procedimentos licitatórios. Segurança jurídica não pode ser confundida com conservação do ilícito. 5. Ação direta julgada parcialmente procedente para declarar inconstitucional o artigo 43 da LC 94/02 do Estado do Paraná. Então quer dizer que os contratos administrativos para a prestação de serviços públicos são “sempre” precedidos de licitação? Não há exceções? Nãose lhes aplicam as contratações diretas por dispensa ou inexigibilidade de licitação? Vamos por partes. Dispõe o inc. XXI do art. 37 da CF/1988: XXI - ressalvados os casos especificados na legislação, as obras, serviços, compras e alienações serão contratados mediante processo de licitação pública que assegure igualdade de condições a todos os concorrentes, com cláusulas que estabeleçam obrigações de pagamento, mantidas as condições efetivas da proposta, nos termos da lei, o qual somente permitirá as exigências de qualificação técnica e econômica indispensáveis à garantia do cumprimento das obrigações. Perceba que se trata de norma de eficácia contida, ou seja, aquela em que os efeitos podem ser restringidos por normatização futura. Sobre o tema, a Lei 8.666/1993 prevê nos arts. 17, 24 e 25 situações de contratação direta, em que não há a realização prévia de modalidades de licitação, como a concorrência e a tomada de preços. Todavia, essa ressalva é ausente na Lei 8.987/1995, e, bem por isso, são inaplicáveis as hipóteses de licitação dispensável do art. 24 da Lei 8.666/1993. Apesar disso, em caso de inviabilidade de competição, há lição doutrinária que sustenta a contratação direta por inexigibilidade de licitação. Há, igualmente, fundamento jurídico que faculta a contratação direta, por inexigibilidade de licitação, a seguir: 0 Curso Teórico de Direito Administrativo Prof. Cyonil Borges Profº. Cyonil Borges www.estrategiaconcursos.com.br 9 Lei 9.472/1997 Art. 91. A licitação será inexigível quando, mediante processo administrativo conduzido pela Agência, a disputa for considerada inviável ou desnecessária. § 1° Considera-se inviável a disputa quando apenas um interessado puder realizar o serviço, nas condições estipuladas. § 2° Considera-se desnecessária a disputa nos casos em que se admita a exploração do serviço por todos os interessados que atendam às condições requeridas. § 3° O procedimento para verificação da inexigibilidade compreenderá chamamento público para apurar o número de interessados. QF-5 – TRE/BA – Cespe – 2009 - Não é admitida a dispensa de licitação na concessão de serviço público, ainda que nas hipóteses de dispensa previstas na Lei de Licitações.6 Comentários: Como sobredito, as contratações diretas por dispensa de licitação não se aplicam aos contratos de concessão ou permissão de serviços públicos. Logo, correta a assertiva ao afirmar que “não é admitida a dispensa de licitação na concessão de serviço público”. QF-6 – Analista Processual – MPE-PI – Cespe – 2012 - Embora a concessão de serviço público exija a prévia realização de procedimento licitatório, é admitida a declaração de inexigibilidade quando há a demonstração da inviabilidade de competição. (Certo/Errado)7 Comentários: Segundo a CF/1988, a licitação é obrigatória para concessão ou permissão de serviços públicos. Ocorre que, eventualmente, poderia acontecer de não haver condições competitivas para determinado serviço público a ser concedido. Nesse contexto, estaria armado o cenário para a inexigibilidade de licitação, a qual tem exatamente tal razão: inviabilidade de competitividade, ante o que estabelece o art. 25 da Lei 8.666/1993, que é de aplicação subsidiária às licitações para concessões/permissões de serviços públicos. 2. Conceito Reforça-se que não há uma definição constitucional ou legal para serviços públicos. O que há é a definição em Decreto do Poder Executivo Federal e de natureza doutrinária. 6 Gabarito: CERTO. Cabe ressalvar a Lei 9.472/1997, que, no §2º do art. 23, autoriza a concessão sem licitação, no caso, em face da ausência de participantes (a licitação deserta ou frustrada). 7 Gabarito: CERTO. 0 Curso Teórico de Direito Administrativo Prof. Cyonil Borges Profº. Cyonil Borges www.estrategiaconcursos.com.br 10 Tratando-se de conceito eminentemente doutrinário, existem critérios e correntes doutrinárias para a definição de serviços públicos. Vejamos os principais: a) Subjetiva ou orgânica: o nome em si já nos informa – o serviço público é aquele prestado de forma direta pelo Estado. Crítica: ora, o Estado também pode prestar os serviços de forma indireta por particulares, exemplo das concessionárias, logo, o presente critério não estabelece uma boa definição de serviço público. Por esse motivo, é pouco aceito nos dias atuais. b) Material ou essencialista: de acordo com tal critério, é a natureza da atividade que determina o enquadramento de uma atividade como serviço público. Será público todo serviço que tenha por objetivo a satisfação de necessidades coletivas essenciais e não secundárias. Esse é o critério adotado pela corrente essencialista, a qual se propõe identificar um núcleo relativo à natureza da atividade que leve à classificação de uma atividade como serviço público. De acordo com tal critério, pouco importa se o serviço está previsto ou não em norma, prevalecendo o conteúdo. Crítica: embora a corrente essencialista conte com fortes defensores, socorre-se de conceito muito restrito de serviço público, deixando de lado, por exemplo, os trabalhos internos realizados pelos servidores e os serviços das loterias. Mesmo os serviços não essenciais (os ditos secundários) e os serviços administrativos (os internos à Administração) podem ser classificados como serviços públicos. É tudo uma questão de escolha política, como será visto a seguir. c) Formal: por este critério, o Estado é o responsável por estabelecer quais atividades devem ou não ser reconhecidas como serviços públicos. O Estado é que enquadra a atividade dentro de um sistema exorbitante do comum, cercada por normas de Direito Público. É o critério adotado pela corrente formalista, e que prevalece no Brasil. Crítica: atualmente, nem todo serviço público é regido exclusivamente por normas de Direito Público. Há serviços prestados em caráter essencialmente privado por meio de concessionárias, como é o caso da energia elétrica e fornecimento de gás canalizado, havendo apenas derrogações (interferências parciais) pelo Direito Público. É o que a 0 Curso Teórico de Direito Administrativo Prof. Cyonil Borges Profº. Cyonil Borges www.estrategiaconcursos.com.br 11 doutrina costuma chamar de sistema híbrido (um tanto público, outro tanto privado). Ressalte-se, ainda, a existência de serviços de interesse público e que, apesar de prestados por particulares, não são propriamente serviços públicos. Não são sequer delegados pelo Estado. Logo, não são cercados por normas de Direito Público, nem mesmo em caráter híbrido, embora sejam serviços de utilidade pública, a exemplo da saúde e do ensino. São serviços autorizados pelo Estado, cabendo a este exercer o Poder de Polícia sobre tais atividades. A seguir, quadro-resumo sobre os critérios para a definição de serviços públicos: Subjetivo ou Orgânico Material ou Essencialista Formalista Definição de Serviço Público Prestado diretamente pelo Estado Visa à satisfação de necessidades coletivas essenciais e não secundárias; Previsto ou não em normas Previsão em lei e com regime exorbitante do comum (normas de Direito Público) Críticas Admite-se a execução indireta Serviços não essenciais e administrativos são serviços públicos Há serviços públicos prestados por particulares, e regidos parcialmente por normas de Direito Privado Agora que já vimos os critérios doutrinários para a definição de serviços públicos, passa-se à reprodução, por ilustrativo, do conceito do autor Celso Antônio Bandeirade Mello: Serviço público é toda atividade de oferecimento de utilidade ou comodidade material fruível diretamente pelos 0 Curso Teórico de Direito Administrativo Prof. Cyonil Borges Profº. Cyonil Borges www.estrategiaconcursos.com.br 12 administrados, prestado pelo Estado ou por quem lhe faça as vezes, sob um regime de Direito Público – portanto, consagrador de prerrogativas de supremacia e de restrições especiais – instituído pelo Estado em favor dos interesses que houver definido como próprios no sistema normativo. Como você identificaria o critério formal no texto em itálico? Então, o que foi falado, até agora, sobre critério formal? É aquele que estabelece o regime jurídico de Direito Público para os serviços públicos. Com outras palavras, o regime jurídico dos serviços públicos é diferenciado e especial (“consagrador de prerrogativas de supremacia e restrições especiais...”). De acordo com o critério formal, é serviço público todo aquele prestado sob o regime de direito público, total ou parcialmente. Por fim, que tal utilizarmos todos os critérios e suas respectivas críticas para apresentar um conceito válido de serviços públicos? Vamos ao desafio: Serviço público é toda a atividade prestada pelo Estado ou por quem lhe faça as vezes, regida predominantemente por normas de Direito Público, destinando-se a necessidades coletivas essenciais ou secundárias, usufruídas diretamente ou não pelos usuários, remunerados por taxas ou tarifas, conforme o caso. 3. Classificações Antes das classificações propriamente ditas, deve ser destacado que o serviço público é atividade inconfundível com poder de polícia, obra pública e intervenção. O serviço público diferencia-se do poder de polícia pelo fato de ser atividade positiva (o Estado oferece uma utilidade ao cidadão). Já o poder de polícia é atividade eminentemente negativa (o Estado limita e restringe os direitos e as atividades dos cidadãos). O serviço público não se confunde com obra pública, pois esta é de natureza estática. De sua parte, o serviço público é atividade dinâmica (transportar, realizar ligações telefônicas e prover sinal de televisão). Por fim, o serviço público não se identifica com a intervenção. Relativamente ao regime jurídico, o serviço público se sujeita a um conjunto de princípios e de normas predominantemente de Direito Público, como a continuidade, a modicidade das tarifas, a 0 Curso Teórico de Direito Administrativo Prof. Cyonil Borges Profº. Cyonil Borges www.estrategiaconcursos.com.br 13 eficiência, a universalidade e a cortesia. Por sua vez, a atividade econômica se desenvolve sob a observância dos comandos constitucionais primariamente do Direito Privado e da ordem econômica, como os princípios da livre iniciativa, da propriedade privada e da livre concorrência. Quanto à forma de atuação, o Poder Público é titular do serviço público, podendo prestá-lo direta ou indiretamente, neste caso, sob o regime de concessão e permissão. Na intervenção, por sua vez, o Poder Público atua subsidiariamente em paralelo ao sistema capitalista, só podendo explorar a atividade econômica nos casos de monopólio, de imperativo de Segurança Nacional e de relevante interesse público. Na intervenção direta no domínio econômico, as empresas governamentais ficam sujeitas ao regime próprio das empresas privadas, inclusive quanto às obrigações trabalhistas e tributárias; o que, no entanto, não alcança integralmente as empresas estatais que prestam serviços públicos. Tome Nota! Os serviços públicos foram tradicionalmente concebidos como atividade fora da livre-iniciativa e, consequentemente, à concorrência, pressupondo-se via de regra apenas um prestador, fosse ele o Estado ou um delegatário seu. Todavia, a partir da década de noventa do século passado, fortaleceu-se a característica do serviço público como espécie de atividade econômica, propugnando-se a instalação da concorrência. Inclusive, o art. 16 da Lei 8.987/1995 dispõe que a outorga de concessão ou permissão não terá caráter de exclusividade, salvo no caso de inviabilidade técnica ou econômica justificada. Portanto, não há, como regra, o monopólio na prestação (por Alexandre Santos de Aragão). Vencidas estas considerações, iniciemos o estudo das classificações dos serviços públicos. Tratando-se de concursos públicos, exceção feita à aprovação, nada é certo, como é o caso das classificações de serviços públicos. Apesar disso, a seguir serão expostos os majoritários entendimentos doutrinários, haja vista o nosso objetivo maior: a adequada e certeira preparação dos candidatos a cargos e empregos públicos. De acordo com algumas concepções doutrinárias, os serviços podem ser: Coletivos (uti universi – universais) e singulares (uti singuli); Administrativos, econômicos, e sociais; 0 Curso Teórico de Direito Administrativo Prof. Cyonil Borges Profº. Cyonil Borges www.estrategiaconcursos.com.br 14 Propriamente ditos e de utilidade pública; Serviços Exclusivos e não exclusivos; Próprios e impróprios; Privativos e comuns. Coletivos e Singulares Esta primeira classificação apresenta a divisão em termos de generalidade, de alcance de destinatários. Neste aspecto, os serviços podem ser uti universi e uti singuli. Os serviços uti universi ou gerais são os prestados a grupos indeterminados de indivíduos, a toda a coletividade, não se distinguindo os potenciais usuários. São serviços indivisíveis e universais. Não é possível medir de modo exato sua utilização pelos usuários (“per capita”), devendo ser financiados pelos impostos, quando for o caso, dado o caráter não contraprestacional de tal tributo, como a segurança pública, a saúde, a iluminação pública e o saneamento básico. Já os serviços uti singuli, individuais ou singulares, são os serviços que se dirigem a destinatários individualizados, sendo possível mensurar, caso a caso, quanto do serviço está sendo consumido. Logo, são serviços medidos “per capita”. Quando postos em operação, constituem verdadeiro direito individual, desde que em condições técnicas adequadas para o recebimento na área de prestação do serviço. Distintamente dos serviços uti universi, os uti singuli, pelo fato de admitirem mensuração individualizada, dão ensejo à cobrança da espécie tributária taxa, caso o serviço seja prestado pelo Estado (caput do art. 77 do Código Tributário Nacional: “serviço público específico e divisível, prestado ao contribuinte ou posto à sua disposição”), ou tarifa (espécie do gênero preço público, cobrado por particulares, como é o caso do gás canalizado prestado por concessionárias). Sobre o tema, dispõe a Súmula Vinculante 19: A taxa cobrada exclusivamente em razão dos serviços públicos de coleta, remoção e tratamento ou destinação de lixo ou resíduos provenientes de imóveis não viola o artigo 145, II, da Constituição Federal. Para o STF, sendo específicos e divisíveis, os serviços públicos de coleta, remoção e tratamento ou destinação de lixo ou resíduos provenientes de imóveis podem ser remunerados por taxas, desde que essas atividades sejam completamente dissociadas de outros 0 Curso Teórico de Direito Administrativo Prof. Cyonil Borges Profº. Cyonil Borges www.estrategiaconcursos.com.br 15 serviços públicos de limpeza realizados em benefício da população em geral (uti universi) e de forma indivisível, tais como os de conservação e limpeza de logradouros e bens públicos (praças, calçadas, vias, ruas e bueiros).Taxas e tarifas são formas de pagamento de natureza contraprestacional, constituindo o que os tributaristas costumam chamar de prestações sinalagmáticas (o usuário só pode exigir a continuidade da prestação quando estiver cumprindo regularmente sua obrigação). Porém, são inconfundíveis entre si. As taxas decorrerem de lei, e, por serem tributos, têm caráter obrigatório (diz o Código Tributário – tributo é toda prestação compulsória (...) – art. 4º). Assim, ainda que os serviços não sejam utilizados, o administrado não tem a faculdade de deixar de quitar o débito junto ao Estado. Logo, os serviços individuais remunerados mediante taxa caracterizam-se pela obrigatoriedade, pois o contribuinte não tem a opção de escolha de uso, porque, mesmo que dele não se utilize, é obrigado a remunerá-lo, e pela continuidade, mesmo ocorrendo a inadimplência do usuário, é dever do Estado a prestação dos serviços. Trava-se, então, entre o contribuinte e o Poder Público, uma relação administrativo-tributária, solucionada pelas regras do Direito Administrativo (Resp 460271-SP – STJ). Por sua vez, as tarifas serão cobradas no caso de utilização efetiva de serviços públicos, como os de energia elétrica e fornecimento de água. O regime das tarifas não é tributário, de modo que mero Decreto do Executivo poderá aumentar o valor das tarifas, sem a observância, por exemplo, ao princípio da anterioridade anual. Afirma-se, ainda, que as tarifas só podem ser cobradas pela prestação de serviços uti singuli, o que, só de certa forma, é verdadeiro. “Só de certa forma verdadeiro” porque, na Lei 9.074/1995, garante-se a execução de determinados serviços por meio de concessão e de permissão, sem que, no entanto, tais serviços detenham o caráter individual. São exemplos: saneamento básico e limpeza urbana (art. 2º, caput) (serviços uti universi). Então, aprenda algo: separe regra de exceção, a vida do concursando é sempre assim! Para os concursos públicos, a regra é que apenas serviços uti singuli admitem a entrega a particulares por meio de concessões de serviços públicos. Administrativos, Econômicos e Sociais 0 ==0== Curso Teórico de Direito Administrativo Prof. Cyonil Borges Profº. Cyonil Borges www.estrategiaconcursos.com.br 16 A segunda classificação é a de que os serviços podem ser administrativos, econômicos e sociais. Os serviços administrativos são os que a Administração executa para atender a suas necessidades internas ou para preparar outros serviços que serão prestados ao público, tais como os de imprensa oficial (impressão de diários) e das estações experimentais. Os econômicos, também denominados de industriais ou comerciais, são os serviços que produzem renda (lucro) para quem os presta. A regra é que a remuneração dos prestadores de serviços econômicos se faça por tarifas, a serem fixadas pelo Estado. Por fim, destacam-se os serviços públicos sociais, executados pelo Estado para atendimento dos interesses sociais básicos, e representam ou uma atividade propiciadora de comodidade relevante, ou serviços assistenciais e protetivos. Como registra José dos Santos Carvalho Filho, tais serviços são, em regra, deficitários, e o Estado os financia por meio de recursos obtidos junto à comunidade, sobretudo pela arrecadação de tributos. São exemplos: a assistência à criança e ao adolescente, a assistência médica e hospitalar e educação.8 Propriamente Ditos (indelegáveis) e de Utilidade Pública (delegáveis) Os serviços públicos podem ser classificados, ainda, em propriamente ditos e de utilidade pública. Para José dos Santos Carvalho Filho, são classificados, nessa ordem, em serviços indelegáveis e delegáveis. Para Hely Lopes Meirelles, os serviços de relevância pública são os que a Administração presta diretamente à comunidade, sem delegação a terceiros, por reconhecer sua essencialidade e necessidade para a sobrevivência da população e do próprio Estado, como a defesa nacional. São considerados serviços pró- comunidade, por se destinarem ao atendimento a necessidades gerais da sociedade. Por sua vez, os serviços de utilidade pública são aqueles em que a Administração reconhece a conveniência, mas não sua necessidade e essencialidade, e, por isso, ou os presta 8 Marçal Justen Filho cita, ainda, os serviços culturais, assim entendidos os que satisfazem as necessidades culturais, envolvendo o desenvolvimento da capacidade artística e o próprio lazer, como museus, cinemas e teatro. 0 Curso Teórico de Direito Administrativo Prof. Cyonil Borges Profº. Cyonil Borges www.estrategiaconcursos.com.br 17 diretamente à sociedade ou os delega para que sejam executados por terceiros (concessionários e permissionários, por exemplo). São exemplos: transporte coletivo, energia elétrica e telefonia. São considerados, por sua vez, serviços pró-cidadão, por propiciarem facilidades diretamente aos cidadãos. QF-7 – PMP – INSS – Cespe – 2010 - Os serviços públicos propriamente ditos são aqueles em que a administração pública, reconhecendo sua conveniência para os membros da coletividade, presta-os diretamente ou permite que sejam prestados por terceiros, nas condições regulamentadas e sob seu controle. (Certo/Errado)9 Comentários: Perceba que a banca só fez inverter os conceitos de serviços públicos propriamente ditos com os de utilidade pública, daí a incorreção do quesito. Exclusivos e não Exclusivos Ao lado de serviços públicos exclusivos do Estado (incs. XI e XII do art. 21 da CF/1988, por exemplo), prestados direta ou indiretamente por concessão, permissão e autorização, em que se pressupõe o uso de atos de império, destacam-se os serviços públicos não privativos. A diferença é que aos particulares é lícito o desempenho de tais serviços, independentemente de delegação do Poder Público. E quais seriam os serviços não privativos do Estado? Conforme a CF/1988, podem ser citados pelo menos quatro serviços em que o Estado não detém a titularidade na prestação: educação, previdência social, assistência social e saúde: - Saúde (CF/1988): Art. 199. A assistência à saúde é livre à iniciativa privada. No caso de serviços de saúde prestados por particular não se fala em delegação. Há outros requisitos estabelecidos em leis específicas, o que não vem ao caso para as provas de Direito Administrativo. Observe-se que, embora não sejam serviços delegados pelo Estado, ficam sujeitos ao controle deste, por meio do exercício regular do poder de polícia. Inclusive, há Agência Reguladora federal com competência para normatizar e fiscalizar os serviços de saúde (Agência Nacional de Saúde Suplementar – ANS). 9 Gabarito: ERRADO. 0 Curso Teórico de Direito Administrativo Prof. Cyonil Borges Profº. Cyonil Borges www.estrategiaconcursos.com.br 18 QF-8 – Analista – Câmara dos Deputados – Cespe – 2012 - De acordo com critério de classificação que considera a exclusividade ou não do poder público na prestação do serviço, o serviço postal constitui um exemplo de serviço público não exclusivo do Estado.10 Comentários: A autora Maria Sylvia Zanella Di Pietro esclarece que serviço público é toda atividade que a Administração Pública executa, direta ou indiretamente, para satisfazer à necessidade coletiva, sob regime jurídico predominantemente público. Abrange atividades que, por sua essencialidade ou relevância para a coletividade, foram assumidas pelo Estado, com ou sem exclusividade. Para a autora, na Constituição encontram-se exemplos de serviços públicosexclusivos, como o serviço postal (daí a incorreção do quesito), o correio aéreo nacional (inc. X do art. 21), os serviços de telecomunicações (inc. XI do art. 21), os de radiodifusão, energia elétrica, navegação aérea, transportes e demais indicados no artigo 21, inc. XII, e o serviço de gás canalizado (§2º do art. 25), este de competência dos Estados-membros. Essa, inclusive, é a jurisprudência do STF (ADPF 46). Para a autora, com relação aos serviços não exclusivos do Estado, pode-se dizer que são considerados serviços públicos próprios, quando prestados pelo Estado; e podem ser considerados serviços públicos impróprios, quando prestados por particulares, porque, neste caso, ficam sujeitos a autorização e controle do Estado, com base em seu poder de polícia. Enfim, são considerados serviços públicos, porque atendem a necessidades coletivas; mas impropriamente públicos, porque falta um dos elementos do conceito de serviço público, que é a gestão, direta ou indireta, pelo Estado. Próprios e Impróprios Na visão de parte da doutrina administrativista, como é o caso da Maria Sylvia Zanella Di Pietro, os serviços próprios são aqueles que, atendendo a necessidades coletivas, o Estado assume como seus e os executa diretamente (por meio de seus órgãos e agentes) ou indiretamente (por meio de concessionárias e permissionárias). Já os serviços impróprios ou virtuais, embora atendam necessidades coletivas, não são de titularidade do Estado e nem por ele executados. Porém, não refogem ao poder de polícia, pois devem ser autorizados, regulamentados e fiscalizados. Não deixam de ser, portanto, verdadeiras atividades privadas controladas pelo Estado. Para boa parte da doutrina, os serviços impróprios sequer deveriam ser reconhecidos em sentido jurídico como serviço público. Como 10 Gabarito: ERRADO. 0 Curso Teórico de Direito Administrativo Prof. Cyonil Borges Profº. Cyonil Borges www.estrategiaconcursos.com.br 19 exemplos de tais serviços podem ser citados os prestados por instituições financeiras e os de seguro e previdência privada. Essa última classificação, para o autor Hely Lopes Meirelles, aparece como serviços públicos autorizados: serviços de táxi, de despachantes, de pavimentação de ruas por conta dos moradores e de guarda particular de estabelecimentos e de residências. Apesar dos ensinamentos de Hely Lopes Meirelles, esclareça-se que, para fins de concursos públicos, as bancas organizadoras costumam seguir a classificação dos serviços públicos em próprios ou impróprios da autora Maria Sylvia Di Pietro. O mais difícil não é fazer o concurso público, em si, é ter de contar com a “boa-vontade” do examinador em adotar entendimentos unânimes ou, pelo menos, majoritários na doutrina ou na jurisprudência. Mas tudo bem, vamos fazer nosso papel – que é passar logo no concurso! Deixe as ‘confusões’ de lado e estude, então! Privativos e Comuns Para José dos Santos Carvalho Filho, os serviços privativos são aqueles atribuídos a apenas uma esfera da federação, como a emissão de moeda e o serviço postal, os quais são privativos da União (incs. VII e X do art. 21 da CF/1988), a distribuição de gás canalizado de competência dos Estados e do Distrito Federal (§2º do art. 25 da CF/1988) e o transporte coletivo intramunicipal, reservado aos Municípios (inc. III do art. 30 da CF/1988). Nesse contexto, é ilegítimo, por exemplo, que leis estaduais disponham sobre o trânsito e transporte, bingos, energia elétrica e telefonia, por serem matérias privativas da União. A não ser que Lei Complementar Federal delegue aos Estados-membros competência para legislar sobre pontos específicos (parágrafo único do art. 22 da CF/1988). Por sua vez, os serviços comuns são os que podem ser prestados concorrentemente por duas ou mais pessoas federativas. Sobre o tema, a CF/1988, no art. 23, enumerou os serviços comuns, como a proteção ao meio ambiente e a preservação das florestas. Assim, finalizamos as principais classificações. A seguir, como já é de praxe, quadro-resumo para a fixação dos diversos conceitos. Serviços Públicos Propriamente Ditos Essenciais e necessários à sobrevivência do grupo social e do Estado, não podendo ser delegados a particulares, como, por exemplo, defesa nacional. 0 Curso Teórico de Direito Administrativo Prof. Cyonil Borges Profº. Cyonil Borges www.estrategiaconcursos.com.br 20 Serviços de Utilidade Pública São os serviços que a Administração, reconhecendo sua conveniência, mas não a sua necessidade essencialidade, presta-os diretamente à sociedade ou delega sua prestação a terceiros, exemplo das concessionárias. Serviços Próprios/Indelegáveis Prestados pelo Estado com relação de supremacia, sem a possibilidade de delegação a particulares. (1) Serviços Impróprios/Delegáveis Aqueles que satisfazem os interesses da coletividade, com a possibilidade de delegação, como, por exemplo, energia elétrica. Serviços Administrativos São os serviços prestados para atendimento às necessidades internas do Estado, para compor melhor sua organização, como, por exemplo, Imprensa Nacional. Serviços Sociais Serviços dirigidos às satisfações básicas da coletividade, como, por exemplo, assistência médica e educacional. Serviços Industriais/Econômicos São os geradores de renda/lucro, como, por exemplo, telefonia e transporte coletivo. (2) Serviços Uti Singuli/Singulares Usuários determinados, com mensuração per capta, como, por exemplo, fornecimento de água. Serviços Uti Universi Usuários indeterminados, de natureza indivisível, como, por exemplo, iluminação pública. Serviços Exclusivos Aqueles de titularidade exclusiva do Estado, como, por exemplo, gás canalizado, telecomunicações, e serviço postal. (3) Serviços não exclusivos Podem ser prestados pelo Estado ou por particulares, por meio de autorizações, como, por exemplo, saúde e educação. (1) Para Maria Sylvia Zanella Di Pietro, os serviços próprios são aqueles em que o Estado é titular, seja a prestação direta ou indireta (concessionárias e permissionárias, por exemplo). E os impróprios, por sua vez, são as atividades privadas que atendem à necessidade geral, sendo apenas autorizados pelo Estado, como a previdência privada. (2) Para Maria Sylvia Zanella Di Pietro, os serviços industriais ou comerciais seguem o rito do art. 175 da CF/1988. Por sua vez, o art. 173 da Constituição refere-se a atividades estritamente econômicas, exercidas em caráter subsidiário pelo Estado. (3) Serviços exclusivos não se confundem com serviços indelegáveis. Por exemplo: o serviço local de gás canalizado é monopólio dos Estados e Distrito Federal, enfim, são serviços de titularidade exclusiva do Estado, porém podem ser prestados por particulares, no caso, as concessionárias. 0 Curso Teórico de Direito Administrativo Prof. Cyonil Borges Profº. Cyonil Borges www.estrategiaconcursos.com.br 21 4. Competência Inicialmente, vamos recorrer ao Direito Constitucional, em que se estabelece que a repartição de competências entre os entes federativos segue o princípio da predominância do interesse. A União tem competência para prestar e regulamentar assuntos de interesse Nacional; os Estados, de interesse regional; os Municípios, de interesse local; e o Distrito Federal (em razão de seu hibridismo), cumulativa ou múltipla (Local + Regional, isto é, assuntos de interesse Municipal e Estadual). Nesse contexto, compete privativamente: - À União a prestação de serviços de telecomunicações, de energia elétrica, de transporteinterestadual ou internacional, de radiodifusão sonora e de imagens (competência enumerada, rol taxativo). - Aos Estados a prestação dos serviços de interesse regional. Os serviços do Estado são encontrados por exclusão, ou seja, de forma remanescente (rol exemplificativo). No entanto, essa é uma regra que comporta exceções, é o caso do serviço de gás canalizado e dos serviços prestados nas regiões metropolitanas, nas aglomerações urbanas e nas microrregiões, como estabelece o §3º do art. 25 do texto constitucional: § 3º - Os Estados poderão, mediante lei complementar, instituir regiões metropolitanas, aglomerações urbanas e microrregiões, constituídas por agrupamentos de municípios limítrofes, para integrar a organização, o planejamento e a execução de funções públicas de interesse comum. Talvez não tenha ficado claro o significado de competência remanescente. Vamos detalhar um pouco mais. Responda rápido: a quem compete prestar serviços de transporte coletivo intermunicipal? União? Não, pois compete à União o serviço de natureza interestadual ou internacional. Municípios? Não, afinal são responsáveis pelo serviço intramunicipal. Logo, em razão do que sobra (remanesce), a competência só pode ser do Estado-membro, o que, inclusive, foi considerado 0 Curso Teórico de Direito Administrativo Prof. Cyonil Borges Profº. Cyonil Borges www.estrategiaconcursos.com.br 22 constitucional pelo STF na ADI 2.349. Sobre o tema, dispõe o §1º do art. 25 da CF/1988: Art. 25. Os Estados organizam-se e regem-se pelas Constituições e leis que adotarem, observados os princípios desta Constituição. § 1º - São reservadas aos Estados as competências que não lhes sejam vedadas por esta Constituição. Alerte-se que existem, excepcionalmente, serviços intramunicipais de competência dos Estados. Por exemplo: o Metrô de São Paulo é uma Sociedade de Economia Mista prestadora de serviço público de transporte urbano coletivo, porém, do Estado de São Paulo e não do Município. É do Estado porque é uma Companhia METROPOLITANA. E cabe ao Estado a organização dos serviços situados nas regiões metropolitanas, nos termos do §3º do art. 25 da CF/1988. E os serviços de gás? Isso mesmo. Segundo a CF, de interesse local, sendo, no entanto, monopólio dos Estados- membros. - Aos municípios a prestação de serviços de transporte coletivo urbano (leia-se: intramunicipais), ensino infantil e fundamental e até funerários. Este último serviço merece destaque, uma vez que não consta expressamente do texto constitucional, o que evidencia que a enumeração dos serviços na CF/1988 é meramente exemplificativa para os Municípios e os Estados. Assim, podem os entes federados (exceto União, rol taxativo) criar outros serviços, em observância ao princípio da predominância do interesse. Para Hely Lopes Meirelles, o serviço funerário é da competência municipal, por dizer respeito a atividades de precípuo interesse local, quais sejam, a confecção de caixões, a organização de velório, o transporte de cadáveres e a administração de cemitérios. Esse, inclusive, é o entendimento do STF (RE 387.990). - Ao Distrito Federal a prestação de serviços de competência dos Estados e dos municípios, em razão da competência cumulativa ou múltipla. No entanto, nem todos os serviços de competência estadual são mantidos e organizados pelo DF. Vamos à leitura dos incs. XIII e XIV do art. 21 da CF/1988: XIII - organizar e manter o Poder Judiciário, o Ministério Público e a Defensoria Pública do Distrito Federal e dos Territórios; 0 Curso Teórico de Direito Administrativo Prof. Cyonil Borges Profº. Cyonil Borges www.estrategiaconcursos.com.br 23 XIV - organizar e manter a polícia civil, a polícia militar e o corpo de bombeiros militar do Distrito Federal, bem como prestar assistência financeira ao Distrito Federal para a execução de serviços públicos, por meio de fundo próprio; Note que nem todos os serviços dos Estados são de competência do Distrito Federal. QF-9 – AUFC – TCU – Cespe – 2007 - O DF deve prestar os serviços públicos previstos como de competência dos estados e dos municípios, cumulativamente.11 Comentários: O gabarito preliminar deste item foi certo. Entretanto, com os recursos, a banca organizadora teve de mudar para ERRADO no definitivo. Observe a justificativa apresentada pelo Cespe: “alterado de C para E, pois a assertiva não contempla as exceções existentes no ordenamento constitucional, quais sejam, a manutenção dos serviços de Ministério Público, Justiça e Defensoria Pública pela União dentro do Distrito Federal”. Aproveitando a passagem do item acima, cabe chamar a atenção para um detalhe. Com a EC 69/2012, a Defensoria do DF, antes mantida e organizada pela União, passou à competência legislativa e material do DF. Assim, da justificativa do Cespe, retiramos a menção à Defensoria. Até aqui tivemos contato com a competência privativa quanto à prestação de serviços públicos. Ocorre que o Constituinte também previu a competência comum dos Entes Políticos para determinados serviços públicos. Segundo disposto no art. 23 da CF/1988, é competência comum da União, do Distrito Federal e dos Municípios. Para a doutrina, a competência comum é de natureza administrativa e, diga-se de passagem, garantidora do exercício concomitante por todos os Entes Federados, de modo que os serviços públicos serão prestados de forma paralela, em condições de igualdade, sem relação de subordinação (hierarquia) entre os entes federativos. Em síntese: a atuação (ou omissão) de um ente da federação não impossibilita a atuação do outro. Tome Nota! 11 Gabarito: ERRADO. 0 Curso Teórico de Direito Administrativo Prof. Cyonil Borges Profº. Cyonil Borges www.estrategiaconcursos.com.br 24 O exercício da competência comum não está sujeito à regulamentação do serviço publico exclusivamente pela esfera federativa de nível mais elevado. Ou seja, mesmo que a União não regulamentasse a matéria, isso não impediria de um Estado o prestar, por exemplo. Continuemos. Dos serviços decorrentes da competência comum, podem ser citados exemplificativamente: I - cuidar da saúde e assistência pública, da proteção e garantia das pessoas portadoras de deficiência; V - proporcionar os meios de acesso à cultura, à educação e à ciência; VII - preservar as florestas, a fauna e a flora; IX - promover programas de construção de moradias e a melhoria das condições habitacionais e de saneamento básico; XII - estabelecer e implantar política de educação para a segurança do trânsito. Por fim, atente-se para a alteração pela EC 53/2006. No parágrafo único do art. 23 da CF, houve a inserção de leis complementares no lugar de “lei complementar”, para se evitarem os conflitos no âmbito da competência comum ou, ainda, evitar a prestação duplicada. A seguir, a nova redação: Parágrafo único. Leis complementares fixarão normas para a cooperação entre a União e os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, tendo em vista o equilíbrio do desenvolvimento e do bem-estar em âmbito nacional. 5. Formas de Prestação e Meios de Execução Os serviços públicos próprios são de titularidade do Poder Público, que pode prestá-los diretamente, por meio da Administração Direta ou da Indireta (autarquias e empresas públicas, por exemplo), ou indiretamente, por concessões e permissões, sempre precedidas de licitação. A prestação direta dos serviços públicos é efetuada pela própria máquina estatal, centralizada ou descentralizadamente. É muito comum os concursandosconfundirem o conceito de prestação direta com o de Administração Indireta, para concluir, equivocadamente, que se está diante da Administração Indireta a prestação é indireta. Como esclarece Gustavo Scatolino, a prestação direta corresponde à prestação por meio de sua própria estrutura, seja por seus órgãos ou 0 Curso Teórico de Direito Administrativo Prof. Cyonil Borges Profº. Cyonil Borges www.estrategiaconcursos.com.br 25 entidades da Administração Indireta. É o caso do serviço postal, prestado pela União, com caráter de exclusividade por meio da Empresa Brasileira de Correio e Telégrafos (empresa pública vinculada ao Ministério das Comunicações), ou do serviço de infraestrutura aeroportuária, por meio da Infraero (empresa pública vinculada à Secretaria de Aviação Civil). Nessa ordem, teremos o serviço público centralizado ou descentralizado. O serviço centralizado se confunde com o conceito de Administração Direta (Ministérios e Secretarias, por exemplo), em que os serviços são prestados pelos próprios órgãos da estrutura da pessoa política (União, Estados, Distrito Federal e Municípios). Já o serviço descentralizado é todo aquele em que o Poder Público transfere a titularidade e execução por lei, ou, tão somente, a execução por contrato ou ato administrativo a outras pessoas jurídicas. Traduzidas, respectivamente, em Administração Indireta (ou Descentralização por Outorga, em termos doutrinários), e em Administração por Colaboração ou Descentralização por Delegação (também em expressão empregada pela doutrina). Citam-se, ainda, a descentralização territorial ou geográfica, em que se outorga a capacidade genérica administrativa às autarquias territoriais, e a descentralização social, em que os serviços passam a ser prestados com o auxílio de entidades integrantes do Terceiro Setor, como é o caso das Organizações Sociais e Oscips. Abre-se um parêntese para esclarecer que o serviço descentralizado não se confunde, igualmente, com o serviço desconcentrado. Na desconcentração, os serviços são prestados por uma única pessoa (repartição pública), porém, as atribuições são distribuídas entre dois ou mais órgãos da pessoa jurídica. Está-se diante de verdadeira técnica administrativa, por simplificar a prestação dos serviços, o que, inclusive, diferencia-a da descentralização, esta pautada no princípio da especialização, em que os serviços são retirados do centro e transferidos para outras pessoas, garantindo-se maior eficiência. Por fim, os serviços centralizados, descentralizados e desconcentrados podem ser executados direta ou indiretamente. Enquanto na execução direta, os serviços são prestados aos usuários pela pessoa competente com os próprios instrumentos (equipamentos e funcionários); na execução indireta, o responsável pela prestação contrata com terceiros a execução de serviços delegáveis, exemplo das obras contratadas por autarquias, sob a modalidade de 0 Curso Teórico de Direito Administrativo Prof. Cyonil Borges Profº. Cyonil Borges www.estrategiaconcursos.com.br 26 empreitada global. Estas informações podem confundir o concursando no dia derradeiro. Por isso, façamos um breve exercício para a fixação: 1ª Como se classifica a prestação e a execução de serviços públicos por Ministério com a própria força de trabalho? 2ª Classifique a prestação de serviços por empresa pública, entidade integrante da Administração Indireta, e com a personalidade jurídica de Direito Privado. 3ª Como se classifica o serviço prestado pelo INSS (Autarquia Federal), no Estado do Acre, com a terceirização de serviços? 4ª Serviços prestados por órgãos de Secretaria Estadual com o auxílio de terceiros? Vamos às respostas: 1ª A forma de prestação por Ministério é centralizada. Ao se utilizar dos próprios meios, está-se diante da execução direta (Serviço Centralizado por Execução Direta). 2ª A forma de prestação por Empresa Pública é descentralizada (Serviço Descentralizado). 3ª O INSS é Autarquia Federal, logo é serviço descentralizado. A execução, com auxílio de terceiros, é indireta (Serviço Descentralizado por Execução Indireta). 4ª A criação de órgãos dentro da Secretaria Estadual é o processo de desconcentração. A execução sem o próprio aparato é indireta (Serviço Desconcentrado por Execução Indireta). 6. Concessões de Serviços Públicos Nos termos do art. 175 da CF/1988, o Poder Público é sempre o titular dos serviços públicos, mas a execução pode ser feita por particulares (descentralização por colaboração ou negocial). Na descentralização por colaboração, o Estado repasse a mera execução a particulares, formalizando-se permissões e concessões de serviços. As concessões de serviços públicos podem ser comuns e especiais. As comuns estão disciplinadas pela Lei 8.987/1995, nas espécies: “serviços públicos” e “serviços públicos precedidos de obra pública”. Por sua vez, as concessões especiais surgiram com a Lei 11.079/2004, conhecida vulgarmente como Parceria Público-Privada (PPP). 0 Curso Teórico de Direito Administrativo Prof. Cyonil Borges Profº. Cyonil Borges www.estrategiaconcursos.com.br 27 As concessões comuns e especiais são formalizadas por contratos administrativos. E, em matéria de contratos e licitações, compete privativamente à União legislar sobre normas gerais para toda a Administração Pública (União, Estados, DF e Municípios) (inc. XXVII do art. 22 da CF/1988). Nesse contexto, para regulamentar o art. 175 da CF/1988 (as concessões comuns), a União editou a Lei 8.987/1995, alterada, posteriormente, pelas Leis Federais 9.074/1995; 11.196/2005, 11.445/2007; e 12.767/2012. A seguir, o art. 1º da Lei de Concessões comuns, que nos reforça o seu caráter geral: Art. 1o As concessões de serviços públicos e de obras públicas e as permissões de serviços públicos reger-se-ão pelos termos do art. 175 da Constituição Federal, por esta Lei, pelas normas legais pertinentes e pelas cláusulas dos indispensáveis contratos. Parágrafo único. A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios promoverão a revisão e as adaptações necessárias de sua legislação às prescrições desta Lei, buscando atender as peculiaridades das diversas modalidades dos seus serviços. Esclareça-se que a Lei 9.074/1995 enumerou serviços públicos federais sujeitos ao regime das concessões, e, quando for o caso, das permissões. São eles: I - vias federais, precedidas ou não da execução de obra pública; II - exploração de obras ou serviços federais de barragens, contenções, eclusas, diques e irrigações, precedidas ou não da execução de obras públicas; III - os serviços postais. No entanto, nem todo os serviços precisam ser delegados formalmente pelo Poder Público. Foram excluídos do sistema os seguintes serviços: Art. 2º. (...) (...) § 2º Independe de concessão, permissão ou autorização o transporte de cargas pelos meios rodoviário e aquaviário. § 3o Independe de concessão ou permissão o transporte: I - aquaviário, de passageiros, que não seja realizado entre portos organizados; II - rodoviário e aquaviário de pessoas, realizado por operadoras de turismo no exercício dessa atividade; 0 Curso Teórico de Direito Administrativo Prof. Cyonil Borges Profº. Cyonil Borges www.estrategiaconcursos.com.br 28 III - de pessoas, em caráter privativo de organizações públicas ou privadas, ainda que em forma regular. A seguir, vamos avançar pelas diretrizes básicas do Estatuto das Concessões comuns, reservando para tópicoespecial o tratamento das PPPs. 6.1. Princípios Por serem destinados à coletividade, os serviços públicos sob a incumbência do Estado ou de seus agentes delegatários devem ser prestados com observância de determinados padrões. O serviço público prestado aos cidadãos-usuários deve ser adequado. Em tradução aos requisitos do serviço adequado, previstos no art. 6º da Lei 8.987/1995, a doutrina costuma apontar múltiplos princípios inerentes à prestação dos serviços públicos. Os mais exigidos nos concursos públicos são a seguir elencados. - Continuidade Também denominado de Princípio da Permanência, é sempre um forte item de prova. Pelo princípio da continuidade, os serviços públicos não podem sofrer interrupção. É dizer, não devem sofrer solução de continuidade em sua prestação, a não ser em situações excepcionais. Nesse contexto, não caracteriza descontinuidade a interrupção da prestação do serviço: Em razão de situação emergencial (exemplo de Apagão devido à queda de raio na Central Elétrica), e APÓS AVISO PRÉVIO, quando: a) motivada por razões de ordem técnica ou de segurança das instalações; e b) por inadimplemento do usuário, considerado o interesse da coletividade. Para o STF, o Estado-membro não pode interferir nas relações jurídico-contratuais entre o Poder Concedente Federal e as empresas concessionárias, para dispor, por exemplo, sobre a proibição de corte de serviços essenciais por falta de pagamento do usuário (ADI 3.729). Mais à frente, veremos que, em nome do princípio da continuidade, é permitido ao Estado o resgate (encampação 0 Curso Teórico de Direito Administrativo Prof. Cyonil Borges Profº. Cyonil Borges www.estrategiaconcursos.com.br 29 ou retomada) do serviço público concedido antes de vencido o prazo contratual, em atendimento ao interesse da coletividade. Por fim, ainda como aplicação do princípio em análise, registra-se a inaplicabilidade da “exceptio non adimpleti contractus” (exceção do contrato não cumprido) contra o Poder Público. Nos acordos entre particulares, a regra é que o descumprimento por uma das partes abre espaço para que outro polo da relação deixe de cumprir a obrigação assumida. Por sua vez, nos contratos de serviços públicos, o descumprimento pelo Poder Concedente não autoriza que a concessionária interrompa a execução dos serviços. Nos termos da Lei 8.987/1995, a interrupção dependerá de sentença judicial transitada em julgado. Enfim, não é oponível ao Poder Concedente a exceção do contrato não cumprido. É muito importante que o candidato não confunda a regra dos serviços públicos com a prevista na Lei 8.666/1993. Nos contratos administrativos regidos pela Lei de Licitações, depois de 90 dias de inadimplência do Estado-contratante, faculta-se a interrupção dos serviços contratados. QF-10 – Cartório – TJ/AP – FCC – 2011 - É INCOMPATÍVEL com os princípios inerentes aos serviços públicos aplicação plena da “exceção do contrato não cumprido” contra a Administração Pública.12 Comentários: Nos termos da Lei 8.987/1995, a interrupção dos serviços públicos dá-se por sentença judicial transitada em julgado, quando a inadimplência decorre do Poder Concedente. Portanto, não há aplicação plena da exceção do contrato não cumprido. Atenção! O tratamento com os usuários é diverso, sendo possível verificar a interrupção em caso de inadimplência destes. A não oposição da exceção do contrato não cumprido é restrita ao Poder Concedente! No entanto, é digno de nota que nem sempre os serviços prestados ao usuário inadimplente poderão ser interrompidos. Na jurisprudência do STJ, colhemos excelentes exemplos de não interrupção. Para a Corte Federal, é ilegítimo o corte no fornecimento de energia elétrica em razão de débito irrisório (R$ 0,85), por 12 Gabarito: CERTO. 0 Curso Teórico de Direito Administrativo Prof. Cyonil Borges Profº. Cyonil Borges www.estrategiaconcursos.com.br 30 configurar abuso de direito e ofensa aos princípios da proporcionalidade e da razoabilidade, sendo cabível, inclusive, indenização do consumidor por danos morais (Recurso Especial 811690). Para o STJ, o corte de energia elétrica pressupõe o inadimplemento de conta relativa ao mês do consumo, sendo inviável a suspensão do abastecimento por débitos antigos. A seguir, trecho da decisão (Recurso Especial 865.841): Não é lícito à concessionária interromper o fornecimento de energia elétrica por diferença de tarifa, a título de recuperação de consumo de meses, em face da essencialidade do serviço, posto bem indispensável à vida. É que resta cediço que a 'suspensão no fornecimento de energia elétrica somente é permitida quando se tratar de inadimplemento de conta regular, relativa ao mês do consumo, restando incabível tal conduta quando for relativa a débitos antigos não pagos, em que há os meios ordinários de cobrança, sob pena de infringência ao disposto no art. 42 do Código de Defesa do Consumidor. Claro que a vedação de suspensão dos serviços não diz respeito ao desvio do serviço de forma fraudulenta (o vulgo “gato”). Mas, nesse caso, o débito decorrente de suposta fraude no medidor não pode ser apurada unilateralmente pela concessionária, sob pena de ser ilegítima a suspensão do fornecimento, pelo fato de não se garantir ao usuário o exercício da ampla defesa e do contraditório: Recurso Especial 941613 É ilegítimo o corte no fornecimento de energia elétrica quando o débito decorrer de suposta fraude no medidor de consumo de energia, apurada unilateralmente pela concessionária. Ainda, em termos doutrinários, o amigo concursando deve saber distinguir serviços compulsórios de serviços facultativos. Tratemos, pois, de tal distinção. Os serviços facultativos são os regidos pela Lei 8.987/1995, em que a remuneração é formalizada por tarifa (o cidadão usa se e quando quiser). Nesse caso, pela inadimplência do usuário, a 0 Curso Teórico de Direito Administrativo Prof. Cyonil Borges Profº. Cyonil Borges www.estrategiaconcursos.com.br 31 concessionária pode suspender a prestação do serviço. Inclusive, esse é o entendimento do STJ (RESP 510478-PB). Já os serviços compulsórios são os impostos de forma coercitiva pelo Estado e cobrados mediante TAXA (exemplo das taxas de incêndio e judiciária), não podendo sofrer solução de continuidade, pois a Fazenda Pública conta com instrumentos hábeis de cobrança, como a inscrição em dívida ativa para futura execução do devedor. Nesse contexto, seria cabível o corte do fornecimento de água? Sim, é possível. O Supremo Tribunal Federal (STF) sinalizou que a cobrança de água pode ser remunerada por preço público, logo, não há, necessariamente, caráter tributário. Para afastar quaisquer dúvidas, ressalte-se que o entendimento do STF é acompanhado pelo STJ em diversos julgados (RESP 363.943-MG e RESP 337.965-MG). Uma questão intrigante é saber como fica se o inadimplente for uma pessoa jurídica de Direito Público. No Recurso Especial 649746, o STJ fixou o entendimento de que, tratando-se de pessoa jurídica de Direito Público, prevalece a tese de que o corte de energia é possível, desde que não aconteça indiscriminadamente, preservando-se as unidades públicas essenciais, como hospitais, delegacias, prontos-socorros, escolas públicas e creches. Aplica-se, por analogia, a Lei de Greve (Lei 7.783/1989), a qual prevê situações que, não atendidas, colocam em perigo a sobrevivência, a saúde ou segurança da população. Em conclusão, seria plenamente lícito à concessionária interromper o fornecimentode energia elétrica se, após aviso prévio, determinada pessoa estatal devedora não solvesse a dívida oriunda de contas geradas pelo consumo de energia, desde que não de forma indiscriminada. No RE 649746, o STF entendeu que a suspensão do fornecimento de energia elétrica de alguns trechos de ruas e não de um bairro ou todo o município, não se qualifica como suspensão indiscriminada. - Generalidade Por força dos princípios da generalidade ou da universalidade, os serviços públicos devem ser prestados, sem discriminação, a todos que satisfaçam as condições para sua obtenção, sendo 0 Curso Teórico de Direito Administrativo Prof. Cyonil Borges Profº. Cyonil Borges www.estrategiaconcursos.com.br 32 imprescindível a observância de um padrão uniforme em relação aos administrados (princípio da igualdade ou neutralidade). Nota-se, assim, um duplo sentido quanto ao princípio. De um lado, os serviços públicos devem ser prestados ao maior número possível de usuários, é dizer, deve ter o máximo de amplitude. Por outro lado, a prestação de serviço público não deve conter discriminações, quando, é claro, as condições entre os usuários sejam técnica e juridicamente idênticas. Como já dizia o filósofo Aristóteles, devemos tratar os iguais na medida de suas igualdades e os desiguais na medida em que se desigualam. Assim, a existência de faixas distintas de tarifas e a gratuidade aos maiores de 65 anos nos transportes coletivos urbanos (§2º do art. 230 da CF/1988) não ofendem o princípio da universalidade. – Atualidade Os serviços públicos devem ser continuamente atualizados, assimilando novas tecnologias e tendências, evitando-se a obsolescência. A doutrina costuma denominá-lo de princípio do aperfeiçoamento ou da adaptabilidade ou da mutabilidade. Tal requisito guarda estreita relação com o princípio da eficiência, como se vê, mas com ele não se confunde. Dos requisitos de serviço adequado é o único que tem definição na Lei 8.987/1995 (§2º do art. 6º)! A atualidade vem a ser uma das aplicações do princípio da eficiência, pois o progresso da qualidade das prestações ao usuário deve ser considerado como um dos direitos do cidadão, de modo que o Estado, ao assumir um serviço como público, tem o dever correlato de zelar pelo seu aperfeiçoamento, para que os frutos da ciência e da tecnologia sejam distribuídos. A doutrina pátria reconhece, na atualidade, a cláusula do progresso. Vejamos o que nos ensina Diogo de Figueiredo: Neste sentido, tida como cláusula de progresso, o principio da atualidade vem a ser um corolário do principio da eficiência, no sentido de que o progresso da qualidade das prestações ao usuário deve ser considerado um dos direitos do cidadão, de modo que o Estado, ao assumir um serviço como público, impõe-se também o correlato dever de zelar pelo seu 0 Curso Teórico de Direito Administrativo Prof. Cyonil Borges Profº. Cyonil Borges www.estrategiaconcursos.com.br 33 aperfeiçoamento, para que os frutos da ciência e da tecnologia sejam distribuídos o mais rápido e amplamente possível. A presença da cláusula do progresso abre espaço para que o Poder Concedente possa alterar unilateralmente as disposições contratuais regulamentares, e confira aos usuários melhores e modernas tecnologias, não cabendo a estes ou à concessionária exigir a manutenção do regime jurídico anterior (ausência de direito adquirido!).13 – Modicidade das Tarifas O prestador do serviço público deve ser remunerado de maneira razoável. Contudo, os usuários não devem ser onerados de maneira excessiva. Com efeito, o Poder Público, ao fixar a remuneração das prestadoras, deve aferir o poder aquisitivo dos usuários, para que estes não sejam afastados do universo de beneficiários. Inclusive, o legislador prevê as chamadas receitas alternativas ou complementares, com o propósito de manter a tarifa cada vez mais atrativa e acessível.14 Tome Nota! Ordinariamente, os serviços prestados pelas concessionárias são remunerados por tarifas. No entanto, não há vedação de, no curso do contrato, a lei vir a estabelecer a gratuidade para determinada classe de usuários, como foi o caso da gratuidade para os maiores de 65 anos em transportes coletivos urbanos, conferida pelo art. 230 da CF. Neste caso, por haver perda de receita por parte da prestadora, é dever do Poder Concedente o reequilíbrio econômico-financeiro. Sobre o tema, embora a Lei 9.074/1995 condicione a concessão de benefícios tarifários (gratuidade, por exemplo) à indicação da origem de recursos ou à simultânea revisão do contrato, o STF tem entendido que a gratuidade deve vigorar imediatamente a partir da vigência da lei, cabendo à concessionária ajustar-se futuramente com o Poder Concedente, exigindo-se-lhe a recomposição da equação econômico-financeira (ADIs 2.649 e 3.768) . Ao longo deste tópico, o concursando já teve e terá outros sinais de que a forma de remuneração das concessões ocorre por meio de tarifas, que é espécie de preço público, e não por taxas (espécie tributária). De modo geral, a tarifa deve se destinar à manutenção do serviço, bem como ao seu contínuo aperfeiçoamento, 13 Se a alteração unilateral das cláusulas de serviços ou regulamentares, pelo Poder Concedente, repercutir na equação econômico-financeira (cláusula financeira), caberá à concessionária exigir do Poder Concedente o reequilíbrio econômico-financeiro do ajuste. 14 O art. 223 da CF prevê os serviços públicos de radiodifusão sonora e de sons e imagens. Neste caso, a concessionária não é remunerada por tarifa dos telespectadores/ouvintes ou por verbas do Estado. A receita é financiada pela publicidade. 0 Curso Teórico de Direito Administrativo Prof. Cyonil Borges Profº. Cyonil Borges www.estrategiaconcursos.com.br 34 proporcionando a justa remuneração ao concessionário, de acordo com o estabelecido no contrato firmado com o Poder Concedente. Para que mantenha o equilíbrio financeiro inicialmente estabelecido, as tarifas deverão ser revisadas periodicamente, para mais ou para menos, em razão do evento verificado (art. 9º da Lei 8.987/1995). Esclareça-se que as alterações unilaterais nos contratos de concessão não observam o limite de 25% da Lei 8.666/1993, sendo cabível, portanto, o dever da manutenção do equilíbrio econômico-financeiro acima de tais patamares, se necessário. Trechos acima, falou-se em receitas alternativas. Você saberia explicar detalhadamente o que são tais receitas? Vejamos. Recentemente, o Tribunal de Contas da União (TCU) reviu o projeto do “Trem-Bala”, para que recalculassem as tais receitas alternativas. Ninguém duvida que a prestação dos serviços públicos seja pautada na modicidade da tarifa, isto é, as tarifas devem ser módicas o suficiente para permitir a inclusão de um maior número de usuários quanto à utilização do serviço concedido. Mas o que isso tem a ver com receita alternativa? Tudo, respondemos. Para o cálculo das tarifas devem ser consideradas, ainda, outras fontes, provenientes de receitas alternativas, complementares, acessórias ou de projetos associados que poderão ser gerados com a concessão (art. 11). Quem nunca percebeu, por exemplo, ao longo das estradas tarifadas (Via Dutra ou Carvalho Pinto ou Bandeirantes ou qualquer outra rodovia tarifada), terrenos públicos sendo explorados por particulares? Isso mesmo. São ou podem ser receitas alternativas, utilizadas com a finalidade de ajudar no custo do serviço, revertendo-se em redução da tarifa para o usuário final. No caso do Trem de Alta Velocidade,vulgo “Trem-Bala”, que ligará RJ-SP-Campinas, o TCU recomendou que as receitas advindas da exploração econômica das estações próprias de passageiros e do transporte de pequenas cargas fossem revertidas em benefício da modicidade tarifária. Em outras palavras, as receitas alternativas e 0 Curso Teórico de Direito Administrativo Prof. Cyonil Borges Profº. Cyonil Borges www.estrategiaconcursos.com.br 35 complementares obtidas pela futura concessionária reduzirão o custo da passagem do trem.15 Por fim, registre-se que o reajuste e revisão das tarifas são cláusulas essenciais nos contratos de concessão as que se refiram à revisão e ao reajuste das tarifas (inc. IV do art. 23), as quais, ainda, poderão ser diferenciadas em função das características técnicas e dos custos específicos provenientes do atendimento aos distintos segmentos de usuários (art. 13). Essa última passagem reforça a ideia de as tarifas serem diferenciadas não importa ofensa ao princípio da igualdade ou da universalização. Nesse contexto, veja-se a tarifa social de energia elétrica, cujos valores são menores para a população de menor renda. – Cortesia Talvez a cortesia ou urbanidade seja entre os requisitos aquele que muitas vezes sentimos falta na prestação dos serviços públicos, não é verdade? Porém, é dever do prestador do serviço tratar com civilidade e com urbanidade os usuários-cidadãos do serviço público. Pode-se afirmar que o destinatário do serviço público tem o direito de ser tratado com o mínimo de educação, mesmo porque a prestação que lhe é ofertada não consubstancia um favor que lhe é generosamente concedido, mas se trata da execução de um dever da prestadora, bem como de um direito subjetivo do cidadão. - Segurança Os serviços públicos devem ser prestados sem riscos ao usuário, devendo o prestador adotar as providências necessárias para minimizar estes riscos. Obviamente, essas medidas possuem uma relação de custo-benefício que deve ter em conta não só fatores econômicos, mas também a dignidade do destinatário do serviço. – Eficiência O princípio de eficiência tem previsão constitucional (caput do art. 37 da CF/1988). Ao se proceder a avaliações quanto à eficiência, o 15 Para Celso Antônio Bandeira de Mello, não há impedimento de as receitas alternativas serem subsidiadas diretamente pelo Estado, para dar-se aplicabilidade ao princípio da modicidade das tarifas. Esse entendimento é compartilhado por Marçal Justen Filho. 0 Curso Teórico de Direito Administrativo Prof. Cyonil Borges Profº. Cyonil Borges www.estrategiaconcursos.com.br 36 Poder Público poderá aperfeiçoar suas alocações de recursos, aportando verbas de maneira mais adequada entre o serviço a ser prestado e a demanda social. Por fim, vejamos a lista completa dos requisitos do serviço adequado, conforme o caput do art. 6º da Lei 8.987/1995: regularidade, continuidade, eficiência, segurança, atualidade, generalidade, cortesia na sua prestação e modicidade das tarifas.16 6.2. Direitos e Obrigações A regra é que os contratos administrativos disponham de efeitos bilaterais, que sejam comutativos, e, assim, acarretem direitos e obrigações recíprocos entre as partes. Por exemplo: o contrato de obra pública entre a União e a construtora “X” gera o dever de a União remunerar os serviços prestados, e o direito de receber o serviço adequado; gera o direito de a construtora receber pelos serviços, e o dever de prestar o serviço adequado. Há apenas dois polos na relação contratual, com direitos e obrigações recíprocos. Por sua vez, nos contratos de concessão, embora exista a comutatividade, os efeitos são trilaterais, e, em alguns casos, até quadrilaterais. Trilaterais? Quadrilaterais? Vamos explicar isso de forma mais detalhada. Por exemplo: depois de regular procedimento de licitação, na modalidade concorrência, para a prestação de serviços públicos, sagrou-se vencedora a empresa ATLED S/A. O Estado-administrador, na qualidade de Poder Concedente, firma contrato administrativo de concessão com a referida empresa. Nesse instante, temos o típico contrato administrativo, de efeitos bilaterais, com geração de direitos e obrigações entre Poder Concedente e Concessionária. Ocorre que a Concessionária é prestadora de serviços públicos, tendo por destinatários os usuários. E, nos termos da Lei 8.987/1995, o usuário, apesar de não ser formalmente parte no contrato, é detentor de direitos e obrigações. Daí se concluir pela existência de efeitos trilaterais (Poder Concedente, Concessionária e Usuários). Entendido o efeito trilateral? Vejamos, agora, o quadrilateral. Como nos esclarece Maria Sylvia Zanella Di Pietro, devem ficar a cargo do Estado as atividades que lhe são próprias como ente 16 O art. 22 do Código de Defesa do Consumidor determina que os serviços públicos sejam adequados, eficientes, seguros, quanto aos essenciais, contínuos. 0 Curso Teórico de Direito Administrativo Prof. Cyonil Borges Profº. Cyonil Borges www.estrategiaconcursos.com.br 37 soberano, consideradas indelegáveis ao particular (segurança, defesa, justiça, relações exteriores, legislação e polícia); e devem ser regidas pelo princípio da subsidiariedade as atividades sociais (educação, saúde, pesquisa, cultura e assistência) e econômicas (industriais, comerciais, financeiras), as quais o Estado só deve exercer em caráter supletivo da iniciativa privada. A dinâmica dos Estados Modernos tem sido pela adoção de mecanismos de “parcerias” com a Administração Privada, como, no Brasil, as Parcerias Públicas Privadas, os Contratos de Gestão e os Termos de Parceria. O Estado afasta-se, parcialmente, da função de executor, para render-se ao fomento, à fiscalização e à regulação. Está-se, assim, diante do Estado subsidiário, em que se abrem espaços para o particular em áreas que este seja autossuficiente. No entanto, esse afastamento não deve ser feito de forma atropelada. Exige-se do Estado o mínimo de planejamento. Com a entrega da prestação de serviços públicos a particulares, houve a necessidade de o Estado intensificar o controle, a fiscalização e a normatização dos setores entregues aos particulares. Para esse fim, surgiram as Agências Reguladoras. Tais entidades, de natureza pública e regime especial, têm, por vezes, direitos e obrigações referentes à prestação de serviços públicos, como a ANATEL na área de Telecomunicações. Assim, a relação de trilateral passa à quadrilateral (Ente Político Concedente, Concessionária, Usuários e Agências Reguladoras). 6.2.1. Poder Concedente Antes de listarmos os direitos e encargos do Poder Concedente, é conveniente entendermos o seu alcance. Dispõe o inc. I do art. 2º da Lei 8.987/1995: Art. 2o Para os fins do disposto nesta Lei, considera-se: I - poder concedente: a União, o Estado, o Distrito Federal ou o Município, em cuja competência se encontre o serviço público, precedido ou não da execução de obra pública, objeto de concessão ou permissão; Perceba que o inciso lista exclusivamente entes políticos. Conforme a Lei, são os entes Federados que detêm a competência para realizar as concessões de serviços públicos, observando-se, em todo caso, a distribuição de competências estabelecida pelo texto constitucional (princípio da preponderância do interesse). Então quer dizer que as entidades administrativas, como as Autarquias, não podem funcionar como Poder Concedente? Não é bem assim. Adiante! 0 Curso Teórico de Direito AdministrativoProf. Cyonil Borges Profº. Cyonil Borges www.estrategiaconcursos.com.br 38 Apesar de a definição legal de Poder Concedente restringir a entidades políticas, há leis específicas que possibilitam a celebração de contrato de concessão por Autarquias. As Leis 9.427/1997 e 9.472/1997 atribuíram, nessa ordem, às agências reguladoras ANEEL e ANATEL a faculdade de celebrarem contratos de concessão. Vencida essa consideração preliminar, passemos aos direitos e deveres do Poder Concedente. O art. 29 da Lei 8.987/1995 lista os encargos e os direitos a cargo do Poder Concedente. São exemplos de encargos do Poder Concedente: I - regulamentar o serviço concedido; V - homologar reajustes e proceder à revisão das tarifas na forma desta Lei, das normas pertinentes e do contrato; VI - zelar pela boa qualidade do serviço, receber, apurar e solucionar queixas e reclamações dos usuários, que serão cientificados, em até trinta dias, das providências tomadas; X - estimular o aumento da qualidade, produtividade, preservação do meio-ambiente e conservação; XI - incentivar a competitividade; e XII - estimular a formação de associações de usuários para defesa de interesses relativos ao serviço. São exemplos de direitos do Poder Concedente: II - aplicar as penalidades regulamentares e contratuais; III - intervir na prestação do serviço, nos casos e condições previstos em lei; IV - extinguir a concessão, nos casos previstos nesta Lei e na forma prevista no contrato; 6.2.2. Concessionária Vamos nos socorrer da literalidade da Lei 8.987/1995, a qual, no art. 31, fornece um rol de atribuições a cargo das concessionárias, como a de prestar serviço adequado e de manter em dia o inventário e o registro dos bens vinculados à concessão, a seguir: Art. 31. Incumbe à concessionária: 0 Curso Teórico de Direito Administrativo Prof. Cyonil Borges Profº. Cyonil Borges www.estrategiaconcursos.com.br 39 (...) III - prestar contas da gestão do serviço ao poder concedente e aos usuários, nos termos definidos no contrato; (...) V - permitir aos encarregados da fiscalização livre acesso, em qualquer época, às obras, aos equipamentos e às instalações integrantes do serviço, bem como a seus registros contábeis; VI - promover as desapropriações e constituir servidões autorizadas pelo poder concedente, conforme previsto no edital e no contrato; (...) Parágrafo único. As contratações, inclusive de mão-de-obra, feitas pela concessionária serão regidas pelas disposições de direito privado e pela legislação trabalhista, não se estabelecendo qualquer relação entre os terceiros contratados pela concessionária e o poder concedente. Foram reproduzidos apenas parte das atribuições das concessionárias. Destas, a de maior incidência nos concursos públicos é a possibilidade de “promover desapropriações” e “constituir servidões”. Note que a Lei menciona a faculdade de “promover”. Essa informação é extremamente importante para sua prova. A declaração de desapropriação não pode ser feita pela concessionária, é ato exclusivo do Estado. Já a promoção da desapropriação pode ser entregue à concessionária, sem maiores problemas, desde que haja previsão no edital e no contrato. Esclareça-se que a promoção não passa de dar curso às tratativas do procedimento de desapropriação, como pagar as indenizações cabíveis e ajuizar a ação na justiça, em caso de desapropriação não amigável. Outra questão bastante “batida” no concurso é a relativa às contratações e à responsabilização da concessionária. Nos termos do parágrafo único do art. 31 da Lei, as contratações feitas pela concessionária serão regidas pelas disposições de Direito 0 Curso Teórico de Direito Administrativo Prof. Cyonil Borges Profº. Cyonil Borges www.estrategiaconcursos.com.br 40 Privado e pela legislação trabalhista, não se estabelecendo qualquer relação entre os terceiros contratados pela concessionária e o Poder Concedente. No que concerne à responsabilização das concessionárias, dispõe o art. 25 da Lei: Art. 25. Incumbe à concessionária a execução do serviço concedido, cabendo-lhe responder por todos os prejuízos causados ao poder concedente, aos usuários ou a terceiros, sem que a fiscalização exercida pelo órgão competente exclua ou atenue essa responsabilidade. A partir da leitura, fácil concluir que a ausência de fiscalização pelo Poder Concedente não atenua ou exclui a responsabilidade da concessionária. O fato de o Estado não ter fiscalizado a execução da concessão não tem o efeito de inverter a responsabilidade da concessionária (não atenua e sequer exclui a responsabilidade), enfim, a prestadora continua diretamente responsável junto aos usuários e a terceiros. E se a concessionária, uma vez acionada, não tiver forças econômicas para honrar com suas dívidas? Para a doutrina majoritária, a responsabilidade da concessionária é primária, mas esgotadas suas forças, abre-se a possibilidade de responsabilidade subsidiária do Estado. Reforça-se que a responsabilidade das prestadoras de serviços públicos é de natureza objetiva perante seus próprios usuários e para aqueles que não ostentem esta qualidade (os terceiros). Assim, se eventualmente, ônibus de empresa de transporte coletivo atropelar ciclista (terceiro), haverá o dever de indenização pelos danos sofridos (STF – RE 591.874). Tome Nota! Para Rafael Carvalho Rezende Oliveira, a responsabilidade civil da concessionária é objetiva perante seus próprios usuários e terceiros, porém, pautada em fundamentos jurídicos diversos, com o que concordamos. Tratando-se de terceiros, não há uma relação jurídica travada com a concessionária, estando-se diante, portanto, de responsabilidade extracontratual, nos termos do §6º do art. 37 da CF. Por sua vez, os usuários dos serviços, por possuírem relação contratual, não podem ser considerados “terceiros”, sendo a responsabilidade da 0 Curso Teórico de Direito Administrativo Prof. Cyonil Borges Profº. Cyonil Borges www.estrategiaconcursos.com.br 41 concessionária de natureza contratual e objetiva, mas com fundamento no art. 14 do Código de Defesa do Consumidor. Por fim, o autor nos releva que a responsabilidade só é objetiva para os danos relacionados diretamente à prestação de serviços, para concluir que eventual responsabilidade, nas relações jurídicas privadas, entre as concessionárias e particulares em geral, deverá ser analisada à luz da legislação civil. QF-11 – Advogado da União – AGU – Cespe – 2012 - À concessionária cabe a execução do serviço concedido, incumbindo-lhe a responsabilidade por todos os prejuízos causados ao poder concedente, aos usuários ou a terceiros, não admitindo a lei que a fiscalização exercida pelo órgão competente exclua ou atenue tal responsabilidade. (Certo/Errado)17 Comentários: Nos termos da Lei 8.987/1995, incumbe à concessionária a execução do serviço concedido, cabendo-lhe responder por todos os prejuízos causados ao poder concedente, aos usuários ou a terceiros, sem que a fiscalização exercida pelo órgão competente exclua ou atenue essa responsabilidade. Acrescenta-se que existem precedentes jurisprudenciais que já apontam para a responsabilidade do Poder Concedente por culpa in vigilando (falta de fiscalização) ou in eligendo (escolha inadequada). Isso mesmo. Há entendimentos na jurisprudência. No entanto, a questão baseou-se na literalidade da lei. Fica aqui o conselho: quando a banca organizadora não citar expressamente doutrina ou jurisprudência, sigaa lei seca. Destaque-se que a resolução dos conflitos surgidos pode ser resolvida com o emprego de mecanismos privados, inclusive a arbitragem, sendo realizada, no caso, no Brasil e em língua portuguesa. Outro importante encargo é o que as concessionárias de serviços públicos, de direito público e privado, nos Estados e no Distrito Federal, têm de oferecer ao consumidor e ao usuário, dentro do mês de vencimento, o mínimo de seis datas opcionais para escolherem os dias de vencimento de seus débitos. Talvez, no parágrafo imediatamente anterior, o registro a “concessionárias de serviços público de direito público” tenha chamado a sua atenção. Vejamos o que diz a Lei 8.987/1995: Art. 7º-A. As concessionárias de serviços públicos, de direito público e privado, nos Estados e no Distrito Federal, são obrigadas a oferecer ao consumidor e ao usuário, dentro do mês de vencimento, o mínimo de seis datas opcionais para escolherem os dias de vencimento de seus débitos. 17 Gabarito: CERTO. 0 Curso Teórico de Direito Administrativo Prof. Cyonil Borges Profº. Cyonil Borges www.estrategiaconcursos.com.br 42 É o que se reconhece como concessão-descentralização ou concessão imprópria de serviços públicos, pois a pessoa federativa, por lei, outorga a prestação de serviços públicos à entidade administrativa de sua própria estrutura. Inclusive, o art. 32 da Lei 9.074/1995 faculta que a empresa estatal participante, na qualidade de licitante, possa assina pré-contratos com dispensa de licitação, a seguir: Art. 32. A empresa estatal que participe, na qualidade de licitante, de concorrência para concessão e permissão de serviço público, poderá, para compor sua proposta, colher preços de bens ou serviços fornecidos por terceiros e assinar pré-contratos com dispensa de licitação. § 1o Os pré-contratos conterão, obrigatoriamente, cláusula resolutiva de pleno direito, sem penalidades ou indenizações, no caso de outro licitante ser declarado vencedor. § 2o Declarada vencedora a proposta referida neste artigo, os contratos definitivos, firmados entre a empresa estatal e os fornecedores de bens e serviços, serão, obrigatoriamente, submetidos à apreciação dos competentes órgãos de controle externo e de fiscalização específica. QF-12 – CENSIPAM – Cespe – 2006 - As concessionárias de serviços públicos, de direito público e privado, nos estados e no Distrito Federal, são obrigadas a oferecer ao consumidor e ao usuário, dentro do mês de vencimento, o mínimo de seis datas opcionais para escolherem os dias de vencimento de seus débitos. (Certo/Errado)18 Porém, esclareça-se que não há apenas encargos por parte das concessionárias. Nos termos 28 da Lei, nos contratos de financiamento, as concessionárias poderão oferecer em garantia os direitos emergentes da concessão, até o limite que não comprometa a operacionalização e a continuidade da prestação do serviço. E, na mesma linha, o art. 28-A da Lei dispõe que: Art. 28-A. Para garantir contratos de mútuo de longo prazo, destinados a investimentos relacionados a contratos de concessão, em qualquer de suas modalidades, as concessionárias poderão ceder ao mutuante, em caráter fiduciário, parcela de seus créditos operacionais futuros, observadas as seguintes condições: I - o contrato de cessão dos créditos deverá ser registrado em Cartório de Títulos e Documentos para ter eficácia perante terceiros; 18 Gabarito: CERTO. 0 Curso Teórico de Direito Administrativo Prof. Cyonil Borges Profº. Cyonil Borges www.estrategiaconcursos.com.br 43 II - sem prejuízo do disposto no inciso I do caput deste artigo, a cessão do crédito não terá eficácia em relação ao Poder Público concedente senão quando for este formalmente notificado; (Incluído pela Lei nº 11.196, de 2005) III - os créditos futuros cedidos nos termos deste artigo serão constituídos sob a titularidade do mutuante, independentemente de qualquer formalidade adicional; (Incluído pela Lei nº 11.196, de 2005) IV - o mutuante poderá indicar instituição financeira para efetuar a cobrança e receber os pagamentos dos créditos cedidos ou permitir que a concessionária o faça, na qualidade de representante e depositária; (Incluído pela Lei nº 11.196, de 2005) V - na hipótese de ter sido indicada instituição financeira, conforme previsto no inciso IV do caput deste artigo, fica a concessionária obrigada a apresentar a essa os créditos para cobrança; (Incluído pela Lei nº 11.196, de 2005) VI - os pagamentos dos créditos cedidos deverão ser depositados pela concessionária ou pela instituição encarregada da cobrança em conta corrente bancária vinculada ao contrato de mútuo; (Incluído pela Lei nº 11.196, de 2005) VII - a instituição financeira depositária deverá transferir os valores recebidos ao mutuante à medida que as obrigações do contrato de mútuo tornarem-se exigíveis; e (Incluído pela Lei nº 11.196, de 2005) VIII - o contrato de cessão disporá sobre a devolução à concessionária dos recursos excedentes, sendo vedada a retenção do saldo após o adimplemento integral do contrato. (Incluído pela Lei nº 11.196, de 2005) Parágrafo único. Para os fins deste artigo, serão considerados contratos de longo prazo aqueles cujas obrigações tenham prazo médio de vencimento superior a 5 (cinco) anos. (Incluído pela Lei nº 11.196, de 2005) 6.2.3. Usuários Além da disciplina do Código do Consumidor (Lei 8.078/1990), os usuários-consumidores são protegidos pela Lei 8.987/1995. Entre outros, são direitos dos usuários: Receber serviço adequado, assim entendido aquele que, entre outros requisitos, atende aos requisitos da continuidade, atualidade, modicidade das tarifas e cortesia; 0 Curso Teórico de Direito Administrativo Prof. Cyonil Borges Profº. Cyonil Borges www.estrategiaconcursos.com.br 44 Escolher o dia de vencimento dos débitos, entre, no mínimo, seis datas oferecidas pela Concessionária; Obter do Poder Concedente e da Concessionária informações para a defesa de interesses individuais ou coletivos; e Obter e utilizar o serviço, com liberdade de escolha entre vários prestadores de serviços, quando for o caso, observadas as normas do poder concedente. São encargos dos usuários: Levar ao conhecimento do poder público e da concessionária as irregularidades de que tenham conhecimento, referentes ao serviço prestado; Comunicar às autoridades competentes os atos ilícitos praticados pela concessionária na prestação do serviço; Contribuir para a permanência das boas condições dos bens públicos através dos quais lhes são prestados os serviços. José dos Santos Carvalho Filho apresenta-nos a Lei 12.007/2009, que assegurou aos usuários consumidores o direito à declaração de quitação anual de débitos a ser emitida pelas pessoas jurídicas prestadoras de serviços públicos ou privados. Nos termos do art. 3º da Lei, a declaração de quitação anual deverá ser encaminhada ao consumidor por ocasião do encaminhamento da fatura a vencer no mês de maio do ano seguinte ou no mês subsequente à completa quitação dos débitos do ano anterior ou dos anos anteriores, podendo ser emitida em espaço da própria fatura. 6.3. Formas de Remuneração e Política Tarifária Embora de titularidade do Estado, os serviços públicos podem ser executados indiretamente por meio de concessionárias e permissionárias. Nesse caso, quando o serviço público é prestado por particulares, o vínculo entre o usuário e a prestadora de serviços é de natureza contratual, sendo a tarifa o modoclássico de remuneração. Agora, se a prestação é direta pelo Estado, por meio de órgãos ou pessoas administrativas, a relação travada entre o Poder Público e os cidadãos é de Direito Público, sendo a taxa a forma clássica de remuneração. As taxas são tributos, e, bem por isso, cobradas coativamente dos particulares, independentemente do uso efetivo dos serviços, pois, nos termos do Código Tributário, é suficiente que 0 Curso Teórico de Direito Administrativo Prof. Cyonil Borges Profº. Cyonil Borges www.estrategiaconcursos.com.br 45 o serviço seja colocado à disposição e esteja em pleno funcionamento. A questão que se impõe é saber se as tarifas podem ser cobradas, ainda que não exista serviço público alternativo e gratuito para o usuário. A resposta está expressa na Lei 8.987/1995, em seu §1º do art. 9º, a seguir: § 1o A tarifa não será subordinada à legislação específica anterior e somente nos casos expressamente previstos em lei, sua cobrança poderá ser condicionada à existência de serviço público alternativo e gratuito para o usuário. Não há necessidade de via alternativa para a cobrança de tarifas, a não ser nos casos expressamente previstos em lei. Vejamos trecho de decisão do STJ (Recurso Especial 417.804): A Lei nº 8.987 /95, que regulamenta a concessão e permissão de serviços públicos, não prevê a contrapartida de oferecimento de via alternativa gratuita como condição para a cobrança de pedágio, nem mesmo no seu artigo 7º, III . Ao contrário, o artigo 9º, parágrafo 1º, da mesma lei, é expresso em dispor que "a tarifa não será subordinada à legislação específica anterior e somente nos casos expressamente previstos em lei, sua cobrança poderá ser condicionada à existência de serviço público alternativo e gratuito para o usuário". QF-13 – Auditor – PM/Vitória – Cespe – 2007 - Em determinada cidade nordestina, certa concessionária presta serviço público de esgoto. Contudo, o poder público local permite o uso de fossas nas residências, desde que atendam a requisitos preestabelecidos pelo município. Tendo como referência inicial a situação hipotética apresentada, a remuneração do serviço público de esgoto dá-se por taxa. (Certo/Errado)19 Comentários: O serviço está sendo prestado pela concessionária e não pelo Estado. Quando prestado por particulares, a cobrança é de natureza contratual, via TARIFAS; já quando prestado pelo Estado (diretamente), a cobrança dos serviços é de natureza legal, por TAXAS. Portanto, o item está ERRADO ao se referir à taxa como forma de remuneração. Na disciplina do Direito Público, se o serviço é específico e divisível, e acha-se em pleno funcionamento, ainda que o contribuinte não o utilize efetivamente, terá o dever de recolher a taxa aos cofres públicos. Agora, tratando-se de tarifas, a usuário pode escolher não pagá-las. Porém, será possível a cobrança de tarifa se o serviço tiver sido disponibilizado, ainda que o usuário não o utilize efetivamente. Sobre o tema, decidiu o STJ (REsp 1032454): 19 Gabarito: ERRADO. 0 Curso Teórico de Direito Administrativo Prof. Cyonil Borges Profº. Cyonil Borges www.estrategiaconcursos.com.br 46 10. Em suma, a cobrança mensal de assinatura básica está amparada pelo art. 93, VII, da Lei n. 9.472, de 16.07.1997, que a autoriza, desde que prevista no Edital e no contrato de concessão, razão pela qual a obrigação do usuário pagar tarifa mensal pela assinatura do serviço decorre da política tarifária instituída por lei, sendo certo que a Anatel pode fixá-la, por ser a reguladora do setor, amparada no que consta expressamente no contrato de concessão, com respaldo no art. 103, §§ 3º e 4º, da Lei n. 9.472, de 16.07.1997. 11. A cobrança mensal de assinatura, no serviço de telefonia, sem que chamadas sejam feitas, não constitui abuso proibido pelo Código de Defesa do Consumidor, quer sob o ângulo da legalidade, quer por tratar-se de serviço que é necessariamente disponibilizado, de modo contínuo e ininterrupto, aos usuários. É até possível que o usuário não pague a assinatura básica do serviço de telefonia ou pelo fornecimento de água ou pelo gás canalizado. É suficiente, neste caso, que solicite a desinstalação do serviço. Portanto, é legítima a cobrança de tarifa mínima, devida pela só disponibilização do serviço, a exemplo do sistema das taxas, desde que haja previsão contratual e legal (Súmula 356 do STJ: “é legítima a cobrança da tarifa básica pelo uso dos serviços de telefonia fixa”). Tome Nota! Os contratos formalizados entre as concessionárias e os usuários são de natureza privada, sendo, ordinariamente, ajustes não solenes, acordados por uma simples ligação telefônica. Por isso, para a proteção do usuário na relação consumerista firmada, a Lei 8.987/1995 consagra a aplicação supletiva do Código de Defesa ao Consumidor (CDC). Esclareça-se que a tese majoritária é a de que o CDC é aplicável somente aos serviços remunerados por tarifas, e de natureza divisível (“uti singuli”). Portanto, tratando-se de serviços gerais (“uti universi”) e os remunerados por taxas (Estado-Contribuinte), o CDC não terá aplicabilidade. Dentro da política tarifária, o papel das Agências Reguladoras ganha relevo. Tais pessoas surgiram no contexto da Reforma Administrativa, empreendida em meados da década de 90. Dentre outros papeis, cabem às Agências fixar o valor das tarifas a serem cobradas dos usuários. Na doutrina há quem critique este papel das Agências, afinal não deveriam se incumbir de executar a política que, mais adiante, teriam de controlar. Outra disposição de interesse é o art. 13 da Lei: Art. 13. As tarifas poderão ser diferenciadas em função das características técnicas e dos custos específicos provenientes do atendimento aos distintos segmentos de usuários. 0 Curso Teórico de Direito Administrativo Prof. Cyonil Borges Profº. Cyonil Borges www.estrategiaconcursos.com.br 47 Fácil concluir que as tarifas podem ser diferenciadas, o que costuma ser chamado de tarifas sociais. Nesse quadro, têm-se tarifas reduzidas, por exemplo, na energia elétrica, para população de baixa renda, e a isenção de tarifas de transporte coletivo para idosos. O que não se admite é o tratamento diverso para situações idênticas. Sobre o tema, súmula do STJ que reconhece a possibilidade de tarifas progressivas escalonadas segundo a capacidade contributiva: Súmula 407 É legítima a cobrança da tarifa de água, fixada de acordo com as categorias de usuários e as faixas de consumo. Vejamos, agora, o §3º do art. 9º da Lei 8.987/1995: § 3o Ressalvados os impostos sobre a renda, a criação, alteração ou extinção de quaisquer tributos ou encargos legais, após a apresentação da proposta, quando comprovado seu impacto, implicará a revisão da tarifa, para mais ou para menos, conforme o caso. Se o Poder Público alterou seu planejamento tributário, com a criação, majoração ou extinção de tributos, e isso repercutiu no equilíbrio econômico-financeiro do contrato, não pode a concessionária ou o usuário serem prejudicados. Nesse caso, o contrato deverá ser revisado, para mais ou para menos. Por exemplo: se um tributo ou encargo legal for extinto, isso impactará para baixo os custos do delegatário. Foi o que aconteceu na redução da tarifa de energia elétrica, em que alguns custos dos concessionários foram reduzidos, e, por consequência, os valores cobrados dos usuários. Porém, o reequilíbrio não é irrestrito. Há uma ressalva aos impostos sobre a renda, pois constituem mecanismo de ajuste econômico a ser manejado pelo Estado. Por fim,em prol da manutenção do equilíbrio econômico-financeiro, há duas disposições de interesse que não podem ser menosprezadas: - Os contratos poderão prever mecanismos de revisão das tarifas, para manter-se o equilíbrio econômico-financeiro: a revisão não se confunde com o reajuste. Este é anual, e é feito para que a equação de equilíbrio inicial seja tão somente preservada. Por sua vez, a revisão, periódica ou extraordinária, tem por objetivo examinar de forma mais ampla se o equilíbrio do contrato ainda se 0 Curso Teórico de Direito Administrativo Prof. Cyonil Borges Profº. Cyonil Borges www.estrategiaconcursos.com.br 48 preserva. No setor de energia elétrica, por exemplo, a revisão tarifária ocorre a cada 3 ou 4 anos, - Em havendo alteração unilateral do contrato que afete o seu inicial equilíbrio econômico-financeiro, o Poder Concedente deverá restabelecê-lo, concomitantemente à alteração: as cláusulas de execução ou regulamentares dos contratos de concessão podem ser alteradas unilateralmente. Porém, se isso de alguma forma impactar financeiramente o contrato, é direito do delegatário o reestabelecimento do equilíbrio inicial. 6.4. Permissão X Concessão X Autorização Antes de passarmos ao comparativo entre permissão, concessão e autorização de serviços públicos, o concursando tem o dever de lembrar-se de detalhe conceitual de atos administrativos. Os atos administrativos são, sinteticamente, “declarações UNILATERAIS do Estado ou de QUEM lhe faça as vezes...”. Ou seja, até mesmo um particular pode participar ao lado do Estado, colaborando na prestação de determinadas tarefas, como é o caso das concessionárias. Tanto é verdade que os atos das concessionárias, relativos à prestação de serviços públicos, são considerados administrativos, que o próprio texto constitucional, no §6º do art. 37, estende a responsabilidade objetiva às pessoas jurídicas de direito privado prestadoras de serviços públicos. A partir de agora, breves noções sobre os institutos das concessões, permissões e autorizações. Para a autora Maria Sylvia Zanella Di Pietro, a permissão é o ato administrativo unilateral, discricionário e precário, gratuito ou oneroso, pelo qual a Administração Pública faculta ao particular a execução de serviço público ou a utilização privativa de bem público. Porém, depois da edição da Lei 8.987/1995, o conceito de permissão ganhou novos contornos, pois, de acordo com o art. 40 da Lei, a permissão de serviço público será formalizada mediante contrato administrativo denominado “de adesão”, de natureza precária e revogável a qualquer tempo pelo Poder Concedente. Depreende-se que existem, pelo menos, três tipos de permissões: As formalizadas por atos administrativos para a utilização privativa de bem público, 0 Curso Teórico de Direito Administrativo Prof. Cyonil Borges Profº. Cyonil Borges www.estrategiaconcursos.com.br 49 As instrumentalizadas por contrato de adesão para a execução de serviço público, nos termos da Lei 8.987/1995, e As firmadas por atos administrativos para a execução de serviços públicos, conforme legislação especial (exemplo do art. 118 da Lei 9.742/1996). Por relevante, aponte-se para a imprecisão terminológica do dispositivo no que se refere à “revogabilidade” unilateral do contrato. Sem dúvida, seria mais apropriado o uso da expressão “‘rescisão”, pois os contratos são rescindidos, sendo a revogação aplicável aos atos administrativos. O conceito legal de permissão de serviços públicos é dado pelo inc. IV do art. 2º da Lei 8.987/1995: a delegação, a título precário, mediante licitação, da prestação de serviços públicos, feita pelo poder concedente à pessoa física ou jurídica que demonstre capacidade para seu desempenho, por sua conta e risco. Para Celso Antônio Bandeira de Mello, dado o caráter precário da permissão, esta deveria ser utilizada quando: a) o permissionário não necessitasse alocar grandes capitais para o desempenho do serviço, b) poderia mobilizar, para diversa destinação e sem maiores transtornos, o equipamento utilizado, ou, ainda, c) quando o serviço não envolvesse implantação física de aparelhamento que adere ao solo, ou, finalmente, d) quando os riscos da precariedade a serem assumidos pelo permissionário fossem compensáveis seja pela extrema rentabilidade do serviço, seja pelo curtíssimo prazo em que se realizaria a satisfação econômica almejada. Façamos, agora, a leitura do incs. II e III do art. 2º da Lei: Art. 2o Para os fins do disposto nesta Lei, considera-se: II - concessão de serviço público: a delegação de sua prestação, feita pelo poder concedente, mediante licitação, na modalidade de concorrência, à pessoa jurídica ou consórcio de empresas que demonstre capacidade para seu desempenho, por sua conta e risco e por prazo determinado; III - concessão de serviço público precedida da execução de obra pública: a construção, total ou parcial, conservação, reforma, ampliação ou melhoramento de quaisquer obras de interesse público, delegada pelo poder 0 Curso Teórico de Direito Administrativo Prof. Cyonil Borges Profº. Cyonil Borges www.estrategiaconcursos.com.br 50 concedente, mediante licitação, na modalidade de concorrência, à pessoa jurídica ou consórcio de empresas que demonstre capacidade para a sua realização, por sua conta e risco, de forma que o investimento da concessionária seja remunerado e amortizado mediante a exploração do serviço ou da obra por prazo determinado; Da leitura dos conceitos de permissão e concessão, o concursando, certamente, terá dificuldade em identificar com precisão os traços distintivos. Inclusive, o STF afastou qualquer distinção conceitual (ADI 1.491). Porém, tratando-se de concursos públicos, a doutrina costuma apontar as seguintes diferenças: - Quanto ao executor do serviço público: na concessão, o contrato só pode ser firmado com pessoa jurídica ou consórcio de empresas; na permissão, com pessoa física ou pessoa jurídica. Conclui-se, portanto, que não há concessão para pessoa física, ou permissão para consórcio de empresas; - Quanto à precariedade: a permissão é dotada de precariedade, característica não encontrada na concessão. Por conseguinte, a permissão é passível de revogação, sem direito à indenização; a concessão, não. Feita a apresentação da permissão e da concessão, passemos ao estudo sintético da autorização. A doutrina diverge quanto à possibilidade de delegação de prestação de serviços públicos mediante autorização. Apesar disso, para concursos públicos, a autorização é uma das formas de prestação de serviços públicos. Porém, distintamente das permissões e concessões, os serviços autorizados constituem forma de prestação de serviços públicos não necessariamente antecedida por licitação, não implicando, de regra, a celebração de contrato, uma vez que a autorização quanto à prestação de serviços públicos é formalizada, de regra, por ato administrativo. Reforça-se que o fundamento para a prestação de serviços públicos por meio de autorização é encontrado em dispositivos como os incs. XI e XII do art. 21 da CF/1988, os quais atribuem competência à União para explorar, diretamente ou mediante autorização, concessão ou permissão os serviços ali listados. Os serviços autorizados não gozam das prerrogativas inerentes às atividades públicas, auferindo apenas as vantagens que lhes 0 Curso Teórico de Direito Administrativo Prof. Cyonil Borges Profº. Cyonil Borges www.estrategiaconcursos.com.br51 forem deferidas no ato de autorização, sujeitando-se à modificação ou à supressão sumária, dada a precariedade típica da autorização. De regra, não haverá direito de indenização ao particular que tiver sua autorização revogada. E a pergunta de balançar terras: a autorização é ato discricionário ou vinculado? Não tenha dúvida de que as autorizações são, de regra, atos discricionários (são atos precários e revogáveis a qualquer tempo). Porém, essa é daquelas regras com exceção, e, no caso, única. Sobre o tema, dispõe o §1º do art. 131 da Lei 9.472/1997: Autorização de serviço de telecomunicações é ato administrativo vinculado que faculta a exploração, no regime privado, de modalidade de serviço de telecomunicações, quando preenchidas as condições objetivas e subjetivas necessárias. Ainda que passível de crítica, temos de aceitar essa “nova modalidade” de autorização de natureza vinculada. Enquanto for considerada válida, não se pode negar eficácia à norma. Pode-se criticá-la, mas não recusar sua eficácia. QF-14 – Agente de Polícia – DPF – Cespe – 2004 - A autorização de porte de arma de fogo constitui uma forma de delegação de serviço público. (Certo/Errado)20 Comentários: Essa questão nos serve para esclarecer que as autorizações são, ordinariamente, atos administrativos, porém nem todas as autorizações dizem respeito a serviços públicos. No caso de autorização de porte de arma, está-se diante do exercício regular do Poder de Polícia, daí a incorreção do quesito. Passemos ao quadro-resumo sobre as principais diferenças entre a concessão, a permissão, e a autorização, a seguir: SERVIÇOS PÚBLICOS Concessão Permissão Autorização Natureza Contrato Contrato Ato 20 Gabarito: ERRADO. 0 Curso Teórico de Direito Administrativo Prof. Cyonil Borges Profº. Cyonil Borges www.estrategiaconcursos.com.br 52 Administrativo Administrativo (de adesão) Administrativo(1) Licitação (modalidade) SEMPRE exigida (Concorrência)(2) SEMPRE exigida (Depende do valor) Dispensada(3) Vínculo Definitividade Precariedade e Revogabilidade Precariedade e Revogabilidade Partes envolvidas Pessoas Jurídicas ou Consórcios de empresas(4) Pessoas jurídicas ou físicas(5) Pessoas jurídicas ou físicas (1) Na Lei dos Portos (nº 12.815/2013), o inc. XII do art. 2º dispõe que a autorização é a outorga de direito à exploração de instalação portuária localizada fora da área do porto organizado e formalizada mediante contrato de adesão. (2) Nas privatizações havidas no âmbito do Programa Nacional de Desestatização, é possível o uso da modalidade de licitação leilão (§ 3º do art. 4º da Lei 9.491/1997). Com a venda das ações, o Estado transfere o controle acionário para particulares, os quais passam à condição de prestadores de serviços públicos. (3) A expressão “dispensada” não deve ser confundida com o conceito doutrinário de “licitação dispensada” do art. 17 da Lei 8.666/1993. (4) A concessão não pode ser formalizada com pessoa física, podendo ser celebrada com ente despersonalizado, como é o caso dos consórcios de empresas, os quais não têm personalidade jurídica. Ressalte-se que a Lei da Parceria Público-Privada exige a constituição de pessoa jurídica antes da celebração do contrato (sociedade de propósito específico). Por sua vez, a Lei 8.987/1995 faculta a constituição de pessoa jurídica. (5) As permissões não podem ser formalizadas com consórcios de empresas. QF-15 – AUFC – TCU – Cespe – 2011 - Embora o instituto da permissão exija a realização de prévio procedimento licitatório, a legislação de regência não estabelece, nesse caso, a concorrência 0 Curso Teórico de Direito Administrativo Prof. Cyonil Borges Profº. Cyonil Borges www.estrategiaconcursos.com.br 53 como a modalidade obrigatória, ao contrário do que prescreve para a concessão de serviço público. (Certo/Errado)21 Comentários: A Lei 8.987/1995 prevê expressamente a modalidade licitatória concorrência para a contratação de concessões de serviços públicos. Porém, quanto às permissões, a Lei é omissa, o que sugere, na visão da doutrina, a possibilidade de outras modalidades, como a Tomada de Preços. 6.5. Subconcessão Acerca do instituto da subconcessão, dispõe a Lei 8.987/1995: Art. 26. É admitida a subconcessão, nos termos previstos no contrato de concessão, desde que expressamente autorizada pelo poder concedente. § 1o A outorga de subconcessão será sempre precedida de concorrência. § 2o O subconcessionário se sub-rogará todos os direitos e obrigações da subconcedente dentro dos limites da subconcessão. Em síntese, são os seguintes os requisitos a serem observados para a subconcessão: Previsão contratual; Autorização do Poder Concedente; Deve ser precedida de licitação na modalidade concorrência; e Transferência de todos os direitos e obrigações, dentro dos limites da subconcessão. Tome Nota! Para Maria Sylvia Zanella Di Pietro, o procedimento licitatório de escolha da subconcessionária pode ser conduzido pelo Poder Concedente, ou delegado por este como encargo da concessionária, sendo esta a melhor opção, pois a relação contratual é estabelecida diretamente entre a concessionária e a subconcessionária. Há posicionamento divergente, sob a alegação de que a licitação é um procedimento administrativo típico. Ocorre que, atualmente, tem sido costumeiro o Estado firmar parcerias com particulares, mediante convênio ou contrato de gestão ou termo de parceria, por exemplo, atribuindo aos particulares, estranhos à estrutura formal da Administração, por Lei, a obrigação de licitar. Logo, o argumento de que a licitação é 21 Gabarito: CERTO. 0 Curso Teórico de Direito Administrativo Prof. Cyonil Borges Profº. Cyonil Borges www.estrategiaconcursos.com.br 54 típica do Estado, embora respeitável, não pode prevalecer dentro do ordenamento jurídico em vigor. Avancemos em outras oportunas observações sobre o assunto. A subconcessão não se confunde com a cessão ou transferência da concessão. Na subconcessão, a concessionária originária mantém-se vinculada ao Poder Concedente, não sendo afastado o seu dever de manter a prestação do serviço adequado. Por sua vez, na cessão, o contrato de concessão é entregue nas mãos de terceiros, havendo a substituição da empresa originalmente vencedora da licitação. O art. 27 da Lei 8.987/1995 é que trata dos requisitos para a transferência da concessão. Deve ser antecedida, necessariamente, da anuência do Poder Concedente, sob pena de decretação de caducidade, observadas ainda as seguintes condições: Atendimento às exigências de capacidade técnica; Idoneidade financeira; Regularidade jurídica e fiscal; e Cumprir todas as cláusulas do contrato em vigor. Há doutrinadores que defendem a inconstitucionalidade da transferência, pois, distintamente do que ocorre com a subconcessão, é promovida sem que haja o prévio procedimento de licitação. Além da transferência, o §2º do art. 27 da Lei possibilita a assunção do controle da concessionária por seus financiadores (“step-in rights”) (não é propriamente um caso de transferência), com o propósito de reestruturação financeira e assegurar a continuidade da prestação dos serviços, com uma particularidade: são indispensáveis as exigências de regularidade fiscal e jurídica, podendo, assim, o Poder Concedente alterar ou dispensar os demais. Apesar da transferência do controle, não haverá alteração das obrigaçõesda concessionária e de seus controladores perante o Poder Concedente. QF-16 – Juiz – TJ/GO – FCC – 2012 - No tocante ao regime da concessão de serviços públicos, na sua forma tradicional, a Lei Federal no 8.987/95 condiciona a outorga de subconcessão, a transferência da concessão e a transferência do 0 Curso Teórico de Direito Administrativo Prof. Cyonil Borges Profº. Cyonil Borges www.estrategiaconcursos.com.br 55 controle societário da concessionária à expressa concordância do poder concedente.22 Comentários: Na subconcessão, há uma entrega parcial da execução dos serviços a terceiro, sem que a responsabilidade da concessionária originária seja afastada. A entrega depende de prévia licitação na modalidade concorrência, e, além de previsão no Edital e Contrato, deve ser autorizada pelo Poder Concedente. A cessão, por sua vez, é a transferência da concessão. Há efetiva troca do polo da relação contratual. Com a cessão, a concessionária originária terá afastadas suas responsabilidades. Ao contrário da subconcessão, independe de licitação. No entanto, apesar das distinções, ficam a depender de autorização do Poder Concedente. 6.6. Formas de Extinção A Lei 8.987/1995 enumera diversas formas de extinção dos contratos de concessão. A seguir, comentaremos, uma a uma, as hipóteses de desfazimento contratual. A primeira forma de extinção é o Advento do Termo Final. É a forma mais natural de extinção da concessão. Doutrinariamente, é conhecida como reversão23. É bem simples de entender: ocorrido o prazo final (o termo) conforme estabelecido no instrumento contratual, a extinção ocorrerá naturalmente (de pleno direito), sem necessidade de avisos anteriores ou notificações pelo Poder Concedente, cabendo a este ocupar automaticamente as instalações e utilizar todos os bens reversíveis. Pelo fato de a extinção pelo tempo não decorrer de vícios ou ilegalidades, os efeitos da extinção ocorrerão daí por diante (ex nunc – efeitos não retroativos), sem que, logicamente, a responsabilidade do concessionário seja afastada por atos praticados quando o contrato ainda se encontrava vigente. É oportuno que o candidato conheça a fundamentação doutrinária de o advento do termo contratual ser chamado de reversão. A razão é bem simples. Com o término da concessão, os bens reversíveis retornam à Administração, ou seja, aqueles de propriedade da própria Administração, bem como aqueles vinculados aos serviços objeto da concessão e que se encontravam na posse do concessionário. Inclusive, a indicação dos bens reversíveis é cláusula essencial nos contratos de concessão (inc. X do art. 23 da Lei 8.987/1995). 22 Gabarito: CERTO. 23 Não confundir com a reversão prevista no Estatuto dos Servidores. Neste caso, a reversão refere-se ao reingresso de servidor aposentado, por insubsistentes os motivos que ensejaram o ato de aposentação. 0 Curso Teórico de Direito Administrativo Prof. Cyonil Borges Profº. Cyonil Borges www.estrategiaconcursos.com.br 56 Esclareça-se que, apesar de a doutrina tratar a reversão como sinônimo para advento do termo contratual, o certo é que os bens destinados à prestação de serviços públicos retornarão ao patrimônio público em todas as formas de extinção, em observância ao princípio da continuidade do serviço público. Todavia, embora alguns bens sejam reversíveis, o Poder Concedente deverá indenizar o concessionário com relação aos investimentos realizados em bens ainda não amortizados ou não depreciados ao fim do contrato. Essa medida visa a evitar que o executante do serviço fique “desestimulado” em realizar novos investimentos quando a concessão estiver próxima de seu término. Obviamente, a indenização deverá ser pelas parcelas restantes dos bens, ou seja, pelo valor que falta para sua total amortização ou depreciação. Ainda quanto ao advento do termo contratual, acrescente-se que a Lei de Concessões não menciona, expressamente, os limites mínimos e máximos de duração dos contratos de prestação de serviços públicos. Aos contratos de concessão não se aplica a regra do art. 57 da Lei 8.666/1993, que prevê a duração dos contratos adstrita à vigência dos créditos orçamentários, pois, de regra, a remuneração das concessionárias não é via orçamento público, mas de tarifas pagas pelos usuários. Por sua vez, a Lei 9.074/1995 previu que, para as estações aduaneiras e outros terminais alfandegados, o prazo será de 25 anos, podendo ser prorrogado por dez anos. Neste diploma, encontramos, ainda, para as concessões de energia elétrica anteriores a 11 de dezembro de 2003, o prazo de até 35 anos, podendo ser prorrogado por até 20 anos, a critério do Poder Concedente. Por fim, com a Lei da Parceria público-privada, mais “moderninha”, houve o registro do prazo mínimo de cinco anos e máximo de 35 anos. A segunda das formas de desfazimento é a caducidade. Antes de tratarmos da caducidade do contrato de concessão, chama-se a atenção do leitor para o fato de que a caducidade do contrato não se confunde com a do ato administrativo. A caducidade dos atos administrativos dá-se em razão de norma superveniente que torna a situação anterior com ela incompatível, não decorrendo, portanto, de ato de vontade da Administração. É 0 Curso Teórico de Direito Administrativo Prof. Cyonil Borges Profº. Cyonil Borges www.estrategiaconcursos.com.br 57 caso de Lei de Zoneamento Urbano que proíba a colocação de publicidade em vias públicas. Feita essa observação, passemos à caducidade do contrato de concessão. De acordo com o art. 38 da Lei 8.987/1995, a caducidade da concessão decorre da inexecução total ou parcial do contrato. É o rompimento do contrato por culpa ou dolo do concessionário na execução dos serviços públicos. Para a doutrina, a caducidade é modalidade de encerramento da concessão por ato do Poder Concedente, antes da conclusão do prazo inicialmente fixado, em razão de inadimplência do concessionário; isto é, por motivo de fato comissivo ou omissivo, doloso ou culposo, imputável ao concessionário. Por ter sido o concessionário quem deu causa à extinção da concessão, quem violou as obrigações contratuais, o Poder Público não tem que o indenizar, a não ser em relação à parcela não amortizada do capital representada pelos equipamentos necessários à prestação do serviço e que reverterão ao concedente e, ainda assim, a posteriori. Dentre outros, o art. 38 da Lei 8.987/1995 lista os seguintes motivos para a decretação da caducidade: Art. 38. A inexecução total ou parcial do contrato acarretará, a critério do poder concedente, a declaração de caducidade da concessão ou a aplicação das sanções contratuais, respeitadas as disposições deste artigo, do art. 27, e as normas convencionadas entre as partes. I - o serviço estiver sendo prestado de forma inadequada ou deficiente, tendo por base as normas, critérios, indicadores e parâmetros definidores da qualidade do serviço; (...) III - a concessionária paralisar o serviço ou concorrer para tanto, ressalvadas as hipóteses decorrentes de caso fortuito ou força maior; IV - a concessionária perder as condições econômicas, técnicas ou operacionais para manter a adequada prestação do serviço concedido; (...) VII – a concessionária não atender a intimação do poder concedente para, em 180 (cento e oitenta) dias, apresentar a documentação relativa a regularidade fiscal, no curso da concessão, na forma do art. 29 da Lei nº 8.666, de 21 de junho de 1993. (Redação dada pela Lei 12.767/2012) 0 Curso Teórico de Direito AdministrativoProf. Cyonil Borges Profº. Cyonil Borges www.estrategiaconcursos.com.br 58 Da leitura acima, tudo indica que a caducidade é ato discricionário (“acarretará, a critério do poder concedente”). No entanto, existe uma exceção legal, em que a caducidade será ato vinculado. A seguir, o art. 27 da Lei: A transferência de concessão ou do controle societário da concessionária sem prévia anuência do poder concedente implicará a caducidade da concessão. Passemos às formalidades necessárias para a decretação da caducidade: a) O concessionário deve ser comunicado quanto ao descumprimento contratual que poderá dar motivo à possível decretação da caducidade. Nesse particular, concede-se prazo ao concessionário para que a irregularidade seja sanada; b) Não sanada a citada irregularidade, instaura-se o devido procedimento administrativo, por meio do qual se deve abrir ao concessionário o contraditório, com os meios que lhe são inerentes (a ampla defesa); c) Constatada a inadimplência, a caducidade deve ser declarada por decreto do Poder Concedente. Além da caducidade, outras sanções poderão ser impostas ao concessionário, conforme previsão contratual (multa e suspensão para licitar e contratar com a Administração, por exemplo). Não há dúvidas de que a caducidade constitui penalidade imposta ao concessionário em razão de sua inadimplência. Contudo, será devida indenização ao concessionário em relação aos investimentos não amortizados ou não depreciados, até para que evitemos o enriquecimento sem causa por parte do Estado. De toda forma, o montante das multas contratuais e os danos causados pelo concessionário devem ser descontados dos valores a serem indenizados. A indenização não será prévia à decretação da caducidade, ao contrário, acaso existente, será calculada no curso do processo (§4º do art. 38 da Lei). Declarada a caducidade, não resultará para o Poder Concedente qualquer espécie de responsabilidade em relação aos encargos, ônus, obrigações ou compromissos com terceiros ou com empregados da concessionária (§6º do art. 38). Distintamente da Lei de Licitações 0 Curso Teórico de Direito Administrativo Prof. Cyonil Borges Profº. Cyonil Borges www.estrategiaconcursos.com.br 59 (art. 71), a Lei de Concessões não faz ressalva nem mesmo à responsabilidade solidária quanto aos débitos previdenciários. A terceira e uma das mais importantes formas de extinção é a encampação. Também chamada por alguns doutrinadores de resgate ou de retomada, a encampação encontra previsão no art. 37 da Lei 8.987/1995, que assim a define: a retomada do serviço pelo poder concedente durante o prazo da concessão, por motivo de interesse público, mediante lei autorizativa específica e após prévio pagamento da indenização, na forma do artigo anterior. Note que a encampação em nada se confunde com a caducidade, pois ocorre não em razão de inadimplência do concessionário, mas sim devido ao interesse da administração em retomar o serviço. Há dois outros traços distintivos entre a caducidade e a encampação. A encampação depende de lei autorizativa específica e do prévio pagamento de indenização ao concessionário, tal como estabelecem os arts. 36 e 37 da lei 8.987/1995. Por fim, aponta-se que, para parte da doutrina, a necessidade de prévia autorização legislativa é inconstitucional. Eventuais controles recíprocos entre os Poderes (“checks and balances”) são de extração constitucional, e, por isso, não caberia ao legislador ordinário agredir a independência entre os Poderes da República. Acontece que, até o momento, não houve declaração de inconstitucionalidade, pelo STF, do dispositivo, razão pela qual, para efeito de concursos, permanece em plena vigência. Idêntica crítica doutrinária é feita ao art. 2º da Lei 9.074/1995, que assim dispõe: Art. 2º É vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios executarem obras e serviços públicos por meio de concessão e permissão de serviço público, sem lei que lhes autorize e fixe os termos, dispensada a lei autorizativa nos casos de saneamento básico e limpeza urbana e nos já referidos na Constituição Federal, nas Constituições Estaduais e nas Leis Orgânicas do Distrito Federal e Municípios, observado, em qualquer caso, os termos da Lei nº 8.987, de 1995. Para Maria Sylvia Zanella Di Pietro, a exigência prévia de autorização legislativa é inconstitucional, pois a competência para a prestação dos serviços públicos é do Poder Executivo, 0 Curso Teórico de Direito Administrativo Prof. Cyonil Borges Profº. Cyonil Borges www.estrategiaconcursos.com.br 60 inserindo-se na órbita de seu poder discricionário a opção pela prestação direta ou por delegação. Neste caso, a interferência do Poder Legislativo viola o princípio da separação de poderes. QF-17 – AUFC – TCU – Cespe – 2008 - Um parlamentar apresentou projeto de lei ordinária cujos objetivos são regular integralmente e privatizar a titularidade e a execução dos serviços públicos de sepultamento de cadáveres humanos, diante da falta de condições materiais de prestação desse serviço público de forma direta. Aprovado pelo Poder Legislativo, o referido projeto de lei foi sancionado pelo chefe do Poder Executivo. Com base na situação hipotética descrita acima, julgue os itens subsequentes. A delegação do serviço de sepultamento de cadáveres humanos, por meio de contrato de concessão, dependeria da prévia edição de lei ordinária que autorizasse essa delegação.24 Comentários: O art. 2º da Lei 9.074/1995 dispõe sobre a obrigatoriedade de lei autorizativa para que os entes federativos possam conceder seus serviços públicos a particulares. No entanto, a Lei dispensa, por exemplo, os serviços de saneamento básico e limpeza urbana. Os serviços de sepultamento não foram excetuados pela Lei. Portanto, a concessão depende de prévia edição de lei ordinária. A seguir, um quadro-resumo com as principais diferenças entre a caducidade e a encampação: SERVIÇOS PÚBLICOS Encampação (ou resgate) Caducidade (ou decadência) Motivo Conveniência e oportunidade(1) Inexecução do contrato Natureza Ato discricionário Ato discricionário (2) Indenização SEMPRE prévia Se houver, a posteriori Autorização legislativa SEMPRE prévia(3) Dispensada (1) A encampação ou resgate é o desfazimento por interesse público, de natureza discricionária. O binômio conveniência e oportunidade formam o núcleo do mérito administrativo. 24 Gabarito: CERTO. 0 Curso Teórico de Direito Administrativo Prof. Cyonil Borges Profº. Cyonil Borges www.estrategiaconcursos.com.br 61 (2) Existe um único caso em que a caducidade é ato vinculado (art. 27 da Lei 8.987/1995). (3) A doutrina critica a necessidade de autorização legislativa prévia. No caso, a avaliação é discricionária pelo Poder Executivo, sendo a interferência do Poder Legislativo uma ofensa ao princípio da separação de poderes. Embora a Lei 8.987/1995 regulamente as concessões e as permissões, não chegou a tratar minuciosamente das permissões, remetendo às regras das concessões, no que couber. Por exemplo, as formas de desfazimento utilizadas para as concessões são estendidas, em quase sua maioria, às permissões, como é o caso da rescisão. No caso de serviços públicos, a rescisão é a forma de extinção da concessão por iniciativa do concessionário. Difere essencialmente da caducidade e da encampação, que são formas unilaterais de extinção, ou seja, efetuadasdiretamente pela Administração. O pressuposto básico para a rescisão é o descumprimento por parte do Poder Concedente das normas legais, regulamentares ou contratuais. De acordo com o art. 39 da Lei 8.987/1995, a rescisão depende de ação judicial especialmente intentada com esse objetivo. Fácil concluir que a rescisão do contrato de concessão é absolutamente diferente da rescisão dos contratos decorrentes da Lei 8.666/1993. Nesta Lei, são listados dezoito motivos para a rescisão dos contratos administrativos (art. 78), podendo ser: unilateral, amigável e judicial. Já nos contratos de concessão de serviços públicos, o motivo de rescisão é um só: descumprimento de obrigações por parte da Administração Pública. A rescisão da Lei de Concessões é a rescisão judicial da Lei 8.666/1993. Reforça-se que o descumprimento pelo Poder Concedente não autoriza a suspensão da prestação do serviços públicos. Em nome do princípio da continuidade, a prestação não poderá ser interrompida até o trânsito em julgado da sentença judicial, em que reconhecer a inadimplência do Poder Concedente. A continuidade dos serviços públicos, que constitui verdadeiro princípio administrativo, torna extremamente rígida a oponibilidade da exceção do contrato não cumprido pelo concessionário. 0 Curso Teórico de Direito Administrativo Prof. Cyonil Borges Profº. Cyonil Borges www.estrategiaconcursos.com.br 62 Por fim, acrescente-se a anulação e a falência ao rol de formas de desfazimento. A anulação é nossa “velha” conhecida, consistindo na retirada do contrato de concessão por motivo de ilegalidade. A ilegalidade na concessão tanto pode surgir depois da assinatura do contrato, como ter sua origem na etapa da licitação. Deve-se lembrar de que os efeitos da decretação de nulidade são ex tunc, enfim, retroativos ao momento da ocorrência do vício. A anulação da concessão encontra previsão no inc. V do art. 35 da Lei 8.987/1995 e terá por consequência a responsabilização de quem houver lhe dado causa. Não se pode confundir a anulação com as formas de extinção já expostas, as quais pressupõem um contrato válido, mas mal executado ou cuja execução pelo concessionário tenha se tornado inconveniente ao interesse público. Por sua vez, a falência é forma de desfazimento de pleno direito do contrato de concessão, à semelhança do que ocorre com a extinção da concessionária ou falecimento ou incapacidade do titular, no caso de empresa individual. Abre-se um parêntese para esclarecer que a empresa ou firma individual não é pessoa jurídica, mas sim o nome adotado pela pessoa física para uso em seu comércio. Em razão disso, o falecimento ou incapacidade do titular, no caso de empresa individual, exceção feita à EIRELI, aplica-se restritivamente às permissões, pois as concessões não podem ser celebradas com pessoas naturais. 6.7. Intervenção Com o fim de assegurar a adequação na prestação do serviço e o fiel cumprimento das normas contratuais, no lugar de decretar a caducidade, o Poder Concedente pode promover a intervenção, designando o interventor, o prazo da intervenção e os objetivos da medida. A intervenção não é ato punitivo. Porém, fica assegurado o direito de ampla defesa. Comprovando-se que a intervenção não observou os pressupostos legais e regulamentares será declarada sua nulidade, devendo o serviço ser imediatamente devolvido à concessionária, sem prejuízo de seu direito à indenização pelos prejuízo eventualmente comprovados. 0 Curso Teórico de Direito Administrativo Prof. Cyonil Borges Profº. Cyonil Borges www.estrategiaconcursos.com.br 63 Depois do Decreto de Intervenção, o Poder Concedente tem o prazo de até 30 dias para instaurá-la. Uma vez instaurada, o procedimento administrativo deverá ser concluído no prazo máximo de até 180 dias, sob pena de considerar-se inválida a intervenção. Logo, entre a decretação e a conclusão da intervenção o prazo máximo é de 210 dias. Por fim, cessada a intervenção, há dois resultados possíveis: ou a administração do serviço é devolvida à concessionária, precedida de prestação de contas pelo interventor, ou há extinção por caducidade da concessão. 6.8. Licitações e Contratos O texto constitucional é expresso ao estabelecer que toda concessão ou permissão de serviços públicos seja precedida de licitação. Isso é tão contundente que o STJ, em reiterados julgados (Recurso Especial 734413, por exemplo), firmou o entendimento de que a permissão, não antecedida de procedimento licitatório, não dá direito à indenização, por eventuais prejuízos suportados em virtude de déficit nas tarifas. A licitação é um procedimento administrativo, e, enquanto tal, formada por um conjunto de atos encadeados, em sequência lógica, para um resultado final. A cada distinta sequência, o legislador atribui diversa modalidade de licitação. Por exemplo: se a licitação se destina à aquisição de bens e de serviços comuns, a modalidade é o Pregão. Se a licitação se dirige à alienação de bens móveis inservíveis, aplica-se o Leilão, e assim por diante. Nesse contexto, a Lei 8.987/1995 previu que a concorrência é a modalidade específica de licitação aplicável às concessões (inc. II e III do art. 2º). A seguir, três observações sobre o tópico: 1ª Não há determinação específica de modalidade para as permissões. A Lei exige a licitação prévia, mas sem determinar a modalidade própria (art. 40); 0 Curso Teórico de Direito Administrativo Prof. Cyonil Borges Profº. Cyonil Borges www.estrategiaconcursos.com.br 64 2ª Em provas de concursos é raro, mas há situação contida na Lei 9.472/1997 (§2º do art. 23) que autoriza a concessão sem licitação, no caso, em face da ausência de participantes (a licitação deserta ou frustrada); 3ª Em alguns casos, é possível o uso do leilão para concessão de serviços públicos. É o exemplo do leilão para promover a privatização, simultaneamente com a outorga de nova concessão. Isso consta do art. 27 da Lei 9.074/1995, tendo sido declarada constitucional pelo STF (ADI 1582). Entretanto, antes da licitação propriamente dita, uma série de estudos, levantamentos preliminares e outros deverá ser realizada pela Administração, pois a delegação de serviços públicos normalmente envolve riscos e valores elevados. Sobre o tema, a Lei 8.987/1995 dispõe: Art. 21. Os estudos, investigações, levantamentos, projetos, obras e despesas ou investimentos já efetuados, vinculados à concessão, de utilidade para a licitação, realizados pelo poder concedente ou com a sua autorização, estarão à disposição dos interessados, devendo o vencedor da licitação ressarcir os dispêndios correspondentes, especificados no edital. Note que essas informações ficam disponíveis a quem quer que seja. E isso é muito útil, pois o controle pode ser levado a efeito por aqueles que serão mais diretamente atingidos pela prestação do serviço: os integrantes da comunidade. Quanto ao edital do procedimento, os requisitos previstos pela Lei de Concessões são os mais diversos, como: I - o objeto, metas e prazo da concessão: a Lei não prevê os prazos mínimos e máximos das concessões. Por exemplo, há concessões com previsão de duração de 30 anos. É assim, pois o investimento efetuado pelo concessionário costuma ser expressivo, exigindo longo prazo de retorno; II - a descrição das condições necessárias à prestação adequada do serviço: lembre-se de que serviço adequado cumprirá, no mínimo, com os princípios elencados pela Lei, como cortesia, generalidade, segurança, continuidade e eficiência. III - as condições de liderança da empresa responsável, na hipóteseem que for permitida a participação de empresas em consórcio: a participação de empresas em consórcio é avaliação discricionária da Administração. Além disso, caso admitida a participação de consórcios, não será permitida a uma mesma empresa concorrer por mais de um consórcio, ou por um consórcio e também individualmente. Não faria sentido! A empresa competiria duas vezes! E mais: é preciso que seja indicada uma empresa para que se responsabilize pelo consórcio, sendo que o licitante vencedor ficará obrigado a constituir e registrar o consórcio, antes da celebração do contrato. IV - nos casos de concessão, a minuta do respectivo contrato, que conterá as cláusulas essenciais referidas no art. 23 desta Lei, quando aplicáveis: como a minuta do contrato já consta do edital de 0 Curso Teórico de Direito Administrativo Prof. Cyonil Borges Profº. Cyonil Borges www.estrategiaconcursos.com.br 65 licitação, os licitantes já sabem quais serão suas obrigações futuras. Por isso, a doutrina considera que os contratos de concessão são de adesão, que quer dizer elaborado por uma das partes (a Administração), aderido pela outra (o licitante que vencer). Quanto ao procedimento da licitação, cumpre anotar que a Lei 8.987/1995, em tom de modernidade, diz ser possível a inversão da das fases de habilitação e julgamento (art. 18-A). Assim, em vez de analisar a documentação de todos os licitantes, o Poder Público classifica as propostas, selecionando a melhor, e, finalmente, só do licitante melhor classificado, analisa o envelope com os documentos de habilitação. Evita-se, com isso, a “proliferação documental” inerente às licitações comuns. Ademais, frisa-se que os critérios de julgamento das propostas (chamados de tipos de licitação) são diferentes dos tipos previstos na Lei 8.666/1993 (art. 45). Essa diferença é compreensível, em razão das características do objeto da concessão (normalmente complexo e de grandes somas). De acordo com art. 15 da Lei 8.987/de 1995, são critérios para julgamento das propostas: I - o menor valor da tarifa do serviço público a ser prestado; II - a maior oferta, nos casos de pagamento ao poder concedente pela outorga da concessão; III - a combinação, dois a dois, dos critérios referidos nos incisos I, II e VII; IV - melhor proposta técnica, com preço fixado no edital; V - melhor proposta em razão da combinação dos critérios de menor valor da tarifa do serviço público a ser prestado com o de melhor técnica; VI - melhor proposta em razão da combinação dos critérios de maior oferta pela outorga da concessão com o de melhor técnica; ou VII - melhor oferta de pagamento pela outorga após qualificação de propostas técnicas. Para melhor visualização, façamos um quadro comparativo entre os tipos de licitação da Lei de Concessões e da Lei 8.666/1993, a seguir: Tipos de Licitação (critérios de julgamento) Lei 8.666/1993 Lei 8.987/1995 Menor Preço Menor Valor da Tarifa Melhor Técnica Melhor Oferta de Pagamento, depois da qualificação técnica 0 Curso Teórico de Direito Administrativo Prof. Cyonil Borges Profº. Cyonil Borges www.estrategiaconcursos.com.br 66 Técnica e Preço Melhor Técnica + Preço fixado no Edital e Menor Tarifa + Melhor Técnica Maior Lance ou Oferta Maior Oferta Sem correspondente Maior Oferta + Melhor Técnica Outro importante detalhe de prova é que, em caso de empate, será dada preferência à empresa brasileira, nos termos do § 4º do art. 15 da Lei. Por fim, cumpre registrar que será desclassificada a proposta que, para sua viabilização, necessite de vantagens ou subsídios que não estejam previamente autorizados em lei e à disposição de todos os concorrentes. De fato, tem de ser assim, ao contrário teríamos potencial afronta ao princípio da isonomia, pois alguns se beneficiariam de vantagens não extensíveis a outros. 0