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AmbientAl Prof.ª Andressa Vigne Xavier Prof.ª Luisa de Moura Leão GeotecniA Indaial – 2022 1a Edição Impresso por: Elaboração: Prof.ª Andressa Vigne Xavier Prof.ª Luisa de Moura Leão Copyright © UNIASSELVI 2022 Revisão, Diagramação e Produção: Equipe Desenvolvimento de Conteúdos EdTech Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI Ficha catalográfica elaborada pela equipe Conteúdos EdTech UNIASSELVI C397 CENTRO UNIVERSITÁRIO LEONARDO DA VINCI. Núcleo de Educação a Distância. Xavier, Andressa Vigne. Geotecnia Ambiental. Andressa Vigne Xavier; Luisa de Moura Leão. Indaial - SC: UNIASSELVI, 2022. 239 p. ISBN 978-65-5646-463-3 ISBN Digital 978-65-5646-464-0 “Graduação - EaD”. 1. Geotecnia 2. Ambiental 3. Centro Universitário Leonardo da Vinci CDD 624.151 Bibliotecário: João Vivaldo de Souza CRB- 9-1679 Olá, estudante! A Geotecnia Ambiental é uma disciplina advinda da Geotecnia, que se aplica aos problemas ambientais atuais relacionados ao solo. Trata-se de uma ciência, de certa forma, recente, que se aliou às necessidades do mundo moderno: disposição de resíduos sólidos, contaminação de solos e águas subterrâneas, movimentos de massa sob ações antrópicas e outros. Na Unidade 1, veremos os conceitos básicos da Geotecnia Ambiental e o seu fundamento principal de análise, que é a concepção dos movimentos de massa em taludes de solo e/ou rocha. Para tanto, aprenderemos os cálculos de resistência ao cisalhamento de taludes. Essa formulação dá ao engenheiro a confirmação ou não da estabilidade daquele maciço. No caso de não haver estabilidade confirmada, parte-se para a avaliação de riscos geotécnicos e geológicos, bem como a tomada de decisão para mitigação dos riscos prováveis. Em seguida, na Unidade 2, estudaremos os processos geológicos comuns e os agravantes relacionados às ações antrópicas. Também veremos as principais difi- culdades e degradações causadas por processos minerários, barragens, lixões, aterros controlados e rodovias. Entenderemos, ainda, como se dá a aplicação de geossintéticos para minimização, controle e/ou mitigação de danos em Geotecnia. Por fim, na Unidade 3, aprenderemos noções de como se avalia a contaminação do solo por agentes químicos e as formas de remediação. Além disso, entenderemos mais sobre a legislação aplicável aos projetos de disposição de resíduos sólidos, os principais aspectos da construção de barragens, diques e outros aterros, assim como a respeito dos projetos de contenção de áreas propensas à instabilização. Bons estudos! Prof.ª Andressa Vigne Xavier Prof.ª Luisa de Moura Leão APRESENTAÇÃO GIO Olá, eu sou a Gio! No livro didático, você encontrará blocos com informações adicionais – muitas vezes essenciais para o seu entendimento acadêmico como um todo. Eu ajudarei você a entender melhor o que são essas informações adicionais e por que você poderá se beneficiar ao fazer a leitura dessas informações durante o estudo do livro. Ela trará informações adicionais e outras fontes de conhecimento que complementam o assunto estudado em questão. Na Educação a Distância, o livro impresso, entregue a todos os acadêmicos desde 2005, é o material-base da disciplina. A partir de 2021, além de nossos livros estarem com um novo visual – com um formato mais prático, que cabe na bolsa e facilita a leitura –, prepare-se para uma jornada também digital, em que você pode acompanhar os recursos adicionais disponibilizados através dos QR Codes ao longo deste livro. O conteúdo continua na íntegra, mas a estrutura interna foi aperfeiçoada com uma nova diagramação no texto, aproveitando ao máximo o espaço da página – o que também contribui para diminuir a extração de árvores para produção de folhas de papel, por exemplo. Preocupados com o impacto de ações sobre o meio ambiente, apresentamos também este livro no formato digital. Portanto, acadêmico, agora você tem a possibilidade de estudar com versatilidade nas telas do celular, tablet ou computador. Preparamos também um novo layout. Diante disso, você verá frequentemente o novo visual adquirido. Todos esses ajustes foram pensados a partir de relatos que recebemos nas pesquisas institucionais sobre os materiais impressos, para que você, nossa maior prioridade, possa continuar os seus estudos com um material atualizado e de qualidade. Acadêmico, você sabe o que é o ENADE? O Enade é um dos meios avaliativos dos cursos superiores no sistema federal de educação superior. Todos os estudantes estão habilitados a participar do ENADE (ingressantes e concluintes das áreas e cursos a serem avaliados). Diante disso, preparamos um conteúdo simples e objetivo para complementar a sua compreensão acerca do ENADE. Confira, acessando o QR Code a seguir. Boa leitura! 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Acesse o QR Code, que levará ao AVA, e veja as novidades que preparamos para seu estudo. Conte conosco, estaremos juntos nesta caminhada! QR CODE SUMÁRIO UNIDADE 1 — ASPECTOS DE GEOTECNIA AMBIENTAL .........................................1 TÓPICO 1 — GEOTECNIA AMBIENTAL DE SOLOS TROPICAIS ............................... 3 1 INTRODUÇÃO ........................................................................................................ 3 2 DETERMINAÇÃO DE PARÂMETROS AMBIENTAIS DE SOLOS TROPICAIS .......4 2.1 CARACTERIZAÇÃO GEOTÉCNICA..................................................................................... 4 2.2 MINERALOGIA DAS ARGILAS .......................................................................................... 8 2.3 SOLOS COLAPSÁVEIS E EXPANSÍVEIS ...........................................................................9 RESUMO DO TÓPICO 1 .......................................................................................... 13 AUTOATIVIDADE ................................................................................................... 14 TÓPICO 2 — MOVIMENTOS DE MASSA ..................................................................17 1 INTRODUÇÂO .......................................................................................................17 2 RESISTÊNCIA AO CISALHAMENTO................................................................... 18 3 ESTABILIDADE DE TALUDES E ENCOSTAS ......................................................22 4 EMPUXOS DE TERRA .........................................................................................32 5 TÉCNICAS DE ESTABILIZAÇÃO ........................................................................34 6 RESÍDUOS, REJEITOS E ESTÉREIS ..................................................................36 6.1 CARACTERIZAÇÃO GEOTÉCNICA .................................................................................. 36 6.2 SISTEMAS DE DISPOSIÇÃO ............................................................................................38 RESUMO DO TÓPICO 2 ..........................................................................................43 AUTOATIVIDADE .................................................................................................. 44 TÓPICO3 — RISCOS GEOLÓGICOS E GEOTÉCNICOS ......................................... 47 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................... 47 2 AVALIAÇÃO DE RISCO ....................................................................................... 47 3 INSTRUMENTAÇÃO GEOTÉCNICA ....................................................................52 3.1 MEDIDORES DE NÍVEL D’ÁGUA (INAs) .......................................................................... 55 3.2 MEDIDORES DE POROPRESSÃO (PZs) .........................................................................57 3.3 MEDIDORES DE DESLOCAMENTOS .............................................................................. 62 LEITURA COMPLEMENTAR ..................................................................................65 RESUMO DO TÓPICO 3 .......................................................................................... 72 AUTOATIVIDADE ................................................................................................... 73 REFERÊNCIAS ....................................................................................................... 75 UNIDADE 2 — CONTROLE AMBIENTAL NA GEOTECNIA ...................................... 81 TÓPICO 1 — IMPACTOS NA GEOTECNIA AMBIENTAL E PROCESSOS DE CONTROLE ...................................................................................83 1 INTRODUÇÃO ......................................................................................................83 2 AÇÕES ANTRÓPICAS IMPACTANTES AOS SOLOS E ÀS ROCHAS ...................83 2.1 IMPACTO DAS CIDADES ..................................................................................................84 2.2 IMPACTO DA AGRICULTURA ...........................................................................................86 2.3 IMPACTO DAS ATIVIDADES DE MINERAÇÃO ............................................................. 87 2.4 SETOR DA CONSTRUÇÃO CIVIL E SEUS IMPACTOS .................................................89 3 TÉCNICAS DE CONSERVAÇÃO DE SOLOS E ROCHAS ..................................... 91 3.1 CONSERVAÇÃO DE SOLOS ...............................................................................................91 3.2 CONSERVAÇÃO DAS ROCHAS ....................................................................................... 95 4 EROSÃO E ASSOREAMENTO EM ÁREAS URBANAS E RURAIS: FORMAÇÃO, CONSEQUÊNCIAS E FORMAS DE CONTROLE ............................. 97 4.1 PROCESSOS EROSIVOS ....................................................................................................97 4.2 IMPACTOS AMBIENTAIS DE PROCESSOS EROSIVOS .............................................. 101 4.3 PROCESSOS DE ASSOREAMENTO ............................................................................ 102 RESUMO DO TÓPICO 1 ........................................................................................103 AUTOATIVIDADE .................................................................................................104 TÓPICO 2 — CONTROLE AMBIENTAL ................................................................. 107 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................... 107 2 CONTROLE AMBIENTAL NA EXTRAÇÃO DE AREIA, NAS PEDREIRAS E NA EXTRAÇÃO MINERAL .............................................................................. 107 2.1 IMPACTOS DA MINERAÇÃO NOS COMPARTIMENTOS AMBIENTAIS .................... 109 2.2 INSTRUMENTOS DE CONTROLE DAS ATIVIDADES MINERADORAS .................... 110 3 CONTROLE AMBIENTAL NA DISPOSIÇÃO DE RESÍDUOS .............................. 113 3.1 CLASSIFICAÇÃO DOS RESÍDUOS .................................................................................. 114 3.2 TRATAMENTO DE RESÍDUOS ......................................................................................... 116 4 CONTROLE AMBIENTAL EM LAVOURAS ..........................................................119 4.1 TECNOLOGIAS AMBIENTALMENTE CORRETAS NAS ATIVIDADES AGRÍCOLAS .....122 5 USO DE GEOSSINTÉTICOS EM PROBLEMAS AMBIENTAIS ........................... 125 5.1 TIPOS DE GEOSSINTÉTICOS .......................................................................................... 126 RESUMO DO TÓPICO 2 .........................................................................................131 AUTOATIVIDADE ................................................................................................. 132 TÓPICO 3 — IMPACTO AMBIENTAL DE OBRAS GEOTÉCNICAS E FORMAS DE REMEDIAÇÃO ............................................................................ 135 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................... 135 2 RODOVIAS ........................................................................................................ 136 3 BARRAGENS .................................................................................................... 141 4 LIXÕES E ATERROS CONTROLADOS ..............................................................145 4.1 TIPOS DE REMEDIAÇÃO ..................................................................................................147 4.2 REALIDADE DO BRASIL E DO MUNDO ........................................................................ 151 LEITURA COMPLEMENTAR ................................................................................ 153 RESUMO DO TÓPICO 3 ........................................................................................ 162 AUTOATIVIDADE ................................................................................................. 163 REFERÊNCIAS ..................................................................................................... 165 UNIDADE 3 — PROJETOS EM GEOTECNIA AMBIENTAL ....................................171 TÓPICO 1 — PROJETOS EM GEOTECNIA AMBIENTAL ....................................... 173 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................... 173 2 ESCOLHA DE MATERIAIS .................................................................................177 2.1 PROBLEMAS COM SOLOS GROSSOS .......................................................................... 181 2.2 PROBLEMAS COM SOLOS FINOS ................................................................................ 183 2.3 PROBLEMAS COM ROCHAS ........................................................................................ 184 3 ESCOLHA DE ÁREAS ........................................................................................186 3.1 ÁREAS PARA ATERROS SANITÁRIOS .......................................................................... 186 3.2 ÁREAS PARA BARRAGENS ........................................................................................... 188 RESUMO DO TÓPICO 1 ........................................................................................190 AUTOATIVIDADE ..................................................................................................191 TÓPICO 2 — NOÇÕES DE PROJETOS EM GEOTECNIA AMBIENTAL ................. 193 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................... 193 2 REMEDIAÇÃO DE SOLOS CONTAMINADOS .................................................... 193 2.1 FONTES DE CONTAMINAÇÃO ....................................................................................... 194 2.2 MÉTODOS DE REMEDIÇÃO .......................................................................................... 195 3 DISPOSIÇÃO DE RESÍDUOS SÓLIDOS MUNICIPAIS ...................................... 197 3.1 LIXÕES ................................................................................................................................197 3.2 ATERROS CONTROLADOS ............................................................................................199 3.3 ATERROS SANITÁRIOS ................................................................................................... 199 4 CONTRUÇÃO DE BARRAGENS, DIQUES E ATERROS .....................................201 RESUMO DO TÓPICO 2 ........................................................................................207 AUTOATIVIDADE ................................................................................................ 208 TÓPICO 3 — NOÇÕES DE PROJETOS DE CONTENÇÃO E ESTABILIZAÇÃO DE ENCOSTAS ................................................................................. 211 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................... 211 2 ESTRUTURAS DE CONTENÇÃO ...................................................................... 211 3 MÉTODOS DE ESTABILIZAÇÃO ...................................................................... 215 3.1 ESTABILIZAÇÃO MECÂNICA DE SOLOS .......................................................................215 3.2 ESTABILIZAÇÃO QUÍMICA DE SOLOS ..........................................................................217 LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................... 223 RESUMO DO TÓPICO 3 ........................................................................................ 231 AUTOATIVIDADE ................................................................................................ 232 REFERÊNCIAS .................................................................................................... 235 1 UNIDADE 1 — ASPECTOS DE GEOTECNIA AMBIENTAL OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM PLANO DE ESTUDOS A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de: • entender os conceitos-base da Geotecnia Ambiental; • definir a existência de movimentos de massa inerentes aos indícios de instabilidade e calcular a resistência ao cisalhamento de solos para avaliação da estabilidade; • delimitar a diferença entre os conceitos de resíduos, rejeitos e estéreis, bem como as formas aceitas de disposição; • avaliar riscos geotécnicos e geológicos, assim como a interpretação da instrumenta- ção geotécnica. A cada tópico desta unidade você encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo apresentado. TÓPICO 1 - GEOTECNIA AMBIENTAL DE SOLOS TROPICAIS TÓPICO 2 - MOVIMENTOS DE MASSA TÓPICO 3 - RISCOS GEOTÉCNICOS E GEOLÓGICOS Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos em frente! Procure um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá melhor as informações. CHAMADA 2 CONFIRA A TRILHA DA UNIDADE 1! Acesse o QR Code abaixo: 3 GEOTECNIA AMBIENTAL DE SOLOS TROPICAIS TÓPICO 1 — UNIDADE 1 1 INTRODUÇÃO A Geotecnia Ambiental é um ramo de estudo da Engenharia Geotécnica que aborda a geotecnologia aplicada a construções diversas. O engenheiro geotécnico tem um trabalho composto de investigação, levando em conta os aspectos socioeconômicos, ambientais e operacionais de uma região de estudo. Todas essas condições são inerentes ao entendimento da viabilidade de Engenharia, principalmente no que diz respeito à qualidade do solo para determinada construção. Um exemplo é quando estudamos sobre aterros sanitários: existem condições técnicas específicas para a escolha de áreas adequadas para a construção, de modo que beneficie o transporte, a coleta e a manutenção do local. No caso de obras lineares, podem ser delimitadas as obras de arte especiais, como dutovias, ferrovias, rodovias, túneis, canais e linhas de transmissão. Para todas essas estruturas, são necessárias avaliações de fundações e contenções (cortinas atirantadas, solos grampeados, muros de arrimo, estacas e outros) ao longo do traçado, que são abordadas em Geotecnia Ambiental. O desenvolvimento urbano, no âmbito de áreas de risco, também é um objeto de estudo quanto à suscetibilidade ao deslizamento e às inundações, bem como o monitoramento geotécnico de taludes em instrumentação típica e o melhoramento de áreas contaminadas. Especificamente no caso da mineração, a Geotecnia Ambiental se expande para acompanhar todo o processo de retirada de minérios, deposição de rejeitos, estudos de risco de ruptura de barragens, modelagens geomecânicas de cavas e estudos de viabilidade de exploração de jazidas. Assim, neste primeiro tópico, avaliaremos a base da Geotecnia Ambiental, que é a determinação de parâmetros de solo, especificamente, em territórios tropicais; a movimentação de massa e a resistência ao cisalhamento; a abordagem de rejeitos, estéreis e resíduos; além da avaliação de risco em Geotecnia a partir de instrumentação e outras frentes. 4 2 DETERMINAÇÃO DE PARÂMETROS AMBIENTAIS DE SOLOS TROPICAIS O território brasileiro está sob a condição do clima tropical, o que propicia a formação de solos específicos. No caso das obras de terra relacionadas a esses solos, o comportamento também é diferenciado, especialmente no caso de solos saprolíticos e lateríticos. O solo saprolítico é aquele que ainda apresenta estruturas da rocha-mãe do qual foi derivado, tendo o seu horizonte superficial bem mais evoluído em termos de solo do que os mais profundos (rocha alterada), sendo considerado residual. No outro caso, o solo laterítico tem uma evolução mais intensa relaciona a todo o seu perfil. Geralmente, é um solo residual ou transportado, derivado de diversos materiais. A formação de ambos é objeto dos processos de intemperismo direto ao clima: alta temperatura e ação da chuva, o que os tornam diferentes quanto à classificação adotada em outros países de clima temperado. Por se tratar de solos considerados “velhos” ou “maduros”, pois apresentam decomposição concluída, têm uma estrutura que visa quimicamente à cimentação e proporciona um elemento interessante de ser estudado para obras geotécnicas. Precursores do estudo de solos tropicais, Nogami e Villibor (1995) entendem que uma parcela dos finos, em solos lateríticos, está agregada, formando uma estrutura de aspecto esponjoso, de alta permeabilidade e comportamento colapsável. No caso dos solos saprolíticos, o comportamento dos finos é expansível devido à presença de argilominerais expansivos, a exemplos da montmorilonita e da ilita. 2.1 CARACTERIZAÇÃO GEOTÉCNICA A caracterização geotécnica específica para solos tropicais se difere das usuais Transportation Research Board (TRB - pavimentos rodoviários) e Classificação Unificada de Arthur Casagrande (SUCS - barragens). Para solos tropicais, é recomendada a utilização da classificação Miniatura, Compactado, Tropical (MCT), proposta por Nogami e Villibor (1995). Tal metodologia se apresenta com a determinação de propriedades a partir de corpos de prova compactados e moldados com 50 mm de diâmetro e 130 mm de altura. É aplicada somente a solos finos (aqueles que passam na peneira de 2mm - #10) e permite entender, especificamente, três características de solos tropicais: permeabilidade, contração e penetração. 5 De acordo com Araújo e Dantas Neto (2014, p. 3, grifos nossos), essa metodologia: […] incide na escolha de ensaios que podem ser o ensaio de Mini- MCV (Moisture Condition Value), avaliação da perda de massa por imersão (verifica se o solo é colapsável/expansivo) pelo Mini-CBR, e a compactação em miniatura com um equipamento conhecido como Mini Proctor. A campanha de ensaios Mini-MCV nos permite avaliar o teor de umidade a partir de energias crescentes para chegar a um peso específico máximo. A metodologia MCT, em seu início, veio trazer a oportunidade de construir pavimentos com solos tropicais com custo menor, em vista da laterização. Nesse sentido, vários estudos foram feitos para avaliar a viabilidade de alguns solos em pavimentos rodoviários. Para saber mais, acesse o link: http://twixar.me/ XdMm. Acesso em: 20 set. 2022. INTERESSANTEOs procedimentos desse e de outros ensaios são determinados por normas do Departamento Nacional de Estradas de Rodagem (DNER), predecessor do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT), a saber: • DER/SP M196/89: classificação de solos tropicais segundo a metodologia MCT; • DER/SP M191/88: ensaio de compactação de solos em equipamento miniatura; • DER/SP M192/89: determinação do índice do suporte de Mini-CBR e de expansão de solos compactados com equipamento miniatura; • DNER-ME 228/94: solos - compactação em equipamento miniatura; • DNER-ME 256/94: solos compactados com equipamento miniatura - determinação da perda de massa por imersão; • DNER-ME 258/94: solos compactados em equipamento miniatura - Mini-MCV; • DNER-CLA 259/96: classificação de solos tropicais para finalidades rodoviárias utilizando corpos-de-prova compactados em equipamento miniatura. 6 Figura 1 – Grupo de ensaios na metodologia MCT Fonte: Adaptada de DNER (1996) De acordo com a norma DNER-CLA 259 (1996), os resultados dos ensaios são alocados em tabela em que foram propostos dois grupos de solo: os de comportamento laterítico (L) e os de comportamento não laterítico (N), com seus subgrupos. Metodologia MCT Campanha de Mini-CBR Campanha de Mini-MCV Campanha in situ Ensaio de compactação Mini-Proctor Ensaio de compactação Mini-MCV Ensaio de perda de massa por imersão Expansão e contração Mini-CBR com penetrômetro Mini-CBR com controle de umidade Mini-CBR convencional 7 Ta be la 1 – Cl as si fic aç ão d e so lo s tr op ic ai s se gu nd o a m et od ol og ia M CT Fo nt e: A da pt ad a de D N ER (1 99 6) C L A S S E S N - S O L O S D E C O M P O R TA M E N T O N Ã O L A T E R ÍT IC O L - S O L O S D E C O M P O R TA M E N T O L A T E R ÍT IC O G R U P O S N A A R E IA S N A’ A R E N O S O S N S ’ S IL TO S O S N G ' A R G IL O S O S LA A R E IA S LA ' A R E N O S O S LG ' A R G IL O S O S C LA S S E S G R A N U LO M É TR IC A S T ÍP IC A S A re ia s, a re ia s si to sa s e si lte s A re ia s si lto sa s e ar ei as a rg ilo sa s S ilt es , s ilt es ar en os os e s ilt es ar gi lo so s A rg ila s, a rg ila s ar en os as e ar gi la s si lto sa s A re ia s co m po u ca a rg ila A re ia s ar gi lo sa s e ar gi la s ar en os as A rg ila s e ar gi la s ar en os as C A P A C ID A D E D E S U P O R TE M IN I- C B R S E M E M B IB IÇ Ã O (% ) M U IT O A LT O > 3 0 A LT A A M É D IA A LT A M É D IA A A LT A A LT A A LT A A LT A A M U IT O A LT A A LT A A LT O 1 2- 30 M É D IO 4 -1 2 B A IX O < 4 M IN I- C B R C O M P E R D A D E S U P O R TE P O R IM E B IÇ Ã O A LT A > 7 0 M É D IA A B A IX A B A IX A A LT A A LT A B A IX A B A IX A B A IX A M É D IA 4 0 -7 0 B A IX A < 4 0 E X P A N S Ã O (% ) A LT A > 3 B A IX A B A IX A A LT A A LT A A M É D IA B A IX A B A IX A B A IX A M É D IA O ,5 - 3 C O N TR A Ç Ã O (% ) M É D IA O ,5 - 3 B A IX A A M É D IA B A IX A A M É D IA M É D IA A LT A A M É D IA B A IX A B A IX A A M É D IA M É D IA A A LT A B A IX A < 0 .5 P E R M E A B IL ID A D E lo g K (c m /s ) A LT A (> - 3) M É D IA A A LT A B A IX A M É D IA A B A IX A B A IX A A M É D IA M É D IA A B A IX A B A IX A B A IX A M É D IA (- 3 AT É - 6) B A IX A (< - 6) P LA S TI C ID A D E IP (% ) LL (% ) B A IX A A N P M É D IA A N P M É D IA A A LT A A LT A N P A B A IX A B A IX A A M É D IA M É D IA A A LT A A LT A > 30 > 70 M É D IA 7 - 30 30 - 7 0 B A IX A < 7 < 30 8 O método de Nogami e Villibor (1995) foi readaptado por Vertamatti (1988), que adicionou à classificação os solos transicionais, como os coluvionares, criando a classificação MCT-M, que dividiu os solos tropicais em mais grupos, especificamente, os de comportamento de transição: 1. NA (areia não laterítica); 2. NG’ (solo argiloso não letrítico); 3. NS’ (solos siltosos não lateríticos); 4. NS´G’ (solo silto-argiloso não laterítico); 5. TA’ (solo arenoso transicional); 6. TA’G’ (solo areno-argiloso transicional); 7. TG’ (solo argiloso transicional); 8. LA (areia laterítica); 9. LA’ (solo arenoso laterítico); 10. LA’G’ (solo areno-argiloso laterítico); 11. LG’ (solo argiloso laterítico). Por fim, podemos entender que as metodologias usuais do Sistema Unificado de Arthur Casagrande e do Sistema TRB (Transportation Research Board, da AASHTO) foram desenvolvidas em território de clima predominantemente temperado, que origina solos menos intemperizados (arenosos, siltosos). Dessa forma, entende-se que a classificação MCT tem a capacidade de aferir melhor as condições de solos para países como o Brasil, de solos muito intemperizados, maduros e de fração predominante de argila, como nos saprólitos e lateritas, além da presença de argilominerais em grande quantidade. 2.2 MINERALOGIA DAS ARGILAS De acordo com o Branco (2014), argila é o nome dado à partícula de solo com dimensões abaixo de 1/256 milímetros (4 micrômetros) de diâmetro, todos, porém, são filossilicatos (silicatos que formam lâminas). São estruturas em camadas de agrupamentos de tetraedros de sílica e octaedros de alumínio que surgem em diferentes arranjos, de acordo com o tipo de argilomineral, são macios e com dureza 2 na escala de Mohs. O artigo a seguir apresenta um compilado de informações sobre a classificação mineral diante dos aspectos geológicos apresentados por eles. Dentro da escala de Mohs, os minerais podem ser classificados com relação à dureza do diamante (mais duro, que risca outros materiais) até o talco (pouco duro, suscetível à riscos com a unha). Aprenda um pouco mais sobre o assunto no link: https://sgbeduca.cprm.gov.br/media/adultos/propriedades_ minerais.pdf. Acesso em: 20 set. 2022. DICA https://sgbeduca.cprm.gov.br/media/adultos/propriedades_minerais.pdf https://sgbeduca.cprm.gov.br/media/adultos/propriedades_minerais.pdf 9 De acordo com Victoria (2018), o principal componente das argilas são os argilominerais, que têm características distintas conforme sua estrutura cristalina e suas propriedades físico-químicas, e elas têm a capacidade de tornar as argilas mais ou menos plásticas. A Figura 2, a seguir, traz a estrutura típica de argilominerais que apresentam estruturas placoides, de empilhamento regular entre as folhas dos tetraedros de silício e octaedros de alumínio, sendo subdivididos em alguns grupos. Figura 2 - Estrutura organizacional de argilominerais Fonte: Victoria (2018, p. 23) O grupo da caulinita apresenta estrutura regular (1:1), sem a presença de água entre as folhas, logo, não tem expansividade. Já o grupo da esmectita admite a água interlamelar (2:1), que infere alta expansividade e plasticidade ao material. Por sua vez, o grupo da ilita admite água interlamelar em menor quantidade. 2.3 SOLOS COLAPSÁVEIS E EXPANSÍVEIS O início do estudo dos solos expansíveis se deu com o conhecimento do chamado massapê baiano, em que os solos expansíveis são causados por fenômenos complexos físico-químicos, que causam a tensão de expansão desse tipo de solo quando reage com partículas de água. Esse fenômeno está associado à presença de 10 argilominerais dos grupos 2:1, tendo como principais representantes a montmorilonita e a ilita, que apresentam expansividade maior do que os outros grupos devido ao desbalanceamento de cargas iônicas. A propriedade mais importante dos argilominerais expansivos é a capacidade de mudar de volume pela absorção de moléculas de água ou outros íons polares em sua estrutura. Eles apresentam alta Capacidadede Troca Catiônica (CTC), sendo que a atração das partículas de água aumenta o volume da estrutura. O tratamento desse tipo de solo é feito com a adição de substâncias de pH alto para reagir com a CTC presente no solo e fazer com que este se mantenha mais estável. Com a leitura do artigo a seguir será possível entender como se dá a estabilização química com solos expansivos a partir das reações químicas de floculação, carbonatação e cimentação, a depender do caso, mas sempre relacionado à fração de partículas de argila. Acesse o link: https://www.abge. org.br/downloads/revistas/RevistaABGE_Propriedades_geootecnicas.pdf. Acesso em: 20 set. 2022. DICA De acordo com Soares, Soares e Conterato (2013), os solos expansivos são de difícil identificação, pois a expansão não depende unicamente das propriedades intrínsecas do solo, mas, também, das condições em que se encontram e das lhe são impostas. A avaliação de suscetibilidade ao colapso desse tipo de solo está ligada aos ensaios de adensamento (ensaios edométricos) e avaliação de deformações volumétricas. Bowles (1977) criou uma escala de avaliação de expansividade com base na alta atividade das argilas, conforme podemos observar na tabela a seguir: Tabela 2 – Potencial de expansão Fonte: adaptada de Bowles (1977) Potencial de expansão IP IC LL Baixo < 18 > 15 20 a 35 Médio 15 a 28 10 a 15 35 a 50 Alto 25 a 41 7 a 12 50 a 70 Muito alto > 35 < 11 > 70 https://www.abge.org.br/downloads/revistas/RevistaABGE_Propriedades_geootecnicas.pdf https://www.abge.org.br/downloads/revistas/RevistaABGE_Propriedades_geootecnicas.pdf 11 A classificação de expansão de Bowles (1977), portanto, leva em conta os resultados de ensaios de limites de consistência (ou limites de Atterberg), na forma do Índice de Plasticidade (IP), Índice de Contração (IC) e Limite de Liquidez (LL). Os solos colapsáveis, como os lateríticos, são solos que, em estado natural, não se mantêm saturados, mas, quando umedecidos, apresentam recalque (redução de volume), sendo que tal comportamento pode gerar danos às estruturas neles apoiadas. O estudo de solos colapsáveis, no Brasil, começou na década de 1970, com o advento dos projetos de grandes barragens para os quais se encadeavam grandes fundações. São solos mais comuns na região centro-sul brasileira e no nordeste do país. A sua deposição pode se dar de forma aluvionar, coluvionar e residual. Você sabe qual é a diferença dos solos transportados classificados como alúvio, colúvio e residuais? Saiba mais sobre essa classificação com a leitura do artigo a seguir, que aborda como esses solos são denominados de acordo com o meio no qual são transportados. Acesse o artigo no link: https://www.geografiaopinativa.com.br/2017/09/eluvio- coluvio-e-aluviao.html. Acesso em: 20 set. 2022. INTERESSANTE Em geral, são solos bastante porosos que se caracterizam pelo alto índice de vazios e pela criação visível de macroporos. Quando a água se insere em seu sistema, existe um rearranjo da estrutura, diminuindo o seu volume gradual rapidamente diante da existência de carga aplicada. Conforme apresentado anteriormente, a formação do solo colapsável pelo meio de transporte atribui a ele características próprias para as quais é identificado. O quadro na sequência apresenta um resumo dessas diferenças. Acompanhe! https://www.geografiaopinativa.com.br/2017/09/eluvio-coluvio-e-aluviao.html https://www.geografiaopinativa.com.br/2017/09/eluvio-coluvio-e-aluviao.html 12 Quadro 1 – Solos residuais e suas características Formação Meio de deposição Características Coluvionar Vento Pela deposição por gravidade, tem alto índice de vazios, baixa densidade e pouca ou nenhuma coesão. Aluvionar Água Formado pela corrida da água da chuva e pelo carregamento de partículas. Os materiais são depositados em áreas baixas de drenagem. A água é evaporada antes de uma nova deposição o que o torna mal consolidado, de alto índice de vazios e alto teor de argila. Residual Decomposição da rocha in situ A decomposição se mantém no local de origem da rocha-mãe e, geralmente, é desenvolvida por processos de lixiviação dos sais solúveis do composto. Para tanto, é necessária a atuação das chuvas e a ação da drenagem interna, para que a chuva se infiltre. Fonte: a autora Para determinar se o solo de um local é colapsável, são feitos ensaios de forma direta e indireta. Os métodos diretos são aqueles de aplicação de carga direta no material saturado e avaliação da mudança de forma. No caso dos métodos indiretos, são feitas avaliações de caracterização da amostra relacionadas aos índices físicos e à qualificação quanto aos limites de consistência da amostra. O artigo a seguir apresenta um compilado de situações e correções que podem ser adotadas para uso em recalques e trincas de solos colapsáveis. Aprenda um pouco mais sobre o assunto acessando o link: https://recima21.com.br/index.php/recima21/article/view/535. Acesso em: 20 set. 2022. DICA https://recima21.com.br/index.php/recima21/article/view/535 13 Neste tópico, você aprendeu: • O que é Geotecnia Ambiental e a definição de solos tropicais, entendendo que a formação de solos em ambiente de clima quente os torna totalmente diferentes daqueles formados em clima temperado. A classificação MCT visa atribuir condições melhores de classificação desses solos para obras geotécnicas no país. • A mineralogia das argilas, a partir da presença de camadas interpostas (filossilicatos), que influem na retenção de água entre lamelas e, consequentemente, na expansão do material com a presença da água. • A existência de solos colapsáveis e expansíveis em climas tropicais, formados pela peculiaridade do intemperismo nesses lugares e o conhecimento das limitações de cada um frente a obras geotécnicas. • A formação dos principais tipos de solos residuais sob agentes transportantes, suas características e os cuidados de manuseio frente ao seu meio de deposição e a característica de inconsolidação no meio depositado. RESUMO DO TÓPICO 1 14 AUTOATIVIDADE 1 A classificação de solos tropicais MCT se mostrou uma alternativa para a adequação de solos criados em clima quente, diferentemente dos estudados em países como os EUA, que fundamentou o método TRB. No entanto, a mitologia foi aprimorada ao longo dos anos. Sobre a classificação de solos tropicais MCT-M, quanto ao que ele adicionou ao método tradicional, assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) Solos transicionais. b) ( ) Mineralogia das argilas. c) ( ) Tamanhos de partícula. d) ( ) Capacidade de suporte. 2 A instrumentação geotécnica subsidia a tomada de decisões, sobretudo quando se pretende acompanhar uma estrutura para verificar seu nível de risco. Dentre os vários instrumentos, existem aplicabilidades na análise destes dentro dos maciços. Com base nas definições dos enfoques de instrumentação geotécnica, analise as sentenças a seguir: I- Os solos aluvionares são aqueles formados pelas corridas de água e depostos, geralmente, em leitos de drenagem. São secos antes da sua consolidação e, por isso, têm alto índice de vazios. II- Os solos residuais são aqueles advindos da rocha-mãe e que se distribuem com a ação dos ventos para outros locais. III- Os solos coluvionares são aqueles depostos pela ação da gravidade e, por isso, têm alto índice de vazios. Assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) As sentenças I e II estão corretas. b) ( ) Somente a sentença II está correta. c) ( ) As sentenças I e III estão corretas. d) ( ) Somente a sentença III está correta. 3 O ensaio MCT é robusto em termos de execução e possui normas brasileiras que o conduzem para a realização adequada. Nele, o laboratorista pode optar por algumas campanhas de ensaios para averiguação,dentre outras coisas, da possibilidade de colapso ou da expansão do solo frente à imersão. Para a indicação das campanhas de ensaios na metodologia MCT, classifique V para as sentenças verdadeiras e F para as falsas: 15 ( ) Mini-MCV. ( ) Mini-Proctor. ( ) Mini-CBR. ( ) Campanha in situ. Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA: a) ( ) V - F - F - V. b) ( ) V - F - V - V. c) ( ) F - V - F - V. d) ( ) F - F - V - F. 4 Os solos tropicais têm uma classificação diferente daquela que usualmente conhecemos para construção de estradas (TRB) e para construção de barragens (SUCs). Isso se dá porque os solos tropicais apresentam diferentes origens frente à aceleração do intemperismo propagado nesses locais, diferentemente dos solos em locais de clima frio. Sendo assim, disserte sobre a ação do intemperismo, que precede a criação dos solos tropicais. 5 No estudo de solos tropicais, conhecer o perfil de intemperização é necessário para a indicação da qualificação do solo e da caracterização deste quanto à expansividade e colapsabilidade, dois problemas muito sérios quando se leva em conta a construção de fundações. Nesse contexto, disserte sobre as diferenças entre solos lateríticos e saprolíticos. 16 17 MOVIMENTOS DE MASSA UNIDADE 1 TÓPICO 2 — 1 INTRODUÇÂO Os solos são constituídos de partículas e forças aplicadas a eles, transmitidas de partícula a partícula, além das que são suportadas pela água dos vazios. Nos solos, ocorrem tensões devido ao peso próprio e às cargas aplicadas. Trata-se de tensões pelo peso do próprio solo, a saber: • tensão efetiva (�'): é a tensão suportada pelos grãos do solo, ou seja, é a tensão transmitida pelos contatos entre as partículas; • pressão neutra (�): é a pressão da água, também denominada de “poro-pressão”, originada pelo peso da coluna d’água no ponto considerado (� = γ a.H); • tensão total (�): é a soma algébrica da tensão efetiva (�') e da pressão neutra (�). A tensão efetiva, no caso de solos saturados (com preenchimento de vazios por água), pode ser expressa por �' = � – �. A variação da tensão efetiva, relativa ao contato grão a grão de solo ou, então, da estrutura de solo formada, é responsável pela variação do estado de tensões do solo, como na compressão e resistência ao cisalhamento. Uma variação de tensão se deve à aplicação de uma carga na superfície de um terreno, que promove acréscimos de tensão nas camadas subjacentes do solo, projetando-se até certa profundidade e circundando a área carregada em termos de tensão devido ao peso próprio do solo, que também é levado em conta. Essa tensão pode ser estimada de acordo com as teorias: • tensões de espraiamento simples: estima-se o valor das tensões de acordo com a profundidade, considerando que as tensões se espraiam segundo áreas crescentes, mas sempre se mantendo uniformemente distribuídas; • bulbo de tensões: denominam-se “isóbaras” as curvas ou superfícies obtidas, ligando os pontos de mesma tensão vertical; • Teoria de Boussinesq: considera o solo como um material: ◦ homogêneo: mesmas propriedades em todos os pontos; ◦ isotrópico: mesmas propriedades em todas as direções; ◦ elástico: obedece a Lei de Hooke, � = E × ε (tensões proporcionais às deformações). A equação de Boussinesq determina os acréscimos de tensões verticais devido a uma carga pontual aplicada na superfície. Essas cargas aplicadas causam redução de altura do maciço de solo, denominadas “recalques”. A deformação progressiva com as cargas aplicadas pode ser avaliada pelas curvas de ruptura (tensão x deformação) típicas, obtidas nos ensaios de resistência, as quais têm uma das formas mostradas na figura a seguir. 18 Figura 3 – Comportamento de um solo submetido à tensão de cisalhamento Fonte: Marangon (2018, p. 131) Na rutura frágil, depois de atingir R, a resistência cai acentuadamente ao se aumentar a deformação. Obtém-se para o valor máximo o que se denomina de resistência de “pico”. Na rutura plástica, o esforço máximo é mantido com a continuidade da deformação. Pode-se obter, assim, a chamada resistência “residual”. Além disso, temos que a ruptura frágil é típica de ocorrência em argilas rijas e duras ou areias compactas, enquanto a ruptura plástica é típica de ocorrência em argilas moles ou médias ou areias fofas ou pouco compactas. 2 RESISTÊNCIA AO CISALHAMENTO Os carregamentos aplicados na superfície causam tensões de cisalhamento, que podem superar a máxima tensão resistida daquele solo (ou máxima tensão cisalhante), podendo ocasionar a ruptura do material. A determinação do esforço para o qual um solo se rompe é um problema comumente abordado em mecânica dos solos e objeto fundamental de aplicação na Geotecnia Ambiental. A partir desse comportamento delimitado, são criadas as análises de estabilidade, que dão meios de avaliar a segurança do maciço. Dessa forma, a resistência ao cisalhamento de um solo nada mais é do que a tensão cisalhante, que ocorre no plano de ruptura no instante da ruptura, tal como mostra a figura a seguir. 19 Figura 4 – Superfície de ruptura sob tensão de cisalhamento Fonte: Marangon (2018, p. 121) Diante da dificuldade de aferição dos parâmetros de resistência ao cisalhamento, foram criados e aprimorados com o passar dos anos alguns ensaios in situ e de laboratório, que buscam assertividade de resultados pela comparação entre múltiplos resultados. Assim, são obtidos os parâmetros drenados c’ (intercepto coesivo do material) e Φ (ângulo de atrito entre partículas) para as condições mais desfavoráveis possíveis. A condição drenada é levada em conta, pois somente as tensões efetivas (contato entre partículas) propiciam a resistência ao cisalhamento. Em solos saturados, a resistência é medida por uma razão entre dois parâmetros: Su/S’v, que determinam o resultado da resistência não drenada e da pressão vertical exercida. Tomando como base os parâmetros drenados, o ângulo de atrito é a função da interação entre duas superfícies das partículas, sendo que o atrito entre elas resulta em resistência ao deslizamento do solo. A coesão, por outro lado, é definida pela atração química entre partículas, que é especialmente ligada à fração coloidal do solo, como nas argilas. É de se esperar, então, que as areias apresentem coesão nula por não indicarem forças de atração que formem blocos e torrões. No entanto, é comum vermos em praias o fenômeno de coesão aparente, como na estabilidade de castelinhos formados de areia. Esse é um caso específico que não deve ser entendido como uma coesão real: para se manter estável, o castelo deve ser umedecido de forma que a água o mantenha coeso e não pela força de suas partículas, como deve ser. 20 A equação a seguir nos mostra a relação de resistência utilizada para solos quando adicionada determinada tensão normal vertical (carga): τ = c + � × tg Φ, em que: • τ = resistência ao cisalhamento do solo; • c = coesão ou intercepto coesivo; • σ = tensão normal vertical; • Φ = ângulo de atrito do solo. Para a obtenção desses parâmetros, a resistência ao cisalhamento é especificamente avaliada em laboratório, a partir de ensaios de compressão triaxial e cisalhamento direto, mas, também, in situ, que promove uma tradução mais apurada das características reais do solo e da sua estratificação. O quadro a seguir nos mostra alguns desses ensaios. Quadro 2 – Ensaios de avaliação de parâmetros da resistência ao cisalhamento in situ Fonte: a autora Ensaio Aplicabilidade Resultados SPT - Ensaio de sondagem à percussão Solos granulares O ensaio SPT é utilizado para determinar qualitativamente o estado de consistência do solo a partir do número de golpes que ele suporta, sem se deformar. A cada metro de solo ensaiado, é analisada a amostra obtida com a cravação, para a qual é admitidauma estratigrafia do subsolo. O ensaio é importante do ponto de vista geotécnico porque permite a observação do solo in situ, sem necessidade de abertura de poços ou trincheiras. Para avaliar a resistência ao cisalhamento, o número de golpes por meio de algumas metodologias, de forma indireta e correlacionado com outros parâmetros do solo, é utilizado para indicativo da resistência do solo em termo, especialmente, de ângulo de atrito. CPT - Ensaio de penetração estática de cone CPTU - Ensaio de Piezocone Solos granulares Esses ensaios são feitos eletronicamente com um dispositivo com sensor na ponta, que lê a resistência do solo, a penetração da cravação e o atrito lateral das feições estratigráficas do solo, indicando na mudança de comportamento a alteração de material. A diferença desses métodos para o SPT é que não é possível obter amostragem na cravação, visto que o próprio aparelho tem viés de medição da resistência. A diferença do CPT para o CPTU é, no entanto, singular. O CPTU avalia, também, os indicativos de pressão neutra positiva (poropressão) e pressão neutra negativa (sucção) para complementar a avaliação do comportamento do solo em meio saturado. VT - Vane Test ou ensaio de palheta Solos coesivos Ao contrário dos métodos descritos anteriormente, OVT é aplicável especificamente aos solos coesivos (argilosos), para o qual se obtém a resistência não drenada. Consiste em uma pá em formato de cruz, com a qual se crava o solo e se força a movimentação circular no meio saturado. A medição da resistência do solo ao torque é apresentada no aparelho. 21 Assim, como dito anteriormente, a resistência de um solo está intimamente ligada à sua saturação ou, até mesmo, à condição com que ele se drena ou retém água. A percolação de água em maciços é o principal processo desencadeador de movimentação de taludes pela perda de resistência ao cisalhamento. A água atua lubrificando o contato entre partículas, o que mantém o atrito e a estrutura estável. Dessa forma, a capacidade que o solo tem de permitir o escoamento, chamada de permeabilidade, é importante do ponto de vista geotécnico. É de se pensar que, diante disso, solos tão distintos, como as areias e argilas, apresentem comportamentos drenantes totalmente diferentes. Os solos não coesivos, como as areias, permitem mais o escoamento de água por entre seus vazios, uma vez que não apresentam coesão. A indicação do coeficiente de permeabilidade para materiais granulares é dada pela equação de Hazen, relacionada ao diâmetro efetivo (d10), o qual é obtido a partir da curva granulométrica. Assim, temos que: k = C × (d10 ) 2. Frente a isso, consideram-se solos com comportamento de permeabilidade, como é apresentado a seguir, em valores de k (cm/seg) por notação científica: • solo de alta permeabilidade: 102 cm/seg. Pedregulhos; • solo de média permeabilidade: 10-2 cm/seg. Areias; • solo de baixa permeabilidade: 10-4 cm/seg. Areias muito finas, siltes e mistura de ambos com argila; • solo de muito baixa permeabilidade: 10-6 cm/seg. Areias muito finas, siltes e mistura de ambos com argila; solo de baixíssima permeabilidade: 10-8 cm/seg. Argilas. Com isso, pode-se pensar que, se existe um projeto que demanda maior imper- meabilização para reduzir a ação da água em um maciço, tal como ocorre nas barragens de terra, a adoção de argila permite maior segurança. Contudo, se, por outro lado, é necessário promover uma drenagem efetiva ao lado de filtros para que o maciço não se mantenha saturado, é melhor que se use areia para promover a percolação da água. A resistência ao cisalhamento estudada até aqui, porém, não ocorre tão somente com a ação da água nos maciços e pela constituição física do maciço em termos de uso de areias ou argilas. O fenômeno de movimentação de massa, atrelado à ruptura da perda de resistência ao cisalhamento, é complexo. Segundo Leroueil e Locat (1996), existe, para isso, uma perspectiva física no tempo, em estágios de desenvolvimento e, de certa forma, infindável, conforme mostra a explicação a seguir e a figura na sequência. 22 • Estágio pré-ruptura: inclui todo e qualquer processo de deformação que pode levar à ruptura. Estágio controlado por mudanças na resistência, rastejo ou ruptura progressiva. • Estágio de ruptura: é a fase mais significativa na história do movimento de massa e se caracteriza pela formação de uma superfície de cisalhamento na massa de solo. • Estágio pós-ruptura: inclui desde a ruptura até o término da movimentação. Há um aumento da razão de deslocamento, seguido da diminuição progressiva de velocidade. • Estágio de reativação: ocorre quando uma massa de solo desliza ao longo de uma superfície de ruptura preexistente. Figura 5 – Estágios dos movimentos de massa Fonte: Adaptada de Leroueil e Locat (1996 apud SANCHO, 2016, p. 26) Com todas as perspectivas já apresentadas e a observação histórica, de acordo com o Centro Nacional de Monitoramento e Alerta de Desastres Naturais (CEMADEN, 2022), o Brasil é considerado muito suscetível aos movimentos de massa devido às condições climáticas marcadas por verões de chuvas intensas em regiões de grandes maciços montanhosos, especialmente com ocupações irregulares, sem a infraestrutura adequada, em áreas de relevo íngreme. 3 ESTABILIDADE DE TALUDES E ENCOSTAS Como visto, a instabilidade de um maciço de terra se dá quando a resistência do solo não se faz suficiente para resistir às ações desestabilizantes e, assim, as camadas podem se mover uma sobre a outra, havendo ruptura. De acordo com Goes (2018), os processos potenciadores da instabilidade em maciços de terra a partir das tensões são: 23 • carregamento do talude ou da crista: edificações, lançamento de entulho, lixo, aterros, água encharcando o talude por chuvas, vazamentos de redes, fossas etc.; • descarregamento do pé do talude: escavações ou cortes, erosão pluvial e fluvial; • pressões laterais: água em fissuras; • presença de materiais expansivos (argilas): contato com água. A ação da água nos maciços de terra aumenta o estado de tensão no solo, possibilitando a sua movimentação em termos do estado original. A principal força que causa os movimentos de massa é a tensão de cisalhamento, que, na ação da água, supera o atrito entre partículas que mantêm a estrutura do solo. A ação da água nos taludes é comumente propiciada por surgências de lençol freático, nascentes, esgotamento a céu aberto e presença de espécies, como a bananeira, que só crescem com o acúmulo de umidade. Observe o quadro a seguir: Quadro 3 – Processos instabilizadores ligados à água Fonte: adaptado de Goes (2018) 24 As condições naturais do terreno também influenciam no potencial escorre- gamento do maciço. Os solos residuais, por exemplo, são aqueles obtidos por meio do intemperismo da rocha-mãe in situ, ou seja, desintegrou-se e não foi transportado para outro local. Os solos coluvionares, por outro lado, são aqueles desagregados da rocha- mãe, que passam por processos de transporte pela força gravitacional de altitudes maiores para menores. Dessa forma, trata-se de um solo, geralmente, estratificado e muito heterogêneo, dificultando a sua estabilidade. Os solos aluvionares são aqueles que têm as mesmas características de deposição dos coluvionares, mas sendo transportados pela água da chuva. Geralmente, mantêm-se em calhas de drenagem e são adensados com o tempo. Há de se pensar que esses solos não apresentam resistência pela coesão de suas partículas, pois são depositados de forma natural, sem compactação ou qualquer tipo de controle. Somado a esses fatores naturais, as condicionantes antrópicas influem bastante na instabilidade dos maciços. São várias as influências negativas causadas, começando com a mais comum: asupressão vegetal da cobertura. Tal ação propicia a ação da água das chuvas sob o solo descoberto, carregando suas partículas, aumentando o encharcamento e erodindo o solo. Além disso, podemos mencionar, também, os erros em projetos de drenagem pluvial, a execução de cortes e aterros sem qualidade técnica adequada, os vazamentos de redes de água e esgoto, bem como a adição de aterros sob locais de lançamento de entulho. Quadro 4 – Fatores antrópicos instabilizantes 25 Fonte: adaptado de Goes (2018) A qualificação das movimentações de terra é comumente dada pela escala de Varnes, que delimita os movimentos de terra em seis tipos, de acordo com a superfície de ruptura e um dos três tipos de materiais movimentados, conforme apresentado em resumo no quadro a seguir. Quadro 5 – Tipos de movimentações de terra, de acordo com a escala de Varnes Fonte: adaptado de Varnes (1978 apud SANCHO, 2016) Tipo de movimento Rocha Detrito Terra Queda Queda de rochas Queda de detrito Queda de terra Tombamento Tombamento de rocha Tombamento de detrito Tombamento de terra Escorregamento rotacional Escorregamento rotacional de rocha Escorregamento rotacional de detrito Escorregamento rotacional de terra Escorregamento translacional Deslizamento translacional de blocos de rocha Deslizamento translacional de detrito Deslizamento translacional de terra Espalhamentos laterais Espalhamento de rocha - Espalhamento de terra Corridas Rastejo de rocha - Corrida de tálus - Corrida de detritos - Avalanche de detritos - Solifluxão - Rastejo de solo - Corrida de areia seca - Corrida de areia úmida - Corrida de argila sensitiva - Corrida de terra - Corrida rápida de terra - Corrida de loess Complexos - Escorregamento de rocha - Avalanche de detritos - Arqueamento - Abulgamento do vale - Arqueamento - Abulgamento do vale 26 Esses tipos de movimento são mostrados em maiores detalhes na figura a seguir: Figura 6 – Alguns tipos de movimentações de massa Fonte: Cemaden (2022) Discretizando ainda mais os tipos de movimentações apresentados, os rastejos são movimentos muito lentos e quase imperceptíveis, sem limites definidos. Apresentam indícios na superfície e, gradualmente, diminuem com a profundidade do maciço. Pela ação da gravidade, ocorrem justamente pelo rastejamento de grandes quantidades de material. Além disso, estão diretamente ligados à variação de expansão e contração do solo, apresentando, geralmente, vários planos internos de deslocamento de geometria indefinida. A velocidade de desenvolvimento é de centímetros ao ano. Assim, são indícios de rastejo: cercas quebradas e deslocadas, muros de arrimo estufados, troncos curvos de árvores, postes deslocados e fraturas de tensão em pavimentos, ocorrendo, às vezes, degraus de abatimento. Observe o quadro a seguir: 27 Quadro 6 – Indícios de rastejo Fonte: adaptado de Goes (2018) Além dos rastejos, existem, também, as corridas de massa, que podem ser subdivididas conforme o material que é mobilizado: • fluxos de lama: constituídos de material fluido de velocidade muito rápida (até 80 km/h), sendo uma mistura de água com partículas finas misturadas (silte e argila). São ocasionados por chuvas fortes, especialmente em ambientes com pluviosidade esporádica; • fluxos de detritos: são compostos de partículas maiores do que os fluxos de lama, sendo muito viscosos e de pouca água se comparados ao anterior. Pelo peso do material que carregam, tendem a ser muito destrutivos, aumentando sempre a dimensão com o material acrescentado no caminho; • fluxos de terra: são lentos e comuns onde existem camadas de argila saturadas, sobrepostas por camadas de areia, que são desestabilizadas frente a abalos sísmicos; 28 • solifluxão: movimento lento descendente na encosta, composto por sedimentos saturados por água na superfície, com camada adjacente impermeável. Diante dessa condição, acabam se deslocando em cm/dia. As quedas de blocos constituem outro tipo de movimentação de terra de velocidade muito rápida devido ao peso aplicado em desprendimento do talude em queda livre, sobretudo em áreas muito íngremes. Estão comumente ligadas à existência de fraturas prévias em maciços rochosos que propiciam o deslocamento. É um fenômeno muito comum em regiões serranas, sobretudo, no Estado do Rio de Janeiro, em se tratando de Brasil. Figura 7 – Queda de blocos de um talude íngreme de rocha sobre rodovia Fonte: http://twixar.me/rdMm. Acesso em: 31 ago. 2022. Os escorregamentos, por sua vez, dizem respeito a outro meio de movi- mentação de massa com velocidade alta e de plano de ruptura bem definido. Os es- corregamentos se assemelham ao deslizamento de um material sobre outro, sendo classificados de acordo com o tipo de geometria formada, a saber: • rotacional: também conhecido como “desmoronamento”, apresenta a ruptura com superfície curva em regiões de superfície uniforme (homogênea); • translacional: também conhecido como “deslizamento”, a ação de movimento, nesse caso, remove a camada superficial com os vegetais e o solo, que deslizam sobre o talude com a aparência de uma lâmina em superfície lisa, especialmente sob chuvas intensas. A avalanche, por fim, é o fluxo mais rápido já classificado, pois desprende um grande volume de material propriamente em cadeias montanhosas e de clima frio. A massa rochosa ou o gelo desprendido se pulveriza com o impacto e expande o alcance da massa deslocada. 29 Nos casos de movimentação de fluxos, comumente se adota a abordagem de materiais hiperconcentrados e se executa a modelagem de risco associada a fluidos. Quando se aborda quedas de blocos e outros materiais rochosos, adota-se o critério de Hoek-Brown para analisar a estabilidade do maciço, bem como métodos qualitativos para entendimento da condição da rocha. A classificação geomecânica de maciços rochosos é feita internacional- mente com a abordagem de diversos autores que avaliam as rochas de acordo com a incidência de fraturas, descontinuidades, composição mineral, surgências e outros. Para saber mais sobre como os maciços rochosos são classificados, acesse o link: http://www.repositorio.ufop.br/ handle/123456789/2878. Acesso em: 20 set. 2022. DICA Como forma de analisar a estabilidade de taludes compostos de solo, há dois métodos comumente utilizados: • análise de tensão-deformação, que se baseia na análise numérica das condições do local; • prioritariamente, método de equilíbrio-limite, que se baseia na hipótese de haver equilíbrio em uma massa de solo considerada, tomando-a um corpo rígido-plástico na iminência de um escorregamento. Este último método pressupõe o conhecimento das forças atuantes na massa de solo, de forma que tenha a aferição das tensões de cisalhamento aplicadas e se faça a comparação dessas tensões com a resistência ao cisalhamento característica desse solo. Em outras palavras, o método busca a razão entre as forças solicitadas e as forças resistentes, tendo que encontrar valores de fator de segurança acima de 1,0 para indicar a estabilidade. A equação utilizada é . A superfície de ruptura é tida como circular, sendo que o FS é constante em toda a linha. De forma análoga, pode-se dizer que o resultado pode ser correlacionado da seguinte forma: • FS < 1,0 = instável; • FS = 1,0 = equilíbrio instável; • 1,0 < FS < 1,5 = estabilidade incerta; • FS > 1,5 = estável. http://www.repositorio.ufop.br/handle/123456789/2878 http://www.repositorio.ufop.br/handle/123456789/2878 30 Dentro do método de equilíbrio-limite, vários autores criaram equações para o cálculo das forças solicitadas e resistidas. Dentre as mais comuns, podem ser citadas: Bishop, Fellenius, Spencer, Janbu e Morgenstern-Price. Algumas permitem a consideração de uma superfície de rupturanão circular quando existe heterogeneidade de material, em que a ruptura se forma irregularmente, sobretudo em análise de fundações de maciços. Figura 8 – Análise de estabilidade em um talude de barragem no software Slide Fonte: a autora Conforme visto na figura, o talude de jusante de uma barragem analisado no software apresenta superfície não circular na ruptura devido à heterogeneidade dos materiais que a compõem. As análises podem ser feitas considerando materiais drenados (como na figura) ou com a inferência do nível d’água, pensando no material saturado. Para tanto, podem ser compostos alguns tipos de análises para delimitar as condições de segurança frente às solicitações: 1. análise drenada, de ruptura circular e estática (sem avaliação sísmica); 2. análise drenada, de ruptura circular e pseudoestática (com avaliação sísmica); 3. análise drenada, de ruptura não circular e estática (sem avaliação sísmica); 4. análise drenada, de ruptura não circular e pseudoestática (com avaliação sísmica); 5. análise não drenada, de ruptura circular e estática (sem avaliação sísmica); 6. análise não drenada, de ruptura circular e pseudoestática (com avaliação sísmica); 7. análise não drenada, de ruptura não circular e estática (sem avaliação sísmica); 8. análise não drenada, de ruptura não circular e pseudoestática (com avaliação sísmica). 31 Nas análises de estabilidade, podem ser utilizadas envoltórias de resistência ao cisalhamento, em termos de tensões totais e efetivas. No primeiro caso, admite-se que as pressões neutras, decorrentes da variação do estado de tensões na barragem, correspondem às pressões neutras desenvolvidas nos ensaios de compressão triaxial, realizados de forma a retratar a trajetória de tensões que ocorre durante a construção do aterro e na fundação. ATENÇÃO Assim, é de se esperar que as análises não drenadas, não circulares e com ação sísmica intervenham em fatores de segurança baixos. Por isso, é importante a avaliação completa do estado da estrutura frente a todas as solicitações, sendo que deve atingir, obrigatoriamente, os requisitos da NBR 13.028 (ABNT, 2017), que diz respeito à elaboração e apresentação de projeto de barragens para disposição de rejeitos, contenção de sedimentos e reservação de água, para análise de taludes de mineração em geral; e a NBR 11.682 (ABNT, 2009), que versa sobre a estabilidade de taludes, para taludes em outras ocasiões. Quadro 7 – Fatores de segurança mínimos a serem adotados para projetos de taludes e bermas de barragens de mineração Fonte: ABNT (2017, p. 11) Fase Tipo de ruptura Talude Fator de segurança mínimo Final de construção a Maciço e fundações Montante e jusante 1,3 Operação com rede de fluxo em condição normal de operação, nível máximo do reservatório Maciço e fundações Jusante 1,5 Operação com rede de fluxo em condição extrema, nível máximo do reservatório Maciço e fundações Jusante 1,3 Operação com rebaixamento rápido do nível d'água do reservatório Maciço Montante 1,1 Operação com rede de fluxo em condição normal Maciço Jusante 1,5 Entre bermas 1,3 Solicitação sísmica, com nível máximo do reservatório Maciço e fundações Montante e jusante 1,1 a Etapas sucessivas de barragens alteadas com rejeitos não podem ser analisadas como "final de construção", devendo atender aos fatores de segurança mínimos estabelecidos para as condições de operação. 32 Além disso, as barragens de mineração contam com regulamentação própria com atendimento aos fatores de segurança prescritos pela Resolução n. 95/2022, da Agência Nacional de Mineração, que trouxe maior rigor técnico aos estudos de estabilidade e requisitos mínimos para barragens de mineração depois dos eventos de Mariana/MG e Brumadinho/MG. 4 EMPUXOS DE TERRA O empuxo de terra é uma ação do maciço de terra sobre a estrutura que o contém e o estabiliza. O quadro a seguir nos mostra algumas estruturas de contenção para maciços de terra que sofrem a ação do empuxo. Quadro 8 – Estruturas de contenção de maciços de terra Fonte: adaptado de Marangon (2018) A partir dos empuxos de terra, são compostas as obras de contenção de encostas com cálculos complexos baseados em teorias consolidadas. São classificados, portanto, de três formas, conforme podemos acompanhar a seguir: 33 1. Empuxo no repouso: o maciço de solo se mantém em equilíbrio total, não sofre deformações e não se desloca. Para o cálculo do coeficiente de empuxo no repouso, temos , em que: ◦ K0 = coeficiente do empuxo no repouso; ◦ σ'h = tensão horizontal; ◦ σ'v = tensão vertical. 2. Empuxo ativo: o maciço de solo pressiona o elemento de contenção, de forma a movimentá-lo horizontalmente, expandindo-o. Desse modo, há decréscimo da ten- são horizontal. Para o cálculo do coeficiente de empuxo passivo, temos , em que: ◦ Kp = coeficiente do empuxo passivo; ◦ σ'hp = tensão horizontal passiva; ◦ σ'v = tensão vertical. 3. Empuxo passivo: o elemento de contenção pressiona o solo, de forma a comprimi- lo horizontalmente. Desse modo, há acréscimo da tensão horizontal. Para o cálculo do coeficiente de empuxo ativo, temos , em que: ◦ Ka = coeficiente do empuxo ativo; ◦ σ'ha = tensão horizontal ativa; ◦ σ'v = tensão vertical. Figura 9 – Estados de empuxo de terra em estruturas de contenção Fonte: Marangon (2018, p. 168) 34 A Teoria de Rankine, proposta em 1857, estabeleceu uma forma simplificada de definir a relação dos coeficientes de empuxo ativo e do empuxo passivo a fim de estabelecer o repouso. Para tanto, o autor considerou que o muro é flexível (sofre pequenas deformações que mobilizam os empuxos passivo e ativo) e não considera o atrito entre o muro e o solo, sendo vertical para o terreno horizontal. Dessa forma, foi estipulada a correlação . Nas duas situações de empuxo (ativo e passivo), há a participação das tensões de cisalhamento. A diferença entre as suas faces é de que, no empuxo ativo, a tensão de cisalhamento se aplica com a ação do solo na contenção, ao passo que, na porção passiva, a tensão de cisalhamento aumenta a proporção da reação na contenção. 5 TÉCNICAS DE ESTABILIZAÇÃO As instabilizações em taludes podem ser resultados de aumento de tensões e divergência na resistência dos materiais constituintes. A remoção de materiais, os cortes nos pés dos taludes, o aumento de cargas no corpo do talude e as solicitações (como sismos, detonações e ondas) são processos que aumentam os problemas das estruturas. A reestruturação dos taludes com a construção de bermas de equilíbrio, para diminuir a declividade e a incidência de processos desencadeados pelo relevo íngreme, a adoção de camadas de revestimento vegetal e a inserção de dispositivos de drenagem são medidas de engenharia que buscam melhorar as condições locais. No entanto, quando essas soluções mais simples não podem ser adotadas ou são insuficientes, é possível criar estruturas de contenção para elaborar barreiras artificiais que vencem as tensões provocadas pelo empuxo de terra. Dentre essas soluções, existem os muros criados com uso de materiais ambientalmente aceitos, bem como os muros criados com materiais de alta resistência e protensão para fazer barreira física com o maciço. 35 Quadro 9 – Materiais ambientalmente aceitos Fonte: adaptado de Naresi Jr. et al. (2018) e Terra (201-) Em contenção de blocos rochosos se pode usar telas metálicas, barreiras dinâmicas, remoção de bloco por jato d’água, fixação de blocos por tirantes ou grelhas de concreto atirantadas e uso de estruturas, como pilares de concreto combinadas com tirantes para conter lateralmente blocos de rochas instáveis. 36 A estabilização de solos pode ser feita de forma física, com a colo- caçãode barreiras; ou de forma química, com o melhoramento das qualidades do solo, a fim de repará-lo para apresentar características de resistência melhores. Para se aprofundar nesse assunto, acesse o link: https://www.nucleodoconhecimento.com.br/engenharia-civil/ estabilizacao-de-solos. Acesso em: 20 set. 2022. INTERESSANTE 6 RESÍDUOS, REJEITOS E ESTÉREIS Resíduos, rejeitos e estéreis têm classificações divergentes tanto entre si quanto para a sua obtenção. Se vêm do ambiente doméstico, têm um viés; se vêm da mineração e da indústria, propõem outro sentido. Frente a isso, é importante buscar entender para que se possa ter a melhor deposição possível desses elementos. Os resíduos sólidos, especificamente, são classificados quanto a quatro classes de periculosidade à saúde humana e ao controle ambiental. São subdivididos em: perigosos (classe I); não perigosos (classe II); não inertes (classe II A); inertes (classe II B). Essa classificação indica a destinação dos resíduos. Os perigosos, como produtos químicos inflamáveis, perfurocortantes e biológicos, devem ter um maior controle para evitar a propagação de doenças e a contaminação do solo e das águas. Porém, ainda é necessária a caracterização quanto à Geotecnia para um entendimento da destinação daqueles que podem ser alocados em barragens, aterros sanitários e em empilhamento. 6.1 CARACTERIZAÇÃO GEOTÉCNICA Segundo a NBR 10.004 (ABNT, 2004), a definição de resíduos sólidos é de que se trata de todo material, substância, objeto ou bem descartado, resultante de atividades humanas em sociedade. Assim, inserem-se em resíduos sólidos aqueles resultantes das atividades domésticas, da varrição de ruas e das atividades de reciclagem. De acordo com a Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS) (Lei n. 12.305/2010), por sua vez, o conceito de rejeito diz respeito aos resíduos sólidos que, depois de esgotadas todas as possibilidades de tratamento e recuperação por processos tecnológicos disponíveis e economicamente viáveis, não apresentam outra https://www.nucleodoconhecimento.com.br/engenharia-civil/estabilizacao-de-solos https://www.nucleodoconhecimento.com.br/engenharia-civil/estabilizacao-de-solos 37 possibilidade que não a disposição final ambientalmente adequada, sendo, portanto, inerente às atividades humanas (BRASIL, 2010). A mineração equivale à definição de estéreis e rejeitos, mas estes são diferentes do ponto de vista de beneficiamento de minérios. Acompanhe a figura a seguir: Figura 10 – Fluxograma de tratamento de minérios e subprodutos Fonte: Luz e Lins (2010, p. 5) 38 De acordo com Boscov (2008), um bem mineral não pode ser utilizado tal como é lavrado na mina, devendo passar por um processo de beneficiamento. Este objetiva a redução e regularização da granulometria (sem modificar a sua identidade química ou física), a remoção de ganga (parte do minério sem interesse econômico) e o aumento da qualidade do produto final. Nas operações minerárias, grandes quantidades de solo e estéreis são retiradas da mina e de seus entornos, sem que haja utilização no beneficiamento dos minérios ou outro fim comercial. Nesse contexto, é de grande importância considerar e minimizar os efeitos das gerações dos resíduos sólidos. Saiba mais sobre o assunto no link: https://revista.uemg.br/index. php/reis/article/view/6005. Acesso em: 20 set. 2022. IMPORTANTE O estéril na mineração é o material retirado juntamente com o minério para o qual não se tem utilidade alguma. É como rocha anexa que é retirada na detonação, mas não se aplica para exploração. Os rejeitos, por outro lado, são materiais que vão para o beneficiamento do minério e são retirados por não apresentarem características suficientes para valoração. Assim, os rejeitos de mineração podem ser depositados em forma de pilhas (rejeitos em polpa, em pasta ou a granel), em reservatórios contidos por diques periféricos (no caso de áreas planas ou pouco irregulares), em cavas ou barragens. 6.2 SISTEMAS DE DISPOSIÇÃO Os sistemas de disposição de rejeitos foram criados com o intuito de servir de diques de contenção de materiais que, em questão técnica, foram crescendo até virarem as barragens que conhecemos hoje em dia. As barragens de contenção de rejeitos são criadas com o próprio material a partir de três métodos básicos: alteamento a montante, alteamento a jusante e alteamento em linha de centro. Vamos conhecer melhor cada um a seguir. O alteamento a montante veio se consolidando com o tempo como a forma mais simples e menos onerosa de construção do alteamento de barragens, a partir do seu dique de partida. Essa primeira estrutura, que dá início ao barramento, é composta por um aterro de solo compactado que pode ou não ser envolto por enrocamento ou ser totalmente constituído deste. https://revista.uemg.br/index.php/reis/article/view/6005 https://revista.uemg.br/index.php/reis/article/view/6005 39 Figura 11 – Alteamento a montante Fonte: Espósito (2000 apud GUIMARÃES, 2018, p. 40) Quando o rejeito depositado atrás do dique de partida atinge a proximidade da sua crista (altura máxima), é necessário constituir uma estrutura de alteamento da barragem para que ela possa comportar mais material. Em geral, nesse método, o próprio rejeito é utilizado como material construtivo a partir do mecanismo de hidrociclones, que separam os materiais grossos e finos, deixando as lamas separadas das areias. Nesse caso, as areias são colocadas próximas à crista (praia de rejeitos) por serem materiais altamente drenantes e possibilitarem a diminuição da saturação do contato com o próprio barramento. Esse material, ainda que inconsolidado, serve de fundação para o alteamento que será construído em cima dele. O artigo a seguir traz um panorama sobre a utilização do método de alteamento a montante e aprofunda sobre as questões que o tornaram inviável, sobretudo depois dos rompimentos em Mariana e Brumadinho, que trouxeram à tona problemas de gestão de risco, manutenção e operação dessas estruturas. Acompanhe a leitura na íntegra no link: https://e-revista.unioeste.br/index.php/csaemrevista/ article/download/19480/12650/71227. Acesso em: 20 set. 2022. DICA Esse tipo de construção não é o método mais seguro, uma vez que existe um carregamento da estrutura em cima de um material que não apresenta coesão (areia), logo, possui baixa resistência ao cisalhamento. A condição criada apresenta maior suscetibilidade ao fenômeno de liquefação das areias, sendo uma possível causa de ruptura desse tipo de barragem. https://e-revista.unioeste.br/index.php/csaemrevista/article/download/19480/12650/71227 https://e-revista.unioeste.br/index.php/csaemrevista/article/download/19480/12650/71227 40 A construção segue um design de escada com degraus ascendentes sobre novas camadas criadas de rejeito não consolidado e, por isso, apresenta baixo custo de construção e um menor volume de materiais externos demandados. A execução é simples e dispensa grande trabalho de compactação e terraplenagem. O tempo de lançamento dos rejeitos e alteamento da barragem são questões de segurança que devem ser observadas nesse método, uma vez que deve se esperar, pelo menos, para que o material se adense para a construção de uma nova camada e sobrecarga sobre ele. Esse tipo de estrutura deve ser constituído em zonas livres de abalos sísmicos, longe de detonações e áreas de transporte pesado, como ferrovias, para que a vibra- ção no local seja mínima e o fenômeno de liquefação não tenha um gatilho. As condi- ções de saturação da barragem devem sempre estar em controle para que não ocorra o mesmo fenômeno. No entanto, com a construção feita sem um eixo em comum, é muito complexa a execução de uma drenagem interna suficiente para a estrutura. Massad (2010) nos lembra que a redução do gradiente hidráulico e da
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