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Toxicologia É a ciência que estuda os efeitos nocivos decorrentes das interações de substâncias químicas com o organismo. Agente toxico É qualquer substância química ou agente físico capaz de causar dano a um sistema biológico, alterando uma função ou levando-o à morte, sob certas circunstâncias de exposição. Toxinas Substância tóxica produzida por um organismo vivo (microrganismo, animal ou planta). A toxicologia estuda os efeitos nocivos dessas substâncias. · Bactérias: endotoxinas ou exotoxinas · Fungos: micotoxinas · Plantas: fitotoxinas · Animais: zootoxinas Painel dos efeitos tóxicos 1. Quanto à região atingida (local x sistêmicas); 2. Quanto à duração do efeito da exposição (agudo, subcrônico ou crônico); 3. Efeito idiossincrático; 4. Hipo ou hiper-reatividade; 5. Exacerbação de doença pré-existente; Toxicidade Capacidade inerente e potencial do agente tóxico de provocar efeitos nocivos em organismos vivos. O efeito tóxico é geralmente proporcional à concentração do agente tóxico no sítio de ação (tecido alvo) – condições de exposição. Perigo x Risco Perigo: fatores com potencial de causar ou contribuir com lesão ou morte. Risco: Probabilidade ou chance de lesão ou morte sob determinadas condições. Risco = Perigo x Exposição Fatores que influenciam a toxicidade · Dose / concentração · Duração e frequência da exposição · Via de exposição · Propriedades físico-químicas (lipossolubilidade, estabilidade, tamanho e forma da molécula) · Suscetibilidade individual (espécie, raça, idade, peso, prenhez, estado nutricional) Dose efeito x Dose resposta Dl50 Corresponde à dose que provavelmente mata 50% dos animais de um lote utilizados em um experimento. < Dl50 - > toxicidade do agente Risco x benefício Risco: Probabilidade do efeito nocivo. Benefício: Probabilidade de não ocorrência de dano pelo uso e pela manipulação de um agente tóxico sob condições específicas. Intoxicação ou toxicose É o estado mórbido ou efeito nocivo causado por um agente tóxico (teratogênese, morte, câncer, queimadura, substâncias corrosivas...) Toxicocinética O que o organismo faz com o agente tóxico. As vias de exposição podem ser orais, dérmicas ou inalatórias. · Absorção; · Distribuição; · Armazenamento; · Biotransformação; Absorção Forma como a substância penetra no organismo, alcançando a corrente sanguínea. · Transporte passivo (difusão simples – transcelular e paracelular); · Difusão facilitada; · Transporte ativo; · Fagocitose / pinocitose; Absorção gastrointestinal: · Transporte simples; · Difusão simples – lipossolúveis; · Variação entre espécies; · Velocidade do trânsito; · Circulação; · pH do lúmen, microbiota; · Área da superfície; · Peso molecular; · pKa; Absorção pulmonar: · Transporte passivo – difusão; · Rápida; · Eficiente; · Partículas podem se acumular nos alvéolos; Absorção cutânea: · Transporte passivo; · Variação entre espécies e região do corpo; · Espessura do estrato córneo e vascularização, coelhos > rato > cobaias > gatos > cães > suínos > seres humanos; · Número de folículos pilosos; · Quantidade de glândulas sudoríparas; Biodisponibilidade Quantidade do agente tóxico na circulação sanguínea. Distribuição Transferência da circulação para os diferentes tecidos. · Perfusão → > concentração inicial; · Equilíbrio entre compartimentos; · Agentes livres tem seu efeito tóxico; Fatores de interferência: · Hidrossolubilidade; · Ligação às proteínas plasmáticas (albumina, beta-globulina, gamaglobulina); · Ligação às proteínas teciduais; · Lipossolubilidade; · Barreira hematoencefálica e placentária; Biotransformação Transformação no organismo – eliminação. Inativação. · Efeito da primeira passagem – biotransformação hepática (reações de fase I, reações de fase II) Reações de fase I: · Transforma em substâncias polares no REL do fígado; · Oxidação – perda de elétrons; · Redução – ganho de elétrons; · Hidrólise – uma molécula de água separa o agente em dois fragmentos · Resulta em moléculas mais ativas, menos ativas ou inativas; Reações de fase II: · Conjugação com substratos endógenos (Ex: ácido glicurônico, aminoácidos, acetatos, etc.); Eliminação · Biotransformação – transformação do agente tóxico; · Excreção por via renal / urinária, biliar / intestinal, pulmonar, leite (resíduos); Depuração ou clearance: · Processo pelo qual o agente tóxico é removido do organismo (metabolizado ou excretado); · Valor dado em volume/tempo (L/h); Toxicodinamica Descreve a interação dinâmica entre as moléculas de um toxicante com as moléculas alvos e as consequências biológicas dessa interação (desequilíbrio homeostático). · Avaliação de risco; · Prevenção; · Tratamento; · Desenvolver produtos mais seguros; Toxicidade Toxicidade aguda: exposição a altas doses e os efeitos se desenvolvem em pouco tempo, dentro de 24 horas geralmente. Ex: intoxicação por cianureto. Toxicidade crônica: exposição constante a doses pequenas do toxicante e desenvolvimento do efeito tóxico algum tempo depois (meses ou anos). Ex: exposição a metais pesados. Mecanismos inespecíficos: · Bases e ácidos fortes (ácidos, bases, fenóis, saias de metal pesado); Mecanismos específicos: · Inibição enzimática (ex: cianetos impedem transporte de elétrons); · Inibição de proteínas transportadoras (ex: glicosídeos cardíacos inibem bomba sódio/potássio); · Agonistas ou antagonistas de receptores de neurotransmissores; · Inibição do ATP (falta de O2, enzimas da cadeia transportadora de elétrons); · Produção de compostos intermediários altamente reativos – bioativação (mutagênese, carcinogênese, morte celular); · Formação de radicais livres (ação em membranas, proteínas e ácidos nucléicos); Diagnóstico e conduta nas emergências das intoxicações Condutas e encaminhamento de diagnóstico corretos a serem feitos em situações de emergência. Diagnóstico Importante para instituir tratamento efetivo. Quando não é possível chegar no diagnóstico – terapêutica sintomática. · Instituição de terapia de emergência (sobrevivência do animal); · Determinação do diagnóstico clínico; · Emprego de medicamentos (antídotos?) e recursos necessários; · Determinação da fonte de exposição do agente tóxico; Critérios empregados para o diagnóstico: Anamnese: trata-se mesmo de um caso de intoxicação? · O animal foi visto em contato com o agente tóxico? · Qual a via de exposição? · Quais os sintomas apresentados e qual tempo de surgimento? · Outros animais apresentam o mesmo quadro? · Histórico pregresso (doenças anteriores, ectoparasitas, tratamentos); · História ambiental e manejo (confinamento / acesso à rua, condições de higiene, produtos para limpeza, manejo nutricional, disponibilidade de água); · Histórico de reforma; · Frequência e produtos de banho; · Cuidados com o animal / familiar / rebanho (vermifugação, vacinação, contactantes); Exame físico: · Funções vitais; · Temperatura; · Mucosas; · Linfonodos; · Exames complementares; · Assistência ao paciente; Exames complementares: · Hematológicos; · Sorológicos; · Glicemia; · Eletrólitos; · Teste de coagulação; · Urina; · Hemogasometria; · ECC; Exames toxicológicos: · Colorimetria; · Espectrometria de massas; · Espectrofotometria; · Imunoensaio; · Cromatografia líquida / gasosa; Ensaio clínico: utilizado em animais de laboratório ou de fazenda. Achados post mortem Necrópsia detalhada. · Lesões; · Conteúdo estomacal; Coleta e conservação das amostras · Material limpo; · Recipientes neutros; · Identificação correta; · Suspeita diagnóstica; · Conservação (refrigerado ou congelado); Amostras animal vivo: · Sangue (5mL soro, 10 mL sangue total – anticoagulante); · Urina – 50 mL; · Fezes – 250g; · Vômito – 250g; · Pelos – 5 a 10g; Amostras post mortem: · Fígado – 50 a 100g; · Rins – 50 a 100g; · Conteúdo estomacal – 150 a 500g; · Tecido adiposo – 50 a 100g; · Encéfalo – inteiro; Amostras ambientais: · Alimentos – 200 a 500g; · Forragens – 200 a 500g; · Iscas; · Plantas tóxicas; · Água – 0,5 a 1L; · Solo – 1kg; · Agente tóxico que animal teve contato; Litígios Manter tudoanotado, fichas arquivadas, resultado dos exames, etc. Condutas de urgência nas intoxicações As etapas devem ser seguidas visando um melhor esclarecimento da situação e sucesso da conduta. Contato telefônico Obter informações para o sucesso da conduta · Presenciou o animal em contato com o agente tóxico? · Qual o produto? (ler rotulo) · Qual a via de exposição? · Qual a quantidade do agente tóxico? · Qual sintomatologia animal apresenta? · Quanto tempo? · Há outros animais apresentando o mesmo quadro? Instruções ao proprietário Após obter as informações, indicar conduta adequada. · Em caso de contato com a pele, lavar com abundância – água fria ou morna – evitar vasodilatação periférica e consequente absorção do agente tóxico; · Agente lipossolúvel: banhos com sabão neutro (glicerina, detergente doméstico, shampoo neutro, sabonete de uso infantil); · Não massagear a área: aumento da circulação sanguínea local; · Proteção do proprietário; · Não induzir êmese; · Não administrar medicamentos VO – animais deprimidos; · Levar animal para a clínica imediatamente; Medidas adotadas em casos de intoxicação As medidas são divididas em 4 etapas: · Dificultar absorção do agente; · Inativar o agente; · Eliminar o agente absorvido; · Suporte; Dificultar absorção do agente Exposição cutânea: · Lavar com abundância, sempre água fria ou morna, nunca quente (vasodilatação); · Utilizar luvas; · Não esfregar ou massagear a área; Exposição ocular: · Lavagem do olho no sentido mediolateral com água ou soro por pelo menos 30 min; Exposição inalatória: · Suporte ventilatório; · Inalação; Exposição gastrointestinal: · Indução de êmese (contra indicada) – tempo de ingestão 60 min; · Lavagem gástrica; · Transformar em forma não absorvível (formação de precipitado insolúvel, ionização, adsorção); · Uso de catárticos (acelera a eliminação); · Eliminação direta; Medidas para inativar o agente Usado o antídoto. Substância química liga-se ao agente tóxico impedindo seu efeito. · São poucos casos em que as substâncias possuem antídotos. Ex: quelantes de metais; Medidas para eliminar o agente absorvido A eliminação pode ser feita através da via renal, via biliar (fezes) ou pulmonar. Eliminação renal: · Diuréticos (furosemida, manitol); · Alteração do pH da urina (acidificar urina, alcalinizar urina); · Diálise (eficiência depende da capacidade de difusão do agente, quantidade no plasma e correlação dos níveis do agente com a gravidade do quadro); · Hemodiálise e hemoperfusão; Eliminação biliar: · Aumentar frequência fecal; Eliminação pulmonar: · Oxigenioterapia; · Inalação; MEDIDAS DE SUPORTE Servem de suporte para estabilizar o paciente e obter sucesso na conduta emergencial. Hipertermia ↑: · Oxigênio; · Soluções cristaloides; · Controle de convulsões; · Banhos de água morna → fria com água corrente; · Álcool nos coxins e abdômen; Hipotermia ↓: · Baixo nível de consciência; · Oxigênio; · Cristaloides; · Aquecimento do animal (tapete térmico, luvas aquecidas, meias nas patinhas); · Aquecimento do ambiente; Convulsões: · Tratar com benzodiazepínicos; Hipóxia: · Oxigenioterapia; · Broncodilatadores; · Ventilação assistida; Hipotensão: · Soluções hipertônicas; · Vasopressores – dopamina; · Administração de Ringer Lactato ou Cloreto de sódio 0,9%; Hipertensão: · Furosemida; · Diuréticos tiazídicos; · Inibidores da ECA – enalapril; Rabdomiólise: · Fluidoterapia; · Sedação; · Alcalinização da urina; Agitação / hiperatividade: · Oxigenioterapia; · Lugar calmo e escuro; · Diazepam;