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Ana Beatriz Figuerêdo Almeida - Medicina 2023.1 Página | 1 PMSUS - Oficina 04 ATENÇÃO INTEGRAL AO PACIENTE PORTADOR DE DM GLICOSE E INSULINA Metabolismo da glicose: a glicose é um glicídio que é primeiramente absorvida no intestino delgado, proveniente de carboidratos da alimentação. GLUT 1/2/3/4/5: transportadores de glicose. Ação da insulina Efeito captação de glicose pelas células glicemia formação de glicogênio glicemia glicogenólise glicemia gliconeogênese glicemia síntese proteica (aminoácido) sanguíneo deposição de lipídios (lípidio) sanguíneo lipólise (cetoácido) sanguíneo captação de K+ pelas células (potássio) sanguíneo Consequências da falta de insulina • Fígado: aumento da glicogenólise resultando em aumento da taxa glicêmica; • Lipólise: degradação de triglicerídeos, esses ácidos graxos são oxidados (β-oxidação) resultando em glicerol + acetil COA; a molécula de acetil COA junto aos substratos energéticos da lise dos ácidos graxos, formam corpos cetônicos, que em excesso no corpo pode causar cetoacidose (acidificação do sangue); • Redução do tecido lipídico; • Subnutrição: há catabolismo intenso, resultando na diminuição do tecido muscular; Esses sintomas aparecerão decorres das ações dos hormônios contrarreguladores – glucagon, catecolaminas e cortisol. 1) ENTENDER A EPIDEMIOLOGIA E OS FATORES DE RISCO DA DM; Causas de DM2 Estilo de vida e obesidade - o excesso de massa corporal pode ter relações com até cerca de 50% de todos os casos de DM2, além disso, a concetração de gordura abdominal é um dos grandes fatores predisponentes. Genética - existem uma série de genes que contribuem para um indivíduo desenvolver o quadro diabético, associando esse fator ao estilo de vida/obesidade, temos praticamente a maioria dos casos de diabetes. Fatores de risco: • tabagismo; • alto teor de gordura corporal; • excesso de peso; • estilo de vida sedentário; • pressão arterial elevada; • colesterol elevado; • etnia - negros, hispânicos ou índios Pima. Fatores que predispõem a resistência periférica à insulina: Ação dos ácidos graxos livres - o excesso de triglicerídeos e sua metabolização (lipólise) nas células musculares, hepáticas e adiposas levam a formação de compostos intermediários que interagem diretamente com a cascata de sinalização da insulina. Processo inflamatório crônico - o tecido adiposo consegue liberar citocinas próprias (adipocinas) que conseguem estimular vias que antagonizam a ação da insulina nas células. Um grande exemplo é uma adipocina conhecida como resistina (aumento nos indivíduos obesos), aparentemente existe uma grande relação entre essa adipocina e a resistência periférica à insulina. Radicais livres - O próprio metabolismo lipídico pela B- oxidação dos ácidos graxos libera altas quantidades de radicais livres de oxigênio (EROs – espécies reativas de oxigênio) que devido sua volatilidade interagem rapidamente com substratos das vias de sinalização da insulina. Ana Beatriz Figuerêdo Almeida - Medicina 2023.1 Página | 2 2) ESTUDAR A CLASSIFICAÇÃO EM RELAÇÃO A FISIOPATOLOGIA (TIPO 1, TIPO 2, DM GESTACIONAL); Definindo diabetes mellitus: distúrbio metabólico provocado por uma glicemia persistente e/ou déficit na ação/produção de insulina. Classificação etiológica A classificação do diabetes mellitus (DM) permite o tratamento adequado e a definição de estratégias de rastreamento de comorbidades e complicações crônicas. A Sociedade Brasileira de Diabetes (SBD) recomenda a classificação baseada na etiopatogenia do diabetes, que compreende o diabetes tipo 1 (DM1), o diabetes tipo 2 (DM2), o diabetes gestacional (DMG) e os outros tipos de diabetes. Outras classificações têm sido propostas, incluindo classificação em subtipos de DM levando em conta características clínicas como o momento do início do diabetes, a história familiar, a função residual das células beta, os índices de resistência à insulina, o risco de complicações crônicas, o grau de obesidade, a presença de autoanticorpos e eventuais características sindrômicas. Diabetes Mellitus tipo 1 • Doença autoimune poligênica; • Destruição de células beta das ilhotas de langerhans pancreáticas; • Mais frequente em crianças, adolescentes e adultos jovens; • Pode ser subdividida em - 1A quando há presença de anticorpos específicos para células beta; ou 1B na ausência de anticorpos específicos para células beta. A DM1 é uma deficiência completa na produção de insulina. É característico da DM1 o aparecimentos de sintomas durante a infância. O diabetes mellitus tipo 1 é uma doença crônica caracterizada pela destruição parcial ou total das células B das ilhotas de Langerhans pancreáticas, resultando na incapacidade progressiva de produzir insulina. É caracterizada como uma doença autoimune. Vários fatores podem levar à apoptose das células B das ilhotas como, genes defeituosos (doença poligênica), autoimunidade, infecções virais, fatores ambientes (obesidade) etc. Entre os anticorpos envolvidos temos o anti-GAD e anti-IA2, também o anti-ZnT8 e o anti-insulina, embora os anticorpos anti-insulina sejam pouco frequentes em adultos. O DM1 é mais comum em crianças e adolescentes. Apresenta deficiência grave de insulina devido a destruição das células ß, associada à autoimunidade. A apresentação clínica é abrupta, com propensão à cetose e cetoacidose, com necessidade de insulinoterapia plena desde o diagnóstico ou após curto período. Diabetes Mellitus tipo 2 • Doença complexa e multifatorial; • Comum a partir dos 40 anos; • Associado à síndrome metabólica e obesidade. • Deficiência na ação ou produção de insulina. O DM2 é o tipo mais comum. Está frequentemente associado à obesidade e ao envelhecimento. Tem início insidioso e é caracterizado por resistência à insulina e deficiência parcial de secreção de insulina pelas células ß-pancreáticas, além de alterações na secreção de incretinas. Apresenta frequentemente características clínicas associadas à resistência à insulina, como acantose nigricans e hipertrigliceridemia. Tem característica de evolução progressiva (mais demorada que a evolução do DM1). Fisiopatologia DM2 Essa doença é caracterizada como uma resistência tecidual para com o hormônio insulina. A glicose se manterá elevada no plasma sanguíneo. Então o principal problema nesse caso é na cascata de ativação dos receptores de insulina nos tecidos periféricos. Existem diversos fatores que podem interagir com essa cascata e gerar problemas em sua continuação – excesso de tecido adiposo; defeitos genéticos; excesso de radicais livres de oxigênio; e processo inflamatório constante. Inicialmente a insulina pode até ser secretada pelo pâncreas, mas não vai conseguir sucesso na ativação dos receptores de glicose (GLUT-1/GLUT-2/GLUT- 3/GLUT-4/GLUT-5). Os tecidos musculares e adiposos necessitam da insulina para translocação do GLUT-4. Com o aumento contínuo de glicose no sangue, as células B do pâncreas passam a secretar maior quantidade de insulina numa espécie de “compensação” – que poderá funcionar Ana Beatriz Figuerêdo Almeida - Medicina 2023.1 Página | 3 temporariamente no controle do excesso glicêmico sanguíneo. Contudo, a intensa atividade celular levará ao desgaste completo dessas células e consequente falha na produção de insulina. E instauração da Diabetes Mellitus. Disfunção das células beta pancreáticas Com a resistência insulínica sendo instalada, haverá uma resposta compensatória que será o aumento da secreção de insulina pelas células β. porém, depois de um tempo as células se esgotam e passam a morrer (entram em apoptose), levando a uma diminuição das taxas séricas de insulina. Patologicamente é visto a destruiçãocelular e o depósito de proteína amiloide no pâncreas, impedindo a secreção insulínica. Diabetes Mellitus gestacional • Intolerância da gestante aos carboidratos (maior resistência insulínica); • Gravidade variável; • Começa durante a gravidez; • É um fator de risco para desenvolvimento da DM2; • No primeiro trimestre há investigação de diabetes prévia ou de fatores de risco para DM. A DM gestacional é uma deficiência na ação e/ou produção da insulina provocada pelas alterações fisiológicas do período gestacional. Alguns hormônios produzidos pela placenta e outros aumentados pela gestação, tais como lactogênio placentário, cortisol e prolactina, podem promover redução da atuação da insulina em seus receptores. Os outros tipos de Diabetes Mellitus são mais raros e complexos. Entre os outros tipos de diabetes teremos como causas: • Defeitos monogênicos na função das células β pancreáticas; • Defeitos genéticos na ação da insulina; • Doenças do pâncreas exócrino; • Associado a endocrinopatias; • Secundário a drogas (quimicamente induzido); • Secundário a infecções; • Formas incomuns de DM imunomediado; • Síndromes genéticas associadas ao DM. 3) ABORDAR OS SINAIS E SINTOMAS ASSOCIADOS A DM E SUAS COMPLICAÇÕES AGUDAS E CRÔNICAS (PRINCIPAL - PÉ DIABÉTICO, QUAIS OS CUIDADOS, COMO TRATAR); Na DM1 os sintomas são de aparecimento agudo, evolução mais rápida quando comparada à DM2. Sintomas característicos da DM: • hiperglicemia; • cetoacidose; • aumento dos triglicerídeos; • subnutrição; • perda de peso - cansaço fácil devido à perda progressiva de massa muscular; • poliúria (urina aumentada) e polidipsia (sede excessiva) - há ativação do hipotálamo devido ao acúmulo de glicose no sangue, que leva ao aumento da osmolaridade sanguínea; essa ativação leva ao aumento da sede numa tentativa do corpo de “diluir” a concentração sanguínea e consequente aumento da diurese; • polifagia (aumento do apetite), devido ao estado subnutrido do paciente. Complicações crônicas da DM Macroangiopatia - processo inflamatório em grandes artérias (aterosclerose, IAM, doenças coronarianas, hipóxia). Microangiopatia - afeta os endotélios, capilares retinianos, células mesangiais (rins), formação de capilares espessos e menos permeáveis (relacionada a neuropatia e a retinopatia diabética). Nefropatia - acúmulo de AGEs, estímulo ao aumento da membrana basal na BFG (barreira de filtração glomerular), redução do RFG (ritmo de filtração glomerular) pela redução da área, modificação do Kf (coeficiente de ultrafiltrado), lesões glomerulares (glomeroescleroses). Retinopatia - acontece principalmente pela via dos polióis (sorbitois) e pela neovascularização (estimulada pelo VEGF). Ana Beatriz Figuerêdo Almeida - Medicina 2023.1 Página | 4 Neuropatia - desmielinização pela glicação (AGEs); diminuição do mionositol devido a competição com o sorbitol no interior dos neurônios e por isso diminuição das atividades de bombas Na/K, diminuindo a formação de potencial de ação. Pé diabético A prevalência de diabetes continua a aumentar em todo o mundo, levando a uma incidência crescente de complicações nos pés, incluindo infecções. As infecções do pé diabético estão associadas a morbidades substanciais, exigindo visitas frequentes ao médico, cuidados diários com úlceras, terapia antimicrobiana e procedimentos cirúrgicos, com altos custos de cuidados de saúde associados. De particular importância, infecções do pé diabético continuam a ser a complicação diabética mais frequente que requer hospitalização. A osteomielite pode complicar 20% das úlceras no diabetes e é o evento precipitante mais comum que leva à amputação de membros inferiores. Os resultados em pessoas com úlcera de pé diabético infectada são ruins: em grande estudo prospectivo, ao final de um ano, a úlcera havia cicatrizado em apenas 46% dos casos (e posteriormente recorreu em 10% deles), enquanto 15% morreram e 17% necessitaram de amputação da extremidade inferior. Assim, não é surpreendente que uma análise bibliográfica de pesquisas globais sobre úlceras de pé diabético nos últimos dez anos tenha constatado que a infecção pontuou entre os mais frequentes tópicos atuais e as publicações mais citadas. Gerenciar infecções do pé diabético requer atenção cuidadosa para diagnosticar adequadamente a condição, obter amostras adequadas para cultura, selecionar cuidadosamente a terapia antimicrobiana, determinar rapidamente quando as intervenções cirúrgicas são necessárias e fornecer qualquer cuidado adicional necessário ao tratamento da úlcera e da pessoa. Uma abordagem sistemática e baseada em evidências para gerenciar infecções do pé diabético provavelmente melhora os resultados, especificamente a resolução da infecção e a prevenção de complicações, como amputação de membros inferiores. Isso é melhor realizado por equipes interdisciplinares, que devem incluir entre os membros, sempre que possível, um especialista em doenças infecciosas ou em microbiologia clínica-médica. É recomendado considerar o diagnóstico de infecção no pé de um indivíduo com diabetes na presença de sinais clínicos locais ou sistêmicos de inflamação e classificar quanto à sua gravidade. Em pessoas com suspeita de infecção no pé, mas com exame físico duvidoso, deve ser considerado o uso de marcadores inflamatórios séricos, como a velocidade de hemossedimentação (VHS) e a proteína C-reativa (PCR). É recomendada a internação hospitalar para todas as pessoas com infecções graves e moderadas, ou associadas a comorbidades relevantes. Na presença de úlcera ativa no pé, com suspeita de osteomielite, é recomendada a utilização da combinação dos dois testes, incluindo toque ósseo (“probe to bone”), VHS e/ou PCR e/ou procalcitonina e raio-X do pé, como exames iniciais subsidiários para o diagnóstico. Na suspeita de osteomielite, quando o diagnóstico não for claro após avaliação clínica, raio-X simples e exames laboratoriais, é recomendado confirmar o diagnóstico por ressonância magnética do pé ou PET- CT/ FDG ou cintilografia com leucócitos marcados. Na suspeita de osteomielite na qual o diagnóstico definitivo ou a determinação da sensibilidade ao antibiótico do agente causal são necessários, deve ser colhida uma amostra asséptica de osso (de forma Ana Beatriz Figuerêdo Almeida - Medicina 2023.1 Página | 5 percutânea ou cirúrgica) para cultura e estudo histológico, este se possível. Recomenda-se administrar, inicialmente, antibióticos parenterais em todas as infecções graves do pé diabético. Se a infecção apresentar evolução favorável, podem ser mudados para terapêutica oral. Tratar todas as infecções leves e a maioria das moderadas com antibioticoterapia oral, desde o início ou após melhora de tratamento inicial com antibioticoterapia parenteral. A prata demonstrou ter efeito antibacteriano, e tratamentos tópicos (cremes, curativos) são amplamente utilizados para úlceras do pé diabético infectadas. Há evidência de revisões sistemáticas que apoiam a eficácia no tratamento ou prevenção da infecção da úlcera. Não é recomendado utilizar agentes antimicrobianos tópicos, mesmo no tratamento das infecções leves do pé diabético. Não é recomendado tratar úlceras não infectadas com antibioticoterapia profilática. Cetoacidose diabética A cetoacidose diabética (CAD) é uma complicação aguda que ocorre tipicamente no diabetes tipo 1 (DM1), embora também possa ocorrer em pacientes com DM tipo 2 (DM2). É definida pela presença de hiperglicemia, acidose metabólica e cetose. O diagnóstico diferencial da CAD inclui crises hiperglicêmicas, outras causas de cetose, acidose, hiperosmolalidade e coma. O quadro clínico da CAD inicia com sinais e sintomas típicos poliúria, polidipsia,perda de peso, náuseas, dor abdominal, vômitos e progride rapidamente, causando sonolência, torpor e, finalmente, coma. Ao exame físico, em consequência dos diferentes graus de acidose, pode ocorrer hiperpnéia (respiração de Kussmaul). Há desidratação com pele seca e fria, língua seca, hipotonia dos globos oculares, extremidades frias, agitação, fácie hiperemiada, hipotonia muscular, pulso rápido e pressão arterial variando desde normal até o choque hipovolêmico. Em algumas situações, são verificadas dilatação, atonia e estase gástrica com maior incidência de vômitos. O atraso no início do tratamento da acidose e da desidratação pode evoluir com choque hipovolêmico e morte. Os eventos precipitantes mais comuns são as infecções, (geralmente pneumonia ou infecções do trato urinário) e descontinuação da terapia com insulina. Outras condições menos frequentes são: uso de álcool, trauma, embolia pulmonar, infarto agudo do Ana Beatriz Figuerêdo Almeida - Medicina 2023.1 Página | 6 miocárdio, medicamentos que alteram metabolismo de carboidratos como glicocorticóides, diuréticos tiazídicos em altas doses, agentes simpaticomiméticos (dobutamina e terbutalina) e agentes antipsicóticos “atípicos” como clozapina, olanzapina, risperidona e quetiapina, além de drogas ilícitas como a cocaína. Problemas psiquiátricos e comportamentais, como transtornos alimentares, omissão proposital de insulina, além do mau uso ou funcionamento dos dispositivos de infusão subcutânea contínua de insulina são causas importantes nos jovens. A gravidade da CAD pode ser classificada em leve, moderada ou grave, sendo baseada no pH venoso. Outras características clínicas e laboratoriais também indicam CAD grave. O tratamento deve ser iniciado tão logo a CAD seja diagnosticada, e as metas terapêuticas sejam atingidas o quanto antes, visando a estabilização do paciente e a diminuição da sua morbimortalidade. Medidas terapêuticas • Reposição de volume (infusão de solução salina isotônica de NaCl 0,9%); • Reposição de eletrólitos; • A administração de bicarbonato não é mais indicada; • Insulinoterapia (deve ser feito com baixa dose de insulina regular intravenosa em todos os pacientes com CAD moderado a grave que tenham potássio sérico ≥3,3 mEq/L. A única indicação para atrasar o início da terapia com insulina é se o potássio sérico estiver abaixo de 3,3 mEq/L). 4) CITAR OS NÍVEIS DE PREVENÇÃO; a) Prevenção primária é a ação tomada para remover causas e fatores de risco de um problema de saúde individual ou populacional antes do desenvolvimento de uma condição clínica. Inclui promoção da saúde e proteção específica (ex.: imunização, orientação de atividade física para diminuir chance de desenvolvimento de obesidade). b) Prevenção secundária é a ação realizada para detectar um problema de saúde em estágio inicial, muitas vezes em estágio subclínico, no indivíduo ou na população, facilitando o diagnóstico definitivo, o tratamento e reduzindo ou prevenindo sua disseminação e os efeitos de longo prazo (ex.: rastreamento, diagnóstico precoce). c) Prevenção terciária é a ação implementada para reduzir em um indivíduo ou população os prejuízos funcionais consequentes de um problema agudo ou crônico, incluindo reabilitação (ex.: prevenir complicações do diabetes, reabilitar paciente pós- infarto – IAM ou acidente vascular cerebral). d) Prevenção quaternária é a detecção de indivíduos em risco de intervenções, diagnósticas e/ou terapêuticas, excessivas para protegê-los de novas intervenções médicas inapropriadas e sugerir-lhes alternativas eticamente aceitáveis. e) Prevenção quinquenária trata de medidas preventivas que visam a melhoria da qualidade dos cuidados prestados ao paciente, mirando no cuidador, de ondem emergem os cuidados. Parte da ideia de que é preciso cuidar de quem cuida. 5) COMO É FEITO O RASTREIO DA DIABETES MELLITUS NO SUS; Rastreamento da Diabetes Mellitus – buscar o diagnóstico nos indivíduos assintomáticos. Indicações para rastreio: • pessoas > 45 anos; • presença de 1 ou mais fatores de risco: − obesidade/sobrepeso; − síndrome metabólica; Ana Beatriz Figuerêdo Almeida - Medicina 2023.1 Página | 7 − HAS; − histórico familiar de DM2; − história prévia de DMG; − uso de antipsicóticos, diuréticos tiazídicos ou corticoesteroides. Exames de rastreio: • glicemia de jejum; • TOTG; e • hemoglobina glicada. Geralmente: glicemia de jejum + hemoglobina glicada. É recomendado o rastreamento (DM2) para todos os indivíduos com 45 anos ou mais, mesmo sem fatores de risco, e para indivíduos com sobrepeso/obesidade que tenham pelo menos um fator de risco adicional para DM2. A triagem para risco de DM tipo 1 (DM1) com dosagem de autoanticorpos deve ser considerada para familiares de primeiro grau de pessoas acometidas apenas se houver possibilidade de inserir pessoas de risco em estudos clínicos visando prevenção do DM. A presença de autoanticorpos associados a DM autoimune identifica indivíduos com risco aumentado de desenvolvimento de DM1, tanto em parentes de primeiro grau de pessoas com DM1 quanto na população geral. 6) COMPREENDER O DIAGNÓSTICO (VALORES DE REFERÊNCIA), QUAIS SÃO OS EXAMES DE ROTINA PARA O PACIENTE COM DM; Na maioria das vezes, as características clínicas são suficientes para diferenciação entre os principais tipos de DM. Demonstrou-se que a idade no diagnóstico, o uso de insulina, o tempo para início de insulinoterapia e o índice de massa corporal foram preditores independentes e bons para diferenciação entre os dois tipos principais de diabetes, em especial a combinação de idade ao diagnóstico e tempo para início de insulina. Em adultos jovens, a apresentação clínica nem sempre é suficiente para classificação do DM, pois pode haver sobreposição significativa das características clínicas de DM1 e DM2 nesta faixa etária. Em casos de suspeita de DM1 com apresentação clínica atípica, é RECOMENDADO a solicitação de autoanticorpos. O resultado positivo confirma o diagnóstico de DM1. O diagnóstico de DM2 em crianças deve ser suspeitado em adolescentes com obesidade e afrodescendentes, com história familiar positiva para DM2, que apresentam hiperglicemia e/ou glicosúria em exame de rotina. A cetoacidose ao diagnóstico também pode estar presente em pacientes com DM2. Nestes casos, o diagnóstico diferencial com DM 1 será realizado pela história clínica, observação da evolução da doença e pela determinação de autoanticorpos.19 Em jovens com DM 2, os anticorpos não estão presentes e os níveis de peptídeo C são normais ou elevados. Na suspeita de DM1 o tratamento com insulina deve ser iniciado imediatamente, independentemente da confirmação laboratorial do diagnóstico. No caso de dúvidas quanto à classificação de DM, deve ser sempre considerado a presença de sinais e sintomas relacionados a doenças do pâncreas exócrino (alcoolismo, cirurgia), uso de medicações hiperglicemiantes, endocrinopatias (acromegalia, síndrome de Cushing), infecções (HIV, hepatite B e C), hemocromatose ou outras condições capazes de levar a hiperglicemia. O diagnóstico de diabetes mellitus (DM) deve ser estabelecido pela identificação de hiperglicemia. Para Ana Beatriz Figuerêdo Almeida - Medicina 2023.1 Página | 8 isto, podem ser usados a glicemia plasmática de jejum, o teste de tolerância oral à glicose (TOTG) e a hemoglobina glicada (A1c). Diagnóstico: diferente nos pacientes sintomáticos e assintomáticos. Chave para o diagnóstico “PPPP” (os 4 Ps) – perda de peso, polifagia, polidipsia, poliúria. Fluxograma - Diagnóstico DM2 Exames diagnósticos complementares: • Glicemia de jejum (em sangue periférico, com mínimo de 8h em jejum); • Teste de tolerância orala glicose (TOTG): deve ser realizada 02 coletas de sangue (em jejum e após ingesta de 75g de glicose); requer dieta habitual nos últimos 3 dias; • Hemoglobina glicada. A periodicidade de solicitação de exames de controle e rastreamento que são apresentados no PCDT DM2 (SUS) estão em conformidade com recomendações desta diretriz (2022). • Glicemia em jejum, HbA1c – ao menos 2 vezes ao ano; • Colesterol total, triglicerídeos, HDL colesterol, LDL colesterol, creatinina sérica -no diagnóstico e anual ou a critério clínico; • Albuminúria – no diagnóstico e anual; • Fundoscopia – anualmente a partir do diagnóstico; • Avaliação dos pés – no diagnóstico e anual. Se exame alterado, conforme critérios clínicos; • Dosagem de vitamina B12 – anualmente a partir do diagnóstico (para usuários de metformina). Critérios diagnósticos da DM1 O pico de incidência do DM1 ocorre na infância e adolescência, entre 10 e 14 anos de idade e, menos comumente, em adultos e idosos. Adultos que apresentam destruição das células β pancreáticas devido ao processo autoimune, têm o diagnóstico de diabete mellitus autoimune do adulto (Latent Autoimmune Diabetes in Adults – LADA). A SBD recomenda que sejam disponibilizados os exames laboratoriais de peptídeo C, os auto-anticorpos citados acima para os recém diagnosticados, incluindo o Anti-GAD (antidescarboxilase do ácido glutâmico) para aqueles com diagnósticos há mais tempo, sob demanda, no intuito de se instituir diagnóstico e tratamento adequados às pessoas com LADA. 7) ENTENDER O TRATAMENTO FARMACOLÓGICO (CONTRAINDICAÇÕES DE CADA MEDICAMENTO) ; Metas terapêuticas Em pacientes com diabetes, o controle glicêmico deve ser individualizado de acordo com a situação clínica. Os parâmetros de avaliação indicados são a hemoglobina glicada A1c (HbA1c) e as glicemias capilares (ou plasmáticas) determinadas em jejum, nos períodos pré-prandiais, 2h após as refeições e ao deitar. Metas individualizadas em diversas situações no Diabetes tipo 2: Valores normais de glicemia de jejum para adultos não gestantes = 70-99mg/dL; Valores normais de HbA1c para adultos não gestantes < 5,7%. → É recomendada a meta de HbA1c < 7,0% para todos os indivíduos com diabetes, para prevenção de complicações microvasculares, desde que não incorra em hipoglicemias graves e frequentes. Ana Beatriz Figuerêdo Almeida - Medicina 2023.1 Página | 9 Tratamento - Diabetes Mellitus tipo 1 Os esquemas de insulinoterapia para pessoas com DM1 devem mimetizar a secreção fisiológica de insulina que ocorre em indivíduos sem diabetes. A estratégia de eleição é a terapia basal-bolus, que deve ser instituída precocemente, com múltiplas aplicações diárias de insulina (múltiplas doses de insulina – MDI) ou com a bomba de infusão de insulina (sistema de infusão contínua de insulina – SICI). A estratégia de reposição de insulina, para pessoas com DM1, deve mimetizar a secreção fisiológica de insulina. Tradicionalmente, assume-se 50% da secreção como componente basal, ao longo de todo o dia, e os 50% restantes como componente prandial, em resposta às refeições. Deve-se usar insulinas basais para o componente basal, e insulinas prandiais para o componente prandial, preferentemente análogos de rápida ou ultrarrápida ação, com MDI ou SICI. As necessidades diárias de insulina no DM1 podem ser estimadas a partir do peso corporal, tipicamente variando entre 0,4 U/kg/dia a 1,0 U/kg/dia. Doses maiores podem ser requeridas durante a puberdade, gestação ou infecções. Habitualmente, o componente prandial é dividido em três a quatro bolus pré-prandiais por dia, com aplicação 30 minutos antes do início da refeição para a insulina humana regular, 20 min antes do início da refeição para os análogos rápidos e imediatamente antes da refeição para os análogos ultrarrápidos. As insulinas disponibilizadas pelo MS podem ser classificadas como insulina basal (NPH e análogo de ação prolongada) e insulina bolus (regular e análogo de ação rápida). Também podem ser classificadas de acordo com a sua estrutura proteica em insulinas humanas (NPH e regular) e análogos de insulina de ação rápida (asparte, glulisina e lispro), de ação prolongada (detemir e glargina U100) e de ação ultraprolongada (degludeca e glargina U300). A dose de insulina bolus corresponde à insulina de ação rápida administrada previamente às refeições, para metabolização dos carboidratos ingeridos (bolus prandial ou da alimentação) e para correção de hiperglicemias (bolus de correção). O ideal é que corresponda a 50% ou mais da dose total diária de insulina e que seja administrada antes das refeições principais, de acordo com a ingestão de carboidratos e níveis glicêmicos. Desta forma, a dose de insulina de ação rápida (bolus) administrada antes das refeições é composta de duas doses: o bolus prandial e o bolus de correção, calculados separadamente, somados e administrados juntos. Insulina NPH = insulina basal A dose total diária da insulina basal NPH, pode ser calculada conforme está descrito na tabela 3. Ela deverá ser administrada duas a três vezes ao dia e eventualmente, quatro vezes ao dia. A maior parte dos pacientes necessita de três administrações diárias: antes do desjejum, antes do almoço e antes de dormir ou 22h. A última dose de NPH do dia deve ser administrada antes de dormir, aproximadamente às 22 Ana Beatriz Figuerêdo Almeida - Medicina 2023.1 Página | 10 horas ou 8 horas antes do despertar do paciente. A utilização de doses de NPH antes do jantar pode resultar em pico de ação durante a madrugada, causando hipoglicemias noturnas e concentrações reduzidas de insulina no período do amanhecer quando, geralmente, há piora na ação da insulina.5,16 Os pacientes que usam uma ou duas doses elevadas de insulina NPH podem apresentar hipoglicemia, se atrasarem ou omitirem refeições, devido ao pico pronunciado destas doses elevadas de NPH. Insulina humana regular = insulina bolus Administra-se a insulina regular 30 minutos antes das refeições principais, em três aplicações diárias. A insulina regular possui limitações quanto ao seu uso, como insulina bolus, porque deve ser administrada, no mínimo, 30 minutos antes das refeições, dificultando o ajuste de dose de acordo com a ingestão de carboidratos da refeição. Por este motivo, calcula-se uma dose fixa a ser administrada antes das refeições principais e sugere-se a manutenção de quantidades constantes de carboidratos nas refeições. Conservação e validade das insulinas As insulinas apresentam boa estabilidade e têm ação preservada, desde que devidamente conservadas, segundo as recomendações do fabricante. Existem diferenças de conservação e de validade entre a insulina em uso e a lacrada, para que a potência e a estabilidade sejam mantidas. Deve-se anotar a data inicial de uso da insulina, a fim de acompanhar a validade, bem como verificar o aspecto da insulina antes de sua utilização. Em geladeira doméstica, a insulina deve ser conservada entre 2 e 8o C; para isso, precisa ser armazenada nas prateleiras do meio, nas da parte inferior, ou na gaveta de verduras, longe das paredes, em sua embalagem original e acondicionada em recipiente plástico ou de metal com tampa. Não deve ser congelada; se isso acontecer, precisa ser descartada. Quando sob refrigeração, a insulina em uso deve ser retirada da geladeira entre 15 e 30 minutos antes da aplicação, para evitar dor e irritação no local em que será injetada. Os fabricantes não recomendam guardar a caneta recarregável em geladeira, pois isso poderia causar danos ao mecanismo interno e interferência no registro da dose correta. Quanto ao transporte da insulina, é importante seguir as recomendações do fabricante, a fim de manter a sua integridade.O transporte doméstico pode ser feito em embalagem comum. Se for utilizada embalagem térmica ou isopor, devem-se tomar precauções para que a insulina não entre em contato direto com gelo ou similar, quando usado. Em deslocamentos, independentemente da forma e do tempo, a insulina sempre deve ser transportada em bagagem de mão. Orientações em relação à aplicação da insulina podem ser resumidas da seguinte forma: → A via de administração usual é subcutânea (SC), por seringas ou canetas. → A aplicação SC pode ser realizada nos braços, no abdômen, nas coxas e nádegas (locais afastados de articulações, ossos, grandes vasos sanguíneos e nervos, sendo de fácil acesso para possibilitar a autoaplicação). → É necessário lavar as mãos com água e sabão antes da preparação da insulina, sendo necessária a assepsia do local de aplicação com álcool 70% líquido. → Deve homogeneizar as suspensões de insulina (NPH ou associações) antes do uso, rolando gentilmente o frasco de insulina entre as mãos. → Para a aplicação da insulina, é necessário pinçar levemente o local de aplicação entre dois dedos e introduzir a agulha completamente, em ângulo de 90 graus. → Antes da aplicação, o local da injeção deve ser inspecionado para garantir que se encontre livre de lipodistrofia, edema, inflamação e infecções. → É importante realizar rodízio do local de aplicação sistematicamente, de modo a manter uma distância mínima de 1 cm entre cada injeção, para evitar desenvolvimento de lipodistrofia e o descontrole glicêmico. → A reutilização de seringas de insulina e de agulhas descartáveis para canetas não é uma prática usualmente recomendada por aumentar o risco de Lipodistrofia. Os locais recomendados para aplicação de insulina: • Braços: face posterior, três a quatro dedos abaixo da axila e acima do cotovelo (considerar os dedos do indivíduo que receberá a injeção de insulina); Ana Beatriz Figuerêdo Almeida - Medicina 2023.1 Página | 11 • Nádegas: quadrante superior lateral externo; • Coxas: face anterior e lateral externa superior, quatro dedos abaixo da virilha e acima do joelho; • Abdome: regiões laterais direita e esquerda, com distância de três a quatro dedos da cicatriz umbilical. Atenção: considerar dedos de quem está recebendo a insulina. O rodízio dos pontos de aplicação é fator decisivo para um tratamento insulínico seguro e eficaz, prevenindo lipo-hipertrofia e descontrole glicêmico. • Dividir cada local de aplicação recomendado em pequenos quadrantes - as aplicações, nesses quadrantes, devem ser espaçadas em pelo menos 1 cm entre eles e seguir em sentido horário; • Para múltiplas aplicações, aconselha-se fixar um local para cada horário e alternar os pequenos quadrantes do mesmo local. Para uma ou duas aplicações ao dia, o mesmo local poderá ser usado, alternando-se os lados direito, esquerdo e os quadrantes de aplicação; • Após aplicar a insulina em determinado ponto, indica-se evitá-lo durante 14 dias, tempo necessário de cicatrização, prevenindo-se, também, a lipo- hipertrofia. Descarte correto do material utilizado Todos os itens perfurocortantes e contaminantes – como materiais com sangue resultantes da aplicação de insulina e da realização de testes de glicemia, assim como insumos usados na bomba de infusão de insulina (cateter, cânula e agulha-guia) – gerados em domicílio devem ser descartados em coletores específicos para perfurocortantes, como os utilizados nos serviços de saúde. Na ausência de coletor próprio para materiais perfurocortantes, o profissional de saúde deve buscar assegurar o acesso a descarte adequado para todos os pacientes; caso não seja possível, recomenda-se providenciar recipiente com características semelhantes ao coletor apropriado para descarte: material inquebrável, paredes rígidas e resistentes a perfuração, com abertura larga (o suficiente para o depósito de materiais sem acidentes) e tampa. Frascos de insulina, canetas descartáveis (exceto as tampas) e reservatórios de insulina das bombas de infusão devem ser descartados no mesmo coletor destinado aos materiais perfurocortantes. Canetas recarregáveis, sem o refil de insulina, e tampas de canetas descartáveis podem ser depositadas em lixo comum. Pilhas e baterias dos monitores de glicose e da bomba de infusão devem ser descartadas em coletores específicos, hoje disponibilizados em alguns serviços de saúde, incluindo farmácias e mercados de grandes redes. A garrafa PET não é o recipiente mais recomendado para o descarte de resíduos gerados em domicílio, pois não atende às principais características estabelecidas para coletores de itens perfurocortantes e medicamentos. O recipiente com produtos perfurocortantes descartados deve ser mantido em local de fácil acesso, porém seguro. Jamais se deve tentar resgatar algo do coletor. Esses cuidados evitam acidentes com adultos, crianças e animais de estimação. Depois de preenchido, o coletor deve ser entregue a uma Unidade Básica de Saúde (UBS) próxima, para tratamento e destino adequados. Nessas unidades, os profissionais devem orientar a rotina de entrega segura dos coletores. Tratamento pré-diabetes O pré diabetes (pré-DM) é uma condição com elevado risco para desenvolver DM2. Cerca de 25% dos pacientes progridem para DM2. Os principais fatores que determinam a progressão são: a história familiar de DM2, a presença de sobrepeso e obesidade, a síndrome metabólica, a presença prévia de doença cardiovascular, a história de DM gestacional (DMG), o uso crônico de drogas antipsicóticas, valores elevados de HbA1c acima de 6% e a glicemia de jejum igual ou superior a 110 mg/dL. A principal medida na prevenção de DM2 é a mudança de estilo de vida (MEV), incluindo adesão a uma dieta saudável visando redução do peso corporal em pelo menos 5% nos indivíduos com sobrepeso ou obesidade, combinada com atividade física regular. O uso da metformina, associado a medidas de estilo de vida, deve ser considerado na prevenção do DM2 em adultos com pré-DM nas seguintes situações: idade menor que 60 anos, obesos com IMC acima de 35 kg/m2, mulheres com história de diabetes gestacional, na presença de síndrome metabólica, com hipertensão ou quando a glicemia de jejum for maior que 110 mg/dL. → Pacientes em uso de metformina apresentam risco aumentado para deficiência de Vitamina B12, devendo Ana Beatriz Figuerêdo Almeida - Medicina 2023.1 Página | 12 suas dosagens serem avaliadas periodicamente, e tratadas se necessário. Diabetes Mellitus tipo 2 O tratamento farmacológico do DM2 recomendado no PCDT tem por base as evidências científicas para o controle do diabetes, levando em consideração a disponibilidade de acesso pelo SUS. A escolha do medicamento geralmente segue a sequência apresentada no fluxograma, originalmente do PCDT (Protocolos Clínicos e Diretrizes Terapêuticas do Ministério da Saúde) DM2, com o uso inicial de metformina em monoterapia, podendo associar outros antidiabéticos orais, no caso de falha ao atingir os objetivos terapêuticos. Metformina O início da terapia medicamentosa com metformina está de acordo com esta Diretriz e também com outras entidades internacionais O principal componente do acompanhamento do tratamento da hiperglicemia no DM2 é a dosagem de HbA1c, com o objetivo geral de atingir valores ≤ 7%. As metas terapêuticas podem ser menos rígidas (HbA1c 7,5% a 8,0%) de acordo com a idade/expectativa de vida e a presença de complicações e/ou comorbidades e podem ser encontradas nesta Diretriz. Ao combinar mais de um fármaco, deve-se levar em conta que a efetividade comparativa da adição de um novo hipoglicemiante oral mostra uma redução de 0,5% a 1,5% de HbA1c para cada novo fármaco acrescentado. Os níveis de vitamina B12deverão ser avaliados anualmente após 4 anos de início da metformina em função do risco de deficiência. Ana Beatriz Figuerêdo Almeida - Medicina 2023.1 Página | 13 Sulfoniluréias A glibenclamida e a gliclazida (liberação imediata e liberação prolongada) são as sulfoniluréias disponíveis no SUS. Esses medicamentos possuem eficácia similar, contudo, a SBD recomenda que a SU de escolha para o tratamento de pacientes com DM2 seja a gliclazida MR, devido ao menor risco de hipoglicemia em relação à glibenclamida, segurança cardiovascular estabelecida e por promover redução da doença renal no DM, o que configura potencial benefício cardiovascular futuro. Inibidor do receptor SGLT2: Dapagliflozina A principal modificação para o tratamento do DM2 no novo PCDT foi a incorporação da dapagliflozina como opção na segunda intensificação de tratamento em pessoas com diabetes acima de 65 anos e com doença cardiovascular estabelecida (infarto agudo do miocárdio prévio, cirurgia de revascularização do miocárdio previa, angioplastia previa das coronárias, angina estável ou instável, acidente vascular cerebral isquêmico prévio, ataque isquêmico transitório prévio, insuficiência cardíaca com fração de ejeção abaixo de 40%). O medicamento da classe dos inibidores de SGLT2 inicialmente disponibilizado pelo SUS é a dapagliflozina na dose de 10mg/dia. Em relação a essa recomendação, a SBD destaca o benefício de proteção renal e a redução de hospitalizações e mortes por insuficiência cardíaca, independente da idade. Ana Beatriz Figuerêdo Almeida - Medicina 2023.1 Página | 14 Insulinoterapia A insulinoterapia está indicada quando há falha no controle glicêmico em uso de antidiabéticos orais. Em adultos não gestantes com diagnóstico recente de DM2, sem doença cardiovascular ou renal, assintomáticos, onde a HbA1c é > 9,0%, a TERAPIA DUPLA com metformina associada à INSULINA deve SER CONSIDERADA para melhorar o controle glicêmico. Em adultos com DM2 sintomáticos (poliúria, polidipsia, perda de peso) e que apresentam HbA1c > 9% ou glicemia de jejum ≥ 250 mg/dl, a terapia à base de insulina é RECOMENDADA para melhorar o controle glicêmico, mesmo que de forma transitória. Tratamento Diabetes Mellitus Gestacional A abordagem terapêutica de todas as gestantes com diabetes inclui necessariamente orientação nutricional adequada e individualizada e atividade física, na ausência de contra indicações obstétricas. Além da abordagem nutricional e de estímulo a mudanças no estilo de vida, a terapia farmacológica está sempre indicada para gestantes com DM1 e DM2 pré-gestacional. Especificamente nos casos de DMG, após até duas semanas de terapia nutricional, caso os objetivos terapêuticos não sejam atingidos, está indicada a associação com terapia farmacológica. É importante destacar que, em razão da dinâmica das mudanças fisiológicas ao longo da gestação, que têm impacto sobre o metabolismo materno, ajustes na terapia farmacológica, tanto na gestante com DMG quanto nas gestantes com DM pré-gestacional, devem ser realizados, no mínimo a cada 15 dias até a 30ª semana de idade gestacional e semanalmente após a 30ª semana. Os ajustes devem ser individualizados, baseando-se nos resultados do monitoramento da glicemia capilar ou da glicose intersticial. → É recomendado o início da terapia farmacológica na mulher com DMG quando duas ou mais medidas de glicemia, avaliadas após 7 a 14 dias de terapia não farmacológica, estiverem acima da meta. É recomendada a insulina como terapia farmacológica de primeira escolha para controle glicêmico na mulher com DMG, por sua eficácia e segurança comprovadas durante a gravidez e pelo fato de o tamanho da sua molécula limitar a passagem placentária do fármaco. A terapia com insulina para gestantes com DMG pode ser considerada na dose total inicial de 0,5 ui /kg/dia, com ajustes individualizados baseados no monitoramento diário da glicose a cada uma semana a duas semanas. Deve ser considerado o uso de insulinas humanas NPH/ Regular, e de análogos de insulina aprovados para uso na gestação, como opções para o tratamento farmacológico do DMG. As insulinas humanas são de baixo custo e mais facilmente acessíveis no Brasil. Além das insulinas humanas (NPH e Regular), alguns análogos de insulina são considerados seguros para serem utilizados durante a gestação. Categoria A: Em estudos controlados em mulheres grávidas, o fármaco não demonstrou risco para o feto no primeiro trimestre de gravidez. Não há evidências de risco nos trimestres posteriores, sendo remota a possibilidade de dano fetal. Categoria B: Os estudos em animais não demonstraram risco fetal, mas também não há estudos controlados em mulheres grávidas; ou, então, os estudos em animais revelaram riscos, mas que não foram confirmados em estudos controlados em mulheres grávidas. Ana Beatriz Figuerêdo Almeida - Medicina 2023.1 Página | 15 Categoria C: Não foram realizados estudos em animais e nem em mulheres grávidas; ou, então, os estudos em animais revelaram risco, mas não existem estudos disponíveis realizados em mulheres grávidas. Fonte: ANVISA O uso de metformina é considerado uma opção na terapia do DMG. No entanto, ainda mais estudos são necessários para fornecer evidências de segurança no longo prazo na prole que foi exposta à metformina no ambiente intrauterino. É recomendado o uso da metformina em mulheres com DMG sem controle glicêmico adequado com medidas não farmacológicas, como alternativa terapêutica, na inviabilidade do uso de insulina. A metformina em monoterapia pode falhar no alcance das metas de controle glicêmico. Idade materna avançada, glicemia de jejum elevada e diagnóstico precoce do DMG indicam provável ineficácia desse fármaco. Nesses casos, o uso de insulina é mandatório. A metformina promove supressão da respiração mitocondrial. Por causa da livre passagem de metformina para o sangue fetal, considera-se que este fármaco não deve ser iniciado e deve ser suspenso nos casos em que se observe ao ultrassom baixo peso ou restrição de crescimento fetal. O uso de glibenclamida não é recomendado para gestante com Diabetes Gestacional (DMG), devido ao aumento de risco de macrossômia e hipoglicemia neonatal. 8) ENTENDER O TRATAMENTO NÃO FARMACOLÓGICO - ORIENTAÇÕES CUIDADO NO DESCARTE, AUTOCUIDADO, GESTANTE E A PREVENÇÃO DA DM; Em relação à abordagem não medicamentosa, o PCDT recomenda para pessoas com pré-diabetes a implementação de hábitos de vida saudáveis em conformidade com as recomendações desta Diretriz. Deve ser incentivada a incorporação de frutas, verduras e legumes na alimentação e evitar alimentos ricos em gordura saturada e trans. Pacientes com DM diagnosticado também devem ser instruídos à alimentação saudável e devem receber orientações dietéticas específicas para o DM. A recomendação de pelo menos 150 minutos de atividade física por semana é direcionada tanto aos cuidados com pessoas com pré- diabetes quanto para aqueles já com DM. Terapia nutricional: tratamento de uma doença ou uma condição clínica por meio de mudança na ingesta alimentar. Entre suas metas estão: • controle glicêmico (guiado por metas); • controle pressórico; • controle lipídico; • peso saudável. Não consiste em dieta restritiva, mas sim no equilíbrio entre os macro/micronutrientes (carboidratos, proteínas, fibras, gorduras, vitaminas e sais minerais). A perda de peso sustentada (aos poucos, de 5 a 7%) faz parte da mudança no estilo de vida. Metas: déficit energético de 500 a 750 kcal/dia Não há restrição ou metas de consumo sobre micronutrientes como minerais e vitaminas. O consumo é livre. → O consumo de vitaminas e minerais deve ser PREFERENCIALMENTEpela ingesta alimentar de frutas, verduras, legumes e hortaliças. As indicações para suplementação com cápsulas devem ser específicas. → A recomendação quanto ao consumo de álcool para o paciente diabético é a mesma para a população geral, sendo regular para controle de peso (2 doses/dia homem e 1 dose/dia mulher). O consumo maior de 30g/dia de álcool pode favorecer a maior resistência insulínica e contribuir para uma piora da diabetes. De maneira geral o consumo de álcool deve ser limitado e não restringido. Indivíduos com indicação para restrição total do consumo de álcool: • DM em adolescentes; • gestantes e lactentes; • pancreatite ou hipertrigliceridemia grave; • dependentes de álcool; e • neuropatia periférica avançada. Prática de atividade física. Atividade física é diferente de exercício físico, a atividade física consiste na realização de Ana Beatriz Figuerêdo Almeida - Medicina 2023.1 Página | 16 movimentação do corpo, enquanto o exercício físico consiste em práticas repetitivas com metas à atingir. A diretriz (2019-2020) recomenda a estratégia combinada entre a atividade aeróbica (caminhada, natação, ciclismo – exercício do aparelho cardiovascular) e a atividade de resistência (otimizar o aparelho músculo-esquelético). Cessação do tabagismo – MEV O tabagismo é uma doença crônica que requer intervenções repetidas para chegar ao abandono. Estudos atribuem cerca de 10% da DM2 ao tabagismo. O cigarro é tão importante no cenário de DM devido a sua capacidade de: aumentar a produção de cortisol (hormônico diabetogênico devido seu estímulo à hiperglicemia/maior liberação de açúcar na corrente sanguínea); os receptores nicotínicos no pâncreas reduzem a liberação e insulina; e aparentam (estudos estão sendo realizados) lesar as células beta pancreáticas. 8) DISCUTIR AS POLÍTICAS PÚBLICAS RELACIONADAS AO ACOMPANHAMENTO DO PACIENTE COM DM; 9) FISIOPATOLOGIA DA ACANTOSE NIGRICANS. O escurecimento localizado da pele, principalmente nas dobras do pescoço e axila, que deixa também um aspecto de estar mais grossa e aveludada, é o que se chama acantose nigricante ou nigricans. É comum em pessoas obesas com risco alto para o desenvolvimento do diabetes tipo 2. Esse fenômeno ocorre por conta dos níveis aumentados de insulina, para vencer a resistência encontrada nas células à ação desse hormônio a fim de manter os níveis de glicose normais na circulação (resistência insulínica). Essa dificuldade de ação é principalmente devida a defeitos não na molécula da insulina produzida, mas sim no seu receptor nas várias células do organismo. A insulina em excesso começa a se ligar em outro receptor no qual não encontra resistência, o receptor de outra molécula chamada IGF (insulin-like growth factor, do inglês: fator de crescimento semelhante à insulina), produzido pelo estímulo do hormônio de crescimento. Pela ação cruzada nesse receptor, a insulina promove crescimento de diversos tipos de células da pele, resultando no aparecimento da acantose nigricans. A resistência à insulina também aumenta a ação do IGF-1 de forma indireta ao reduzir a proteína ligante. Assim tem mais hormônio IGF-1 livre para se ligar ao receptor. Muita insulina circulante vai estimular o crescimento celular pela “abertura” do seu receptor, com também vai “abrir” o receptor de IGF-1, mesmo que não se encaixe tão bem.
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