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Universidade Tecnológica Federal do Paraná Engenharia Civil APROVEITAMENTO HIDRÁULICO: FINALIDADES, ELEMENTOS CONSTITUINTES E IMPACTOS DISCIPLINA DE OBRAS HIDRÁULICAS NOMES: ANA CLAUDIA LASKE R.A.: 1466747 DANIELLY LOUREIRO 1466755 MAYRA BRANCO 1512730 NATALIA CAVICHIOLI 1480227 TOLEDO – PR 2016 2 SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO .......................................................................................................................... 4 2. APROVEITAMENTO HIDRÁULICO: FINALIDADES, ELEMENTOS CONSTITUINTES E IMPACTOS ................................................................................................................................. 4 2.1. Fornecimento de água para irrigação .................................................................................... 4 2.1.1. Estudos climáticos: Evapotranspiração ......................................................................... 5 2.1.2. Estudos pedológicos ...................................................................................................... 7 2.1.3. Parâmetros da água ........................................................................................................ 8 2.1.3.1. Salinidade ....................................................................................................... 9 2.1.3.2. Sodicidade .................................................................................................... 11 2.1.4. Tipos de águas utilizadas para irrigação ...................................................................... 11 2.1.4.1. Águas superficiais ........................................................................................ 11 2.1.4.2. Águas subterrâneas ....................................................................................... 13 2.1.4.3. Águas residuárias .......................................................................................... 14 2.1.5. Sistemas de irrigação ................................................................................................... 15 2.1.5.1. Irrigação por aspersão .................................................................................. 15 2.1.5.2. Sistema de irrigação localizada .................................................................... 16 2.1.5.3. Sistema de irrigação subterrânea .................................................................. 17 2.1.5.4. Sistema de irrigação por superfície .............................................................. 18 2.1.6. Escolha do sistema de irrigação................................................................................... 18 2.1.6.1. Quantidade de chuvas ................................................................................... 20 2.1.6.2. Necessidade de água das culturas ................................................................. 20 2.1.6.3. Topografia ..................................................................................................... 21 2.1.6.4. Disponibilidade e qualidade da água para irrigação ..................................... 22 3 2.1.6.5. Aspectos humanos, econômicos e sociais ..................................................... 22 2.1.7. Irrigação no Brasil ....................................................................................................... 23 2.2. Produção de energia elétrica ............................................................................................... 25 2.2.1. Usinas hidrelétricas (UHEs) ........................................................................................ 26 2.2.1.1. Elementos constituintes................................................................................. 26 2.2.1.2. Classificação ................................................................................................. 28 2.2.1.3. Impactos ........................................................................................................ 30 2.3. Água para abastecimento humano ...................................................................................... 31 2.3.1. Sistema de Abastecimento de Água ............................................................................ 32 2.3.2. Elementos construtivos ................................................................................................ 33 2.3.2.1. Pequenas modificações ................................................................................. 33 2.3.2.2. Pequenas Construções ................................................................................... 34 2.3.3. Impactos causados ....................................................................................................... 38 2.4. Abastecimento para a indústria ........................................................................................... 38 2.4.1. Elementos construtivos ................................................................................................ 39 2.4.2. Impactos causados ....................................................................................................... 40 2.5. Controle de cheias e estiagem ............................................................................................. 41 2.5.1. Aquicultura .................................................................................................................. 43 2.5.2. Pecuária ....................................................................................................................... 43 2.5.3. Estudo de caso ............................................................................................................. 44 2.5.3.1. Projeto de aproveitamento hidráulico do rio Mondego ................................ 44 3. CONSIDERAÇÕES FINAIS .................................................................................................... 47 REFERÊNCIAS ............................................................................................................................ 48 4 1. INTRODUÇÃO O uso da água vem acompanhando o desenvolvimento do ser humano ao longo dos anos, nota-se que as sociedades históricas, em sua grande maioria, se formavam ao redor de rios. Assim, inquestionável tamanha importância, é necessário que esse recurso seja tratado com tal respeito e sabedoria. Com o passar dos anos, a necessidade de evolução e desenvolvimento, seja da tecnologia, cidades ou indústrias, contrastou com a preservação ambiental, que é tão necessária quanto. Assim, foram sendo adaptadas novas maneiras e soluções para abastecimento de água e também preservação de suas fontes de captação. Além do uso demasiado de água por conta desse desenvolvimento econômico e social, a diversificação do uso dela para as mais variadas utilizações, por exemplo na indústria, também vem chamando atenção. Com isso, houve um incremento considerável de número de aproveitamentos hidráulicos, como: irrigação, abastecimento e energia elétrica. Com o crescimento da população, vem se tornando cada vez mais difícil esse abastecimento. Algumas soluções para esse problema já foram providenciadas, como o uso de cisternas, o incentivo ao uso econômico da água, criação de reservatórios, regularização das vazões nos rios, entre outros. A água é um recurso natural renovável, mas com reservas limitadas. É imprescindível à civilização humana, mas tem sido utilizada de forma inadequada, e sua demanda crescente pode fazer com que se torne em breve um recurso esgotável em quantidade e qualidade. 2. APROVEITAMENTO HIDRÁULICO: FINALIDADES, ELEMENTOS CONSTITUINTES E IMPACTOS 2.1. Fornecimento de água para irrigação As técnicas de irrigação consistem na aplicação artificial, em quantidades adequadas, de água no solo, para propiciar a umidade adequada necessária para o desenvolvimento normaldas plantas cultivadas ou a fim de suprir a falta ou a má distribuição das chuvas. Segundo Fernandez e Garrido (2002), considera-se água para a agricultura irrigada o volume desse recurso natural 5 que não é suprido naturalmente por meio de chuvas, necessário à aplicação artificial aos cultivos, de forma a otimizar o seu desenvolvimento biológico. A técnica, ao longo dos séculos, vem sendo aperfeiçoada, chegando aos dias de hoje a sistemas pontuais, onde a água é gotejada na hora, local e dimensão correta ao desenvolvimento das plantas para suprir necessidades hídricas totais ou suplementares destas na falta de chuva (EMBRAPA, 2010). A técnica de irrigar é importante pelo fato de que a água é essencial para as plantas. Ela carrega nutrientes importantes do solo e funciona como um gatilho muito importante para a germinação e o processo da fotossíntese. Sem água, as plantas simplesmente não cresceriam. A irrigação racional minimiza o risco dos vultuosos investimentos que devem ser feitos hoje para que o agricultor faça suas plantações. O preparo da terra, os investimentos em maquinas, as sementes, herbicidas, inseticidas, adubos são todos muito caros para que o agricultor se arrisque a perder sua produção por falta de chuvas (TESTEZLAF, 2002). Para o desenvolvimento da agricultura no mundo, a água é o recurso natural de maior relevância, uma vez que as novas tecnologias para aumento de produtividade das áreas agrícolas são dependentes da sua disponibilidade. Tal importância reflete-se nos altos índices de produtividade de áreas irrigadas, em que apenas 18% do total de áreas agrícolas correspondem a aproximadamente 40% da produção agrícola mundial (BROWN; RENNER; HALWEIL, 2000). Além disso, é uma das principais técnicas que visa garantir a produção agrícola, sendo considerado oficialmente um elemento fomentador do desenvolvimento socioeconômico. 2.1.1. Estudos climáticos: Evapotranspiração A evapotranspiração é a forma pela qual a água da superfície terrestre passa para a atmosfera no estado de vapor. Esse processo envolve a evaporação da água de superfícies de água livre, como rios, lagos, represas e oceanos e dos solos, da vegetação úmida, interceptada durante e chuva e a transpiração dos vegetais. No caso de uma cultura, e evapotranspiração se restringe aos processos de evaporação da água do solo e da vegetação úmida e de transpiração das plantas. O balanço entre a água que entra na cultura pela chuva e a que sai por evapotranspiração, irá resultar na variação do armazenamento de água no solo, que por sua vez condicionará o 6 crescimento, o desenvolvimento e o rendimento da cultura. Existem 4 formas de evapotranspiração, sendo: - Evapotranspiração de referência: é a evapotranspiração de uma extensa superfície vegetada com vegetação rasteira, em crescimento ativo, cobrindo totalmente o solo, sem restrição hídrica e com ampla área de bordadura para evitar a advecção de calor sensível (H) de áreas adjacentes. Assim, a evapotranspiração depende apenas das variáveis meteorológicas, sendo portanto, uma variável meteorológica, que expressa o potencial de evapotranspiração para as condições meteorológicas vigentes (Figura 2.1.1.1). Figura 2.1.1.1 – Evapotranspiração de referência Fonte: Área de Hidráulica e Irrigação da UNESP Ilha Solteira (2013). - Evapotranspiração de cultura: é a evapotranspiração de uma cultura em dada fase de seu desenvolvimento, sem restrição hídrica, em condições ótimas de crescimento e com ampla área de bordadura para evitar a advecção de calor sensível (H) de áreas adjacentes (Figura 2.1.1.2). Figura 2.1.1.2 – Evapotranspiração de cultura Fonte: Área de Hidráulica e Irrigação da UNESP Ilha Solteira (2013). - Evapotranspiração de oásis: é a evapotranspiração de uma área vegetada úmida, circundada por uma extensa área seca, de onde provém energia por advecção (calor sensível, H´), a qual aumenta a quantidade de energia disponível para a ETP (Figura 2.1.1.3). https://1.bp.blogspot.com/-MYyKNLmRU5o/UgLC8dYeCoI/AAAAAAAAESo/W6vRTPOM33E/s1600/Capturar4.JPG https://3.bp.blogspot.com/-sxMEMpuY4IA/UgLEYDbq8DI/AAAAAAAAETA/-YPKc91MBIw/s1600/Capturar7.JPG 7 Figura 2.1.1.3 – Evapotranspiração de oásis Fonte: Área de Hidráulica e Irrigação da UNESP Ilha Solteira (2013). - Evapotranspiração real: é a evapotranspiração nas mesmas condições, de contorno de evapotranspiração, porém, com ou sem restrição hídrica (Figura 2.1.1.4). Figura 2.1.1.4 – Evapotranspiração real Fonte: Área de Hidráulica e Irrigação da UNESP Ilha Solteira (2013). 2.1.2. Estudos pedológicos Através da Pedologia são estudadas as propriedades físicas, químicas, hídricas, morfológicas e genéticas dos solos, com o propósito de elaborar sua perfeita caracterização e determinar sua aptidão agrícola. Os diferentes tipos de solos apresentam diferentes valores de porosidade, resultando em taxas de absorção de água distintas. Tal fator influencia na lâmina de água que fica sobre a superfície do terreno que pode ser absorvida, acarretando em diferentes volumes de água https://1.bp.blogspot.com/-9vN5DEqW8S4/UgLD9oD6LiI/AAAAAAAAES4/cKaActY8q90/s1600/Capturar6.JPG https://4.bp.blogspot.com/-PCJkAifQOWs/UgLDfE9q-2I/AAAAAAAAESw/2NR23jt4zRw/s1600/Capturar5.JPG 8 necessários para irrigação. Solos com baixa capacidade de retenção de água, exigem taxas baixas e frequentes de irrigação, sendo indicados os sistemas de irrigação por aspersão e localizada. Solos com alta capacidade de infiltração permitem maiores intensidades de aplicação com a consequente diminuição do tempo de irrigação por posição, ou seja, os sistemas por superfície são restritos, pois ocorrem grandes perdas por percolação. 2.1.3. Parâmetros da água A agricultura irrigada depende tanto da quantidade como da qualidade da água. A importância da qualidade de água utilizada só foi levada em consideração a partir do início deste século. A falta de atenção a este aspecto foi devido à disponibilidade de águas de boa qualidade e de fácil utilização, mas tal fato está mudando em vários lugares, em função do aumento de consumo por águas de qualidade, restando como alternativa o uso de águas de qualidade inferior (AYERS & WESTCOT, 1991). Segundo Almeida (2010), os principais parâmetros a serem avaliados na qualidade da água para irrigação contemplam os parâmetros físico-químicos e biológicos, que definem sua adequação ou não para o uso. Ainda segundo o autor, geralmente os principais atributos analisados são: pH, condutividade elétrica, sólidos totais dissolvidos, e íons, como sódio, potássio, cálcio, magnésio, cloretos, sulfatos, carbonatos e bicarbonatos. Segundo Krause e Rodrigues (1998), o aspecto da qualidade tem sido desprezado devido ao fato de que, no passado, em geral as fontes de água, eram abundantes, de boa qualidade e de fácil utilização: esta situação, todavia, está alterando-se em muitos lugares. Para evitar problemas consequentes, deve existir um planejamento efetivo que assegure o melhor uso possível das águas, de acordo com a sua qualidade. A água destinada à irrigação é geralmente proveniente de rios, córregos, lagos ou poços adjacentes às hortas, sendo transportada através de bombas ou canais até as hortas, sem qualquer tratamento prévio (OLIVEIRA E GERMANO, 1992), podendo vir a ser uma fonte potencial de enteropatógenos para o vegetal que será irrigado. No aspecto sanitário Marouelli (2001) afirma que é de grande importância analisar e fazer o controle sanitário de águas utilizadas para irrigação, como prevenção para saúde pública, pois muitas vezes essa apresenta-se contaminadas por organismos patogênicos e que os alimentos em 9 especial aqueles consumidos na forma crua, quando irrigados com tais águas, podem servir de veículo para transmissão de várias doenças aos consumidores. Pacheco (2002) alertam queas águas destinadas à irrigação são fontes originais de contaminação quando comportam grande quantidade de micro-organismos como coliformes de origem fecal, aeromonas, salmonelas, parasitas intestinais e outros, portanto alimentos que estão em contato direto com estas águas contaminadas e se consumidos crus constituem fontes prováveis de intoxicação alimentar. 2.1.3.1. Salinidade Dentre as características que determinam a qualidade da água para a irrigação, a concentração de sais solúveis ou salinidade é um fator limitante ao desenvolvimento de algumas culturas (BERNARDO, 1987). A salinidade é o resultado da acumulação de sais na dissolução do solo, que acarreta no aumento do potencial osmótico do solo, que pode dificultar ou impedir a captação de água pela planta, além de originar alterações na absorção de nutrientes. O principal agente influenciador da salinidade do solo é a quantidade de água utilizada, agravando-se quando ocorre o manejo incorreto desse tipo de água. De acordo com Ayers & Westcot (1999), as águas salinas utilizadas na irrigação podem representar risco para produção agrícola das culturas. Os efeitos da salinidade nas plantas são devidos à salinidade ou à sodicidade mas, usualmente, ambos estão envolvidos. A salinidade diminui o potencial externo de água reduzindo a disponibilidade de água às culturas, que podem reduzir a produção em até 50 % (SANTANA, 2007). Altos níveis de sais nas águas de irrigação, tanto são prejudiciais ao desenvolvimento das culturas como causam a obstrução dos sistemas de irrigação (GARCIA, 2008). A qualidade da água para fins agrícolas obedece a uma classificação, determinada pela concentração de alguns íons, tais como o sódio, potássio, cloretos e os sulfatos, além de outros parâmetros, como sólidos dissolvidos e a condutividade elétrica. Os sais são transportados pelas águas de irrigação e depositados no solo, onde se acumulam sempre que a água se evapora ou é consumida pelas culturas. Os sais do solo e da água reduzem a disponibilidade da água para as plantas a tal ponto que afetam os rendimentos das culturas (AYERS & WESTCOT, 1999). Algumas culturas produzem rendimentos aceitáveis a níveis altos de salinidade e outras são sensíveis a níveis relativamente baixos. Esta diferença se 10 deve à melhor capacidade de adaptação osmótica que algumas culturas têm, o que permite absorver, mesmo em condições de salinidade, maior quantidade de água (Ayers & Westcot, 1999), pois a importância da utilização da água para irrigação leva em conta, além da composição físicoquímica da água, as características da espécie vegetal e do solo. A condutividade elétrica da água é o parâmetro mais empregado para avaliar a salinidade da água, a qual corresponde à medida da capacidade dos íons presentes na água em conduzir eletricidade e cresce proporcionalmente ao aumento da concentração dos sais (RIBEIRO, 2005). Para irrigação, considera-se basicamente a quantidade de sais na água, sem especificá-los. A condutividade elétrica da solução é proporcional ao conteúdo presente nesta. Na tabela 2.1.3.1.1. tem-se os valores de condutividade de diferentes fontes de água. Tabela 2.1.3.1.1 – Condutividade elétrica de diferentes fontes Fonte Condutividade elétrica a 25ºC (dS ) Água de chuva 0,15 Água média dos rios 0,20 – 0,40 Água do mar Mediterrâneo 63 Água do oceano Atlântico (máxima) 59 Água do oceano Atlântico (média) 55 Água do oceano Pacífico 51 Água do oceano Índico 54 Água de irrigação de salinidade média 0,75 – 2,25 Fonte: ALMEIDA (2010). A partir da concentração de sais na água esta pode ser classificada em: - Água de salinidade baixa: pode ser utilizada na irrigação e na maioria dos solos. Às vezes, alguma lixiviação torna-se necessária. - Água de salinidade média: pode ser usada quando for possível fazer lixiviação moderada. Podem ser cultivadas plantas que apresentem moderada tolerância à salinização. - Água com salinidade alta: os solos que apresentam problemas de drenagem não são indicados para se proceder a irrigação das lavouras. Neste caso, podem ser utilizadas somente plantas tolerantes à concentração de sais. 11 2.1.3.2. Sodicidade A sodicidade se refere ao acúmulo de íons de sódio ( ) que estão presentes na água de irrigação e que eleva a percentagem de sódio trocável no solo. É utilizada como parâmetro devido ao seu efeito na permeabilidade do solo e na nutrição e toxicidade das plantas. Conforme a concentração de sódio a água pode ser classificada em: - Água com baixa concentração de sódio: é indicada para uso em irrigação para todos os tipos de solos. - Água com média concentração de sódio: pode ser usada em solos com textura grossa ou em solos orgânicos e que tenham boa permeabilidade. Os solos com textura fina, baixas condições de lixiviação devem ser descartados, pois apresentam perigo de sodificação. - Água com alta concentração de sódio: São necessários solos para a aplicação que tenham boa drenagem, alta lixiviação e necessitem a adição de matéria orgânica. Solos onde foi feita a gessagem pode não ocorrer a toxidez por sódio. - Água com concentração muito alta de sódio: nestas condições, a irrigação é imprópria, exceto se a salinidade for de baixa a média. A sodicidade afeta principalmente a capacidade de infiltração do solo, devido aos cátions livres de sódio, que provoca a dispersão dos colóides do solo. Provocando desestruturação do solo, criando problemas de compactação, diminuindo consequentemente a aeração e dificultando o movimento da água (CORDEIRO, 1988). 2.1.4. Tipos de águas utilizadas para irrigação 2.1.4.1. Águas superficiais As águas superficiais englobam, principalmente, as procedentes de rios e lagos, sendo as águas dos rios as mais utilizadas na agricultura. Os rios percorrem a superfície da terra exercendo uma ação importante de erosão, transporte e sedimentação de materiais, incorporando a seu leito águas procedentes de drenagens naturais, águas de infiltração e drenagem das terras irrigadas e despejos e restos procedentes de atividades humanas, agrícolas e industriais. No curso da água, o 12 conteúdo salino e o grau de contaminação vão aumentando à medida que avança o percurso (EMBRAPA, 2010). Na tabela 2.1.4.1.1, tem-se os principais contaminantes das águas de rios. Tabela 2.1.4.1.1 – Principais contaminantes das águas dos rios Causas imediatas Características da ação nociva Ação sobre a água do rio Época mais propícia Zona do rio de maior incidência de contaminação Deságue de águas residuais, municipais, industriais ou escorrimento agrícola alto Diminui a concentração de excessivo Verão, temperatura alta, período de estiagem Remansos, tanques de água, zonas onde a água tem pouca velocidade Incremento de nutrientes N e P altos Crescimento excessivo de algas Primavera e verão Remansos, zonas eufóticas, correntes com pouca velocidade Águas residuárias com substâncias tóxicas Substâncias químicas solúveis, toxicas para as diferentes formas de vida Morte de peixes ou outras formas de vida Todo o ano, sobretudo no verão e temperaturas altas Remansos, tanques de água, zonas onde a água tem pouca velocidade Descarga de águas residuais salinas. Aumento da salinidade da água por causas naturais. Mudança do ambiente do rio Aumento da salinidade Estiagem, seca, verão e temperaturas altas Águas abaixo da descarga ou a ação natural antes da dissolução 13 Causas imediatas Características da ação nociva Ação sobre a água do rio Época mais propícia Zona do rio de maior incidência de contaminação Deságue de águas residuais quentes. Águas com temperaturas altas em relação ao rio Aumento da temperatura daágua do ri Em todo o ano, sobretudo no verão Águas abaixo da descarga, a distância variável Águas residuais contaminadas micro biologicamente Micróbios patógenos Águas perigosas para vários usos Em todo tempo e vazão Águas abaixo da descarga, a distância variável Descargas com sólidos em suspensão procedentes de processos naturais ou atividades humanas Aporte de sólidos em suspensão Aumento da turbidez, impedindo a penetração dos raios solares Em todo tempo, quando há fortes tempestades e aguaceiros Águas abaixo e a distância variável dependendo do declive, tamanho das partículas, dentre outros fatores Fonte: CASELLES (1996). 2.1.4.2. Águas subterrâneas As águas subterrâneas são aquelas que se infiltram no terreno e que estão adsorvidas nos interstícios dos solos e das rochas. Um reservatório de água subterrânea pode ser definido como toda a formação geológica com capacidade de armazenar e transmitir a água e cuja exploração seja economicamente rentável, podendo ser: - Aquífero livre: formação geológica permeável e parcialmente saturada de água. É limitado na base por uma camada impermeável. O nível da água no aquífero está à pressão atmosférica. - Aquífero Confinado: formação geológica permeável e completamente saturada de água. 14 É limitado no topo e na base por camadas impermeáveis. A pressão da água no aquífero é superior à pressão atmosférica. 2.1.4.3. Águas residuárias Uma alternativa de disposição de águas residuárias dos setores rural, industrial e urbano é o seu uso na irrigação de algumas culturas, como já praticado em alguns países. Essa prática possibilita o aumento da área irrigada, além de beneficiar o ambiente. Segundo Brega Filho e Mancuso (2002), a prática de reuso de água no meio agrícola, além de garantir a recarga do lençol freático, serve para fertirrigação de diversas culturas, bem como para fins de dessedentação de animais. Grandes volumes de águas servidas podem ser utilizados em categorias de reuso, como agricultura irrigada e recarga de aqüíferos, devendo-se atentar para suas limitações sanitárias e ambientais de aplicação (BEEKMAN, 1996). Para Sousa (2001), a adequação da água para irrigação ainda é muito subjetiva, no entanto deve-se sempre tentar identificar e avaliar alguns parâmetros que poderão produzir efeitos desagradáveis na relação água, planta e solo. Por exemplo, a água pode ser considerada adequada para certo tipo de solo ou cultura, mas inadequada para outros. Dessa forma, segundo Trentin e Souza (2006), sempre é importante analisar: as características físico-químicas, a qualidade sanitária da água, as características do solo, a tolerância das culturas a serem utilizadas, o clima local, o manejo da irrigação e a drenagem. Por isso, a disposição deste efluente no solo vem ganhando espaço por apresentar, segundo Bastos e Mara (1992), ao menos três boas vantagens: o tratamento do efluente, o fornecimento de água e a disponibilidade de nutrientes para as culturas irrigadas. Ali (1987) e Hamoda e Al-Awabi (1996) afirmam ainda que estas águas podem ser utilizadas em regiões de pequena disponibilidade de água, como regiões semi-áridas, desde que se tenha o conhecimento específico do seu grau de perigo à saúde e ao meio ambiente. 15 2.1.5. Sistemas de irrigação 2.1.5.1. Irrigação por aspersão Nestes sistemas, a água é distribuída na forma de gotas sobre a cultura e superfície do solo, tentando imitar o efeito da chuva. A formação das gotas é obtida pela passagem da água sob pressão através de orifícios existentes em tubulações ou dispositivos mecânicos chamados de aspersores. Os sistemas de irrigação por aspersão podem ser divididos em dois tipos: - Sistemas convencionais: são os sistemas que utilizam os componentes convencionais de aspersão (motobombas, tubulações e aspersores), que podem se movimentar pelo campo, cobrindo em cada posição um setor da área irrigada ou permanecer parados na mesma posição ao longo do período de produção e cobrindo toda a área irrigada ao mesmo tempo. - Sistemas mecanizados: são sistemas aonde os aspersores ou sprays são montados em estruturas que se movem ao longo da área para efetuar a irrigação. Estes sistemas podem se movimentar com o auxílio de um trator, a partir de um sistema automatizado com movimentos linear ou circular. Enquadram-se no sistema mecanizado, o pivô central e o auto-propelido. Figura 2.1.5.1.1 – Sistema de irrigação por aspersão convencional, a esquerda e por pivô central, a direita. Fonte: EMBRAPA (2011). Os sistemas por aspersão podem ser do tipo subcopa ou sobrecopa, conforme aplicam água por baixo ou por cima das folhas, respectivamente (Figura 2.1.5.1.2). Nos sistemas subcopa há uma interferência dos troncos das plantas nos jatos de água, o que prejudica a uniformidade de distribuição. Os sistemas sobrecopa molham as folhas, aumentando as chances de ocorrência de 16 doenças, além de apresentarem maiores perdas de água devido à evaporação e ao arraste pelo vento. Essas perdas podem ser minimizadas irrigando-se durante a noite. A irrigação noturna, contudo, aumenta o tempo de molhamento das folhas e as chances para o desenvolvimento de doenças (EMBRAPA, 2005). Figura 2.1.5.1.2 – Aspersores subcopa (esquerda) e sobrecopa (direita). Fonte: UNESP (2005). 2.1.5.2. Sistema de irrigação localizada Na irrigação localizada a água é aplicada sobre o solo, diretamente sobre a região radicular. Esses sistemas utilizam pequenas vazões, quando comparados a outros sistemas de irrigação e com alta frequência. Os principais sistemas de irrigação localizada são: - Sistema por gotejamento: a água é aplicada no solo de forma constante, lento e a baixa pressão, através de pequenos emissores, denominados gotejadores. - Sistemas de micro aspersão: nestes sistemas são utilizados micro aspersores, que aplicam a água, preferencialmente, na área sombreada pela copa da planta. Esses sistemas possuem vazões e áreas de aplicação maiores que o por gotejamento. 17 Figura 2.1.5.2.1 – Irrigação por gotejameno (esquerda) e micro aspersão (direita). Fonte: Faculdade de Engenharia agrícola/ UNICAMP. 2.1.5.3. Sistema de irrigação subterrânea Na irrigação subterrânea a água é aplicada diretamente nas raízes das culturas, abaixo da superfície do solo. O sistema é aplicado a partir da elevação do lençol freático, em áreas onde a presença de camadas de solo subsuperficiais compactadas permitem controlar a profundidade do nível do lençol freático e deixá-lo próximo às raízes das plantas, a partir do uso de estruturas de drenagem ou de linhas de irrigação enterradas, ou por gotejamento artificial, em que as linhas de gotejamento são enterradas no solo a profundidades que permitam que a água aplicada atinja o volume explorado pelas raízes (Figura 2.1.5.3.1). Figura 2.1.5.3.1 – Irrigação por gotejameno artificial (esquerda) e sulcos (direita). Fonte: Rural Pecuária (2010). 18 2.1.5.4. Sistema de irrigação por superfície Neste sistema a água é aplicada diretamente sobre a superfície do solo e pelo efeito da gravidade se movimenta e se infiltra no solo. São classificados em sistemas de irrigação por sulcos, em que a água é aplicada na área a ser irrigada pela inundação parcial da mesma, acompanhando as linhas da cultura, e escoando por sulcos construídos na superfície do solo e sistemas de irrigação por inundação, em que a água é aplicada sobre toda a área e se acumula na superfície do solo (Figura 2.1.5.4.1). Figura 2.1.5.3.1 – Irrigação por sulcos (esquerda) e por inundação (direita). Fonte: Faculdade de Engenharia agrícola/ UNICAMP. 2.1.6. Escolha do sistema de irrigação A decisão de irrigar ou não deve levar em consideração diversos fatores, entre os quais a quantidade e distribuiçãoda chuva, o efeito da irrigação na produção das culturas, a necessidade de água das culturas e a qualidade e disponibilidade de água da fonte. O fator mais importante que determina a necessidade de irrigação de uma certa cultura em uma região é a quantidade e distribuição das chuvas. Outras razões para se utilizar irrigação são o aumento da produtividade, a melhoria da qualidade do produto, a produção na entressafra, o uso mais intensivo da terra e a 19 redução do risco do investimento feito na atividade agrícola (EMBRAPA, 2001). Os principais fatores que determinam a escolha do método estão relacionados na tabela 2.1.6.1. Tabela 2.1.6.1 – Fatores que afetam a seleção do método de irrigação Método Fatores Declividade Taxa de infiltração Sensibilidade da cultura ao molhamento Efeito do vento Supe rfície Área deve ser plana ou nivelada artificialmente a um limite de 1%. Maiores declividades podem ser empregadas tomando-se cuidados no dimensionamento Não recomendado para solos com taxa de infiltração acima de 60 mm/h ou com taxa de infiltração muito baixa Adaptável à cultura do milho, especialmente o sistema de sulcos Não é problema para o sistema de sulcos Aspe rsão Adaptável a diversas condições Adaptá vel às mais diversas condições Pode propiciar o desenvolvimento de doenças foliares Pode afetar a uniformidade de distribuição e a eficiência Loca lizada Adaptável às mais diversas condições Todo tipo. Pode ser usado em casos extremos, como solos muito arenosos ou muito pesados Menor efeito de doenças que a aspersão. Permite umedecimento de apenas parte da área Nenhum efeito no caso de gotejamento Subi rrigação Área deve ser plana ou nivelada O solo deve ter uma camada impermeável abaixo da zona das raízes, ou lençol freático alto que possa ser controlado Adaptável à cultura do milho desde que o solo não fique encharcado o tempo todo. Pode prejudicar a germinação Não tem efeito Fonte: EMBRAPA (2010) 20 2.1.6.1. Quantidade de chuvas A necessidade de irrigação diminui, em geral, em locais em que as chuvas são mais constantes e com volumes de precipitação maiores. Geralmente, nas regiões úmidas, a quantidade de chuvas ao longo do ano é suficiente para a maioria das culturas. Assim, faz-se necessário a análise de dados históricos de chuvas ao longo do ano. O investimento de capital em irrigação deve ser compatível com a sua importância para a produção; assim, quando as chuvas contribuem com a maior parte da água necessária, menores deverão ser os investimentos com irrigação, justificando-se os sistemas de irrigação por superfície, desde que não sejam necessários grandes investimentos em sistematização, e a aspersão com equipamentos portáteis. 2.1.6.2. Necessidade de água das culturas A quantidade de água que uma cultura utiliza durante o ciclo é chamada demanda sazonal de água e, para uma mesma cultura, varia com as condições climáticas da região. Diferentes culturas apresentam diferentes demandas sazonais de água. O requerimento de água das culturas pode ser estimado a partir do consumo de água de uma planta de referência (Eto) - para o Brasil, é a grama -, que, por sua vez, é determinado com os dados de clima do local (EMBRAPA, 2001). Determinações diretas do consumo de água das culturas, etc, podem também ser feitas empregando-se lisímetros (Figura 2.1.6.2.1). 21 Figura 2.1.6.2.1 - Estação meteorológica automática (esquerda), convencional (abaixo) e lisímetro de pesagem (acima) Fonte: EMBRAPA (2001). 2.1.6.3. Topografia Caso a área a ser irrigada for plana ou se for baixa a dificuldade de nivelamento do terreno, qualquer um dos métodos de irrigação apresentados pode ser aplicados. Se a área não é plana, deve-se limitar ao uso de aspersão ou localizada, para as quais a taxa de aplicação de água pode ser ajustada para evitar erosão. O método de irrigação por superfície pode ser desenvolvido em áreas com declividades de até 15%. Aspersão pode ser empregada em áreas de até 30%, enquanto gotejamento pode ser implementado em áreas com declives de até 60%. A presença de obstrução na área dificulta o emprego do método de superfície e subirrigação, mas pode ser contornada com os métodos de aspersão e com o método de irrigação localizada. Áreas com formato e declividade irregulares são mais facilmente irrigáveis com métodos de aspersão e localizada do que com o método de superfície. 22 2.1.6.4. Disponibilidade e qualidade da água para irrigação Os dois parâmetros que devem ser previamente analisados são a vazão e o volume total de água disponível. A vazão mínima da fonte deve ser igual ou superior à demanda de pico da cultura a ser irrigada, considerando-se a eficiência de aplicação de água do método. Sistemas de irrigação por superfície, em geral, requerem vazões maiores com menor frequência. Sistemas de aspersão e localizada podem ser adaptados a fontes de água com vazões menores. Sistemas de irrigação por superfície são potencialmente menos eficientes (30-80%) quando comparados com sistemas de irrigação por aspersão (75-90%) e localizada (80-95%). A altura de bombeamento da água, desde a fonte até a área a ser irrigada, deve ser considerada quando da seleção do método de irrigação. À medida em que essa altura aumenta, sistemas de irrigação mais eficientes devem ser recomendados, de forma a reduzir o consumo de energia (EMBRAPA, 2011). Fontes de água com elevada concentração de sólidos em suspensão não são recomendadas para utilização com sistemas de gotejamento devido aos altos custos dos sistemas de filtragem, porém pode ser utilizada em métodos de irrigação por superfície. Em culturas que os produtos são consumidos na sua forma natural a presença de patógenos nocivos à saúde humana pode determinar o método de irrigação, não sendo indicados os por aspersão e microaspersão, mas sim por gotejamento. 2.1.6.5. Aspectos humanos, econômicos e sociais Além dos fatores apresentados deve-se considerar os fatores humanos, no que concerne ao comportamento dos agricultores, como hábitos, preferências, tradições e preconceitos. Esses fatores podem ou não dificultar a introdução de inovações tecnológicas, persistindo a tendência de uso dos sistemas de irrigação já consagrados na região, caracterizando o alto grau de aversão ao risco por parte do irrigante. A análise econômica constitui o critério mais adequado à seleção de sistemas de irrigação para uma determinada condição. Neste ponto, deve-se considerar que as culturas diferem em seu valor final de mercado, dependendo do tipo (perecível ou não), da variedade, da qualidade, da 23 sazonalidade, da oferta e demanda do mercado e da comercialização, sendo assim, escolhido um sistema que tenha seu custo justificado pelo valor da produção. Outro fator a ser analisado é o ambiental, respeitando a natureza do local e prevendo um sistema que possa aliar eficiência, porém ser acarretar o esgotamento ou deterioriação dos recursos naturais da região. 2.1.7. Irrigação no Brasil Apesar de o Brasil seja o país com maior disponibilidade de água doce do planeta, sua distribuição regional e temporal é muito desigual. A situação se agrava em algumas estações do ano em regiões específicas, onde o conflito pelo uso da água, tanto para fins agrícolas, quanto urbanos e industriais, já são observados. A agricultura irrigada é a principal usuária, sendo responsável pelo consumo de aproximadamente 70% de toda a água derivada dos mananciais (SILVA, 2010). Embora a agricultura irrigada seja, geralmente, associada a um elevado nível tecnológico, é consenso que a irrigação no Brasil e ainda praticada de forma inadequada, com grande desperdício de água (MANTOVANI et al., 2006;MAROUELLI et al., 2008). Segundo o Plano Nacional de Recursos Hídricos (2006), a eficiência média no uso da água para irrigação no Brasil é de aproximadamente 64%, ou seja, 36% da água derivada para a irrigação no país constituem-se em perdas por condução e por distribuição nas infraestruturas hidráulicas, provocando um grande desperdício no uso da água na agricultura. Segundo Mantovani et al. (2006), tal problema ocorre em razão de três fatores principais: a) diminuta utilização de critérios técnicos de manejo de água na maioria das áreas irrigadas; b) informações escassas e incompletas de parâmetros para manejo de água; c) uso de sistemas de irrigação com baixa eficiência de aplicação de água. A irrigação no Brasil apresenta características diferentes no Nordeste e no Sul. Ainda que tenham surgido nas duas regiões simultaneamente, no início do século, a irrigação desenvolveu- se com características bem diferenciadas. Enquanto no Nordeste as iniciativas nasceram do poder público, no Sul a iniciativa foi predominantemente particular (DAKER, 1970). 24 Os principais métodos de irrigação utilizados no Brasil são: superfície (inundação e sulcos), aspersão (convencional, canhão, carretel), pivô central e localizada (gotejamento, microaspersão) (Figura 2.1.7.1). Figura 2.1.7.1 - Irrigação por inundação, por sulcos, por aspersão (convencional, auto-propelido e pivô central) e localizada (gotejamento e microaspersão). Fonte: EMBRAPA (2010). Na figura 2.1.7.2 tem-se um gráfico que apresenta a utilização de diferentes métodos de irrigação nas diferentes regiões do Brasil. A região Sul é a que apresenta a maior área irrigada no Brasil em função do cultivo do arroz irrigado por inundação, principalmente no Rio Grande do Sul. Na região Norte, a agricultura irrigada concentra-se no estado de Tocantins, sendo praticada principalmente a irrigação por superfície. Na região Nordeste, o estado que mais irriga é o da Bahia, com predominância da irrigação localizada. Nas regiões Sudeste e Centro-Oeste há ainda a predominância da irrigação por aspersão (pivô central e aspersão convencional). 25 Figura 2.1.7.2 – Área irrigada (ha) por diferentes métodos de irrigação por região do Brasil Fonte: CHRISTOFIDIS (2006). 2.2. Produção de energia elétrica A energia hidráulica ocorre, basicamente, pela irradiação solar e energia potencial gravitacional, as quais causam a evaporação, condensação e precipitação da água sobre a superfície terrestre (ANEEL, 2004). No Brasil, energias renováveis equivalem a 41,3% do consumo total de energia, porcentagem esta que se apresenta superior à média global. Isto se dá, em grande parte, pela grande matriz hidrológica que o país possui, a qual apresenta, por sua vez, condições favoráveis ao aproveitamento energético (GOLDEMBERG & LUCON, 2007). Observa-se na atualidade uma urgência e grande necessidade de estudo e implantação de energias renováveis limpas, devido ao papel fundamental que a energia elétrica exerce na sociedade moderna e à frequente pressão de órgãos ambientais sobre os países poluidores para redução da emissão de gases que agravam o aquecimento global (SILVA et al., 2011). As usinas hidrelétricas, apesar de apresentarem determinados impactos socioambientais, se enquadram nas soluções propostas para produção de energia sustentável. Quanto à potência, a hidroeletricidade no Brasil é classificada em cinco tipos: as Micro Centrais Hidrelétricas (mCHs), com uma potência instalada de até 100 kW; as Mini Centrais Hidrelétricas (MCHs), as quais possuem potência de 100 a 1.000 kW; as Pequenas Centrais 26 Hidrelétricas (PCHs), com potência superior a 1.000 kW e inferior a 30.000 kW; as Médias Centrais Hidrelétricas, de 30.000 a 100.000 kW; e as Grandes Centrais Hidrelétricas, apresentando potência superior a 100.000 kW (SOUZA, 2014). No presente trabalho, será adotado como maior foco as usinas hidrelétricas (UHEs), que correspondem às Médias e Grandes Centrais Hidrelétricas, por apresentarem maior impacto e importância social, econômica, política e ambiental. 2.2.1. Usinas hidrelétricas (UHEs) Uma usina hidrelétrica e a geração de energia a partir desta se divide, em geral, em cinco partes principais, como apresentado na Figura 2.2.1.1. Tais partes são: reservatório e barragem, turbina, gerador, subestação e distribuição (SOUZA, 2014). Figura 2.2.1.1 - Processos da produção de energia elétrica em uma usina hidrelétrica. Fonte: Adaptado de Soares Júnior (2013). 2.2.1.1. Elementos constituintes Em uma escala local, os elementos que constituem uma usina hidrelétrica estão expostos na Figura 2.2.1.1.1. O reservatório é o elemento onde ocorre o represamento da água. A represa 27 ou barragem, a qual pode ser de enrocamento, terra ou concreto, permite a acumulação da substância. O vertedouro consiste na estrutura e comporta a qual é aberta em situações de cheia, para controle do nível da água do reservatório. Já a tomada d’água é a estrutura que permite ou não a condução da substância para a adução das turbinas, sendo equipada com comportas de fechamento e grades de proteção. Os condutos forçados são os que realizam a trajetória da água até as turbinas, estando associados à tomada de água. Por sua vez, a turbina é o elemento realiza a transformação da energia hidráulica em mecânica. Acoplado mecanicamente a ela, está o gerador, que transforma a energia recebida em elétrica. Já a casa de força é o local onde a turbina, o gerador e os elementos auxiliares se encontram. Por fim, o canal de fuga se constitui pelo local de saída da água após seu aproveitamento hidráulico (SOUZA, 2014). Figura 2.2.1.1.1 - Partes constituintes de uma usina hidrelétrica. Fonte: Adaptado de Souza (2014). As turbinas apresentam um rendimento de até 90%, o que representa uma das formas mais eficientes de conversão de energia, e são encontradas em diversas formas e tamanhos. O modelo mais comum é o Francis (Figura 2.2.1.1.2 (a)), por se adaptar a locais com qualquer altura de queda da água. Este tipo de turbina trabalha totalmente submerso e, portanto, pode ter seu eixo 28 orientado horizontal ou verticalmente (RAMAGE, 1996). Para baixas quedas (de 10 a 70 metros de altura), recomenda-se o modelo Kaplan de turbinas (Figura 2.2.1.1.2 (b)) e, para alturas elevadas (de 200 a 1500 metros), utiliza-se o modelo de Pelton (Figura 2.2.1.1.2 (c)) (ANEEL, 2004). (a) (b) (c) Figura 2.2.1.1.2 - Modelos de turbina para a produção de energia elétrica a partir da energia hidráulica: Francis, Kaplan e Pelton. Fontes: (a) Fuchun Industry (2013); (b) Zeco Turbines (2012a); (c) Zeco Turbines (2012b). 2.2.1.2. Classificação As usinas hidrelétricas podem ser classificadas de acordo com os seguintes aspectos: altura efetiva da queda d’água; capacidade ou potência oferecida; tipo de turbina utilizada; localização; tipo de barragem; entre outras. Em geral, as classificações mais empregadas são a altura de queda d’água e a potência instalada – como já explanado anteriormente –, podendo ser combinadas entre si e com demais aspectos para classificar determinada usina (RAMAGE, 1996). Para o Centro Nacional de Referência em Pequenas Centrais Hidrelétricas (CERPCH), instalações com baixa altura de queda d’água são aquelas com até 15 metros e suas localizações mais favoráveis são ribeiras de grandes declives. Nestes casos, a casa de força funciona junto à tomada de água ou muito próximo desta e as turbinas empregadas podem ser do tipo Kaplan (ANEEL, 2004). Um exemplo de usina de baixa queda é a de Jupiá, localizada no Rio Paraná (Três Lagoas – SP) e apresentada na Figura 2.2.1.2.1. 29 Figura 2.2.1.2.1 - Vista da Usina Hidrelétrica de Jupiá. Fonte: ANEEL (2004). As instalações de média queda são as que possuem altura de queda entre 15 e 150 metros e a maioria dos projetoshidrelétricos brasileiros se enquadram nesta classificação. Os principais componentes de uma obra deste tipo, também, são a tomada de água, as obras de proteção contra enchentes e o conduto hidráulico. O modelo de turbina mais empregado nestas usinas é o Francis e uma usina que é considerada por muitos autores como desta classe é a Itaipu, localizada na fronteira entre Brasil e Paraguai (ANEEL, 2004). A Figura 2.2.1.2.2 apresenta a vista panorâmica da usina. Figura 2.2.1.2.2 - Vista panorâmica da Usina Hidrelétrica de Itaipu. Fonte: ANEEL (2004). 30 Já para instalações de alta queda, as alturas ultrapassam 150 metros. Neste tipo de usina, as obras de tomada de água e de prevenção de enchentes têm custos reduzidos, sendo a maioria dos investimentos destinados ao conduto hidráulico e as turbinas geralmente utilizadas pertencentes ao modelo Pelton. Um exemplo de usina de alta queda é a Usina Hidrelétrica de Henry Borden, localizada no Rio Pedras, no estado de São Paulo (ANEEL, 2004). A usina está apresentada na Figura 2.2.1.2.3 abaixo. Figura 2.2.1.2.3 - Vista da Usina Hidrelétrica de Henry Borden. Fonte: ANEEL (2004). 2.2.1.3. Impactos O conceito de sustentabilidade surgiu, na sua forma mais consolidada, na Conferência Mundial sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento promovida pela Organização das Nações Unidas (ONU), no ano de 1972. Este conceito foi definido como um conjunto de diretrizes e princípios que propõem o crescimento econômico e o desenvolvimento sustentável da sociedade, em que o consumo de recursos ocorra de forma a atender as necessidades atuais sem comprometer as gerações futuras (MENDES, 2005). Ao longo dos anos, a pressão sobre os agentes poluidores se intensificou, fazendo com que novas alternativas de produção de energia de forma limpa e sustentável surgissem e 31 ganhassem espaço no panorama econômico mundial. Entre estas alternativas está o investimento no potencial hidroelétrico (MENDES, 2005). Entretanto, apesar da produção de energia elétrica em uma usina hidrelétrica ocorrer de forma limpa e renovável, a construção da mesma pode gerar uma série de impactos sociais, econômicos, políticos e, principalmente, ambientais. Como exemplo dos últimos, tem-se o rompimento de barragens, extravasamento de lagos, elevação do lençol freático, contaminação do lençol e, consequentemente, do volume de água de abastecimento populacional. Com relação à formação dos lagos das usinas, os possíveis impactos são o comprometimento de áreas de solos férteis, a saída compulsória da população e a parcial desintegração dos costumes e tradições desta, o comprometimento da fauna e flora da região e, também, o desaparecimento de possíveis vestígios de culturas antepassadas (MENDES, 2005). 2.3. Água para abastecimento humano Os sistemas de abastecimentos de água é um serviço público, formado por vários sistemas hidráulicos e visam realizar o suprimento de água para as necessidades de uma determinada população ou comunidade (MEDEIROS, 2014). Há 2500 a.C. na mesopotâmia já eram construídas algumas estruturas que tinham o objetivo de fornecer água a população das cidades, assim como para a irrigação também (MEDEIROS, 2014). Porém, foi só com a revolução industrial e o grande crescimento populacional nas cidades que os sistemas de abastecimento sofreram modificações, para atender a quantidade de água demandada assim como a sua qualidade para os diversos usos que ela poderia ter (MEDEIROS, 2014). O abastecimento humano é um uso da água que consideramos consultivo, ou seja, a vazão de água que é retirada não é a mesma que é devolvida. Este é um dos poucos usos da água que é associado a um prévio tratamento, devido ao fato de terem alguns padrões mínimos de qualidade (GUIMARÃES, CARVALHO & SILVA, 2007). De acordo com a lei 9.433/97 deve ser assegurado água em quantidade e em padrões de qualidades adequados aos seus diversos usos. Dessa forma, o planejamento deve ser feito analisando a bacia hidrográfica estudada e considerando os seus múltiplos usos. 32 Existem ainda duas formas de abastecimento, o rudimentar e o urbano, o primeiro é utilizado em áreas rurais ou regiões periféricas, onde a solução mais simples é a solução individual no qual o próprio individuo faz a captação e transporte e armazenamento da água. E o abastecimento urbano que é o mais utilizado quando a densidade demográfica é significativa tanto do ponto de vista econômico e sanitário (MEDEIROS, 2014). O objetivo do abastecimento de água é fornecer ininterruptamente água potável para atingirmos alguns fatores. Controle e prevenção de doenças Melhoria das condições sanitárias Conforto e segurança coletiva Desenvolvimento de práticas recreativas e esportes Desenvolvimento turístico, comercial e industrial. Maior número de áreas verdes Segundo Menezes (2013), existe um número enorme de doenças que podem ser transmitidas através de águas contaminadas entre elas. Poliomielite Esquistossomose Cólera Verminoses Hepatite A Leptospirose Febre Tifoide Quem é o responsável por determinar o padrão de qualidade da água é o Ministério da Saúde, através da portaria nº 2.914/2011. 2.3.1. Sistema de Abastecimento de Água O sistema é composto pelos seguintes elementos captação, adutora, estação elevatória, estação de tratamento, reservatório e rede de distribuição (MENEZES, 2013). 33 A captação é a retirada de água dos mananciais, a adutora por sua vez é responsável pelo transporte da água, do manancial até a estação de tratamento (adutora de água bruta) e da estação os reservatórios de distribuição (adutora de água tratada) (MENEZES, 2013). A estação elevatória constitui o conjunto de bombas responsáveis por transportar a água até os pontos mais elevados ou distantes. Por fim temos os reservatórios onde é armazenada a água e a rede de distribuição, conjunto de tubulações que levam a água ao consumidor final (MENEZES, 2013). 2.3.2. Elementos construtivos O ideal é que a captação de água seja feita diretamente do manancial, porém, existem regiões onde as sazonalidades causam períodos significativos de seca, nesses casos é necessário fazer o armazenamento de água através de represas e barragens. As estruturas desenvolvidas dependem da situação geológica que temos, e do nível de água nos períodos extremos. 2.3.2.1. Pequenas modificações Para margens estáveis, onde temos pequenas vazões e baixa flutuação de nível, podemos utilizar a captação direta ou tomada simples. Figura 2.3.2.1.1 - Captação direta. Fonte: Menezes (2013). 34 Para margens sujeitas a erosão pode-se usar ainda a captação direta, porém, é necessário fazer um revestimento na margem do rio. Figura 2.3.2.1.2 - Captação direta com revestimento. Fonte: Menezes (2013). Para margens instáveis é necessário fazer um muro de contenção. Figura 2.3.2.1.3 - Captação direta com muro de contenção. Fonte: Menezes (2013). 2.3.2.2. Pequenas Construções Quando a lamina de água é muito baixa é necessário a construção de uma barragem, e o material desta depende da composição do leito do rio. Dentre os modelos mais utilizados estão as barragens de nível, de enrrocamento e com vertedor móvel. Para a utilização da barragem de nível por exemplo é necessário que a vazão mínima do curso d’água supere a demanda média do dia de consumo máximo. Ela pode ser esquematizada abaixo. 35 Figura 2.3.2.2.1 - Ilustração de uma barragem de nível. Fonte: Guimarães, Carvalho & Silva (2007). A barragem de enrocamento é aquela em que são utilizados blocos de rocha de tamanho variável e uma membrana impermeável na face de montante. O custo para a produção de grandes quantidades de rocha, para a construção desse tipo de barragem, somente é econômico em áreas onde o custo do concreto fosse elevadoou onde ocorresse escassez de materiais terrosos e houvesse, ainda, excesso de rocha dura e resistente. Devemos lembrar que a rocha de fundação adequada para uma barragem de enrocamento pode não ser aceitável para uma de concreto (MARANGON, 2009). 36 Figura 2.3.2.2.2 - Ilustração de uma barragem com enrocamento. Fonte: Guimarães, Carvalho & Silva (2007). Figura 2.3.2.2.3 - Ilustração de uma barragem com vertedor móvel. Fonte: Guimarães, Carvalho & Silva (2007). Além das barragens apresentadas, ainda é possível realizar a construção de um reservatório de acumulação. Quando utilizamos essa opção significa que ocorre variação no nível de água na captação, pois, ocorrerá variação entre as vazões de entrada e saída durante a estiagem. Quando a captação é prevista no projeto do reservatório é comum a construção de torres de tomada com saída através do maciço da barragem. Em caso contrário emprega-se o poço seco de derivação e para vazões pequenas, sifonamento por sobre o maciço ou a captação com os conjuntos sobre balsas e com a sucção e a parte móvel do recalque em mangotes flexíveis. 37 Figura 2.3.2.2.4 - Captação com torre de tomada. Fonte: Guimarães, Carvalho & Silva (2007). Figura 2.3.2.2.5 - Captação com sifão. Fonte: Guimarães, Carvalho & Silva (2007). 38 2.3.3. Impactos causados A formação de reservatórios causa impactos na bacia hidrográfica, como alterações no escoamento superficial a jusante e a montante e consequentemente a vazão dos rios é alterada no tempo e espaço. A alteração no nível dos lençóis freáticos presentes na região (SBPE, 2010). Uma bacia hidrográfica busca sempre permanecer em equilíbrio e por menor que seja as alterações feitas pelo homem elas vão sempre causar um stress no ciclo hidrológico (ALBUQUERQUE FILHO et al., 2010). Além disso existem vários impactos sociais que estão intrínsecos a construção de uma barragem, redução da qualidade de vida da população ribeirinha, indenizações por regiões alagadas que estão abaixo do preço real das propriedades, realocação da população para áreas com solos mais pobres, acarretando em êxodo rural e aumentando a região periféricas nas grandes cidades, aumento dos vetores de doenças e prejuízo na saúde da população local entre outros fatores (SBPE, 2010). E também os fatores que já são conhecidos assoreamento, erosão, desmatamento, alteração na fauna e na flora entre outros, poluição. E os fatores que são devidos a fase de execução e instalação da obra caça predatória, aumento nos índices de violência, acumulo de lixo entre outros. 2.4. Abastecimento para a indústria O abastecimento industrial da água pode ter três finalidades básicas a primeira ela não entra em contato com o produto produzido (resfriadores, caldeiras etc.), industrias onde a água faz parte do processo de produção, mas não da constituição dos produtos e por fim industrias onde a água é incorporada aos produtos. Saber qual é o papel da água no processo industrial é imprescindível, pois, isso influencia diretamente na qualidade da água que será utilizada. Em alguns casos as industrias são responsáveis pela captação da água que eles utilizam, porém, pode também se fazer um sistema dual de abastecimento de água. Nesse sistema a rede responsável pelo abastecimento humano faria a captação e tratamento da água para o consumo 39 humano e um outro tratamento para a água industrial, dessa forma economizando recursos hídricos potáveis e reduzindo os custos. A ideia de um duplo sistema de abastecimento é antiga e remete a 40 d.C. com Frontinus, onde existia um segundo sistema de abastecimento de água de menor qualidade para a irrigação de jardins (TOMAZ, 1998). Neste trabalho faremos um estudo de caso sobre o sistema em vigor no estado de São Paulo, para exemplificar como pode ser feito o projeto. O empreendimento estudado está localizado em Guarulhos - SP (TOMAZ, 1998). 2.4.1. Elementos construtivos Para início do projeto deve-se identificar o melhor local para a realização do estudo, foi determinado que a região de bom sucesso seria a sede das análises. Figura 2.4.1.1 - Esquema de aproveitamento do córrego Guaraçau para água industrial em Grarulhos. Fonte: Tomaz (1998). 40 Figura 2.4.1.2 - Esquema de aproveitamento de água industrial para a cidade de Grarulhos. Fonte: Tomaz (1998). Como podemos observar nas imagens acima, o esquema dual é bem simples, os pontos importantes a serem frisados são apenas a correta identificação da tubulação para que não haja confusão entre os usuários e evitar cruzamento entre as tubulações para evitar possíveis contaminações. 2.4.2. Impactos causados Os impactos que podem ser causados utilizando o sistema dual de abastecimento e a captação direta do usuário são os mesmos que podem ser aplicados para o abastecimento humano. 41 As pequenas particularidades desse sistema são referentes aos pós uso da água, como a construção de reservatórios nas indústrias que utilizam essa água para resfriadores, pois, a água não pode ser lançada com uma temperatura elevada nos corpos d’água, uma vez que isso impactaria drasticamente na fauna e flora aquática da região. Da mesma forma que indústria que tem rejeitos tóxicos devem ter reservatórios especiais, nos quais esses resíduos receberão o tratamento ou descarte adequado. A contaminação com substâncias tóxicas ou metais pesados são extremamente prejudiciais ao meio ambiente e de difícil recuperação. 2.5. Controle de cheias e estiagem Quando se trata de situações de inundações ou escassez de água, torna-se necessário uma intervenção mais drástica conforme a gravidade do problema. A variabilidade temporal das chuvas resulta, consequentemente, na variabilidade da vazão nos rios. Com isso, situações de escassez ou excessos de água são criadas e, com isso, os problemas mais usuais: falta de abastecimento e inundações. Para reduzir essa variabilidade da vazão, é necessário utilizar da regularização da mesma, isso se dá, principalmente, pela construção de um reservatório de água (Figura 2.5.1). Figura 2.5.1 – Esquematização da regularização da vazão (Q). Fonte: Barbosa Júnior (2016). Com isso, as compensações de déficit e escassez são neutralizadas, uma vez que em tempos de muita chuva, a água é reservada para tempos de seca/estiagem e, também, auxilia na proteção das áreas a jusante dele, já que controla a quantidade de água que é liberada. 42 Além da principal motivação apresentada anteriormente, alguns outros objetivos podem ser alcançados com a reservação de água: Atendimento às necessidades do abastecimento urbano ou rural (irrigação); Aproveitamento hidroelétrico (geração de energia); Atenuação de cheias (combate às inundações); Controle de estiagens; Controle de sedimentos; Recreação; Produção de peixes; Navegação fluvial. Porém, para a construção desse reservatório, normalmente uma barragem, devem ser feitos diversos estudos hidrológicos, para se atentar a real necessidade desse barramento ser construído, uma vez que demanda gastos de recursos e alteração ambiental. Se no estudo das séries de vazões naturais do rio os resultados dessas forem superiores à vazão necessária de consumo nos períodos de estiagem, a construção de um reservatório não é justificada, salvo em casos de excesso demasiado de chuva nos períodos de cheias, então se justificaria a construção para evitar problemas com inundações a jusante do possível barramento. Analogamente, se essa vazão natural for inferior à necessária para consumo, a obra de construção é justificada. Esses estudos devem ser o mais precisos possíveis, porque a errônea interpretação desses dados pode acarretar, em tempos de estiagem, em problemas maiores e afetar consideravelmente os usos do curso d’água, como: abastecimento industrial, irrigação,dessedentação de animais, entre outros. Por outro lado, as cheias podem causar perdas econômicas e de vidas. Ainda, esses dados permitem a correta tomada de decisões acerca da situação analisa, influem diretamente no dimensionamento de pontes, cidades futuras, dispositivos de micro e macro drenagem, implantação de sistemas de aviso e contenção, potencial elétrico, entre outros (TUCCI, 1993). 43 2.5.1. Aquicultura Nos últimos anos, observa-se um crescimento considerável do mercado de peixe, segundo relatório da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO), a perspectiva de crescimento da aquicultura e agricultura, para o ano de 2025, ultrapassa 100%, assim, esse se torna mais um uso de água a ser suprido. Esse uso é preocupante por conta de dois fatores: demanda de quantidade significante de água e a qualidade apresentada após seu uso. Porém, alguns estudos pregam que essa atividade é não consuntiva, pois retorna o volume de água que foi demandado, podendo não ser comparada, então, com às atividades de uma indústria, por exemplo. A aquicultura é uma atividade produtiva humana, a qual demanda consideráveis volumes de água, entrando lado a lado na disputa pela disponibilidade dos recursos hídricos. Como já dito, o maior problema está na qualidade retornada da água, assim, torna-se necessária a implantação de medidas que fiscalizem tal retorno. Também, devem ser impostas novas tecnologias e instrumentos que modelem tal atividade de forma que se reduza os impactos causados por ela. 2.5.2. Pecuária A pecuária é outra atividade que demanda grandes quantidades de água, por conta da manutenção do rebanho, principalmente na fase do abate, no preparo agroindustrial dos cortes e na oferta de produtos derivados, tais como leite e ovos. Denominada como “pegada hídrica”, essa atividade vem tomando espaço há tempos, porém, com a crescente tecnologia se desenvolvendo, sistemas produtivos mais eficientes estão sendo criados, nas áreas de manejo, captação de chuva, reuso e preservação dos rios e nascentes. A Embrapa Pecuária Sudeste, está realizando um programa em São Carlos–SP, desde o ano de 2015, que visa quantificar essa pegada hídrica, através de equipamentos que registram o consumo de água e a ingestão de alimento individuais de cada animal, também, estão sendo analisados as tecnologias citadas acima de captação de água, reuso, etc. Dessa forma, pretende-se avaliar esses dados e, assim, criar uma gestão de recursos hídricos mais adequada para essa atividade. 44 2.5.3. Estudo de caso 2.5.3.1. Projeto de aproveitamento hidráulico do rio Mondego O rio Mondego é situado por completo em Portugal, nasce na Serra da Estrela e tem sua foz no Oceano Atlântico. Ele pertence a uma bacia com área total de 6645 km². O principal problema nesse rio é a ocorrência de cheias (Figura 2.5.3.1.1) causadas por precipitações intensas. A dimensão da bacia hidrográfica e o tipo de acontecimento meteorológico governam as características das cheias, as quais no rio Mondego relativamente rápidas, com tempo de concentração curto, de poucas horas, o que causa aumento brusco do nível de escoamento em algumas áreas. Figura 2.5.3.1.1 – Período de cheias na cidade de Coimbra, Portugal. Fonte: Tvi 24. 45 Figura 2.5.3.1.2 – Período de cheias na cidade de Coimbra, Portugal. Fonte: Publico Porto. Através de estudos hidrológicos, constatou-se que nos dois últimos séculos, as cheias obtiveram períodos de retorno de 20 anos. Logo, era imprescindível uma interferência nessa situação, assim, após estudos hidrológicos, o projeto foi iniciado e tinha como objetivos: Produção de energia; Controle e defesa contra cheias; Abastecimento de água a populações e indústrias; Fornecimento de água para irrigação. Com a construção das barragens da Aguieira e da Raiva e do açude de Coimbra, foram construídos novos leitos aluvionares, incluindo diques de defesa, dragagem e revestimentos de enrocamento. Os picos de cheia em Coimbra eram da ordem dos 2500 m³/s, sendo reduzidos para 1200 m³/s, com tais resultados, a situação pode ser amenizada. 46 Figura 2.5.3.1.3 – Dique de defesa situado na cidade de Coimbra, Portugal. Fonte: Publico Porto. Figura 2.5.3.1.4 – Estrutura de controle de cheias situada na cidade de Coimbra, Portugal. Fonte: Publico Porto. 47 3. CONSIDERAÇÕES FINAIS A irrigação constitui-se como um sistema necessário, que propicia competitividade da cultura e em muitos casos, é indispensável para a produção. A correta escolha do tipo de processo utilizado, a partir da análise dos diferentes fatores e aspectos, conforme apresentado, e o dimensionamento correto do sistema de irrigação, considerando as particularidades do local, clima e tipo de cultura, acarreta em maior produtividade com menores custos. Com relação à utilização de água reservada em barragens para a produção de energia elétrica, muitos aspectos sociais, econômicos e ambientais estão envolvidos. Ao passo que a construção de uma usina hidrelétrica apresenta pontos favoráveis à economia da região e ao abastecimento de energia elétrica, ela também traz diversos impactos socioambientais negativos. Ainda sobre as usinas, é possível observar a grande gama de tipos destas, sejam eles conforme as dimensões da obra, a localização em que se encontram ou a potência instalada. Os sistemas de abastecimento humano de água são muito antigos e vêm sofrendo modificações para atender as novas dificuldades. Manter um sistema ininterrupto de água potável para os usuários sem criar grandes impactos ambientais e sociais ainda é um impasse para os profissionais de engenharia, principalmente quando questões políticas são levadas em conta. Cabe aos responsáveis pela bacia ter essa visão geral dos benefícios e problemas que a sua construção pode causar. Já para o abastecimento industrial o principal problema ainda é a internalização das externalidades, ou seja, muitas indústrias não pagam um preço justo pela água consumida. Em algumas indústrias são utilizadas reservatórios ou barragens de rejeitos e, tais construções, portanto, apresentam grande dado potencial associado por conterem materiais tóxicos que, por sua vez, podem ocasionar impactos inestimáveis para o meio ambiente e para a população. Assim como na irrigação, na área de aquicultura e pecuária se tem a extrema necessidade de tratar e depositar os resíduos gerados, normalmente água contaminada seja por venenos, excrementos ou até mesmo água advinda do processo de produção das carnes, por exemplo. Já, quando se trata de barramentos para contenção de cheias ou para prevenção de estiagens, deve-se fazer um estudo profundo das condições da área, topografia e relevo, condições meteorológicas, dados de séries históricas, entre outras. Com o estudo de caso apresentado, nota-se a importância de se fazer uma análise bem feita levando em consideração todos os fatores influentes para tal. 48 REFERÊNCIAS AGÊNCIA NACIONAL DE ENERGIA ELÉTRICA (ANEEL). Energia hidráulica. 2004. Disponível em: <http://www2.aneel.gov.br/aplicacoes/atlas/pdf/04-Energia_Hidraulica(2).pdf>. Acesso em: 6 de out. 2016. AGÊNCIA PORTUGUESA DO AMBIENTE (APA). O rio Mondego. Passagem para peixes – Coimbra, 2016. 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