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UNIVERSIDADE TECNOLÓGICA FEDERAL DO PARANÁ COECI - COORDENAÇÃO DO CURSO DE ENGENHARIA CIVIL CURSO DE ENGENHARIA CIVIL EDUARDO CESAR AMANCIO EDUARDO MESQUITA LETÍCIA FIDELI MAYRA BRANCO NATALIA LUIZA CAVICHIOLI PAULA MARIA MARTINS SOLO REFORÇADO TRABALHO DE FUNDAÇÕES ESPECIAIS TOLEDO 2017 1 INTRODUÇÃO Conter um maciço de solo em obras hidráulicas, obras de estradas, obras de ponte, entre outras, representam um grande desafio para a engenharia desde os tempos antigos. Segundo Seraphin e Mello (2003) civilizações antigas utilizavam diversos materiais como lã de lhama, lascas de madeira, folhas, galhos, pele de animais, entre outros, a fim de aumentar a resistência do solo. Mas hoje em dia existem diversos métodos construtivos e diversos materiais que podem ser utilizados para reforçar ou conter um maciço de solo, entre eles, os muros de terra armada. Proposta inicialmente por Henri Vidal nos aos 1960, a solução aumenta a resistência dos solos adicionando materiais resistentes à tração, visto que estes não possuem essa propriedade. Hoje em dia, são exemplos desses materiais aço galvanizado e certos tipos de polímeros. Após concebidos, essas estruturas apresentam importantes características, como por exemplo elevada resistência a impulsos de terra estáticos, sísmicos e ações oriundas de meios aquáticos, procedimentos simples, rápida execução, além de bom desempenho estético e econômico. Todas essas características, atreladas ao fato de que podem ser aplicados em obras muito distintas, fazem desse tipo de muro uma solução bastante procurada. É conveniente que o material de aterro possua elevado ângulo de atrito, o que exclui a utilização de solos com elevadas porcentagens de finos. Essa consideração baseia-se no fato de que esse método fundamenta-se na existência de atrito entre o solo e as armaduras. Isso é um fator que dificulta um pouco a utilização dessa solução no Brasil, visto que a maioria dos nossos solos possuem grande quantidade de finos, porém, a análise do melhor tipo de aterro e do melhor tipo de reforço pode ser estudada através de métodos experimentais, analíticos e numéricos, propondo soluções particulares para cada caso. A diversidade de sistemas disponíveis aumenta a cada ano, pela introdução de novas tecnologias no mercado, alavancada pelo esforço de pesquisadores, fornecedores de materiais e necessidades do mercado consumidor. 2 SOLO REFORÇADO 2.1 DEFINIÇÃO Consiste na inclusão de reforços em uma massa de solo, resultando em uma estrutura solo-reforço com um comportamento geotécnico melhorado. O termo solos reforçados diz respeito à utilização de geossintéticos, grampos, armaduras, entre outros materiais, para reforçar ou restringir deformações em estruturas geotécnicas, e sua estabilidade deve ocorrer interna e externamente. Na engenharia, vários problemas podem ser corrigidos usando essa tecnologia, como a construção em solos frágeis, aumento da estabilidade em taludes, problema de drenagem, erosões do solo, entre outros. O reforço deve dar ao solo a resistência à tração que este não possui. Os geossintéticos mais utilizados em maciços reforçados são os geotêxteis tecidos e não-tecidos, as geogrelha e os geocompostos resistentes. Alguma outras técnicas utilizadas para reforçar o solo são: substituição de solo, solo grampeado, terra armada, compactação, entre outras. 2.2 HISTÓRICO Técnicas para o melhoramento da qualidade dos solos é prática comum desde alguns milênios antes de Cristo. Essas técnicas vêm sendo aperfeiçoadas ao longo dos anos. 1400 a.C. – Muralhas da Mesopotâmia: foram construídas empregando camadas intercaladas de solo e mantas de raízes. Indícios dessa técnica são encontrados na Grande Muralha da China, em estradas construídas pelos Incas, no Peru, através de lã como reforço; 1926 – Utilização de mantas de algodão como reforço de camadas asfálticas em pavimentos, pelo Departamento de Estradas da Carolina do Sul (EUA); 1969 – Vidal patenteou a técnica da Terra Armada; 1994 – Utilização de palha em tijolos de argila, citado no Êxodo; A técnica do reforço de solos com fibras, nos moldes que se tem hoje, passou a ser investigada há pouco mais de três décadas. No início a técnica procurava avaliar os efeitos causados por raízes de plantas na resistência ao cisalhamento dos solos e na estabilidade de taludes (Gray & Ohashi, 1983 apud Casagrande, 2001; Schaefer et al., 1997 apud Casagrande, 2001). A técnica de reforçar solos com fibras vem despertando um interesse cada vez maior no meio científico, apresentado estudos específicos sobre o tema. 2.3 APLICAÇÕES Para a aplicação de estruturas de solo reforçado, é recomendado segundo as diretrizes que norteiam o método, a utilização de material granular com alta capacidade drenante. No entanto, segundo Santos (2007) verifica-se utilizações de diversos materiais sendo empregado como aterro. No Brasil, a execução de estruturas de solo reforçado, vem desde a década de 80 utilizando solos com uma quantidade relevante de finos, porém, a experiência tem mostrado um comportamento satisfatório para tais estruturas. Santos (2007) apud Patias (2005) realizou uma avaliação no desempenho de solos não convencionais reforçados, através dos ensaios de compressão tri axial rápido (UU) e adensados rápidos (CU), revelando que a combinação de solos finos com reforços permeáveis resultou em um ganho de resistência ora em termo de ângulo de atrito interno, ora em relação à coesão. Já com relação à aplicação de reforço de solos em experiências em outros países, é possível citar um exemplo na Singapura, onde um aterro de solo reforçado com geossintético de alta resistência e alta permissividade foi utilizado para realizar a recuperação de uma ruptura de talude. O talude recuperado tinha 21,5m de altura e no local encontrava-se um solo residual de baixa permeabilidade. O reforço geossintético nesse caso, forneceu além da função de resistência uma função drenante. Essa obra devida grande extensão e ao fato de estar próxima a outros edifícios altos, foi monitorada durante todo o período de construção e também posteriormente, constatando apenas a ocorrência de pequenas deformações (SANTOS, 2007). Outro exemplo pode-se constatar no Japão, onde é muito comum misturas de pedregulho-cimento reforçados com geogrelhas para a construção de aterros. Esse material é encontrado em importantes estruturas permanentes como por exemplo em encontros de pontes para ferrovias. Esses tipos de estruturas exigem estabilidades suficientemente alta e baixas deformações. Sendo assim, a utilização de solos reforçados, mostra uma boa performance e estabilidade contra carregamentos sísmicos. 2.4 TERRA ARMADA 2.4.1 Definição A terra armada, também chamada de solo armado, é um tipo de contenção de aterro, seja para recomposição ou confecção, proporcionando maior resistência ao maciço. Basicamente, é um sistema de placas pré moldadas fixadas a tiras metálicas enterradas no maciço compactado, conforme exemplo na figura 1 (DNIT, 2005). Figura 1 – Exemplo de estrutura executada em terra armada. Fonte: REINFORCED EARTH (2013). Segundo Oliveira (2016), o uso desse tipo de reforço tem obtido sucesso em diversas obras de engenharia, tais como em pontes e viadutos, contenções em rodovias, entre outras. Assim como o aterro, sua construção é executada de baixo para cima. Feita camada a camada com os elementos construtivos, como ligações, varões, chumbadores, armaduras, parafusos e juntas, conforme estabelecido em projeto (figura 2). Figura 2 – Componentes típicos de uma estrutura executada em terra armada. Fonte: Félix (1991). Segundo o manual de conservaçãorodoviária do DNIT (2005), a terra armada é composta por três partes principais: Maciço em terra armada: consiste no solo que envolve as armaduras; “Pele”: também chamada de escama, normalmente realizada em placas rígidas de concreto armado, que funcionam como faces externas da contenção, geralmente na posição vertical; Armadura: elementos que trabalham à flexão, fixadas nas “peles” por meio de parafusados. Por conta do contato direto com o solo, devem ser feitas de aço galvanizado. Ainda, segundo Félix (1991), as estruturas dos muros de terra armada possuem uma soleira de betão simples, executado in situ, de dimensões reduzidas e com sobreleito horizontal, no qual serão fixadas a primeira fiada das escamas. Caso a pele seja de betão, devem ser feitas juntas horizontais e verticais. De acordo com Maparagem (2011), é um sistema de rápida execução, grande confiabilidade e capacidade de suporte, o qual vem sendo muito utilizado em estruturas de aterros em rodovias e ferrovias. Um forte atrativo é por ser possível de ser concebida em aterros a 90°, sendo essenciais para alguns tipos de obras. 2.4.2 Tipos e funções De acordo com a solicitação de carga, a terra armada é subdividida em três tipos: greide, pé de talude e encontro portante. O greide, dado como o tipo mais comum, tem seus elementos construtivos projetados visando atender somente o aterro no qual será construído e as forças suportadas sobre ele. O pé de talude por sua vez, além de atender ao próprio aterro no qual será construído, deve suportar as cargas advindas de um outro aterro, o qual será construído com o pé de talude apoiando-se sobre ele. Já o encontro portante é dimensionado para suportar esforços advindos de uma edificação, a qual será construída sobre ele. Ainda, esses tipos citados acima são subdivididos em função da altura do aterro que será executado. Quanto maior a altura do aterro construído, maior será a exigência dos elementos especiais construtivos, recomenda-se então que os mesmos sejam aumentados. 2.4.3 Materiais e componentes 2.4.3.1 Materiais e componentes de aterro De acordo com Félix (1991), deve-se ter, para utilização como material de aterro, um solo com elevado ângulo de atrito interno, sendo no mínimo 25º após consolidado. A NBR 9.286 recomenda que sejam utilizados solos naturais ou industriais não compostos por material orgânico ou detritos domésticos. Para espalhamento e compactação do solo no aterro, utilizam-se equipamentos mecânicos como retroescavadeiras, patrolas e rolos compactadores dos tipos lisos e “pé de carneiro”. Conforme DNIT (2010) estes equipamentos trabalham entre os muros, acompanhando a subida destes. Próximo as placas de concreto, recomenda-se que a compactação seja executada por meio de placas vibratórias mais leves (CORSINI, 2012). 2.4.3.2 Materiais e componentes resistentes aos esforços Inicialmente, na base do muro deve-se ter como componente uma viga baldrame de dimensões 30 x 15 cm (DNIT, 2010). Na composição do muro, tem-se um sistema constituído por placas de concreto pré-moldadas em forma de cruz ou hexagonais, conhecidas por escamas, sendo que em seu processo de fabricação são colocadas chapas metálicas dobradas e com orifícios nas extremidades das mesmas, com o intuito de ancorar os tirantes metálicos (armaduras) e poliméricos na fase de execução do aterro. Na Figura 3 tem-se um exemplo de uma placa de escama pré-moldada. Figura 3 – Placa em cruz pré- moldada de concreto Fonte: DNIT (2010, p. 572) Tirantes devem ser compostos de barras nervuradas de aço galvanizado CA-50 colocados perpendicularmente às placas de concreto, conforme exigências da NBR 9.286. Seus diâmetros e comprimentos variam de acordo com as exigências de projeto. Os tirantes podem ser, também, de material polimérico com superfície rugosa, constituídos por fibras de poliéster de alta tenacidade, quando utilizados, o material de aterro deve ser mais grosso (CORSINI, 2012). Nas Figuras 4 e 5 são exemplificados os tirantes metálicos, que caracterizam os reforços inextensíveis e os tirantes poliméricos, que caracterizam reforços extensíveis, respectivamente. Figura 4 – Tirantes metálicos Fonte: Silva (2012, p. 11) Figura 5 – Fita polimérica de reforço Fonte: Silva (2012, p. 13) 2.4.3.3 Materiais e componentes de ligação, revestimento e escoramento Para a ligação entre as placas de concreto pré-moldado e os tirantes, utilizam-se parafusos, colocados nos espaços próprios das chapas metálicas presentes nas placas. Silva (2012) cita os olhais e passadores como elementos de ligação que amarram os tirantes as placas, conforme exemplificado na Figura 6. Figura 6 – Olhais e passadores para ligação tirante-placa. Fonte: Silva (2012, p. 18). Entre as placas de escamas, são aplicadas juntas horizontais de polietileno cobertas internamente por filtro geotêxtil, que evitam uma união rígida entre as escamas e permitindo a passagem de água para o exterior e evitando a passagem de finos. Estas juntas formam uma almofada de apoio entre as placas. No processo de montagem dos painéis são utilizados acessórios de escoramento de madeira que garantem uma inclinação compatível com o efeito recuperador das diferentes camadas de aterro, e acompanhando a geometria do muro, exemplificados na Figura 7. Figura 7 – Elementos de escoramento Fonte: VSL (2008, apud SILVA, 2012). Conforme DNIT (2010) no acabamento superior do muro são utilizadas muretas ou vigas de concreto armado pré-moldadas ou moldadas in loco. 2.4.4 Método construtivo O processo construtivo de obras de terra armada muitas vezes se dá de forma simples e rápida, podendo ser realizado em locais restritos e dispostos de pouco espaço físico, como próximo a divisas de terrenos. A sua execução se resume a uma terraplenagem, em que sua rapidez é determinada através da velocidade em que o solo pode ser distribuído e compactado. Este processo pode ser dividido em seis etapas (UFSC, 2016; SANTOS, SMITH & COSTA, 2015). A primeira etapa se refere à preparação topográfica do terreno para implantação do muro de terra armada (SILVA, 2012). A segunda fase é a execução de uma base de concreto que trabalha como uma fundação para a obra e deve estar apoiada em um solo resistente (solo compactado, solo-cimento, etc) (SANTOS, SMITH & COSTA, 2015). Em seguida, há a colocação das escamas, os painéis pré-moldados de revestimento. A primeira fiada das placas é executada sobre a base de concreto (SANTOS, SMITH & COSTA, 2015). As escamas são instaladas de forma a gerar uma superfície vertical, aplicada através de tratores e guindastes. A montagem é realizada conforme a sequência enumerada das placas e deve se desenvolver em linhas horizontais sucessivas (simultaneamente à execução do aterro) (UFSC, 2016; SILVA, 2012). A Figura 8 apresenta um esquema da aplicação das placas. (a) (b) Figura 8 – Montagem das placas no muro de terra armada. (a) Esquematização; (b) Execução em obra. Fonte: VSL (2008, apud SILVA, 2012); Terra Armada Brasil (2017). Segundo Silva (2012), os acessórios de escoramento são aplicados de maneira simultânea à execução dos painéis. Além disso, a ligação entre as placas é garantida através de encaixes, pinos ou apoios plásticos tipo VSL (bearing pads), conforme a Figura 9. Figura 9 – Encaixe dos painéis Fonte: VSL (2008, apud SILVA, 2012). A quarta etapa remete à fixação de uma camada de armadura (tiras metálicas), dispostas perpendicularmente às escamas (salvo indicação contrária em projeto) e fixadas por parafusos nos elementos próprios dos painéis (UFSC, 2016). Em seguida, as tiras metálicas são aterradas e compacta-se o solo com rolo compactador (CORSINI, 2012). A sexta e última fasede execução da terra armada se dá pela conclusão da montagem do muro e da finalização do seu topo por meio da aplicação de argamassa (SILVA, 2012). 2.4.5 Cuidados na execução Segundo o DNIT (Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes) à construção de contenções do tipo terra armada é no geral feita na mesma proporção que é construído o aterro, no sentido de baixo para cima. Sua execução requer que para cada camada de aterro deve ser colocado elementos construtivos especiais. Estes, são estabelecidos previamente em projeto e devem sempre visar o desempenho da função de atrito entre as armaduras e o solo constituinte do aterro. No paramento do maciço encontram-se as escamas constituídas de peças pré-moldadas de concreto armado que formam a superfície aparente do muro. Elas são ligadas aos elementos construtivos especiais que localizam-se ao corpo do aterro. Segundo UFSC 2016, as bases que contém nas escamas feitas de concreto e o aterro devem conter fundações de mesma natureza, evitando assim recalques diferenciais e esforços de tração não esperados nas tiras metálicas. 2.4.5.1 Aterros Recomendação construtiva: Quanto ao material de composição, à recomendação da NBR 9.286 é de que solos naturais ou de origem industrial sejam utilizados, e que não contenham terra vegetal ou detritos domésticos. 2.4.5.2 Armaduras Recomendação construtiva: Devem ter boa resistência e durabilidade, pouca deformabilidade, bom coeficiente de atrito e flexibilidade. Além de aço, as fitas também podem ser poliméricas, com superfícies rugosas, constituídas por fibras de poliéster de alta tenacidade. Nesse caso, o material para formação do aterro deve ser mais grosso. 2.4.5.3 Içamento das escamas Recomendação construtiva: A colocação das escamas é feita em linhas horizontais sucessivas, ao mesmo tempo em que o aterro é executado acompanhando a elevação das escamas. Além disso, a NBR 7182 - “Solo - Ensaio de compactação” normatiza a forma de compactação, esta deve ser de forma cuidadosa de modo que não danifique ou mexa na disposição das armaduras e escamas. 2.4.5.4 Instalações das tiras metálicas Recomendações construtivas: É recomendável que a compactação seja executada por meio de placas vibratórias, mais leves. Recomenda-se, ainda, que o grau de compactação para a execução do aterro seja no mínimo de 95% da densidade aparente seca máxima. 2.4.6 Estudo de caso 1: Terra armada como método alternativo com uso de blocos de ancoragem No modelo tradicional de solos reforçados terra armada, as armaduras são peças lineares, de igual dimensão à largura da base do maciço e trabalham por atrito, resistindo à tração interna do aterro. São feitas de materiais que apresentam boa resistência à tração, ruptura tipo não frágil, flexibilidade, pequena deformabilidade sob cargas de serviço, bom coeficiente de atrito e boa durabilidade. Os elementos de face possuem a função de equilibrar tensões periféricas, manter o sistema estável e com boa forma. São geralmente placas pré-fabricadas de concreto armado. Na obra de um viaduto na cidade de Goiana, foi aplicado um modelo alternativo em que a principal diferença está em relação ao melhor aproveitamento do comprimento dos tirantes de reforço do solo, além da inserção dos blocos de ancoragem na parte do solo sujeito ao Empuxo passivo. O método baseia-se no aproveitamento do empuxo passivo para reagir à força de tração do tirante, causado pelo esforço horizontal do solo na placa de concreto. Para cada nível de barras são determinadas as forças de tração, seguindo o método de cálculo de tração máxima nas armaduras, preconizado pela NBR 9286/86 para cálculo das contenções de Terra Armada com a utilização de fitas galvanizadas. O comprimento de ancoragem de cada bloco e o consequente comprimento dos tirantes são encontrados a partir da rotação de 45° - Φ/2 da linha superior da região de influência do aterro (figura 10). Figura 10 – Posicionamento dos blocos de ancoragem Fonte: ALMEIDA, MENDONÇA e LAPERCHE (2013). As dimensões dos blocos de ancoragem também variam. Estas são funções da magnitude dos esforços os quais estes devem que resistir, que por sua vez, variam de acordo com a área de influência de cada bloco, mostradas na figura 11. Figura 11 – Posicionamento dos blocos de ancoragem Fonte: ALMEIDA, MENDONÇA e LAPERCHE (2013). Devido ao melhor desempenho dos elementos nesse sistema, é interessante ressaltar que a solução terra armada com blocos de ancoragem pode ser aplicadas em maciços de solo com grande quantidade de finos, solo este abundante na região de Goiânia, o que diminuiu o custo de aquisição e de transporte de solo granular para o presente caso. Em relação ao consumo de aço, a solução com blocos de ancoragem também apresentou melhor custo-benefício. Neste método o consumo de aço é bem menor, visto ao melhor dimensionamento das estruturas atirantadas. O consumo de concreto, por sua vez, apresentou desvantagem em relação ao método convencional. Como os blocos de ancoragem são confeccionados em concreto armado, e isto em nada diminui as dimensões do muro de contenção, o consumo se revela maior neste método. Estima-se que este aumento seja da ordem de 20%. Após todas essas considerações feitas, têm-se que o método de terra armada com blocos de ancoragem apresenta melhor desempenho e menor custo para o caso estudado. Possibilidade de utilização de solo local para construção do aterro, menor consumo de aço na estrutura, aproveitamento de esforços próprios do maciço descrevem vantagens que determinaram a utilização desse método para a construção do viaduto. A figura 12 mostra a obra já concebida. Figura 12 – Obra concluída Fonte: ALMEIDA, MENDONÇA e LAPERCHE (2013). 2.4.7 Estudo de caso 2: Terra armada como contenção em ponte de concreto armado Construída sobre o rio Ururaí, no município de Campos dos Goytacazes, a ponte foi construída com objetivo de integrar o novo traçado da rodovia BR-101 (figura 13). Figura 13 - Localização Fonte: OLIVEIRA e PIERROT (2016). O dispositivo de contenção utilizado foi a Terra Armada, visto que tal método proporciona um sistema de aterro com inclinação igual a 90°, reduzindo os problemas de erosão nos taludes que estão às margens das rodovias (OLIVEIRA e PIEROTT, 2016). A figura 14 abaixo apresenta a localização dos muros de contenção. Figura 14 - Localização dos muros de contenção em Terra Armada Fonte: OLIVEIRA e PIERROT (2016). Já as figuras 15 e 16 abaixo apresentam os dois croquis da cabeceira com o sistema de Terra Armada. Figura 15 - Detalhe em corte da contenção Fonte: OLIVEIRA e PIERROT (2016). Figura 16 - Vista frontal da contenção Fonte: OLIVEIRA e PIERROT (2016). 3 CONCLUSÃO Há situações em que o solo não apresenta capacidade mecânica para suportar sobrecargas ou apresentar estabilidade. Muitas vezes, se torna inviável propor alterações drásticas nos projetos a fim de reduzir o carregamento sobre o solo e validar a capacidade do solo. Para tanto, nestes casos é necessário realizar um reforço no maciço. Neste sentido, surgem diversas soluções para este reforço, sendo elas a aplicação de geossintéticos, substituição de parte do solo, solo grampeado e muros de contenção, como o muro de terra armada, entre outros. O presente trabalho abordou, em grande parte, as especificações e aplicações da terra armada. Foi possível observar os materiais utilizados, o processo construtivo, os cuidados de execução e aplicações da tecnologia em casos específicos. Além disso, pode-se inferior que a utilização de solo armado para reforço do maciço apresenta uma importância técnica e econômica para as obras, pois proporciona aestabilidade de um terreno ou a viabilidade de execução da superestrutura planejada sem alterar significativamente suas características e pode apresentar economia em comparação com demais tecnologias do tipo, além de garantir a segurança estrutural e geotécnica de construções que antes se encontravam em situação de risco. Também como vantagens observam-se a facilidade e rapidez de execução do sistema de terra armada, fato este que não gera grande influência no cronograma da obra, e a possibilidade de aplicação em locais restritos e dispostos de pouco espaço físico, como divisas. 4 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ALMEIDA, E. C. M.; MENDONÇA, F. C. de F.; LAPERCHE, R. B. Estudo de diferentes soluções de muro de solo estabilizado mecanicamente (MSE) para construção de um viaduto localizado na cidade de Goiânia. 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Disponível em: <www.teses.usp.br/teses/disponiveis/18/18132/tde.../dissertacao_maparagem.pdf>. Acesso em: 26 mai. 2017. NTC BRASIL. Solos reforçados X Solos grampeados. Disponível em: <https://www.ntcbrasil.com.br/blog/solos-reforcados-x-solos-grampeados/.> Acesso em: 29 de maio de 2017. OLIVEIRA, A. M. A.; PIEROTT, R. M. R. PROJETO DE DIMENSIONAMENTO DE UMA PONTE EM CONCRETO ARMADO SOBRE O RIO URURAÍ. Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro. Campos dos Goytacazes (RJ). 2016. Disponível em: <http://uenf.br/cct/leciv/files/2016/02/Alexandre-Magno-Alves-de- Oliveira-e-Rodrigo-Moulin-Ribeiro-Pierrot.pdf>. Acesso em: 26 mai. 2017. SANTOS, Amábelli N. dos; SMITH, Camilli S.; COSTA, Rodrigo M.. Terra armada. Faculdade do Sul da Bahia, Teixeira de Freitas, 2015. SANTOS, Daniele Pereira dos. Estruturas de contenção em solo reforçado. Universidade Federal do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro (RJ), 2014. SCHAEFER, V. R.; SHARP, K. D.; DRUMHELLER, C.; ABRAMSON, L. W.. 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