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Brasília-DF. Medicina de conservação de aniMais silvestres Elaboração Rafael Prange Bonorino Produção Equipe Técnica de Avaliação, Revisão Linguística e Editoração Sumário APRESENTAÇÃO ................................................................................................................................. 4 ORGANIZAÇÃO DO CADERNO DE ESTUDOS E PESQUISA .................................................................... 5 INTRODUÇÃO.................................................................................................................................... 7 UNIDADE I ASPECTOS GERAIS ................................................................................................................................. 9 CAPÍTULO 1 CONCEITUAÇÃO E AMPLITUDE DE AÇÃO ................................................................................. 9 CAPÍTULO 2 TÉCNICAS DE ESTUDO DE CAMPO ......................................................................................... 17 CAPÍTULO 3 MUDANÇAS CLIMÁTICAS ........................................................................................................ 23 UNIDADE II IMPACTOS À FAUNA ............................................................................................................................. 26 CAPÍTULO 1 EMERGÊNCIAS AMBIENTAIS .................................................................................................... 26 CAPÍTULO 2 AÇÕES DE REDUÇÃO DE IMPACTO ........................................................................................ 35 UNIDADE III AÇÕES PARA A FAUNA......................................................................................................................... 38 CAPÍTULO 1 AÇÕES PARA A FAUNA AMAZÔNICA ....................................................................................... 38 UNIDADE IV FAUNA BRASILEIRA ............................................................................................................................... 49 CAPÍTULO 1 ESPÉCIES EXÓTICAS INVASORAS ............................................................................................. 49 CAPÍTULO 2 PERSPECTIVAS PARA CONSERVAÇÃO ...................................................................................... 59 UNIDADE V PLANOS DE MANEJO DE ESPÉCIES ....................................................................................................... 66 CAPÍTULO 1 MANEJO DOS RECURSOS PESQUEIROS EM RESERVATÓRIOS .................................................... 66 CAPÍTULO 2 MANEJO E CONSERVAÇÃO DOS RÉPTEIS .............................................................................. 76 CAPÍTULO 3 MANEJO E CONSERVAÇÃO DE MAMÍFEROS CARNÍVOROS, ANFÍBIOS E AVES ......................... 87 UNIDADE VI GENÉTICA DA CONSERVAÇÃO .......................................................................................................... 104 CAPÍTULO 1 FELÍDEOS ............................................................................................................................. 104 CAPÍTULO 2 MOVIMENTAÇÃO DA FAUNA E IMPLICAÇÕES ....................................................................... 112 CAPÍTULO 3 ESTRUTURA POPULACIONAL, FLUXO GÊNICO E CONSERVAÇÃO ............................................ 123 UNIDADE VII PLANO DE MANEJO DE BIOMAS ....................................................................................................... 128 CAPÍTULO 1 CERRADO ........................................................................................................................... 128 REFERÊNCIAS ................................................................................................................................ 134 5 Apresentação Caro aluno A proposta editorial deste Caderno de Estudos e Pesquisa reúne elementos que se entendem necessários para o desenvolvimento do estudo com segurança e qualidade. Caracteriza-se pela atualidade, dinâmica e pertinência de seu conteúdo, bem como pela interatividade e modernidade de sua estrutura formal, adequadas à metodologia da Educação a Distância – EaD. Pretende-se, com este material, levá-lo à reflexão e à compreensão da pluralidade dos conhecimentos a serem oferecidos, possibilitando-lhe ampliar conceitos específicos da área e atuar de forma competente e conscienciosa, como convém ao profissional que busca a formação continuada para vencer os desafios que a evolução científico-tecnológica impõe ao mundo contemporâneo. Elaborou-se a presente publicação com a intenção de torná-la subsídio valioso, de modo a facilitar sua caminhada na trajetória a ser percorrida tanto na vida pessoal quanto na profissional. Utilize-a como instrumento para seu sucesso na carreira. Conselho Editorial 6 Organização do Caderno de Estudos e Pesquisa Para facilitar seu estudo, os conteúdos são organizados em unidades, subdivididas em capítulos, de forma didática, objetiva e coerente. Eles serão abordados por meio de textos básicos, com questões para reflexão, entre outros recursos editoriais que visam tornar sua leitura mais agradável. Ao final, serão indicadas, também, fontes de consulta para aprofundar seus estudos com leituras e pesquisas complementares. A seguir, apresentamos uma breve descrição dos ícones utilizados na organização dos Cadernos de Estudos e Pesquisa. Provocação Textos que buscam instigar o aluno a refletir sobre determinado assunto antes mesmo de iniciar sua leitura ou após algum trecho pertinente para o autor conteudista. Para refletir Questões inseridas no decorrer do estudo a fim de que o aluno faça uma pausa e reflita sobre o conteúdo estudado ou temas que o ajudem em seu raciocínio. É importante que ele verifique seus conhecimentos, suas experiências e seus sentimentos. As reflexões são o ponto de partida para a construção de suas conclusões. Sugestão de estudo complementar Sugestões de leituras adicionais, filmes e sites para aprofundamento do estudo, discussões em fóruns ou encontros presenciais quando for o caso. Atenção Chamadas para alertar detalhes/tópicos importantes que contribuam para a síntese/conclusão do assunto abordado. 7 Saiba mais Informações complementares para elucidar a construção das sínteses/conclusões sobre o assunto abordado. Sintetizando Trecho que busca resumir informações relevantes do conteúdo, facilitando o entendimento pelo aluno sobre trechos mais complexos. Para (não) finalizar Texto integrador, ao final do módulo, que motiva o aluno a continuar a aprendizagem ou estimula ponderações complementares sobre o módulo estudado. 8 Introdução Na medida em que as questões ambientais ganham relevância para a sociedade, a proteção à natureza assume status de lei e passa a integrar as políticas públicas. O campo da conservação da biodiversidade é hoje um setor em franca expansão, no qual começam a surgir boas e novas oportunidades de trabalho para muitas profissões voltadas às áreas ambientais. A medicina da conservação constitui, entre outras finalidades, uma nova ciência voltada a enfrentar a ameaça crescente de agentes etiológicos que possam afligir a riqueza biológica do planeta. Essa ciência é composta por profissionais multidisciplinares das mais diversas áreas: ecologia, epidemiologia, zoologia, botânica, microbiologia, parasitologia, patologia, biologia da conservação e medicina veterinária. Há pouco tempo, pela bandeira da sobrevivência e a necessidade da conservação ambiental, abriu-se um novo campo de trabalho para vários profissionais, principalmente médicos veterinários que já trabalham com animais silvestres e intercambiam conhecimentos de outras áreas, além das suas. Há um desafio: buscar o equilíbrio entre crescimento econômico mundial e conservação da natureza. O que se consegue hoje, ponderando que há nítido crescimento populacional atrelado às necessidades alimentares e econômicas, é a discussãode sustentabilidade, em que se possa manejar a flora e a fauna de forma sustentável. Hoje não há mais espaço para se pensar no homem enquanto visão antropocêntrica e dominadora, pois tudo faz parte de um equilíbrio ecológico que precisa ser mantido para a necessidade da sobrevivência de todas as espécies, inclusive a humana. O Brasil tem grande responsabilidade sobre sua conservação, uma vez que é detentor das maiores biodiversidades faunísticas e florística. Nele concentra por volta de 15 a 20% de toda a diversidade biológica mundial. Nosso país também concentra o maior número de espécies endêmicas, porém ainda temos um paradoxo: como conservar sem conhecer o real quantitativo das espécies? Deve-se conservar até mesmo o que não se conhece. Como forma de precaução e para justificar a conservação, nasceu a economia ambiental, que busca valorar o ambiente objetivamente, direta e indiretamente, com o propósito de receber atenção daqueles Dell Realce ca Dell Realce ca Dell Realce Dell Realce ca Dell Realce ca Dell Realce ca Dell Realce ca Dell Realce ca Dell Realce ca Dell Realce ca Dell Realce ca Dell Nota dê mais espaço entre as palavras Dell Nota dê mais espaço entre as palavras 9 que buscam se beneficiar, de forma sustentável, das potencialidades econômicas que o meio ambiente pode trazer. Nesta apostila, serão abordados: manejo de conservação e reprodução de determinadas espécies mais vulneráveis, ações para redução dos impactos à fauna e técnicas de pesquisa a campo entre outros assuntos. Bem-vindas(os)! Espero que o assunto abordado, além de ser mais uma disciplina, produza uma análise reflexiva sobre nosso papel enquanto seres pensantes e, por isso, responsáveis pela manutenção das espécies e do ambiente para o equilíbrio do clima, fundamental à sobrevivência de todos neste planeta! Objetivos Esta apostila tem o objetivo de: » Mostrar à(ao) aluna(o) a transdisciplinaridade que envolve a medicina da conservação. » Demonstrar a inter-relação entre as espécies, os ecossistemas e a saúde ambiental. » Explicar que muitas das causas das zoonoses têm como origem o desequilíbrio ecológico. » Por fim, fazer a(o) aluna(o) perceber a interferência das ações humanas como fator de distúrbio e assim poder frear desenvolvimentos predatórios. » Apontar as possibilidades de mercado, além da clínica como perícia criminal, projetos de preservação da fauna. Dell Nota coloque como último objetivo 10 11 UNIDADE IASPECTOS GERAIS O objetivo desta unidade é trazer conceitos sobre a medicina da conservação, os atores envolvidos e a sua amplitude de atuação. CAPÍTULO 1 Conceituação e amplitude de ação Conceitos A medicina da conservação é um campo de atuação expressiva para médicos veterinários, biólogos e várias outras disciplinas que trocam informação para se atingir o mesmo objetivo. O incessante impacto promovido pela humanidade nos quatro cantos do mundo em meados do século passado, com maior relevância a partir da década de 90, gerou problemas na saúde ambiental sem precedentes. Essa crise ambiental e seus diversos efeitos alarmaram os cientistas na busca de elucidar a origem de tais perturbações e as formas que poderiam ser utilizadas para reverter esse preocupante panorama. A ciência reuniu especialistas na área de ecologia, epidemiologia, zoologia, botânica, microbiologia, parasitologia, patologias humana, animal e vegetal, e no amadurecimento dessas ideias e seus intercâmbios, nasceu a Medicina da Conservação (MANGINI; SILVA, 2007). Ela também é conhecida como a “ciência da crise” (OSTFELD, 2002), pois, nesse contexto, a principal ameaça identificada é a destruição de ciclos biológicos complexos, responsáveis pela manutenção da saúde das espécies e dos ecossistemas. Dell Realce 1990 Dell Realce ca Dell Realce ca Dell Realce ca Dell Realce ca Dell Realce ca Dell Realce ca Dell Realce ca Dell Realce ca Dell Realce ca Dell Realce ca 12 UNIDADE I │ ASPECTOS GERAIS Visto que ela não pode ser considerada um tema isolado e sim a soma de todos, ao se somar todo o conhecimento sobre animais selvagens, pode-se inferir que todo esse conhecimento é apenas uma parte contributiva do universo da biologia da conservação, no qual situações complexas se intercambiam para tentar buscar explicações e soluções para os efeitos encontrados. Ciência para crise da saúde ambiental e a consequente perda da biodiversidade, desenvolvida por meio da transdisciplinaridade na execução de pesquisas, ações de manejo e políticas públicas ambientais voltadas à manutenção da saúde de todas as comunidades biológicas e seus ecossistemas. (MANGINI; SILVA, 2007). A finalidade é, entre outras, o meio ambiente sadio e a manutenção do equilíbrio ecológico. Vê-se por esse conceito a amplitude de ação deste tema tão complexo e diverso, em que atuam muitos atores de várias ciências. Observou-se por esses estudos que processos naturais estavam sendo alterados em ritmo sem precedentes e que perturbações populacionais eram decorrentes de fatores complexos e diversos interligados. O “ruflar de asas de uma borboleta em uma região pode causar tempestade em outro local distante”. Essa representação não é exagerada quando se discute ecologia, quando um determinado prejuízo ambiental decorre de um desencadear de fatos muitas vezes banais para nós, mas que podem se transformar em problemas maiores porque não temos a percepção conjunta do problema. Isso pode explicar, algumas vezes, por que o planeta padece de determinadas epidemias, (que no presente momento parece cada vez mais frequente), como surtos de zoonoses. Epidemias por diversos micro-organismos têm recebido atenção mundial, visto seus efeitos catastróficos humanos, sociais e econômicos. Muitos desses agentes estão latentes ou permanecem em determinadas espécies animais de forma endêmica, produzindo baixa patogenicidade e morbidade. Embora saibamos da existência desses agentes (são os habitantes mais antigos!), essa “onda invisível” tem sido mais corriqueira e mais avassaladora, saindo de seu equilíbrio ecológico. É impossível erradicá-los, sabemos disso, o objetivo é mantê-los dentro de valores aceitáveis e de forma endêmica na população de origem. Autores citam, como exemplo, os primeiros problemas de saúde populacional que originaram a necessidade de se conhecer um pouco mais sobre a medicina da conservação e aproximaram médicos veterinários de silvestres com biólogos da conservação, são eles: Dell Realce ca 13 ASPECTOS GERAIS │ UNIDADE I Morbiliviroses em mamíferos marinhos Nas décadas de 80 e 90, diversas mortes em massa, registradas na América do Norte e Europa atingiram focas (Phoca sp) de diversas espécies, além de golfinhos. Todas as mortes foram atribuídas ao morbilivirus sp, e a sua entrada ao ambiente aquático ocorreu por agentes virais como o vírus da cinomose canina, o que foi atribuído ao contato estreito entre animais domésticos e silvestres (DUIGNAN, 1999). Declínio global de anfíbios Populações de anfíbios, como o Bufo periglenes (sapo-dourado), tornaram-se extintas logo depois da sua descoberta. Isso aconteceu em vários continentes como Europa, Ásia, América, inclusive países como o Brasil, tendo como causas mais prováveis a perda e a modificação de habitats, tanto aquático quanto terrestre, além de alterações na qualidade da água e ar, com agentes químicos e pesticidas usados em lavouras. São atribuídas outras causas que afetam vários outros vertebrados: chuva ácida, aquecimento global, introdução de espécies invasoras e predadoras, as quais não encontram seus próprios predadores naturais. Muitos desses animais trazem consigo agentes fúngicos, bacterianos, virais e parasitários que não lhes causam enfermidades, mas em contato com animais nativos os transmitem, desencadeando a patologia (DASZAK, 1999). Os anfíbios, entre outros, são marcadores ambientais. Quando há um desequilíbrio ambiental, são umdos primeiros animais a sofrerem alterações em suas populações. Surgimento de pneumonia asiática e outros No ano 2000, o mundo recaiu com a Síndrome Respiratória Aguda Severa – SARS, que despontava como uma nova doença fatal e de rápida disseminação. Tal doença surgiu na China, em Guangdong, e logo se disseminou para vários outros países do Oriente e Canadá. Esse coronavírus foi isolado em espécies selvagens como os canídeos, viverídeos e mustelídeos. O contato próximo entre comerciantes de animais vivos e abatidos ajudou a disseminar o agente. O uso intensificado dos recursos naturais multiplica a possibilidade de que agentes etiológicos, já adaptados a seus hospedeiros, transponham seus nichos ecológicos originais e assumam o caráter patogênico (MANGINI; SILVA, 2007). Dell Realce 1980 Dell Realce 1990 Dell Realce sem itálico Dell Realce coloque em itálico Dell Realce tire o traço coloque entre parênteses 14 UNIDADE I │ ASPECTOS GERAIS O processo de globalização não mantém mais o agente concentrado em determinada região e sim promove a sua distribuição pelo mundo. Isso é bem caracterizado com epidemias que costuma ficar restritas a determinada região, mas que ganham velocidade de disseminação para outros continentes, como está sendo noticiado com o coronavírus respiratório. A chegada da febre do Nilo à América do Norte foi outro fator de alerta aos perigos atribuídos ao distúrbio ecológico. Essa patologia foi descoberta inicialmente em 1930, na África, causada por um flavivírus e transmitida por um vetor hematófago. Afeta vários vertebrados e os humanos. Os equinos e aves migratórias são os disseminadores e reservatórios do vírus. Deve-se, entre outras causas, ao trânsito de animais sem histórico e à ameaça a ecossistemas equilibrados como fatores importantes de disseminação viral (MANGINI; SILVA, 2007). O vírus da cinomose é um exemplo contundente da migração viral entre as espécies da aproximação da vida selvagem com animais domésticos, até então conhecida entre os cães. O rastreamento da doença demonstrou que os cães estavam tendo contato com as hienas, e estas com os leões, possibilitando aos felinos o contato com o vírus, o que dizimou cerca de 30% de leões em reservas como no Serengeti. A doença já foi isolada em felídeos exóticos, como o leão e tigre, assim como em furão e quati. Como o vírus atinge diversas espécies, inclusive felídeos exóticos, seria possível ocorrer também no gato doméstico? Em 1993, nos Estados Unidos, várias pessoas morreram de uma doença respiratória aguda chamada hantavirose. A causa das mortes foi devido ao contato que a população teve com secreções de ratos infectados em suas casas ou na vizinhança. Essas mortes, de acordo com os epidemiologistas, ocorriam sempre após períodos de fortes chuvas, que não costumavam ocorrer no passado. Os cientistas então confirmaram que a chuva, induzida pelo El Niño, foi muito forte durante o inverno e a primavera, justamente antes de os surtos ocorrerem. 2.Objetivos da medicina da conservação Promover a saúde dos ecossistemas, a saúde ambiental, uma vez que o surgimento das enfermidades é algo dinâmico. A interconexão entre a saúde animal e a saúde humana, decorrentes das interações entre os patógenos nas espécies, é fundamental (TABOR, 2002), por isso considera-se que a saúde ambiental é dependente da conjunção das saúdes: humana, animal, vegetal e ecossistemas que estão intrinsecamente relacionadas. Dell Realce apagar traço e deixar espaço Dell Realce apagar Dell Nota dê um pouco mais de espaço 15 ASPECTOS GERAIS │ UNIDADE I Alguns exemplos de trabalho de pesquisa já são implementados, como prática na conservação de algumas espécies. São elas: Projeto Tamar, implementado na costa marítima brasileira, com tartarugas marinhas de várias espécies; Instituto baleia Jubarte, no parque nacional de Abrolhos (BA); Fundação SOS Mata Atlântica, que trabalha com diversas espécies selvagens, Pró-carnívoros, Fundação de mamíferos aquáticos etc. Institutos, como o Horus, no Paraná, que trabalha na prevenção de espécies invasoras (importante causa de perda de biodiversidade). Figura 1. Projeto Tamar. Fonte:https://noticias.r7.com/bahia/projeto-tamar-comemora-soltura-de-35-milhoes-de-tartarugas-07042018. Causas das enfermidades Mudanças nas condições ambientais podem facilitar o trânsito e a capacidade de adaptação de micro-organismos a novos hospedeiros, e até mesmo o aumento da capacidade patogênica para um antigo hospedeiro, é o caso da SARS, que demonstrou a capacidade de adaptação dos agentes infecciosos a novos hospedeiros, assim como tem ocorrido recentemente com outros coronavírus respiratórios, ou seja, o agente etiológico infecta um novo hospedeiro e se torna adaptado a ele. Isso acontece nos tempos atuais pela quebra de barreiras ambientais naturais, o que proporciona uma maior proximidade entre diferentes hospedeiros, sendo, portanto, um dos fatores predisponentes à adaptação do agente infeccioso a um novo nicho. Nele, segue adaptando-se a novos hospedeiros sucessivamente. Essa sequência de adaptações pode trazer consequências imprevisíveis para os hospedeiros, pois a patogenicidade poderá ser alterada e até agravada (MANGINI; SILVA, 2007). https://noticias.r7.com/bahia/projeto-tamar-comemora-soltura-de-35-milhoes-de-tartarugas-07042018 Dell Realce ca Dell Realce ca Dell Realce ca Dell Realce ca Dell Realce ca 16 UNIDADE I │ ASPECTOS GERAIS Mudanças climáticas globais influenciam a dinâmica de dispersão e reprodução de artrópodes e ou outros vetores, e essa tem sido a principal causa da incidência de doenças infecciosas mediadas por esses invertebrados, a exemplo do El Niño, como fator predisponente da leishmaniose. A expansão de áreas agrícolas/pecuarista afeta habitats selvagens e os deslocam para as áreas urbanas e com isso acidentes e risco zoonótico. A destruição dos habitats é a principal causa da extinção das espécies (DASZAK, 1999). Especificamente em relação à vida silvestre, o animal silvestre retirado do ambiente natural não desempenha o seu papel biológico e, assim, representa uma perda genética, porém devemos lembrar que está em jogo um grande mercado lucrativo e ilegal, pois o tráfico de animais silvestres é a 3° maior atividade ilícita econômica mundial. Figura 2. Tríade de elementos, componentes da saúde ambiental com base conceitual ampliada para implantação da medicina da conservação. Saúde do ecossistema Saúde humana Saúde animal Saúde ecológica Fonte: CUBAS,2007. Papel dos animais silvestres na manutenção de patógenos em um ambiente A pesquisa sobre a contribuição dos animais demonstrou que eles podem atuar como sentinelas na epidemiologia de certas doenças ou infecções. Mediante seu monitoramento, percorre-se a atividade e a circulação de específicos agentes biológicos ameaçadores do meio ambiente, como, por exemplo, os anfíbios. Essas espécies silvestres sentinelas são indicadoras da saúde ambiental. Fornecem informações sobre um determinado ecossistema, o que auxilia a detecção precoce de perturbações ambientais com a possibilidade de intervenção . Dell Realce coloque em itálico Dell Realce coloque em itálico Dell Realce coloque assim 3o 17 ASPECTOS GERAIS │ UNIDADE I Entre alguns exemplos de sentinelas, estão aqueles que exercem a função de hospedeiros de um patógeno transmitido por vetor, mas não desenvolvem a doença crônica, sendo improvável fonte de infecção para novos vetores. É o exemplo da suçuarana (Puma concolor) em relação ao agente (Anaplasma phagocytophilum) transmitido por carrapato e responsável pela anaplasmose granulocítica, considerada uma zoonose (CARO; O’DOHERTY, 1999). Leva-se em consideração que a relação entre os patógenos e as espécies susceptíveis apresenta um caráter dinâmico devido às pressões seletivas. Essas interações entre parasito e hospedeiro podem provocar mudanças no perfil epidemiológico de diversas parasitoses, além daemergência de novas doenças ou de outras consideradas controladas. Um reservatório deve ter as seguintes características: acumular evidências epidemiológicas que associam o potencial reservatório à população-alvo, à evidência da infecção natural na população não alvo (por meio da identificação prévia da infecção por detecção de anticorpos, pelo isolamento do agente infeccioso ou, ainda, pela detecção do seu gene no hospedeiro), somada à transmissão para a população-alvo (por meio de infecção experimental); além da caracterização genética do patógeno em diferentes populações e a delimitação da população-alvo (MANGINI; SILVA, 2006). O papel do médico veterinário na medicina da conservação Os veterinários em complementariedade aos trabalhos biológicos são fundamentais na investigação e no manejo da saúde animal, sendo importantes na manutenção do equilíbrio do ecossistema, principalmente quando há um intercâmbio entre a saúde dos animais domésticos e dos silvestres. As aplicações abrangem a epidemiologia das doenças nas espécies selvagens in-situ e ex- situ; impactos de agentes etiológicos nas populações de animais selvagens; importância do trânsito de doenças entre espécies domésticas e selvagens; impactos de zoonoses e agentes estressantes nas populações animais; doenças prevalentes que afetam as populações animais; saúde pública veterinária e vigilância epidemiológica. Ferramentas de metodologia Estudo de espécies selvagens Esse método é justificado, pois é um balizador a demonstrar alterações significativas ambientais e do ecossistema. Elegem-se espécies nativas como sentinelas, pois possuem Dell Realce coloque na mesma linha 18 UNIDADE I │ ASPECTOS GERAIS uma capacidade de refletir alterações ambientais precocemente e proporcionar maior eficiência no monitoramento ambiental. A espécie sentinela deve ser acessível e monitorada constantemente (TABOR, 2001). Métodos de captura e coleta de material são fundamentais para o estudo de campo. Conta, para isso, com modelos como o sistema de Global Positioning System (GPS) e o Sistema de Informação Geográfica (SIS), que são úteis para levantamento de longo prazo, porém os poucos estudos são de iniciativas particulares de países europeus, ainda com poucos relatos sobre morbidade e mortalidade causadas por doenças tropicais nas espécies silvestres, mesmo sabendo que muitas dessas são reservatórios para importantes zoonoses. Estudo das características ambientais Na determinação do grau de conservação, fatores antrópicos podem influenciar diretamente o perfil sanitário das espécies selvagens. Presença de fragmentos florestais, pecuária, extrativismo, caça, proximidade com núcleos urbanos podem ser determinantes na ecologia das populações e na história da evolução das doenças (MANGINI; VIDOLIN; VELASTIN, 2003). Os métodos clássicos de produção animal também são impactantes, pois poderiam visar, além da produtividade, o uso racional dos recursos e as medidas efetivas de saneamento ambiental, seja pelo destino adequado dos dejetos, assim como pelas carcaças e fetos abortados, por isso a relevância do papel do zootecnista na promoção da saúde ambiental atrelada a produção. Hoje se sabe o potencial desses dejetos na produção de energia (metano) e na produção de compostos por compostagem na produção de adubos: uma solução econômica resolve um problema ambiental! Quadro 1. Fatores que contribuem para a emergência ou reemergência de algumas doenças infecciosas. Fatores predisponentes Doenças infecciosas Comportamento e demografia humana Dengue, DST, giárdia Indústria e tecnologia Infecção nosocomial (hospitalar), síndrome da uremia hemolítica Desenvolvimento econômico e uso da terra Doença de Lyme, malária, raiva, febre amarela, leishmania, esquistossomose, doença de Chagas, filariose , hantavirose Comércio e viagens internacionais Malária, cólera, pneumonia pneumocócica, SARS Não atendimento de medidas de saúde pública Raiva, tuberculose, difteria, coqueluche, cólera, leptospirose Mudanças e adaptação microbial Influenza, AIDS, malária, estafilococose Mudanças climáticas Malária, dengue, cólera, febra amarela, leishmaniose Fonte: (MANGINI; SILVA, 2007). 19 CAPÍTULO 2 Técnicas de estudo de campo Introdução Os estudos da fauna silvestres têm várias finalidades: obter dados biológicos de uma espécie ou população em um determinado local, examinar alterações entre as espécies, monitorar e estudar doenças, determinar mudanças fisiológicas e comportamentais relacionadas às mudanças ambientais, determinar a distribuição de populações e seu padrão de deslocamento e monitorar a qualidade ambiental (PAULA; FERREIRA, 2007). Antes de iniciar ao estudo, é preciso definir a técnica e seu planejamento. Determinar: custos, logística e viabilidade do projeto. Pela dificuldade de captura dos animais e de se obter o conhecimento quantitativo e qualitativo das espécies, trabalha-se com a amostra, na qual a captura e coleta de dados são extrapoladas para a população (desde que seja uma amostra razoável para evitar vícios de análise). Pode-se inferir dados biológicos para produzir recomendações para o manejo dessa espécie. Técnicas Estimativa de densidade populacional Como é raramente possível conhecer o censo de uma determinada espécie, essa técnica visa estimar uma população com base na captura de alguns indivíduos da mesma espécie. Para isso, lança-se mão de levantamentos de amostragem. Os levantamentos podem ser divididos em categorias: contagens que incluem todos os indivíduos amostrados (que pode ser um quadrante) ou contagens incompletas na unidade de amostra em função da impossibilidade de apurar alguns indivíduos (PAULA; FERREIRA, 2007). Umm método simples para estimar a população de vida livre (N) é o de captura- marcação e recaptura, e que pode ser dividida em dois tipos de procedimentos: direta e inversa. Dell Realce coloque na mesma linha 20 Na amostragem direta, toma-se uma primeira amostra aleatória (t) da população, efetua-se a marcação dos animais amostrados e a soltura e, algum tempo depois, em uma segunda amostragem, captura-se uma quantidade predeterminada de animais (n) e observa-se o número de animais marcados (s). Já na amostragem inversa, toma-se uma primeira amostra aleatória (t) da população, efetua-se a marcação dos animais amostrados e a soltura, algum tempo depois, captura-se até atingir um número predeterminado de animais a serem observados (s), independentemente do número total de capturados. O cálculo do tamanho da população é: N = nt/s Essas metodologias têm como pressuposto o fato de que os animais marcados misturar- se-ão de modo homogêneo na população; o processo de marcação não deve alterar a sobrevida dos indivíduos; e a população deve ser fechada – não sofrendo a introdução ou perda de indivíduos entre dois procedimentos de amostragem (PAULA; FERREIRA, 2007). Captura de animais selvagens O método de captura dependerá da pesquisa e da espécie a ser estudada. Em primeiro lugar, deve-se priorizar a integridade física da equipe e dos animais a serem estudados. Sendo a sua captura realizada por métodos humanitários e com o mínimo de dor ou estresse. Para isso, deve-se proceder a protocolos de segurança e de situações inesperadas que possam acontecer durante os procedimentos. Deve-se determinar um número mínimo de animais a ser estudado para não comprometer o estudo, ter validade estatística e poder extrapolar a população. Principais formas de captura Pitfalls São buracos feitos no solo que devem ter o tamanho de acordo com a espécie a ser estudada. Usado para invertebrados e pequenos vertebrados, com 40 a 50 cm de profundidade e 20 a 40 cm de diâmetro. Os animais serão direcionados ao se colocar aparatos que conduzam ao local. Devem ser checadas periodicamente, principalmente para espécies sensíveis que não possam ficam muito tempo sem se alimentar. Dell Realce coloque na mesma linha 21 ASPECTOS GERAIS │ UNIDADEI Figura 3. Pitfall. Fonte: https://www.flickr.com/photos/132045252@N08/19016955010. Armadilhas Sherman e Tomahawk As armadilhas podem ser gaiolas, caixas ou currais confeccionados de diversos materiais (madeira ou ferro) e a depender do tamanho e resistência. As armadilhas Sherman e Tomahawk devem ser colocadas em ambiente de trânsito animal. Essas armadilhas possuem um sistema de gatilho que é disparado quando o animal entra na armadilha ao buscar as iscas que ali estão, ou para algumas espécies, usar odores para atrair o indivíduo. Qualquer das armadilhas deve ser checada periodicamente e camuflada ao ambiente com o mínimo de manipulação possível (melhor com luvas) para evitar a desconfiança do animal e seu afastamento. Figura 4. Armadilhas Tomahawk e Sherman. A B Legenda: A – armadilha Tomahawk; B – armadilha Sherman. Fonte A: http://www.sogorb.com.br/index.php/portfolio/armadilha-para-captura-de-gatos-modelo-tomahawk/. Fonte B: http://zoomamiferos.blogspot.com/2013/05/armadilhas-sherman-e-tomahawk.html. https://www.flickr.com/photos/132045252@N08/19016955010 http://www.sogorb.com.br/index.php/portfolio/armadilha-para-captura-de-gatos-modelo-tomahawk/ http://zoomamiferos.blogspot.com/2013/05/armadilhas-sherman-e-tomahawk.html 22 UNIDADE I │ ASPECTOS GERAIS Currais Os currais são usados para animais maiores como cervídeos, suídeos, grandes roedores, antas, entre outros. O tamanho e a altura devem ser compatíveis com a espécie. O espaço não pode permitir muita movimentação, e a altura não pode permitir o animal transpassar. No local, realiza-se uma ceva (ambiente familiar para o animal e que ajude a aproximá- lo). Depois de um tempo de habituação, constrói-se um curral com uma porta automática manualmente. Figura 5. Ceva com curral para capivaras. Fonte: https://bragancaempauta.com.br/capivaras-sao-removidas-do-lago-do-taboao-e-portal-de-braganca/ Outro método é a captura por redes com tamanhos e calibres diferentes. Redes de neblina, muito finas, são usadas para morcegos e aves. São checadas a cada 10 minutos. Outras mais grossas e resistentes são usadas para ungulados e cervídeos. As redes devem ser colocadas em um ponto, e os animais devem ser conduzidos e ali capturados. As net guns são redes disparadas por armas adaptadas. Obs: Evitar a perseguição excessiva, pois alguns animais sofrem a miopatia de captura, exemplo clássico é o cervídeo que, ao ser submetido ao estresse agudo, pode vir a óbito! Laços fixados no solo podem ser úteis para aves, mamíferos e répteis. Esses laços são presos aos membros. A desvantagem desse método é a pouca área de abrangência e a possibilidade de causar traumas ou estresse nos animais, principalmente se ele ficar muito tempo preso, por isso deve-se fazer constante monitoramento. https://bragancaempauta.com.br/capivaras-sao-removidas-do-lago-do-taboao-e-portal-de-braganca/ Dell Realce coloque na mesma linha 23 ASPECTOS GERAIS │ UNIDADE I Figura 6: A. net gun; B: disparo da rede. A B Fontes A: https://www.animal-care.com/product/coda-all-purpose-net-gun/. Fonte B: https://www.wpr.org/emergency-responders-simulate-massive-oil-spill-mississippi. Por experiência, depois de o animal “cair em alguma das armadilhas”, proceder à contenção física ou química propriamente dita. Para casos em que o animal esteja muito estressado ou seja perigoso, ou mesmo para procedimentos longos, sugere-se a contenção química, que pode ser uma sedação ou uma anestesia mais profunda a depender do caso. Ter sempre à mão os antagonistas reversores quando existentes. Identificação dos animais Após a captura e contenção, procede-se à marcação do animal para posteriormente identificá-lo a distância ou em uma recaptura. As marcas podem ser permanentes ou temporárias. Entre as primeiras, temos: cicatrizes dérmicas causadas por metal quente ou congelamento; tatuagens, alterações cirúrgicas, (ex.: picotes na orelha, amputações). Essas são técnicas que permitem que o animal seja identificado a distância. A técnica do transponder (microship) é uma das mais usadas, permanente e pouco traumática, porém não permite identificar a distância e sim com um leitor de microschip em contato ao animal. As marcações semipermanentes são: colares, brincos e anilhas confeccionadas em metal ou plástico. São usadas para estudos a longo prazo. Já as marcações temporárias duram pouco tempo e incluem produtos químicos, como tintas que vão desaparecendo com o tempo (PAULA; FERREIRA, 2007). Radiotelemetria Essa técnica permite ao pesquisador localizar e acompanhar o animal a distância, monitorar sinais vitais e fisiológicos, assim como os padrões de atividade e deambulação. Técnica usada em canídeos e felídeos, quelônios e aves. O sistema consiste em um computador para visualização dos resultados, um módulo de radiofrequência e um GPS. O transmissor acoplável ao animal estudado (colar) emite sinais de rádio captados por um receptor por meio de uma antena se possível. https://www.animal-care.com/product/coda-all-purpose-net-gun/ https://www.wpr.org/emergency-responders-simulate-massive-oil-spill-mississippi Dell Realce sem itálico Dell Realce ca Dell Realce ca 24 UNIDADE I │ ASPECTOS GERAIS As técnicas de radiotelemetria buscam, em geral, elucidar padrões de movimentação, territorialidade e utilização de recursos, bem como avaliar parâmetros demográficos, tais como: densidade, sobrevivência e dispersão de uma determinada espécie, além de parâmetros fisiológicos: frequência cardíaca e temperatura retal. O sistema GPS é empregado para espécies que utilizam grandes áreas, como a jaguatirica (Leopardus pardalis), a onça-pintada (Panthera onca), mas o relevo e a vegetação podem interferir no sinal via satélite (JACOB, 2003). Algumas das desvantagens são: equipamento caro, a bateria deve ser trocada periodicamente, por isso o animal deve ser recapturado, pode haver corrosão da bateria e afetar o animal. Figura 7. Colar radiotelemétrico em onça-pintada, antena e colar. Fonte: https://www.acritica.com/channels/governo/news/instituto-mamiraua-monitora-onca-pintada-em-gestacao-na- amazonia Quadro 2. Tipo e locais recomendados para cada classe animal. Tipo Principais classes Local de marcação Transponder Mamíferos Região dorsal cervical subcutâneo Aves Musculatura peitoral, musculatura da coxa Répteis Região umeral em quelônios Porção dorsal da base da cauda em serpentes e lacertílios Anfíbios Cavidade celomática Peixes Base direita ou esquerda da nadadeira dorsal tatuagem Mamíferos, alguns répteis e anfíbios Orelhas, parte interna da coxa Marcas dérmicas Mamíferos Diversos locais Picotes Mamíferos Pavilhão auditivo Répteis Escamas marginais da carapaça, em quelônios Escamas dorsais da cauda, em crocodilianos Brincos Mamíferos aves, répteis e anfíbios Orelhas, patas, asa em aves e morcegos Colares Mamíferos Pescoço Anilhas Aves e morcegos Patas ou asas Pinturas Mamíferos aves, répteis e anfíbios Locais de fácil localização Fonte: Adaptado de Paula e Ferreira (2007). https://www.acritica.com/channels/governo/news/instituto-mamiraua-monitora-onca-pintada-em-gestacao-na-amazonia https://www.acritica.com/channels/governo/news/instituto-mamiraua-monitora-onca-pintada-em-gestacao-na-amazonia Dell Realce sem itálico Dell Realce sem itálico 25 CAPÍTULO 3 Mudanças climáticas Introdução O principal fator de mudança climática global é de origem antrópica, pela emissão de gases de efeito estufa por gases de metano e CO2 que também promovem mudanças nos ecossistemas e, consequentemente, perda da diversidade biológica. Os países tropicais, os maiores detentores de cobertura natural de floresta, são os mais afetados. As consequências não se limitam somente a questões ambientais, mas também aos deslocamentos de agentes parasitários e infecciosos. Especificamente em relação às doenças infecciosas de caráter zoonótico, há a existência de quatro mecanismos pelos quais a mudança climáticapoderá influenciar a ocorrência desses processos infecciosos: efeitos sobre a distribuição geográfica; A densidade de população; A prevalência das infecções e a carga patogênica em hospedeiros e vetores (MILLS, 2010). Esses impactos poderão ocorrer sobre vetores e reservatórios silvestres das infecções por conta das interações ecológicas complexas. O IPCC, painel intergovernamental sobre mudanças climáticas, é o fórum privilegiado para a análise periódica do sistema climático global e suas anomalias, bem como os impactos decorrentes e a vulnerabilidade dos sistemas naturais e sociais. Verificou-se que aproximadamente 20 a 30% das espécies de plantas e animais estarão em alto risco de extinção se a temperatura média global exceder em 2 a 3°C em relação aos níveis pré-industriais. Do mesmo modo, o aumento médio de temperatura de 2 a 3°C causaria mudanças substanciais na estrutura e funcionamento dos ecossistemas terrestres e marinhos. São considerados como mais vulneráveis os seguintes ecossistemas: Recifes de corais; Geleiras; Ecossistemas de altas latitudes (p. ex., florestas boreais) ; Ecossistemas de montanha e os de clima mediterrâneo (FISCHLIN, 2008). Mudanças nos ecossistemas O ecossistema é definido como complexo dinâmico de plantas, animais e micro- organismos associado ao ambiente físico que interage como uma unidade funcional. Com o grau de interferência humana, ele pode ser classificado em: Dell Realce coloque na mesma linha 26 UNIDADE I │ ASPECTOS GERAIS » Ecossistemas naturais: interferência humana desprezível, sendo que sua estrutura e funcionamento estão preservados. » Sistemas cultivados: dominados por espécies cultivadas, em que pelo menos 30 % da paisagem é modificada para cultivo de culturas. » Sistemas construídos: são os ambientes urbano e suburbano com alta densidade populacional (CONFALONIERI, 2014). Os serviços ambientais (ou ecossistêmicos) são uma das partes estudadas pela economia ambiental e, entre alguns dos benefícios trazidos, listam-se: regulação climática, manutenção do ciclo hidrológico com disponibilidade de água doce, ar isento de impurezas, solo fértil e diversos produtos naturais essenciais à sobrevivência humana e animal. Como também a manutenção de um equilíbrio epidemiológico, pois ecossistemas intactos equilibrados impedem a invasão de outra espécie envolvida no ciclo de transmissão dos patógenos, de acordo com estudos realizados por alguns autores como “efeito diluição” (BEGON, 2008). Várias doenças infecciosas endêmicas no Brasil e que afetam a população humana são zoonoses com focos naturais. As mais importantes são a doença de Chagas; As leishmanioses visceral e tegumentar; A síndrome da hantavirose pulmonar; A febre amarela e várias outras arboviroses presentes principalmente nos ecossistemas amazônicos. Todas usam mamíferos e aves silvestres como hospedeiros naturais. Há muitos exemplos de modificações em ecossistemas naturais, especialmente aquelas decorrentes de desmatamento, afetando a dinâmica de processos infecciosos com focos naturais em todo o mundo. Na América do Sul, há surtos de leishmaniose tegumentar, cuja ocorrência foi facilitada pela abertura de estradas e ferrovias, sendo que este fenômeno já era reconhecido há um século; E infecções humanas causadas por diferentes tipos de arenavírus, que provocam febres hemorrágicas (BRUMPT, 1913). A hantavirose é um caso emblemático que afetou os norte-americanos. Depois, houve casos no Brasil. No ser humano, a infecção ocorre por inalação de partículas virais presentes em aerossóis eliminados dos roedores que são reservatórios. Os eventos da transmissão são: seca prolongada, redução da população de roedores, migração de carnívoros. Chuvas intensas que regeneraram o ecossistema e permitem crescimento rápido da população de roedores e lento dos carnívoros, favorecendo uma explosão de roedores. Os problemas recaem com maior intensidade em países da América do Sul, principalmente para regiões tropicais, pois, embora haja maior biodiversidade, há Dell Realce tire o ; coloque o . 27 ASPECTOS GERAIS │ UNIDADE I também grandes lacunas de conhecimento no campo da flora e fauna. Um estudo apontou que dos 335 episódios mundiais de surgimento de patógenos humanos, entre 1940 e 2004, 60,3% eram de caráter zoonótico e, entre estes, 71,8% se originaram da fauna silvestre (JONES, 2008). Além do que, o risco de surgimento de novos processos infecciosos por efeito de modificações ecossistêmicas é maior nos trópicos por sua grande riqueza biológica, pela maior exposição da população humana e por deficiências nos sistemas de vigilância epidemiológica. Figura 8. Bolomys lasiurus – transmissor do hantavírus. Fonte: https://www.infoescola.com/wp-content/uploads/2010/02/rato.jpg. https://www.infoescola.com/wp-content/uploads/2010/02/rato.jpg 28 UNIDADE IIIMPACTOS À FAUNA CAPÍTULO 1 Emergências ambientais Introdução Emergência ambiental é uma ameaça súbita à saúde pública e à integridade do meio ambiente, com risco de perdas humanas e graves danos ambientais, além de grandes perdas econômicas. Isso demanda medidas imediatas para minimizar suas consequências adversas. As emergências podem ser resultantes de eventos naturais ou induzidos pelo homem e podem ser classificadas como: » Desastres naturais: inundações, secas, ciclones e furacões, terremotos, deslizamentos de terra, avalanches, incêndios florestais, tsunamis e erupções vulcânicas. » Desastres provocados pelo homem: explosões, vazamentos de gás, incêndios estruturais, envenenamento, acidentes com radiação e derramamentos de produtos químicos. Esse tipo de situação tem sido cada vez mais frequente devido à mudança climática, por isso as catástrofes naturais ocorrem com maior frequência, sendo os desastres relacionados à agua os mais abundantes. Esses desastres representaram 56,1% da ocorrência total e juntamente com os desastres meteorológicos, o segundo mais frequente, foram responsáveis por 79% da ocorrência total de desastres no mundo (GUHASAPIR, 2010). A Ásia é o continente mais afetado, seguido pelas Américas, os quais tiveram a maior parte dos prejuízos econômicos globais (45,9%), e a maioria desses foi causada pelos terremotos no Chile e no Haiti. Acidentes tecnológicos como os incêndios industriais 29 IMPACTOS À FAUNA │ UNIDADE II e vazamentos químicos na Europa também contribuíram para produzir vítimas e prejuízos econômicos (Centre for Research on the Epidemiology of Disasters – CRED). Quadro 3. Desastres naturais, de acordo com o Centro de Pesquisa em Epidemiologia de Desastres (CRED) Geofísicos Hidrológicos Biológicos Meteorológicos Climatológicos terremotos Inundações, aluviões Epidemias: virais e bacterianas Tempestades: ciclones Temperaturas extremas Erupções vulcânicas Ressacas e inundações costeiras Fúngicas, parasitárias, príons Tropicais e extratropicais Secas Deslizamentos de massas Deslizamentos de massas Insetos Incêndios florestais Secos: rochas, terra, avalanche (Molhados) rochas, terra Sedimentação Sedimentação e avalanches Fonte: CUBAS, 2014 (CRED). Medicina veterinária em desastres e no impacto à fauna No Brasil, o planejamento obrigatório ainda é um conceito novo e está voltado principalmente às emergências com derramamentos de petróleo e seus derivados, por meio da Resolução Conama nº 398, de 11 de junho de 2008. Nessa resolução, está registrado que o empreendedor que realiza atividades relacionadas com exploração, transporte e estocagem de hidrocarbonetos deve elaborar um plano de emergência específico para o empreendimento e, com relação à fauna, esse plano deve incluir: diagnóstico da fauna regional, descrição da forma de impacto, detalhamento das medidas de proteção da fauna, detalhamento dos procedimentos a serem adotados para socorro e proteção dos indivíduos afetados (RUOPPOLO; ROBINSON, 2014). Na esfera federal do IBAMA, o Centro de Gerenciamento de Emergências Ambientais (CGEMA)atua apoiando estados e municípios em casos que comprometam a integridade ambiental. Também, no IBAMA, setores como o Centro e Triagem de Animais Silvestres (CETAS) e o Centro de Reabilitação de Animais Silvestres (CRAS) contam com a atuação de médicos veterinários. O primeiro, para triar e destinar os animais (oriundos de resgate, apreensão ilegal ou doação voluntária) para cativeiro, por alguma deformidade que impossibilite a soltura, e, caso não haja restrições, o animal poderá ser solto em áreas de ocorrência da espécie. O CRAS tem uma atuação mais técnica no atendimento veterinário em animais resgatados que necessitam de intervenção médica. Dell Realce tire o traço coloque entre parênteses 30 UNIDADE II │ IMPACTOS À FAUNA Alguns órgãos públicos possuem setores específicos para isso devido ao impacto que eles proporcionam. É o caso da Companhia Ambiental de São Paulo (CETESB), responsável pelo controle, fiscalização, monitoramento e licenciamento de atividades geradoras de sujeira com a preocupação fundamental de preservar e recuperar a qualidade das águas, do ar e do solo. Possui um setor de atendimento a emergências dedicado exclusivamente às emergências químicas. Médicos veterinários têm desempenhado um papel cada vez mais importante no resgate e na reabilitação de animais durante contingências, criando uma nova disciplina: a medicina veterinária em desastres (WINGFIELD, 2009). Derramamento de petróleo Derramamento de óleo é um constante problema que aflige o Brasil e outros países produtores de petróleo. Algumas universidades federais gaúchas, como a de Rio Grande, atuam no atendimento a esses animais atingidos, como as tartarugas marinhas, pinguins de Magalhães, mamíferos marinhos e outros. A contaminação crônica por meio da descarga ilegal de petróleo e produtos derivados, da lavagem de tanques de embarcações cargueiras ou ainda do descarte deliberado de conteúdo contaminado, é o maior de todos os problemas da contaminação ambiental por hidrocarbonetos. Essa contaminação leva vários milhares de pinguins à morte anualmente em todo o mundo e ocorre de modo muito mais insidioso e perigoso que os derramamentos catastróficos (FUNDACIÓN PATAGONIA NATURAL, 2008). O óleo afeta as aves em geral por dois mecanismos: a perda de impermeabilidade e a intoxicação. O óleo interfere na organização das barbas e bárbulas, criando uma desorganização que prejudica a impermeabilidade. Mesmo que a mancha de óleo afete apenas uma pequena região do corpo, a água se infiltrará rapidamente entre a pele e as penas por todo o corpo. O contato da pele com a água causa grande desconforto e frio, de modo que o animal ficará incomodado e não conseguirá nadar adequadamente, deixando de alimentar-se. Por consequência, o animal entrará em um quadro de debilitação geral (CRANFIELD, 2003). Secundariamente, durante seus esforços desesperados de remover o óleo com o bico, devido ao desconforto por sentirem-se molhadas, as aves podem inalar e/ou ingerir óleo e sofrer intoxicações. O óleo causa edema e hemorragias pulmonares, anemia hemolítica, além de irritação, inflamação do trato gastrintestinal e hemorragias intestinais, sendo que essas intercorrências pioram o quadro anêmico e a dispneia. A ingestão do óleo, mesmo em pequenas quantidades, pode interferir na produção e 31 IMPACTOS À FAUNA │ UNIDADE II secreção de uma variedade de glândulas endócrinas, incluindo, hormônios hipofisários, gonadais e adrenocorticais. A técnica consiste em estabilizar o animal: a manutenção da temperatura corporal, a hidratação e alimentação, a ambientação e o manejo adequado para cada espécie. É realizado acompanhamento rotineiro do estado de saúde dos animais, por meio de exames clínicos que avaliam a evolução da recuperação de cada exemplar em tratamento. Na resposta aos derramamentos de petróleo, é necessário registrar o grau de petrolização do indivíduo, colher amostras de penas e fazer o registro fotográfico do animal afetado, já que cada animal faz parte da coleção de evidências do impacto ambiental do evento, e as correspondentes informações poderão ser utilizadas em ações judiciais. A limpeza para remoção do óleo do corpo conta com a lavagem, o enxágue e a secagem dos animais. Animais que dependem da pelagem ou plumagem para a manutenção da temperatura corpórea sofrem de hipotermia quando contaminadas por hidrocarbonetos e seus derivados, portanto o aquecimento é fundamental (CANABARRO, 2014). A limpeza é realizada basicamente de forma manual, com animal emerso em solução de detergente e água em temperatura ideal para cada espécie. Após, os animais são mantidos em ambientes aquecidos com secadores. Os animais devem ser hidratados com 120 mℓ de água mineral ou soro fisiológico por via oral e tratado com complexo B por via intramuscular. Caso o animal tenha ingerido carvão ativado (3,7 g/kg VO, 24 h): o subsalicilato de bismuto (2 mℓ/kg VO, 12 h) é um protetor de mucosa que pode ajudar a reduzir hemorragias intestinais (FILHO; RUOPPOLO, 2014). Antes da liberação, os animais passam por uma avaliação para escolha daqueles aptos a serem liberados. Aqueles que apresentarem boa condição corporal, valores sanguíneos normais e corpo impermeável, poderão ser reintroduzidos ao ambiente natural. Todos os animais, antes de serem liberados, recebem marcação definitiva, adequada para a espécie. A escolha do local de soltura é tomada em conjunto com o órgão governamental (CANABARRO, 2014). 32 UNIDADE II │ IMPACTOS À FAUNA Figura 9. Retirada de óleo com solução detergente no Centro de Recuperação de Animais Marinhos (CRAM/ RS). Fonte:https://portosmercados.com.br/wp-content/uploads/2011/07/pinguim1.png Figura 10. A. Técnica apropriada para a administração segura de líquidos e alimentação pastosa por sondagem gástrica. B. Observar a localização da glote para a colocação correta da sonda gástrica. Centro de Recuperação de Animais Marinhos da Fundação Universidade Federal do Rio Grande [CRAMFURG] Fonte: https://io.furg.br/unidades-e-centros-associados/cram. Inalação de fumaça e queimaduras Comum em incêndios florestais, a fumaça costuma ser o causador de óbito por falência respiratória, pela afinidade que as hemácias possuem com CO2 e CO, e, consequentemente, anóxia por não condução de oxigênio às células. Pode afetar um grande grupo de vertebrados, sendo que o tratamento é o mesmo para qualquer animal. Manter o protocolo ABC: (A) via aérea patente, (B) estabelecimento de boa ventilação, (C) suporte circulatório. Pacientes comatosos devem ser entubados https://portosmercados.com.br/wp-content/uploads/2011/07/pinguim1.png https://io.furg.br/unidades-e-centros-associados/cram 33 IMPACTOS À FAUNA │ UNIDADE II Com oxigenação. Uso de oxigênio a 100% em máscara também deve ser feito. Quanto às queimaduras térmicas associadas aos incêndios florestais, as perdas de líquidos podem levar a choque hipovolêmico, como também a alterações hematológicas por hemoconcentração e alterações cardiovasculares e respiratórias por lesão da mucosa, além de edema: bronquial, laríngeo e faríngeo. A vasoconstrição pode induzir à insuficiência renal aguda caso haja choque por perda de líquido. A terapia inicial consiste no controle da dor e com aplicação de frio nas regiões queimadas: compressas frias, toalhas molhadas. Uso de oximorfona ou associada à acetilpromazina. Fluidoterapia com cristaloides e cloreto de potássio, a depender das perdas. Assim como proteínas plasmáticas, débito urinário; eletrólitos devem ser monitorados. Curativo com solução antisséptica à base de clorexidine, remoção de tecidos necróticos e bandagens se for necessário. Uso de cremes antibióticos e de aloe vera tem sido efetivo (TELLO, 2012). Animais em emergências ambientais Em situação de desastre, há de se atender aos animais, e para cada grupo um determinado procedimento. Animais domésticos: considerar a organização prévia de albergues para os animais de companhia,para que, no momento da necessidade de evacuação de pessoas, haja um local seguro para suas mascotes, até sua retirada depois da emergência. Esses albergues também podem ser utilizados para recepção e manejo sanitário de animais de rua e abandonados, para programas massivos de imunoprofilaxia, desverminação e esterilização com vistas à posterior adoção. Por outro lado, é importante ter em mente que, em algumas situações, a eutanásia pode ser o procedimento indicado. Para animais selvagens em cativeiro (ex situ): considerar medidas para a proteção das instalações, evitando a fuga de animais, proteção do alimento dos animais em casos de inundações, estocagem de equipamentos dedicados a emergências, iluminação de emergência, planos de evacuação com rotas e destinação tanto para os animais quanto para o público, opções para o transporte de animais de grande porte e treinamento de funcionários para a contenção dos animais; e locais adequados para a disposição de cadáveres nos casos de mortalidade em massa ou de animais de grande porte (RUOPPOLO; ROBINSON, 2014). 34 UNIDADE II │ IMPACTOS À FAUNA Obs: Para a realidade brasileira, como não existem os albergues previamente construídos ou legislação que contemplem uma situação de proteção animal em casos de catástrofes, os esforços devem ser movidos por aqueles que possuem a expertise e que participam de atendimento à fauna, como: universidades, zoológicos e centros de triagem de animais silvestres. Como exemplo desse processo, desastres recentes ocorridos nos EUA, como o furacão Katrina (2005), forçaram a comunidade de zoológicos a se organizar de maneira significativa, levando à criação do grupo de trabalho de boas práticas em zoológicos para o planejamento e preparação para desastres e contingências (ZBPWG). Figura 11: Os incêndios florestais e a perda de habitat são grandes ameaças aos orangotangos (Pongo pygmaeus) na Indonésia. B. Durante os incêndios em Bornéu, em 2006, diversos orangotangos foram resgatados e tratados pela Borneo Orangutan Survival Foundation (BOS) com o apoio do IFAW. Fonte: CUBAS, 2014 (IFAW/W. Baktiantoro). Recepção e atendimento dos animais A captura e o acondicionamento devem priorizar, em primeiro lugar, a segurança da equipe e depois a do animal. Caixas de transporte devem ser ventiladas, principalmente para animais vítimas de incêndios. Levar em consideração o fator hipertermia e hipotermia. Portanto ter como suporte: fluido, aquecedores, bolsa e colchões térmicos, máscara e cilindro de oxigênio (dependendo do animal e do seu tamanho, deve ser colocado em uma caixa para inalação). Na chegada dos animais, documentar cada um e proceder à avaliação veterinária, ao exame clínico rápido, porém detalhado, incluindo o registro do peso e a colheita de amostra sanguínea. Focar na estabilização dos parâmetros vitais (ventilação, circulação, temperatura corpórea, hidratação), verificar se houve traumatismos e queimaduras oculares e cutâneas e proceder às medidas terapêuticas para a mitigação da dor (muito acentuada em casos de queimaduras). 35 IMPACTOS À FAUNA │ UNIDADE II Em situações de grande desastre, animais mortos devem ser recolhidos para evitar a contaminação, principalmente quando estiverem próximos a corpos de água (RUOPPOLO; ROBINSON, 2014). Figura 12. Pinguins africanos sendo evacuados da Ilha de Dassen, antes que se contaminassem com o petróleo derramado do navio. Fonte: CUBAS, 2014 (IFAW/J. Hrusa). Em algumas circunstâncias, o veterinário deverá decidir por realizar o manejo sanitário populacional e, nesse caso, o objetivo é antecipar e prevenir problemas de saúde, em vez de diagnosticar e tratá-los, minimizando as chances de surtos de doenças. Este é o conceito central da medicina preventiva. O foco deverá ser direcionado à saúde e ao bem-estar do grande grupo, em vez de direcionar esforços e recursos a poucos animais, pois o tempo e os recursos disponíveis são cruciais no processo decisório, e as consequências podem ser uma grande epidemia, por exemplo, em caso de infecções. As etapas do atendimento veterinário são, segundo Walraven (2004): » Fluidoterapia. » Alimentação de qualidade (tipo, frequência e quantidade) e devida suplementação. » Ambientação, controle da temperatura ambiente e ventilação. » Higiene. » Profilaxia contra doenças infecciosas (p. ex., vacinação em massa e tratamento profilático da aspergilose em aves aquáticas sensíveis). » Exames físicos regulares. 36 UNIDADE II │ IMPACTOS À FAUNA » Triagem. » Eutanásia, quando pertinente. » Documentação do processo. Lembrar que nas aves a tríade hipotermia, hipoglicemia e desidratação é muito comum em eventos catastróficos, principalmente por traumas e queimaduras. No que tange a grandes grupos, a triagem deve ser feita logo na recepção, como em qualquer situação de emergência, seleciona-se a prioridade: atender animais com risco de morte, assim como separar aqueles que possam estar apresentando sinais de possíveis processos infecciosos, o qual deve ser logo isolado. A eutanásia também pode acontecer nesse processo. A triagem não pode demandar muito tempo, deixando para um segundo veterinário o atendimento clínico mais minucioso (WINGFIELD, 2009). Para alta médica, deve-se presenciar a estabilização do animal, parâmetros de sangue normais, escore corporal bom e, em casos de derramamento de óleo, observar os seguintes critérios: penas impermeáveis depois do devido teste realizado, segundo a espécie em questão; ausência de feridas e outros problemas que afetem a impermeabilização de suas penas. Animais liberados para natureza: usar marcação permanente, seja brinco, anilha, microship ou outro, a depender da espécie. Dell Nota dê um pouco mais de espaço 37 CAPÍTULO 2 Ações de redução de impacto Introdução O aumento das ameaças à biodiversidade destaca-se pelo prejuízo na conservação das espécies. Essa tendência crescente é decorrente de pressões antrópicas ligadas às atividades socioeconômicas como agropecuária, urbanização, ampliação da malha viária, geração de energia e mineração. O Plano de Redução de Impactos (PRIM) é um instrumento criado pelo Instituto Chico Mendes (ICMBio) do MMA, que propõe um planejamento conjunto e participativo contrapondo a conservação da biodiversidade e os usos antrópicos do território nacional, em específico os relacionados à biodiversidade. Ele direciona as atividades antrópicas específicas com relevantes impactos sobre espécies ameaçadas e outros alvos de conservação da biodiversidade brasileira (geração de energia, rodovias, ferrovias, atividade agropecuária etc.). O plano visa compatibilizar os usos e a conservação da biodiversidade e dos recursos naturais, trabalhando com vários atores governamentais, universidades, entidades do terceiro setor e outros. A partir dos resultados, produz relatórios das áreas sensíveis, recomendações, medidas mitigadoras e o monitoramento, se as condições estão sendo atendidas. Estão entre os empreendimentos mais impactantes: estruturas viárias terrestres, as hidrelétricas na região amazônica, a mineração e a exploração de petróleo e gás em ambiente marinho. Alguns exemplos de relatórios são: » Relatório Anual de Áreas de Concentração de Aves Migratórias no Brasil. » Relatório de Áreas Sensíveis de Espécies Ameaçadas de Extinção Relacionadas a Aeroportos. Segundo o PRIM, do ICMBio, pode- se compatibilizar a conservação da biodiversidade brasileira com o desenvolvimento socioeconômico. Esse estágio só se alcança quando as estratégias de ordenamento e planejamento territorial incorporam informações sobre a sensibilidade da biodiversidade e as atividades socioeconômicas. 38 UNIDADE II │ IMPACTOS À FAUNA Figura 13. Unidades de conservação brasileiras. Unidades de conservação Áreas públicas sob proteção Fonte: https://www.ecodebate.com.br/2014/06/04/mpf-lanca-estrategia-nacional-para-defesa- das-unidades-de-conservacao/ Adaptadopelo autor. Áreas protegidas: Pantanal 5%, pampa 3 %, Mata Atlântica 9%, cerrado 8%, caatinga 7%, Amazônia 25%. Quanto maior a compatibilidade de uma área (conservação x desenvolvimento socioeconômico), menor o custo ambiental de se investir em atividades socioeconômicas, menor a complexidade do licenciamento ambiental e menor o esforço necessário para atenuar a perda da biodiversidade. A redução dos impactos é alcançada quando áreas de menor compatibilidade são evitadas. Quando isso não for possível, usam-se as medidas mitigadoras. As unidades de conservação são uma das principais estratégias territoriais para a conservação da biodiversidade. Considera-se que nelas a influência humana é limitada e, por consequência, as chances de sobrevivência das espécies são maiores se comparadas aos territórios sem restrições de uso. https://www.ecodebate.com.br/2014/06/04/mpf-lanca-estrategia-nacional-para-defesa-das-unidades-de-conservacao/ https://www.ecodebate.com.br/2014/06/04/mpf-lanca-estrategia-nacional-para-defesa-das-unidades-de-conservacao/ Dell Realce ca Dell Realce ca Dell Realce ca Dell Nota dê um pouco mais de espaço 39 IMPACTOS À FAUNA │ UNIDADE II Quadro 4. Planos de redução de impactos em andamento (ICMBio). PRIM PRIM-IVT¹ PRIM-HA² PRIM-PGMAR³ PRIM-Mineração 4 Domínio Terrestre e aquático Terrestre e aquático Marinho e costeiro Terrestre e aquático Área de abrangência Brasil Região amazônica presente em: Brasil, Bolívia, Colômbia, Equador, Guiana, Guiana Francesa, Peru e Venezuela Zona econômica exclusiva e costeira brasileira (acrescida da plataforma continental). Brasil Recorte espacial para hierquização Biomas Pan-Amazônia Ecorregiões marinhas Biomas Unidades de planejamento Ottobacias nível 6 e UC Bacias hidrográficas** BL5 e UC Agrupamentos espaciais baseados em similaridades bioclimáticas e na proximidade Ottobacias nível 6 e UC Resolução espacial 1 km2 5 km2 10 km2 1 km2 Ameaça Infraestruturas viárias terrestres (rodovias e ferrovias). Empreendimentos hidrelétricos (UHE, PCH, CGH) Atividade de exploração e produção de petróleo e gás (estruturas associadas: portos e dutos) Mineração Impactos a serem reduzidos Perda de habitat, degradação de habitat; fragmentação da paisagem; morte por colisão com veículos Perda de habitat; degradação ambiental, fragmentação linear (perda de conectividade dos cursos d’agua) Perda de habitat, degradação de habitats, morte por colisão com embarcações Perda de habitat, degradação de habitat, fragmentação da paisagem Alvos de conservação Espécies da fauna, flora e habitats específicos Espécies da fauna, flora, habitats específicos e serviços ecossistêmicos Espécies da fauna, flora, habitats específicos e serviços ecossistêmicos Espécies da fauna, flora, cavernas, habitats específicos e serviços ecossistêmicos Etapa de execução 95% 55% 20% 5% Previsão de publicação 2º Semestre de 2018 2º Semestre de 2019 2º Semestre de 2019 2º Semestre de 2020 Legendas: ¹Plano de Redução de Impactos de Infraestruturas Viárias Terrestres à Biodiversidade; ²Plano de Redução de Impactos de Hidrelétricas da Amazônia à Biodiversidade; ³Plano de Redução de Impactos de Exploração de Petróleo e Gás à Biodiversidade Marinha e Costeira; 4Plano de Redução de Impactos da Mineração à Biodiversidade. Fonte: PRIM, 2018 https://www.icmbio.gov.br/portal/faunabrasileira/planos-de-reducao-de-impacto. https://www.icmbio.gov.br/portal/faunabrasileira/planos-de-reducao-de-impacto Dell Realce coloque em itálico Dell Realce coloque em itálico Dell Realce coloque em itálico Dell Realce coloque em itálico Dell Realce coloque em itálico Dell Realce coloque em itálico Dell Realce coloque em itálico Dell Realce coloque em itálico Dell Realce coloque em itálico Dell Nota coloque assim 2o 40 UNIDADE IIIAÇÕES PARA A FAUNA CAPÍTULO 1 Ações para a fauna amazônica Introdução O ambiente amazônico é o mais rico bioma do planeta, ocupa 50 % do território brasileiro e 1/3 das florestas úmidas do mundo e com isso uma riqueza imensurável de biodiversidade de fauna e flora, em que muitas espécies ainda não foram estudadas. Além de ser um dos principais reguladores climáticos local e mundialmente, mantém as temperaturas amenas e um fluxo de chuvas regulares não só no bioma amazônico como em todo o resto do Brasil. A bacia amazônica compreende o maior rio do mundo e produz 1/5 da disponibilidade de água doce no mundo (IBGE). Por muito tempo, tem sido negligenciada, visto ser a última fronteira de ocupação pelos governos, e mesmo a população se manteve em grandes concentrações até 100 km do litoral. Ainda hoje, a região amazônica possui baixa densidade populacional humana, e o poder não se mostra presente para defender esse bioma. As políticas de ocupação ainda são pouco atrativas e abre espaço para grilagem de terras, desmatamento e queimadas para criação de gado e agricultura de monocultura. Outra atividade extremamente predatória é a mineração, que libera nos rios grandes quantidade de mercúrio para beneficiamento do ouro. Não é só contaminação por esse mineral bioacumulativo, mas o efeito erosivo de grandes faixas de terra. Se somarmos a baixa fiscalização ambiental, pois muitas vezes seus agentes sofrem ataques e ameaças de morte de criminosos silenciosos que procuram manter suas atividades ilícitas e lucrativas, à perda de habitat, tanto da fauna como da flora, percebemos que os desafios são grandes em executar um plano de manejo viável no qual as políticas públicas contemplem os habitantes indígenas, nativos e ribeirinhos, na gestão da floresta e a fiscalização com poderes de polícia. 41 AÇÕES PARA A FAUNA │ UNIDADE III Ainda mencionando as populações das diversas aldeias indígenas, há de se considerar nesse processo de destruição florestal as perdas humanas por conflitos com invasores mal intencionados, assim como um processo de destruição cultural e contaminação por patógenos que não estão presentes no meio indígena. Outros problemas que a floresta enfrenta são os megaprojetos hidrelétricos e as grandes monoculturas de soja. O primeiro causando um grande deslocamento e morte de fauna e flora, e o segundo, produzindo com o tempo, esgotamento de solo pela intensa produção exigida pelo cultivo que tem grande apreço para exportação. Em todas essas atividades em conjunto, produzem perda de habitat, que é a principal causa de perda de biodiversidade de qualquer espécie animal ou vegetal. Para completar o caos ambiental, com a entrada maciça do homem, há a introdução de espécies exóticas (considerada a 2ª causa de perda de biodiversidade) que competem com os silvestres e compartilham suas doenças. A caça, de cunho cultural, é comum e visa abater os predadores indesejados em fazendas, além de ser usada como mero esporte. Figura 14. Mineração em terras indígenas. Fonte: https://www.acritica.com/opinions/mineracao-em-terras-indigenas. Tentar falar em conservação da floresta é utópico se esses problemas não são levados em consideração. A solução não somente deve passar pela conscientização, mas por um rigoroso processo fiscalizatório e punitivo para os infratores. É uma equação complicada, pois há envolvimento político e de grupos poderosos que não querem mudar o seu status quo e, assim, permitir a conservação florestal. https://www.acritica.com/opinions/mineracao-em-terras-indigenas Dell Realce coloque em itálico 42 UNIDADE III │ AÇÕES PARA A FAUNA É preciso reconhecer que a lista de problemas é grande e só se buscam as soluções se nós a conhecermos em sua integralidade, apontando medidas diferenciadas para cada problema. Os problemas! Resumido, segundo Costa (2014), a perda da biodiversidade faunística amazônica in situ esta vinculada a três eixos distintos: » desmatamento, conversão e consequente fragmentação de ecossistemas; » introdução de espécies exóticas, potenciais competidoras das espécies da fauna local, bem comofacilitadoras da disseminação de doenças; » exploração dos recursos naturais. Consequências do desmatamento O precursor e talvez o principal responsável pelo incentivo do desmatamento na região Norte, sem o devido manejo, foi o governo federal, na tentativa de ocupar essa região. O evento ocorreu no governo ditatorial com intenção de abrir a estrada transamazônica e se comunicar com o restante do país. Essas estradas permitiram facilitar e escoar a produção nacional, e volumosos incentivos fiscais permitiram a urbanização da região Norte, o que afetou diretamente a floresta. Estima-se que na primeira década deste século uma média anual de 18.627 km2 de floresta Amazônica no Brasil tenha sido desmatada. A malha viária cresce na proporção da ocupação/exploração e que ainda serão construídas pelo menos 18 mil km de estradas em toda a Amazônia brasileira, mais que o dobro do montante já existente, que é de 6.800 km2. As estradas facilitam o acesso das pessoas a locais que antes eram inacessíveis, assim como propiciam atropelamentos de animais, principalmente na fuga desesperada de se evadir das queimadas. Mesmo com altos índices de atropelamentos, nenhuma medida mitigadora para abrandar esses impactos foi confeccionada paralelamente à construção de estradas, como passagens subterrâneas. Por lei, toda nova estrada deveria contemplar essas passagens. Dell Realce coloque assim km2 Dell Realce coloque assim Floresta Dell Realce coloque assim km2 43 AÇÕES PARA A FAUNA │ UNIDADE III Obviamente esse problema é frequente em vários países e todas as classes sofrem esse tipo de injúria, entre elas, as serpentes, o que acontece muitas vezes de forma intencional, independentemente de sua vagarosidade em atravessar a faixa. Os répteis buscam o calor das estradas para termorregular, o que facilita os atropelamentos e o acesso de seres humanos para matá-los ou capturá-los para o tráfico. (COSTA, 2014). As estradas, além dos problemas citados, separam populações e ainda não foi inventariado o quão isso é impactante! Na lista de animais mortos pelas estradas, figuram anfíbios de diversas espécies, tatus, preguiça e tamanduás. Alternativas Para minimizar os atropelamentos, passagens de fauna podem ser construídas por baixo da rodovia, que já existem em poucas estradas brasileiras. Figura 15. Passagem de fauna na rodovia SP-225, entre Itirapina e Jaú (SP). Fonte : https://hypescience.com/9-estradas-construidas-por-humanos-para-animais/. https://hypescience.com/9-estradas-construidas-por-humanos-para-animais/ 44 UNIDADE III │ AÇÕES PARA A FAUNA Figura 16. Passagem para animais por viaduto na Highway A50, Holanda. Fonte: https://www.hypeness.com.br/2014/06/ecodutos-permitem-que-animais-vivam-livremente-e-com-seguranca-proximos- a-estradas/. Em muitos países europeus, essas passagens para animais já existem e fazem parte do projeto de confecção das autoestradas. O Brasil ainda está aquém dessa realidade, embora sejam medidas paliativas, diminuem muito os atropelamentos. A exploração madeireira, muitas vezes de forma ilegal e devastadora de espécies raras e protegidas por lei, abastece mercados externos de alguns países que possuem um compromisso ambiental. Em contraponto, o mercado brasileiro ciente de sua responsabilidade ambiental e conservacionista, tem exigido, por lei, cada vez mais o uso de madeira certificada por indústrias que utilizam somente madeira de reflorestamento na confecção de seus móveis. Isso parte de um pressuposto social de conscientização em só adquirir móveis com madeira certificada. Outro ponto no desmatamento é abertura de clareiras no meio da floresta que culmina no “efeito borda”, esses fragmentos florestais propiciam o aumento da luminosidade, temperatura e intensidade dos ventos, que alteram o microclima no interior da floresta. As espécies mais sensíveis a essas mudanças ambientais podem ter suas populações reduzidas ou se tornarem extintas, pois podem ser endêmicas (COSTA, 2014). https://www.hypeness.com.br/2014/06/ecodutos-permitem-que-animais-vivam-livremente-e-com-seguranca-proximos-a-estradas/ https://www.hypeness.com.br/2014/06/ecodutos-permitem-que-animais-vivam-livremente-e-com-seguranca-proximos-a-estradas/ 45 AÇÕES PARA A FAUNA │ UNIDADE III Figura 17. Fragmentos florestais produzem o efeito borda. Fonte: https://www.oeco.org.br/dicionario-ambiental/27923-o-que-e-fragmentacao/. A atratividade do plantio da soja, presente em vários biomas no país, não poderia deixar ser praticada na Amazônia. Essa monocultura modifica paisagens e habitats. Extensas monoculturas reduziram drasticamente todos os grupos faunísticos, eliminando principalmente espécies especialistas e, algumas vezes, espécies consideradas chave, em favorecimento de espécies de hábitos generalistas e oportunistas. Estudos embasados na teoria da cadeia alimentar demostraram efeitos em cascata em algumas regiões do país na ausência de grandes predadores. Nesse caso, o deslocamento ou a não reprodução de onças-pintadas e suçuaranas, que estão no topo de cadeia alimentar, favoreceram o aumento populacional de jaguatiricas e, que por competição, diminuíram a população de espécies próximas e de mesma família, como o gato-do-mato-pequeno (Leopardus tigrinus) e o gato-maracajá (Leopardus wiedii). Uma vez aumentado o número desses grandes predadores, maiores os conflitos com os pecuaristas da região que os exibem como troféus após o abate (OLIVEIRA et al., 2008). Como é sabido, a conservação de espécies felídeas exige grandes extensões de terra e abundância de presas, por isso o equilíbrio ecológico é fundamental para os planos de conservação. Espécies invasoras Pelo potencial de transmissão de doença e pela competição, a introdução de espécies exóticas são a segunda maior causa de extinção das nativas. Como são resistentes ou mesmo não apresentam agentes que controlam seu desenvolvimento, acabam por favorecer o aumento de suas populações. https://www.oeco.org.br/dicionario-ambiental/27923-o-que-e-fragmentacao/ Dell Realce sem itálico Dell Realce sem itálico 46 UNIDADE III │ AÇÕES PARA A FAUNA Algumas Já estão presentes na Amazônia, como o camarão-da-malásia (Macrobrachium rosenbergii), a tartaruga-de-carapaça-mole (Trionix sinensis), o tigre d’água nativo dos EUA (Trachemys elegans), a tilápia (Tilapia spp.), a rã-touro (Lithobates catesbeianus) e o caramujo-gigante-africano (Achatina fulica). Todos eles competidores vorazes com as espécies nativas. O caramujo-gigante-africano tem o agravante do risco sanitário por ser hospedeiro intermediário do Angiostrongylus costaricencis e do A. cantonensis, helmintos de grande potencial zoonótico (MOREIRA, 1971). Figura 18. Camarão-da-malásia (Macrobrachium rosenbergii), espécie invasora presente em ambientes naturais amazônicos. Fonte: CUBAS, 2014. Pela grande introdução de espécies invasoras (cerca de 540) o MMA produziu a primeira lista para inicia plano de controle em território nacional. Outras introduções se referem à população de 1 milhão bubalinos na ilha de Marajó/PA, espécie cujo abate é permitido pelas normativas ambientais, presente também em outros biomas. Esses animais encontraram um ambiente favorável, com poucos predadores, além de sua natureza robusta e arisca, que permitiu a proliferação da espécie. A criação extensiva faz com que essa espécie tenha acesso aos mais diversos ecossistemas e, devido ao pastoreio intensivo e pisoteio frequente em pequenos igarapés, torna-se assoreada, colocando em risco os sistemas aquáticos locais (COSTA, 2014). Dell Realce sem itálico Dell Realce sem itálico Dell Realce sem itálico Dell Realce sem itálico Dell Realce sem itálico Dell Realce sem itálico Dell Realce sem itálico Dell Realce cb 47 AÇÕES PARA A FAUNA │ UNIDADE III Figura 19. tilápia, espécie invasora. Fonte : https://portal.to.gov.br/noticia/2019/3/29/agricultura-organiza-1-encontro-da-cadeia-produtiva-da-tilapia-para- agrotins-2019/
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