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II. PRODUÇÃO DE ALUNOS DO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO - ARTIGOS CIENTÍFICOS 126 Vitrine Prod. Acad., Curitiba, v.3, n.2, p.122-128, jul/dez. 2015. REDE DE PROTEÇÃO SOCIAL ÀS MULHERES EM SITUAÇÃO DE VIOLÊNCIA DOMÉSTICA: AS POSSIBILIDADES E OS LIMITES DE ENFRENTAMENTO Adriana Maria Leal14 Dra. Marcela Lima Cardoso Selow15 RESUMO A violência é um fenômeno complexo que possui implicações relacionais, sociais, culturais e polí- tico-institucionais, no que se refere às determinações e às formas de enfrentamento. A violência contra a mulher é histórica e possui várias formas, entre elas, a física, a psicológica e a sexual. Trata-se de uma ex- pressão de poder que procura reforçar a inferioridade da mulher, sendo reproduzida no imaginário coletivo e naturalizada nas relações sociais. O presente artigo tem como objetivo conhecer a rede de atendimento à mulher em situação de violência, no contexto principalmente, da Lei Maria da Penha, as possibilidades e os limites de enfrentamento, considerando as responsabilidades das três esferas de governo e da sociedade civil. Palavras-chave: Mulheres. Violência Doméstica. Rede de Proteção. Serviço Social. ABSTRACT Violence is a complex phenomenon that is embedded with relational, social, cultural and political and institutional implications, in what concerns the determinations and forms of coping. Violence against women is historical and comes in many forms, amongst them, physical, psychological and sexual. It is an expression of power that seeks enforcing women’s inferiority, being reproduced in the collective imaginary and neutralized on social relations. The present article aims to be familiarized with the battered women’s support network specially on the context of Maria da Penha Law. it’s possibilities and the limits of coping, considering the responsibilities of the three government spheres and civil society. Keywords: Women. Domestic Violence. Protection Network. Social Service. 14 Aluna do curso de Pós- Graduação em Gestão Pública do Dom Bosco; Agente Administrativo da Prefeitura de São José dos Pinhais – Lotada na Secretaria Municipal de Assistência Social; E-mail: adriana.leal@sjp.pr.gov.br. 15 Coordenadora dos Cursos de Pós-Graduação - Faculdade Dom Bosco. II. PRODUÇÃO DE ALUNOS DO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO - ARTIGOS CIENTÍFICOS 127Vitrine Prod. Acad., Curitiba, v.3, n.2, p.122-128, jul/dez. 2015. 1 INTRODUÇÃO O presente artigo tem por escopo conhecer como está articulada a Rede de Proteção Social à Mu- lher, vítima de violência doméstica. A violência contra a mulher é um fenômeno social antigo, ue atinge mulheres de diferentes classes sociais, religiões, grupos étnicos e posições profissionais. Ocorre de diversas maneiras nas formas de agressão física, psicológica, sexual e moral. É uma manifestação de relação de poder entre o homem e a mulher, que está arraigada na cultura brasileira e no decorrer da história, é considerada como algo natural. O tema da violência doméstica contra as mulheres tem um longo caminho de desafios, sendo que um dos maiores é promover a sensibilização social dessa violação que se reproduz em todos os níveis da sociedade. É necessário tornar esse fenômeno visível aos olhos da sociedade, para que medidas se- jam implementadas, no sentido de promover transformações pertinentes à questão de gênero, que possam contribuir para que o Brasil se torne um lugar mais solidário, igualitário e justo. Segundo pesquisa da Sociedade Mundial de Vitimologia, ligada ao governo da Holanda e à Orga- nização das Nações Unidas (ONU), realizada em 2002, em 54 países e junto a 138 mil mulheres, o Brasil é o país que mais sofre com a violência doméstica. Sendo que 23% das mulheres brasileiras estão sujeitas a esse tipo de violência, quando em 70% dos incidentes, o agressor é o próprio marido ou companheiro. (BRASIL, 2009, p. 10). Contudo, desde a década de 1980 até os dias atuais podem-se confirmar algumas conquistas, reivin- dicações e prioridades estabelecidas por intermédio dos movimentos feministas e de mulheres que de forma enfática denunciaram as crueldades que ocorriam nos lares de milhares de mulheres brasileiras. (MORGA- DO, 2004). Nesse contexto, o Brasil destacou-se em nível mundial por desenvolver ações e medidas pioneiras para a luta contra a violência e discriminação de gênero. Uma das principais conquistas atualmente é a Lei n.º 11.340, denominada Lei Maria da Penha, sancionada em 07 de agosto de 2006, que contém subsídios que se transformam em instrumento para o exercício da democracia de gênero. A Lei cria mecanismos para coibir a violência doméstica e familiar contra a mulher, uma vez que se constitui em um instrumento eficaz no combate à submissão e exploração da mulher no contexto de uma sociedade como a brasileira, em que o poder ainda é conferido ao homem. No entanto, reconhece-se que somente a legislação não é capaz de assegurar direitos e garantir a proteção às mulheres vítimas de violência. É necessário que exista uma rede de apoio, que articule Estado e sociedade, com primazia estatal e articulação intersetorial, por meio de canais e organizações, governamen- tais e não governamentais. Assim sendo, neste artigo identifica-se como se articula a rede de garantia dos direitos e proteção da II. PRODUÇÃO DE ALUNOS DO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO - ARTIGOS CIENTÍFICOS 128 Vitrine Prod. Acad., Curitiba, v.3, n.2, p.122-128, jul/dez. 2015. mulher vitimizada, com base na Lei Maria da Penha. 2 REDE PROTETIVA EM PROL DE MULHERES VÍTIMAS DE VIOLÊNCIA As mulheres brasileiras há muito são submetidas a diversas agressões independentemente de classe social, nível de renda e cultura. À medida que as demandas de gênero foram conquistando legitimidade pú- blica na sociedade o enfoque sobre a violência tomou um novo rumo regulatório e político pelas legislações específicas que objetivam coibir a prática violenta de homens contra mulheres. Nesse contexto, de acordo com Weber e Guzzo (2006), a opção pela estruturação de uma Rede de Atendimento deveu- se à tentativa de eliminar e/ou minimizar o percurso crítico que a mulher em situação de violência faz para receber o devido atendimento, em face das diversas portas de entrada como os hospitais de urgência e emergência, delegacias, serviços de assistência social. Geralmente, a mulher em situação ou vítima de violência procura em diversos órgãos governamentais o amparo legal do Estado e, na maioria das vezes, percorre diversos ou os mesmos caminhos sem uma solução para o seu problema, levando ao desgaste emocional e à revitimiza- ção. O termo “rede” é considerado uma estrutura aberta, com fim de se expandir e de se comunicar den- tro da própria rede compartilhando as mesmas informações e objetivos. Nesse sentido cabe ressaltar o po- tencial das redes que são formas promissoras que combinam autonomia e inovação. A principal atividade de uma rede é promover a aprendizagem social, a produção de significado compartilhado e a comunicação, essa que deve ser assegurada a todos os envolvidos, de modo a contribuir no sentimento de pertença, quan- do a expressão de idéias, opiniões e propostas, contribuem para um melhor diálogo entre os participantes da Rede. (WEBER E GUzzO, 2006). A diversidade de redes existentes em um município não exclui a existência da outra, pois, se inte- gram para potencializar os serviços oferecidos no enfretamento da questão social. Em linhas gerais, o tra- balho em rede sugere horizontalidade, articulação entre os parceiros para garantir a integralidade e eficácia dos serviços prestados à população usuária. (WEBER; GUzzO, 2006). A comunicação e a articulação são elementos primordiais para o trabalho em rede, pois interligam a oferta de oportunidades e acesso a serviços, analisando e integrando a população alvo aos programas e serviços ligados entre si. Para tanto, o trabalho em rede sugere alguns requisitos fundamentais, entre eles: o Município como espaço territorial para que as açõesse desenvolvam, comprometimento das autoridades locais na defesa dos direitos fundamentais, leitura da realidade social dos indivíduos vulnerabilizados, desenvolvimentos II. PRODUÇÃO DE ALUNOS DO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO - ARTIGOS CIENTÍFICOS 129Vitrine Prod. Acad., Curitiba, v.3, n.2, p.122-133, jul/dez. 2015. de projetos inter - setoriais, sinergia entre todas as Instituições que prestam serviços no Município, apoio técnico e financeiro para o desenvolvimento dos propósitos, informações compartilhadas, capacitação dos profissionais envolvidos e avaliação e redefinição das estratégias. (WEBER; GUzzO, 2006). De acordo com Lettiere e Nakano (2011), apesar de serem ainda poucos os serviços disponíveis, especialmente levando em conta a magnitude do fenômeno, é importante considerar que a rede de aten- dimento à mulher em situação de violência foi construída em um período muito curto de tempo, respon- dendo a uma política recentemente instalada e que ainda está em fase de expansão e consolidação. De fato, até 2003, as Casas-Abrigo e as Delegacias Especializadas de Atendimento à Mulher consti- tuíram as principais respostas dos governos (Federal, Estadual e Municipal) à questão da violência contra as mulheres. A partir de então, as políticas de enfrentamento à violência contra as mulheres foram ampliadas e incluíram ações de prevenção, de garantia de direitos e de responsabilização dos agressores (combate). (LETTIERE; NAKANO, 2011). Percebe-se assim, a importância e influência central do Pacto Nacional pelo Enfrentamento à Vio- lência contra as Mulheres na constituição e fortalecimento da rede de enfrentamento e de atendimento às mulheres. O Pacto Nacional, ao definir um dos seus eixos como Fortalecimento da Rede de Atendimento e Implementação da Lei Maria da Penha, garante um maior aporte de recursos por parte da Secretaria de Políticas para as Mulheres e demais Ministérios para o apoio (criação/reaparelhamento/reforma) de serviços especializados de atendimento à mulher (em especial, Centros de Referência de Atendimento à Mulher, Casas Abrigo, Casas de Acolhimento Provisório, Delegacias Especializadas de Atendimento à Mulher, Núcleos da Mulher nas Defensorias Públicas, Promotorias Especializadas, Juizados Especiais de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher). (LETTIERE; NAKANO, 2011). Os acordos firmados entre União, Estados e Municípios para a implementação do Pacto Nacional (termos de cooperação técnica) também representam um importante avanço para a constituição da rede de atendimento, na medida em que os dois últimos também aportam recursos para a criação de serviços especializados de atendimento à mulher em situação de violência. Assim, a evolução da rede de atendimento à mulher em situação de violência só pode ser entendida no âmbito de um esforço conjugado de órgãos federais, estaduais e municipais no âmbito do Pacto Nacio- nal, e não somente como reflexo dos recursos disponibilizados pela Secretaria de Políticas para Mulheres (SPM) para o fortalecimento dos serviços especializados. (LETTIERE; NAKANO, 2011). É relevante frisar que, a partir das negociações do Pacto Nacional nos Estados e nos Municípios, houve uma mudança quanto aos tipos de serviços financiados pela SPM. Dessa forma, em 2008, os convê- II. PRODUÇÃO DE ALUNOS DO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO - ARTIGOS CIENTÍFICOS 130 Vitrine Prod. Acad., Curitiba, v.3, n.2, p.125-133, jul/dez. 2015. nios tiveram por objeto principalmente, os Centros de Referência de Atendimento a Mulheres e as Casas- Abrigo. Já os dados de 2009, 2010 e 2011, referem-se a uma ampla gama de serviços: Casas-Abrigo, Casas de Passagem, Defensorias Especializadas, Delegacias Especializadas de Atendimento à Mulher, Centros de Referência de Atendimento à Mulher, Núcleos de Atendimento/Apoio à Mulher e Centros Integrados de Atendimento à Mulher, entre outros. (LETTIERE; NAKANO, 2011). Os recursos investidos pela SPM no apoio a serviços especializados constituem apenas parte do processo de consolidação e fortalecimento da rede de enfrentamento à violência contra as mulheres, que conta com o aporte de recursos de órgãos federais: Ministério da Saúde, Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, Ministério da Justiça, entre outros; órgãos estaduais e municipais: Secretarias de Assistência Social, de Saúde, de Justiça, de Segurança Pública, de Promoção da Igualdade, de organismos de políticas para as mulheres. (LETTIERE; NAKANO, 2011). Segundo Lettiere e Nakano (2011), é fundamental o trabalho em rede, a ação inter-setorial que inclua atores de saúde, segurança, educação, bem-estar social e jurídico. Na participação deve haver a cons- trução de estratégias que respondam, de forma integral, às necessidades físicas, emocionais e jurídicas de mulheres submetidas a agravos oriundos dos mais diversos tipos de violência. De acordo com Campos et al. (2010), a construção de uma rede de serviço destinada à mulher vítima de violência é de suma importância, pois, a construção de redes é uma proposta inovadora na con- temporaneidade, mexendo com quebras de paradigmas e de poder existentes entre as instituições atuantes nessa expressão da questão social. Os profissionais que atuam no enfrentamento da violência de gênero têm a necessidades de pro- curar aprofundar seu conhecimento para atender às necessidades sociais apresentadas e transformá-las em respostas profissionais sustentáveis, para assim, também ter a capacidade de cada dia melhorar seu trabalho e propiciar às mulheres vítimas de violência uma melhor qualidade no seu serviço. Para se pensar em rede no atendimento à mulher vítimas de violência, é necessário que o profissio- nal tenha uma ruptura com o conservadorismo e traga para seu cotidiano uma consciência crítica. A Rede Mulher tem como objetivo principal a busca da articulação das políticas publicas e das or- ganizações não governamentais para que o trabalho de enfrentamento da violência de gênero tenha ações integradas entre os serviços, programas e equipamentos públicos e privados. A Rede Mulher visa contribuir para melhoria da gestão dos serviços, programas e projetos destinados a mulheres que sofreram violência. A rede ainda contribui para a disposição de diálogo e articulação constantes entre os diversos serviços exis- tentes e também capacitar os profissionais atuantes nessa demanda. (CAMPOS et al., 2010) II. PRODUÇÃO DE ALUNOS DO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO - ARTIGOS CIENTÍFICOS 131Vitrine Prod. Acad., Curitiba, v.3, n.2, p.125-133, jul/dez. 2015. No entanto, todas essas ações desenvolvidas pela Rede Mulher não são suficientes para o combate à violência de gênero. A Rede Mulher necessita de ações mais articuladas e principalmente, a adesão de outras políticas públicas e organizações não governamentais, pois, os serviços de apoio da rede não são o bastante e sempre ficará uma lacuna para que ocorra uma real efetivação das ações. Para que haja um desenvolvimento da Rede Mulher é necessária a quebra de paradigmas, para que a mesma desenvolva uma democratização de poder, um novo jeito de atuar na realidade social das mulheres vítimas de violência. É indispensável deixar claro quais as competências de cada instituição, quais limites e potencialidades de cada serviço para que assim não haja frustrações futuras. De acordo com Silva (2011), a construção da temática sobre a Rede de Enfrentamento à violência contra as Mulheres revela a expressão material da pluralidade do desenvolvimento do país, no âmbito das políticas públicas e do reconhecimento dos direitos, bem como na avaliação do papel do Estado, frente às demandas contemporâneas, considerando as tendências sócio históricas e ideo-políticas. Considerar a formação social da sociedade brasileira relacionada à formulação das políticas sociais revela que essa ligação não está voltada para a criação de mecanismos que construam bases e parâmetros para uma sociedade mais justa, com equidade social. (SILVA, 2011).Nessa contingência, o agravamento da questão social também significa resultado das mudanças ocorridas no processo de industrialização do país, sem planejamento, que continua a não vincular o reco- nhecimento da classe subalterna como sujeito de direito. Por essa via, é cabível lembrar que o reconheci- mento dos direitos só ocorreu efetivamente, a partir de 1988, com a nova Constituição Federal. (SILVA, 2011). Ela menciona que até então, as poucas políticas públicas sociais existentes, eram elaboradas sem a contribuição dos sujeitos interessados, sendo que as leis provinham de um processo de articulação das clas- ses dominantes diante da análise de seus interesses para a organização da sociedade. Assim, além do aden- samento das expressões da questão social, as políticas sociais não tinham o alcance necessário para atender às demandas, e ainda se configuravam de maneira focalista e fragmentada. Assim, só se perfilaram outros direcionamentos no papel do Estado quando os movimentos sociais que incorporavam categorias profissionais, trabalhadores, militantes da área, lutaram por uma nova rea- lidade política, social e econômica intensificando as mobilizações, que subsidiaram a mudança no texto Constitucional em vigência e contribuíram para a construção de uma nova concepção de Estado, Direito, Política, Participação e Financiamento. É preciso efetivar o fortalecimento entre as políticas sociais para que construam uma rede protetiva universal, que superem as concepções fragmentadas e focalistas na garantia do desenvolvimento humano II. PRODUÇÃO DE ALUNOS DO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO - ARTIGOS CIENTÍFICOS 132 Vitrine Prod. Acad., Curitiba, v.3, n.2, p.125-133, jul/dez. 2015. com autonomia e emancipação, na luta contra as tendências neoliberais alienadoras, incorporando debates críticos e democratizados. É necessário ainda fomentar a importância do Financiamento da Política Nacio- nal de Enfrentamento à Violência contra as Mulheres, bem como seu processo de planejamento e execução orçamentária. Ressalta-se neste contexto a relevância do Controle Social. 2.1 PERCEPÇÕES DOS ATORES ENVOLVIDOS NA REDE DE SERVIÇOS SOBRE O ENFRENTAMENTO DA VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER De acordo com Gomes et al. (2012), mesmo com os resultados positivos, deve-se considerar que esses órgãos necessitam de ajustes e adequações, enfatizando a necessidade de capacitações dos profissionais envolvidos com os serviços de Enfrentamento da Violência contra a Mulher, oferecendo então, suporte aos propagadores dos serviços socioassistenciais oferecidos, ou seja, para que um trabalho seja desenvolvido com propriedade e qualidade é necessário que os profissionais compreendam e tenham domínio sobre a importância da Política de Enfrentamento à Violência contra as Mulheres São de conhecimento as dificuldades e fragilidades encontradas em alguns municípios em adequar determinadas ações as quais se defrontam com a cultura conservadora, de interesses, além da concentração de poder. Com a ausência do controle social e da participação efetiva da sociedade civil e vontade política, essas situações tendem a permanecer e incidir no descaso, por isso, a importância de fóruns e Conselhos para discussões sobre a referida Política, promovendo o protagonismo dos participantes e das mulheres vitimizadas. Os desafios ainda presentes consistem, entre outros, na unificação de sistemas de informação, no empoderamento e total entendimento de sua competência dos profissionais que atendem às mulheres víti- mas de violência, e na necessidade de instruções normativas, formando assim, profissionais mais sensíveis para identificar, atender e enfrentar a violência contra a mulher. Ainda, para prestar uma assistência qualificada é necessário mais um olhar clínico para identificar as necessidades e os aspectos peculiares que estão relacionados ao processo de adoecimento. É preciso olhar para as subjetividades da mulher, permitindo espaço de escuta, sem julgamentos. Assim, os profissionais precisam desenvolver a sensibilidade no sentido de identificar a violência como agravo à saúde e a neces- sidade de uma ação articulada visto que o fenômeno extrapola o setor saúde, levando à necessidade da articulação em rede. De acordo com a autora Silva (2011), a rede de enfrentamento à violência contra as mulheres é mar- cada pela multiplicidade de serviços e de instituições. Essa diversidade deve ser compreendida como parte II. PRODUÇÃO DE ALUNOS DO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO - ARTIGOS CIENTÍFICOS 133Vitrine Prod. Acad., Curitiba, v.3, n.2, p.125-133, jul/dez. 2015. de um processo de construção que visa abarcar a multidimensionalidade e a complexidade da violência contra as mulheres. Todavia, para que o enfrentamento da violência se efetive, é importante que serviços e instituições atuem de forma articulada e integrada. A perspectiva da intersetorialidade representa, portanto, um desafio na medida em que insta a uma ruptura com o modelo ‘tradicional’ de gestão pública, que tende à departamentalização, à desarticulação e à setorialização das ações e das políticas públicas. Todavia, a consolidação das ações para assegurar os direitos das mulheres, previstos em Lei, deve ocorrer por meio da implementação de Políticas Públicas específicas destinadas à prevenção e combate à violência. Portanto, a criação de redes intersetoriais torna-se indispensável para o enfrentamento da vio- lência doméstica contra mulheres, uma vez que por meio delas podem-se formular e executar ações para promoção desses direitos. A rede de enfrentamento à violência contra as mulheres visa ao desenvolvimento de estratégias efeti- vas de prevenção e de políticas que garantam o empoderamento e construção da autonomia das mulheres, os seus direitos humanos, a responsabilização dos agressores e a assistência qualificada às mulheres em situ- ação de violência. (SILVA, 2011). Já a rede de atendimento faz referência ao conjunto de ações e serviços de diferentes setores, que visam à ampliação e à melhoria da qualidade do atendimento, à identificação e aos encaminhamentos ade- quados das mulheres em situação de violência e à integralidade e à humanização do atendimento. (SILVA, 2011). Assim, é possível afirmar que a rede de atendimento às mulheres em situação de violência é parte da rede de enfrentamento à violência contra as mulheres no sentido de garantir o atendimento qualificado às mulheres vitimizadas. De acordo com Oliveira (2011), a construção e consolidação da rede de atendimento a mulheres vítimas de violências é um dos instrumentos primordiais para o enfrentamento dessa demanda multiface- tada. As redes sociais se tornam essenciais para a busca de respostas sustentáveis para as necessidades sociais que estão postas na atualidade de forma mais complexa e a articulação em rede é um dos meios mais efeti- vos para atuação nas transformações sociais. Historicamente, a sociedade é estruturada em relações desiguais em todas as esferas da sociedade, restando às mulheres uma situação de subordinação e opressão em relação aos homens nos espaços de deci- são, no trabalho e na família. Isso reflete a face de uma sociedade patriarcal, que vê no homem a figura do senhor, com poder, mando e autoridade sobre as mulheres. Como consequência dessa estrutura hierárquica, questões como a violência doméstica e a injusta II. PRODUÇÃO DE ALUNOS DO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO - ARTIGOS CIENTÍFICOS 134 Vitrine Prod. Acad., Curitiba, v.3, n.2, p.130-135, jul/dez. 2015. divisão sexual do trabalho - que destina às mulheres o espaço privado - inviabiliza o rompimento com os processos de violência estabelecidos no âmbito doméstico e familiar. (OLIVEIRA, 2011). Ao longo da História, a sociedade reservou à mulher um “lugar social”, por assim dizer, e a natureza de suas obrigações fundamentais: a reprodução da espécie, os cuidados com a prole e o trabalho doméstico que garanta ao provedor da família – o homem – as condições necessárias para garantiro sustento e a sobre- vivência da familiar. Essas problematizações evidenciam que as relações de gênero não são produtos de um destino biológico, mas sim, de construções sociais e históricas a partir de uma base material. (OLIVEIRA, 2011). De toda forma, pode-se asseverar que se vive na atualidade, um momento de retomada das políticas públicas com viés de gênero. Exemplo disso foi a implantação da Secretaria de Políticas para as Mulheres do Governo Federal com a perspectiva de articulação e intersetorialidade das políticas públicas dos vários ministérios e a realização de duas Conferências de Políticas para as Mulheres com participação ampla do movimento feminista e de mulheres. Ainda, o advento da Lei Maria da Penha, a criação de Centros de Referência e Casa Abrigo e Juizados Especiais, entre outras medidas. (OLIVEIRA, 2011). Entretanto, há um distanciamento entre as leis existentes e a garantia de sua (s) aplicabilidade (s), quando se trata da questão de gênero nas políticas públicas. Oliveira (2011) versa que, nessa conjuntura de diagnóstico social, pode-se pensar em uma cons- trução de rede voltada para atuar nas mudanças sociais de um determinado território ou serviço. As redes sociais devem ter formas horizontais, não devendo ter um controle burocrático, mas sim, uma instrumen- talidade nas ações desenvolvidas. As redes sociais têm que estar voltadas para proteger os sujeitos, para que eles saiam da situação de risco em que se encontram, sem ter características assistencialistas. 2.2 LEI MARIA DA PENHA: DEFINIÇÕES LEGAIS Segundo Leal (2006), a Lei nº 11.340/2006, a Lei Maria da Penha, é uma conquista de toda a sociedade brasileira, especialmente, das mulheres e um compromisso do Estado. Ela trouxe avanços, prin- cipalmente no que diz respeito à punição do (a) agressor (a) que antes tinha sua sentença transformada em penas alternativas, com prestação de serviços comunitários ou cestas básicas. A partir dessa Lei, o (a) agressor (a) poderá sofrer penas que variam de 3 meses a 3 anos de detenção, podendo ser aumentada em até 1/3 quando a mulher for deficiente. (LEAL, 2006). Outro avanço da Lei Maria da Penha diz respeito ao estabelecimento das formas de violência contra a mulher, previstas no seu Art. 7º. (LEAL, 2006, p. 02). II. PRODUÇÃO DE ALUNOS DO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO - ARTIGOS CIENTÍFICOS 135Vitrine Prod. Acad., Curitiba, v.3, n.2, p.130-135, jul/dez. 2015. a) Violência Física: “entendida como qualquer conduta que ofenda sua integridade ou saúde corporal”. (In- ciso I). Estariam incluídas aí, condutas caraterizadoras de crimes como o homicídio, aborto, lesão corporal. b) Violência Psicológica: “entendida como qualquer conduta que lhe cause dano emocional e diminuição da autoestima”. (Inciso II). c) Violência Sexual: “entendida como qualquer conduta que a constranja a presenciar, a manter ou a parti- cipar de relação sexual não desejada, mediante intimidação, ameaça, coação ou uso da força”. (Inciso III). Esse tipo de conduta pode configurar um dos crimes contra a liberdade sexual, definidos no Código Penal. d) Violência Patrimonial: “entendida como qualquer conduta que configure retenção, subtração, destrui- ção parcial ou total” de bens de qualquer natureza pertencentes à ofendida. (Inciso IV). Podem ser aí en- quadrados casos em que a mulher, por medo, coagida ou induzida a erro, transfere bens ao agressor. e) Violência Moral: entendida como qualquer conduta que configure calúnia, difamação ou injúria. (Inciso V). São as hipóteses de crimes contra a honra, tipificada no Código Penal. A violência doméstica e familiar contra a mulher ganhou visibilidade a partir da promulgação da Lei n.º 11.340/2006 - Lei Maria da Penha- pois, foi ela definida de forma didática e minuciosa. Leal (2006) afirma que a Lei representa uma nova atitude perante os tratados internacionais de proteção dos direitos humanos, uma vez que se fundamenta em normas e diretivas confirmadas na Consti- tuição Federal, de 1988, (Artigo 226, parágrafo 8.º), na Convenção da ONU sobre a Eliminação de todas as Formas de Violência contra a Mulher; na Convenção Interamericana para Punir e Erradicar a Violência contra a Mulher, entre outros tratados ratificados pelo Brasil. O objetivo foi criar mecanismos para coibir e prevenir a violência doméstica e familiar contra a mulher, dispor sobre o estabelecimento dos Juizados de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher, com competência cível e criminal e fixar medidas de assistência e proteção às mulheres em situação de violência doméstica e familiar. De acordo com Oliveira (2012), o tema da violência doméstica familiar contra as mulheres tem uma longa trajetória de desafios para o conjunto da sociedade, sendo que um dos maiores é promover uma consciência social dessa violação que se reproduz em todos os níveis da sociedade. À medida que as demandas de gênero foram conquistando legitimidade pública na sociedade o enfoque sobre a violência tomou um novo rumo regulatório e político, pelas legislações específicas que objetivam coibir a prática violenta de homens contra mulheres. Porém, a dificuldade em se precisar informações e quantificar a violência doméstica contra a mulher revela o aspecto diferenciado desse fenômeno que não se expressa em números, uma vez que o medo, a II. PRODUÇÃO DE ALUNOS DO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO - ARTIGOS CIENTÍFICOS 136 Vitrine Prod. Acad., Curitiba, v.3, n.2, p.132-137, jul/dez. 2015. vergonha e a proteção da família inibem a sua exteriorização e, portanto, o seu conhecimento. Aliás, a vio- lência doméstica contra a mulher evidencia-se pelo rompimento dos valores e papéis impostos aos homens e mulheres pela sociedade, o que demonstra o seu caráter diferenciado, quando analisado em relação as outras violências institucionais. (OLIVEIRA, 2012). Contudo, no Brasil, a constituição de redes de ações e serviços preconizados na Lei Maria da Penha para proteger os direitos das mulheres que sofrem violência doméstica e familiar, ainda é um processo inci- piente, implicando também grandes desafios a enfrentar para consolidar as conquistas oriundas da referida Lei, rejeitar e reduzir a violência de gênero na sociedade brasileira. Importante, então, ressaltar, que o maior propósito de uma gestão comprometida com a cidadania, é desencadear um processo de desenvolvimento social, ou seja, ampliar as condições de qualidade de vida e do exercício dos direitos das mulheres vítimas de violência doméstica e familiar. 2.3 VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER: A VISIBILIDADE DO PROBLEMA De acordo com Lettiere et al. (2007), a violência contra a mulher, em particular a violência domés- tica, embora presente na maioria das sociedades continua sendo um fenômeno invisível, sendo por vezes, aceita socialmente como “normal”, ou seja, como uma situação esperada e costumeira. Dessa forma, a violência nas relações de gênero não é reconhecida nos serviços de saúde ou contabilizada nos diagnósticos realizados, sendo caracterizada como problema de extrema dificuldade para ser abordado. Assim, a não identificação da situação de violência pelos profissionais contribui para perpetuar o ciclo de violência, diminuindo a eficácia e a efetividade dos serviços de saúde, como também, consume recursos financeiros. Nessa perspectiva, de acordo com a Organização Mundial da Saúde, os profissionais de saúde têm um papel crucial na detecção da violência, principalmente, porque muitas vezes esse é o único lugar procurado pelas mulheres nessas situações. Embora alguns profissionais de saúde não questionem a mulher diante de uma suspeita de violência por vários motivos, tais como falta de tempo e recursos, falta de intimidade com o assunto, temor de gerar constrangimentos, despreparo para atuar e frustração, pois se sentem impotentes para resolver a situação. Frente à fragilidade para atuar, os profissionais tendem a se conduzir por protocolos institucionais os quais, são exatas sequencias de ações a desenvolver,representando um poderoso instrumento de orientação técni- ca que determina a competência de cada profissional. Na ausência dos mesmos, os profissionais sentem-se inseguros. II. PRODUÇÃO DE ALUNOS DO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO - ARTIGOS CIENTÍFICOS 137Vitrine Prod. Acad., Curitiba, v.3, n.2, p.132-137, jul/dez. 2015. Há o reconhecimento de que para o atendimento eficaz à mulher em situação de violência faz-se necessária uma equipe multidisciplinar, a qual consiste em uma relação de reciprocidade, de mutualidade, que pressupõe uma atitude diferente assumida frente ao problema do conhecimento, substituindo a con- cepção fragmentária pela unitária do ser humano. Reitera-se que a violência é um tema de saúde pública, embora seu enfretamento requeira articula- ções multidisciplinares e intersetoriais. Caminhar nessa direção implica diminuir o abismo entre o consen- so discursivo e o dissenso das práticas quando se trata de questões que convocam a intersetorialidade. É preciso resgatar a capacidade de indignação frente às mazelas sociais discordando do movimento conservador que busca naturalizar a violência. Nesse sentido, o Estado deve ser um instrumento para cons- trução de um novo pacto, firmado pela a lógica da construção de um mundo democrático que promova a igualdade social, a pluralidade política e a autonomia do cidadão. 3 CONSIDERAÇÕES FINAIS A violência contra a mulher gera uma preocupação em inúmeras dimensões sociais e políticas, tra- zendo questionamentos sobre a forma de organização da sociedade onde se evidenciam as diferenças sociais que são diretamente associadas às tensões e aos conflitos que fazem com que a violência atinja proporções elevadas. É um fenômeno que deve ser desvelado quanto aos seus determinantes e nexos. Diante disso, o presente trabalho privilegiou a discussão sobre o fenômeno da situação de violência doméstica e seu en- frentamento institucional, por meio da rede de proteção, identificando as fragilidades, limites, avanços e potencialidades na perspectiva de articular e mobilizar ações para atender a essa demanda. Nesse contexto, tomaram-se por referência três questões que direcionaram a construção da pesquisa: a importância da Lei Maria da Penha como eixo na garantia dos direitos e proteção da mulher vitimizada; o funcionamento dos encaminhamentos realizados pela rede de proteção social à mulher vítima de violência doméstica. Pensando-se a partir do processo histórico da construção dos direitos, com ênfase na questão de gênero, a trajetória histórica da luta das mulheres pela conquista da igualdade de seus direitos significa percorrer um caminho de avanços contínuos e descontínuos, contudo, imprescindíveis para que ocorram transformações dos indivíduos e das sociedades. Por isso, é importante otimizar ações públicas para o en- frentamento da violência doméstica e trabalhar de uma forma plural, de modo a angariar alternativas e II. PRODUÇÃO DE ALUNOS DO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO - ARTIGOS CIENTÍFICOS 138 Vitrine Prod. Acad., Curitiba, v.3, n.2, p.134-138, jul/dez. 2015. superar as resistências. Assim, elucidou-se que todo o processo de conquista e avanço em matéria de direitos da mulher no Brasil, ganhou significado à medida que as mulheres conquistaram espaços na sociedade e a violência de gênero tomou novos rumos e suas demandas foram tratadas com maior atenção e respeito, amparadas por legislação específica que objetiva coibir a prática violenta de homens contra mulheres. A promulgação da Lei Maria da Penha caracterizou-se em um grande avanço e significa um ins- trumento ético-político no enfrentamento à violência contra a mulher na sociedade brasileira. Foi a partir dessa lei que a violência contra a mulher passou a ter maior visibilidade como uma modalidade de violação dos direitos humanos. No entanto, verificou-se que, apesar dos avanços, é possível identificar alguns limites que se cons- tituíram em obstáculos para a sua efetivação, tais como: a lenta absorção das demandas e na aplicação das medidas protetivas no âmbito do sistema de garantia de direitos às mulheres; exigência pelas autoridades policiais da representação de denúncia; implementação insuficiente de políticas e serviços especializado. Através da pesquisa constatou-se que o Sistema de Garantia de Direitos da Mulher é um sistema que na teoria, é muito bem elaborado, resguardando todos os interesses individuais da mulher, porém, na prática, sua efetivação não ocorre de maneira completa. É necessário fortalecer a intersetorialidade entre Secretaria de Assistência Social, o Judiciário, o Ministério Público e as autoridades policiais para estabele- cer atendimento às vítimas de violência doméstica, aos agressores e aos demais familiares que são atingidos indiretamente pela violência. Dessa maneira, este estudo possibilitou reflexões que reforçam a necessidade de se avançar na conso- lidação de uma rede de apoio que articule Estado e sociedade para assegurar os direitos e garantir a proteção às mulheres vitimizadas. Para além, identificaram-se potencialidades e aspectos positivos no que se refere à rede de proteção à mulher vitimizada, a implementação da Casa de Apoio a mulher vítima de violência, bem como a exis- tência da DEAM. Mesmo com os resultados positivos, deve-se considerar que ainda necessita de aprimoramentos quanto às fragilidades e aspectos negativos, já elencados: a falta de equipe multidisciplinar na Delegacia da Mulher; a falta de atendimento à mulher vítima de violência no CREAS; a falta de guia de referência e contra referência principalmente, com os CRAS e demais políticas públicas setoriais; a deficiência no acompanhamento após o acolhimento institucional; o desconhecimento das redes sociais locais; a ausência de centros de educação e de reabilitação para os agressores, conforme prevê a LMP, e por fim, a ausência de maiores investimentos em políticas públicas que atendam às mulheres em situação de violência. II. PRODUÇÃO DE ALUNOS DO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO - ARTIGOS CIENTÍFICOS 139Vitrine Prod. Acad., Curitiba, v.3, n.2, p.135-139, jul/dez. 2015. Observam-se ainda, as possíveis diferentes formas de manifestação da rede e que uma não exclui a existência de outra, porém, preconiza-se que haja um avanço no sentido de se organizar redes intersetoriais. A pesquisa, nesse sentido, torna-se um potente instrumento para o debate que deve continuar germinando, porque a tarefa de implantar um sistema público de garantias de direitos é uma tarefa que exige tempo, investimento político e acima de tudo, enfrentamento das amarras que fazem com que alguns aspectos não sejam facilmente identificados. Nesse contexto, é importante salientar a presença marcante do Serviço Social como protagonista, imprimindo um novo significado em todo o processo de conquistas e avanços quanto à luta pela participa- ção na construção de Democracia de acordo com os princípios éticos de liberdade, equidade e justiça social. Os desafios para o Serviço Social consistem em promover a participação social e a descentralização das decisões, qualificar os serviços, estimular a mobilização das forças sociais, visando a criação de novos mecanismos de articulação com a sociedade civil que possam gerar novas modalidades de ação coletiva, que sejam capazes de intensificar a participação de grupos populares que não sejam apenas ‘usuários’ ou ‘benefi- ciários’ dos serviços assistenciais, mas como sujeitos que trazem consigo direitos legítimos, que encontram no espaço público um lugar de reconhecimento, pertencimento e expressão de demandas sociais. A criação de sistemas de articulação, comunicação e informação junto aos conselhos, fóruns e forças sociais nos Estados e Municípios ganha, nos dias atuais, importância no enfrentamento das desigualdades sociais do país. Assim, registra-se a manifestação de que é possível um mundo democrático onde todas as mulheres vitimizadas terão acesso aos seus direitos, e que só no fortalecimentoem conjunto da rede e dos princípios pautados na justiça social, é que se pode avançar para novos patamares. Pondera-se que esta pesquisa contribui para fomentar novos estudos e instigar outras investigações por parte dos acadêmicos, professores e demais profissionais ao passo que também poderá cooperar com outras pesquisas e debates a cerca da temática estudada, que emergirão a partir das questões levantadas. Destaca-se que a contribuição aponta para a compreensão da importância da participação da população em todo o processo de garantia de direitos e proteção à mulher vítima de violência. Fica também o registro do silêncio, da coragem e da luta das mulheres vítimas de violência. Suas histórias singulares se confundem com as histórias reconstruídas com seus protagonismos e pela mediação dos direitos, das políticas públicas e da luta histórica de milhares de mulheres no cotidiano e na esfera pú- blica. Por fim, salienta-se que as mulheres em situação de violência doméstica querem seus direitos garantidos e para isso, seria necessário um trabalho mais intensivo e com possibilidades de articular e ampliar estratégias do trabalho em rede para que se fortaleça a defesa, a responsabilização, o apoio às pessoas em situação de II. PRODUÇÃO DE ALUNOS DO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO - ARTIGOS CIENTÍFICOS 140 Vitrine Prod. Acad., Curitiba, v.3, n.2, p.136-140, jul/dez. 2015. violência doméstica, é o que aponta para a existência de um terreno fértil a ser fortalecido. REFERÊNCIAS ALVES, Fabrício da Mota. Lei Maria da Penha: das discussões à aprovação de uma proposta concreta de combate à violência doméstica e familiar contra a mulher. 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