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Síntese reflexiva sobre “Black Mirror”, série da Netflix, e a Gestão Pública. A humanidade percorreu diversas transformações tecnológica ao longo de sua evolução, começando com a pedra, que usada de maneira correta, provoca faíscas que levam ao surgimento de fogo, passando pela criação do arco-e-flecha e espadas, máquinas de cópia, como a prensa de Gutenberg, no qual surgiu a 1° grande cópia de um livro, a Bíblia. Até chegar na tecnologia digital dos primeiros computadores, como os criados pela IBM. A tecnologia, sendo um conjunto de métodos e técnicas, percorreu diversas áreas até chegar no que conhecemos hoje, no mundo digital, trazendo consigo inúmeros ônus e bônus. Traremos a seguir uma reflexão sobre a série de contos de ficção científica “Black Mirror”, da Netflix, serviço online de streaming, que reflete e demonstra como a tecnologia tem seu lado sombrio em meio a toda beleza de suas benesses. “Black Mirror” mostra uma realidade futura não tão distante do hoje no qual vivemos, a série apresenta diversas ferramentas tecnológicas que poderiam ser imprescindíveis ao nosso dia-a-dia e um “catapultador” dos afazeres humanos, seja no âmbito pessoal ou pessoal das corporações e organizações. Traremos um aspecto positivo na inclusão da tecnologia na gestão pública. É o que pode-se ver e refletir a partir da observação do terceiro episódio da primeira temporada intitulado “The Entire History of You” (Toda a sua História, em tradução livre). Nele, vemos o casal Liam e Ffion juntos de sua pequena filha, com não mais de um ano de idade. Nas cenas seguintes é mostrado o casal em uma reunião de amigos, onde o personagem masculino acaba desconfiando que um dos convidados tem interesse em sua esposa, e a partir disso começa uma análise dele a partir dos comportamentos de sua esposa e do possível affair, até chegar na paranóia. Essa seria mais uma comum história de ciúmes doentios, se não fosse pela premissa de existir dispositivos eletrônicos denominados “Grain”, que são um tipo de HD, inserido sob a pele atrás da orelha que se conecta ao cérebro, permitindo que todos os momentos vividos sejam gravados em tempo real. Como em um software de vídeo, nele você pode rever cenas desde o momento que você teve esse dispositivo de armazenamento acoplado em seu corpo, podendo também rebobinar, dar zoom, acelerar, ver em câmera lenta, fazer leitura labial, dentre outras funcionalidades. Tudo isso através da captação de imagens pelos olhos. Isso não é muito diferente do que temos nas milhares de câmeras espalhadas pelos centros urbanos, filmando e detectando cada passo de indivíduos que se atrevem a passar em seu campo de visão. Mas e se isso fosse realmente possível em humanos? Qual seria o impacto na gestão pública? Podemos refletir sobre isso a partir dessa funcionalidade demonstrada em “Black Mirror”. O impacto dessa tecnologia na gestão pública em um primeiro momento é de total benefício, podemos refletir em como pode-se melhorar a segurança pública a partir dessa tecnologia ao pensar em situações que envolvem policiais e abordagens de civis nas ruas, o quanto protegeria o cidadão de possíveis abordagens errôneas que levassem a algum abuso de autoridade e o próprio policial, onde poderia se resguardar e provar sua conduta em algum possível processo administrativo ou civil. Temos também outro exemplo de facilidade no reconhecimento de vítimas de assalto, onde a vítima poderia usar de sua memória visual acoplada no cérebro para reconhecer o criminoso, onde a inteligência artificial do governo iria reunir todas as informações no banco de dados para se chegar ao indivíduo. E também vítimas de agressão doméstica, onde o dispositivo gravaria os momentos terríveis em que a pessoa sofreu o abuso de seu companheiro. Isso levaria ao uso dessas imagens nos processos de investigação pelo Ministério Público, por exemplo, e posteriormente a questões judiciais, usando como prova à frente do juiz para se ter a sentença devida. Há inúmeros exemplos que pode-se aplicar à gestão pública no que tange o usufruto dessa tecnologia. Pode-se argumentar também na questão da verificação dos benefícios autorizados pelo INSS, onde haveria a etapa de checagem se o contribuinte realmente tem direito ao benefício por invalidez, por exemplo, e evitando, assim, muitos casos de fraude. E indo mais adiante, pode-se citar a economia com com aparelhos tecnológicos físicos em todas as repartições públicas, a própria população seria parte disso. Como na década de 60, muito à frente do seu tempo e da internet, o visionário teórico da Escola de Toronto Marshall McLuhan falara, os meios tecnológicos são uma extensão do corpo humano, ampliando suas capacidades, ou até dos próprios sistemas e instrumentos criados pelo homem. A roda é uma extensão das pernas, a roupa uma extensão da pele, e indo além, o indivíduo seria extensão da própria tecnologia, trazendo consigo essa possibilidade de armazenamento e compartilhamento de tudo que sua visão fora capaz de captar. Com isso, pode-se perceber que olhando a partir do aspecto positivo da tecnologia apresentada na série “Black Mirror”, diferente do episódio apresentado, onde o protagonista torna-se paranoico com a ideia de sua esposa estar traindo-o com outro rapaz, e a partir dessa tecnologia realmente confirmar a traição, podemos ter benefícios realmente concretos para o desenvolvimento da sociedade em si. Trazendo mais segurança, mais confiabilidade das relações entre a população e o governo, mais variedade de descobrimento de oportunidades de melhoria por parte das organizações governamentais. Obviamente, tudo isso respeitando os preceitos da privacidade, individualidade dos cidadãos e da dignidade da pessoa humana. Fazendo a quebra dessa privacidade da armazenagem da visão do indivíduo do mesmo modo que é feita a quebra de um extrato bancário ou de registros telefônicos, sempre amparado por questões legais e de interesse do processo que está tramitando. Trazendo mais possibilidades para o bem estar social, da segurança pública e do desenvolvimento da humanidade, e, principalmente, dando continuidade ao processo de avanço da tecnologia que se iniciou lá atrás, como inicialmente dito, onde o bater de duas pedras criava uma faísca que, ao cair em folhas de árvore e gravetos, se desdobrava no elemento fogo.
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