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97 Manual Guia de Estudos EAD UNIGRANET - 2018 Pós Graduação a Distância MBA EM GESTÃO DE COOPERATIVAS 1º Semestre FUNDAMENTOS DO COOPERATIVISMO 97 Pós - Graduação a Distância FUNDAMENTOS DO COOPERATIVISMO Professor Luiz Adriano Melo 97 Apresentação do docente Luiz Adriano Melo é graduado em Direito pela UNIGRAN 2007, MBA em Gestão de Cooperativas (FUNDACE/USP- 2015), Corretor de Imóveis e Perito Judicial, Consultor de Cooperativas e Sócio fundador da COOPERSUL (Cooperativa de Apoio aos transportadores Rodoviários de Mato Grosso do Sul) . 97 Sumário: Apresentação do docente Conversa inicial Aula 01 Fundamentos do cooperativismo Aula 02 Noções gerais sobre forma cooperativa, aspectos sócio-históricos e Evolução histórica da legislação cooperativista no Brasil Aula 03 Caracterização das estruturas de representatividade dos ramos do cooperativismo Aula 04 Principiologia, Definição, Natureza Jurídica Das Cooperativas, Objeto E Classificação Das Sociedades Cooperativas. Referências 97 Conversa inicial Olá estimados Pós Graduandos em MBA em Gestão de Cooperativas na UNIGRAN Net, é uma satisfação imensa ser o mediador (professor) dessa disciplina de Fundamentos do Cooperativismo, Tenho Certeza que ao final de cada aula alguma coisa será acrescentar a você, seja no campo profissional ou pessoal. Para que seu estudo se torne proveitoso e prazeroso, esta disciplina foi organizada em 06 aulas, com temas e sub-temas que, por sua vez, são subdivididos em seções (tópicos), atendendo aos objetivos do processo de ensino-aprendizagem. Não há como se pensar em um movimento tão amplo como o do Cooperativismo - que envolve qualquer atividade econômica possível - sem organizá-lo em modalidades que demonstrem as especificidades das diversas estruturas que constituem as cooperativas. Princípios básicos são comuns a toda e qualquer forma de Cooperativa, mas, por vezes, o sentido da prestação de serviços que cada ramo de cooperativa promove para os respectivos associados pode ser diverso. Exemplo disso é a diferença entre cooperativas de consumo e cooperativas de produção. Enquanto as primeiras promovem uma prestação de serviços de compra em comum – e este é o ato tido em cooperação – as segundas vendem em comum, sendo-lhes peculiar não a união de esforços para comprar, mas sim, para vender melhor. Em ambos os ramos, busca-se a ausência do lucro do terceiro que explora os interesses de compra e venda, mas, em razão das peculiaridades de cada um deles, há um sentido, um norte, para a prestação de serviços. Enfim, inúmeras são as possibilidades de estruturação do cooperativismo e, por isso, é fundamental que se avalie ramo a ramo de maneira sistematizada, para que seja possível, melhor e acertadamente, aplicar os conceitos comuns a todo o Movimento Cooperativista. Esperamos que você sinta-se entusiasmado por este tema. Saudações cooperativistas! Professor Luiz Adrian Melo Boa leitura! 97 AULA 01 FUNDAMENTOS DO COOPERATIVISMO Para a análise e o estudo do Fundamento do Cooperativismo, é necessário que você desenvolva um entendimento do espírito cooperativista, reconhecer o papel e a importância do Cooperativismo e quais são os fatores de identificação da peculiar forma cooperativa. E é essa a proposta da presente unidade: promover o conhecimento de uma sociedade cooperativa, que são os conceitos que garantem a Identidade Cooperativa. Assim, as seções de estudo a seguir ordenam a lógica da cooperação tida em uma comunidade e que se materializa na cooperativa. Vamos analisar desde a necessidade da união que leva à cooperação, até o espírito da cooperação que garante a ordem estrutural dessa sociedade. Com essa análise, abraçamos a identificação das razões que levam à cooperação e às cooperativas. Dessa forma, quando do estudo dos Ramos especificamente, você terá subsídios suficientes para entender com exatidão quais são as características que permeiam cada especialidade cooperativa. Boa Aula ! 97 . Objetivos de aprendizagem Entender o que são como e por que se organizam as sociedades cooperativas; Reconhecer o papel e a importância do Cooperativismo; Distinguir os objetivos sociais de uma Cooperativa. Seções de estudo Seção 1 O espírito cooperativista Seção 2 A cooperação: forma e estrutura cooperativa Seção 3 A cooperativa Seção 4 Os objetivos sociais Seção 5 O estado de cooperação e a estrutura cooperativa Seção 1 – O espírito cooperativista O espírito cooperativista é um conjunto de sentimentos de amor ao próximo, um comprometimento coletivo e solidário, em que a responsabilidade está intimamente ligada a este comprometimento com o grupo e à necessidade de união para prosperar. Cattani relaciona a utopia da seguinte forma: a liberdade criadora que busca a emancipação social se manifesta na luta contra os dogmatismos, messianismos e determinismos estruturais, contra a servidão e violência, enfim, contra o domínio das minorias reacionárias o tutelares (CATTANI, 2004, p. 347). Historicamente, este espírito já se encontrava presente em antigas civilizações, como a dos Incas, Mapuches e Guaranis. Sobre as Reduções criadas pelas Missões Jesuítas, vale lembrar que os povos Guaranis possuíam um espírito ainda mais cooperativo do que os jesuítas com suas propostas. O trabalho coletivo era uma instituição e não se pensava no trabalho limitado somente da família, como era a proposta dos Missioneiros que vieram da Europa. Com a Revolução Industrial, iniciada na Inglaterra no Século XVIII, o espírito cooperativista ressurge com os ideais utópicos de Robert Owen (1771 – 1858) e Charles Fourier (1772 –1837). 97 O espírito cooperativista vem em contraposição ao Espírito do Capitalismo descrito por Marx Weber (1985). Weber explica que o espírito do capitalismo compreende a geração de dinheiro como objetivo final, “o homem é dominado pela geração de dinheiro, pela aquisição como propósito final da vida” (WEBER, 1985, p. 21). Quando Weber diz que “a aquisição econômica não mais está subordinada ao homem como um meio para a satisfação de suas necessidades materiais” (1985, p. 21), ele quer dizer que o homem está submetido à exploração do capital, e a necessidade de reprodução de suas vidas não vale tanto quanto a valorização do dinheiro; considerando que o contrário seria irracional. Outra questão defendida é a do trabalho, na qual é discutida a questão da geração de lucro. Fundamentado neste espírito do capitalismo, o lucro significa a parcela do trabalho que não é paga pelo capitalista, de acordo com Marx em sua obra O Capital (1996). Isto significa que o empresário tem lucro porque ele não paga tudo que o trabalhador produz. Esta teoria desenvolvida por Marx vem ao encontro do que Weber defende: “um excesso de mão de obra que possa ser empregada a baixo preço no mercado de trabalho é uma necessidade para o desenvolvimento do capitalismo”. (WEBER, 1985, p. 24). Bom, sabemos que lucro é uma coisa, sobra é outra. Cooperativa não tem lucro, tem sobra. Sobra possui um significado diferente, em que se realiza uma remuneração proporcional ao trabalho realizado. Com isso, não resta lucro no final das contas. Voltando ao espírito cooperativista, Donida (2004, p.119) explica que possuir espírito cooperativista não deve significar um Sentimento de renúncia: É fundamental saber harmonizar conflitos desta ordem e ter claro até aonde chega, ou deve chegar, o espírito de cooperação e de solidariedade, e quando este deixa de ser um referencial a sustentar. Benecker (1980) ensina que a solidariedade cooperativa deve ser racional. Com isso, entende-se que as vantagens da união associativa devem sobressair aos efeitos negativos das divergências entre interesses e objetivos pessoais e os que prevaleçam para o conjunto dos associados. O resultado global de pertencer à associação deve ser vantajoso para cada associado e não uma permanente necessidade de renúncia. (Tradução nossa). 97Precisamos, ainda, fazer uma diferenciação entre espírito cooperativista, explicado anteriormente, e os princípios cooperativistas. Em sua definição, os princípios cooperativistas são linhas orientadoras que as cooperativas seguem de forma a levar os seus valores à prática. Os princípios do cooperativismo são sete: 1º - Adesão voluntária e livre. 2º - Gestão democrática. 3º - Participação econômica dos membros. 4º - Autonomia e independência. 5º - Educação, formação e informação. 6º - Intercooperação. 7º - Interesse pela comunidade. O conceito de responsabilidade social é relativamente novo para a maioria das empresas. Entretanto, para as cooperativas, esse conceito advém dos princípios e valores do cooperativismo. A preocupação com a cidadania, com o meio ambiente, com o bem-estar social, com a educação, com a saúde, com a qualidade de vida dos associados, funcionários, comunidade, clientes, fornecedores e consumidores faz parte da cultura cooperativista. As cooperativas, por sua própria essência, são entidades solidárias, nas quais pessoas de um mesmo grupo social ou econômico se reúnem com a finalidade de ajuda mútua. O ato cooperativo, por natureza e vocação, visa ao benefício comum. No cooperativismo, a solidariedade é prática diária, e representa melhoria de perspectiva de vida e bem-estar para milhares de pessoas. Responsabilidade social, nesse contexto, é regra de conduta e hábito arraigado, praticado há décadas, muito antes de o termo ganhar a dimensão e o status que hoje recebe. O que é uma novidade nas empresas privadas, para as cooperativas é atividade comum. As cooperativas passam por momentos de grandes transformações, em função da globalização. Para crescerem diante de um mercado cada vez mais competitivo é preciso que invistam cada vez mais na profissionalização de seus negócios, no investimento em educação, na qualidade de seus produtos, na produtividade e na busca de novos mercados. E que continuem sempre desenvolvendo ações sociais consequentes, porque o cooperativismo é, primordialmente, apoio, solidariedade e amor. 97 O espírito de cooperação e de solidariedade sempre existiu na alma do homem. A ajuda mútua é encontrada nas diversas relações de trabalho coletivo, em várias épocas da vida, aproximando o trabalho com o exercício da cooperação e da solidariedade. As origens históricas do cooperativismo moderno têm como referência a sociedade inglesa do século XIX. Numa época em que o pensamento humano vivia sob a égide do mecanicismo, nascia o cooperativismo. O advento da era das máquinas modifica profundamente não só o pensamento humano, mas as relações de produção e consequentemente a divisão do trabalho, divisão esta que norteia o pensamento, reducionista, que influenciava todas as atividades humanas da época. O cooperativismo surgiu como um instrumento eficaz para a organização da sociedade, para a democracia dos investimentos, para a distribuição da renda, para a regularização do mercado, para a geração de empregos e a justiça social. O cooperativismo integra organizações de economia social, que, com objetivos baseados na solidariedade e na democracia, dão primazia às pessoas e ao trabalho sobre o capital na distribuição dos benefícios. A base da doutrina cooperativista é formada pelos valores e princípios juntos com as ideias gerais. Os valores têm caráter abrangente e perene no tempo, enquanto os princípios interpretam os valores e se adaptam ao tempo e ao lugar, fazendo ponte entre a teoria e a prática cooperativista, transformando ideias em ações. Incluem-se entre as ideias gerais do cooperativismo: modificação pacífica e gradativa do meio econômico social, prestação de serviços, substituição da concorrência pela cooperação como gerador de negócios, eliminação do salariado, eliminação do lucro, obtenção do “justo preço”, transação das cooperativas somente com os cooperados, constituição de um patrimônio cooperativo indivisível (propriedade cooperativa). Os valores básicos do cooperativismo são: solidariedade, equidade, justiça social, liberdade e democracia. Acompanhe a seguir o entendimento sobre cada um desses valores. 97 Solidariedade é a base do cooperativismo, pois empreendimentos em comum exigem pessoas solidárias, dispostas a estabelecer vínculos entre si, baseados no apoio mútuo, no sentido recíproco da união e de responsabilidades. Quem pratica a solidariedade o faz como um fim e não como um meio. Equidade é o valor que está na alma do cooperativismo, pois não se pode dizer que há cooperação se não houver equidade. No cooperativismo devem existir deveres e direitos gerais e iguais para todos. Deve existir distribuição proporcional à participação de cada cooperado. No cooperativismo, cada cooperado deve receber assistência de acordo com suas necessidades. Justiça social é outro valor do cooperativismo, relacionado à promoção das pessoas, para levar a estes benefícios econômicos, educacionais e culturais, para que tenham uma melhor qualidade de vida, com oportunidades de trabalho e de realização pessoal. Um cooperado tem as mesmas obrigações que todos os outros, sempre desempenhando as funções que lhe forem designadas. Liberdade é usar à vontade, em oposição aos instintos, aos impulsos e às iniciativas elementares para fazer o que é correto, o que ético. Democracia é o valor que significa participação em todas as reuniões, o direito de opinião, a oportunidade do exercício das funções diretivas, o respeito ao direito das pessoas, ainda que divergentes, o direito ao voto. Acima de tudo, democracia pressupõe a manifestação da vontade coletiva. Democracia e voto têm uma ligação íntima, pois o voto é um instrumento de tomada de decisões e, portanto, é o meio pelo qual a democracia é posta em prática. Os princípios do cooperativismo interpretam os valores e se adaptam ao tempo e ao lugar, fazendo ponte entre a teoria e a prática cooperativista, transformando ideias em ação. 97 Seção 2 – A cooperação: forma e estrutura cooperativa Ato Cooperativo A cooperativa, como empreendimento econômico comum, desenvolve as suas atividades em dois sentidos: internamente, operando com os sócios, e externamente, negociando com terceiros, no mercado. Denominam-se atos cooperativos os praticados entre a cooperativa e seus associados, entre seus associados e a cooperativa e pelas cooperativas entre si quando associados, para consecução dos objetivos sociais, nos termos do art. 79 da Lei 5.764/71. (BRASIL, 1971). O legislador de 1971 conceituou ato cooperativo, e deste conceito legal se depreendem os seguintes elementos: 1. Cooperativa; 2. Associado ou cooperado; 3. Objetivo social. Estes três elementos são imprescindíveis para a concretização e classificação do ato cooperativo e precisam estar presentes na sua totalidade, pois, caso falhe algum elemento ou não se concretize inteiramente sua natureza jurídica, não haverá ato cooperativo perfeito. Acompanhe-os nas próximas seções. Ato cooperativo é um só, e como tal se manifesta definido pelo artigo 79 da Lei 5.764/71: Art. 79. Denominam-se atos cooperativos os praticados entre as cooperativas e seus associados, entre estes e aquelas e pelas cooperativas entre si quando associados, para a consecução dos objetivos sociais. (BRASIL, 1971). O artigo 79 traz elementos que precisam ser examinados e confrontados com os artigos 3º, 4º e 5º da lei cooperativista, independentemente do ramo a que pertença a cooperativa. 97 O exame do ato cooperativo do ramo agropecuário, saúde, crédito ou qualquer outro, não é senão a tradução fiel e adequada da prestação de serviços ao sócio cooperado, condição que o fez participar da sociedade. O ato cooperativo não implica operação de mercado, nem contrato de compra e venda de produto ou mercadoria, segundo o parágrafo único do mesmo artigo. As características dos atos cooperativos estão relacionadas com as atividades de cada ramo. Desse modo, falaremos de “atos cooperativosde fornecimento”, nas cooperativas de consumo; de “atos cooperativos de cessão de uso de unidades de moradia”, nas cooperativas habitacionais; de “atos cooperativos de trabalho”, nas cooperativas de trabalho; de “atos cooperativos de empréstimos aos associados”, nas cooperativas de crédito, e assim por diante. Assim, podemos citar como exemplos de atos cooperativos a entrega de produtos dos associados à cooperativa para beneficiamento, armazenamento e industrialização e comercialização, bem como o repasse aos associados dos valores, pela cooperativa, decorrentes dessa comercialização, nas cooperativas agropecuárias. Portanto, é preciso analisar o ato em relação aos liames societários determinados nos objetivos das cooperativas, verificando a sua estreita vinculação entre a operação da cooperativa e o seu destinatário. Atos não cooperativos ` Os atos não cooperativos são os praticados com terceiros nãoassociados. São exemplos, dentre outros, os seguintes, contidos na Lei 5.764/71 (BRASIL, 1971): No Art. 85: a comercialização ou industrialização, pelas cooperativas agropecuárias ou de pesca, de produtos adquiridos de não associados, agricultores, pecuaristas ou pescadores, para completar lotes destinados ao cumprimento de contratos ou para suprir capacidade ociosa de suas instalações industriais; No Art. 86: o fornecimento de bens ou serviços a não associados. Tal faculdade deve atender aos objetivos sociais e 97 estar em conformidade com a lei, como nas cooperativas de consumo abertas; No Art. 88: participação das cooperativas em sociedades não cooperativas, públicas ou privadas, para atendimento de objetivos acessórios ou complementares, mediante prévia e expressa autorização concedidas pelo respectivo órgão federal. Outros casos relacionados aos atos não cooperativos são os referentes às aplicações financeiras e à contratação de bens e serviços de terceiros não associados praticados por todos os ramos do cooperativismo. O art. 87 da Lei 5.764/71 estabelece que: as sociedades cooperativas devem contabilizar em separado os resultados das operações com não- associados, de forma a permitir o cálculo de tributos. A Medida Provisória 1.858-9 (BRASIL, 1999), em seu art. 15, § 2o, dispõe que os valores excluídos da base de cálculo do PIS e da Cofins, relativos às operações com os associados, deverão ser contabilizados destacadamente, pela cooperativa, e comprovados mediante documentação hábil e idônea, com identificação do adquirente, do valor da operação, da espécie de bem ou mercadoria e quantidades vendidas. Leis e planos de leis de incentivo ao cooperativismo foram promulgados pelo Governo Federal e nas seguintes Unidades de Federação: Lei 11.995/03 no estado do Rio Grande do Sul; Lei 1.598/04 no estado do Acre; Lei 15.075/04 no estado de Minas Gerais; Lei 2.830/04 no estado do Mato Grosso do Sul; Lei 15.109/05 no estado de Goiás; Lei 12.226/06 no estado de São Paulo; Projeto de Lei 1.694/2005 no Distrito Federal; Lei 10.666 do Governo Federal. Estrutura Lei 5.764/71 Art. 3º. Celebram contrato de sociedade cooperativa as pessoas que reciprocamente se obrigam a contribuir com bens ou serviços para o exercício de uma atividade econômica, de proveito comum, sem objetivo de lucro. 97 Art. 4º. As cooperativas são sociedades de pessoas, com forma e natureza jurídica próprias, de natureza civil, não sujeitas à falência, constituídas para prestar serviços aos associados, distinguindo-se das demais sociedades pelas seguintes características: [...]. Art. 5º. As sociedades cooperativas poderão adotar por objeto qualquer gênero de serviço, operações ou atividade, assegurando - lhes o direito exclusivo e exigindo- lhes a obrigação do uso da expressão “cooperativa” em sua denominação. (BRASIL, 1971). O termo ramo (SILVA, 1987) designa divisão, classificação, e se encontra no corpo da lei cooperativista, artigo 105 e suas alíneas: Art. 105: A representação do sistema cooperativista nacional cabe à organização das Cooperativas Brasileiras - OCB, sociedade civil, com sede na Capital Federal, órgão técnico-consultivo do Governo, estruturada nos termos desta Lei, sem finalidade lucrativa, competindo lhe precipuamente: [...] b)- integrar todos os ramos das atividades cooperativistas. (BRASIL, 1971). Essa divisão em ramos cooperativistas é um ato conceitual, explicativo e eminentemente doutrinário, para conceituar, na verdade, o objeto das sociedades cooperativas. De acordo com o art. 5º da lei 5.764 (BRASIL, 1971), objeto diz respeito à manifestação da prestação de serviços. Esta forma de divisão nada mais é do que o esclarecimento, na prática, do desenvolvimento de seu único objetivo – a prestação de serviços ao associado (conforme art. 4º e 5º). As sociedades cooperativas possuem objetivo e objeto, sendo o primeiro, conforme dispõe o artigo 4º, a prestação direta dos serviços aos seus sócios cooperados e o segundo, o conjunto de operações que concretizarão tal prestação de serviços, ou seja, operações revestidas de serventia econômica do grupo que constituiu e pertence à sociedade. Utilizando os artigos considerados “estruturais” da lei cooperativista, chega-se à ideia de que para existir uma cooperativa no Brasil, são necessários três elementos: 97 1. um grupo de pessoas; 2. uma dificuldade econômica comum a ser vencida; 3. a solução/facilitação desta dificuldade na cooperativa. Por grupo, tem-se, imediatamente, a ideia de conjunto de pessoas delimitadas no presente caso do artigo 3º – aquelas que se obrigam a contribuir com bens ou serviços para o exercício de uma atividade econômica, de proveito comum, isto é, não dirigido apenas a parte do grupo. A pessoa, ao ingressar na cooperativa, já analisou e concluiu que a pessoa jurídica da sociedade lhe será útil, ante suas expectativas no campo econômico. A isto se chama delimitação do grupo, ou seja, conjunto de pessoas que possuem dificuldade econômica e cuja máquina/estrutura criada lhes facilitará economicamente a vida, de modo que possam contribuir com bens ou serviços para o proveito comum. Desta forma, um grupo de agricultores com dificuldade na sua atividade econômica de produtores rurais e que decide constituir uma sociedade que lhe preste serviços dentro desta atividade econômica é o elemento necessário à conceituação do tipo societário cooperativa, do ramo agropecuário; da mesma maneira, os médicos se reúnem em torno de uma sociedade cooperativa criada por eles para lhes facilitar a sua atividade econômica, classificada de sociedade cooperativa do ramo saúde, e assim por diante, nos treze ramos conhecidos e conceituados pela Organização das Cooperativas Brasileiras – OCB. No Brasil, as sociedades cooperativas são regidas pela Lei Federal 5.764/71 e têm suas estruturas estabelecidas por ela. No entanto, o Presidente Fernando Henrique Cardoso aprovou a Lei 9.867 (BRASIL, 1999) que cria as Cooperativas Sociais e regula o seu funcionamento. Os artigos 3º, 4º e 5º são considerados estruturais pois delimitam e constituem o conceito de sociedade cooperativa. Acrescente-se agora o artigo 1.094 do Código Civil de 2002. (BRASIL, 2002). 97 Este ato contribuiu com o desenvolvimento de novos segmentos econômicos como a economia solidária, movimento social que se preocupa também com o público a que se destina a Lei 9.867/99: I – os deficientes físicos e sensoriais; II – os deficientes psíquicos e mentais, as pessoas dependentes de acompanhamento psiquiátrico permanente, e os egressos de hospitais psiquiátricos; III – os dependentes químicos; IV – os egressos de prisões; V – vetado; VI – os condenados a penas alternativas à detenção; VII – os adolescentes em idade adequada ao trabalho, e situação familiar difícil do ponto de vista econômico, social ou afetivo. (BRASIL, 1999). De acordo com a UNISOL BRASIL (2009), “as cooperativas sociais são empreendimentos que têm como objetivo principal a melhoria da vida daspessoas em dificuldades permanentes ou temporárias”. O único objetivo de existência da cooperativa, segundo o artigo 4º, é a prestação de serviços aos seus donos, o conjunto de sócios cooperados. A maneira pela qual se dará tal prestação é a base para conceituação do ramo a qual pertencerá à cooperativa. Assim entendidos os sócios cooperados, com capital empregado na sociedade e responsabilidade perante terceiros. Neste caso, a prestação de serviços resultará na prática de operações que facilitem ou auxiliem o exercício da atividade econômica do sócio cooperado, como determina o artigo 4º da Lei 5.764/71, que se realizará nos limites da atividade agropecuária. Este conjunto de operações deverá estar elencado no Estatuto Social da Sociedade Cooperativa por força do comando do artigo 21, I, da lei cooperativista de 1971. Art. 21. O estatuto da cooperativa, além de atender ao disposto no Artigo 4º, deverá indicar: I - a 97 denominação, sede, prazo de duração, área de ação, objeto da sociedade, fixação do exercício social e da data do levantamento do balanço geral; [...]. (BRASIL, 1971). Seção 3 - A cooperativa Por cooperativa entende-se a pessoa jurídica delimitada pelo capítulo VII do Código Civil de 2002 e pela Lei 5.764/71, principalmente pelos artigos 1.094, 3º, 4º e seus incisos e V. A totalidade das normas da Lei 5.764/71 deve estar respeitada e cumprida para assim ser considerada sociedade cooperativa. O associado “Associado”, “cooperado” ou tecnicamente “sócio cooperado” são vocábulos que designam, na verdade, o dono da sociedade cooperativa e, portanto, o detentor de parcela desta (cota parte), ou nos dizeres modernos, do Código Civil (BRASIL, 2002), “responsável de alguma forma pelo seu resultado”. Dessa forma, a pessoa que integrou a pessoa jurídica cooperativa, em busca da resolução ou facilitação de sua dificuldade econômica na cooperativa, será associado, nos termos do artigo 79. A doutrina e a legislação classificam a cooperativa como sendo uma sociedade de pessoas, e como tal, interessa o que poderíamos traduzir como o elemento classificador do grupo que constituiu a cooperativa e a que ela pertence. Para tanto, é necessário que a utilização da máquina/ empreendimento (sociedade cooperativa) pelo sócio cooperado aconteça para a minoração da sua dificuldade econômica. Neste sentido, não cabe a existência do chamado sócio cooperado inativo, ou aquele sócio suspenso das atividades ou mesmo aquele tido como sócio infiel. (Diz-se associado ou sócio infiel aquele que desvia seus produtos e bens, entregando-os a um ente estranho à sociedade, fato que concorre economicamente com a sociedade cooperativa e tira-lhe a força). 97 A característica de sócio cooperado é provada e comprovada, sempre e dinamicamente, a cada operação da cooperativa. É necessária a identificação de que a razão para a prática de tal ato/operação seja o sócio cooperado. O conceito de cooperado passa, portanto, por vários elementos caracterizadores e confirmadores, todos imprescindíveis. Para ser considerada sócio cooperado, a pessoa deve, em primeiro lugar, pertencer ao grupo delimitado, como já salientado, ou seja, apresentar a característica de ser parte do grupo cuja dificuldade econômica seja comum e que a “atuação/atividade” da cooperativa a atenda, fazendo com que ao utilizar o “instrumento sociedade cooperativa”, tenha facilitação desta dificuldade. Deve ainda se observar o contido no artigo 3º da lei cooperativista, isto é, a prática da contribuição de bens ou serviços para uma atividade econômica de proveito comum que significa: praticar operações com a cooperativa. Isto implica operar com a cooperativa, participar de suas operações, exercitando a segunda e terceira características doutrinárias atribuídas ao sócio cooperado – ser usuário e fornecedor da cooperativa. Não basta a característica do sócio cooperado dono, é necessário que também estejam presentes as características de sócio cooperado usuário e sócio cooperado fornecedor. Ser dono da cooperativa significa ter responsabilidade pelos seus atos, participar de suas deliberações e possuir uma parcela desta sociedade através de uma cota parte integralizada, pelo menos. Ser fornecedor é exercitar o artigo 3º da lei cooperativista, ou seja, entregar seu bem ou produto na cooperativa para que esta possa lhe prestar serviços e, portanto, fazer com que o associado seja um usuário. Ser usuário é utilizar-se do empreendimento que se constituiu. As três características se inter-relacionam de maneira tão intrínseca e tão indissociável que é difícil tratar de cada uma delas separadamente. O fato de ser dono de um empreendimento pressupõe interesse e engajamento; ser dono e usuário aumenta ainda mais o nível de interesse no sucesso do empreendimento, pois a pessoa que constitui uma sociedade da qual será usuária só pode perseguir e objetivar o sucesso. Seção 4 – Os objetivos sociais 97 O conceito de “objetivo social” é dado pelo sócio cooperado. Sua amplitude obedece à necessidade econômica do grupo que constituiu e que pertence à sociedade. Quando o grupo se reuniu no momento que antecedeu à constituição da sociedade cooperativa, elencou quais os atos necessários para a prestabilidade da sociedade e que imprescindivelmente deveriam ser desenvolvidos por ela. A sociedade só foi criada e só existe se atender as necessidades do corpo de sócios cooperados. Este conjunto de atos e operações praticados pela cooperativa com este escopo chama-se de objetivo social, e deve estar descrito e contido no corpo do Estatuto Social, segundo o artigo 21, inciso I, da Lei 5.764. (BRASIL, 1971). O objetivo social confunde-se com o motivo que identifica o grupo que constituiu a cooperativa. Poderia até se apontar que o objetivo social é a tradução em atos do que a cooperativa fará para auxiliar o sócio cooperado a resolver ou minorar a dificuldade econômica comum ao grupo, motivo que o fez unir-se em torno de uma estrutura que lhe pudesse auxiliar e mais: motivo que fez com que o grupo constituísse a cooperativa. A mesma explicação se aplica aos sócios cooperados que ingressam na sociedade depois de esta já estar constituída. A condição que os fez cooperar é a tradução de que o desenrolar do objetivo social lhes atende e os faz ingressar e permanecer na sociedade. Os objetivos sociais da cooperativa são as ações que a cooperativa se propõe a tomar para resolver a dificuldade econômica que o grupo possui. Na prática, o interesse do associado em pertencer à cooperativa só existe e se mantém se houver efetivamente operações que atendam a tal interesse, isto é, o sentimento de saciedade do associado em relação à cooperativa só ocorre com a prática de atos, por parte desta, que exercitem a característica de usuário/ fornecedor – atos estes praticados em razão do seu escopo que se traduz no objetivo, ou seja, a prestação de serviços diretos ao sócio cooperado com a prática do objeto social, consistindo no conjunto de atos e operações razão da sua criação (vontade de saciedade do associado). Exemplo: A cooperativa fictícia chamada COOPERDETAL possui no seu estatuto o seguinte objetivo social: 97 CAPÍTULO V - DOS OBJETIVOS SOCIAIS. Art. 1º. – O objetivo social da cooperativa é a prestação direta de serviços aos seus cooperados na melhoria econômica e social, na orientação e na organização das atividades de prestação de serviços, as quais serão executadas pelos seus cooperados, buscando promover o acesso destes ao mercado de trabalho pela integração de suas competências. O objeto social Comumente há a referência aos objetivos sociais quando se está tratando do objeto social. Mas é primordial que sejam diferenciados, uma vez que os objetivos são as pretensões comuns aos associados, ou seja, os elementos que constituem os anseios de melhoria das respectivas condições de vida. Já quanto ao objeto social, deve-se destacar, trata-se da atividadeeconômica eleita pelo grupo constituinte da cooperativa. Nesse sentido, tem- se o crédito nas cooperativas de crédito, a produção agropecuária na cooperativa constituída por produtores rurais, o transporte na cooperativa de transportes, e assim por diante. Tal reflexão é primordial, uma vez que, na classificação aplicada às diversas estruturas de cooperativas, será o objeto social o caracterizador da diferenciação e enquadramento. Exemplo A mesma cooperativa fictícia COOPERDETAL possui no seu estatuto o seguinte objeto social: CAPÍTULO IV - DO OBJETO SOCIAL. 97 Art. 1º - A Cooperativa terá como objeto social a: a) realização de projetos, espetáculos, manifestações e ações culturais, cursos, palestras, seminários, aulas, treinamento, oficinas, “workshops”, “shows” executados pelos cooperados em caráter permanente ou temporário, independente ou junto às instituições públicas e/ou privadas; b) a produção e/ou construção de infraestrutura necessária para a produção, criação, edição e comercialização de obras de arte construídas ou empreendidas pelos cooperados. Seção 5 – O estado de cooperação e a estrutura cooperativa Para iniciar a trajetória pela estrutura cooperativa, vamos conhecer um pouco a lição do Padre Don José Maria Arizmendiarreta,( Fundador e dinamizador da denominada Experiência Cooperativa de Mondragón, cidade espanhola (País Basco) onde hoje está sediada a Mondragón Corporación Cooperativa – MCC, uma das referências mundiais do cooperativismo) que conceituou essa modalidade de sociedade da seguinte forma: la empresa cooperativa es un organismo vivo; es uma sociedad de personas en una comunidad, cuyo soporte es la solidaridad, y la conciencia de esta solidaridad es La fuerza impulsora en la que debemos confiar. (IRION, 1997, p. 182). Com base no entendimento de Arizmendiarrieta (1997), podemos afirmar que a estrutura cooperativa é um organismo vivo, pois somente existe se há o senso de comunidade e vida comum dos associados que a constituem. Aliás, extrapola a mera associação para fins de exploração de atividade econômica, pois também está sediada na solidariedade comum aos integrantes dessa instituição. Tal solidariedade cria vínculo associativo diferenciado, uma vez que apenas com base na força comum dos associados é que uma sociedade pode 97 existir. As ações pessoais de cada associado são as ações da cooperativa, mesmo porque servir o associado, que ao mesmo tempo é o proprietário e o tomador de serviços da instituição, é o meio pelo qual a sociedade pode alcançar o fim para o qual foi constituída. Sem as ações pessoais de cada associado, a sociedade não pode prestar os serviços para os quais foi criada. Como exemplo, em uma cooperativa de crédito, é inimaginável a concessão de empréstimos se não houver captação de recursos dos próprios associados. Enquanto uns contribuem com a aplicação de recursos, outros os tomam, mas isso durante certo lapso de tempo, pois, em vista do permanente estado de cooperação, as figuras se alternam. Logo, a responsabilidade de cada associado cooperativista vai além da própria associação ou da mediata relação que mantém com a sociedade que compõe, vez que está inserido em uma comunidade onde as figuras alternam-se paulatinamente e, em diversas ocasiões, ocorrem simultaneamente. Portanto, a análise das relações cooperativistas sem o foco amplo, sediado na própria estrutura cooperativa, é desrespeito à peculiar affectio societatis cooperativa. Em se consagrando o associado cooperativista apenas como proprietário, que, por meio dessa sociedade, busca o exercício de uma atividade econômica, tem-se perda do conceito de tomador de serviços da instituição, o que também lhe é devido. No caminho inverso, em se prestigiando apenas com a coroa de tomador de serviços, desrespeita-se sua atividade de empresa com caráter associativo a que ora buscou quando se admitiu na cooperativa. De um lado ou de outro, quando se analisa somente um deles, tem-se perdas e, em ambos os casos, somente para o associado. Ao se reportar ao conceito de cooperativa formulado pelo Congresso do Centenário da Aliança Cooperativa Internacional, o jurista argentino Dante Cracogna afirma trata-se de “uma simbiosis com uma asociación de personas para lograr objetivos de caráter económico, social y cultural”. (1985, p. 11). Da lição de Cracogna, nota-se que, na análise aplicada às relações cooperativistas, cabe a avaliação integral da própria cooperativa. Isso se dá pela constatação de que se está avaliando uma associação tão intrínseca que chega a ser simbiótica e, por que não dizer, viva. Logo, características 97 essenciais a conclusões racionais estão difundidas em um todo, tal como no funcionamento de um organismo humano, em que fatores de um determinado componente podem gerar consequências em outros e, em certos casos, até em todo o ser vivo. Dada essa condição vital unificada, as cooperativas são instituídas com base em princípios que orientam sua atuação. Tais princípios são únicos para as cooperativas e em virtude deles tem-se relações sociais não observadas em outras instituições comumente utilizadas para compará-las conceitualmente. Tais princípios, ainda, garantem uma forma de atuação econômica peculiar, uma vez que nas cooperativas não se busca o objetivo de lucro ou de proveito próprio da instituição, mas sim, como leciona Walmor Franke (1973, p. 23), “a promoção da defesa ou fomento da economia dos cooperados, mediante prestação de serviços”. Assim sendo, tem-se diferenciadores essenciais, em que a cooperativa é um meio, um instrumento, e que tem orientação em princípios formulados para que isso seja garantido. Como exemplo desses diferenciadores essenciais, podemos citar a prestação de serviços aos associados. A cooperativa somente existe pelos associados cooperativistas e quaisquer implicações negativas na análise das relações envolvidas poderão apenas trazer-lhes prejuízos – talvez nem mesmo identificados por eles próprios. Ainda em relação aos princípios cooperativistas, ensina o doutrinador do Direito Cooperativo Waldirio Bulgarelli (1988,p. 11) que cooperativa “trata-se de empresa cuja conformação e procedimentos estão influenciados pelos princípios doutrinários do sistema de que é instrumento”. Dentre os princípios cooperativistas, salientamos a adesão livre, que é consagrada expressamente na ordem jurídica brasileira, conforme artigo 29 da Lei 5.764 (BRASIL, 1971). Por ordem desse princípio, e no caso brasileiro por comando legal, qualquer pessoa que esteja abarcada na categoria de cooperativa que pretende se admitir tem o que se denomina portas abertas (Vale o registro de que, para Waldirio Bulgarelli, as portas abertas constituem-se em desdobramento do princípio da livre adesão. (1988, p. 13).). 97 Assim, o denominado “princípio das portas abertas” é mandamento ideológico do livre acesso, ou seja, tanto para ingressar quanto para se retirar. E isso é uma premissa básica do cooperativismo. Assim sendo, para se alcançar o status de associado cooperativista, o ingresso é livre, desde que a cooperativa tenha condições técnicas de lhe prestar serviços, vide art. 4°, inciso I, Lei 5.764 (BRASIL, 1971), e, uma vez associado cooperativista, se desejar demitir-se, tal medida não lhe será negada, conforme art. 32 da mesma Lei. A própria ideia de se ingressar ou se retirar por ato voluntário restringe conduta somente aos próprios associados cooperativistas que compõem a instituição. Aliás, essa liberdade de trânsito concede a qualquer indivíduo a possibilidade de escolher a sociedade cooperativa que mais tenha identificação com seus interesses pessoais. Quanto a esse entendimento, acompanhe o que afirma Gress (2003, p. 87): o princípio das portas abertas é, portanto, mais um desdobramento do direito à liberdade do ser humano, possibilitando ao cidadão a livre escolha em aderir ou não aderir à sociedade cooperativa e dela se retirar,conforme seu arbítrio, sempre respeitando os direitos oriundos das liberdades de seus iguais. À lição de Cátia Denise Gress, podemos acrescentar a consideração de que, uma vez dentro da sociedade cooperativa, caso o associado cooperativista não intente demitir-se, deve arcar com a responsabilidade inerente à associação, a fim de contribuir para a harmonia social cooperativa, não prejudicando o livre exercício de direitos dos demais associados – mesmo porque, nas palavras da citada autora, “todo indivíduo, como célula de uma sociedade, tem papel vital a desempenhar”. (2003, p. 87). Em conjugação com o princípio das portas abertas, outro princípio cooperativista, o da gestão democrática, merece consideração. Por meio desse princípio, estão as cooperativas adstritas ao mecanismo de administração aberta aos associados cooperativistas. Pondera Guilherme Krueger, em A disciplina das cooperativas no novo Código Civil– a ressalva da Lei 5.764/71, capítulo da obra coletiva Problemas Atuais do Direito Cooperativo, quando aborda a gestão democrática, que “a diretoria é o ponto de interseção entre a razão 97 comunicativa e a instrumental na cooperativa. Manifesta a primeira, tem fixados os seus limites, metas e diretrizes emanadas dos órgãos societários deliberativos, notadamente a Assembleia Geral”. (2003, p. 105). Em vista disso, confere-se ao associado cooperativista o poder de avaliar os negócios da cooperativa e de, inclusive, participar das decisões da sociedade, nelas influenciando diretamente. Logo, na conjugação com o livre acesso, o associado cooperativista tem liberdade para verificar se aquela instituição específica identifica-se com seus objetivos próprios. Em caso negativo, ainda lhe restam duas opções: A primeira, mais breve, é a de se demitir. Na segunda, a qual se entende a verdadeira affectiosocietatis cooperativa, há a possibilidade de mudar a realidade da cooperativa, uma vez que não necessita de detenção majoritária de capital para tanto, nem mesmo precisa ser integrante do quadro de administradores, bastando ao associado cooperativista interagir com a sociedade que lhe é própria, seja em assembleias gerais, em reuniões específicas, seja incentivando a mudança de administradores, ou ainda trazendo ideias para que a administração altere a linha ideológica e estratégica de atuação; enfim, cuidando com todo o esmero das obrigações que assumiu. Como você já leu, o associado cooperativista não é mero cliente ou mero proprietário, mas sim é a conjugação dessas duas figuras, inseridas no contexto de uma sociedade cujas decisões são o fruto da vontade dos indivíduos que as compõem, e isso cumulado às ações pessoais de cada indivíduo. Os associados cooperativistas formam, então, em conjunto voluntário, um organismo avivado por seus próprios atos individuais para com a instituição. Tais atos são responsabilidades pessoais de cada um deles, vez que, caso não evidenciados ou cumpridos, podem implicar a perda do fôlego de vida da cooperativa ou a perda da relação societária, prejudicando sobremaneira a comunidade que pretenderam construir. 97 Enfim, tem-se que o conceito cooperativo, assim como o da responsabilidade cooperativa, como você verá nas próximas unidades, transcende às próprias relações cooperativistas tidas pelos associados e respectivas cooperativas. Não se trata de uma ordem estrutural apenas, seja em composição societária, seja em categorização econômica, mas sim de uma união viva com nuances diversas que extrapolam os mundos constituídos por relações individuais. Assim sendo, para que se possam aferir responsabilidades, tem- se que compreender o organismo e sua vida, em estado permanente que, no presente caso, está sediado na cooperação. RETOMANDO A CONVERSA INICIAL (síntese da aula). As sociedades cooperativas formam-se a partir da consciência de grupo de pessoas que têm alguma necessidade comum. Nesse sentido, constituem uma sociedade marcada por princípios de mutualidade, que lhes garante a possibilidade de melhoria nas respectivas condições econômicas, com base em uma estrutura única voltada ao compartilhamento de custos. Essas sociedades detêm objetivo único, e isso é comum a qualquer Ramo, qual seja, se prestam para prestar serviços aos associados, possibilitando-lhes a melhoria das respectivas condições pessoais. Não se pode confundir esse objetivo comum (que é o fim da cooperativa) com o objeto econômico que o seu grupo constituinte. Tendo como fim (objetivo) a prestação de serviços aos associados, uma cooperativa pode exercer qualquer atividade econômica, desde que prevista no respectivo estatuto social. Mesmo sendo únicas em sua forma, as cooperativas podem ainda ser classificadas conforme o objeto econômico que escolhem e é nesse ponto que se alcança a definição de cada Ramo do Cooperativismo Brasileiro. 97 Saiba mais CATTANI, Antonio David (Org.). La otra economía. Buenos Aires: UNGS/Editorial Altamira/Fundación OSDE, 2004. KRUEGER, Guilherme. Adequação fenomenológica para o tratamento ao ato cooperativo previsto na constituição federal. In: V ENCONTRO DE PESQUISADORES LATINOAMERICANOS DE COOPERATIVISMO, 2008, Ribeirão Preto. Anais eletrônicos... Ribeirão Preto, 2008. WEBER, Max. A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo. 4 ed. São Paulo: Livraria Pioneira Editora, 1985. 97 AULA 02 NOÇÕES GERAIS SOBRE FORMA COOPERATIVA, ASPECTOS SÓCIO-HISTÓRICOS E EVOLUÇÃO HISTÓRICA DA LEGISLAÇÃO COOPERATIVISTA NO BRASIL Nesta aula, abordaremos o âmbito histórico dos ramos do cooperativismo analisando, primeiramente, o surgimento do cooperativismo, passando à abordagem histórica da legislação Cooperativista no Brasil que deu vida aos ramos do cooperativismo. Logo em seguida, vamos abrir nossos horizontes com a análise do cooperativismo no âmbito internacional. A importância que o cooperativismo e seus ramos têm para o mundo está explicitamente declarada pela Organização das Nações Unidas. Fechamos esta unidade com a descrição de uma das mais importantes cooperativas do mundo e atuante no mercado internacional: Grupo Cooperativo Mondragón. Além disso, analisaremos os principais ramos do cooperativismo existentes dentro de Mondragón. Boa Aula 97 Objetivos de aprendizagem Conhecer a forma como se organizaram as primeiras cooperativas no Brasil e no mundo; Analisar a evolução dos conceitos jurídicos sobre Cooperativismo frente às inovações legislativas. Proporcionar pensamento sobre os processos legislativos que tratam do Cooperativismo e pensam na reforma da legislação cooperativista brasileira. Reconhecer a importância das sociedades cooperativistas para a história universal; Conhecer a evolução e o impacto dos ramos no desenvolvimento das nações Seções de estudo Seção 1 Panorama histórico do cooperativismo e o cooperativismo no Brasil; Seção 2 Delineamento das normas do Cooperativismo; Seção 3 Prospecção para a reforma da atual lei de regência do Cooperativismo brasileiro Seção 4 O ambiente internacional Seção 1 – Panorama histórico do cooperativismo e o cooperativismo no Brasil Desde a pré-história até o início de nosso século encontram se registros de diversas formas de associações de pessoas, que demonstram que a cooperação tem sido uma constante nas relações entre os seres humanos. O cooperativismo é encontrado desde a Antiguidade, quando os homens já demonstravam a tendência de viver em grupos para defender seus interesses comuns. Na Babilônia, no Egito e na Grécia já existiam formas de cooperação nos campos de trigo e no artesanato. No século XV, quando do descobrimento da América, foram constatadas formas bem definidas de cooperação nas civilizações asteca, inca e maia, nas quais os povos viviam em regime de ajuda mútua. 97 O cooperativismo moderno O cooperativismo moderno surgiu na primeira fase da Revolução Industrial (1760-1850) – com o surgimento das máquinas a vapor – como forma de amenizaros traumas econômicos e sociais que afetavam a classe de trabalhadores. Durante décadas, na Inglaterra e na França, foram organizadas diversas sociedades com características de cooperativas. Esses movimentos de cooperação foram conduzidos por idealistas, como Robert Owen, Louis Blanc, Charles Fourier, entre outros, que defendiam propostas baseadas nas ideias de ajuda mútua, igualdade, associativismo e autogestão. Considerados por muitos como precursores do cooperativismo, estes pensadores socialistas começaram a estudar as formas de organização das civilizações antigas, descobrindo a cooperação como instrumento de organização social. Com isto, começaram a divulgar ideias e experiências destinadas a modificar o comportamento da sociedade. O processo de industrialização, na sua primeira etapa, fez com que os artesãos e trabalhadores rurais migrassem para as grandes cidades, atraídos pelas fábricas em busca de melhores condições de vida. Essa migração fez com que houvesse excesso de mão de obra, resultando na exploração do trabalhador de forma abusiva e desumana. Ao serem prejudicados pelo novo modelo industrial que substituiu o trabalho artesanal, 28 tecelões do bairro de Rochdale, em Manchester, na Inglaterra, decidiram pela criação de uma sociedade de consumo, baseada no cooperativismo puro. Em 21 de dezembro de 1844, foi fundada a “Sociedade dos Probos Pioneiros de Rochdale”. Estes tecelões fundaram um armazém comunitário, com um capital inicial de 28 libras, representando uma libra que cada um do grupo havia economizado. Assim nasceu a primeira cooperativa de consumo da história. Dispondo de pequenos estoques de farinha, açúcar e aveia, este modesto estabelecimento, administrado pelos seus próprios fundadores, foi alvo de deboche dos tradicionais comerciantes da cidade. Porém, despertou a atenção dos consumidores locais e, principalmente, das classes trabalhadoras, pela considerável prosperidade. O que aparentemente parecia apenas um armazém, idealizado para oferecer aos seus associados artigos de 97 primeira necessidade, transformou-se na semente do movimento cooperativista. Os tecelões aperfeiçoaram o sistema e desenvolveram um conjunto de princípios, conhecidos mais tarde como “Princípios Básicos do Cooperativismo”, adotados posteriormente por cooperativas surgidas em diversos países do mundo. Com o tempo, ocorreram algumas modificações, contudo, sua essência se manteve, sendo os princípios atualmente os seguintes: 1. adesão voluntária e livre; 2. gestão democrática; 3. participação econômica dos associados; 4. autonomia e independência; 5. educação, formação, informação; 6. cooperação entre cooperativas; 7. interesse pela comunidade. A origem do cooperativismo no Brasil Por volta de 1610, quando foram fundadas no Brasil as Reduções Jesuíticas, houve a primeira tentativa de criar um Estado em que prevalecesse a ajuda mútua. Incentivada pelos padres jesuítas e baseada no princípio do auxílio mútuo (mutirão), esta prática, encontrada entre os indígenas brasileiros e em quase todos os povos primitivos desde os primeiros tempos da humanidade, vigorou por cerca de 150 anos. Porém, é em 1847 que situamos o início do movimento cooperativista no Brasil, quando diversas sociedades foram fundadas com esse espírito, mas sem continuidade. Ramos do cooperativismo: origens no Brasil - evolução da nomenclatura e classificação O primeiro mecanismo legal que sistematizou as atividades cooperativas foi o Decreto 22.239 (BRASIL, 1932), que classificou as atividades em ramos cooperativistas, a saber: produção agrícola, produção industrial, trabalho, beneficiamento de produtos, compras em comum, vendas em comum, de consumo, de abastecimento, de crédito, de seguros, 97 de construção de casas populares, de editores e cultura intelectual, escolares e mistas. Com a promulgação da Lei 5.764 (BRASIL, 1971), regulamentou-se a ideia de estruturação em ramos no cooperativismo, embora esta lei não os especifique. Os artigos a seguir servem como exemplo: Art. 5º. As sociedades cooperativas poderão adotar por objeto qualquer gênero de serviço, operação ou atividade, assegurando-lhes o direito exclusivo e exigindo-lhes a obrigação do uso da expressão “cooperativa” em sua denominação. (BRASIL, 1971). No art. 10, as cooperativas se classificam também de acordo com o objeto ou pela natureza das atividades desenvolvidas por elas ou por seus associados. Art. 105. A representação do sistema cooperativista nacional cabe à Organização das Cooperativas Brasileiras – OCB, sociedade civil, com sede na Capital Federal, órgão técnico-consultivo do governo, estruturada nos termos desta lei, sem finalidade lucrativa, competindo-lhe precipuamente: [...] dispor de setores consultivos especializados, de acordo com os ramos de cooperativismo. (BRASIL, 1971). SEÇÃO 2 - Delineamento das normas do Cooperativismo Com o advento do Decreto 979, já em 1903, que tratou de regular as atividades dos sindicatos de profissionais da agricultura e das atividades rurais e de cooperativas de produção e consumo, pode-se dizer que o Brasil teve uma normatização relativa ao Cooperativismo, mesmo que em fase embrionária. 97 Nos idos de 1907, teve-se uma normatização mais ampla em relação ao Cooperativismo no Brasil, ora com a publicação do Decreto-Lei 1.637, que previu a criação de sindicatos e sociedades cooperativas. É importante destacar que o Decreto-Lei 1.637/1907 não classificou ou propôs uma metodologia taxionômica para as sociedades cooperativas, contudo foi primordial para marcar no ordenamento jurídico brasileiro o papel e a forma cooperativa. Nesse decreto-lei foi prevista a constituição de cooperativas como sociedades marcadas por peculiares condições, tais como variabilidade de capital social, número ilimitado de sócios e inacessibilidade das cotas – ou ações, como era permitido àquela época – a terceiros. Outra importante condição marcada flagrantemente no decreto-lei mencionado foi a proporcionalidade da responsabilidade dos associados frente às operações sociais, tanto para resultados positivos como para os negativos. O Decreto-Lei 1.637 também foi um marco importante no sentido de definir as sociedades cooperativas não como uma simples forma societária, mas sim como uma forma jurídica única, definida por princípios próprios. O decreto previa que as sociedades cooperativas poderiam assumir três formas societárias, quais sejam: sociedades anônimas, em comandita simples ou em nome coletivo. Posteriormente, em 1932, teve-se uma importante atualização do ordenamento jurídico com o advento do Decreto-Lei 22.239, o qual ampliou a descrição das características da forma cooperativa. Mais ainda, o Decreto-Lei 22.239/1932 foi enfático em definir o termo “contrato de sociedade cooperativa”, ora firmado por pessoas naturais que mutuamente se obrigavam a combinar esforços para lograr fins econômicos, conforme a principiologia cooperativa. Ilustra-se com os artigos 1º e 2º do citado decreto lei: Art. 1º. Dá-se o contrato de sociedade cooperativa quando sete ou mais pessoas naturais, mutuamente se obrigam a combinar seus esforços, sem capital fixo predeterminado, para lograr fi ns comuns de ordem econômica, desde que observem, em sua formação, as prescrições do presente decreto. Parágrafo único. Excepcionalmente se permite que 97 cooperativas várias possam, como pessoas jurídicas, formar entre si um novo contrato de sociedade cooperativa para constituir cooperativas centrais ou federações, nos termos do que se dispõe nos arts. 36 e 37. Art. 2º. As sociedades cooperativas, qualquer que seja a sua natureza, civil ou mercantil, são sociedades de pessoas e não de capitais, de forma jurídica suigeneris, que se distinguem das demais sociedades pelos pontos característicos que se seguem, não podendo os estatutos consignar disposições que os infrinjam: a) variabilidade do capital social, para aquelas que se constituemcom capital social declarado; b) não limitação do número de associados, sendo, entretanto, este número no mínimo de sete; c) limitação do valor da soma de quotas-partes do capital social que cada associado poderá possuir; d) inacessibilidade das quotas-partes do capital social, a terceiros estranhos à sociedade, ainda mesmo em causa mortis; e) quorum para funcionar e deliberar a assembleia geral fundado no número de associados presentes à reunião e não no capital social representado; f) distribuição de lucros ou sobras proporcionalmente ao valor das operações efetuadas pelo associado com a sociedade, podendo ser atribuído ao capital-social um juro fixo, não maior de 9% ao ano, previamente estabelecido nos estatutos, - ou ausência completa de distribuição de lucros - ou, no caso de fixação de um dividendo a distribuir aos associados, ser o mesmo determinado também nos estatutos até o máximo de 12 % ao ano, proporcional ao valor realizado das quotas partes do capital; g) indivisibilidade do fundo de reserva entre os associados, mesmo em caso de dissolução da sociedade; h) singularidade de voto nas deliberações, isto é, cada associado tem um só voto, quer a sociedade tenha, ou não, capital-social, e esse direito é pessoal e não admite representação, senão em casos especiais, taxativamente expressos nos estatutos, não sendo, nesses casos, permitido a um associado representar mais que um outro; i) área de ação determinada. Art. 3º. A prova da formação do contrato de sociedade cooperativa é o ato constitutivo, o qual pode efetivar-se: a) por deliberação da assembleia geral dos fundadores, constante da respectiva ata; b) por instrumento particular, nos termos do art. 135, do Código Civil; 97 c) por escritura pública. Após outras normas que tratavam apenas das sociedades cooperativas, em 1966, por meio do Decreto-Lei 59, foi instituída no país uma Política de Estado, voltada ao Cooperativismo, ou seja, previu-se que o movimento cooperativista passaria a ter uma ação do Estado própria ao seu incentivo e fomento. Compreende-se como Política Nacional de Cooperativismo a atividade decorrente das iniciativas ligadas ao sistema cooperativo, originárias de setor público ou privado, isoladas ou coordenadas entre si, desde que reconhecido seu interesse público (art. 1º, Lei 5.764). Foi criado também no Decreto-Lei 59/1966 o Conselho Nacional de Cooperativismo, ora o agente incumbido de promover a Política Nacional de Cooperativismo. A atual legislação especial sobre o Cooperativismo surgiu alguns anos mais tarde, com a publicação da Lei 5.764, em 21 de dezembro de 1971. Esta lei foi marcada pela união das cooperativas brasileiras no sentido de buscar uma representação própria para a defesa dos interesses dessas sociedades, afora para consolidar no país a Política Nacional de Cooperativismo. É importante destacar que a Lei 5.764/1971 foi estruturada sobre dois aspectos fundamentais hoje reproduzidos na Constituição Federal de 1988, quais sejam: o apoio e o estímulo ao Cooperativismo. Aliás, em 1988, a promulgação da Carta de Constituição do Brasil, pela primeira vez na história de nosso país, fez menção às sociedades cooperativas e em sete artigos. São eles: art. 5º, XVIII; art. 146, III, alínea ‘c’; art. 174, §2º, § 3º e §4º; art. 187, VI; art. 192. Dentre outros aspectos relevantes, a Constituição Federal de 1988 determina que a associação em cooperativas seja livre, não permitindo qualquer interferência no funcionamento dessas sociedades. No entanto, determina que isso deva se dar na forma da lei, ou seja, conforme prescrito 97 na Lei 5.764/1971, a qual prevê as condições essenciais para a caracterização de uma sociedade cooperativa. A Carta Constitucional também prevê que o Cooperativismo deverá ser apoiado e estimulado (art. 174, § 2º), além de definir que, para fins de tributação, deverá o ato cooperativo ter tratamento adequado. Quanto à questão do adequado tratamento tributário, que será abordada com maiores detalhes no livro didático Legislação Tributária nas Cooperativas, deve-se ressaltar que existem peculiaridades no sistema operacional das sociedades cooperativas, sendo que isto garante a essas instituições a não incidência tributária, mesmo porque nelas não se acumulam renda ou lucros. Abaixo segue quadro sintético com a evolução das normas sobre Cooperativismo no país: DECRETO-LEI 1.637 de 5 de janeiro de 1907 Cria sindicatos profissionais e sociedades cooperativas. DECRETO-LEI 17.339 de 2 de junho de 1926 Aprova o regulamento destinado a reger a fiscalização gratuita da organização e funcionamento das Caixas Raiffeisen e bancos Luzzatti. DECRETO-LEI 22.239 de 19 de dezembro de 1932 Reforma as disposições do Decreto Legislativo 1.637. de 5 de janeiro de 1907, na parte referente ás sociedades cooperativas. DECRETO 24.647 de 10 de julho de 1934 Revoga o decreto 22.239, de 19 de dezembro de 1932; estabelece bases, normas e princípios para a cooperação profissional e para a cooperação social; faculta auxílios diretos e indiretos às cooperativas; e institui o Patrimônio dos Consórcios Profissionais Cooperativos. DECRETO-LEI 581 de 1º de agosto de 1938 Dispõe sobre registro, fiscalização e assistência de sociedades cooperativas; revoga os decretos 23.611, de 20 de dezembro de 1933 e 24.647, de 10 de julho de 1934; e revigora o decreto 22.239, de 19 de dezembro de 1932. DECRETO 5.893 de 19 de outubro de 1943 Dispõe sobre a organização, funcionamento e fiscalização das cooperativas. 97 DECRETO-LEI 8.401 de 19 de dezembro de 1945 Revoga os decretos-lei 5.893 de 19 de outubro de 1943 e 6.274 de 14 de fevereiro de 1944, exceto disposições dos arts. 104 a 118 e seus parágrafos, revigorando o Decreto-lei 581, de 1º de agosto de 1938 e a Lei 22.239, de 19 de dezembro de 1932. DECRETO-LEI 59 de 21 de novembro de 1966 Define a política nacional de cooperativismo, cria o Conselho Nacional do Cooperativismo e dá outras providências. DECRETO 60.597 de 19 de abril de 1967 Regulamenta o Decreto- Lei 59 (*), de 21 de novembro de 1966. LEI 5.764 de 16 de dezembro de 1971 Define a Política Nacional de Cooperativismo, institui o regime jurídico das sociedades cooperativas e dá outras providências. SEÇÃO 3 - Prospecção para a reforma da atual lei de regência do Cooperativismo brasileiro A Lei 5.764/1971 vem sendo analisada pelo Congresso Nacional desde os idos da promulgação da Constituição Federal de 1988. Para essa alteração já foram propostos projetos de lei pelos senadores Osmar Dias (PLS 171/1999) Uma das principais inovações do projeto do senador Osmar Dias é a que se refere ao fim da tutela do Estado sobre o sistema cooperativista. Na prática, significa a manutenção do princípio da unicidade de representação, antiga posição do sistema cooperativo, reiterada em diversos congressos nacionais, Eduardo Suplicy (PLS 605/1999) e José Fogaça (428/1999). Com a mudança da legislatura, em 2007, permaneceram em trâmite no Congresso Nacional os projetos dos senadores Osmar Dias e Eduardo Suplicy, ora renumerados, respectivamente, para PLS 003/2007 e PLS 153/2007. Tais projetos trazem avanços operacionais para as sociedades cooperativas, como a previsão de modalidades de financiamento baseadas em títulos próprios de dívidas, para as cooperativas compatíveis às debêntures das sociedades por ações, ora denominadas certificados de aporte de capital. As cooperativas poderão, caso aprovado o texto no Congresso 97 Nacional, emitir títulos de dívida, que serão postos à venda no mercado. As receitas reverterão às cooperativas e por elas serão pagas em vencimentos apontados nos próprios títulos. Por exemplo, uma cooperativa poderá emitir mil certificados de aporte de capital no valor de R$ 10.000,00 com vencimento em dois anos. Após esse prazo, conforme, as condições descritas no próprio título, inclusive de atualização monetária e remuneração, deverá pagar ao adquirentedos certificados os valores correspondentes a cada um deles, podendo então também reverter em participação no capital social da instituição, desde que o adquirente possua condições para ingresso na sociedade. Essa inovação é uma possibilidade de nova linha de financiamento, tomado diretamente do mercado para as cooperativas, e que poderá (caso aprovado no Congresso) ser aproveitada no sentido de diminuir impactos de taxas de juros na captação de recursos para investimentos, por exemplo. Outras possibilidades negociais também estão sendo avaliadas nos projetos de lei comentados e podem vir a proporcionar novas perspectivas para a ação mercadológica das sociedades cooperativas brasileiras. Que tal fazer uma pesquisa sobre os projetos de lei relacionados ao Cooperativismo que estão em tramitação? São, enfim, evoluções que poderão ser muito úteis para os administradores de sociedades cooperativas no Brasil. Outro aspecto relevante é o intenso trabalho no Congresso Nacional para a edição de uma lei que defina o adequado tratamento tributário aos atos cooperativos. Atualmente, essa é uma discussão muito flagrante no Congresso Nacional, envolvendo, mormente, o PLC 198/2007, de autoria dos deputados federais da Frente Parlamentar do Cooperativismo, capitaneados pelo deputado Odacir Zonta, presidente da Frencoop. Seção 4 - O ambiente internacional e Impacto dos ramos do cooperativismo no desenvolvimento das nações A Organização das Nações Unidas (ONU), em suas diversas instâncias, trata do cooperativismo como instituição necessária para o desenvolvimento socioeconômico das Nações. Não há um estudo completo 97 do impacto do cooperativismo no desenvolvimento das nações, mas encontram-se indícios de sua importância neste âmbito socioeconômico. Reflexo disso é a determinação da Assembleia Geral das Nações Unidas do ano de 2012 como o Ano Internacional das Cooperativas, assim como o Ano Internacional da Energia Sustentável. O Secretário-Geral da ONU, Ban Ki-moon, diz que: “As cooperativas são um exemplo para a comunidade internacional de que é possível perseguir tanto a viabilidade econômica quanto a responsabilidade social”. (HUMANITARE, 2010). De acordo com o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (2011), o motivo da instituição do Ano Internacional das Cooperativas é, portanto, reconhecer a contribuição que estes atores trazem para o desenvolvimento socioeconômico, principalmente o seu impacto na redução da pobreza, geração de empregos e integração social e a realização dos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODM). A proposta da Assembleia Geral da ONU incentiva todos os Estados membros da ONU, em conjunto com a Aliança Cooperativa Internacional (ACI), a promoverem cooperativas e criarem um sentido de consciência sobre sua contribuição para o desenvolvimento social e econômico. Além disso, a proposta promove a formação e crescimento de cooperativas. Voltando ao tema dos ODM, O Brasil apresentou o Relatório Nacional de Acompanhamento das ações para se alcançar os Objetivos do Milênio em 2004 (IPEA, 2004). No documento, o cooperativismo aparece em diferentes âmbitos como ator necessário para implementação dos Objetivos do Milênio. No objetivo “Erradicar a Extrema Pobreza e a Fome”, a organização da agricultura familiar deve estar centrada também na constituição de cooperativas agrícolas para receber os benefícios, como o PRONAF e contribuir para o alcance da meta de melhora significativa na vida de pelo menos 100 milhões de habitantes de assentamentos precários até 2020. O governo lançou, em 2004, o Programa Crédito Solidário para desenvolver projetos em parceria com cooperativas e associações populares e ampliar os recursos destinados ao Programa de Subsídio Habitacional. Segundo o Secretário-Geral da ONU, Ban Ki-moon (NAÇÕES UNIDAS, 2009, p. 2), As Cooperativas promovem e apoiam o desenvolvimento empresarial, criando emprego produtivo, originando receitas e ajudando a reduzir a pobreza, ao mesmo tempo em que reforçam a inclusão social, a proteção social e a estruturação da comunidade. Assim, 97 enquanto beneficiam diretamente os seus membros, oferecem igualmente externalidades positivas ao resto da sociedade e têm um impacto transformacional sobre a economia. Ban Ki-moon (NAÇÕES UNIDAS, 2009) considera as cooperativas como importantes atores econômicos. Explica que as cooperativas financeiras, abrangendo as Caixas de Crédito, servem a milhões de cooperados. As Cooperativas agrícolas são responsáveis por uma parte expressiva da produção agrícola. Complementa: (...) na tentativa de avaliar a escala do Movimento Cooperativo Global e do seu contributo para a economia global, a ACI compilou a lista GLOBAL 300, que classifica as 300 organizações cooperativas e mutualistas globais de topo. A lista de 2008 revela que as 300 cooperativas de topo são responsáveis por um volume de negócios global de 1,1 bilhões (1.000.000.000.000) de dólares. (NAÇÕES UNIDAS, p. 3). AS COOPERATIVAS: ALGUNS FATOS ESSENCIAIS O Sector Cooperativo, em nível mundial, conta com cerca de 800 milhões de membros em mais de 100 países, através de organizações membros da ACI. No total, calcula-se que as cooperativas proporcionem mais de 100 milhões de empregos em todo o mundo. Em termos de percentagem do PIB por país atribuível às cooperativas, ela é mais elevada no Quênia (45%), seguida da Nova Zelândia (22%). As Cooperativas Agrícolas são responsáveis por 80 a 99% da produção de leite na Noruega, na Nova Zelândia e nos Estados Unidos; as cooperativas representam 71% das pescas na Coreia e 40% da agricultura no Brasil. As Cooperativas Elétricas são importantes fornecedoras nas áreas rurais. Em Bangladesh, prestam serviços a 28 milhões de pessoas. Nos Estados Unidos, 900 cooperativas elétricas rurais servem 37 milhões de pessoas e são proprietárias de quase metade das linhas de distribuição elétrica do país. 49.000 Caixas de Crédito servem 177 milhões de membros em 96 países, sob a égide do Conselho Mundial das Caixas de Crédito. 4.200 bancos cooperativos Europeus, no âmbito da Associação Europeia de Bancos Cooperativos, servem 149 milhões de membros, incluindo PME’s. Fonte: Nações Unidas (2009, p. 3). 97 Na visão da ONU, as cooperativas são uma ótima ferramenta de inclusão social. Elas são criadas para apoiar e organizar os trabalhadores pertencentes da economia informal. As cooperativas de crédito ganham importância nas comunidades de áreas rurais onde o acesso aos serviços bancários é escasso. Cooperativas na área da saúde Algo que existe em muitos países, diferentemente do Brasil, são as cooperativas que fornecem serviços de proteção social, especialmente na área da saúde. Estas cooperativas participam, igualmente, na gestão de seguros obrigatórios de saúde ou fornecem serviços através das suas redes de saúde e serviços sociais. Estas instituições atendem a mais de: 69 milhões de pessoas na Ásia; 13 milhões na América Latina; 25 milhões na África; e, 5 milhões no Oriente Médio. De acordo com o relatório de Ban Ki-monn (NAÇÕES UNIDAS, 2009, P. 3), “a Cooperativa de Prestação de Serviços de Saúde aos Agricultores YESHSVINI, da Índia, que serve 2 milhões de pessoas, é financiada em parte por subsídios governamentais.” Cooperativas na área agropecuária Uma amostra do impacto do ramo do cooperativismo agropecuário é o caso da Índia, onde existem cerca de 150.000 cooperativas agrícolas e de crédito que atendem a mais de 157 milhões de produtores agrícolas rurais. Na Coreia, por exemplo, as cooperativas agrícolas possuem uma base associativa de mais de 2 milhões de agricultores, o que representa 90% dos agricultores. No Japão, as Cooperativas Agrícolas abrangem 90% do total de agricultores. Na França, são responsáveis por 60% dos inputs agrícolas, 57% da produção agrícola e 35% do processamento agrícola (NAÇÕES UNIDAS, 2009). No Brasil, por exemplo, as cooperativas são responsáveispor 40% do PIB agrícola e 6% das exportações agrícolas. Ainda na América Latina, a Nicarágua, por exemplo, possui a PRODECOOP, (Central de Cooperativas de Serviços Múltiplos) uma instituição composta por pequenas cooperativas de produção de café. Esta Federação implementou uma estratégia de 97 integração de cooperativas que melhorou a qualidade do café e da comercialização no mercado internacional. Na África, as cooperativas agrícolas promovem uma economia de permuta, ou seja, de trocas. Para ajudar no desenvolvimento dos mercados nas áreas rurais mais longínquas, promoveram estratégias de redução dos custos de transação. As próprias cooperativas promovem a participação e a integração dos pequenos agricultores na economia mundial. No entanto, assim como no Brasil, um fator que reduz a participação destes pequenos agricultores nas cooperativas de comercialização é a desconfiança histórica em relação às cooperativas como instrumentos estatais ou paraestatais. A ONU apresenta impactos negativos tanto por parte das cooperativas como a formação de monopólios, influenciando os valores de mercado e limitando o acesso de grande parte da população. Da mesma forma, ocorre o contrário, “os grandes distribuidores globais detêm, muitas vezes um maior poder de negociação e possuem melhor informação e estão numa posição mais forte para arrancar condições desfavoráveis de comercialização ou cedências por parte das cooperativas”. (NAÇÕES UNIDAS, 2009). Uma ação ainda muito tímida, mas que sempre envolve as organizações coletivas de produção como as cooperativas, é o Movimento Comércio Justo. Conforme Schneider, Comércio Justo é a estratégia para a diminuição da pobreza e o desenvolvimento sustentável. Seu propósito é de gerar oportunidades para produtores que foram explorados economicamente ou marginalizados pelo sistema convencional de comércio. (2007, p. 31). O impacto recai diretamente sobre a qualidade de vida dos produtores e o respeito ao meio ambiente, dentro de uma concepção de desenvolvimento sustentável: [...] é garantido aos produtores um preço que cobre o custo de produção mais uma margem justa. Em contrapartida, espera-se que os produtores cumpram os Padrões do Comércio Justo – sociais, econômicos e ambientais, tais como evitar a utilização de trabalho infantil, as normas sobre a utilização de pesticidas, a reciclagem. (NAÇÕES UNIDAS, 2009, p. 7). O ramo agropecuário está muito ligado ao cooperativismo de crédito. Um exemplo disso ocorre em Moçambique, onde a Cooperativa de Produtores de Cana-de-açúcar da Maraga possui um acordo com o maior 97 banco cooperativo agrícola do mundo, o RABOBANK. Esta relação compreende a colheita e o processamento da cana na fábrica do açúcar com o apoio do Banco. Ramos do cooperativismo de crédito (financeiro) Os principais impactos que os ramos do cooperativismo de crédito vão ter sobre as Nações são os seguintes: A democratização no sistema financeiro; O acesso a serviços bancários e financeiros de forma autônima e igualitária; e A redução da pobreza. Calcula-se que, na globalidade, as Cooperativas Financeiras cheguem a 78 milhões de clientes que vivem abaixo da linha de pobreza, ou seja, que auferem menos de 2 dólares/dia. Na Ásia, por exemplo, 54,5% dos que contraem empréstimos e que auferem menos de 2 dólares/ dia são servidos por cooperativas, em comparação com 19% servidos por outros fornecedores de microcrédito. (NAÇÕES UNIDAS, 2009, p. 9). Em números globais, as cooperativas de crédito atendem cerca de 857 milhões de pessoas, isto é, 13% da população mundial. No Canadá e nos Estados Unidos, as cooperativas de crédito têm 46% de penetração no mercado, significando uma importância para o desenvolvimento socioeconômico destes países. Com isso, vemos os sinais dos impactos socioeconômicos dos diferentes ramos do cooperativismo que transpassam a contribuição para a produção de alimentos e a segurança alimentar, fornecem acesso a serviços financeiros e aportam para o desenvolvimento de um sistema financeiro resistente. Além disso, geram emprego e aumentam os rendimentos dos membros. Em alguns países, as cooperativas encontram-se entre os maiores participantes econômicos no setor produção, distribuição e serviços. “Elas promovem igualmente as capacidades e a formação nas comunidades locais, promovendo as mulheres e os segmentos marginalizados da sociedade”. (NAÇÕES UNIDAS, 2009, p. 11). 97 Experiências internacionais: o caso Mondragón Corporación Cooperativa – MCC Em países como a Espanha, esses ramos estão bem desenvolvidos. O maior grupo cooperativo do mundo, com sede em Bilbao, País Basco, na Espanha, conta com aproximadamente 42.000 postos de trabalho, constituindo um grupo empresarial integrado por mais de 120 empresas. Este grupo nos ilustra uma experiência que envolve várias cooperativas pertencentes a diversos ramos. A Mondragón Corporación Cooperativa – MCC é estruturada nos setores financeiro, industrial e de distribuição. No setor financeiro, possui um banco próprio chamado “Caixa Laboral”, que oferece serviços financeiros para todas as cooperativas do MCC e a terceiros. Desenvolve também, com outra entidade, um serviço de leasing, de seguros e de previdência social, que orienta a atividade financeira, otimizando a rentabilidade e os fundos patrimoniais. Na distribuição, a MCC possui hipermercados, agências de viagens, estacionamentos e postos de gasolina. Já no setor industrial, a corporação é formada por quase 90 empresas, divididas em grandes setores. Comercializando desde máquinas pesadas até eletrodomésticos, a cooperativa tem como bases a educação e a solidariedade. A área educacional do projeto conta hoje com cinco centros de formação e três de pesquisa e tecnologia. O crescimento do grupo vem comprovando a qualidade de seus serviços, a importância da união, da participação, da cooperação e, principalmente, da educação. A MCC também possui escolas técnicas e universidades cooperativas, de formação e desenvolvimento de pesquisa mercadológica e científica, fomentando continuamente o sentimento de participação e cooperação entre os alunos, sedimentando a cultura cooperativista. Além das cooperativas industriais, a MCC também possui cooperativas agropecuárias, de consumo, transporte, trabalho e, como você já sabe, cooperativas educacionais, de crédito e industriais. A estrutura de governança baseia-se num modelo de gestão próprio. Por meio do planejamento estratégico da corporação e de cada cooperativa, o 97 sistema de governança comanda e avalia o desempenho de cada cooperativa do grupo, centralizando as decisões estratégicas. A intercooperação se dá pelo sistema de contribuição financeira das cooperativas para com a corporação MCC, permitindo que ajustes financeiros sejam realizados entre cooperativas com melhor resultado para com outras de pior desempenho econômico, o que de certa forma justifica a centralização de decisões e ações da corporação e reforça a coesão das cooperativas ao sistema. Através destes ajustes financeiros e dos fundos de reserva – capitalização do capital social (sobras) –, é possível garantir certa estabilidade financeira às cooperativas. Além disso, a intercooperação também ocorre através do sistema de proteção de emprego aos associados, já que os associados de uma cooperativa desativada são absorvidos nas outras cooperativas em atividade. A transferência de sócios, a redistribuição e a recomposição financeira garantem uma economia de pleno emprego, beneficiando o associado e a economia regional. Assim, nota-se a importância da MCC como um modelo de arranjo organizacional, extremamente criativo, que transformou a corporação no sétimo grupo empresarial da Espanha, atualmente englobando 120 cooperativas, 59 plantas em outros países e sete delegações corporativas. O sistema Mondragón forma o maior grupo cooperativo do mundo, com um faturamento de 10,459 bilhões de Euros em
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