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PRÁTICA TRABALHISTA Prof. Horácio Ferreira * Este roteiro não dispensa o aluno da pesquisa/estudo acerca da bibliografia básica e complementar indicada no Plano de Ensino da Disciplina e que serviram de base para a elaboração das considerações abaixo. CONTRATO INTERMITENTE Em análise da redação do art. 443 da CLT que versa sobre contratos trabalhistas, vemos a existência de prestação de serviços de forma “intermitente”. A Reforma Trabalhista trouxe nova modalidade de contrato de trabalho, denominada de trabalho intermitente. Segundo a exposição de motivos para a sua criação, a instituição do contrato intermitente possuía como objetivo formalizar a prestação de serviço informal, os “bicos”. Alguns doutrinadores entendem que o contrato intermitente não deveria ser analisado quanto a sua duração (determinado ou indeterminado) mas sim quanto a sua continuidade. CONCEITO Art. 443. O contrato individual de trabalho poderá ser acordado tácita ou expressamente, verbalmente ou por escrito, por prazo determinado ou indeterminado, ou para prestação de trabalho intermitente. [...] §3º da CLT – Considera-se como intermitente o contrato de trabalho no qual a prestação de serviços, com subordinação, não é contínua, ocorrendo com alternância de períodos de prestação de serviços e de inatividade, determinados em horas, dias ou meses, independentemente do tipo de atividade do empregado e do empregador, exceto para os aeronautas, regidos por legislação própria. Desde a criação desta nova modalidade, a doutrina tem discutido se o trabalho intermitente deverá ser considerado um contrato de trabalho por prazo determinado ou por prazo indeterminado. A dúvida surge, em virtude do fato de que o contrato é pactuado sem termo final, mas a prestação de serviços se dá em períodos de tempo delimitados. Diante da dificuldade de enquadramento em uma e outra teoria, já se tem sustentado ser o contrato intermitente, modalidade própria de contrato que mescla característica de ambos. O trabalho intermitente tem sido bastante criticado pela doutrina, mencionando- se os seguintes argumentos: Traz imprevisibilidade sobre a prestação de serviços; Insegurança financeira para o trabalhador; Alteração da aplicabilidade do princípio da alteridade inerente a relação e emprego; Instituição de modalidade de emprego “frágil” FORMALIDADES Contrato escrito; Indicação do valor da hora de trabalho que deve ser igual a dos demais empregados para aquela função; Assinatura da CTPS Art. 452-A. O contrato de trabalho intermitente deve ser celebrado por escrito e deve conter especificamente o valor da hora de trabalho, que não pode ser inferior ao valor horário do salário-mínimo ou àquele devido aos demais empregados do estabelecimento que exerçam a mesma função em contrato intermitente ou não. FORMA DE COMUNICAÇÃO E ACEITAÇÃO DA PRESTAÇÃO DOS SERVIÇOS Art. 452-A §1º. O empregador convocará, por qualquer meio de comunicação eficaz, para a prestação de serviços, informando qual será a jornada, com, pelo menos, três dias corridos de antecedência. § 2º Recebida a convocação, o empregado terá o prazo de um dia útil para responder ao chamado, presumindo-se, no silêncio, a recusa. E se o empregado se recusar a aceitar o chamado por parte do empregador? Art. 452-A § 3º A recusa da oferta não descaracteriza a subordinação para fins do contrato de trabalho intermitente. E se o empregado confirmar que vai e faltar? Art. 452-A §4º Aceita a oferta para o comparecimento ao trabalho, a parte que descumprir, sem justo motivo, pagará à outra parte, no prazo de trinta dias, multa de 50% (cinquenta por cento) da remuneração que seria devida, permitida a compensação em igual prazo. Ex.: Se a convocação fosse para que um empregado trabalhasse durante cinco dias recebendo, em contrapartida, o valor de 160,00 por todo o período trabalhado, no caso dele aceitar a oferta, mas não comparecer, será penalizado com uma multa referente a metade do valor (R$ 80,00). Por ser expressamente autorizada a compensação. O que seria um “justo motivo” para fundamentar o não atendimento ao prazo? A legislação não especificou tal termo, por este motivo a situação deve ser olhada caso a caso e será balizada pela doutrina e jurisprudência. Além disso, demonstra- se razoável o entendimento de que as causas de faltas justificadas previstas pela CLT também poderiam ser aplicadas nessa situação. JORNADA DE TRABALHO Tem-se entendido que o trabalhador intermitente não poderá trabalhar com jornada diária superior a 8hrs diárias e 44hrs semanais, respeitando-se os limites constitucionais. CONSEQUENCIAS DOS PERÍODOS EM QUE NÃO HÁ PRESTAÇÃO DE SERVIÇO Art. 452-A [...] § 5º O período de inatividade não será considerado tempo à disposição do empregador, podendo o trabalhador prestar serviços a outros contratantes. Conforme estudaremos adiante, o período de suspensão do contrato de trabalho susta os efeitos principais da relação empregatícia, quais sejam: não há prestação de serviço por parte do empregado, mas também não há pagamento de salário. Além disso, não haverá contagem de tempo de serviços para fins previdenciários. Obs.: O art. 4º menciona que se considera tempo trabalhado o período efetivamente trabalhado, além daquele em que o empregador fica à disposição do empregado. Contudo, por expressa previsão legal, o legislador excluiu os períodos de inatividade do intermitente como tempo de trabalho, com objetivo de que seja período não remunerado. FORMA DE REMUNERAÇÃO E RECIBOS DE PAGAMENTO Art. 452-A §6º Ao final de cada período de prestação de serviço, o empregado receberá o pagamento imediato das seguintes parcelas: I – remuneração; II - férias proporcionais com acréscimo de um terço; III - décimo terceiro salário proporcional; IV - repouso semanal remunerado; e V - adicionais legais. § 7o O recibo de pagamento deverá conter a discriminação dos valores pagos relativos a cada uma das parcelas referidas no § 6o deste artigo. Destaca-se que como o trabalho será remunerado pelo período de prestação de serviços, é admissível que se receba menos que o valor do salário-mínimo, desde que seja a este proporcional. Vide OJ nº 358 da SDI-I do TST. Além de desta garantia quanto o salário, a própria regulamentação do trabalho intermitente esclarece que o empregado contratado como intermitente deve receber a mesma quantia que outros empregados que não sejam intermitentes também recebam para a mesma função. Tal norma tem por objetivo assegurar a isonomia salarial. RECOLHIMENTOS PREVIDENCIÁRIOS Art. 452-A § 8º O empregador efetuará o recolhimento da contribuição previdenciária e o depósito do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço, na forma da lei, com base nos valores pagos no período mensal e fornecerá ao empregado comprovante do cumprimento dessas obrigações. DIREITO DE FÉRIAS Art. 452-A § 9º A cada doze meses, o empregado adquire direito a usufruir, nos doze meses subsequentes, um mês de férias, período no qual não poderá ser convocado para prestar serviços pelo mesmo empregador. A situação do trabalhador intermitente traz a peculiaridade de que quando o empregado estiver efetivamente desfrutando do descanso, não receberá nada por isso. Veremos que para os demais empregados, a regra quanto ao pagamento de férias é diferente, e o empregado deverá receber pelas férias dias antes de usufruí-las. CONTRATO INTERMITENTE E TRABALHO DOMÉSTICO (?) O contrato de trabalho intermitente não deverá ser aplicado aos trabalhadores domésticos, haja vista a necessidade instituída no art. 1º da LC nº 150/2015 de que esses empregados trabalhem com continuidade, ou seja, por mais de dois dias na semana.
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