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Roteiro 11 - Contrato intermitente

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PRÁTICA TRABALHISTA 
Prof. Horácio Ferreira 
 
 
* Este roteiro não dispensa o aluno da pesquisa/estudo acerca da bibliografia básica e complementar 
indicada no Plano de Ensino da Disciplina e que serviram de base para a elaboração das considerações 
abaixo. 
 
CONTRATO INTERMITENTE 
 
Em análise da redação do art. 443 da CLT que versa sobre contratos trabalhistas, 
vemos a existência de prestação de serviços de forma “intermitente”. 
A Reforma Trabalhista trouxe nova modalidade de contrato de trabalho, 
denominada de trabalho intermitente. Segundo a exposição de motivos para a 
sua criação, a instituição do contrato intermitente possuía como objetivo 
formalizar a prestação de serviço informal, os “bicos”. 
Alguns doutrinadores entendem que o contrato intermitente não deveria ser 
analisado quanto a sua duração (determinado ou indeterminado) mas sim quanto 
a sua continuidade. 
 
CONCEITO 
Art. 443. O contrato individual de trabalho poderá ser acordado tácita ou 
expressamente, verbalmente ou por escrito, por prazo determinado ou 
indeterminado, ou para prestação de trabalho intermitente. 
[...] 
§3º da CLT – Considera-se como intermitente o contrato de trabalho no qual a 
prestação de serviços, com subordinação, não é contínua, ocorrendo com alternância 
de períodos de prestação de serviços e de inatividade, determinados em horas, dias 
ou meses, independentemente do tipo de atividade do empregado e do empregador, 
exceto para os aeronautas, regidos por legislação própria. 
 
Desde a criação desta nova modalidade, a doutrina tem discutido se o trabalho 
intermitente deverá ser considerado um contrato de trabalho por prazo 
determinado ou por prazo indeterminado. A dúvida surge, em virtude do fato de 
que o contrato é pactuado sem termo final, mas a prestação de serviços se dá em 
períodos de tempo delimitados. 
Diante da dificuldade de enquadramento em uma e outra teoria, já se tem 
sustentado ser o contrato intermitente, modalidade própria de contrato que 
mescla característica de ambos. 
O trabalho intermitente tem sido bastante criticado pela doutrina, mencionando-
se os seguintes argumentos: 
 Traz imprevisibilidade sobre a prestação de serviços; 
 Insegurança financeira para o trabalhador; 
 Alteração da aplicabilidade do princípio da alteridade inerente a relação e 
emprego; 
 Instituição de modalidade de emprego “frágil” 
 
FORMALIDADES 
 Contrato escrito; 
 Indicação do valor da hora de trabalho que deve ser igual a dos demais 
empregados para aquela função; 
 Assinatura da CTPS 
Art. 452-A. O contrato de trabalho intermitente deve ser celebrado por escrito e deve 
conter especificamente o valor da hora de trabalho, que não pode ser inferior ao valor 
horário do salário-mínimo ou àquele devido aos demais empregados do 
estabelecimento que exerçam a mesma função em contrato intermitente ou não. 
 
 
FORMA DE COMUNICAÇÃO E ACEITAÇÃO DA PRESTAÇÃO DOS SERVIÇOS 
Art. 452-A §1º. O empregador convocará, por qualquer meio de comunicação eficaz, 
para a prestação de serviços, informando qual será a jornada, com, pelo menos, três 
dias corridos de antecedência. 
§ 2º Recebida a convocação, o empregado terá o prazo de um dia útil para responder 
ao chamado, presumindo-se, no silêncio, a recusa. 
 
E se o empregado se recusar a aceitar o chamado por parte do empregador? 
Art. 452-A § 3º A recusa da oferta não descaracteriza a subordinação para fins do 
contrato de trabalho intermitente. 
 
E se o empregado confirmar que vai e faltar? 
Art. 452-A §4º Aceita a oferta para o comparecimento ao trabalho, a parte que 
descumprir, sem justo motivo, pagará à outra parte, no prazo de trinta dias, multa 
de 50% (cinquenta por cento) da remuneração que seria devida, permitida a 
compensação em igual prazo. 
Ex.: Se a convocação fosse para que um empregado trabalhasse durante cinco 
dias recebendo, em contrapartida, o valor de 160,00 por todo o período 
trabalhado, no caso dele aceitar a oferta, mas não comparecer, será penalizado 
com uma multa referente a metade do valor (R$ 80,00). Por ser expressamente 
autorizada a compensação. 
 
O que seria um “justo motivo” para fundamentar o não atendimento ao 
prazo? 
A legislação não especificou tal termo, por este motivo a situação deve ser olhada 
caso a caso e será balizada pela doutrina e jurisprudência. Além disso, demonstra-
se razoável o entendimento de que as causas de faltas justificadas previstas pela 
CLT também poderiam ser aplicadas nessa situação. 
JORNADA DE TRABALHO 
Tem-se entendido que o trabalhador intermitente não poderá trabalhar com 
jornada diária superior a 8hrs diárias e 44hrs semanais, respeitando-se os limites 
constitucionais. 
 
CONSEQUENCIAS DOS PERÍODOS EM QUE NÃO HÁ PRESTAÇÃO DE 
SERVIÇO 
Art. 452-A [...] § 5º O período de inatividade não será considerado tempo à 
disposição do empregador, podendo o trabalhador prestar serviços a outros 
contratantes. 
 
Conforme estudaremos adiante, o período de suspensão do contrato de trabalho 
susta os efeitos principais da relação empregatícia, quais sejam: não há prestação 
de serviço por parte do empregado, mas também não há pagamento de salário. 
Além disso, não haverá contagem de tempo de serviços para fins previdenciários. 
Obs.: O art. 4º menciona que se considera tempo trabalhado o período efetivamente 
trabalhado, além daquele em que o empregador fica à disposição do empregado. 
Contudo, por expressa previsão legal, o legislador excluiu os períodos de inatividade 
do intermitente como tempo de trabalho, com objetivo de que seja período não 
remunerado. 
 
FORMA DE REMUNERAÇÃO E RECIBOS DE PAGAMENTO 
Art. 452-A §6º Ao final de cada período de prestação de serviço, o empregado 
receberá o pagamento imediato das seguintes parcelas: 
I – remuneração; 
II - férias proporcionais com acréscimo de um terço; 
III - décimo terceiro salário proporcional; 
IV - repouso semanal remunerado; e 
V - adicionais legais. 
§ 7o O recibo de pagamento deverá conter a discriminação dos valores pagos 
relativos a cada uma das parcelas referidas no § 6o deste artigo. 
 
Destaca-se que como o trabalho será remunerado pelo período de prestação de 
serviços, é admissível que se receba menos que o valor do salário-mínimo, desde 
que seja a este proporcional. Vide OJ nº 358 da SDI-I do TST. 
Além de desta garantia quanto o salário, a própria regulamentação do trabalho 
intermitente esclarece que o empregado contratado como intermitente deve 
receber a mesma quantia que outros empregados que não sejam intermitentes 
também recebam para a mesma função. Tal norma tem por objetivo assegurar a 
isonomia salarial. 
 
RECOLHIMENTOS PREVIDENCIÁRIOS 
Art. 452-A § 8º O empregador efetuará o recolhimento da contribuição previdenciária 
e o depósito do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço, na forma da lei, com base 
nos valores pagos no período mensal e fornecerá ao empregado comprovante do 
cumprimento dessas obrigações. 
 
DIREITO DE FÉRIAS 
Art. 452-A § 9º A cada doze meses, o empregado adquire direito a usufruir, nos doze 
meses subsequentes, um mês de férias, período no qual não poderá ser convocado 
para prestar serviços pelo mesmo empregador. 
 
A situação do trabalhador intermitente traz a peculiaridade de que quando o 
empregado estiver efetivamente desfrutando do descanso, não receberá nada 
por isso. Veremos que para os demais empregados, a regra quanto ao 
pagamento de férias é diferente, e o empregado deverá receber pelas férias dias 
antes de usufruí-las. 
CONTRATO INTERMITENTE E TRABALHO DOMÉSTICO (?) 
O contrato de trabalho intermitente não deverá ser aplicado aos trabalhadores 
domésticos, haja vista a necessidade instituída no art. 1º da LC nº 150/2015 de 
que esses empregados trabalhem com continuidade, ou seja, por mais de dois 
dias na semana.

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