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HISTÓRIA DA ARTE Mônica Cardim E-book 2 Neste E-Book: INTRODUÇÃO ����������������������������������������������������������� 3 PRIMÓRDIOS DA ARTE: EXPRESSÕES NA PRÉ-HISTÓRIA ����������������������������������������������������������4 Paleolítico: Arte rupestre e esculturas �������������������������������������5 Arquitetura neolítica: Monumentos megalíticos ���������������������8 Idade dos metais �����������������������������������������������������������������������9 A estética na antiguidade: A arte grega e o ideal de beleza e virtude �����������������������������������������������������������������������10 Período helenístico �����������������������������������������������������������������19 CONSIDERAÇÕES FINAIS �����������������������������������38 SÍNTESE ��������������������������������������������������������������������39 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS & CONSULTADAS ������������������������������������������������������ 40 2 INTRODUÇÃO Neste módulo, estudaremos as produções artísticas como uma expressão das culturas de sociedades� Para isso, faremos uma viagem temporal e geográ- fica, buscando entender as primeiras formas de ex- pressões na Pré-História, mas também o conceito de estética na antiguidade e a relação entre o ideal de beleza e a virtude� Estudaremos, ainda, o papel da arquitetura monu- mental no exercício de poder dos faraós egípcios e dos imperadores romanos� Por fim, ampliaremos nossos referenciais artísti- cos a partir da Arte Africana e da Arte Americana Pré-Colombiana� 3 PRIMÓRDIOS DA ARTE: EXPRESSÕES NA PRÉ-HISTÓRIA Neste item, estudaremos algumas formas de ex- pressão artística de povos pré-históricos. A fim de estruturar o estudo, tomaremos como referência o modo como antropólogos, arqueólogos, paleontólo- gos e historiadores definem esse período histórico e classificam os diferentes tempos que o constituem. A noção de Pré-História é definida por uma perspec- tiva ocidental como o momento anterior à documen- tação escrita� Visto que o surgimento da linguagem escrita varia conforme o povo ou a nação, compreen- demos que a história de cada um começa em pontos diferentes do tempo histórico ocidental� Segundo a classificação de “pré-história”, temos: ● Idade da Pedra: engloba o período Paleolítico (2,5 milhões de anos atrás a 10 mil a�C�) e o Neolítico (10 mil a�C� a 5 mil a�C�)� ● Idade dos Metais: engloba as Idades do Cobre, do Bronze e do Ferro, compreendido pelo período de 5 mil a 3,5 mil a�C� 4 Paleolítico: Arte rupestre e esculturas Datam de 40 mil a 10 mil anos a�C� os primeiros artefatos produzidos pela humanidade (ferramen- tas e objetos lascados em pedra)� Tais objetos eram úteis para a vida nômade, cujo deslocamento era constante em busca de alimento, por meio da caça e da coleta� Segundo especialistas, a técnica de lascar as pe- dras e o manuseio do fogo são habilidades técnicas que possibilitaram aos grupos humanos seus regis- tros visuais� Além das pedras, eram usados ossos, sangue, flores, madeira etc. O carvão, resultante da combinação de fogo com a madeira, foi usado para realizar desenhos ou preencher formas. Os artefatos lascados de forma pontiaguda, não só eram instru- mentos de caça e corte, como faziam a vez de lápis ou ferramenta para entalhe. O que hoje chamamos de tinta podiam ser folhas, flores e frutos triturados, carvão, sangue etc� Considera-se arte rupestre todo registro visual reali- zado por mãos humanas nas paredes rochosas de cavernas localizadas em distintos pontos do Planeta Terra� Até recentemente, acreditava-se que esse tipo de produção tivesse início na Europa, pois foram os primeiros exemplos encontrados� Referimo-nos aqui à Caverna de Chauvet e Lascaux, na França (Figura 1)� Atualmente, pesquisadores apontam os habitantes da Indonésia como os precursores da arte nas ca- 5 vernas� A produção artística mais antiga, realizada há cerca de 40 mil anos, nas cavernas da Indonésia, parece até não tão distante diante da abrangência do período Paleolítico, compreendido de 2,5 milhões de anos atrás a 10 mil a�C� Figura 1: Pintura rupestre na Gruta de Lascaux (França)� Fonte: Wikipedia� A ausência de informações explicativas sobre essas produções nos impedem de afirmar com precisão as intenções de seus criadores. Os estudiosos, no en- tanto, a partir de análises das imagens encontradas, sugerem algumas interpretações: ● Arte produzida com fins ritualísticos, que influen- ciaria ou fortaleceria a ação humana diante de mo- mentos cruciais para sua sobrevivência, como o da caça� ● Produção artística voltada a documentar o coti- diano do grupo humano em questão� 6 https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/1/1e/Lascaux_painting.jpg Essas interpretações são plausíveis, porque as pro- duções são caracterizadas por relacionarem figuras humanas, empunhando instrumentos de caça às figuras de animais. Podcast 1 Outras produções datam entre 40 mil anos a.C. e 10 mil a�C, às quais se atribui a função de arte ritu- alística, são as esculturas de barro� Especialistas consideram, por exemplo, as estatuetas de Vênus (Figura 2), que retratam corpos femininos nus, com seios e quadris volumosos, como objetos dedicados à fertilidade� Figura 2: Deusa-mãe (estatueta de Vênus)� Fonte: Wikipedia� 7 https://famonline.instructure.com/files/1054308/download?download_frd=1 https://pt.wikipedia.org/wiki/Deusa-m%C3%A3e Arquitetura neolítica: Monumentos megalíticos Em comparação ao Paleolítico e embora compreen- dido em uma extensão mais curta de tempo, de 10 mil a�C� a 5 mil a�C�, o período Neolítico apresenta transformações significativas na vida cotidiana e, consequentemente, na arte da Pré-História� O desenvolvimento das técnicas de cultivo e a do- mesticação de animais levou o ser humano a um modo de vida sedentário� Essa permanência prolon- gada em um mesmo hábitat contribuiu para a criação de instrumentos de trabalho e produção artística� Os melhores exemplos dos avanços desse período estão no uso de grandes blocos de pedra nas cons- truções arquitetônicas� Conhecidas como monu- mentos megalíticos, consideram-se essas estruturas um registro material da manifestação humana de homenagem aos antepassados� Porém, defende-se ainda a ideia de que esses monumentos associavam o estudo da astronomia à experiência religiosa� É desse modo que se interpreta a função do santuário de Stonehenge, na Inglaterra (Figura 3), uma vez que suas pedras foram dispostas de forma a acompanhar a posição do Sol nos solstícios de inverno e verão� Além disso, há indícios de que o local era utilizado para rituais� 8 Figura 3: Santuário de Stonehenge� Fonte: Wikipedia� Idade dos metais Como o próprio nome diz, caracteriza-se a Idade dos Metais pela substituição de pedras, ossos e madeiras por metais na produção ferramentas e armamentos� O desenvolvimento das técnicas de manipulação do cobre, bronze e ferro, por meio da fundição, ocorreu em períodos diferentes em cada região do planeta� Segundo Machado (2017), as primeiras ferramentas fundidas ou forjadas em ferro surgiram na África Ocidental, por volta de 1200 a.C. O autor informa ainda que se localiza na Suazilândia, África do Norte, a mina mais antiga que se tem notícia, datada cerca de 43 mil anos� Nesse período, uma forma bruta do ferro, a hematita era usada para fins cosméticos e ritualísticos� 9 https://pt.wikipedia.org/wiki/Monumento_megal%C3%ADtico#/media/Ficheiro:Stonehenge_front_half.jpg Figura 4: Cristal trigonal de Hematita� Fonte: Wikipedia� A estética na antiguidade: A arte grega e o ideal de beleza e virtude Ao partir da análise sobre o termo estética, apro- fundaremos o que temos estudado sobre arte na Grécia Antiga e sua influência na arte ocidental. A arte é o resultado de um fazer criativo em que se processam a elaboração intelectual e a percepção humana acerca do mundo� Então surge a pergunta: o que é a Estética? A palavra é originária do termo grego aesthesis, quesignifica apreensão de conhecimento por meio de sentidos, percepção, sensibilidade� Refere-se, por- tanto, à compreensão do mundo por meio de olfato, paladar, visão, audição e tato� 10 https://pt.wikipedia.org/wiki/Hematita#/media/Ficheiro:WLA_hmns_Hematite.jpg Considera-se a Estética um dos campos de conheci- mento da Filosofia, voltado ao estudo da percepção do mundo pelo aspecto sensível� As linguagens e conceituações da arte, os processos artísticos cria- tivos, o papel das obras de arte nas relações sociais, políticas e éticas constituem os temas e linhas de pesquisa da Estética� Com vistas a estudar a arte grega, os historiadores di- videm em três períodos: arcaico, clássico e helênico� Período arcaico No período arcaico (600 a 500 a�C�), iniciou-se o processo de urbanização da Grécia, como uma consequência do crescimento do comércio� Com o enriquecimento da aristocracia, promoveu-se o desenvolvimento da arquitetura e esculturas monu- mentais, tendo-se o mármore como matéria-prima e a arte egípcia e oriental como influência. Na perspectiva de pesquisadores contemporâneos, o período, compreendido apenas como o que pre- cede o clássico, é considerado fundamental para o estabelecimento da cultura e arte grega� Comandada pelos Tíranos, a sociedade tinha um sistema de educação e formação ética, o Paideia, que impactou a produção artística� Com o objetivo de formar um cidadão completo e perfeito, isto é, capaz de exercer papel exemplar na sociedade, seja como líder ou liderado, o sistema envolvia o estudo de Música, Matemática, Gramática, História, entre outras disciplinas� 11 Na estátua Kouros Kroisos (Figura 5), esculpida em mármore e cuja autoria é desconhecida, verifica- -se uma figura masculina de 1,94m de altura, com músculos bem desenhados, formas harmoniosas e simétricas que correspondiam ao ideal de beleza associado à virtude que aristocratas ou guerreiros deveriam portar� Figura 5: Kouros Kroisos (530 a�C�)� Fonte: Wikipedia� 12 https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/e/ea/Kouros_anavissos.jpg FIQUE ATENTO A palavra paideia (relacionada a paidos=criança) significava “criação de meninos”. Como um sistema de educação e formação ética, estava associada a um conjunto de conceitos que se inter-relacionava: Aretê (excelência, virtude): refere-se ao desenvolvi- mento da aptidão física, militar e do caráter nobre� Kalokagathia: designa o ideal de perfeição e equi- líbrio entre belo e virtuoso, belo e bom� Sophrosyne: relativo ao ideal de contenção, disci- plina e autocontrole� Dado que a arte está intimamente relacionada à so- ciedade que a criou, os conceitos educativos e éti- cos da paideia são explorados pelos artistas gregos� Assim, cabia a artes visuais, artes cênicas, literatura, poesia, música, teatro e arquitetura transmitir cultura e os conhecimento apreendido acerca do mundo pela percepção sensorial� Na Grécia Antiga, essa percepção sensorial do mun- do expressa em uma obra de arte deveria propor- cionar o prazer estético� Cabia à beleza, portanto, a função de proporcionar esse prazer� Um objeto como um vaso, por exemplo, verdadeira- mente belo seria útil duplamente, por poder conter algo, como vinho e azeite, e, em decorrência de sua beleza, por elevar o espírito� 13 A Virtude despertaria naqueles que contemplassem o belo, construído a partir dos ideais de harmonia, simetria e proporção. Os objetos artísticos, cuja be- leza atuaria como ideal pedagógico, eram utilizados com finalidades religiosas, funerárias e domésticas. Se o Bom e o Belo estavam associados, as cerâmi- cas, pinturas e esculturas deveriam ser concebidas buscando a perfeição e, em geral, representavam ou traziam a figura humana. Tendo em vista que o corpo humano era valorizado, os artistas criavam inspirados em modelos vivos. Observe a Figura 6: Figura 6: Enócoa (jarro de vinho) com Aquiles e Ájax em jogo de tabuleiro (510 a�C�)� Fonte: Wikipedia� 14 https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/6/6e/Akhilleus_Aias_Staatliche_Antikensammlungen_1790.jpg Esse culto ao corpo, sobretudo o corpo masculino, manifestava-se nos Jogos Olímpicos. Passaram, assim, a representar as práticas desportivas e os atletas em escultura de mármore ou bronze, objetos de cerâmica, relevos nas paredes e moedas� Figura 7: Récita poética de jovem acompanhada de músico (420 a�C�)� Fonte: Wikipedia� 15 https://pt.wikipedia.org/wiki/Paideia#/media/Ficheiro:Stele_lyre_player_Glyptothek_Munich.jpg Do Arcaico ao Clássico Na Figura 8, temos a escultura de um atleta pronto para o lançamento de um disco� Essa é uma das estátuas gregas mais conhecidas na atualidade, Discóbolo, feita pelo escultor Míron (século V a�C�)� Figura 8: Discóbolo, de Míron� Fonte: Wikipedia� 16 https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/5/5f/Greek_statue_discus_thrower_2_century_aC.jpg Os historiadores da arte grega apontam a obra de Míron como a pioneira no trato naturalista da anatomia e da representação da movimentação humana, o que é visível quando comparada com a rigidez da estátua Kouros Kroisos. Sua obra também é identificada como marco da transição do período Arcaico para o Clássico� Podemos perceber nessa escultura o equilíbrio na posição das pernas e dos braços, que indicam mo- vimento; harmonia acentuada pela circularidade das formas no disco, na linha externa de continuidade dos braços, na linha externa das coxas para as costas� O artista enfatiza a verticalidade da figura com um eixo que parte do pé posto no chão e finaliza na cabe- ça. Outra linha circular é possível ser notada partindo do disco, passando pelos dois braços e, após breve interrupção da mão no joelho, finalizando na perna em diagonal. Verificamos ainda a simetria na parte central da imagem, da linha externa das coxas para as costas com a linha externa do braço abaixado� O Discóbolo comentado aqui é uma reprodução reduzi- da e sem a pintura que os gregos costumavam usar para acentuar a intenção naturalista� De qualquer modo, vale a pena observar atentamente a obra e buscar identificar os recursos utilizados pelo artista para representar o corpo do atleta como ideal de beleza e perfeição� Vale lembrar, ainda, como o Belo estava associado ao Bom, e o equilíbrio do corpo físico estava associado ao da mente ou espírito� Outra característica marcante da arte grega que envol- via os elementos figurativos, como animais e pessoas, 17 é o aspecto narrativo� No Discóbolo, talvez isso não seja evidenciado, mas se olharmos para a escultura, ela nos leva a visualizar o instante anterior à pose (o de preparo) e o instante em que o disco já foi lançado� São obras que trazem trechos de um jogo em que vários personagens estão presentes, como nos vasos (Figuras 9 e 10) com representação de corrida com armas e de uma cena de luta� Nesses exemplos, os corpos são desenhados com traços mais estilizados� Ainda assim, é possível ob- servar como as linhas ressaltam a musculatura e a busca pelo registro da movimentação� Figura 9: Vaso com representação de corrida com armas (550 a�C�)� Fonte: Wikipedia� 18 https://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Hoplitodromos_Staatliche_Antikensammlungen_1471.jpg Figura 10: Vaso com a representação de cena de luta (550 a�C�)� Fonte: Wikipedia� Período helenístico O Período Helenístico corresponde ao momento de expansão da civilização grega pelo Oriente Médio e o Mar Mediterrâneo� Assim, a arquitetura, a escultura, os grandes monumentos, o mosaico e a pintura são marcados pela expressão de grandiosidade� Os artistas demonstravam grande domínio técnico no uso do mármore, por exemplo, e na construção das figuras humanas. As cenas representadas possuem forte carga dramática, como se verifica na Figura 11, que retrata uma escultura de 2,08m por 1,63m, em que Laocoonte e seus filhos são atacados pelas serpentes enviadas por Apolo: 19 Figura 11: Laocoonte e filhos, atribuído a Agesandro, Atenodoro e Polidoro (27 a�C� a 68 a�C�)�Fonte: Wikipedia� A busca pelo ideal de beleza manifestava-se também na arquitetura grega, caracterizada pelo uso de colu- nas. Na figura 12, temos colunas de ordem clássica, desenvolvidas entre os séculos 7 a�C� e 335 a�C, que acabaram por influenciar a arquitetura romana. Figura 12: Colunas Dórica, Jônica e Coríntia, respectiva- mente� Fonte: Wikipedia� 20 https://pt.wikipedia.org/wiki/Grupo_de_Laocoonte https://de.wikipedia.org/wiki/Datei:S%C3%A4ulenordnung-2.jpg Arquitetura monumental: egípcios e romanos Neste tópico, estudaremos as construções arqui- tetônicas monumentais como forma de expressão artística e recurso de demonstração de poder� Na Figura 13, temos um complexo arquitetônico constru- ído pelos egípcios antigos, uma das mais influentes civilizações do mundo� Localizadas no Egito, essas são as famosas Pirâmides de Gizé� Também conhecidas como Necrópole de Gizé, isto é, a cidade dos mortos dos Gizé� Segundo a cosmologia egípcia, a preservação sagrada do corpo físico permitiria que a alma vivesse eternamente após a morte� Por esse motivo, grande parte da produção artística egípcia relaciona-se a ritos religiosos fúnebres dos faraós, reis e rainhas do Egito Antigo� Os faraós mortos deveriam ter seus corpos embalsa- mados, ricamente adornados com joias e preserva- dos para a vida eterna, em que navegariam ao lado do Rei Sol� Cada pirâmide corresponde a uma espécie de templo com a função sagrada de guardar o corpo do faraó e de seu séquito� Figura 13: Necrópole de Gizé� Fonte: Wikipedia� 21 Além da preservação do corpo, acreditava-se que uma escultura que reproduzisse fielmente a cabe- ça do morto garantiria a vida eterna. O historiador Gombrich (1999, p� 33) explica que o termo escul- tor era designado pelos egípcios como “aquele que mantém vivo”. Na Figura 14, temos o busto de Nefertiti, icônica re- presentação de uma mulher do Egito Antigo, cujas histórias controversas a mantêm viva� Alguns histo- riadores apontam-na como a consorte (esposa) do faraó Aquenáton; outros, no entanto, defendem que ela teria sido faraó, uma descendente diretamente dos reis egípcios� REFLITA Anteriormente, estudamos as cabeças em home- nagem aos Obas mortos do Benin� Esse pode ser um tema de pesquisa relevante para os estudos sobre a relação arte e religião no continente afri- cano em momentos e países distantes� 22 Figura 14: Nefertiti, calcário e estuque (1345 a�C�)� Fonte: Wikipedia� A organização política do Egito Antigo centralizava-se na figura divinizada do faraó, por tratar-se de uma so- ciedade que acreditava na vida após a morte� Assim, 23 https://en.wikipedia.org/wiki/File:Nofretete_Neues_Museum.jpg além dos objetivos funerários, a arquitetura egípcia também se constituía pelos monumentos religiosos e de moradia� Entre as suas características principais, vale destacar: ● Grandiosidade das dimensões; ● Apresentação densa e pesada; ● Formas simples (triangulares, retangulares, qua- dradas, trapézios); ● Predomínio de vazio sob as superfícies, policromia� Roma: arquitetura, pão e circo O Império Romano foi constituído pela conquista e ocupação de vários territórios, incluindo a Península Ibérica, o norte da África e o centro da Ásia� Essa amplitude territorial reunia sob o domínio de Roma distintas civilizações� Se, por um lado, os romanos foram influenciados pelas culturas desses povos, por outro, buscaram demonstrar sua grandiosidade por meio do desen- volvimento da arquitetura pública� Desse modo, construíram em dimensões monumen- tais teatros, termas e circos voltados ao lazer do povo. Lembra da expressão “pão e circo”? Era uma forma de entretenimento popular promovido pelo governo� Então saiba que ela foi proferida pela pri- meira vez pelo poeta romano Décimo Júnio Juvenal� Com ela, o poeta criticava, em forma de sátira, a polí- tica dos imperadores romanos de oferecer alimento 24 e diversão ao povo como um modo de mantê-lo na ignorância� Podcast 2 Na Figura 15, observamos a célebre arena Coliseu, onde se realizavam os combates entre gladiadores e outros eventos públicos� Com capacidade para até 80 mil espectadores, é considerado o maior anfiteatro já construído� A construção é estruturada por arcadas romanas em composição com as colunas gregas dóricas, jônicas e coríntias, diferenciadas por andar� Figura 15: Coliseu (68 a 79 d�C�)� Fonte: Wikipedia� Segundo Ernest H� Gombrich (1999), em sua maioria, os artistas atuantes em Roma eram gregos, o que colaborou para que os monumentos e a estatuária romanos tivessem a referência da estética prove- niente da Grécia Antiga� 25 https://famonline.instructure.com/files/1054309/download?download_frd=1 https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/d/d8/Colosseum_in_Rome-April_2007-1-_copie_2B.jpg Os arcos no Coliseu são o elemento mais marcan- te da arquitetura romana� Embora os gregos já os conhecessem, não o exploraram tanto quanto os romanos. O domínio da técnica de construção de arcos permitiu o desenvolvimento de projetos mais elaborados, como aquedutos e tetos com abóbadas (Figura 16): Figura 16: Abóbada do Panteão (parte interna)� Fonte: Wikipedia. 26 Figura 17: Panteão (parte externa)� Fonte: Wikipedia� Arte Africana e Arte Americana Pré-Colombiana O conhecimento e a compreensão das artes africana e pré-colombiana valorizam estéticas diferentes� Vale fazer aqui algumas considerações acerca do terceiro continente mais extenso do planeta, depois da Ásia e das Américas, bem como o segundo mais populoso da Terra, depois da Ásia� Estamos falando da África� Atualmente, o continente africano conta com 55 países independentes. O termo país passou a ser adotado após a colonização europeia� Antes disso, o continente era dividido em reinos� Divisões e redi- visões territoriais ao longo da história do continente africano fez com que etnias diferentes fossem distri- buídas em mais de um país, assim como um mesmo país pode ter mais de um grupo étnico� Conforme observa Geledés (2010), os povos ao redor do Mar Mediterrâneo foram privilegiados pelo Ensino 27 https://pt.wikipedia.org/wiki/Pante%C3%A3o_(Roma)#/media/Ficheiro:Pantheon_panorama,_Rome_-_5.jpg da História� Assim, o Egito, embora localizado na África, era relacionado aos países da região Norte, denominada África Branca pela perspectiva impe- rialista ocidental� Tal denominação ocultava a história dos povos ne- gros que habitaram as áreas antes que fossem do- minadas pelos persas, gregos e romanos� Isso faz com que muitas pessoas, ainda hoje, não saibam que o Egito é um país africano� Com isso, geógrafos e historiadores contemporâneos compreendem a divi- são adequada para a África como África Setentrional, África Ocidental, África Central, África Oriental e África Meridional� Essa abordagem do Ensino da História também se manifestou no Ensino de História da Arte, o que levou a não percepção da diversidade da produção artística dos países africanos e seus distintos grupos étnicos e linguísticos� Muitos dos povos tradicionais da África têm, entre suas produções artísticas, a dança, a música, as en- cenações, o uso da oralidade, a pintura e a escultura� Nas artes visuais, a criação de máscaras faciais e corporais também são recorrentes� Há diferenças nos usos de materiais, embora haja uma tendên- cia ao uso de materiais de origem animal e vegetal, como cabelos/pelos, ossos, folhagens etc� Alguns grupos étnicos trabalhavam com padrões artísticos explorados em tecidos, vestimentas, joias, móveis e moradias� 28 Uma das principais características da arte europeia, inspirada na arte grega, é o aspecto visual� Na arte africana, embora a superfície das peças tenha grande importância, muitos objetos possuem em seu interior elementos que constituem seu significado. Além disso, os materiais com que são construídos portam forças mágicas� Segundo as tradições relacionadas às visões de mundo africanas, há um poder místico que emana de barro, folhas, marfim,madeira, ossos, cabelos etc� Nas figuras a seguir, podemos verificar certa seme- lhança temática e o uso de alguns materiais, sobre- tudo, a madeira� A elaboração das esculturas, no entanto, diferencia-se na forma� A estatueta (Figura 18) do grupo étnico Tchokwe, da Angola, representa a mãe ou esposa de um rei� Esculpida em madeira sem objetivar a reprodução mimética da figura humana, ela tem aspectos do cor- po bem definidos, como pés, musculatura e seios. Os traços do rosto também são produzidos com linhas bem marcadas� 29 Figura 18: Estatueta de uma mãe ou esposa de um rei Tchokwe (Angola)� Fonte: Museu Etnológico de Berlim� A estatueta do grupo étnico Fang-Ngumba, dos Camarões, também esculpida em madeira, apresenta mãos, pés e músculos menos enfatizados (Figura 30 19)� Há uma certa similaridade na forma marcada das feições do rosto da estatueta do grupo Tchokwe� Figura 19: Estatueta (Byeri), séc� 19, Fang-Ngumba, em madeira, penas, ferro, latão, vidro e casca de árvore� Fonte: Museu Etnológico de Berlim� Note que as máscaras são recorrentes em quase todos os grupos étnicos africanos. Objetos de cárater ritualístico também são produzidos com materiais de origem vegetal ou animal portadores de força mística� São utlizadas em rituais de iniciação, mas 31 também em rituais fúnebres, celebrações, encena- ções etc� Figura 20: Máscara facial feminina em madeira, tinta ver- melha e branca, ráfia tecida, tecido, búzios e contas de vidro. República Democrática do Congo, Kuba� Fonte: Wikipedia� Para os Kuba, as máscaras correspondem a espíritos da natureza (mingesh) que possibilitam a comuni- cação entre o mundo dos mortais e o ser supremo (Nyeem)� Na Figura 21, temos um dos 20 tipos de máscaras que atuam na sociedade com a função de iniciação dos homens� Trata-se de Woot, o herói fundador, de quem os Kuba seriam descendentes� 32 https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/8/85/Masque_Kuba-Mus%C3%A9e_ethnologique_de_Berlin.jpg São máscaras de representação do poder, tendo o uso reservado ao rei de Kuba ou aos chefes de al- deias� As máscaras do rei são, em geral, feitas de pele de leopardo, já as dos chefes de aldeias são feitas com pele de antílope� Figura 21: Máscara Mwaash aMbooy, representando Woot, o mítico herói fundador do Reino Kuba� Fonte: Wikipedia� SAIBA MAIS O Museu Afro Brasil tem uma coleção de arte afri- cana diversificada. Para conhecer um pouco mais sobre essa coleção, você pode consultar a publi- cação África em Arte (2015), de Juliana Ribeiro da 33 https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/c/ca/Brooklyn_Museum_22.1582_Mwaash_aMbooy_Mask.jpg Silva Bevilacqua e Renato Araújo da Silva, que pode ser acessado em: www.museuafrobrasil.org.br� Na arquitetura, além das pirâmides, o continente afri- cano compreende um conjunto de construções de ordem monumental bastante originais� Trata-se do conjunto de 11 templos religiosos (tombados pela Unesco em 1978) em Lalibela, Etiópia� São igrejas mo- nolíticas, construídas de cima para baixo (Figura 22)� Ao recorrer a essa técnica, isolava-se um colossal bloco de pedra no chão por meio de escavação� Em seguida, a igreja era esculpida na pedra� Figura 22: Igreja Monolítica de São Jorge, Lalibela (Etiópia)� Fonte: Wikimedia� 34 http://www.museuafrobrasil.org.br/docs/default-source/publica%C3%A7%C3%B5es/africa_em_artes.pdf https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/5/5e/Bet_Giyorgis_church_Lalibela_01.jpg Arte de povos originários pré-colombianos Verificaremos a arte de alguns povos originários das Américas neste tópico, mais especificamente da re- gião do continente colonizado pelos espanhóis em 1492, sob o comando de Cristovão Colombo� Tal qual a África, mas em menor proporção, a região apresentava uma enorme diversidade linguística e étnica� Arqueólogos apontam indícios da presença humana nas Américas de cerca de 20 mil anos� Nessa região, encontram-se as manifestações ar- tísticas produzidas pelas civilizações antigas mais desenvolvidas do continente, como os povos astecas, maias, olmecas e teotihuacanos� De todas elas, a mais antiga é a civilização maia, cujo surgimento data por volta de 2600 a�C�, na pe- nínsula de Yucatán (Venezuela), América Central� Em seguida, o império dos astecas, de 1376 a 1521, em Tenochtitlán, atual cidade do México� A civilização Inca, por sua vez, localizava-se no atual território do Peru, da Bolívia e do Equador, nos Andes, América do Sul, e ocupava porções do território atualmente dividido entre Argentina, Chile e Colômbia� Tal qual no Egito Antigo, as estruturas piramidais predominavam na arquitetura das civilizações meso- americanas antigas� Na Figura 23, temos em primeiro plano a Pirâmide do Sol e, ao fundo, a Pirâmide da Lua, construídas pelos astecas, no México� Um aspecto importante a se observar que tem simi- laridade com outras pirâmides estudadas e com os 35 megalíticos da Inglaterra é a relação com a astrono- mia� No caso da Pirâmide do Sol, ela foi projetada de forma que o Sol se ponha em sua frente no solstício de verão� O uso das pirâmides relacionava-se às crenças mi- tológicas dos povos� Serviam como locais sagrados para sacrifícios, oferendas, rituais religiosos e à pre- servação dos mortos� Figura 23: Pirâmide do Sol (à frente) e Pirâmide da Lua (ao fundo), nas ruínas de Teotihuacán (México)� Fonte: Wikipedia� No Mural da Grande Deusa de Teotihuacán (Figura 24), podemos observar que a morte era cultuada pelos astecas� Sua representação associa-se aos poderes e mistérios da escuridão, morte e criação, por meio do uso de animais como corujas, onças e aranhas: 36 https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/8/8f/Teotihuac%C3%A1n_2012-09-28_00-07-11.jpg Figura 24: Mural da Grande Deusa de Teotihuacán� Fonte: Wikipedia� SAIBA MAIS Saiba mais sobre os conceitos de História e História da Arte de povos não ocidentais a par- tir de uma análise crítica de Ariano Suassuna em História da Arte no Brasil: Uma História de Cinco Séculos?, disponível em: www.youtube.com� 37 https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/c/cc/Great_Goddess_of_Teotihuacan_%28T_Aleto%29.jpg https://www.youtube.com/watch?v=ew5XpfZMwnQ CONSIDERAÇÕES FINAIS Neste módulo, apresentamos o desenvolvimento das manifestações artísticas em distintas civilizações� Com isso, buscamos demonstrar de que maneira o desenvolvimento, a percepção de mundo de cada povo e suas formas de governo impactaram a sua produção artística� Se, na Pré-História, a arte teve uma função de poder mágico ou de narrativa do cotidiano, na Grécia Antiga, verificamos a associação da beleza à virtude, com uma função educativa� Verificamos também a arquitetura monumental no exercício de poder — explorada principalmente com fins funerários para os faraós egípcios — e de con- trole político pelos imperadores romanos� Estudando a Arte Africana e a Arte Americana Pré- Colombiana, finalizamos este módulo com uma am- pliação do olhar acerca das produções artísticas não ocidentais, que se assemelham às artes ocidentais e se distanciam delas em alguns aspectos� 38 SÍNTESE Finalizamos o módulo com uma ampliação do nosso entender sobre as produções artísticas não ocidentais, que se assemelham às artes ocidentais e se distanciam delas em alguns aspectos� Por fim, ampliamos nossos referenciais artísticos a partir da Arte Africana e da Arte Americana Pré-Colombiana� Ao fazê-lo, pudemos perceber que a Arte Africana e a Arte Americana Pré-Colombiana são diferentes umas das outras� ARTES COMO EXPRESSÃO DAS CULTURAS DE SOCIEDADES HISTÓRIA DA ARTE Em seguida, estudamos o papel da arquitetura monumental no exercício de poder dos faraós egípcios e dos imperadores romanos� Verificamos, assim, que a arquitetura monumental no exercício de poder — explorada principalmente com fins funerários para os faraós egípcios — e de controle político pelos imperadores romanos� Se, na Pré-História, a arte teve uma função de poder mágicoou de narrativa do cotidiano, na Grécia Antiga, verificamos a associação da beleza à virtude, com uma função educativa� Neste módulo, nosso foco foi o estudo das produções artísticas enquanto uma forma de expressar a cultura de determinadas sociedades� Isso nos levou a realizar uma volta no tempo e ao mundo, pois abordamos questões históricas e geográficas, com o intuito de entender as primeiras formas de expressões na Pré-História, mas também o conceito de estética na antiguidade e a relação entre o ideal de beleza e a virtude� Referências Bibliográficas & Consultadas AMARAL, A� A� Arte para quê? A preocupação social na arte brasileira (1930-1970): subsídios para uma história social da arte no Brasil� 3� ed� São Paulo: Estúdio Nobel, 2003� ARENDT, H� A condição humana� 10� ed� Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2007� BARROSO, P. F.; NOGUEIRA, H. História da Arte� Porto Alegre: Sagah, 2018 [Minha Biblioteca]� BENJAMIN, W� Estética e Sociologia da Arte� Belo horizonte: Autêntica, 2017 [Biblioteca Virtual]� BENJAMIN, W� A obra de arte na era de sua reprodu- tibilidade técnica� Vol�1� Porto Alegre: L&PM Pocket, 2000� BEVILACQUA, Juliana Ribeiro da Silva; SILVA, Renato Araújo da� África em Artes� São Paulo: Museu Afro Brasil, 2015� CHAUÍ, M� Convite à filosofia� São Paulo: Ática, 2003� CHIARELLI, T� De Anita à academia: para repensar a história da arte no Brasil� Novos estudos Cebrap, São Paulo, n� 88, dez� 2010, p� 113-132� Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_ arttext&pid=S0101-33002010000300007&lng=pt&nr m=iso� Acesso em: 20 fev� 2020� DALDEGAN, V.; DOTTORI, M. Elementos de História das Artes� Curitiba: InterSaberes, 2016 [Biblioteca Virtual]� GELEDÉS� Plano de aula: a arte Africana e suas in- fluências. 27 set. 2010. 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