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Atualmente, perante a informação que dispomos, através da comunicação social, percebemos que a violência familiar é um fato, e muito pouco se tem feito no sentido de atenuar. Não quer, isto dizer, que tenha havido um aumento da violência, apenas reconhece-se que é mais divulgada.
As crianças expostas à violência doméstica são vítimas indiretas, mas igualmente vulneráveis de várias consequências físicas e psicológicas, que podem ser ou não de percepção imediata. Nesse sentido, julgamos pertinente distinguir duas situações diferentes como: a criança vítima direta de violência, e a criança que assiste indiretamente à violência doméstica.
Importa realçar que a associação entre a exposição à violência familiar e vitimação direta de violência estão fortemente interligadas. A exposição a um tipo de violência aumenta significativamente a probabilidade da exposição a outras formas de abuso, sendo que as crianças testemunhas de violência interparental estão em maior risco de serem o alvo direto de outras formas de vitimação, nomeadamente o abuso físico e sexual.
A violência parental não é um novo problema social, embora tenha vindo a merecer um olhar cada vez mais atento e um desafio para alguns serviços sociais, educativos e de saúde. A violência doméstica em crianças e/ou adolescentes vai evidenciar-se mais no âmbito escolar, manifestando-se na indisciplina, agressões aos colegas e professores (situações de bullying), perda de confiança, baixo rendimento escolar, apatia, dificultando a aprendizagem e a construção de atitudes sociáveis e saudáveis.
De acordo com a American Psychology Association (1996, p.2) a “violência familiar é um padrão de comportamento abusivo que incluí uma variabilidade de maus-tratos possíveis, desde físicos, sexuais e psicológicos, usados por uma pessoa contra outra, num contexto de intimidade, em ordem a adquirir poder ou manter essa pessoa controlada” (Costa e Duarte, 2000).
Existem alguns exemplos de crianças vítimas diretas de maus-tratos físicos e sexuais por parte dos pais revelarem nas suas histórias que, durante muitos anos, experienciaram o horror de testemunhar a sua mãe a ser fisicamente e verbalmente maltratada. Muitas destas crianças vivem em segredo com o problema da violência na sua família e o medo reforça esse silêncio (Sani, 2006).
A violência doméstica pode ser definida como toda a ação ou omissão praticados pelos pais, parentes ou responsáveis pela criança, causando danos físicos, sexuais e psicológicos à vítima. Isto implica uma transgressão de poder e dever de proteção do adulto e numa negação do direito que as crianças/adolescentes têm de ser tratadas como sujeitos.
A cultura do silêncio é uma forma de opressão e um sinal de falta de poder, fenómeno este que não é criado pela criança mas pela sociedade em que se insere, não querendo se denunciar a si mesma. O sofrimento das crianças é um sofrimento silenciado pelo desinteresse dos adultos e pela indiferença social dos seus sentimentos.
Embora se tenha verificado algumas mudanças a nível de atitudes e comportamentos, não podemos deixar de proferir que o sistema familiar ainda se caracteriza como um sistema patriarcal, em que o homem é o detentor de poder, e os papéis são definidos tradicionalmente com atitudes e crenças de educação e vivência familiar conservadora. Exemplo disso: “a pancada nunca fez mal a ninguém”, “o filho é meu e eu é que sei o que é melhor para ele”.
Para concluir, é preciso sensibilizar a sociedade com lucidez, persistência e pragmatismo, de que maltratar uma criança é considerado crime. A atual legislação refere que um cidadão que presencie um mau trato infantil pode e deve denunciar os responsáveis, é a sua obrigação moral.
Consideramos que é da responsabilidade de todos os profissionais de saúde que trabalham com crianças, sejam eles médicos, psicólogos, enfermeiros, educadores, técnicos de serviço social, etc, não ignorar um caso de maus-tratos, pois tal é pôr em causa a vida e o futuro de uma criança e perder a oportunidade de intervir numa família em crise.
É preciso conhecer e ficar sensibilizado sobre estas situações reais para, posteriormente, denunciar e intervir na sua prevenção o mais precocemente possível, em conjunto com as entidades competentes em matéria de jurisprudência. Só assim se conseguirá atuar eficientemente e eficazmente em crianças maltratadas e famílias maltratantes.
NTRODUÇÃO
Busca-se através desta pesquisa o aprofundamento referente ao assunto de violência sexual doméstica contra crianças e, consequentemente, descobrir quais são os amparos legais que podem proteger o menor de um possível agressor que se encontra em seu âmbito familiar.
A respeito da violência doméstica e familiar, observa-se a existência da Lei 11.340/2006, popularmente conhecida pela Lei Maria da Penha, que objetiva a proteção às mulheres vítimas de violência neste gênero.
Criadas na referida Lei 11.340/2006, destaca-se o surgimento das medidas protetivas de urgência, que visam garantir e buscar uma maior eficácia de tutela perante as suas vítimas, antes de uma possível condenação penal.
Nesse contexto, diante da enorme eficácia e garantia de segurança que as medidas protetivas proporcionam a quem é resguardado por elas, o legislador garantiu a sua aplicabilidade em casos de crianças, adolescentes, enfermos e idosos.
Acerca do assunto, busca-se descobrir se as medidas protetivas abrangem os menores em caso de violência sexual no ambiente intrafamiliar e qual a potência de tais medidas e se são realmente efetivas.
Além disso, através dessa pesquisa, será abordada a violência sexual infantil no âmbito familiar e as novas alterações trazidas pela Lei 12.015/2009 e a aplicabilidade das medidas protetivas em casos de violência intrafamiliar contra menores.
1 - LEI MARIA DA PENHA: CONCEITO DE VIOLÊNCIA DOMÉSTICA
A Lei 11.340/2006, conhecida popularmente como Lei Maria da Penha, foi criada através da luta da farmacêutica Maria da Penha Maia Fernandes, que além de sofrer agressões de seu marido, foi vítima de tentativa de homicídio por duas vezes, sendo que em uma destas tentativas a mesma ficou paraplégica, em razão de um tiro de espingarda. Um pouco mais de uma semana após a primeira tentativa, seu marido tentou por mais uma vez matá-la, através de uma descarga elétrica enquanto a mesma tomava banho.
Ao contrário do que se pensa o sujeito ativo de tal lei não é só o homem agressor contra a vítima mulher, tampouco não é necessário que as partes sejam marido e mulher. Para que o crime possa ser concretizado, o agressor pode ser tanto homem como mulher, devendo estes possuir alguma relação familiar ou afetiva (nos casos de união estável) com a vítima mulher.[1]
Em relação à vítima, esta pode ser avó, neta, irmã, mãe, filha, enteada ou qualquer outro parente que o agressor possua algum vínculo familiar ou afetivo nos casos de união estável e relação homossexual entre mulheres.
Neste sentido, entende SOUZA [2]:
Assim sendo, verifica-se que houve a preocupação do legislador ao criar esta lei para proteger, especificadamente, a mulher que se encontra em situações de hipossuficiência e/ou inferioridade física em relação ao agressor.
As formas de violência que podem abranger o âmbito doméstico, estão tipificadas no art. 7º da Lei 11.340/06 [4], como se observa abaixo:
Contudo, as medidas protetivas poderão ser aplicadas também, no âmbito doméstico, quando a vítima for criança, adolescente, idoso, enfermo ou pessoa com deficiência, conforme alteração realizada pela Lei 12.403/11 no art. 313, III, do Código de Processo Penal.
Assim sendo, nota-se que sua eficiência é garantida às vítimas menores, seja ela do sexo feminino ou masculino.
A medida protetiva deve ser ofertada à vítima no momento do registro da ocorrência na delegacia. Nesse momento, deve ser questionado se há interesse em suspender o porte de arma do agressor, afastamento do lar, proibição de aproximação, de contato e de frequência a determinados lugares, restrição ao direito de visita de menores e prestação de alimentos provisionais.[6]Na sequência, a solicitação é encaminhada ao Juízo competente para que, no prazo de 48 horas, analise e defira ou não as medidas protetivas de urgência à favor da vítima.
A retratação da vítima era cabível em nosso ordenamento jurídico, desde que realizada no Juízo, e não na delegacia. Contudo, diante de uma recente decisão proferida pelo STF[7], ações derivadas do âmbito doméstico passaram a ser ações penais incondicionadas à representação, ou seja, no momento em que são instauradas, não dependem mais do desejo da vítima para prosseguimento.
Ressalta-se que em relação aos crimes sexuais em relação à menores, seja ele no âmbito doméstico ou não, serão sempre de ação penal pública incondicionada, nos termos do art. 225, § único, do Código Penal.
Cabe destacar que tais medidas cautelares, previstas na Lei 11.340/06, possuem caráter transitório e precário, necessitando, portanto, estarem vinculadas à um processo principal.
A fim de garantir sua eficácia, o legislador garantiu à segurança da vítima a possibilidade da prisão preventiva nos casos de descumprimento da medida protetiva por parte do agressor. Neste sentido, colhe-se da jurisprudência [8]:
Violência sexual infantil no âmbito familiar
Monique Deluca|Luiz Eduardo Cleto Righetto
Publicado em 05/2019. Elaborado em 11/2012.
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· DIREITO PENAL
5 - O AUMENTO DE PENA NOS CRIMES PRATICADOS NO ÂMBITO FAMILIAR
Como se sabe, o abuso sexual infantil no ambiente intrafamiliar é mais frequente do que as demais violências sexuais existentes em nosso ordenamento jurídico. Tudo se deve à facilidade da consumação do referido crime, em razão da autoridade que o agressor exerce sobre a vítima, o que, consequentemente, dificulta a ação do judiciário em processar e julgar o sujeito ativo da questão.
Acerca do assunto, observa-se o entendimento de AZAMBUJA[21]:
(...) a violência sexual intrafamiliar é a que vem revestida de maior complexidade para a prevenção, o diagnostico e o tratamento, quer porque o abusador é pessoa das relações familiares da vítima, quer porque afronta importantes regras do convívio sociocultural, quer porque escassas são as políticas públicas voltadas a família, quer porque poucos são os casos notificados, se comparados com o número real de ocorrências.
Pelo fato do infrator ou infratora fazer parte do ambiente familiar e, pela vítima ser menor de 14 anos, há certa dificuldade em extrair informações acerca do crime, como observado na maioria dos casos perante o Juízo Comum.
É de ser revelado, que muitas vezes, a vítima sofre ameaças, eis que o agressor dita punições para que a mesma deixe de divulgar o fato ocorrido. Assim, pode-se dizer que a ocorrência de casos de violência sexual infantil no âmbito familiar é bem maior na prática do que os constantes no sistema judiciário.
Em razão a esta quebra de confiança, a lei preceitua o aumento de metade da pena como forma severa de punir àquele que se utiliza da condição de confiança da relação parental para cometer crime contra a dignidade sexual do individuo.
Convém esclarecer, outrossim, que com a aplicação do inciso II, do Art. 226, do Código Penal, deixa-se de se aplicar o disposto no Art. 61, inciso II, alínea ee f, do Código Penal, que se refere às agravantes genéricas, diante do princípio non bis in idem.[22]
Assim, tem-se que a lei é rigorosa quando se trata de violência sexual infantil no ambiente intrafamiliar, por se tratar de um crime grave, com grande desaprovação social que além de ser um ato desprezível, adultera as emoções e a dignidade do menor ofendido.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A existência da Lei Maria da Penha surgiu para legalizar os casos de violência doméstica, punir os agressores e, desta forma, evitar a continuação de tais agressões no ambiente intrafamiliar. Em seus artigos, a referida lei define quais são os requisitos para que uma violência seja tipificada doméstica, o que é considerado violência no âmbito familiar e quais as consequências que o agressor poderá sofrer. Destaca-se que ao contrário do que se pensa, tal lei ampara não somente a mulher ofendida, mas também irmã, prima, mãe, filha que vierem a sofrer as agressões estipuladas no seu teor.
Um dos principais benefícios que esta lei trouxe para a sociedade foi a implementação da medida protetiva. Sua aplicação ocorre em casos onde o agressor, que deveria proporcionar à família tutela e segurança, passa a ser o grande inimigo do instituto familiar. Com esta medida, através de determinação judicial, a vítima estando ameaçada pela presença do acusado, será providenciado o afastamento do agressor do lar, buscando-se assim, a preservação da integridade física da vítima.
O estupro de menores e de incapacitados, modificado pela Lei nº 12.015/2009, a partir de tal data começou a ter não só uma nova visão do magistrado e da sociedade, mas um aumento de pena considerável em razão da gravidade de tal crime.
Destaca-se, outrossim, a importância da implantação das medidas protetivas de urgência no ambiente intrafamiliar, eis que visam e garantem efetivamente a segurança da vítima, independentemente do sexo da mesma.
Assim, verifica-se que realmente é essencial e eficaz a aplicabilidade de tais medidas em casos de violência sexual infantil no ambiente intrafamiliar, resguardando assim a integridade física e emocional do menor ofendido.
Por fim, tem-se que a legislação vigente no Brasil, com a nova alteração trazida pela Lei 12.015/2009 e com a influência da Lei 11.340/06 (Lei Maria da Penha), visa uma aplicação penal mais justa no ambiente doméstico. A aplicação das medidas protetivas de urgência pretende resolver e prevenir o problema em si, não tendo mais a vítima que aguardar a infeliz morosidade enfrentada pela realidade dos Tribunais Brasileiros.
REFERÊNC
Resumo
A violência sexual infantil é considerada como um grave problema de saúde pública e social neste país e no mundo como um todo. A sua real prevalência é desconhecida, visto que muitas crianças não revelam o abuso, se não quando na idade adulta. O estudo tem como objetivo, por meio de uma ampla pesquisa bibliográfica, objetivou utilizar o uso do Brincar através do modelo lúdico como uma ferramenta na intervenção terapêutica ocupacional com crianças vítimas de violência sexual, para uma desconstrução dos traumas e desmistificação da temática. Conclui-se que através deste estudo o ato de brincar se apresenta, assim, como um importante recurso de compreensão do mundo que o cerca a criança e, do que acontece com a mesma, possibilitando a resolução de conflitos e frustrações. Inicia-se assim um processo de auto-conhecimento, da relação com o outro e com o meio, pontes necessárias de interação com o ambiente em que convive, além de explorar e desenvolver capacidades e habilidades, em geral.
iolência sexual infantil no âmbito familiar
Uma abordagem sobre a aplicabilidade de medidas protetivas, previstas na Lei Federal n. 11.340/2006 - Lei Maria da Penha, em casos de violência sexual infantil no ambiente intrafamiliar.
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Publicado por Monique Luise Deluca
há 6 anos
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RESUMO
O artigo aborda um assunto que ocorre com maior frequência do que se imagina, a violência sexual infantil no ambiente intrafamiliar. Busca compreender qual a interferência da Lei 11.340/06, conhecida popularmente como Lei Maria da Penha e a aplicação das medidas protetivas de urgência nos casos em que o crime sexual ocorre no âmbito familiar contra menores, independentemente do sexo da vítima. Enfatiza esclarecer quais as obrigações do estado em relação ao menor, ante a dificuldade em detectar, comprovar, interferir no âmbito familiar e proteger a vítima incapaz. Aborda também, por fim, a aplicação de pena nos casos de violência sexual quando o infrator é a pessoa que deveria dar educação, proteção e segurança ao menor.
Palavras-chave: Estupro. Família. Violência infantil. Violência sexual.
INTRODUÇÃO
Busca-se através desta pesquisa o aprofundamento referente ao assunto de violência sexual doméstica contra crianças e, consequentemente, descobrirquais são os amparos legais que podem proteger o menor de um possível agressor que encontra-se em seu âmbito familiar.
A respeito da violência doméstica e familiar, observa-se a existência da Lei 11.340/2006, popularmente conhecida pela Lei Maria da Penha, que objetiva a proteção às mulheres vítimas de violência neste gênero.
Criadas na referida Lei 11.340/2006, destaca-se o surgimento das medidas protetivas de urgência, que visam garantir e buscar uma maior eficácia de tutela perante as suas vítimas, antes de uma possível condenação penal.
Nesse contexto, diante da enorme eficácia e garantia de segurança que as medidas protetivas proporcionam a quem é resguardado por elas, o legislador garantiu a sua aplicabilidade em casos de crianças, adolescentes, enfermos e idosos.
Acerca do assunto, busca-se descobrir se as medidas protetivas abrangem os menores em caso de violência sexual no ambiente intrafamiliar e qual a potência de tais medidas e se são realmente efetivas.
Além disso, através dessa pesquisa, será abordada a violência sexual infantil no âmbito familiar e as novas alterações trazidas pela Lei 12.015/2009 e a aplicabilidade das medidas protetivas em casos de violência intrafamiliar contra menores.
1 - LEI MARIA DA PENHA: CONCEITO DE VIOLÊNCIA DOMÉSTICA
A Lei 11.340/2006, conhecida popularmente como Lei Maria da Penha, foi criada através da luta da farmacêutica Maria da Penha Maia Fernandes, que além de sofrer agressões de seu marido, foi vítima de tentativa de homicídio por duas vezes, sendo que em uma destas tentativas a mesma ficou paraplégica, em razão de um tiro de espingarda. Um pouco mais de uma semana após a primeira tentativa, seu marido tentou por mais uma vez matá-la, através de uma descarga elétrica enquanto a mesma tomava banho.
Foi uma das poucas mulheres que àquela época não se calou, foi atrás da justiça e escreveu um livro. A repercussão de seu caso foi tanta, que chegou ao Centro pela Justiça e o Direito Internacional – CEJIL e o Comitê Latino-Americano e do Caribe para a Defesa dos Direitos da Mulher – CLADEM, que apresentou denúncia à Comissão Interamericana de Direitos Humanos da Organização dos Estados Americanos. Esta comissão, por quatro vezes solicitou informações ao governo brasileiro, este que não apresentou nenhuma resposta e assim, o governo brasileiro foi condenado por negligência e omissão em relação à violência doméstica, a pagar 20 mil dólares a favor de Maria de Penha e por fim, a tomar medidas sobre tal situação.
Desta forma, em agosto de 2006, a Lei 11.340/2006 foi sancionada pelo Presidente da República e entrou em vigor na data de 22 de setembro de 2006. Desde então a violência doméstica contra a mulher passou a ter uma nova visão sobre os jurisconsultos brasileiros.
Ao contrário do que se pensa o sujeito ativo de tal lei não é só o homem agressor contra a vítima mulher, tampouco não é necessário que as partes sejam marido e mulher. Para que o crime possa ser concretizado, o agressor pode ser tanto homem como mulher, devendo estes possuir alguma relação familiar ou afetiva (nos casos de união estável) com a vítima mulher.[1]
Em relação à vítima, esta pode ser avó, neta, irmã, mãe, filha, enteada ou qualquer outro parente que o agressor possua algum vínculo familiar ou afetivo nos casos de união estável e relação homossexual entre mulheres.
Neste sentido, entende SOUZA [2]:
O termo “violência doméstica” se apresenta com o mesmo significado de “violência familiar” ou ainda de “violência intrafamiliar”, circunscrevendo-se aos atos de maltrato desenvolvidos no âmbito domiciliar, residencial ou em relação a um lugar onde habite um grupo familiar, enfatizando prioritariamente, portanto, o aspecto espacial no qual se desenvolve a violência, não deixando expressa uma referência subjetiva, ou seja, é um conceito que não se ocupa do sujeito submetido à violência, entrando no seu âmbito não só a mulher mas também qualquer outra pessoa integrante do núcleo familiar (principalmente mulheres, crianças, idosos, deficientes físicos ou deficiente mentais) que venha a sofrer agressões físicas ou psíquicas praticadas por outro membro do mesmo grupo. Trata-se de acepção, que não prioriza o fenômeno da discriminação a que a mulher é submetida, dispensando a ela tratamento igualitário em relação aos demais membros do grupo familiar privado.
Conforme transcrito acima, verifica-se que a lei não abrange apenas a vítima mulher, mas também a pessoa portadora de deficiência, quando o crime for de lesão corporal doméstica, nos termos do art. 129, § 11º do Código Penal.
Ademais, cabe destacar que só a relação de parentesco não é suficiente. É necessário que a vítima seja subordinada, submissa ao agressor (a), pois caso contrário, não caberá a aplicação da Lei 11.340/06 (Lei Maria da Penha).
Sobre este entendimento, o Ministro Og Fernandes [3], do Superior Tribunal de Justiça, ensina lucidamente a forma de aplicação da Lei Maria da Penha, conforme se depreende do voto proferido no Conflito de Competência nº 106.412-RS, como se verifica a seguir:
(...) É evidente, no caso, que não basta o fato de a vítima ser mulher, nos termos da Lei nº11.3400/06, e haver relação de parentesco entre as partes. A conduta delitiva deve basear-se numa relação de poder e submissão do autor sobre a vítima (mulher). (...) Não há evidência nos autos de qualquer relação de vulnerabilidade, hipossuficiência, inferioridade física ou econômica entre autor e vítima. O delito supostamente praticado não encerra qualquer motivação de gênero, tendo havido apenas discussões e ofensas entre parentes com problemas de relacionamento preexistentes (...) Note-se que não se trata, portanto, de mera violência contra pessoa do sexo feminino, integrante do circulo familiar do agressor. Há, na lei especial, a exigência, para sua incidência, de que a violência praticada tenha por motivação a opressão ao gênero, situação que decorre, sempre, de uma condição de hipossuficiência e/ou vulnerabilidade da ofendida para com o ofensor. Se tal opressão não se faz presente, ou seja, se a ofendida não é hipossuficiente ou vulnerável, o delito de que foi vítima continua regido pela legislação penal aplicável à espécie, vez que não se faz necessária a intervenção estatal.
Assim sendo, verifica-se que houve a preocupação do legislador ao criar esta lei para proteger, especificadamente, a mulher que se encontra em situações de hipossuficiência e/ou inferioridade física em relação ao agressor.
As formas de violência que podem abranger o âmbito doméstico, estão tipificadas no art. 7º da Lei 11.340/06 [4], como se observa abaixo:
Art. 7o São formas de violência doméstica e familiar contra a mulher, entre outras: I - a violência física, entendida como qualquer conduta que ofenda sua integridade ou saúde corporal; II - a violência psicológica, entendida como qualquer conduta que lhe cause dano emocional e diminuição da auto-estima ou que lhe prejudique e perturbe o pleno desenvolvimento ou que vise degradar ou controlar suas ações, comportamentos, crenças e decisões, mediante ameaça, constrangimento, humilhação, manipulação, isolamento, vigilância constante, perseguição contumaz, insulto, chantagem, ridicularização, exploração e limitação do direito de ir e vir ou qualquer outro meio que lhe cause prejuízo à saúde psicológica e à autodeterminação; III - a violência sexual, entendida como qualquer conduta que a constranja a presenciar, a manter ou a participar de relação sexual não desejada, mediante intimidação, ameaça, coação ou uso da força; que a induza a comercializar ou a utilizar, de qualquer modo, a sua sexualidade, que a impeça de usar qualquer método contraceptivo ou que a force ao matrimônio, à gravidez, ao aborto ou à prostituição, mediante coação, chantagem, suborno ou manipulação; ou que limite ou anule o exercício de seus direitos sexuais e reprodutivos; IV - a violência patrimonial, entendida como qualquer conduta que configure retenção, subtração, destruição parcial ou total de seus objetos, instrumentos de trabalho, documentos pessoais,bens, valores e direitos ou recursos econômicos, incluindo os destinados a satisfazer suas necessidades;
V - a violência moral, entendida como qualquer conduta que configure calúnia, difamação ou injúria.
Conforme se nota, a lei traz os casos específicos de violência em que a mesma se aplica, o que geralmente é o papel da doutrina. Contudo, embora extensa e objetiva, tal artigo não é exaustivo o que facilita a aplicação da lei nos referidos casos pela qual a mesma abrange.
Ademais, cabe trazer em tela a recente alteração trazida pelo STF [5], que passou a reconhecer que os crimes cometidos no âmbito familiar, aonde a Lei 11.340/06 se aplica, não se tratam mais de ações penais públicas condicionadas, mas como ações penais públicas incondicionadas, ou seja, não é mais necessária a vontade/manifestação da vítima para processar/punir o agressor.
Por fim, verifica-se que a criação da lei foi muito importante para a legislação brasileira, eis que atualmente milhares de mulheres são protegidas pelo Estado através de medidas protetivas, e, os agressores, na maioria dos casos, são devidamente punidos por seus atos.
2 - MEDIDA PROTETIVA DE URGÊNCIA: CABIMENTO
Analisando-se a Lei 11.340/06, nota-se que sua eficiência não seria tão grande se, junto com a redação, não houvesse a hipótese da aplicação das chamadas medidas protetivas de urgência.
As medidas protetivas de urgência são espécies de medidas essencialmente cautelares e ocorrem sempre que se defere uma providência de prevenção.
Garantir a proteção da vítima é um dever do Estado, uma responsabilidade da polícia, do Ministério Público e do juiz. Desta forma, sua aplicação deve ser imediata, pois por um descuido, suas consequências podem ser fatais.
Destaca-se que a Lei Maria da Penha, juntamente com as medidas protetivas, foram criadas exclusivamente para proteger as mulheres vítima de violência doméstica, as quais cientificamente são dotadas de menor força física.
Contudo, as medidas protetivas poderão ser aplicadas também, no âmbito doméstico, quando a vítima for criança, adolescente, idoso, enfermo ou pessoa com deficiência, conforme alteração realizada pela Lei 12.403/11 no art. 313, III, do Código de Processo Penal.
Assim sendo, nota-se que sua eficiência é garantida às vítimas menores, seja ela do sexo feminino ou masculino.
A medida protetiva deve ser ofertada à vítima no momento do registro da ocorrência na delegacia. Nesse momento, deve ser questionado se há interesse em suspender o porte de arma do agressor, afastamento do lar, proibição de aproximação, de contato e de frequência a determinados lugares, restrição ao direito de visita de menores e prestação de alimentos provisionais.[6]
Na sequência, a solicitação é encaminhada ao Juízo competente para que, no prazo de 48 horas, analise e defira ou não as medidas protetivas de urgência à favor da vítima.
A retratação da vítima era cabível em nosso ordenamento jurídico, desde que realizada no Juízo, e não na delegacia. Contudo, diante de uma recente decisão proferida pelo STF[7], ações derivadas do âmbito doméstico passaram a ser ações penais incondicionadas à representação, ou seja, no momento em que são instauradas, não dependem mais do desejo da vítima para prosseguimento.
Ressalta-se que em relação aos crimes sexuais em relação à menores, seja ele no âmbito doméstico ou não, serão sempre de ação penal pública incondicionada, nos termos do art. 225, § único, do Código Penal.
Cabe destacar que tais medidas cautelares, previstas na Lei 11.340/06, possuem caráter transitório e precário, necessitando, portanto, estarem vinculadas à um processo principal.
A fim de garantir sua eficácia, o legislador garantiu à segurança da vítima a possibilidade da prisão preventiva nos casos de descumprimento da medida protetiva por parte do agressor. Neste sentido, colhe-se da jurisprudência [8]:
3 - ESTUPRO DE VULNERÁVEL: CONCEITO E PUNIÇÃO
Não há como abordar o tema de estupro sem falar de sexualidade, eis que esta se trata de uma característica inafastável do ser humano que o acompanha durante sua vida inteira. Há de se destacar que a sexualidade é expressa pelo indivíduo de forma natural, quando este desejar. A utilização de violência, grave ameaça ou coerção sobre a vítima para atingí-la, sem o consentimento da mesma, é denominada estupro, que não deixa de ser uma lesão à liberdade sexual do sujeito.[9]
Em relação ao artigo 213, o mesmo fazia menção somente à vítima do sexo feminino. O objeto do delito era a conjunção carnal, ou seja, a introdução do pênis na vagina, e assim, logicamente, o sujeito ativo seria do gênero masculino. Para sua aplicação, era necessária a violência ou grave ameaça e o verbo constranger se referia em “obrigar a vítima a fazer o que não quer”. A pena aplicada ao infrator em tal artigo era de 4 a 10 anos e, se a vítima fosse menor de 14 anos, a pena prevista era de 6 a 10 anos.
O artigo 214, também na antiga redação, fazia menção ao ato libidinoso diverso da conjunção carnal, e assim também poderia abranger a vítima do sexo masculino. O sujeito ativo poderia ser tanto do sexo feminino, como do sexo masculino. Incorria neste artigo quem acariciasse as partes íntimas, realizasse ou obrigasse a vítima a cometer sexo oral ou anal mediante violência ou grave ameaça. A pena prevista era de 3 a 9 anos e, se a vítima fosse menor de idade, a pena aplicada seria de 6 a 10 anos.
Sobre a definição de ato libidinoso, verifica-se o entendimento de Jesus[11]: "Ato libidinoso é o que visa ao prazer sexual. [...] é o ato lascivo, voluptuoso, dirigido para a satisfação do desejo sexual.”.
Há de se destacar que quando se tratava de menor de 14 anos, a violência era considerada presumida, ou seja, cometer qualquer ato libidinoso seja ele conjunção carnal ou não, com ou sem o consentimento da vítima, já era considerado crime, nos termos do art. 224 da antiga redação do Código Penal. Esta presunção se aplicava também em casos de vítima alienada ou débil mental, quando o agente conhecia esta circunstância.
Com a nova redação trazida pela Lei 12.015/09, o artigo 213 foi modificado, passando a redigir nos seguintes termos:
Art. 213. Constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, a ter conjunção carnal ou a praticar ou permitir que com ele se pratique outro ato libidinoso.
Observa-se que agora o artigo passa a proteger a vítima do sexo feminino e masculino, e assim o agressor também poderá ser de qualquer um dos sexos. O objeto pode ser tanto a conjunção carnal como o ato libidinoso. Assim, nota-se que sua abrangência passa a ser mais universal.
A conjunção carnal ou a prática de qualquer outro ato libidinoso contra menor de 14 anos passou a ser denominado estupro de vulnerável e aparado pelo artigo 217-A do Código Penal, como se observa:
Art. 217-A. Ter conjunção carnal ou praticar outro ato libidinoso com menor de 14 (catorze) anos.
Acerca da definição de vulnerável, esclarece Houaiss, provém da palavra latina vulnerabilis, isto é, que causa lesão, possuindo, na língua portuguesa, duas acepções: “aquele que pode ser facilmente ferido” ou o “sujeito a ser atacado, derrotado, prejudicado ou ofendido”.[12]
Com esta alteração, nota-se que a lei passou a incluir no mesmo dispositivo legal a violência sexual cometida contra vítima do sexo feminino e masculino. Bem como passou a não diferenciar o ato libidinoso cometido pelo infrator, pois abrange tanto a conjunção carnal como qualquer outro ato libidinoso. Assim, pode-se dizer que, com base em nosso ordenamento jurídico, o estupro é caracterizado por qualquer ato devasso.
Nota-se que o artigo não menciona a violência ou grave ameaça em relação à vítima menor, ou seja, mesmo que esse ato libidinoso e/ou conjunção carnal seja cometido com o consentimento da vítima, o fato será consumado e o sujeito ativo, maior de 18 anos, irá responder pelo art. 217-A do Código Penal e incorrerá na pena de 8 a 15 anos de reclusão.
Nota-se que o agressor não poderá alegar que não tinha conhecimento da idade da vítima, eis que nosso ordenamento jurídico reconhece comodever do indivíduo a ciência da idade da vítima. Nesse sentido, colhe-se:
Vítima menor de 14 anos de idade. Acusado que afirma ignorar essa circunstância. O agente deve saber a idade da vítima, sendo de seu dever esforçar-se por saber qual seja essa idade. Se não sabe, deve duvidar, pois quem age em dúvida age por sua conta e risco.[13]
Assim, verifica-se que ao ter algum tipo de relação sexual ou libidinosa, o agente tem a obrigação de ter a certeza sobre a idade da vítima, caso contrário assumirá o risco.
Responde também pelo artigo 217- A, caput, do Código Penal quem comete qualquer ato libidinoso ou conjunção carnal com pessoa deficiente mental que não tem a percepção para a prática do ato ou aquele que não pode oferecer resistência, nos termos do § 1º.
Os parágrafos 3º e 4º fazem menção às majorantes do crime de estupro de vulnerável, como se observa mais claramente a seguir.
O parágrafo 3º do respectivo artigo se refere ao estupro que gera uma lesão corporal grave à vítima. Acerca do assunto, observa-se o posicionamento doutrinário de Bezerra Filho [14]:
A primeira forma de qualificação é na hipótese da conduta de realização da violência sexual contra criança resultar em lesão corporal grave para a vítima que vem a ser a ofensa a integridade corporal ou a saúde com prejuízo anatômico interno ou externo do corpo humano, que possa resultar na incapacidade para as ocupações habituais por mais de trinta dias, com perigo de vida, debilidade permanente de membro, sentido ou função, aborto ou enfermidade incurável, mas a demonstração dessa lesão dependerá de laudo de exame de corpo de delito e complementar.
Assim verifica-se a importância na confecção do laudo de exame de corpo de delito, pois só assim poderá ser comprovada se a gravidade da lesão corporal cometida contra o ofendido e consequentemente, a condenação do mesmo com a qualificadora prevista. A pena aplicada será de dez a vinte anos de reclusão.
O parágrafo 4º, faz menção ao estupro que, consequentemente, gera a morte da vítima. Neste caso a pena aplicada será de doze a trinta anos de reclusão.
Ademais, destaca-se que a alteração trazida pela Lei 12.015/2009, deixou explícito que o estupro de vulnerável se trata de crime hediondo.[15]
Por fim, cabe destacar que o crime de estupro de vulnerável se trata de ação penal pública incondicionada, pois se refere, logicamente de menores de 18 anos ou de pessoa vulnerável, se enquadrando assim, nos termos do art. 225, parágrafo único, do Código Penal.
6 - A MEDIDA PROTETIVA NOS CRIMES SEXUAIS
Impõe-se registrar que as medidas protetivas de urgência podem ser deferidas de ofício pelo magistrado pela solicitação da ofendida, através de seu representante legal ou do Ministério Público, independendo de alegação do agressor, como se observa no art. 19 da Lei 11.340/2006:
Art. 19. As medidas protetivas de urgência poderão ser concedidas pelo juiz, a requerimento do Ministério Público ou a pedido da ofendida.
§ 1º As medidas protetivas de urgência poderão ser concedidas de imediato, independentemente de audiência das partes e de manifestação do Ministério Público, devendo este ser prontamente comunicado.
Ademais, convém ressaltar também que, para a aplicação das medidas protetivas de urgência, é necessário que haja um caso em concreto ou suspeitas de prática de violência doméstica e familiar, dentre elas as descritas no art. 7º, da respectiva lei, anteriormente mencionada, sendo estas totalmente aplicáveis em casos de violência sexual infantil no ambiente intrafamiliar, independendo do sexo da vítima, com fulcro no art. 313, inciso III, do Código de Processo Penal. [23]
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A existência da Lei Maria da Penha que surgiu para legalizar os casos de violência doméstica, punir os agressores e desta forma, evitar a continuação de tais agressões no ambiente intrafamiliar. Em seus artigos, a referida lei define quais são os requisitos para que uma violência seja tipificada doméstica, o que é considerado violência no âmbito familiar e quais as consequências que o agressor poderá sofrer. Destaca-se que ao contrário do que se pensa, tal lei ampara não somente a mulher ofendida, mas também irmã, prima, mãe, filha que vierem a sofrer as agressões estipuladas no seu teor.
Um dos principais benefícios que esta lei trouxe para a sociedade foi a implementação da medida protetiva. Sua aplicação ocorre em casos onde o agressor, que deveria proporcionar à família tutela e segurança, passa a ser o grande inimigo do instituto familiar. Com esta medida, através de determinação judicial, a vítima estando ameaçada pela presença do acusado, será providenciado o afastamento do agressor do lar, buscando-se assim, a preservação da integridade física da vítima.
O estupro de menores e de incapacitados, modificado pela Lei nº 12.015/2009, a partir de tal data começou a ter não só uma nova visão do magistrado e da sociedade, mas um aumento de pena considerável em razão da gravidade de tal crime.
Destaca-se outrossim, a importância da implantação das medidas protetivas de urgência no ambiente intrafamiliar, eis que visam e garantem efetivamente a segurança da vítima, independentemente do sexo da mesma.
Assim, verifica-se que realmente é essencial e eficaz a aplicabilidade de tais medidas em casos de violência sexual infantil no ambiente intrafamiliar, resguardando assim a integridade física e emocional do menor ofendido.
Por fim, tem-se que a legislação vigente no Brasil, com a nova alteração trazida pela Lei 12.015/2009 e com a influência da Lei 11.340/06 (Lei Maria da Penha), visa uma aplicação penal mais justa no ambiente doméstico. A aplicação das medidas protetivas de urgência pretende resolver e prevenir o problema em si, não tendo mais a vítima que aguardar a infeliz morosidade enfrentada pela realidade dos Tribunais Brasileiros.

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