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CENTRO UNIVERSITÁRIO FAVENI PSICOLOGIA DA EDUCAÇÃO E DA APRENDIZAGEM GUARULHOS – SP 2 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO .......................................................................................................... 3 2 A PSICOLOGIA DA EDUCAÇÃO ............................................................................. 4 3 ANTECEDENTES HISTÓRICOS DA PSICOLOGIA EDUCACIONAL ...................... 5 4 PSICOLOGIA E APRENDIZAGEM ......................................................................... 14 5 DIRETRIZES E BASES DA PSICOLOGIA DA EDUCAÇÃO .................................. 22 5.1 As relações entre a psicologia e a educação ...................................................... 24 5.2 Estatuto da psicologia escolar e educacional: alguns pressupostos ................... 28 5.3 Elementos essenciais da psicologia da educação .............................................. 30 6 PROCESSOS FUNDAMENTAIS DA APRENDIZAGEM ......................................... 32 6.1 A aprendizagem e sua relação com aspectos cognitivos, afetivos e sociais ...... 33 7 ATUAÇÃO DA PSICOLOGIA ESCOLAR/ EDUCACIONAL NA RELAÇÃO ALUNO- PROFESSOR ............................................................................................................ 37 7.1 A psicologia do ensino aprendizagem na prática do professor ........................... 41 8 PRINCIPAIS MÉTODOS DE PESQUISA UTILIZADOS NA PSICOLOGIA EDUCACIONAL ........................................................................................................ 44 9 DIFICULDADES ESCOLARES E DISTÚRBIOS DE APRENDIZAGEM ................. 55 9.1 Dificuldades de aprendizagem frente às implicações psicossociais ................... 59 9.2 Distúrbios de aprendizagem: classificação e intervenção ................................... 63 10 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ...................................................................... 69 3 1 INTRODUÇÃO Prezado aluno! O Grupo Educacional FAVENI, esclarece que o material virtual é semelhante ao da sala de aula presencial. Em uma sala de aula, é raro – quase improvável - um aluno se levantar, interromper a exposição, dirigir-se ao professor e fazer uma pergunta, para que seja esclarecida uma dúvida sobre o tema tratado. O comum é que esse aluno faça a pergunta em voz alta para todos ouvirem e todos ouvirão a resposta. No espaço virtual, é a mesma coisa. Não hesite em perguntar, as perguntas poderão ser direcionadas ao protocolo de atendimento que serão respondidas em tempo hábil. Os cursos à distância exigem do aluno tempo e organização. No caso da nossa disciplina é preciso ter um horário destinado à leitura do texto base e à execução das avaliações propostas. A vantagem é que poderá reservar o dia da semana e a hora que lhe convier para isso. A organização é o quesito indispensável, porque há uma sequência a ser seguida e prazos definidos para as atividades. Bons estudos! 4 2 A PSICOLOGIA DA EDUCAÇÃO Você sabe quais são os princípios que envolvem a Psicologia da educação? Bom, primeiro podemos dizer que a Psicologia apresenta os seus princípios educativos e o interesse no comportamento humano. Com base nisso, a Psicologia analisa de que forma estes princípios da apredizagem serão influenciados por processamentos mentais. Ou seja, como cada sujeito se manifesta em seu viver, levando em conta seu modo único de perceber a vida. Desse modo, é possível conectar estes princípios às premissas da educação, considerando primordialmente os processos aos quais os sujeitos disponibilizam para o desenvolvimento da aprendizagem e para a aquisição de conhecimento (MEIRA; ANTUNES, 2003). É necessário que você saiba que a psicologia e a educação acompanham a história do pensamento humano. A partir do momento em que começou a ter registros sobre o desenvolvimento do pensamento, a Psicologia e a educação caminham juntas. Quando recordamos os tempos mais remotos, por meio de registros tribais em relação as cavernas denotando uma organização de civilizações empenhada em disseminar conhecimentos adquiridos através da observação ou da experiência vivenciada, podemos perceber primeiro que a educação acompanha toda a evolução da espécie humana. Assim, nasce a intersecção da psicologia e da educação, com o entendimento de que os sujeitos são constituídos pelas culturas construídas ao longo da história humana. Ou seja, por meio da auto humanização, do apego e do pertencimento ao universo em que estão inseridos. Os sujeitos são seres sociais, e a educação serve como uma textura para que eles absorvam o mundo em que vivem. A psicologia da educação, surgiu como um ramo da psicologia em meados do século XX, essa área se constituiu por combinar as teorias do conhecimento com suas ações pedagógicas que são proporcionais, principalmente aquelas relacionadas aos interesses peculiaridades da sociedade. A psicologia educacional é, no entanto, delimitada por um campo de atuação cujo objeto são as conexões estabelecidas entre os sujeitos e os processos de aprendizagem, bem como o foco de análise, diagnóstico, intervenção, que são os elementos e a acomodações do saber, sujeito e a sua relação com as questões 5 ambientais educacionais, não se limitando aos ambientes escolares, mas explorando vários outros, como instituições, organizações e espaços públicos (MEIRA; ANTUNES, 2003). Porém, o exercício efetivo da Psicologia Educacional, requer uma visão mais ampla, assim como uma constante problematização em relação ao seu campo, sendo assim cuidados essenciais para que não reduza sua prática a aspectos de controle de problemas ou transtornos que visam atender as necessidades da escola ou ambiente organizacional. A psicologia educacional está comprometida com o sujeito, por isso suas ações devem promover a inclusão e o respeito às diferenças de cada indivíduo. Desta maneira, ao respeitar as demandas individuais de cada sujeito, a psicologia da educação, pode ampará-lo considerando sua natureza social e pedagógica, atuando, por meio, de pesquisas, análise, planejamento, diagnóstico e desenvolvimento de intervenções, com foco na prevenção ou na promoção dos processos de ensino-aprendizagem. O psicólogo educacional, incorpora seus saberes a uma equipe interdisciplinar, buscando e facilitando a integração entre diversas áreas de conhecimento com vistas a auxiliar no desenvolvimento integral do ser. Como você viu, a psicologia da educação e aprendizagem tem seus princípios voltados para o ensino e o desenvolvimento no campo da educação, pois, pode permitir a aplicação de novos modelos e técnicas de ensino em sala de aula, buscando compreender os processos de desenvolvimento e aprendizagem humana, bem como, compreender e explicar os fenômenos de ordem psicológica que ocorrem em contextos de educação formal e não formal. 3 ANTECEDENTES HISTÓRICOS DA PSICOLOGIA EDUCACIONAL Neste tópico, vamos apresentar a você os antecedentes históricos da psicologia educacional, seus predecessores e os princípios teóricos associados a educação e a aprendizagem, como as principais teorias psicológicas e suas estratégias de ensino e habilidades no campo da educação, e apresentar também as competências requeridas dos educadores para este século XXI. 6 A Psicologia educacional, passou por um longo processo de desenvolvimento até ganhar relevância e se tornar uma disciplina dentro do campo da Psicologia. Conforme o desenvolvimento de suas concepções teóricas e na definição de seu objeto de estudo, teve como influência a filosofia. Dessa forma, para que você entenda melhor as construções dessas vertentes, precisamos conhecer seus antecedentes e princípios teóricos relacionados à educação e à aprendizagem. Contudo,estamos falando desde de Aristóteles (384 - 322 a.C) e Platão (348-347 a.C), que trataram de questões transcendentais, como objetivos da educação, a natureza da aprendizagem e a relação professor-aluno, a Descartes (1596-1650), que defendeu ideias inatas como base do conhecimento. Já no século XVI, Juan Vives (1492-1540) destacou a relevância da percepção e da memória no processo educativo. A partir dos séculos XVIII e XIX tivemos contribuições de Johann Pestalozzi (1745-1827) e Johann Herbart (1776-1841). Pestalozzi (1746 -1827), influenciado por Jean-Jacques Rousseau (1712 –1778), foi o fundador de uma série de escolas, que teve como objetivo formar pessoas, revolucionando os conceitos de sua época ao enfatizar a aprendizagem, por observação e aprendizagem experiencial, dando menos importância à aprendizagem memorística e demarcando a relação entre professores e alunos de acordo com os aspectos críticos na educação das crianças. O filósofo, psicólogo e pedagogo alemão, Johann Friedrich Herbart (1776 – 1841), sob a influência de Kant (1724-1770), propôs que dentro do processo de ensino, os novos conhecimentos devem ser apresentados de forma que se tornem parte do conteúdo mental, adotando a Psicologia aplicada como eixo central da educação, tendo como princípio que, para que a doutrina pedagógica seja científica, necessitava ser comprovada experimentalmente (ARANCIBIA; HERRERA; STRASSER, 2008). O século XIX foi, sem dúvida, um dos períodos mais importantes para o desenvolvimento da Psicologia como ciência e o início da Psicologia educacional. Na Inglaterra teve como referência Francis Galton (1822–1911), que inventou o primeiro teste psicológico para medir e avaliar a inteligência através da discriminação sensorial, mas foi o psicólogo Alfred Binet (1857–1920) que também era pedagogo, que desenvolveu o primeiro teste de inteligência individual, em 1905, quando surge a Escala de Inteligência Binet-Simon. 7 Conforme Arancibia, Herrera e Strasser (2008), Stanley Hall (1844–1924) criou o primeiro laboratório americano de Psicologia, tendo em vista, que o verdadeiro pioneiro da Psicologia educacional, foi aluno de Wilhelm Wundt (1832-1920) que fundou o primeiro laboratório de Psicologia experimental, juntamente com Ernst Heinrich Weber (1842-1913) e Gustav Theodor Fechner (1801 -1887), em Leipizg, em 1879. Dessa forma, Hall acreditava ser mais importante focar no desenvolvimento dos professores para que eles pudessem conduzir melhor o processo de ensino- aprendizagem do que na aprendizagem das crianças. Conforme Santrock (2009), os três grandes pioneiros da Psicologia educacional foram William James, John Dewey e E. L. Thorndike. William James (1842-1910), considerado o pai da Psicologia americana, também trabalhou na formação de professores. Segundo Santrock (2009), James afirmou em sua publicação: [...] discutia as aplicações da Psicologia na educação das crianças [...] enfatizou a importância de observar o ensino e a aprendizagem em sala de aula para aprimorar a educação. Uma de suas recomendações era começar a aula em um ponto além do nível de conhecimento e compreensão da criança para expandir a mente dela (SANTROCK, 2009, p. 2-3), O filósofo e pedagogo, John Dewey (1859-1952) revolucionou o sistema educacional norte-americano, que utilizava métodos educacionais de memória e técnicas de transferência de conhecimento. As novas técnicas por ele propostas, foram baseadas no pensamento liberal e levaram a uma nova filosofia na educação conhecida como Escola Nova ou Escola Progressista, que acreditava que a prática docente deveria ser baseada na liberdade do aluno para desenvolver suas próprias certezas e seu próprio conhecimento e padrões morais, ou seja as suas próprias regras. De acordo com Pereira et al. (2009), Dewey propôs que: [...] a aprendizagem seja instigada através de problemas ou situações que procuram de uma forma intencional gerar dúvidas, desequilíbrios ou perturbações intelectuais. O método “dos problemas” valoriza experiências concretas e problematizadoras, com forte motivação prática e estímulo cognitivo para possibilitar escolhas e soluções criativas. Que neste caso leva o aluno a uma aprendizagem significativa, pois o mesmo utiliza diferentes processos mentais (capacidade de levantar hipóteses, comprara, analisar, interpretar, avaliar), de desenvolver a capacidade de assumir responsabilidade por sua formação [...] A problematização requer do professor uma mudança de postura para o exercício de um trabalho reflexivo com o aluno, exigindo a disponibilidade do professor de pesquisar, de acompanhar e colaborar no aprendizado crítico do estudante, o que frequentemente coloca o professor diante de situações imprevistas, novas e 8 desconhecidas, exigindo que professores e alunos compartilhem de fato o processo de construção e não apenas o de reconstrução e reelaboração do conhecimento (Pereira et al., 2009, p. 158). Dewey acreditava que o conhecimento e seu desenvolvimento é um processo social, que integra conceitos de sociedade e do indivíduo. Os princípios da escola progressista podem ser encontrados hoje no Construtivismo. E. L. Thorndike (1874– 1949) enfatizou a avaliação e medição da aprendizagem de acordo com a introdução dos princípios científicos básicos, sendo esta uma das principais tarefas da escola, melhorando as habilidades de raciocínio das crianças. Em 1910 Thorndike, propôs um conjunto de leis de aprendizagem, sendo uma das mais importantes a lei do efeito e a lei do exercício, no qual configura a Psicologia da educação ao redor de três grandes temáticas: o papel do meio ambiente e da hereditariedade no comportamento, a aprendizagem e as leis que a regulam e o estudo das diferenças individuais. O psicólogo deu início a uma tendência da Psicologia educacional para a Psicologia comportamental, sendo um dos primeiros psicólogos a combinar teoria da aprendizagem, psicometria e pesquisa relacionada à escola. Para Arancibia, Herrera e Strasser (2008): Thorndike estudou a Psicologia desde o comportamento animal, sob a influência de James, aplicando os princípios da aprendizagem desenvolvidos em laboratório e as medidas quantitativas das diferenças individuais para criar a Psicologia Educacional (ARANCIBIA; HERRERA; STRASSER, 2008, p. 18). Seu trabalho abriu caminho para o behaviorismo, pois, era contemporâneo de J.B. Watson (1878 -1958) e Ivan Pavlov (1849 – 1936), que pela primeira vez fizeram experimentos inicialmente com animais, criando caixas de quebra-cabeças, utilizando gatos. A sua tese de doutorado, “Inteligência animal: um estudo experimental dos processos associativos em animais”, foi a primeira em Psicologia a utilizar animais (THORNDIKE, 1998). A partir da década de 1920, a Psicologia da Educação recebe a influência de outros movimentos da Psicologia, como a Psicanálise (Freud), Psicologia Cognitiva (Piaget e Vygotsky), o Behaviorismo (Skinner), e a característica do pensamento infantil de (Henri Wallon), pois, a sua compreensão é da criança como uma “pessoa por completo”, constituída a partir de três campos funcionais: a dimensão afetiva, a cognitiva e a motora, entre outras. 9 Dessa forma, como veremos abaixo a partir dessas principais influências, as teorias de aprendizagem abrangem uma ampla gama de abordagens e conceitos, desenvolvidos, a partir, da perspectiva de diferentes teóricos e influenciados pelo contexto social e histórico em que se inserem. Para muitos desses teóricos, a aprendizagem pode ser flexível em sua multiplicidade de possibilidades, abrangendo o tempo e as transformações sociais. Sigmund Freud (1856-1938): Sigmund Freud foi um neurologista e psiquiatra austríaco. Freud foi o criador da psicanálise e também foi a personalidade mais influente da história no campo da Psicologia, contudo, é amplamente reconhecidocomo o pai da teoria psicanalítica, foi pioneiro no campo teórico da ciência psicológica ao combinar o corpo biológico com o funcionamento da mente. Ou seja, do seu ponto de vista como fisiologista, Freud buscou conexões entre o pensamento neurológico e o filosófico. Em suas pesquisas, Freud se referiu à função da sexualidade humana, entendendo-a como influenciadora dos processos mentais, criando assim a teoria da sexualidade. As teorias psicossexuais de Freud foram pioneiras no conceito dotado de sexualidade mesmo nos estágios iniciais do desenvolvimento humano e fez uma grande contribuição para a educação ao compreender a função da mente em três partes: o inconsciente ou id, relacionado aos desejos, motivações e impulsos primitivos, inerente a todos os seres e estruturante dos demais setores, o pré- consciente ou superego, relacionado à constituição de valores morais e culturais, atuando como uma censura, o consciente ou ego, relacionado ao modo de interagir com a realidade do contexto, buscando equilíbrio entre a realização dos desejos mais primitivos com sua adequada expressão ao ambiente (FREUD, 1997). Jean Piaget (1896-1980): Jean William Fritz Piaget foi um biólogo, psicólogo e epistemólogo suíço, considerado um dos mais importantes pensadores do século XX. Desenvolveu sua visão educacional de acordo com os estágios de desenvolvimento, desde o que chamou de período sensório-motor: entre o nascimento e os dois anos de idade - até 10 o período operatório abstrato: dos doze anos de idade em diante. Piaget mencionou que as interações das crianças com seus pares, professores e escolas são particularmente importantes, um ambiente responsável por proporcionar uma extensão do processo de assimilação, estimulando o aprendizado, por meio de desequilíbrios e reequilíbrio, bem como, de atividades que promovam estímulo e desafio de forma ininterrupta. Assim, o sujeito, segundo Piaget, é um elemento ativo que tenta compreender o contexto em que está inserido, construindo problematizações contínuas sobre sua noção singular de mundo e também tentando perceber sua influência nesse contexto. Piaget propõe uma ideia de um sujeito intelectualmente ativo, que observa, questiona, compara, classifica, ordena, constrói e reconstrói hipóteses. Portanto, segundo Piaget, a educação deve fomentar uma composição de sujeitos inventivos, criativos e criadores em busca de autonomia e desenvolvimento contínuo. Dessa forma, a escola é um ambiente que, além do conteúdo, também oferece a oportunidade de desenvolver novas formas de aprender. Lev Vygotsky (1896-1934): Lev Semionovitch Vygotsky, foi um psicólogo, proponente da Psicologia histórico-cultural. Pensador importante em sua área e época, foi pioneiro no conceito de que o desenvolvimento intelectual das crianças ocorre em função das interações sociais e condições de vida. O teórico fez uma das maiores contribuições para a Psicologia do século XX, inspirando os primeiros estudos em Psicologia histórico-cultural. Produziu cerca de duzentas obras, nas quais seu principal interesse era o desenvolvimento intelectual dos sujeitos, e por isso, deu atenção especial ao conteúdo das propostas pedagógicas. Na teoria de Vygotsky, signos e linguagens simbólicas são as ferramentas mediadoras entre o universo e a realidade dentro do sujeito. Para Vygotsky, a aprendizagem começa no nascimento, pois, em sua compreensão os sujeitos despertam seu desenvolvimento somente quando aprendem. Com base nessa teoria, o estilo de aprendizagem de cada sujeito também está relacionado à disponibilidade de suporte educacional. Assim, em sua obra, Vygotsky 11 elenca os conceitos e tarefas que a criança consegue assimilar como áreas de desenvolvimento real, e aquelas que a criança não realiza sozinha, mas quando dirigida e ensinada, denotando a área de desenvolvimento proximal, argumentando que a prática educativa deve atuar como mediadora e facilitadora dessas evoluções. Henri Wallon (1879-1962): Henri Paul Hyacinthe Wallon foi um filósofo, médico, psicólogo e político francês. Foi neto do político francês Henri-Alexandre Wallon. A criança, para Wallon, é essencialmente emocional e gradualmente vai constituindo-se em um ser sociocognitivo. O autor estudou a criança contextualizada, como uma realidade viva e total no conjunto de seus comportamentos, suas condições de existência. Militante por natureza, coordenou um projeto chamado Langevin-Wallon, e a sua proposta era uma educação com garantias de direitos e reconhecimento da afetividade no processo de aprendizado. Referindo-se ao copo orgânico, afetivo e social, Wallon respeitava fortemente as emoções na aprendizagem, e estruturou suas teorias em torno de quatro fundamentos: o movimento, referindo-se à liberdade de expressão corporal como conector para a assimilação do conhecimento, a afetividade, com seu conteúdo emocional, por meio da percepção e da elaboração das emoções, a inteligência, como processo a ser estimulado em consonância ao modo de ser e estar no mundo, e a formação do “Eu”, como ser constituído e constituinte no contexto no qual está inserido e no mundo. Para Wallon, as emoções são elementos essenciais para o desenvolvimento do sujeito, pois, são signos de desejo, satisfação e disponibilidade do ser em busca de conhecimento crescente sobre o mundo e sobre si mesmo. Portanto, o processo de aprendizagem não poderia estar vinculado ao fracasso escolar, porque, o fracasso significava exclusão, negação e expulsão, ou seja, a reprovação escolar. As teorias wallonianas, ou socioafetivas, referem-se a um sincretismo dialético, em que diferentes concepções podem se agregar, favorecendo conflitos, que são fundamentais para o desenvolvimento da aprendizagem e do intelecto. Tais aspectos atribuíam uma noção de humanização da educação às teorias de Wallon. 12 Burrhus Frederic Skinner: Burrhus Frederic Skinner, conhecido como B. F. Skinner, foi um psicólogo behaviorista, inventor e filósofo norte-americano. Foi professor na Universidade Harvard de 1958 até sua aposentadoria, em 1974. Skinner considerava o livre arbítrio uma ilusão e ação humana dependente das consequências de ações anteriores. Conforme apontado por Hubner (2007), Skinner enfatizou a importância do reforço positivo no contexto educacional, pois, os programas de punição e repressão são contraditórios. O psicólogo ainda lembra que o aprendizado era o foco principal de Skinner, inclusive garantiu que, nas condições certas, todos aprenderiam. Considerando essas ideias de Skinner, o ideal do contexto educacional é que as habilidades sejam ensinadas de forma que o aprendizado, seja resultado de reforçadores naturais. É necessário ressaltar aqui, alguns conceitos para que você entenda as contribuições de Skinner para a educação. Entre eles, ideias sobre reforçadores positivos e negativos. Tendo em vista que, o reforço é considerado qualquer estímulo que, quando apresentado ou removido como resultado de uma resposta, aumenta ou sustenta a frequência de um comportamento. A introdução do reforço positivo visa instalar ou manter o comportamento, ou seja, produz um resultado específico, aumentando as possibilidades futuras de ações anteriores, pois, a inserção de um elemento que fará com que a ação se repita futuramente. Nem todo reforço positivo é agradável, por exemplo, um salário no final do mês é um reforçador positivo, entretanto, seu trabalho pode ser muito estressante ou desagradável. O reforço negativo também visa instalar ou manter um determinado comportamento. No entanto, consiste em remover um determinado elemento. Os seres humanos são suscetíveis ao reforço e, portanto, o comportamento depende dos resultados de nossas ações (HUBNER, 2007). De acordo com o que foi dito, analisaremos as contribuições de Skinner paraa educação: Avaliação: para Skinner, a avaliação do aluno é apenas um meio de verificar se o que foi ensinado pelo professor foi realmente aprendido. Dessa forma, a avaliação perde a função punitiva de que dispõe o professor e passa a avaliar seu desempenho profissional, ou seja, se os arranjos de contingências empregados por 13 ele possibilitaram a aprendizagem. A avaliação nada mais é do que um momento no processo de ensino e aprendizagem, onde pode verificar da forma mais natural e menos traumática, se o que acha que foi ensinado de fato realmente foi aprendido, (HUBNER, 2007). Com base nessa ideia de avaliação, a presença do professor no contexto escolar será como um guia para esclarecer dúvidas e proporcionar as oportunidades adequadas de aprendizagem. De acordo com a avaliação, o professor observa se o trabalho do aluno teve impacto, e se reflete sobre as eventualidades ou contingências, que são usadas para planejar novas ações com base nos resultados. Portanto, a avaliação é apenas uma forma de ver o que realmente funciona e o quanto cada aluno aprendeu. Para isso, é importante analisar o comportamento externo e interno dos alunos, como eles se sentem. Tudo tem que ser analisado, não apenas provas, mas cadernos, conversas em sala de aula, desenhos, textos gerados espontaneamente, entre outros. É importante que o professor, deixe claro para o aluno no processo de avaliação o que se espera dele. Ensino individualizado: Skinner e o professor Fred Keller (1899-1996) desenvolveram o ensino personalizado nos anos 70 e se expandiram globalmente. Este método de ensino respeita o ritmo do aluno e permite que o professor acompanhe e ajude o aluno nas suas dificuldades. Neste tipo de ensino, as aulas individualizadas vão permitir o aluno trabalhar com material que o professor preparou com muita dedicação. O sistema individualizado, exige avaliação/visão do aluno, pois, cada um tem seu próprio ritmo e às vezes não consegue acompanhar seus colegas, isso precisa ser considerado e observado. Metodologia de ensino: as aulas expositivas não são muito interessantes para o ensino-aprendizagem, os alunos são apenas um espectador. Os métodos de aprendizagem favoráveis incluem aprender fazendo, escrevendo, discutindo, falando, vendo, manipulando, etc. Atento para a metodologia pedagógica, no ensino individualizado, as conferências são menos comuns, ou seja, as aulas expositivas, não acontece com tanta frequência, no entanto, o professor deve estar sempre à disposição do aluno para esclarecer quaisquer dúvidas. 14 Skinner considerava os educadores como a quarta força. Educadores são intelectuais, cientistas que, ao conhecerem a ciência do comportamento humano, poderão trabalhar pela sobrevivência e preservação da espécie humana. Até aqui, você pôde identificar o relacionamento da Psicologia com a educação através das concepções filosóficas e teóricas, que foram ponto de partida para muitos teóricos despertarem seus interesses e desenvolverem de maneira mais aprofundada suas teorias, influenciando diretamente os modos de elaboração de intervenções da Psicologia em ambiente educativo. No próximo tópico, será apresentado o quadro conceitual das principais teorias da Psicologia, utilizadas no ambiente educacional. 4 PSICOLOGIA E APRENDIZAGEM A busca pela compreensão dos processos de aprendizagem remonta à Antiguidade, quando importantes pensadores, como Sócrates (470 - 399 a. C.), Platão (348- 347 a.C) e Aristóteles (384 - 322 a.C), se debruçaram sobre o tema (CAMPOS, 2011). O interesse pela aprendizagem em Psicologia se intensificou a partir do século XX, quando diversos estudos foram realizados para elucidar o processo de aprendizagem, voltados para as suas limitações e o papel do aprendiz, bem como identificar os fatores que interferem nesses processos (BOCK; FURTADO; TEIXEIRA, 2001). Contudo, uma vez que diferentes estratégias metodológicas são utilizadas na investigação do processo de aprendizagem, pelo fato de obter diferentes adoções para a base teórica da análise dos resultados, os pesquisadores não chegaram a um consenso e, assim, elaboraram diferentes teorias. Conforme Díaz (2011), a partir de uma análise das intersecções entre diferentes teorias da aprendizagem, podem ser identificadas cinco propostas teóricas, que resumem todo o leque da epistemologia histórica relacionada à aprendizagem, são elas: Teoria da aprendizagem por associação do tipo comportamentalista; Teoria verbal significativa da aprendizagem; Teoria cognitiva baseada no processamento da informação; Teoria psicogenética da aprendizagem; Teoria sociocultural da aprendizagem e do ensino. Cada uma dessas teorias consiste em pesquisas conduzidas por diferentes 15 autores que compartilham os mesmos conceitos de aprendizagem e as mesmas suposições sobre como a aprendizagem acontece. Dessa forma, iremos mencionar melhor cada uma delas, para que você compreenda a contribuição de ambas de acordo com a aprendizagem. Teoria da aprendizagem por associação do tipo comportamentalista: A teoria comportamental da aprendizagem associativa, baseia-se nos postulados inicialmente concebidos por Watson (1878-1958), que mais tarde se tornaram conhecidos graças à difusão da teoria desenvolvida por Skinner (1904- 1990). Para este aspecto teórico, a aprendizagem é o resultado da associação entre estímulo e resposta. Como aponta Díaz (2011): O estímulo proveniente do meio provoca uma resposta no organismo, que, com sua repetição, leva a pessoa a uma associação mental, surgindo assim a aprendizagem: o sujeito aprende que, ao aparecer tal estímulo, deverá dar a resposta correspondente, quer dizer, aprendida, podendo também por associação “aproximada” dar respostas correspondentes a estímulos parecidos (Díaz, 2011, p. 29). Deste ponto de vista, quando a resposta escolhida pelo sujeito não corresponde ao estímulo e não satisfaz suas necessidades, não ocorre associação estímulo- resposta e não ocorre aprendizagem. Teoria verbal significativa da aprendizagem: A teoria verbal significativa da aprendizagem, também conhecida como "teoria da aprendizagem significativa", teve como principal proponente o pesquisador americano David Ausubel (1985 – 2008). Ausubel é conhecido por cunhar a expressão "aprendizagem significativa", entendida como aquilo que é resultado da intenção consciente do aprendiz. Para ele, a aprendizagem ocorre apenas quando o sujeito mobiliza suas faculdades mentais, desenvolve e reelabora estratégias baseadas na relação entre diferentes conceitos já construídos com vistas à formação de novos. O psicólogo, adota a visão de que os conhecimentos prévios dos alunos são fundamentais porque consistem em âncoras de novos conhecimentos que serão construídos (BOCK; FURTADO; TEIXEIRA, 2011). 16 Teoria cognitiva baseada no processamento da informação: A teoria cognitiva originou-se nos Estados Unidos no final da década de 1950. Para as teorias cognitivas baseadas no processamento de informações, a aprendizagem é o resultado de representações mentais, que são relacionadas com os processos cognitivos como: pensamento, linguagem, memória, percepção e atenção, entre outros. Assim, para compreender a importância do processo de memória, teóricos desse ramo estabeleceram analogias das funções mentais durante os processos de aprendizagem e o processamento de informações realizado pelos primeiros computadores. Teoria psicogênica da aprendizagem: A teoria psicogênica da aprendizagem é baseada em pesquisas conduzidas pelo epistemólogo suíço Jean Piaget (1923-1980) e seus colaboradores. Ao estudar as origens e o desenvolvimento do conhecimento humano, as investigações de Piaget mostram que a aprendizagem não é um produto acabado, mas negociado pelos próprios aprendizes, mobilizandosuas habilidades cognitivas. Para o psicólogo, cuja teoria ele chamou de "epistemologia genética", a função da inteligência humana, é permitir que o indivíduo se adapte progressivamente ao meio ambiente. Assim, a aprendizagem ocorre quando o indivíduo é confrontado com um novo elemento em seu ambiente que causa conflito cognitivo e precisa construir novos conhecimentos para se adaptar adequadamente à situação dada. Outro importante estudioso da inteligência humana que é considerado o autor de uma teoria psicogenética é Henri Wallon (1917-1953), cuja teoria foi chamada de "Psicogênese da Pessoa". O teórico, dedicou-se a estudar os processos de individuação de sujeitos imersos em uma determinada cultura, partindo do pressuposto de que a emergência da inteligência humana é tanto biológica quanto social (GALVÃO, 1995). Teoria sociocultural da aprendizagem e do ensino: 17 O principal expoente da teoria sociocultural da aprendizagem é o pesquisador russo Lev Vygotsky (1896-1934), que foi influenciado pelo pensamento marxista e enfatizou a importância dos aspectos culturais e sociais no processo de aprendizagem e desenvolvimento dos indivíduos. Segundo Vygotsky, o ambiente no qual o indivíduo está inserido (social, cultural e histórico) é fundamental para definir caminhos de aprendizagem e desenvolvimento. Para ele, o indivíduo é dotado de possibilidades oferecidas por seu aparato biológico, e a realização dessas possibilidades, depende das que são oferecidas pelo meio. A aprendizagem, portanto, ocorre na interação entre o objeto de aprendizagem e o objeto de conhecimento e o sujeito da aprendizagem. A ideia do sujeito da aprendizagem como pessoa que participa ativamente da construção do conhecimento colocou Vygotsky, como um dos teóricos responsáveis pela fundamentação das abordagens construtivistas de ensino, fruto da revisão das práticas pedagógicas tradicionais trazidas sobre a disseminação de ideias piagetianas (DÍAZ, 2011). As cinco propostas teóricas apresentadas aqui, explicam a existência de divergências entre os estudiosos que têm focado na aprendizagem. No entanto, eles também apontam de maneiras diferentes, para a importância da aprendizagem na vida dos indivíduos da espécie humana. De acordo com essa organização dos estudos em cinco proposições teóricas é uma das formas possíveis de apresentar as teorias da aprendizagem. Em outra forma de organização, as teorias de Piaget, Wallon e Vygotsky são consideradas teorias psicogenéticas. A razão para isso é que as contribuições teóricas dos três autores, embora divergindo em algumas questões, compartilham uma visão interacionista do desenvolvimento humano e a aprendizagem (LEPRE, 2008). Os estudos realizados pelos três estudiosos trouxeram importantes contribuições para a compreensão da aprendizagem, provocando a revisão das práticas educativas vigentes na época, caracterizadas pela visão dos educandos como receptores passivos dos conteúdos transmitidos nos contextos escolares. Para que você entenda melhor sobre os estudos de Piaget, Wallon e Vygotsky, vamos abordar sobre a visão interacionista, que ambos têm em comum, tanto em relação ao desenvolvimento humano, quanto em relação a aprendizagem. 18 Contribuições das teorias psicogenéticas para a aprendizagem: O principal ponto comum entre as teorias de Piaget, Vygotsky e Wallon é a visão interacionista, que os autores têm do desenvolvimento humano e da aprendizagem. Ao contrário das visões inatista (de base racionalista) e ambientalista (fundada empiricamente). De acordo com Lepre (2008, p. 311) o interacionismo é: [...] entende que o desenvolvimento e a aprendizagem humanos acontecem por meio da interação entre o indivíduo (questões internas) e o meio (dados externos) onde está inserido. Dessa forma, o ser humano é visto como um ser ativo que, ao interagir com o mundo, se desenvolve e aprende. A cultura e o momento histórico nos quais o sujeito está situado também influenciam o desenvolvimento das possibilidades cognoscentes (LEPRE, 2008, p. 311). O interacionismo foi proposto pela primeira vez no século XVIII por Kant (1724- 1804), que buscava acabar com a deterioração do sujeito (racionalismo) ou do objeto (empirismo) e propor uma relação entre os dois. No estudo da construção do conhecimento, a teoria psicogenética enfatiza a importância da relação entre o agente ativo de aprendizagem e o ambiente ativo. Assim, as teorias psicogenéticas são aquelas que estudam a origem e o desenvolvimento da psique e do conhecimento humano, tendo como objeto de estudo a compreensão da forma como o conhecimento humano, surge e se desenvolve. Embora enfatizando diferentes aspectos dos processos de aprendizagem e adotando diferentes abordagens metodológicas para conduzir suas pesquisas, Piaget, Wallon e Vygotsky compartilharam algumas preocupações sobre os processos de formação do conhecimento pelos indivíduos da espécie humana. Os três autores procuraram elucidar os processos de construção da aprendizagem, sua origem, seu desenvolvimento, seus determinantes e seus aspectos relevantes. Dessa maneira, conhecer os detalhes de cada teoria nos permite pensar sobre o que é importante para promover um bom ambiente de aprendizagem. A seguir, apresentaremos os aspectos centrais, listados por cada teórico, e são eles: Epistemologia genética 19 Psicogênese da pessoa Teoria sociocultural Epistemologia genética: A epistemologia genética, iniciada por Jean Piaget, propõe que a forma como as pessoas representam o mundo, muda à medida em que elas se desenvolvem, por meio de suas estruturas mentais ou esquemas. A mudança nas estruturas é característica dos processos de desenvolvimento (DE CHIARO, 2012). Um esquema é uma estrutura psicológica pela qual um indivíduo adapta e organiza um ambiente a partir de uma perspectiva cognitiva. Para Piaget, a inteligência possibilita que o indivíduo se adapte, cada vez mais ao ambiente, o que é proporcionado pela construção de novos conhecimentos. O sujeito se adapta bem quando não há elementos novos no ambiente em que está inserido (que ele não conhece). Uma vez bem ajustado, o indivíduo está em um estado chamado de equilíbrio cognitivo. Um elemento desconhecido (uma palavra, um objeto, um conceito, etc.) perturba o equilíbrio e cria um conflito cognitivo. O conflito cognitivo, desencadeia a mobilização de habilidades cognitivas individuais em resposta a novos fatores. Nesta ação, se o sujeito conseguir integrar novos elementos em um sistema já existente, por aproximação com os conhecimentos previamente construídos, a aprendizagem vai ocorrer por um processo de assimilação. Esse processo é caracterizado pela atualização de um aspecto do comportamento ou repertório mental do sujeito em uma determinada situação (MUNARI, 2010). No entanto, as propriedades do novo item geralmente não se aproximam de nenhum esquema cognitivo existente. Nesses casos, as estruturas cognitivas do indivíduo devem passar por um processo de modificação para acomodar o que antes era desconhecido. Quando novos elementos não podem ser combinados por aproximação a esquemas pré-existentes, as estruturas cognitivas precisam ser alteradas e os indivíduos passam por um processo que Piaget chamou de “acomodação” (DE CHIARO, 2012). A pesquisa de Piaget revelou o fato de que os sujeitos aprendizes participam 20 ativamente do processo de construção do conhecimento, o que deu origem ao construtivismo. Entre outras considerações, as estruturas construtivistas nos permitem entender os motivos, pelos quais os alunos nem sempre são capazes de construir conhecimento na escola. Para Piaget, a escolaridade deve proporcionar ao aluno a oportunidade de construir e desenvolver conhecimento. Considerando que a aprendizagem resulta dos processosde assimilação e acomodação, que levam ao equilíbrio cognitivo, Piaget defende que o papel da escola e do professor é propor aos alunos situações que causem seu desequilíbrio cognitivo (DE CHIARO, 2012). Por esse ângulo, pode-se ver que fica claro que a atividades que carecem de sentido e priorizam a memorização e procedimentos não causam desequilíbrio cognitivo, portanto, devem ser revisadas. Psicogênese da pessoa: Henri Wallon (1917-1953) dedicou-se a pesquisar a gênese dos processos mentais. Para ele, a análise genética começa com o que a precede, na cronologia das transformações pelas quais passa o sujeito, para que seja possível uma compreensão global da vida psíquica, sem fragmentá-la em elementos estanques (MONTEIRO; CARAÚBAS, 2012). Com o objetivo de elaborar uma psicogênese da pessoa como um todo e contextualizá-la através das relações com o meio em que se insere, o psicólogo propôs um estudo integrado do desenvolvimento infantil abrangendo as três principais áreas funcionais da atividade infantil: afetividade, motricidade e a cognição. A afetividade tem seu papel, voltado para o desenvolvimento dos indivíduos e é uma das diferenças na teoria de Wallon. Em seus estudos sobre a psicogênese da pessoa, o autor levou em conta a necessidade de uma prática pedagógica que se concentre não apenas nos aspectos cognitivos dos alunos, mas também em seus aspectos afetivos e motores. A afetividade que está presente nas relações estabelecidas nos contextos educacionais tem sido apontada como um elemento de ampla consideração nos processos de aprendizagem. Portanto, sabendo que a construção de bons relacionamentos afetivos em sala de aula promove mudanças positivas no comportamento e no desempenho dos alunos, o professor não pode negligenciar o aspecto afetivo das situações educacionais (RIBEIRO, 2010). 21 Na visão de Wallone, há uma relação dialética entre Pedagogia e Psicologia, e a educação é um bom campo de observação para a pesquisa psicológica. Além disso, a construção do conhecimento sobre o processo de desenvolvimento da criança pode fornecer subsídios importantes para a prática educativa. Teoria sociocultural: Vygotsky dedicou-se ao estudo das funções psicológicas superiores típicas dos seres humanos: ação intencional e liberdade do indivíduo em relação às características do momento e do espaço presentes. Para Vygotsky, o indivíduo da espécie humana, nasce dotado de oportunidades de desenvolvimento e aprendizado, e o meio ambiente desempenha um papel essencial na definição dos caminhos do desenvolvimento humano, a partir do momento em que o indivíduo está inserido ao meio, que vai começar a ocorrer as necessidades de aprendizagem que impulsionam os processos de desenvolvimento. Nessa perspectiva, todas as capacidades e habilidades humanas, surgem primeiro no nível interpessoal, como consequência das necessidades impostas pelo ambiente, apenas depois elas são internalizadas, passando, assim, para o plano intrapessoal (OLIVEIRA, 2011). Para a compreensão dos processos de aprendizagem, um conceito-chave na teoria de Vygotsky é a zona de desenvolvimento proximal (ZDP), que corresponde à distância entre o nível de desenvolvimento real, referente às conquistas já efetivadas pelos indivíduos, e o nível de desenvolvimento potencial, referente às capacidades em vias de serem construídas. Na ZDP, estão as funções que ainda não amadureceram, mas que já se encontram presentes, em estado embrionário (REGO, 1995). Veja o exemplo na imagem abaixo, da zona de desenvolvimento proximal: Fonte: Adaptada de De Chiaro, 2012. 22 O conceito ZDP é bastante conhecido no meio educacional devido à sua importância para facilitar o aprendizado. Para Vygotsky, é na ZDP que ocorrem as boas intervenções pedagógicas (REGO, 1995). A relação que Vygotsky estabeleceu entre aprendizagem e desenvolvimento, permite elencar as implicações para a prática educativa. Para o autor, o bom ensino é aquele que antecipa o desenvolvimento, ou seja, a aprendizagem é intensificada como pré-requisito para o desenvolvimento. Ao se dirigir às funções psicológicas em desenvolvimento, o outro mais experiente e sua atuação pedagógica assumem um papel de grande relevância. Assim, o professor, dentro dessa abordagem, deixa de ter o papel exclusivo de agente de informações e conhecimentos, para atuar como mediador na dinâmica das relações interpessoais e, principalmente, passa a ter a responsabilidade de conhecer seus alunos e seu grupo, de forma a saber como promover avanços no desenvolvimento deles (DE CHIARO, 2012, p. 86). Na visão de Vygotsky, professores e escolas têm um papel fundamental na determinação do caminho de desenvolvimento de um aluno. Os professores, como mediadores das interações entre os alunos e o ambiente físico, deve favorecer o diálogo e o confronto de ideias, com base nos conhecimentos que os alunos já possuem (suas áreas reais de desenvolvimento), para apresentar situações em que inicialmente é necessária uma ajuda (zona de desenvolvimento potencial), intervindo, dessa maneira, em sua ZDP. Neste tópico apresentamos as contribuições das teorias psicogenéticas, com base na revisão das práticas que foram adotadas nas abordagens tradicionais de ensino e para a adoção de práticas educativas que levam a aprendizagem. No próximo tópico, você vai acompanhar as diretrizes e as bases norteadoras da Psicologia da educação, bem como os aspectos que são primordiais para a atuação. 5 DIRETRIZES E BASES DA PSICOLOGIA DA EDUCAÇÃO Até a década de 1980, a Psicologia Educacional foi fortemente influenciada pelas manifestações clínicas da Psicologia. O ambiente da sala de aula era visto como uma extensão do cenário terapêutico, em que a Psicologia limitava sua atuação à análise diagnóstica restrita à intervenção corretiva (MALUF; CRUCES, 2008). As pesquisas realizadas até o momento refletem uma sociedade à sombra da ditadura, influenciadas de forma tecnicista e limitada, descontextualizada e pouco 23 crítica, principalmente em ações com as camadas mais pobres e fragilizadas. A partir da década de 1990, a Psicologia passou a focar nos aspectos sociais, e depois na educação, na tentativa de problematizar a generalidade da teoria psicológica e suas métricas de avaliação, e ampliar seu foco na interdisciplinaridade como ferramenta de compreensão do sujeito em meio a sua subjetividade. Contudo, foi considerado a necessidade de ampliar a escuta, através, das mudanças que desencadeiam esse despertar e, a partir daí as universidades tentaram reformular seus programas curriculares para o curso de Psicologia, inserindo disciplinas teóricas e práticas conforme as necessidades emergentes para uma formação qualificada (MALUF; CRUCES, 2008). Esta transformação altamente significativa da Psicologia para a educação foi o resultado de pesquisas que estavam sendo conduzidas na época. Inúmeras delas foram realizadas pelo órgão regulador da Psicologia no Brasil, o Conselho Federal de Psicologia (CFP), criado a partir da Lei nº 5.766 de 20 de dezembro de 1971, em conjunto com o Conselho Regional de Psicologia, conforme o Art. 1º: Art. 1º Ficam criados o Conselho Federal e os Conselhos Regionais de Psicologia, dotados de personalidade jurídica de direito público, autonomia administrativa e financeira, constituindo, em seu conjunto, uma autarquia, destinados a orientar, disciplinar e fiscalizar o exercício da profissão de Psicólogo e zelar pela fiel observância dos princípios de ética e disciplina da classe. O Conselho Federal de Psicologia (CFP) determina a consolidação das resoluções relativas à especialização nos campos em que a prática da psicologia pode ser exercida de acordo com o progresso das ciências psicológicas, desde a escuta das emergências até o despertar dos campos de conhecimento para a atuação do profissionalde Psicologia. Entre essas áreas, podemos destacar a Psicologia educacional, com suas práticas ramificadas em duas modalidades: Psicologia escolar/educacional e Psicopedagogia. O psicólogo especialista em Psicologia Escolar/Educacional desenvolve suas práticas no contexto da educação formal, em todos os níveis de ensino, ou seja, da educação infantil a pós-graduação, produzindo pesquisas, realizando diagnósticos e intervenções preventivas ou disciplinares ajustadas as necessidades do sujeito ou do grupo. O psicólogo especialista em Psicopedagogia, atua na análise e no desenvolvimento de intervenções com ênfase nos processos de 24 aprendizagem de habilidades e competências. Almejando o entendimento dos processos cognitivos, emocionais e motivacionais, integrados e contextualizados na perspectiva social e cultural intercorrentes. Ambos os campos tentam identificar diferenças nos indivíduos, ou seja, ambas as áreas visam reconhecer os indivíduos com suas diferenças e estimular o modo de aprender em meio às características individuais construídas a partir do contexto em que estão inseridos. Dessa maneira, um traço distintivo da psicologia educacional, leva a uma intrínseca ação social, conspirando para fortalecer a busca por garantias de qualidade e o direito a equidade. Levando em consideração o apoio à prática de atuação no campo da educação, as pesquisas mais atuais indicam a necessidade de atualização constante dos cursos de psicologia que tenham como foco a formação contínua de profissionais dispostos a atuar na área da educação, aspecto que considera essencial a prática educativa de qualidade. Por isso, deve-se dar total atenção às mudanças sociais, em curso e ao acompanhamento das demandas emergentes no contexto educacional, tanto para os educadores quanto para as instituições como escolas e organizações educacionais. Desta forma, precisamos ressaltar como é imprescindível, uma formação que ofereça um percurso formativo para a prática, quanto para a sua constante renovação. É essencial reforçar sua fundamentação, sob os elementos da interdisciplinaridade, da ética e sensibilidade à contextualização socioemocional afetiva. Contudo, você aprendeu que a Psicologia no âmbito educacional, pode ser conhecida como escolar ou educacional que se desenvolve a partir do aprendizado. Tendo em vista, que esse campo da Psicologia, procura compreender como os sujeitos se relacionam e se comportam à medida que desenvolvem o seu conhecimento. No próximo tópico, iremos abordar sobre as relações entre a Psicologia e a educação que fundamentam seus estudos e práticas da educação. 5.1 As relações entre a psicologia e a educação Para entender como um campo dialoga com outro, é importante identificar as trajetórias percorridas, algumas teorias construídas, as principais tendências e a partir disso, apontar como a psicologia pode contribuir para o campo educacional. Dessa 25 forma, vamos fazer o seguinte questionamento: você já se perguntou quais relações existem entre a psicologia e a educação? Em resposta a essa pergunta, podemos iniciar com a jornada no final do século XIX, quando a psicologia e a educação estavam sujeitas a grandes influências filosóficas. Durante as primeiras décadas do século XX, as teorias psicológicas foram geralmente aplicadas aos espaços escolares. Os contextos existentes nos espaços educativos, incluem relações interpessoais entre professores, alunos, administradores, gestores, e também são apoiados por organizações curriculares, níveis e estratégias didáticas de ensino, com o apoio das ciências psicológicas. Alguns nomes de destaques como por exemplo, Vygotsky, Wallon e Piaget desenvolveram estudos sobre conceitos diretamente relacionados à aprendizagem, voltados para desenvolvimento infantil, memória, cognição, motivação, dentre outros. Dentre os diversos campos de atuação das ciências psicológicas, o objetivo da psicologia educacional, é facilitar aportes teóricos voltados à aprendizagem para torná-la mais efetiva. Considera-se que a aprendizagem, envolve o processo de conhecimento e a partir disso, vai permitir que o indivíduo comece a adquirir as habilidades, atitudes, motivações, aptidões. Dessa forma, podemos entender o quanto os referenciais teóricos, são necessários para apoiar educadores e alunos, bem como para as relações entre essas áreas. Conforme essa perspectiva, Freitas (1994) destaca que: [...] a relação entre a psicologia e a educação só pode ser aprendida dialeticamente e não de forma unilateral. As determinações de uma sobre a outra significa que os condicionantes de cada área entram em relação entre si e iniciam um processo de influência uns sobre os outros, contribuindo cada qual com sua especificidade e modificando-se como consequência dessa relação (FREITAS, 1994, p. 37). Agora que analisamos a relação entre psicologia e a educação, vamos ver como essas áreas estão relacionadas hoje e quais questões merecem análise. A formação acadêmica do psicólogo, torna essa postura profissional um compromisso mundial com a vida humana, em torno da saúde e da educação. Os professores abordarão dois aspectos de sua prática pedagógica: um com paradigmas que envolvem a racionalidade e a técnica, e o outro é o paradigma voltado para a prática crítica e reflexiva. Ao atuar na primeira perspectiva, desenvolverá competências através do 26 conhecimento compartilhado por cientistas como uma base, para apoiar sua prática e reproduzir esses métodos de maneira técnica. Embora saibamos que ainda existem educadores que dependem exclusivamente dessas técnicas, não devemos mais presumir que a formação de educadores, se limite a técnicas que sozinhas são incapazes de resolver a complexidade dos problemas pedagógicos sobre as questões educativas a serem enfrentadas. É uma teia de relações que varia de acordo com as circunstâncias, além das constantes situações-problema especiais que exigem muito mais do que a técnica mencionada, a psicologia, em sua diversidade, deve ser acessível aos professores e oferecer suporte, por meio de uma gama de conhecimentos que os apoiarão em situações comuns, como afirma Larocca (2000): Na verdade, a atuação do professor, na sala de aula e na escola, é ecologicamente complexa, coisa que quer dizer vivacidade e mudança, isto é, interação simultânea de múltiplos fatores e condições. Em Educação, a imbricação das variáveis intervenientes é de tal modo intensa que não existem “problemas a serem resolvidos”, mas “situações problemáticas” que, via de regra, apresentam-se como casos únicos, singulares e raramente enquadráveis, (LAROCCA, 2000 p. 60-65). É importante lembrar que as ferramentas e métodos para cada projeto educacional, são definidos levando em consideração conceitos éticos e filosóficos. A cada evento que acontece em sala de aula, novas decisões são tomadas como resultado dessas interações, dentro desses contextos sociais e são recebidas em um constante desafio de acordo com a subjetividade dos atores envolvidos no processo. Para lidar com essa dinâmica diária, os educadores não devem tentar simplificar essas relações, mas sim, desenvolver habilidades por meio, de processos de formação crítica e reflexiva. Além das tentativas de simplificação de conceitos na aplicação de métodos que não resolvem problemas complexos, existe também uma crítica quanto ao uso de certas teorias, referente a psicologia para fundamentar algumas políticas educacionais escolhidas por equipes de Secretarias Municipais e Estaduais de Educação. Normalmente, professores e equipes gestoras são treinados de forma exaustiva para orientar o uso da teoria escolhida, sem diálogo entre as partes. Consequentemente, esses modismos teóricos, sofrem alterações nas mudanças periódicas do governo e são insustentáveis, pois, na prática não conseguem enfrentar a dinâmicanos ambientes educacionais, gerando desgaste e resistência, por parte 27 dos educadores que a todo momento, veem novas imposições como essas. Uma proposta bem fundamentada, deve ser capaz de superar essas práticas e planejar a formação de docentes que estimule o pensamento crítico, reflexivo e consciente de que a educação, cria condições para o exercício da cidadania de forma autônoma e democrática. Conforme Freire (1980) e Larocca, (2000), [...] mais que possibilitar acesso às várias correntes teóricas, o projeto de pluralidade na Psicologia Educacional precisa amparar-se em três aspectos essenciais: a compreensão epistemológica, a práxis e a consciência histórica. Ou seja, a pluralidade, por si só, não remete à formação crítico-reflexiva. Para que possa servi-la será preciso propiciar clareza acerca dos objetos de estudo dos diferentes teóricos, dos princípios epistemológicos que os regem, dos pressupostos filosóficos que os sustentam e da história de cada elaboração. Sem isso, o pluralismo vira ecletismo e favorecerá a manutenção de consciências ingênuas. (FREIRE 1980, p. 26; LAROCCA, 2000, p. 60-65). As relações entre psicologia e educação, devem ser construídas, por meio, de questões problemáticas, voltadas para uma prática apoiada em aportes teóricos e metodológicos da psicologia. Essas contribuições devem se concentrar na inserção das salas de aula, ou seja, em espaços escolares de acordo com os contextos sociais, para que novas propostas de intervenção, nesses cenários surjam dessas interações. A escola deve entender que o ser humano é multidimensional, e que além de oferecer conteúdo assimiláveis é preciso enxergar que esses temas consistem em relações afetivas, culturais, sexuais, biológicas e sociais e esses elementos devem ser trabalhados integrados com a propostas curriculares e pedagógicas das instituições. Freire (1980) dentro desse contexto, afirma: Na defesa de uma educação crítica e problematizadora ressalta as possibilidades de limitação e desafio representados pelo “aqui e agora” dos homens no mundo. É, por isso, que o real não pode ser perdido de vista pelo formador em Psicologia. É este real que permitirá que sejam feitas (re) leituras das teorias psicológicas e, como consequência, reestruturação e superação do conhecimento atual (FREIRE 1980, p.82). Em conclusão a essas questões, pode-se afirmar que, apesar de toda a relevância da psicologia no campo da educação, infelizmente o que vemos é o frequente o declínio dessa disciplina nas licenciaturas e cursos de formações de educadores. Além disso, esse espaço mínimo acaba sendo preenchido por uma organização curricular que privilegia a teoria em detrimento de sua articulação com a prática, afastando-se de uma prática pedagógica, que deve ser criticamente analisada e discutida nos espaços desses cursos. 28 Dessa maneira, espera-se que o futuro profissional, tome esta sugestão como algo que inspira a motivação necessária para estudar as ciências psicológicas, sendo tão indissociáveis da educação, e empenhar-se nesta aprendizagem que enriquecerá a sua prática profissional. Contudo, você pôde compreender que a psicologia tem uma contribuição teórica muito importante para a educação, pois, ela oferece um suporte em aportes teóricos e metodológicos para o processo de ensino-aprendizagem, favorecendo o desenvolvimento psicológico em vários aspectos sociais, afetivos e cognitivos. No próximo tópico iremos tratar, dos pressupostos da psicologia escolar e educacional referente ao estatuto de psicologia. 5.2 Estatuto da psicologia escolar e educacional: alguns pressupostos Esta discussão primeiro requer uma explicação de alguns dos conceitos envolvidos nos termos da expressão Psicologia Escolar e Educacional. Entendemos a educação como uma prática social consciente e humanizadora, que tem como objetivo transmitir a cultura historicamente construída pela humanidade. O homem não nasce humanizado, mas torna-se humano pela sua pertença ao mundo histórico e social e pela incorporação deste mundo em si, pelo qual compete a educação. De acordo com isso, podemos dizer que a historicidade e a sociabilidade, fazem parte do ser humano, e a educação é decisiva e determinante (ANTUNES, 2003). As escolas podem ser pensadas como instituições que surgem das necessidades geradas pela sociedade, exigindo formação específica para seus membros devido à crescente complexidade da sociedade. Ao longo da história, a escola assumiu diferentes formas consoante as necessidades a que tinha de responder, uma vez que se destinava geralmente a uma parcela privilegiada da população, responsável por desempenhar funções específicas que se articulavam aos dominantes de uma dada sociedade. No entanto, essa realidade também deve ser compreendida em suas contradições, especialmente o conceito de escola como instância, que hoje é uma das condições básicas para a democratização e o estabelecimento da cidadania plena para todos, e isto é, embora não seja o único, é sem dúvida um dos fatores necessários e condicionantes na construção de uma sociedade igualitária e justa. 29 Nesta perspectiva, a escola, tal como a concebemos, visa promover o acesso universal ao patrimônio cultural produzido pela humanidade, criando condições de aprendizagem e desenvolvimento para todos os membros da sociedade. A Pedagogia pode ser entendida como fundamento, sistematização e organização da prática educativa. O interesse pedagógico atravessa a história, fundamenta-se em diferentes concepções filosóficas, constitui-se em diferentes bases teóricas e estabelece diferentes propostas de ação educativa. Com o desenvolvimento da ciência desde a modernidade, o conhecimento científico tornou-se seu principal suporte. A Psicologia educacional, pode ser considerada um subcampo da Psicologia, que a assume como um campo de conhecimento. O domínio do conhecimento é entendido como um corpus de conhecimento sistemático e organizado, produzido segundo procedimentos definidos, referentes a determinados fenômenos ou a um conjunto de fenômenos constituintes da realidade, com base em determinadas éticas, ontológicas, epistemológicas e metodológicas. No entanto, é preciso levar em conta a diversidade de concepções, abordagens e sistemas teóricos que compõem o conhecimento, particularmente nas ciências humanas, das quais a Psicologia faz parte. Portanto, a Psicologia educacional pode ser entendida como um subcampo do conhecimento, cuja vocação é a produção de conhecimento relacionado ao fenômeno psicológico que constitui o processo educativo (ANTUNES, 2003). Em contrapartida, a Psicologia escolar é definida pelo âmbito de atuação profissional referindo-se a uma área definida, ou seja, o processo escolar, tendo como objeto a escola e as relações que nela se estabelecem, seu trabalho baseia –se no conhecimento produzido pela Psicologia educacional, conforme a outros subcampos da Psicologia e a outros campos do conhecimento. Portanto, deve-se enfatizar que a Psicologia educacional e a Psicologia escolar, estão relacionadas por natureza, mas não são idênticas, nem podem ser restituídas uma à outra, e cada uma mantém sua relativa autonomia. A primeira é uma área de conhecimento (ou subárea), visa produzir conhecimento sobre o fenômeno psicológico no processo educacional. A outra se constitui como campo de atuação profissional, realizando intervenções no espaço escolar ou em relação a ele, com foco no fenômeno psicológico, a partir do 30 conhecimento produzido não só, mas principalmente, pelo subcampo de Psicologia, a Psicologia da educação (ANTUNES, 2003). Neste tópico, você pôde identificar sobre os conceitos da Psicologia educacional e escolar, você compreendeu que ambas não são idênticas, porém, estão interligadas por natureza. Dessa forma, pode dizer que através destes conceitos, houveuma grande contribuição de ambas, para o ensino educativo, auxiliando o desenvolvimento do processo de aprendizagem. 5.3 Elementos essenciais da Psicologia da Educação A Psicologia educacional, baseia sua prática nos processos de aprendizagem e busca aprimorar formas de tornar seu desenvolvimento pleno e satisfatoriamente eficaz, atentando para as características individuais de cada ser. Considerando prioritariamente os processos mentais envolvidos, a Psicologia educacional se orienta por elementos que considera essenciais à dinâmica de sua atuação, tais como: afetividade, atenção, humor, motivação, percepção e a personalidade dos sujeitos envolvidos. A afetividade é um elemento considerado essencial e duradouro, é enquadrada como elementos de base permanente e promotora de uma tessitura entre os demais elementos. Inicialmente, surge a afetividade, sendo caracterizada por fatores individuais e orgânicos, para serem definidos posteriormente no curso do desenvolvimento como reflexo do contexto. Através e em meio à afetividade, desperta-se a atenção associada aos interesses de cada sujeito. A atenção é direcionada para as emoções e motivações. As emoções e motivações emanam da esfera individual e se comunicam com o contexto social de acordo com o desenvolvimento da afetividade. Para a apreensão das motivações tanto de si, com a assimilação das emoções, quanto do ambiente, com o despertar da atenção para o processamento das informações oferecidas, gera-se uma expansão da percepção. A percepção depende dos órgãos sensoriais como: tato, olfato, paladar, visão e audição, mas também de aspectos mais subjetivos como o clima afetivo e emocional do contexto. A aprendizagem passiva não é possível, os processos educativos ocorrem sempre de forma ativa e com uma dinâmica pluralizada. Dessa forma, podemos dizer que se 31 torna um centro de recepção, bem como um produtor de percepções, que cada sujeito desenvolve constantemente a si mesmo, em vista disso, a personalidade do sujeito é o seu modo de existir no mundo, por meio, da aprendizagem. Desta maneira, ajuda a entender a si mesmo, pois, a nossa própria imaginação, informa forma de aprender. A Psicologia educacional, refere-se às teorias que cercam o comportamento, suas premissas, intenções e motivações. Contudo, a utilização dessas teorias atua como suporte em prol da eficiência do processo de aprendizagem, considerando como ponto de poder a sua relação com o ensino. Além disso, visa analisar a relação entre ensino e aprendizagem e a relação educacional, e os determinantes de ambos (BECKER, 2001). Educador e educando são os protagonistas das pesquisas em Psicologia educacional, mas o papel da instituição ou organização é crucial para a compreensão global dos processos de ensino-aprendizagem. Dessa forma, a produção do conhecimento psicológico educacional, como ferramenta de ensino, aparece também para os educadores em benefício da sua própria compreensão em relação aos seus métodos e sobre seus educandos. Para a Psicologia educacional, a observação de aspectos mais amplos do funcionamento do indivíduo, auxiliada pela compreensão dos fundamentos, é indispensável para a análise da dinâmica de ensino-aprendizagem, em que uma intervenção estrutural diagnóstica pode ser desenvolvida. Portanto, seu trabalho não se limita a conhecer o aluno, mas a compreender o desenvolvimento das relações que permeiam todo o ambiente educacional, como entre: educador-educando, educando-método de ensino, educador- instituição/organização, educador-educador, entre outras relações que possam emergir. Como você viu, falamos sobre a articulação da Psicologia da educação, com as suas diretrizes e bases, exploramos também, os elementos essenciais. Porém, é importante ressaltar, que mesmo que a Psicologia educacional, tenha a sua contribuição para os aspectos da ensino-aprendizagem, quaisquer relações estabelecidas dentro do ambiente de aprendizagem, que contribuem e reforçam o desejo de permanecer ou se recusar a permanecer nesse ambiente e desenvolver sua aprendizagem, vai está totalmente ligada a relação que o aluno desenvolve com seus colegas, com o educador, a instituição/organização e o método, sendo estes os pontos 32 principais para a sua motivação sobre o aprender ou, podendo também contribuir a emergir alguma repulsa ao processo. O próximo tópico, você aprenderá sobre os processos psicológicos que envolvem a aprendizagem, os mecanismos envolvidos nos sistemas mentais, os processos psicológicos, envolvendo os aspectos cognitivos, afetivos e sociais envolvidos na aprendizagem. 6 PROCESSOS FUNDAMENTAIS DA APRENDIZAGEM Estamos em constante aprendizado, em um processo permanente de interação com o meio ambiente. Acreditamos que a aprendizagem é um processo contínuo de autoconhecimento que determina nossas relações sociais ao longo da vida. No nosso quotidiano, deparamo-nos com situações que nos desafiam das mais diversas formas e que nos obrigam a reagir a cada acontecimento. Você acha que é possível limitar toda a aprendizagem a um processo primário ou você imagina que existem diferentes concepções dos mecanismos que envolvem a aquisição do conhecimento? É sobre isso que falaremos mais adiante. No mesmo dia você pode resolver um problema familiar envolvendo problemas financeiros ou emocionais, ter a tarefa de preparar um documento sobre o trabalho, identificar um possível problema com seu carro, enfim, realizar tarefas que exijam conhecimentos diferenciados. Ainda que, para realizar uma destas atividades, tenha feito formação numa destas áreas, através do ensino teórico ou numa atividade prática, serão utilizados diferentes meios de aprendizagem para atingir o objetivo de resolver tal problema. De acordo com esse contexto, podemos identificar diferentes maneiras de se apreender e de se transmitir conhecimento, que variam de acordo com fatores como o tempo que cada um leva para adquirir conhecimento e o raciocínio utilizado para chegar a esses entendimentos. Analisar de forma abrangente os elementos que envolvem esse mecanismo nos permitirá interagir em nosso meio, levando em conta o conhecimento construído sobre esse tema, tão necessário em nossas práticas educativas. Para Abbad e Borges-Andrade (2004), a aprendizagem é um processo psicológico fundamental, amplo e complexo, correlacionado com fatores intra e 33 interpsíquicos, sociais e culturais de uma vasta literatura que a analisa a partir de diferentes perspectivas teóricas e metodológicas. A aprendizagem individual, do ponto de vista cognitivo, é uma mudança relativamente permanente de atitude e comportamento, associada à experiência, que envolve os níveis afetivo, cognitivo e motor, garantindo flexibilidade, adaptabilidade e capacidade de transformação do ser humano. Como tal, está associada a mudanças nas estruturas cognitivas e comportamentais pessoais baseadas na reflexão pessoal e na interação social. Durante o processo de aprendizagem, adquirem conhecimentos, habilidades e atitudes (CHAs) que podem ser inferidos a partir de mudanças de atitude e comportamento. Em outras palavras, a aprendizagem é um processo dinâmico e interativo no qual os indivíduos processam, decodificam e recodificam informações. É interessante notar que, se duas pessoas forem submetidas ao mesmo processo de recepção das informações, cada uma delas desenvolverá habilidades diferentes, pois perceberão, interpretarão e compreenderão de acordo com fatores internos, relacionados ao armazenamento de informações na memória. Esse armazenamento é feito de acordo com a ordem em que as informações são inseridas em relação ao significado que damos a esses dados, que se unirão ou se recombinarão ao qual acreditamos pertencer. Nossa capacidade de aprender aumentará porque já temos conhecimento formado sobre o assuntoem nossa memória, bem como o estímulo que recebemos para a assimilação dessa informação. Dessa forma, você consegue compreender que a aprendizagem ocorrerá sempre associada a informações já armazenadas, de uma forma ou de outra, ela tem a capacidade de transformar os estados iniciais em estados finais (relacionados a competências) por meio, de experiências e reflexões. De acordo com esse contexto, vamos entender a relação da aprendizagem com os aspectos cognitivos, afetivos e sociais, que será discutido no próximo tópico. 6.1 A aprendizagem e sua relação com aspectos cognitivos, afetivos e sociais Importantes estudos no campo da neurociência e da Neuropsicopedagogia têm destacado a relação entre os aspectos cognitivos, afetivos, sociais e a aprendizagem. Essas investigações consistem em estudar o desenvolvimento de várias funções 34 cerebrais que são responsáveis pelos processos de aprendizagem. As atividades realizadas por diferentes áreas do cérebro estão integradas e em constante interação. O termo cognição refere-se ao processo de aquisição de conhecimento e envolve atividades mentais como atenção, percepção, processamento, diferentes tipos de memória e raciocínio. Através da cognição, os indivíduos processam, armazenam e internalizam informações, conectando-as com base em suas preferências, emoções e motivações. Veja abaixo Quadro 1, que descreve as funções e as subfunções cognitivas. Quadro 1- Descrição das funções e subfunções cognitivas. 35 Fonte: Fonseca (2014). Você percebe que foram mencionadas, as principais características das funções cognitivas, responsáveis pela aprendizagem. E a partir daí, falaremos das funções conativas, que correspondem e se relacionam com as emoções, motivações e personalidade humana. 36 Dificilmente a aprendizagem ocorre em um ambiente onde há algum tipo de fragilidade emocional, pois, esses processos estão intimamente relacionados aos aspectos afetivos. Para criar efetivamente uma atmosfera propícia ao aprendizado, o aluno deve ser capaz de compreender o motivo de realizar essa atividade mental, o objetivo a ser alcançado e como se sente em relação à tarefa. As funções conativas são, portanto, fundamentais porque, associa-se com às funções cognitivas, que são responsáveis, por manter, um equilíbrio que impulsiona a afetividade, condição para que a aprendizagem seja significativa e harmoniosa. Por exemplo, aprender a escrever, andar de bicicleta ou melhorar qualquer uma dessas atividades, nutre sentimentos de prazer e competência. Contudo, se esse processo levar à desregulação emocional, o processo de aprendizagem pode não ser concluído, resultando em aspectos negativos das funções conativas, além de insegurança, falta de motivação e disfunção cognitiva. É necessário ter um cuidado e muita atenção com esses mecanismos, pois, da mesma forma que o cérebro, quando estimulado, aprende, também é capaz de aprender a não completar as fases de aprendizagem se estiver em período de exaustão e autoestima comprometida. Uma terceira função coordenada com as duas citadas acima é chamada de função executiva, que atua no córtex pré-frontal, que, por sua vez, se comunica com as demais áreas responsáveis pela aprendizagem, adaptação ao ambiente e ao ambiente interacional e comportamental, e aspectos comportamentais do indivíduo. A seguir, observe algumas definições de funções executivas, de acordo com Fonseca (2014): Atenção (sustentação, foco, fixação, seleção de dados relevantes em relação aos irrelevantes, evitamento de distratores, etc.); Percepção (intraneurossensorial, interneurossensorial, meta-integrativa, analítica e sintética, etc.); Memória de trabalho (localização, recuperação, rechamada, manipulação, julgamento e utilização da informação relevante, etc.); Controle (iniciação, persistência, esforço, inibição, regulação e auto avaliação de tarefas, etc.); Ideação (improvisação, raciocínio indutivo e dedutivo, precisão e conclusão de tarefas, etc.); 37 Portanto, através de uma integração equilibrada das funções cognitivas, motoras e executivas, a fase de aprendizagem pode ser concluída com sucesso, pois, passa-se a entender como esse mecanismo funciona e quais são as suas peculiaridades, sendo essencial para potencializar esse momento de desenvolvimento do indivíduo. A seguir, você vai aprender um pouco sobre o panorama da Psicologia escolar/ educacional, na relação aluno professor. 7 ATUAÇÃO DA PSICOLOGIA ESCOLAR/ EDUCACIONAL NA RELAÇÃO ALUNO-PROFESSOR Durante o período de crescimento dos testes psicométricos e do caráter "curativo" adquirido sobre a atuação do psicólogo (a) escolar nos primeiros anos de prática, o profissional (a) da Psicologia se empenhou em atender às necessidades da época, dando ênfase aos problemas de aprendizagem. Por outro lado, diante das mudanças sociais, políticas, culturais e estruturais que afetam as instituições educacionais, o psicólogo escolar deve aplicar seus referenciais teóricos e práticos a uma necessidade atual e emergente: a relação aluno-professor. De forma contextualizada, o aluno desse período era visto apenas como aprendiz, receptor de saberes e o professor como disseminador de saberes, o que fragilizou os vínculos entre professor e aluno, gerando distanciamento nessa relação que por vezes era autoritária. Dito isso, com base em Paulo Freire, entendemos o aluno como um ser incompleto e ativo em seu processo de estar no mundo, além de aprender criticamente sobre a realidade e o conteúdo, sem ser passivo em seu processo de aprendizagem (FREIRE, 2018). Além disso, podemos demonstrar que as metodologias de aplicação dos conteúdos e as regras institucionais, quando não levam em conta o aluno no processo educativo ativo, são mecanismos de poder disciplinar da escola e dos professores para os alunos, compreendendo que “a disciplina produz indivíduos, sendo a técnica específica de um poder que toma os indivíduos tanto como objetos, quanto como ferramentas de seu exercício" (FOUCAULT, 2010, p. 164), considerando que "o poder existe nas 'relações de poder' e é praticado em todos os setores da sociedade" (DINIZ, 2014, p.156), visto que o poder também está imbuído das relações entre as pessoas, em todas as áreas da sociedade (DINIZ, 2014). 38 Além do mais, a patologização do fenômeno educacional, também confirma o distanciamento entre alunos e professores, considerando que os alunos de alguma forma eram excluídos dos demais, afetando negativamente a relação e consequentemente sua aprendizagem. Assim, com base no contexto exposto no tópico anterior, vemos a importância de relembrar a história para que as práticas reducionistas e viéssegregacionistas sejam repensadas. Levando em consideração, o contexto histórico da Psicologia escolar, é necessário descrever a prática do psicólogo escolar /educacional, crítica e analisar as contribuições que ela pode suscitar nas instituições de ensino que podem facilitar o ensino e a aprendizagem, particularmente em relação ao aluno-professor. Em relação a essa perspectiva, Viana (2016) afirma que: O que notamos é que embora os profissionais de Psicologia tenham mais clareza do que outros colaboradores, no que se refere à contraindicação da utilização do modelo clínico dentro da escola, junto aos educadores ainda existe um conhecimento bastante superficial sobre as possibilidades de intervenção e do papel deste profissional. (VIANA, 2016, p. 60). Além disso, em comparação com abordagens reducionistas e simplistas, novos modos de ação começaram a surgir a partir de um repensar metodológico que incorpora aspectos específicos da escola, bem como fatores subjetivos, sociais, familiares e econômicos dos alunos. Sugerimos, portanto, discutir as possibilidades de atuação dos profissionais de Psicologia diante do distanciamento
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